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Poder Judiciário
Justiça do Trabalho
Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região

Ação Trabalhista - Rito Ordinário


0010435-34.2021.5.03.0084

Processo Judicial Eletrônico

Data da Autuação: 01/06/2021


Valor da causa: R$ 241.559,61

Partes:
AUTOR: SOLANGE MOREIRA DOS SANTOS
ADVOGADO: LEONARDO ANDRADE VASCONCELOS
RÉU: JOAO PINHEIRO CARTORIO REGISTRO IMOVEIS
ADVOGADO: ADRIANA NOGUEIRA PENIDO TEIXEIRA DIAS
ADVOGADO: LUCIANA DAMASCENO LIMA
RÉU: JOSE EDUARDO SIMOES MENDONCA
ADVOGADO: LUCIANA DAMASCENO LIMA
ADVOGADO: ADRIANA NOGUEIRA PENIDO TEIXEIRA DIAS
PERITO: ROBERTO CARLOS GOMES
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PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 3ª REGIÃO
VARA DO TRABALHO DE PARACATU
ATOrd 0010435-34.2021.5.03.0084
AUTOR: SOLANGE MOREIRA DOS SANTOS
RÉU: JOAO PINHEIRO CARTORIO REGISTRO IMOVEIS E OUTROS (2)

SENTENÇA

I. RELATÓRIO

SOLANGE MOREIRA DOS SANTOS propôs a presente reclamação


trabalhista em face de JOAO PINHEIRO CARTORIO REGISTRO IMOVEIS e JOSE EDUARDO
SIMOES MENDONCA pedindo, em síntese, o destacado nas fls. 15ss. Deu à causa o
valor de R$ 241.559,61.

Emenda à exordial à fl. 162, acrescentando mais um pedido.

Na audiência inicial, estiveram presentes as partes. Contestação


da ré e impugnação da autora apresentadas.

Foi designada perícia para apuração de doença ocupacional.


Laudo juntado às fls. 307ss.

Pedido de tutela antecipada indeferido à fl. 572.

Na audiência de instrução foram ouvidas a reclamante, uma


informante e duas testemunhas.

Declararam não ter outras provas a produzir.

Razões finais orais remissivas.

Última tentativa de conciliação infrutífera.

II. FUNDAMENTOS

ILEGITIMIDADE PASSIVA

A parte reclamante formula pedido de imposição de


responsabilidade (sujeição patrimonial) ao 2° reclamado em razão de ter se
beneficiado dos serviços prestados. Do exposto, emerge a existência de pedido e causa
de pedir que, à luz da teoria da asserção, tornam-no parte legítima.

Assinado eletronicamente por: FABIO GONZAGA DE CARVALHO - Juntado em: 23/11/2022 13:28:26 - f4050ea
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Rejeito.

PRESCRIÇÃO

Oportunamente requerida, pronuncio prescritos os direitos


anteriores a 01/06/2016, extinguindo-os com resolução de mérito (art. 487, II, do CPC),
inclusive quanto às diferenças de FGTS (Súmulas 206 e 362 do TST). Ressalvam-se os
pedidos declaratórios (art. 11, §1º, CLT).

ASSÉDIO MORAL E DOENÇA OCUPACIONAL

Narra a reclamante que foi admitida como Auxiliar de Cartório


em 01/04/2005, sendo promovida para Escrevente Substituta Autorizada em 10/12
/2007, e está afastada por questões de saúde atualmente. Sustenta que desencadeou
problemas graves psiquiátricos devido ao assédio moral praticado pelo representante
do 1° réu, qual seja, o réu José Eduardo Simões Mendonça, que tratava a autora com
gritos e palavrões na frente de todas e todos.

Na emenda à exordial às fls. 162ss, a autora informa que está


afastada do trabalho desde 29/03/2021, conforme atestados já anexados, mas os réus
não teriam providenciado a “emissão do requerimento de afastamento”, o que
impossibilitou a obreira de dar entrada no requerimento de afastamento junto ao INSS.

Requer, além de indenizações por danos morais de assédio e


por doença ocupacional, a condenação dos réus nos salários desde abril de 2021 até a
presente data (com análise mais abaixo da rescisão indireta).

Pois bem.

Sobre o assédio propriamente dito, a informante, que trabalha


nos réus, disse em audiência que o 2° réu sempre tratou a autora muito bem, mas o
ambiente de trabalho é de muita pressão. A primeira testemunha nunca trabalhou nos
réus, mas disse que fez alguns serviços para o 1° réu e encontrou o 2° reclamado em
algumas oportunidades nas dependências e pôde afirmar que no final de 2019 foi ao
Cartório e presenciou o 2° réu tomar um documento da mão da reclamante e a levar
para uma sala ao lado dizendo em voz alta que ela era incompetente, dando socos na
mesa, porque ela não fazia o que ele mandava. A segunda testemunha, que trabalha
nos réus, não presenciou assédios.

Assinado eletronicamente por: FABIO GONZAGA DE CARVALHO - Juntado em: 23/11/2022 13:28:26 - f4050ea
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Em seu depoimento pessoal, a reclamante disse que confirma a


declaração por si feita à Polícia Civil, mas teria a feito diante da situação de um
(suposto) “salário por fora”, apenas. A declaração encontra-se à fl. 293, em que a autora
informa à autoridade policial que “pediu para sair do trabalho”, mas que o 2° réu não
aceitou antes que “conversassem pessoalmente”, conversa essa que a autora se negou
e passou a acreditar estar sofrendo perseguição.

Sobre a doença ocupacional, o perito médico nomeado por este


Juízo constatou em seu laudo de fls. 307ss que a reclamante afastou-se do labor em
março/2021, primeiramente, em decorrência de um tratamento cirúrgico
(colecistectomia em decorrência de parto cesário), por um período de 30 dias, e em
seguida se afastou de novo após diagnóstico psiquiátrico de transtorno depressivo,
não mais voltando ao trabalho. No entanto, em 2018 e 2019 a autora já tinha se
licenciado do labor por transtorno de ansiedade.

Concluiu o perito que a patologia atual da periciada (transtorno


depressivo recorrente) “não tem nenhuma relação direta com a função de escrevente”,
embora alegara a obreira ao perito que seja proveniente de assédio moral por parte de
seu superior hierárquico, mas, ao escutar os áudios de conversa juntados aos autos, o
perito não evidenciou nenhuma agressão verbal ou ameaça à integridade física da
reclamante por parte do responsável pelo Cartório, sem evidência de assédio moral.
Acrescenta que o atestado médico de abril/2021, em que o médico diagnosticou a
obreira com transtorno depressivo recorrente com crise “atual” grave, revela que já
tinha ela um histórico pregresso psiquiátrico, não sendo um fato novo. Por fim,
constatou que, embora não haja subsídios para constatação de “doença ocupacional”
propriamente dita, neste momento a autora apresenta incapacidade para o trabalho,
mas de forma temporária e não permanente.

Em sua “emenda à inicial” de fl. 162, a reclamante pediu a


condenação dos réus nos salários compreendidos entre a “data do afastamento do
trabalho” (desde 29/03/2021) e a “alta médica”, aduzindo que os réus não
providenciaram a “emissão do requerimento de afastamento e nem tão pouco
assinaram este”, o que gerou a recusa do INSS para dar entrada ao requerimento.

Acontece que, não sendo provada a doença ocupacional, a


entrada da obreira em afastamento do INSS dependeria da entrega de seus atestados
médicos ao órgão para licença “comum”, não de um CAT emitido pelos réus.

A tese da autora na emenda à exordial de que seus atestados


médicos ficaram na posse dos réus que se negaram a entregar (ou devolver),
prejudicando a obreira em seu requerimento junto ao INSS, não foi comprovada. O que
se tem nos autos são os atestados juntados com a própria exordial (então, de posse da

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autora), datado o primeiro de 30/03/2021 e o último, datado de 30/04/2021, em que


seu médico a confere 60 dias de licença (fl. 144).

Aliás, embora tenha se omitido na exordial e na emenda a


respeito, a reclamante confessou na audiência de fl. 589 que recebeu o benefício
previdenciário “no ano passado”, ainda que não renovado.

Por fim, sobre o episódio presenciado pela primeira


testemunha, trata-se de uma ofensa isolada e isso não configura assédio moral, até
porque os outros depoentes negaram o assédio.

Julgo improcedentes os pedidos de indenização por assédio


moral, indenização por danos morais e pagamento de salários do período em que a
autora está fora do trabalho, desde março de 2021.

SALÁRIO POR FORA

Narra-se na inicial que a autora recebia salário na média de R$


3.300,92 mais um salário “por fora” consistente em comissão de 1% do faturamento
mensal bruto do Cartório, que girava em torno de R$ 5.000,00 mensais a mais em favor
da reclamante, o que totalizava seu salário por volta de R$ 8.300,00, embora aquele
valor extrafolha, que era chamado pelos réus de “cestas”, não tenha sido integrado
para gerar os efeitos legais.

Os réus negam “veementemente a incidência de pagamento de


salário extrafolha, tendo em que a totalidade das verbas integrantes da remuneração
eram identificadas e pagas nos seus contracheques” (fl. 197).

Analiso.

A informante disse em audiência que a ficha de fl. 139 é o


fichamento diário enviado diariamente para o 2° réu, que retornava para a depoente
com sua rubrica (a do 2° réu), embora a rubrica dessa específica ficha juntada aos
autos não seja do 2° réu. Já a rubrica do recibo de fl. 140 (salário mais “cesta”), disse a
informante que é parecida com a do 2° réu.

Acrescentou a informante que ela, a depoente, não recebe


comissões, mas, como já ficou no Caixa, já deu retirada de dinheiro para o 2° réu pagar
“gratificações”, sendo que a depoente ficava sabendo que eram gratificações por
informações passadas pela reclamante.

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Ainda, a informante traz o exemplo do documento de fl. 95, em


que a letra é a da depoente e o escrito “Cesta S.” foi passado para a autora, sendo que
essa “cesta” seria a tal gratificação e o uso da palavra “cesta” foi utilizada pela depoente
por orientação da reclamante. Sobre o documento de fl. 89, a depoente não soube
dizer a que se refere a menção a “1%”, por ter sido o documento elaborado por outra
pessoa.

Pois bem.

A informante, com base nos “extratos” juntados aos autos pela


autora, indica o pagamento de gratificação e os réus não indicaram ou comprovaram
em momento algum o motivo do pagamento.

Entendo comprovado que os réus pagavam uma quantia


discriminada nas fichas como “cesta” aos empregados, sem declarar sua natureza, pelo
que deve ser reputada como uma contraprestação pelo serviço, numa espécie de
salário extrafolha.

Sobre o valor mensal, alguns documentos da exordial não


convenceram este magistrado, quais sejam, os de fls. 79 e 82/89, por conterem outros
tipos de rubricas não indicadas pela informante.

A se afastar os documentos cuja rubrica a informante não


reconheceu como sendo a do réu e as que apenas “pareciam” com a assinatura do réu,
tenho comprovado cabalmente que apenas o documento de fl. 95 traz na rubrica
“cesta” o que foi repassado para a autora. Independente de ter sido o repasse a pedido
da própria reclamante, a prova oral demonstrou que era uma prática autorizada e
sabida pelo réu.

Então, no documento de fl. 95 há duas “cestas”, uma “Cesta S.” e


outra “Cesta L”. Esta última farei a leitura acoplando o documento de fl. 89, de forma a
presumir que o “L” se trata de Leonel (retirada Leonel). Já a “Cesta S” reputo ser da
autora Solange, cujo valor foi de R$ 3.600,00.

Assim, ante todo o exposto e a ausência de provas que cabiam


aos reclamados (ônus da prova de quem possui o empreendimento, já que provado
que havia sim certo repasse aos empregados inexplicado), considerarei que, por quase
todo período imprescrito, a reclamante recebera mensalmente o valor de R$ 3.600,00
por fora.

Condeno o empregador à integração ao salário mensal da


autora do valor de R$ 3.600,00, devendo gerar reflexos em recolhimento de FGTS,
décimo terceiro, férias mais o terço. A condenação fica limitada ao início do período

Assinado eletronicamente por: FABIO GONZAGA DE CARVALHO - Juntado em: 23/11/2022 13:28:26 - f4050ea
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imprescrito até dezembro/2020, vez que à fl. 04 da inicial a demandante alega que
parou de receber comissões no “mês de janeiro de 2021 em diante”.

Condeno o empregador também no pedido de anotação na


CTPS da obreira do acréscimo salarial acima, no prazo de 10 (dez) dias após o trânsito
em julgado e intimação para tanto, sob pena de multa diária de R$ 200,00, até o limite
inicial de R$ 2.000,00, a ser revertida em favor da obreira.

Observo, pela redação do último parágrafo da fl. 07 (exordial),


que a autora pretende que os reflexos acima em “férias + 1/3”, no tocante aos períodos
aquisitivos antes de 2020, sejam pagos “em dobro”, ou melhor, seja paga somente a
“dobra”, já que recebeu de forma simples à época, mas não recebeu a integração do
salário extrafolha (ainda que um pouco confusa, é o que entendo da redação da
exordial). Nesse ponto, indefiro o pedido, pois seria devido o dobro no caso de
pagamento das férias após o período concessivo, mas a majoração a que teria direito a
autora à época está sendo reconhecida apenas com essa condenação (“após o período
concessivo”), não havendo previsão legal para o efeito pretendido.

Quanto ao pedido da autora de recebimento do salário “por


fora” dos meses de janeiro a maio de 2021, em que supostamente os réus não teriam
mais quitado, de forma que, no entender da obreira, seria uma composição salarial já
integrada, destaco, primeiro, que desde o final de março de 2021 a autora não
comparece ao trabalho e, sendo a verba extrafolha sustentada na inicial como uma
“comissão”, dependeria da produção também da obreira. Então, no que resta analisar,
os meses de fevereiro e março/2021, não me convenço de que não tenha a autora
recebido, pois a testemunha ouvida, que trabalhara nos réus até a “saída” da
reclamante (como disse em audiência), não fez qualquer decote temporal a respeito
das ditas gratificações. Improcedente.

Por fim, a hermenêutica do parágrafo acima e reportando-me


novamente ao que foi dito pela autora em audiência (que chegou a receber benefício
do INSS ano passado - o que foi omitido na exordial e na emenda), bem como
considerando que nesta sentença foi reconhecido que o recebimento do extrafolha
dependia da produção por ser uma comissão, levanta-me ao entendimento de que
deverá a reclamante juntar em sede de liquidação a comprovação da percepção do
afastamento por benefício previdenciário recebido ano passado e nos anos de 2018 e
2019 (conforme chegou a dizer ao perito), no prazo de 10 (dez) dias após o trânsito em
julgado e intimação para tanto. Caso não juntados no prazo, será expedido ofício ao
INSS, postergando a liquidação.

RESCISÃO INDIRETA

Assinado eletronicamente por: FABIO GONZAGA DE CARVALHO - Juntado em: 23/11/2022 13:28:26 - f4050ea
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O pedido de rescisão indireta baseia-se, dentre outros motivos,


na não integração do salário “por fora” (fl. 04).

O salário extrafolha, para burlar a legislação trabalhista e deixar


de gerar reflexos legais pela integração, é motivo suficiente para ensejar a aplicação da
alínea ‘d’ do art. 483 da CLT, razão pela qual julgo procedente o pedido de declaração
da rescisão indireta do contrato de trabalho, considerando o início do contrato em 01
/04/2005 (CTPS – fl. 26) e o último dia laborado na data do ajuizamento desta ação (01
/06/2021), pois, embora demonstrado que após o último atestado médico (já vencido) a
autora não mais compareceu aos réus, diante da incapacidade laboral constatada pelo
perito este Juízo não pode definir o término em data anterior.

Pela projeção do aviso (art. 487 da CLT e OJ 82 SDI-1), declaro o


término do contrato em 23/08/2021 e condeno o empregador nas seguintes verbas, a
se apurar em liquidação: aviso-prévio de 78 dias (Lei 12.506/2011); décimo terceiro
salário; férias mais o terço; e depósitos de diferenças do FGTS, além da multa de 40%
sobre o total, inclusive das verbas rescisórias.

Deverá o empregador providenciar a baixa na CTPS da


reclamante, constando como último dia de trabalho o dia 23/08/2021, bem como a
entregar as guias TRCT, a chave de conectividade para levantamento do FGTS
(garantido o depósito da integralidade, sob pena de execução) e guias CD/SD para
levantamento do seguro desemprego, tudo no prazo de 10 (dez) dias após o trânsito
em julgado e intimação para tanto, sob pena também de multa diária de R$200,00, até
o limite de R$2.000,00 (revertida em favor da reclamante), sem prejuízo, no caso do
FGTS e seguro desemprego, de posterior indenização substitutiva caso mantido o
descumprimento e prejudicada a obreira no recebimento por culpa exclusiva do réu.

Por fim, DESTACO que é cabível em sede de liquidação a


apuração, na forma da lei, dos períodos de atestados/licenças médicos e de ausência
ao trabalho não justificada. Para tanto, deverá a reclamante, também para essa
matéria, juntar aos autos no prazo de 10 (dez) dias após o trânsito em julgado e
intimação para tanto o comprovante do benefício previdenciário que recebeu “no ano
passado”, conforme confessou na audiência de fl. 589. Caso não juntado no prazo, será
expedido ofício ao INSS, postergando um pouco a liquidação.

RESPONSABILIDADE DO 2º RÉU

O 2° réu (José Eduardo Simões Mendonça – pessoa física, que


pediu o reconhecimento de sua ilegitimidade passiva) recebeu em 1992 a delegação
efetiva dos serviços de registro do Cartório (1° réu) – fl. 209, com estabilidade no
serviço público (fl. 208).

Assinado eletronicamente por: FABIO GONZAGA DE CARVALHO - Juntado em: 23/11/2022 13:28:26 - f4050ea
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Os tabeliães, nos termos art. 236, CR, são profissionais do direito


e recebem do Estado, após aprovação em concurso público, delegação para o exercício
da atividade notarial e de registro.

Ao tabelião cabe a contratação de seus auxiliares (e escreventes,


etc), sob o regime da legislação de trabalho da CLT, e o gerenciamento administrativo e
financeiro dos serviços notoriais (art. 20 e 21 da Lei 8.935/1994).

Há responsabilidade pessoal do tabelião por prejuízos causados,


nos termos do art. 22 da lei supra: “Os notários e oficiais de registro são civilmente
responsáveis por todos os prejuízos que causarem a terceiros, por culpa ou dolo,
pessoalmente, pelos substitutos que designarem ou escreventes que autorizarem,
assegurado o direito de regresso”.

Em síntese, os serviços notariais e de registro são de caráter


privado, por delegação do Poder Público, sendo que o titular da serventia é quem
aufere renda e assume pessoalmente os riscos decorrentes da atividade, e, portanto, é
quem deve responder como real empregador dos trabalhadores contratados.

O 2° réu responderá solidariamente por todas as obrigações.

LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ

Rejeito, eis que ausentes os requisitos caracterizadores, pois o


exercício do direito de ação, garantido na Constituição da República (artigos 5º, XXXV e
114), não configura litigância de má-fé. Ademais, não identifico conduta da reclamante
que possa se enquadrar nas figuras previstas no art. 793-b da CLT.

JUSTIÇA GRATUITA

Nos termos do art. 790, § 3º, da CLT, defiro à parte autora os


benefícios da justiça gratuita, considerando não haver nos autos prova de recebimento
pela parte interessada, atualmente, de proventos superiores a 40% (quarenta por
cento) do limite máximo dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social, apesar
de seu salário ao longo da relação contratual ter sido superior ao limite estabelecido,
porém já não se encontra na prática e na contabilidade dos quadros dos réus há um
tempo, sendo bastante a declaração de hipossuficiência econômica firmada (art. 99,
§3° do CPC).

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS

Na hipótese, houve sucumbência recíproca.

Assinado eletronicamente por: FABIO GONZAGA DE CARVALHO - Juntado em: 23/11/2022 13:28:26 - f4050ea
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Considerando o grau de zelo, o lugar de prestação do serviço, a


natureza e a importância da causa, o trabalho realizado pelos advogados e o tempo
exigido para o serviço, inerentes à complexidade desta ação, arbitro o percentual de
honorários em 10%. Ressalto que a sucumbência parcial é apurada por títulos e não
períodos e valores (Enunciado 99 da Anamatra).

Assim, condeno os réus ao pagamento de honorários


advocatícios em favor do(s) procurador(es) da parte reclamante em 10% do valor da
condenação apurado em liquidação, na forma da OJ 348 da SDI-I do TST e da TJP 4 do
Regional (exclusão da cota previdenciária patronal).

Por fim, atento ao deferimento dos benefícios da justiça gratuita


ao ocupante do polo ativo e o teor do acórdão proferido pelo STF na ADI 5766, é
indevida a condenação da parte reclamante ao pagamento de honorários
sucumbenciais.

PARÂMETROS DE LIQUIDAÇÃO

Serão observados os parâmetros destacados em cada um dos


pedidos deferidos.

Sobre o salário, subsidiariamente aos parâmetros fixados no


julgamento de cada pedido, serão observados os comprovantes de pagamento trazidos
aos autos, na ausência injustificada, será observado o maior salário recebido ou a
situação mais vantajosa para o trabalhador (parte reclamante).

Ainda, as parcelas deferidas incidem sobre a integralidade do


contrato de emprego, ressalvada alguma especificação destacada na própria decisão.

Saliento que o FGTS incide sobre todas as parcelas de natureza


remuneratória deferidas.

Constituem salário de contribuição (art. 28 da Lei 8.212/1991 e


art. 832, §3º, da CLT) as seguintes verbas: salário extrafolha (cestas); aviso prévio, 13°
salário. A parte reclamada deverá efetuar os recolhimentos previdenciários incidentes
sobre as verbas declaradas como salário de contribuição, na forma da Lei 8.212/91,
com redação dada pela Lei 8.620/93, observando-se, ainda, os termos da Súmula 368
do TST e OJ no. 363, da SDI-1 do TST, sob pena de execução destes por esta Justiça
Especializada, nos termos do parágrafo 3º, do artigo 114, do texto constitucional.

Assinado eletronicamente por: FABIO GONZAGA DE CARVALHO - Juntado em: 23/11/2022 13:28:26 - f4050ea
Fls.: 11

Ainda sobre as contribuições previdenciárias, fica autorizada a


incidência de regime previdenciário específico, desde que comprovado o cumprimento
de requisitos normativos em liquidação, especificamente no prazo para a apresentação
de cálculos.

Determino a incidência de juros e de correção monetária nos


termos do acórdão proferido pelo STF no julgamento conjunto da ADI 5867 e das ADCs
58 e 59, com incidência do IPCA-E na fase pré-judicial e, a partir da propositura da
reclamação, a incidência da taxa SELIC (art. 406 do Código Civil). No tocante aos juros, o
mesmo julgamento determinou expressamente, quando da incidência da SELIC, o
englobamento também dos juros de mora, e, na fase anterior, de aplicação do IPCA-E,
haverá indexação com juros legais de 1% ao mês.

A correção monetária dos honorários advocatícios deve


observar a data de ajuizamento da ação (art. 1º da Lei 6.899/1981 e Súmula 14 do STJ).
Quanto aos juros de mora, aplica-se o mesmo entendimento delimitado acima.

Ainda, oportuno esclarecer que esta Especializada não detém


competência para executar as contribuições sociais devidas a terceiros, nos termos da
Súmula n. 24 deste Egrégio Regional.

No que toca ao imposto de renda, sua incidência observará a


instrução normativa 1.500/2014 da RFB, bem como o art. 404 do Código Civil (OJ-SDI1-
400 do TST).

DEMAIS QUESTÕES

Honorários periciais em R$ 1.500,00, pela União, expeça-se


requisição.

Ficam autorizadas as deduções apenas referentes aos períodos


de afastamentos, ausências, etc, conforme já exposto, para fins de liquidação. No mais,
não será possível a dedução de valores, eis que não comprovado o pagamento de
verbas de idêntico título das ora deferidas.

O princípio da adstrição limita os títulos e não os valores


postulados.

Expressamente rejeitadas todas as demais teses e insurgências


incompatíveis com a síntese do exposto.

Convém esclarecer, por oportuno, que o Julgador não se


encontra obrigado a rebater todos os argumentos expendidos pelas partes, devendo

Assinado eletronicamente por: FABIO GONZAGA DE CARVALHO - Juntado em: 23/11/2022 13:28:26 - f4050ea
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apenas fundamentar juridicamente a sua decisão, nos moldes do direito vigente, e que
os embargos de declaração, para fins de prequestionamento, são cabíveis apenas
quando não haja sido adotada tese explícita acerca da matéria, o que não ocorreu na
hipótese. Inteligência do art. 93, IX/CR e OJs 118 e 119 da SDI-1, TST.

III. DISPOSITIVO

Ante o exposto, nos autos da RECLAMAÇÃO proposta por


SOLANGE MOREIRA DOS SANTOS em face de JOÃO PINHEIRO CARTORIO REGISTRO
IMOVEIS e JOSE EDUARDO SIMOES MENDONCA, julgo parcialmente procedentes os
pedidos, nos termos dos fundamentos que aqui se integram, e assim decido:

- Pronunciar prescritos os direitos anteriores a 01/06/2016,


extinguindo-os com resolução de mérito (art. 487, II, do CPC).

- Condenar os reclamados solidariamente nas seguintes


obrigações:

a) Pela integração salarial do valor mensal pago “por fora” de R$


3.600,00, do início do período imprescrito até dezembro/2020: reflexos em décimo
terceiro, férias mais o terço, aviso prévio, FGTS e os 40%.

b) Pela declaração da rescisão indireta, com término do


contrato pela projeção em 23/08/2021: indenização do aviso-prévio de 78 dias; décimo
terceiro salário; férias mais o terço; e depósitos de diferenças do FGTS com os 40%.

c) Anotar a diferença do salário extrafolha na CTPS da obreira,


assim como providenciar a baixa da CTPS com data de 23/08/2021, tudo no prazo de 10
(dez) dias após o trânsito em julgado e intimação para tanto, sob pena de multa diária
de R$ 200,00, até o limite inicial de R$ 2.000,00, a ser revertida em favor da obreira.

d) Entregar as guias TRCT, a chave de conectividade para


levantamento do FGTS (garantido o depósito da integralidade, sob pena de execução) e
guias CD/SD para levantamento do seguro desemprego, tudo no prazo de 10 (dez) dias
após o trânsito em julgado e intimação para tanto, sob pena também de multa diária
de R$200,00, até o limite de R$2.000,00 (revertida em favor da reclamante), sem
prejuízo de posterior indenização substitutiva caso mantido o descumprimento.

e) Honorários advocatícios em favor do(s) procurador(es) da


parte reclamante em 10% do valor líquido da condenação, apurado na forma da OJ 348
da SDI-I do TST e da TJP 4 do Regional (exclusão da cota previdenciária patronal).

DETERMINO que a reclamante junte aos autos no prazo de 10


(dez) dias após o trânsito em julgado e intimação para tanto, para fins de apuração dos

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Fls.: 13

itens “a” e “b” acima, conforme já explicado nos fundamentos, os comprovantes de


seus afastamentos previdenciários e percepção de benefício previdenciário, desde o
ano de 2018. Caso não juntado no prazo, antes da liquidação dever-se-á expedir ofício
ao INSS e aguardar a resposta.

Os juros, a correção monetária, a incidência de contribuições


previdenciárias e a incidência do imposto de renda observarão o determinado na
fundamentação.

Justiça gratuita à autora deferida.

Honorários periciais em R$ 1.500,00, pela União, expeça-se


requisição.

Custas pelos réus no importe de R$1.000,00, equivalente a 2%


do valor da condenação, ora arbitrado provisoriamente em R$50.000,00 (art. 789 da
CLT).

Intimem-se as partes.

Nada mais.

PARACATU/MG, 23 de novembro de 2022.

FABIO GONZAGA DE CARVALHO


Juiz Titular de Vara do Trabalho

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https://pje.trt3.jus.br/pjekz/validacao/22112313274643900000159798105?instancia=1
Número do processo: 0010435-34.2021.5.03.0084
Número do documento: 22112313274643900000159798105

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