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Centro Universitário Mario Palmério

CONTEÚDO DE METODOLOGIA DA EDUCAÇÃODE JOVENS E


ADULTOS
A REVOLUÇÃO EM ANGICOS

Na década de 1960, o Brasil enfrentava problemas relacionados ao analfabetismo e


governos locais, como o Estado do Rio Grande do Norte, buscavam soluções para essa
questão. Nesse contexto, foi desenvolvido um projeto em parceria com a Secretaria da
Educação, visando reduzir o alto índice de analfabetismo no Estado. A cidade de Angicos
foi escolhida como o local para a primeira fase desse projeto, devido ao seu alto número de
analfabetos.
Nesse contexto, foi lembrado o trabalho de Paulo Freire, que já vinha desenvolvendo
ações de alfabetização com adultos. Ao longo da década de 1950, Freire reuniu experiências
no campo da alfabetização de adultos em áreas urbanas e rurais próximas a Recife. Com base
nessa experiência, ele percebeu que os métodos utilizados na alfabetização de crianças não
eram adequados para os adultos e que era necessário adotar uma abordagem diferenciada.
Assim, o projeto desenvolvido em Angicos contou com a participação de Paulo
Freire, que propôs uma metodologia alternativa de alfabetização para adultos. Essa
abordagem se mostrou eficaz, pois permitia resultados em curto prazo. A histórica de
Angicos, portanto, apresenta importantes antecedentes nessa questão e foi um marco no
desenvolvimento de estratégias de alfabetização no país.
No início dos anos 60, Paulo Freire criou uma nova proposta de alfabetização para
jovens e adultos. Calazans Fernandes, Secretário de Educação do Rio Grande do Norte,
convidou Freire para conduzir o projeto em Angicos, com total liberdade na escolha dos
coordenadores e sem intervenção política. Freire chamou Marcos Guerra e sua equipe de
monitores, formada por estudantes universitários de Natal, para realizar a experiência
educacional em Angicos. O trabalho começou com a identificação do número de analfabetos
na cidade e a pesquisa do vocabulário local. As palavras e temas geradores foram
selecionados de acordo com sua importância e significado social para o grupo. A
inauguração do projeto ocorreu em 18 de janeiro de 1963, com a presença de Freire e do
governador do estado. A primeira aula foi realizada em 24 de janeiro, com o objetivo de
alfabetizar 300 trabalhadores em 40 horas.
A palavra geradora, escolhida por Freire, tinha o objetivo de despertar o interesse e
a curiosidade dos alunos, bem como promover a reflexão sobre determinado tema. As aulas
não se baseavam em cartilhas, mas sim em situações-problema que envolviam a palavra
geradora e estimulavam a participação e a discussão entre os estudantes.
O texto também menciona a realização das aulas à noite, o que demonstra o
compromisso e a dedicação dos monitores e dos alunos em buscar a educação. Esses
encontros noturnos reuniam pessoas de diferentes faixas etárias, destacando a importância
de proporcionar a alfabetização a todas as pessoas, independentemente de sua idade.
No geral, o texto ressalta a importância da articulação entre a educação e a realidade
dos alunos, utilizando o diálogo, as palavras geradoras e as situações-problema como
estratégias de ensino. Destaca-se também a valorização do trabalho em equipe, representado
pelos encontros entre os monitores, e a preocupação em tornar a aprendizagem mais
significativa e contextualizada.
O autor menciona a experiência de Angicos, em que o diálogo foi utilizado na busca
do conteúdo a ser trabalhado e nos encontros de alfabetização. Os monitores proporcionavam
um espaço para os participantes falarem sobre seu dia, suas compreensões e o que mais
gostaram na aula.
As aulas eram dinâmicas e utilizavam estratégias, jogos e recursos alternativos. Ao
final do trabalho com as famílias silábicas, os monitores criaram um jornal com frases feitas
pelos próprios participantes. A penúltima aula foi dedicada a reflexões sobre tudo que havia
acontecido, deixando os participantes conscientes do valor de suas existências e trabalhos.
A primeira turma concluiu o curso com a entrega de certificados aos trabalhadores
que se alfabetizaram. Os resultados obtidos impressionaram a opinião pública, com 300
trabalhadores alfabetizados em 45 dias. A cerimônia de entrega de certificados contou com
a presença do presidente João Goulart e diversos governadores do Nordeste. Na ocasião,
João Goulart recebeu cartas escritas pelos participantes do projeto.
A experiência de Angicos teve repercussão nacional e internacional, com
representantes de vários jornais enviando-se para o local. Um filme intitulado "As quarenta
horas de Angicos" registrou a experiência e mostrou o prestígio do método utilizado. O
sucesso dessa experiência rendeu a Paulo Freire o convite para repensar a alfabetização de
adultos em âmbito nacional. O presidente João Goulart se comprometeu com a ampliação
dos programas de alfabetização de jovens e adultos e criou, em 1964, a Campanha Nacional
de Alfabetização, coordenada por Paulo Freire.
A campanha de alfabetização proposta por Paulo Freire não foi colocada em prática
devido ao golpe militar, e suas ideias foram consideradas como revolucionárias. Freire foi
perseguido politicamente e ficou preso por 70 dias. Durante seu tempo na prisão, ele foi
solicitado por um oficial para alfabetizar alguns recrutas, ao qual Freire explicou que foi
exatamente por querer alfabetizar que ele foi preso. Durante o período militar, as pessoas
tinham medo e queimaram toda a documentação relacionada ao programa de alfabetização.
Para Gadotti, o programa de alfabetização de adultos em Angicos foi um sucesso devido ao
progresso humano e à boa preparação dos coordenadores responsáveis pelo programa. No
entanto, o projeto foi interrompido pelo golpe militar. O texto também ressalta a importância
da Educação de Jovens e Adultos e destaca que muitas vezes o ensino para adultos era
desenvolvido de maneira infantilizada, contradizendo as propostas de Paulo Freire. Percebe-
se, a partir desse resgate histórico, que a Educação de Jovens e Adultos passou por
transformações e desenvolvimentos ao longo do tempo.

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