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A importância do repertório comportamental do

terapeuta: desenvolvimento de habilidades


Autores:

Débora Louyse Almeida Lapa &

Fábio Iannini de Castro – Contato: fabioiannini@live.com

A relação terapêutica é considerada uma variável de suma importância


para o sucesso de um processo terapêutico. Segundo Brava e
Vandenberghe (2006) a relação terapêutica, além de um lugar de
colaboração, um contexto favorecedor e propício para a aplicação de
intervenções terapêuticas, […] constituiu-se um instrumento privilegiado
de intervenção.

Afim de favorecer o vínculo e possibilitar as intervenções necessárias, o


terapeuta precisa desenvolver uma série de habilidades que contribuam
para a relação e condução do processo que devem ser desenvolvidas
durante a sua formação para além do conhecimento técnico e teórico. “O
relacionamento desenvolvido em psicoterapia forma-se através de
fenômenos que são produzidos pelas atitudes manifestadas pelo
terapeuta e pelo cliente durante o processo terapêutico”. (Fernandes,
2012, p. 40)

A partir da busca do cliente pelo processo terapêutico, o objetivo do


terapeuta comportamental será, entre outras questões relevantes,
auxiliar o cliente a desenvolver repertório, isto é, encontrar respostas
mais efetivas para que assim consiga produzir consequências
reforçadoras positivas.

Ao buscar psicoterapia o cliente pode estar sob controle de contingências


aversivas e não discriminar de modo suficiente as variáveis
controladoras de seu comportamento. Assim, o mesmo pode não
conseguir descrever com clareza sua queixa, recorrendo a explicações
mentalistas aprendidas através da comunidade verbal da qual faz parte.
Deste modo, a psicoterapia tem o papel fundamental de auxiliar o cliente
a adquirir repertórios descritivos adequados que permitam desenvolver
autoconhecimento, isto é, levar o indivíduo a desenvolver a habilidade de
identificar e descrever as variáveis que controlam e mantém o seu
comportamento. Esse processo de autoconhecimento possibilita que o
cliente se comporte de maneira consciente, a partir do conhecimento
sobre si mesmo e seu ambiente, para estar mais qualificado a manejar as
contingências ambientais e seu próprio comportamento, por essa lógica é
possível afirmar que o indivíduo está mais preparado para agir de forma
a produzir as consequências desejadas por ele. (Brandendurg; Weber
2005).

Posto isso, o instrumento de trabalho do terapeuta comportamental pode


ser o seu próprio comportamento, pois é por meio deste que o terapeuta
irá intervir e manejar o setting terapêutico. Já que o terapeuta é a pessoa
para quem o cliente vai relatar seus comportamentos, o ambiente
terapêutico e o terapeuta tornam-se estímulos discriminativos para o
comportamento de descrever e relatar do cliente, cabe então, ao
profissional ir mediando tal interação, utilizando de perguntas e demais
intervenções que possibilitem modelar o repertório do cliente para que
ele consiga discriminar e descrever de maneira efetiva seus
comportamentos públicos e encobertos como também identificar as
variáveis controladoras e mantenedoras dos mesmos. (Brandendurg;
Weber 2005).

Nesse ponto é que está a importância das habilidades terapêuticas,


comportamentos que favorecem a atuação do profissional e sua relação
com o cliente. Esses comportamentos são empatia, aceitação, saber
ouvir, observar, instruir, levantar hipóteses, confrontar, reforçar,
questionar informações relevantes, discriminar seus sentimentos em
ralação ao cliente, encerrar a sessão, ser diretivo, disponível dentre
outras. (Freitas; Noronha, 2007).

Uma vez que, para adquirir autoconhecimento é necessária a mediação


de uma outra pessoa, o terapeuta na interação com o cliente irá fornecer
contingências e prover reforçamento diferencial, visando modelar no
cliente comportamentos de autodescrição e autoconhecimento, pois para
o indivíduo desenvolver novos repertórios comportamentais e conseguir
controlar o próprio comportamento ele precisa antes de tudo se
autoconhecer. (Brandendurg; Weber 2005).

Contudo, o repertório comportamental do terapeuta também deve ser


desenvolvido conforme as habilidades necessárias para o manejo de um
processo terapêutico. Considerando as possibilidades de intervenção e as
atitudes a serem manifestadas, o terapeuta comportamental emite
basicamente três tipos de comportamento no consultório, sendo eles,
comportamento verbal vocal, os comportamentos clinicamente
relevantes e comportamentos gestuais. (Borges, 2007).

Para conseguir identificar, analisar e manejar as contingências presentes


na sessão, diversas habilidades são requeridas ao terapeuta para que seja
possível utilizar as intervenções pertinentes, e assim, favorecer a
identificação do cliente sobre as variáveis controladoras e mantenedoras
do seu comportamento queixa.

O que ocorre é que muitas das vezes as habilidades necessárias para a


boa condução de um processo terapêutico não são treinadas e
desenvolvidas adequadamente durante o período da graduação e os
profissionais ao iniciar sua atuação clínica fora do meio acadêmico
podem apresentar dificuldades na condução de alguns casos, seja por
falta de conhecimento técnico, ou por ausência de determinadas
habilidades terapêuticas.

Não saber quais habilidades são necessárias a um terapeuta


comportamental ou como utiliza-las a depender das especificidades do
caso pode constituir-se de um empecilho para a boa condução do
processo terapêutico. São diversas as formas com que o terapeuta
iniciante pode desenvolver essas habilidades, como por exemplo, a partir
das supervisões dos atendimentos por um terapeuta experiente que irá
auxiliar quanto as intervenções e manejo clínico. Freitas e Noronha
(2007) ressaltam que os supervisores não são os únicos responsáveis
pela preparação dos alunos, que eles contam também com a atuação de
todo o corpo docente e com a dedicação do próprio aluno na aquisição de
suas habilidades. No que diz respeito a dedicação do aluno em relação a
aquisição das habilidades, pode-se contar com diversos recursos de
aprimoramento, desde ao quesito teórico que irá embasar a prática
clínica as atitudes manifestadas na sessão.
Guilhardi (1982) ao discutir a formação do terapeuta comportamental
ressalta que o padrão de comportamento do terapeuta é uma das
variáveis mais importantes que interferem na sua relação
profissional-cliente, uma vez que, o terapeuta comportamental observa,
interpreta, interage, sugere, em função do seu repertório.

Assim, desde os conhecimentos adquiridos na graduação a atuação


enquanto terapeuta, é necessário que o mesmo desenvolva um repertório
de habilidades que o embase no manejo e condução dos casos,
favorecendo o processo de mudança do cliente. Desenvolver esse
repertório pressupõe o papel ativo do terapeuta, o que inclui, a busca por
desenvolver as habilidades terapêuticas necessárias. Para lidar de forma
adequada com contingências do ambiente terapêutico, pode-se recorrer a
conteúdos além do que é disponibilizado na graduação, como curso de
aperfeiçoamento e formação. Além da busca teórica para embasar a
prática clínica, as supervisões orientadas por terapeutas experientes
podem ser uma importante oportunidade para o desenvolvimento de
habilidades.

É necessário que o terapeuta entre em contato com contingências que


favoreçam o aprendizado e aprimoramento de habilidades, como
destacado por Guilhardi (1982): contingências geradas pela
comunidade-cliente; contingências geradas pela
comunidade-universitária; contingências geradas pela comunidade
científica; contingências geradas pela interação com uma equipe e
contingências geradas pela relação terapêutica. Estas contingências
consistem na sensibilidade do terapeuta para com o seu público, no
contato do mesmo com as demandas acadêmicas e científicas, na
habilidade de trabalhar em equipe e favorecer o vínculo terapêutico, a
partir de atitudes que manifestem empatia para com o cliente.

Referências:

Braga, G. L. de B., & Vandenberghe, L. (2006). Abrangência e função da


relação terapêutica na terapia comportamental. Estudos de Psicologia
(Campinas), 307-314.

Brandenburg, O.J. & Wber, L.N.D. (2005). Autoconhecimento e


liberdade no behaviorismo radical. Psico-USF.10(1), 87-92. Recuperado
em 11 julho, 2017, de
http://www.scielo.br/pdf/pusf/v10n1/v10n1a11.pdf.

Fernandes, F. A. D. (2012). Relação Terapêutica: uma análise dos


comportamentos de terapeuta e cliente em sessões iniciais de terapia.
Dissertação de mestrado, Universidade de São Paulo, SP, Brasil.

Freitas, F. A. de., & Noronha, A. P. P. (2007). Habilidades do


psicoterapeuta segundo supervisores: diferentes perspectivas. Psic:
revista da Vetor Editora, 159-166. Recuperado em 12 de junho de 2017,
de
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1676-731
42007000200006&lng=pt&tlng=pt.

Guilhardi, H. J. (1982). A formação do terapeuta comportamental: que


formação?. XII Simpósio Internacional: Modificação de Comporamento.
Ribeiro Preto, SP. Recuperado em 12 de julho de 2017, de
http://www.itcrcampinas.com.br/pdf/helio/formacao_terapeuta_comp
ort.pdf.

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