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As traduções de Antígona foram a partir do texto grego http://www.perseus.tufts.edu/hopper/text?doc=Perseus%
por Marta Mega de Andrade e Stephania Sansone Giglio, 3Atext%3A1999.01.0185%3Acard%3D441.
com base na edição grego-inglês disponível em
Mas Creonte parece ver de outra forma. Antígona ouço o murmúrio, escuto as queixas da
fala de “todos”, Creonte demanda falar por todos cidade
(como tirano da pólis) e garante que, entre eles, por causa dessa moça: "Nenhuma mulher",
Antígona é quem está só. O falar por todos do comentam, "mereceu jamais menos que ela
soberano faz surgir uma expectativa diferente da de essa condenação - nenhuma, em tempo
Antígona sobre o conjunto de “todos”: “todos”, para algum,
Creonte, são os cadmeus — nome arcaico dos terá por feitos tão gloriosos quanto os dela
habitantes de Tebas — e somente Antígona, sofrido morte mais ignóbil; ela que,
segundo o tirano, vê esse ato de sepultar o irmão que quando em sangrento embate seu irmão
combateu a pátria como justo, nesse conjunto (dos morreu
cadmeus). No entanto, ela se opõe a Creonte não o deixou sem sepultura, para pasto
afirmando que eles todos não podem ver (verbo ver, de carniceiros cães ou aves de rapina,
no sentido de tomar conhecimento) e assim não não merece, ao contrário, um áureo
reagem, pois voltam suas bocas para baixo. galardão?"
Possivelmente, o sentido do verso 509 é o de Este é o rumor obscuro ouvido pelas ruas.
silenciar, mas não voluntariamente. O verbo (Antígona, vv.693-701)
(upíllousin) tem o sentido de “forçar por baixo de”,
“manter abaixado”, e está associado à maneira pela
qual um cachorro põe o rabo entre as pernas quando
acuado. É a imagem de um movimento, o de manter
a boca para baixo, que invoca na cena o aspecto
soberano da tirania sobre a comunidade de fala.
Antígona diz que todos temem Creonte ao voltarem
suas bocas para baixo. Acuados, não se expõem em
público, como, aliás, foi o conselho de Ismene:
esconda o ato.
O recurso utilizado por Antígona para
intensificar o conflito com Creonte é, portanto, o que
se funda na ação de fala, na possibilidade de
exposição por palavras a uma comunidade. Para
Creonte, Tebas tem uma só voz cadmeia, que é a sua.
Para Antígona, Tebas tem outra voz — a de todos —
que ela espera mobilizar. A disputa entre as duas
perspectivas não se resolve, não é o momento da
reviravolta na peça; ela passa, com os mesmos
passos de Antígona para fora da cena, levada ao seu
termo, quer dizer, à sua sentença de morte. A
ambiguidade do que diz Creonte unificando os
cadmeus sob uma só voz (tirano e cidadão), é
pontuada pela visão indefinida de um conjunto
(todos), cujas cabeças se abaixam, cujas línguas se
recolhem. Esses pequenos movimentos do corpo se
projetam em uma comunidade, como apontamos
acima; e Antígona, vindo a público, fala a todos (os
que se calam por submissão).
Numa última tentativa de alertar o
governante, Hemon, noivo de Antígona e filho de
Creonte, aconselha o pai a perdoar, porque, segundo
ele: