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25/02/24, 13:38 Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

Acórdãos STJ Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça


Processo: 196/06.8TCFUN.L1.S1
Nº Convencional: 1ª SECÇÃO
Relator: GARCIA CALEJO
Descritores: PODERES DO SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA
FORMA DE DECLARAÇÃO NEGOCIAL
CLÁUSULA ACESSÓRIA
ESTIPULAÇÕES VERBAIS ACESSÓRIAS
CONTRATO DE EMPREITADA
PROVA TESTEMUNHAL
ADMISSIBILIDADE
LIMITES DA CONDENAÇÃO
CONDENAÇÃO ULTRA PETITUM
PRINCÍPIO DISPOSITIVO
LIQUIDAÇÃO EM EXECUÇÃO DE SENTENÇA
Data do Acordão: 02-11-2010
Votação: UNANIMIDADE
Texto Integral: S
Privacidade: 1
Meio Processual: REVISTA
Decisão: NEGADA A REVISTA
Sumário :

I - O STJ pode conhecer do juízo da prova sobre a matéria de facto,


formado pela Relação, quando esta deu como provado um facto sem a
produção da prova considerada indispensável, por força da lei, para
demonstrar a sua existência – cf. art. 722.º, n.º 2, do CPC.
II - O art. 221.º, n.º 1, do CC, respeita à forma das declarações
negociais, prevendo, quanto às cláusulas verbais acessórias ou
adicionais, três hipóteses: as estipuladas antes, as contemporâneas e as
posteriores à feitura do documento, considerando as anteriores e
contemporâneas nulas, excepto se “a razão determinante da forma lhes
Caso a forma não seja não seja aplicável e se prove que correspondem à vontade do autor da
adotada por convenção
declaração”.
III - O fundamento dessa determinação assenta no entendimento de que
essas cláusulas, se tivessem sido queridas pelos declarantes, não
deixariam de ser introduzidas no documento. Não sendo aí colocadas,
presume-se que não foram queridas por eles. Já as estipulações verbais
posteriores serão válidas, precisamente porque delineadas depois da
feitura do documento. Só assim não será, se a razão da exigência da
forma as abranger.
IV - As estipulações verbais posteriores a um contrato de empreitada,
reduzido à forma escrita, serão válidas, de acordo com o disposto no
art. 222.º, n.º 2, do CC, pois não se vislumbra que a lei exija forma
escrita para o seu valimento. Isto independentemente de sobre elas se
poder realizar prova testemunhal contra ou além do documento que
titula o negócio, pois sobre essa questão versa o art. 394.º do CC.
V - Face ao art. 394.º, n.º 1, do CC, não é possível prova testemunhal
em relação a quaisquer convenções contrárias ou adicionais ao
conteúdo de documento autêntico ou a documento particular
mencionado nos arts. 373.º a 379.º desse Código. A finalidade daquele
dispositivo é evitar que a eficácia do contido num documento escrito
possa ser posto em causa através de um meio de prova mais aleatório e
inseguro, como é a prova testemunhal.
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VI - Se ficou demonstrado que “a pedido do A., o R. executou na


moradia trabalhos a mais”, então foi celebrado um novo contrato em
relação a esses trabalhos extra, não se tratando de estipulação visando,
por exemplo, esclarecer ou alterar o conteúdo do ajustado. Esta situação
não constitui uma convenção sobre o conteúdo do documento ou para
além dele, não lhe sendo de aplicar o regime do art. 394.º, n.º 1, do CC.
VII - O art. 661.º, n.º 1, do CPC, define e limita os termos da
condenação a proferir de forma a que se contenha, em substância e
quantidade, dentro do pedido formulado, em observância e respeito do
princípio dispositivo das partes. À não coincidência entre a sentença e o
pedido, pode, genericamente, chamar-se extrapetição. Se a diferença
não é de qualidade, mas só de quantidade, pode falar-se de ultra-petição
ou de infrapetição, consoante se ultrapasse ou fique aquém do pedido.
VIII - O preceituado no art. 661.º, n.º 2, do CPC, tanto se aplica no caso
de inicialmente se ter formulado um pedido genérico, e de não se ter
logrado converter em pedido específico, como ao caso de se ter
formulado pedido específico, sem que se tenha conseguido fazer prova
da especificação, ou seja, quando não se tenha logrado coligir dados
suficientes para se fixar, como precisão e segurança, o quantitativo da
condenação.

Decisão Texto Integral:

Acordam no Supremo Tribunal de Justiça:

I- Relatório:
1-1- AA, residente no sítio ..., propôs a presente acção com processo
ordinário contra BB, residente no sítio ..., pedindo se declare resolvido
o contrato de empreitada identificado, celebrado entre o A. e o R. em
20/02/2005, por incumprimento definitivo da parte deste, se condene o
R. a pagar ao A. a quantia de € 8.094,00 (oito mil e noventa e quatro
Euros), correspondente à restituição da diferença existente entre o valor
pago e os trabalhos não executados, bem como os respectivos juros de
mora à taxa legal em vigor, actualmente de 4% ao ano, contados a partir
da citação e até efectivo pagamento e ainda a quantia de € 7000,00 (sete
mil Euros) correspondente ao ressarcimento dos danos patrimoniais
sofridos por este, bem como os respectivos juros de mora à taxa legal
em vigor, contados a partir da citação e até efectivo pagamento.
Fundamenta este pedido, em síntese, dizendo que celebrou o contrato
de empreitada que identifica com o R., sendo que este o incumpriu, não
executou algum dos trabalhos contratados e causou-lhe prejuízos.
O R. contestou negando o incumprimento do contrato e deduzindo
reconvenção em que pediu:
1º Declarar-se que o A. desistiu do contrato de empreitada nos termos
previsto no art. 1229º do C.C. e, simultaneamente, condenar-se o
mesmo a reconhecer que o seu comportamento contratual corresponde à
desistência injustificada do contrato de empreitada sub judice;
2º Em decorrência, deve condenar-se o A. e Reconvindo no pagamento
ao R. e reconvinte de uma indemnização global não inferior a
108.000,00 Euros correspondentes às perdas dos lucros cessantes e
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expectativas contratuais, tudo acrescido de juros contados à taxa legal a


partir da data da notificação.
3º Em cúmulo condenar-se o A. e reconvindo no pagamento ao R. e
reconvinte de uma compensação no valor de 12.500,00 Euros pela
perda dos materiais, máquinas e utensílios e ferramentas de construção
civil, tudo acrescido de juros contados à taxa legal a partir da data da
notificação.
4º E, sempre e em qualquer caso de modo subsidiário e a título de
enriquecimento sem causa, o que não se aceita por princípio, deverá
sempre condenar-se o A. e reconvindo a pagar ao R. e reconvinte a
quantia de 30.500 Euros acrescida de juros contados à taxa legal a partir
da data da notificação, a título do pagamento das obras, trabalhos,
materiais, e serviços efectivamente especificados, misturados e
executados na moradia “sub-judice” nos termos alegados e não pagos;
5º E sempre em cúmulo condenar-se o A. e reconvindo no pagamento
ao R. e reconvinte de uma compensação no valor de 12.500 Euros pela
perda dos materiais máquinas e utensílios e ferramentas de construção
civil, tudo acrescido de juros contados à taxa legal a partir da data da
notificação.

O processo seguiu os seus regulares termos posteriores, tendo-se


proferido o despacho saneador, após o que se fixaram os factos assentes
e se organizou a base instrutória, se realizou-se a audiência de discussão
e julgamento, se respondeu à base instrutória e se proferiu a sentença.
Nesta julgou-se a acção improcedente absolvendo o R. de todos os
pedidos contra ele deduzidos.
Julgou-se, porém, parcialmente procedente a reconvenção e, em
consequência, condenou-se o A. a pagar ao R. o valor de treze mil euros
(13.000,00 euros), acrescido de juros de mora contados desde a data da
notificação do pedido reconvencional até efectivo pagamento,
relativamente aos trabalhos a mais realizados pelo R., referidos nas
alíneas CC) e DD) dos factos provados, o valor dos trabalhos referidos
na alínea M) dos factos provados, devendo a sua determinação ser
liquidada em execução de sentença, sendo que sobre o valor assim
determinado deverão acrescer juros de mora contados desde a data do
trânsito em julgado desse incidente de liquidação até efectivo
pagamento, o valor do lucro que o R. deixou auferir com a realização
da obra no seu todo, em consequência da desistência por parte do A. da
empreitada, sem prejuízo do lucro que o mesmo já auferiu com os
pagamentos entretanto efectuados, referidos nas alíneas E) a H) dos
factos provados correspondentes às alíneas a) a c) da cláusula 3ª do
contrato, devendo a sua determinação ser liquidada em execução de
sentença, sendo que, sobre o valor assim determinado deverão acrescer
juros de mora contados desde a data do trânsito em julgado desse
incidente de liquidação até efectivo pagamento.

Não se conformando com esta decisão, dela recorreu o A. de apelação


para o Tribunal da Relação de Lisboa, tendo-se aí julgado parcialmente
procedente o recurso, revogando-se a decisão recorrida na parte em que
decidiu: “ - condeno o Autor a pagar ao Réu o valor de treze mil euros
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(13 000, 00 euros), acrescido de juros de mora contados desde a data


da notificação do pedido reconvencional até efectivo pagamento,
relativamente aos trabalhos a mais realizados pelo Réu, referidos nas
alíneas CC) e DD) dos factos provados” e em sua substituição relegou-
se para execução de sentença, a determinação do valor de tais trabalhos
sendo que, sobre o valor assim determinado deverão acrescer juros de
mora contados desde a data do trânsito em julgado desse incidente de
liquidação até efectivo pagamento (art. 805º nº 3 do CPC). No mais
confirmou-se a decisão recorrida.

1-2- Irresignado com este acórdão, dele recorreu o A. para este


Supremo Tribunal, recurso que foi admitido como revista e com efeito
devolutivo.
O recorrente alegou, tendo das suas alegações retirado as seguintes
conclusões:
1ª- Num contrato de empreitada não sujeito por lei a forma escrita, mas
tendo esta sido adoptada, as estipulações posteriores estão também
sujeitas a esta forma, posto que, tendo as partes estipulado uma forma
especial para a declaração, se presume, nesse caso, que se não querem
vincular senão pela forma especial convencionada (cfr. art. 223° nº 1.
do CC).
2ª- Por outro lado, a existência de um alegado novo contrato oral
autónomo em relação ao contrato de empreitada, conforme entende o
Tribunal a quo, não foi invocada pelo Réu na reconvenção, sendo certo
que a ele cabia alegar e provar os factos que integram a causa de pedir e
o tribunal só pode servir-se dos factos articulados pelas partes (cfr. arts.
264° e 664°, in fine, do CPC. 342°, nº 1, do CC. e Ac. do TRL, proc. nº
9674/06-1).
3ª- Acresce que, para além de tal alegado novo contrato carecer de
forma escrita, e de este não ter sido invocado pelo Réu na reconvenção,
sendo esse o momento próprio para o fazer, a admitir-se a existência de
tal novo contrato, no que não se concede, tal implicaria uma alteração
da causa de pedir, a qual também não foi invocada pelo Réu, sendo, por
isso, encerrada que está a audiência de discussão e julgamento, e na
ausência de acordo do Autor, tal alteração da causa de pedir legalmente
inadmissível (cfr. art. 273° do CPC).
4ª- Salvo o devido respeito, ao contrário do decidido pelo Tribunal a
quo, estão aqui precisamente em causa convenções adicionais ao
contrato de empreitada escrito outorgado pelas partes, ou convenções
acessórias posteriores, traduzidas nos referidos trabalhos a mais, para
cuja prova não é admitida prova testemunhal (cfr. Acs. do TRP. 2
secção de 18/06/2008. proc. nº 2223/08, e do STA, de 04/05/1993, proc.
n°082248).
5ª- Neste entendimento, e conforme alegado pelo Recorrente em sede
de apelação, no que toca à realização pelo Réu de trabalhos a mais a
pedido do Autor, logo traduzindo um alegado acordo tácito entre ambos
a esse respeito, porque consubstanciam alteração aos termos do acordo
escrito, reconhecido e aceite pelas partes, tais trabalhos não podiam ser
objecto de prova testemunhal, como o foram, sob pena de violação do
disposto no art. 394° nº 1 do CC, devendo, como tal, tais factos ser
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dados como não escritos, nos termos do disposto no artigo 646°, n°4, do
CPC.
6ª- Mais entendeu o Tribunal a quo, que, no caso vertente, embora
fixado o respectivo objecto, atenta a natureza dos trabalhos efectuados e
a necessidade, altamente provável, de um relatório pericial para o
efeito, não foi possível quantificar tais trabalhos realizados pelo Réu, os
quais carecem de avaliação pecuniária, sendo que o M° Juiz do Tribunal
de 1ª instância não o podia fazer e daí a faculdade de remeter para
execução de sentença.
7ª- Sucede que a falta de quantificação do valor dos alegados trabalhos
efectuados, fixado que se mostrava o respectivo objecto, como aliás
bem diz o Tribunal a quo, era da exclusiva responsabilidade do Réu, a
quem competia, para a fixação da respectiva quantidade, a alegação e a
prova de tal, podendo então ter-se socorrido para o efeito de um
relatório pericial, o que não fez, pelo que não poderá fazê-lo agora.
8ª- Com efeito, conforme alegado pelo Recorrente em sede de Recurso
de Apelação, da alínea M) dos factos dados como provados pelo
Tribunal de 1ª instância consta que o Réu deixou a obra numa fase em
que se encontrava colocada a cobertura e executado todo o reboco dos
exteriores da moradia, alínea esta que se relaciona com a alínea d) do
contrato em causa, a qual, por sua vez estipula que o Autor pagará ao
Réu a quantia de € 35.000.00, após a colocação da cobertura e
revestimentos interiores e exteriores da moradia, sendo que dessa
alínea, conjugada com a alínea N) dos factos dados como provados,
resulta que, no caso, o Réu não executou o reboco e revestimentos
interiores da moradia.
9ª- Assim, constando tais factos da acção, constata-se que, aquando da
Contestação, já eram perfeitamente conhecidas as designadas “unidades
componentes da universalidade” em questão, sendo por isso
perfeitamente possível quantificá-las com exactidão, bastando para tal
deduzir à quantia em causa o valor do reboco e revestimentos interiores
da moradia não executado pelo Réu.
10ª- E o mesmo se verificando relativamente ao lucro que o Réu terá
alegadamente deixado de auferir com a realização da obra no seu todo,
sem prejuízo do lucro que o mesmo já auferiu com os pagamentos
entretanto efectuados pelo Autor, referidos nas alíneas E) a H) dos
factos provados e correspondentes às alíneas a) a c) da cláusula 3ª do
contrato em causa, o qual já era perfeitamente fixável aquando da
contestação, porque não alteradas as consequências do alegado acto
ilícito motivador de tal indemnização.
11ª- Ora, tendo-se, no momento da formulação do pedido, e
consequentemente no momento da prolação da Sentença pelo Tribunal
de 1ª instância, já verificado todos os elementos de facto constitutivos
do direito, e logo já todos os elementos relativos não só ao objecto mas
também à quantidade em causa eram determináveis ou, por outras
palavras, os factos já eram todos conhecidos e não estavam em
evolução, não era legalmente possível remeter tal liquidação para sede
de execução de sentença como fez aquele Tribunal e se mostra
confirmado pelo Tribunal a quo.

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12ª- Em rigor, a necessidade de remissão para sede de liquidação de


sentença não resulta da falta de elementos bastantes para fixar, no caso,
a quantidade da indemnização, mas sim da inexistência de factos
alegados pelo Réu para sustentar tal obrigação de indemnizar, cuja
alegação e prova a ele competia, facto este que obsta à utilização de tal
mecanismo de remissão para execução de sentença (cfr. arts. 342° nº 1
do CC, 661° nº 2 do CPC e Ac. do S.T.J. de 17/01/1995).
13ª- Importa recordar que, em processo civil, o Tribunal está limitado
pelos pedidos das partes, não podendo extravasá-los, uma vez que não
se pode pronunciar sobre mais do que o que lhe foi pedido, dado que o
objecto da Sentença (ou do Acórdão) tem que coincidir com o objecto
do processo, sob pena de violação dos princípios do pedido e do
dispositivo, situação esta tanto mais grave no caso vertente quanto se
verifica que o Tribunal de 1ª instância nem sequer estabeleceu qualquer
limite à respectiva decisão de condenação nos montantes a liquidar em
sede de execução de sentença.
14ª- Assim, e conforme alegado pelo Recorrente em sede de Apelação,
ao decidir como decidiu o Tribunal de 1ª instância conheceu de
questões de que não podia tomar conhecimento, condenou em
quantidade superior ou objecto diverso do pedido, ultrapassando os
limites da condenação e remeteu tal liquidação para execução de
sentença quando o eventual crédito do Réu não era indeterminável, com
o que violou o disposto nos artigos 3° n° 1, 264°, 661° nºs 1 e 2, e 668°
n° 1 alínea d), do CPC, normativos estes que, ao confirmar nesta parte
tal Decisão, foram igualmente violados pelo douto Acórdão proferido
pelo Tribunal a quo.
O recorrido não contra-alegou.
Corridos os vistos legais, cumpre apreciar e decidir:
II- Fundamentação:
2-1- Uma vez que o âmbito objectivo dos recursos é balizado pelas
conclusões apresentadas pelo recorrente, apreciaremos apenas as
questões que ali foram enunciadas (arts. 690º nº 1 e 684º nº 3 do
C.P.Civil).
Nesta conformidade, serão as seguintes as questões a apreciar e decidir:
- Violação do disposto no art. 394º nº 1 do C.Civil.
- Liquidação ulterior dos prejuízos sofridos pelo R. reconvinte.
2-2- Vem fixada das instâncias a seguinte matéria de facto:
A) O Réu é empreiteiro de obras e dedica-se à actividade de construção
civil (al. A) dos factos assentes).
B) Tendo em vista a construção de uma moradia num prédio do Autor,
que para tanto solicitou e obteve licença camarária, ao sítio da Vera
Cruz, freguesia da Quinta Grande, concelho de Câmara de Lobos, que
se encontra inscrito na matriz sob os artigos rústicos 98º e 99º, da
secção “JJ”, e descrito na Conservatória do Registo Predial de Câmara
de Lobos sob os nºs 01522 e 01429 da referida freguesia, Autor e Réu
celebraram, em 20/02/2005, um contrato escrito, que denominaram de
“contrato de empreitada” (doc. 1) (al. B) dos factos assentes).
C) No qual consta o Autor como primeiro outorgante e o Réu como
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segundo outorgante, os quais, nessas qualidades, reciprocamente se


obrigaram, nos termos das seguintes cláusulas:
PRIMEIRA – O primeiro outorgante é proprietário dum prédio
localizado no Sítio da Vera Cruz, freguesia da Quinta Grande, concelho
de Câmara de Lobos, no qual se pretende construir uma moradia, em
conformidade com o projecto aprovado pela Câmara Municipal de
Câmara de Lobos;
SEGUNDA – Pelo presente contrato e mediante o preço de €
190.000,00, o segundo outorgante obriga-se a executar os trabalhos
acordados na proposta já apresentada e também em conformidade com
o respectivo projecto aprovado;
TERCEIRA – Os pagamentos serão efectuados do seguinte modo:
a) no acto de aceitação da empreitada o primeiro outorgante entrega ao
segundo outorgante a quantia de € 25 000,00 (vinte e cinco mil euros),
cuja verba se destina à compra de equipamentos e materiais;
b) a quantia de € 35 000,00 (trinta e cinco mil euros), será liquidada
pelo primeiro outorgante ao segundo, logo após a colocação da primeira
laje (tecto da garagem);
c) a quantia de € 35 000,00 (trinta e cinco mil euros), será liquidada
pelo primeiro outorgante ao segundo, logo após a colocação da segunda
laje (tecto do rés-do-chão);
d) a quantia de € 35 000,00 (trinta e cinco mil euros), será liquidada
pelo primeiro ao segundo outorgante, após a colocação da cobertura e
revestimentos interiores e exteriores da moradia;
e) a quantia de € 35 000,00 (trinta e cinco mil euros), será liquidada
após a obra se encontrar pronta a receber as pinturas;
f) a parte restante, cuja quantia é de € 25 000,00 (vinte e cinco mil
euros), será paga na conclusão de todos os trabalhos executados em
conformidade com o projecto aprovado.
QUARTA – O prazo acordado para a conclusão da obra é de seis meses;
QUINTA – Os arredores serão executados de acordo com o projecto,
sendo fornecido pelo proprietário 4 carros de blocos de 20 (cerca de
mil) (al. C) dos factos assentes).
D) O assim designado “contrato de empreitada” encontra-se
devidamente assinado por ambos os outorgantes, Autor e Réu, que ali
mais declararam aceitá-lo nos precisos termos em que o mesmo se acha
exarado (al. D) dos factos assentes).
E) Nesta sequência, nos termos do acordado, por meio de cheque, com
data de 29/04/2005, o Autor entregou ao Réu a quantia de € 25.000,00
(doc. 2), tendo o Réu, em Maio de 2005, dado início aos trabalhos de
construção da referida moradia (al. E) dos factos assentes).
F) Com data de 03/06/2005, o Autor entregou ao Réu cheque no valor
de € 35 000, 00 (doc. 3) (al. F) dos factos assentes).
G) Com data de 15/06/2005, o Autor entregou ao Réu cheque no valor
de € 10 000, 00 (doc. 4) (al. G) dos factos assentes).
H) E com data de 19/07/2005, o Autor entregou ao Réu cheque no valor
de € 25 000, 00 (doc. 5) (al. H) dos factos assentes).
I) Em finais de Novembro de 2005, o Réu retirou todos os seus
trabalhadores da obra (resposta ao artigo 1º da base instrutória).

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J) O Réu retirou todos os seus materiais e equipamentos, à excepção


dos referidos em HH) (anterior artigo 41º da base instrutória) (resposta
ao artigo 2º da base instrutória).
L) A partir daí, a obra foi exclusivamente guardada pelo Autor, sendo
unicamente acedida por este ou com a sua autorização (resposta ao
artigo 4º da base instrutória).
M) O Réu deixou a obra numa fase em que se encontrava colocada a
cobertura e executado todo o reboco dos exteriores da moradia
(resposta ao artigo 5º da base instrutória).
N) Dos trabalhos previstos até à alínea d) da cláusula terceira do
contrato, o Réu não executou o reboco e revestimentos interiores da
moradia (resposta ao artigo 6º da base instrutória).
O) O Réu, para além de não ter executado os trabalhos referidos em N)
(anterior artigo 6º da base instrutória), não executou também os
trabalhos referidos na al. e), do contrato, tendo os mesmos sido
terminados por terceiros contratados pelo Autor para o efeito (resposta
ao artigo 8º da base instrutória).
P) A obra, em 31/01/2006, ao nível da cave, após ampliação de área,
assim como diversas alterações estruturais, sugeridas pelo Autor,
apresentava-se da seguinte forma:
a) o muro de betão armado (MCI) foi substituído por muro betão
ciclópico;
b) a laje do tecto da cave foi ampliada, havendo vigas periféricas que
estavam simplesmente apoiadas sobre as alvenarias, sem nenhum pilar
de sustentação;
c) pilares com as armaduras visíveis e que não foram betonados
(resposta ao artigo 10º da base instrutória).
Q) O prazo de seis meses, contratualmente acordado para a conclusão
das obras da moradia, foi ultrapassado (resposta ao artigo 14º da base
instrutória).
R) O Réu não terminou os trabalhos contratados, nem no prazo
estabelecido, nem depois de esgotado este (resposta ao artigo 15º da
base instrutória).
S) Aquando do referido em I) e J) (anteriores artigos 1º e 2º da base
instrutória) encontrava-se por executar os rebocos e revestimentos
interiores e os trabalhos referidos na al. e), da cláusula terceira do
contrato referido em C) (resposta ao artigo 16º da base instrutória).
T) Apesar dos pagamentos referidos em E) a H), até à data, o Réu não
entregou ao Autor qualquer factura ou recibo (resposta ao artigo 17º da
base instrutória).
U) O atraso na conclusão da obra obstou à utilização e fruição plenas da
moradia pelo Autor (resposta ao artigo 18º da base instrutória).
V) O Autor recorreu à contratação de terceiros para terminar a obra
(resposta ao artigo 19º da base instrutória).
X) Desde o pagamento referido em H), o Réu executou os trabalhos de
cobertura do prédio e rebocos exteriores e nada mais recebeu do Autor
(resposta ao artigo 23º da base instrutória).
Z) Os pagamentos feitos de 25 000, 00 euros, 35 000, 00 euros,
10.000,00 euros e 25 000, 00 euros, perfazendo a verba de 95.000,00

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euros, correspondem exactamente ao previsto nas alíneas a), b) e c) da


cláusula 3ª, do Contrato de Empreitada inter-partes celebrado (resposta
ao artigo 24º da base instrutória).
AA) (...) sendo que, até o último pagamento de 25 000, 00 euros, o Réu
já tinha concluído os trabalhos previstos contratualmente nas alíneas a),
b) e c) da cláusula 3ª do Contrato de Empreitada (resposta ao artigo 25º
da base instrutória).
BB) Desde meados de Julho de 2005, altura do último pagamento,
previsto na cláusula 3ª, alínea c), do Contrato de Empreitada “sub-
judice”, até ao fim do mês de Novembro de 2005, o Réu esteve sempre
a trabalhar para o Autor na obra aqui em questão (resposta ao artigo 26º
da base instrutória).
CC) A pedido do Autor, o Réu executou na moradia trabalhos a mais,
que consistiram na ampliação do espaço da garagem e cave, para uma
dimensão e superfície superior ao constante no projecto e ao
inicialmente contratado, com correspondentes aumentos de paredes,
tectos, vigas, vigotas, ferro e betão armado; fornecimento e colocação
de blocos a mãos nas paredes dos arredores da moradia; a mudança da
qualidade da telha para telha de “cor branca” (resposta ao artigo 29º da
base instrutória).
DD) O momento em que o Réu deixou de trabalhar na construção da
moradia do Autor foi (sucedeu) no fim de Novembro de 2005 (alteração
efectuada na Relação).
EE) O Autor ainda não tinha pago os trabalhos e os materiais referidos
em CC) (anterior artigo 29º da base instrutória) (resposta ao artigo 32º
da base instrutória).
FF) O Réu pediu ao Engº CC para mediar o conflito entre ele e o Autor
(resposta ao artigo 28º da base instrutória).
GG) Autor ainda não pagou as obras e materiais referidos em CC)
(anterior artigo 29º da base instrutória) (resposta ao artigo 39º da base
instrutória).
HH) Aquando da suspensão da obra pelo Réu, este deixou na obra, na
posse do Autor o seguinte:
- 2 betoneiras;
- 1 grua/gancho;
- docas de madeira para cofragem;
- chapas de cofragem 2.5*1.25 e de 0.50*2.00;
- puntões;
- diversas ferramentas dos trabalhadores ;
tudo no valor aproximado de 12.500, 00 euros (resposta ao artigo 41º da
base instrutória – Alteração introduzida na Relação -).
II) O Réu deixou na obra os equipamentos, que, apesar de devidamente
notificado pelo Autor para os levantar, nos termos da carta enviada a
01/03/2006, até à data ainda não o fez (resposta ao artigo 23º da base
instrutória).
JJ) Por carta registada com aviso de recepção, datada de 27/02/2006 e
enviada a 01/03/06, representado pelo respectivo mandatário judicial,
comunicou ao Réu a resolução do “contrato de empreitada”, nos
seguintes termos, que a aqui para todos os efeitos se transcreve (doc. 7):

www.gde.mj.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/b8f49f134583bc06802577e30042e55f?OpenDocument 9/18
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“(…) Resolução do Contrato de Empreitada celebrado com o m/cliente,


AA, em 20/02/2005, referente à construção da moradia sita no Sítio da
Vera Cruz, Quinta Grande, Câmara de Lobos.
1. Os trabalhos acordados e objecto do contrato de empreitada supra
identificado, apesar das diversas solicitações e insistências da parte do
m/cliente, e apesar de há muito ultrapassado o prazo contratualmente
estabelecido, não estão, até hoje, completamente realizados,
verificando-se pelo contrário ter V. Exª. abandonado a obra;
2. Concretamente, a moradia em causa está em bruto, mostrando-se, no
entanto, ainda por executar alguns elementos estruturais,
designadamente pilares, bem como o reboco interior da moradia;
3. Mais precisamente ainda, e de acordo com relatório elaborado por
técnico devidamente habilitado para o efeito, verifica-se que a
percentagem de execução efectuada por V. Exª. foi apenas de 45,74%
da totalidade da empreitada;
4. Percentagem esta que, em função do valor contratado para esta
última, €190.000,00, corresponde ao valor total de trabalhos
efectivamente executados de € 86 896, 50;
5. Pese embora o facto de, em conformidade com o plano de
pagamentos estipulado na cláusula terceira do contrato, o m/ cliente já
ter pago, ao todo, por meio de cheques diversos, € 95 000, 00, quantia
esta referente às prestações ali previstas sob as alíneas a) a c), e da qual
não foi, até hoje, entregue ao m/ cliente um único recibo.
Em função da presente resolução, efectuada sem prejuízo do
ressarcimento pelos danos em consequência do v/ incumprimento, da
restituição do excesso pago e dos recibos devidos, deverá V. Exª.
proceder ao levantamento dos equipamentos deixados na obra, no prazo
máximo de 10 dias úteis, contados a partir da data da recepção da
presente carta.
Para esse efeito, deverá V. Exª. contactar previamente o m/ cliente a fim
de este lhe permitir o acesso à obra. (…)” (al. I) dos factos assentes).
LL) O Autor enviou ao Réu a carta referida em JJ) (anterior al. I) dos
factos assentes) (resposta ao artigo 13º da base instrutória).
MM) O Réu contactou o Autor, também por intermédio do respectivo
mandatário forense, por carta datada de 22/02/06, enviada a 23/02/06, e
recebida a 27/02/06, nos seguintes termos (doc. 8):
“(…) Em nome e no interesse do meu cliente, BB, a quem o senhor
deve cerca de € 125 000, 00 (cento e vinte e cinco mil euros) de obras
feitas, convido-o a reunir-se no meu escritório no próximo dia 2 de
Março de 2006, pelas 18horas.
Entretanto, advirto-o que a obra da sua moradia, sita à Vera Cruz,
Quinta Grande, Câmara de Lobos, fica retida pelo empreiteiro até
posterior discussão judicial. (…)” (al. J) dos factos assentes).-------------
-----------------------------------

2-3- O recorrente começa por sustentar, na presente revista, que num


contrato de empreitada não sujeito por lei a forma escrita, mas tendo
esta sido adoptada, as estipulações posteriores estão também sujeitas a
esta forma, posto que, tendo as partes estipulado uma forma especial
para a declaração, se presume, nesse caso, que se não querem vincular
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senão pela forma especial convencionada (cfr. art. 223° nº 1 do CC).


Por outro lado, a existência de um alegado novo contrato oral autónomo
em relação ao contrato de empreitada, conforme entende o Tribunal a
quo, não foi invocada pelo R. na reconvenção, sendo certo que a ele
cabia alegar e provar os factos que integram a causa de pedir e o
tribunal só pode servir-se dos factos articulados pelas partes. Acresce
que, para além de tal alegado novo contrato carecer de forma escrita, e
de este não ter sido invocado pelo R. na reconvenção, sendo esse o
momento próprio para o fazer, a admitir-se a existência de tal novo
contrato, no que não se concede, tal implicaria uma alteração da causa
de pedir, a qual também não foi invocada pelo R., sendo, por isso,
encerrada que está a audiência de discussão e julgamento, e na ausência
de acordo do A., tal alteração da causa de pedir legalmente inadmissível
(art. 273° do CPC). Ao contrário do decidido pelo Tribunal a quo, estão
aqui precisamente em causa convenções adicionais ao contrato de
empreitada escrito outorgado pelas partes, ou convenções acessórias
posteriores, traduzidas nos referidos trabalhos a mais, para cuja prova
não é admitida prova testemunhal. Neste entendimento e conforme
alegado pelo recorrente em sede de apelação, no que toca à realização
pelo R. de trabalhos a mais a pedido do A., traduzindo um alegado
acordo tácito entre ambos a esse respeito, porque consubstanciam
alteração aos termos do acordo escrito, reconhecido e aceite pelas
partes, tais trabalhos não podiam ser objecto de prova testemunhal,
como o foram, sob pena de violação do disposto no art. 394° nº 1 do
CC, devendo, como tal, tais factos ser dados como não escritos, nos
termos do disposto no artigo 646° n°4 do CPC.
Esta questão havia sido colocada pelo recorrente na Relação a propósito
dos factos dados como assentes em P) e CC) da base instrutória. Nestes
factos exarou-se que “a obra, em 31/01/2006, ao nível da cave, após
ampliação de área, assim como diversas alterações estruturais,
sugeridas pelo A., apresentava-se da seguinte forma: a) o muro de
betão armado (MCI) foi substituído por muro betão ciclópico; b) a laje
do tecto da cave foi ampliada, havendo vigas periféricas que estavam
simplesmente apoiadas sobre as alvenarias, sem nenhum pilar de
sustentação; c) pilares com as armaduras visíveis e que não foram
betonados” (P) e “a pedido do A., o R. executou na moradia trabalhos a
mais, que consistiram na ampliação do espaço da garagem e cave,
para uma dimensão e superfície superior ao constante no projecto e ao
inicialmente contratado, com correspondentes aumentos de paredes,
tectos, vigas, vigotas, ferro e betão armado; fornecimento e colocação
de blocos a mãos nas paredes dos arredores da moradia; a mudança da
qualidade da telha para telha de “cor branca” (CC).
Pelas razões que indicou, o recorrente entende que esses factos não
poderiam ser dados como assentes.
Sobre a questão, no douto acórdão recorrido, considerou-se não estar
em causa o disposto no art. 394º nº 1 do C.Civil, pois não se trata de
convenções contrárias ou adicionais ao contrato de empreitada escrito
outorgado pelas partes (contrato que em sede geral não tem
obrigatoriamente de ser reduzido a escrito), mas antes um novo contrato

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relativo a trabalhos a mais, extra o contrato de empreitada outorgado,


pelo que existe uma clara autonomia dos contratos em causa. De um
lado um contrato de empreitada reduzido a escrito. E, do outro um
contrato de empreitada sob a forma oral e que teve por objecto
trabalhos a mais a realizar na zona da cave da moradia do apelante. Por
isso, concluiu-se que falece o argumento do recorrente de que não podia
o Mº Juiz socorrer-se da prova testemunhal para dar como provada a
realização de trabalhos a mais que aliás o apelante admite ter solicitado
ao R. (vide, por exemplo, art. 12º da Réplica).
Pese embora este Supremo Tribunal não conheça, em regra, de matéria
factual, terá competência para conhecer da questão suscitada pelo
recorrente, visto que o art. 722º nº 2 do C.P.Civil expressamente admite
o conhecimento pelo Supremo nos casos de “ofensa de uma disposição
expressa da lei que exija certa espécie de prova para existência do
facto”, situação invocada aqui e agora. Ou seja, o STJ poderá conhecer
do juízo da prova sobre a matéria de facto formado pela Relação,
quando esta deu como provado um facto sem a produção da prova
considerada indispensável, por força da lei, para demonstrar a sua
existência. No fundo do que se tratará é de saber se a Relação, ao
proceder da forma como o fez, se conformou, ou não, com as normas
que regulam tal matéria (direito probatório), o que, no fundo, constitui,
matéria de direito.
Dos ditos factos dados como provados resulta que foram realizados
pelo R. na obra (objecto da empreitada em causa) trabalhos a mais, a
pedido do A..
A questão que se coloca é a de saber se esses trabalhos poderiam ter
sido dados como provados, sabendo-se que não constam do contrato
escrito que documentou o contrato de empreitada. Ao tema deu o
acórdão recorrido resposta afirmativa, com o fundamento de que não se
trata aqui de convenções contrárias ou adicionais ao contrato de
empreitada escrito, tratando-se antes de um novo contrato relativo a
trabalhos a mais, extra o contrato outorgado. Por sua vez, o recorrente
entende que se trata de estipulações posteriores, pelo que tendo sido o
contrato em causa sujeito a forma escrita, essas cláusulas estão também
sujeitas a esta forma, não sendo, em relação a elas, admitida prova
testemunhal, sob pena de violação do disposto no art. 394° nº 1 do
C.Civil.
Vejamos:
Nos termos do art. 221º nº 1 do C.Civil (diploma de que serão as
disposições a referir sem menção de origem) “as estipulações verbais
acessórias anteriores ao documento legalmente exigido para a
declaração negocial, ou contemporâneas dele, são nulas, salvo se a
razão determinante da forma lhes não seja aplicável e se prove que
correspondem à vontade do autor da declaração”. Acrescenta o nº 2 da
disposição que “as estipulações posteriores ao documento só estão
sujeitas à forma legal prescrita para a declaração se as razões da
exigência especial da lei lhes forem aplicáveis”.
Este dispositivo respeita à forma das declarações negociais. Assim,
prevê quanto às cláusulas verbais acessórias ou adicionais, três

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hipóteses. As estipuladas antes, as contemporâneas e as posteriores à


feitura do documento, considerando as anteriores e contemporâneas
222n1vdiz que nulas, excepto se a razão determinante da forma lhes não seja aplicável
são válidas
e se prove que correspondem à vontade do autor da declaração”. O
fundamento desta determinação, assenta no entendimento de que essas
cláusulas, se tivessem sido queridas pelos declarantes, não deixariam de
ser introduzidas no documento. Não sendo aí colocadas, presume-se
que não foram queridas por eles. Já as estipulações verbais posteriores
serão válidas, precisamente porque delineadas depois da feitura do
documento. Só assim não será, se a razão da exigência da forma as
???
abranger.
Estes entendimentos dizem respeito à validade das cláusulas verbais
acessórias, não importando, contudo, a possibilidade de sobre elas
incidir prova testemunhal, questão diferente a que se referem os arts.
394º e 395º.
As estipulações verbais posteriores relativas a um contrato de
empreitada reduzido à forma escrita serão válidas, de acordo com
disposto no art. 222º nº 2, pois não se vê que a lei exija forma escrita
para o seu valimento. Isto independentemente de sobre elas se poder
realizar prova testemunhal contra ou além do documento que titula o
negócio, pois sobre a questão versa o art. 394º.
Estabelece este art. 394º nº 1 que “é inadmissível a prova por
testemunhas se tiver por objecto quaisquer convenções contrárias ou
adicionais ao conteúdo de documento autêntico ou dos documentos
particulares mencionados nos artigos 373º a 379º, quer as convenções
sejam anteriores à formação do documento ou contemporâneas dele,
quer sejam posteriores”.
Face a esta disposição e para o aqui importa, não será possível prova
testemunhal em relação a quaisquer convenções contrárias ou
adicionais ao conteúdo de documento autêntico ou a documento
particular mencionado nos arts. 373º a 379º. Como referem Pires de
Lima e Antunes Varela (in C.Civil Anotado Tomo I, pág. 343) “a
inadmissibilidade da prova testemunhal contra o conteúdo de
documentos autênticos, na parte em que estes têm força probatória
plena, resulta dos artigos 371º e 372º… Aplica-se pois, este artigo
apenas às convenções contrárias aos documentos na parte em que estes
não têm força probatória plena e às convenções adicionais, ou
acessórias, como lhes chama o artigo 221º”.
Portanto perante esta disposição, não será possível fazer prova
testemunhal, em relação a qualquer estipulação contrária ao conteúdo
dos documentos (e não só em relação à parte em que eles têm força
probatória plena – arts. 371º e 372º-).
A finalidade do dispositivo é, claramente, evitar que a eficácia do
contido num documento escrito possa ser posto em causa através de um
meio de prova mais aleatório e inseguro, como é a prova testemunhal.
Uma convenção contrária ao conteúdo do documento será aquela que
contraria, por oposição, o contido nesse escrito. Uma convenção
adicional será uma estipulação complementar ao conteúdo do
documento.

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Mas será que perante os evidenciados factos dados como provados,


estaremos perante estipulações verbais posteriores, ou antes, como se
sustentou no douto acórdão recorrido, perante um novo contrato
abrangendo as inovações realizadas?
Ficou assente designadamente que “a pedido do A., o R. executou na
moradia trabalhos a mais, que consistiram na ampliação do espaço da
garagem e cave, para uma dimensão e superfície superior ao constante
no projecto e ao inicialmente contratado, com correspondentes
aumentos de paredes, tectos, vigas, vigotas, ferro e betão armado;
fornecimento e colocação de blocos a mãos nas paredes dos arredores
da moradia; a mudança da qualidade da telha para telha de “cor
branca”.
A nosso ver, tendo sido dado como demonstrado que «a pedido do A., o
R. executou na moradia trabalhos a mais», somos em crer que, por
encontro de vontades dos intervenientes, foi celebrado um novo
contrato em relação a esses trabalhos extra. Não se trata aqui de
estipulação visando, por exemplo, esclarecer ou a alterar o conteúdo do
ajustado. Existe antes o acordo das partes para serem realizadas novas
obras pelo R.. Neste contexto, não poderemos deixar de considerar
essas inovações como fazendo parte de um novo acordo. O próprio R.,
na sua contestação, disse que foi “o comportamento (do A.) de recusa
no pagamento de “trabalhos a mais”, fora do contrato reduzido a
escrito” que o colocou na situação de não puder continuar a suportar os
custos da obra (art. 19º), ou seja, distinguiu esses trabalhos dos
englobados no contrato inicial reduzido a escrito. Assim, a situação
presente, como se decidiu no douto acórdão recorrido, não constituindo
propriamente uma convenção sobre o conteúdo do documento ou para
além dele, não lhe deverá ser aplicado o regime do disposto no referido
art. 394º nº 1. Por isso, não vemos razão para fazer qualquer censura ao
douto aresto recorrido.
O recorrente, em desacordo com a posição assumida pelo douto
acórdão recorrido, entende que a existência de um novo contrato oral
autónomo em relação ao contrato de empreitada, não foi invocada pelo
R. na reconvenção, sendo certo que a ele cabia alegar e provar os factos
que integram a causa de pedir e que o tribunal só pode servir-se dos
factos articulados pelas partes.
A falta de razão do recorrente aqui parece-nos evidente visto que,
contra o que sustenta, o R. invocou precisamente o ajuste de novos
trabalhos na obra do A. (trabalhos não previstos no processo aprovado
camarariamente (vide arts. 12º e 13º da contestação) para fundamentar
o seu pedido reconvencional (vide arts. 21º, 34º, 56º e 66º do mesmo
articulado).
Claro que o R. não teria que invocar juridicamente a existência de um
novo contrato relativamente aos diferentes trabalhos convencionados.
Teria sim que aduzir factos donde esse novo ajuste contratual se
pudesse depreender, o que, como se viu, fez, sendo certo que a
integração jurídica da matéria factual provada pertence ao juiz, como
decorre do disposto no art. 664º nº 1 do C.P.Civil.
Defende ainda o recorrente que a admitir-se a existência de um novo

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contrato, tal implicaria uma alteração da causa de pedir que não foi
invocada pelo R., sendo, por isso, encerrada que está a audiência de
discussão e julgamento, e na ausência de acordo do A., tal alteração da
causa de pedir legalmente inadmissível, nos termos do art. 273° do
C.P.Civil.
Contra o que sustenta o recorrente, não vemos aqui qualquer alteração
da causa de pedir. Com efeito, um dos fundamentos do pedido
reconvencional deduzido pelo R. (vide o pedido subsidiário aduzido sob
o nº 4) foram precisamente os “trabalhos a mais” (vide designadamente
o art. 68º da contestação). Daí que a decisão proferida, no que toca à
condenação do A. no pagamento dos trabalhos extra convencionados e
realizados, não se tenha arredado da causa de pedir e pedido
formulados.
2-4- Defende depois o recorrente que o Tribunal a quo entendeu que
não foi possível quantificar tais trabalhos realizados pelo R., os quais
carecem de avaliação pecuniária, tendo remetido essa avaliação para
execução de sentença. Ora, a falta de quantificação do valor dos
alegados trabalhos efectuados, fixado que se mostrava o respectivo
objecto, era da exclusiva responsabilidade do R., a quem competia, para
a fixação da respectiva quantidade, a alegação e a prova de tal, podendo
então ter-se socorrido para o efeito de um relatório pericial, o que não
fez, pelo que não poderá fazê-lo agora. Acresce que aquando a
contestação, já eram perfeitamente conhecidas as designadas “unidades
componentes da universalidade” em questão, sendo por isso
perfeitamente possível quantificá-las com exactidão, bastando para tal
deduzir à quantia em causa o valor do reboco e revestimentos interiores
da moradia não executado pelo R.. E o mesmo se verificando
relativamente ao lucro que o R. terá alegadamente deixado de auferir
com a realização da obra no seu todo, sem prejuízo do lucro que o
mesmo já auferiu com os pagamentos entretanto efectuados pelo A..
Assim, tendo-se no momento da formulação do pedido e
consequentemente no momento da prolação da sentença pelo tribunal
de 1ª instância, já verificado todos os elementos de facto constitutivos
do direito, e logo já todos os elementos relativos não só ao objecto mas
também à quantidade em causa eram determináveis ou, por outras
palavras, os factos já eram todos conhecidos e não estavam em
evolução, não era legalmente possível remeter tal liquidação para sede
de execução de sentença como fez aquele Tribunal e se mostra
confirmado pelo Tribunal a quo. Em rigor, a necessidade de remissão
para sede de liquidação de sentença não resulta da falta de elementos
bastantes para fixar, no caso, a quantidade da indemnização, mas sim da
inexistência de factos alegados pelo R. para sustentar tal obrigação de
indemnizar, cuja alegação e prova a ele competia, facto este que obsta à
utilização de tal mecanismo de remissão para execução de sentença, nos
termos dos arts. 342º nº 1 do CC e 661° nº 2 do CPC.
Igualmente esta questão já havia sido colocada no recurso de apelação
para o Tribunal da Relação. Sobre o assunto o acórdão recorrido referiu
que o dispositivo a ter em conta será o do art. 661º nº 2 do C.P.Civil,
acrescentando-se que atendendo às circunstâncias que se aduziu “não se

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trata assim de dar uma nova oportunidade ao Réu para suprir lacunas
no seu pedido reconvencional, que não se mostrou lacunoso, mas antes
de avaliar pecuniariamente, dentro dos limites contratuais, o valor de
trabalhos efectuados pelo Réu e que este não recebeu (caso dos
trabalhos a mais na cave e da parcela da obra prevista na alínea d) do
contrato de empreitada), sendo que este logrou provar como lhe
competia a realização de tais trabalhos”.
Haverá desde logo que fazer uma precisão ao alegado pelo recorrente. É
que contra o que refere, o R. reconvinte alegou factos para sustentar a
obrigação de indemnizar neste âmbito (vide designadamente os arts.
14º, 17º, 19º, 34º, 35º, 45º, 56º, 62º e 68º da contestação).
Estabelece o art. 661º nº 2 do C.P.Civil que "se não houver elementos
para fixar o objecto ou a quantidade, o tribunal condenará no que se
vier a ser liquidado, sem prejuízo de condenação imediata na parte que
já seja líquida ".
Aplicação desta norma, para o que aqui interessa, depende da
verificação, em concreto, de uma indefinição de valores de prejuízos.
Mas como pressuposto primeiro de aplicação do dispositivo, deverá
ocorrer a prova de existência de danos. Este preceito tanto se aplica no
caso de se ter inicialmente formulado um pedido genérico e de não se
ter logrado converter em pedido específico, como ao caso de ser
formulado pedido específico sem que se tenha conseguido fazer prova
da especificação, ou seja, quando não se tenha logrado coligir dados
suficientes para se fixar, com precisão e segurança, o quantitativo na
condenação (neste sentido A. Reis, C.P.C. Anotado, Vols. I pág. 614 e
segs. e V pág. 71, Vaz Serra, RLJ, ano 114º, pág. 309, Rodrigues
Bastos, Notas ao C.P.C, vol. III, pág. 233). Portanto e para o que aqui
importa, no caso de o R. ter deduzido um pedido específico (isto é, um
pedido de conteúdo concreto), caso não logre fixar com precisão a
extensão dos prejuízos, poderá fazê-lo em liquidação ulterior. A este
propósito haverá a salientar, corroborando a posição que se assume, que
a norma não distingue os pedidos, aplicando regimes diversos
consoante se trate de pedidos genéricos ou pedidos específicos. Note-se
que a norma fala genericamente em casos em que não há elementos
para fixar a quantidade, pelo que reduzir o campo de aplicação da
norma aos pedidos genéricos (concretizados no art. 471º nº 1 do
C.P.Civil), é diminuir, sem razão, o campo de aplicação da disposição,
indo contra o antigo dito latino e princípio atinente à interpretação de
normas jurídicas, segundo o qual "ubi lex non distinguit, nec nos
destinguere debemus".
Quer isto dizer que, no caso vertente, apesar de se ter deduzido um
pedido específico em relação aos prejuízos que diz ter sofridos (vide
designadamente pedidos referenciados sob os nºs 2º e 4º) e de não ter
logrado fazer a prova concreta deles, provando-se a existência de
prejuízos no âmbito referido, a aplicação à situação da dita disposição,
é correcta (neste sentido entre outros Acs. do STJ. de 3-12-98, BMJ,
482º, 179 e de 27-1-93, Col. Jur., Acs. STJ, 1993, 1º, 89).
Também aqui a recorrente carece de razão.
É certo que, conforme diz o recorrente, em processo civil o tribunal está

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limitado pelos pedidos das partes, não podendo extravasá-los, uma vez
que não se pode pronunciar sobre mais do que o que lhe foi pedido,
dado que o objecto da sentença (ou do acórdão) tem que coincidir com
o objecto do processo, sob pena de violação dos princípios do pedido e
do dispositivo.
Segundo o recorrente esta situação ocorre no caso vertente porquanto se
verifica que o Tribunal de 1ª instância não estabeleceu qualquer limite à
respectiva decisão de condenação nos montantes a liquidar em sede de
execução de sentença. Assim, ao decidir como decidiu o Tribunal de 1ª
instância conheceu condenou em quantidade superior ou objecto
diverso do pedido, ultrapassando os limites da condenação, ao remeter
tal liquidação para execução de sentença.
Vejamos:
Como ponto prévio, haverá a sublinhar que, pelas razões que aduziu,
não se trata aqui de uma condenação em objecto diverso do pedido.
Fica-nos, assim, a observação sobre se a condenação proferida,
ultrapassou os limites do pedido, ao remeter a fixação de parte da
indemnização para ulterior liquidação.
Nos termos do art. 661º nº 1 do C.P.Civil “a sentença não pode
condenar em quantidade superior ou em objecto diverso do que se
pedir”.
Segundo esta norma, o juiz na sentença não pode extravasar do pedido
formulado pelas partes. “A decisão, seja condenatória, seja absolutória,
não pode pronunciar-se sobre mais do que foi pedido ou sobre coisa
diversa daquela que foi pedida” (1) Este preceito define e limita os
termos da condenação a proferir de forma a que se contenha, em
substância e em quantidade, dentro do pedido formulado, em
observância e respeito ao princípio dispositivo das partes (2) O objecto
da sentença deve, pois, coincidir “com o objecto do processo, não
podendo o juiz ficar aquém nem ir além do que lhe foi pedido” (3) .
À não coincidência entre a sentença e o pedido, pode genericamente
chamar-se extrapetição. Se a diferença não é de qualidade mas só de
quantidade pode falar-se de ultrapetição ou de infrapetição Neste
sentido, vide (4), consoante se ultrapasse ou se fique aquém do pedido.
O vício da extrapetição gera a nulidade da sentença, como decorre do
disposto no art. 668º nº 1 al. e) do C.P.Civil.
De sublinhar também que com vem sendo entendido pela generalidade
da jurisprudência (5), os limites de condenação contidos no art. 661º,
estendem-se ao pedido global formulado e não às parcelas que
compõem essa globalidade.
Nesta conformidade, apenas haverá que assinalar que a liquidação
determinada não poderá ultrapassar, o pedido global formulado pelo R.
reconvinte.
Fora esta pequena precisão, a revista é improcedente.
III- Decisão:
Por tudo o exposto, nega-se a revista, com excepção da precisão
indicada (a liquidação determinada não poderá ultrapassar o pedido
global formulado pelo R. reconvinte).
Custas pelo recorrente.
www.gde.mj.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/b8f49f134583bc06802577e30042e55f?OpenDocument 17/18
25/02/24, 13:38 Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

Supremo Tribunal de Justiça, 2 de Novembro de 2010


Garcia Calejo (Relator)
Helder Roque
Sebastião Póvoas
____________________
(1) In Código de Processo Civil Anotado, Lebre de Freitas, Montalvão Machado e Rui Pinto, 2ª
edição Vol. 2º, pág. 681
(2) Vide sobre o tema, Notas ao Código de Processo Civil, Rodrigues Bastos, 3ª edição, Vol. 3º,
pág. 183.
(3) In Código de Processo Civil Anotado indicado de Lebre de Freitas, Montalvão Machado e Rui
Pinto, pág. 682.
(4) Neste sentido, vide Noções Elementares de Processo Civil, Manuel Andrade, 1976, pág. 297.
(5) Entre muitos, vide o Ac. deste STJ de 15-6-1993, BMJ, 428º, 530.

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