Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
I- Relatório:
1-1- AA, residente no sítio ..., propôs a presente acção com processo
ordinário contra BB, residente no sítio ..., pedindo se declare resolvido
o contrato de empreitada identificado, celebrado entre o A. e o R. em
20/02/2005, por incumprimento definitivo da parte deste, se condene o
R. a pagar ao A. a quantia de € 8.094,00 (oito mil e noventa e quatro
Euros), correspondente à restituição da diferença existente entre o valor
pago e os trabalhos não executados, bem como os respectivos juros de
mora à taxa legal em vigor, actualmente de 4% ao ano, contados a partir
da citação e até efectivo pagamento e ainda a quantia de € 7000,00 (sete
mil Euros) correspondente ao ressarcimento dos danos patrimoniais
sofridos por este, bem como os respectivos juros de mora à taxa legal
em vigor, contados a partir da citação e até efectivo pagamento.
Fundamenta este pedido, em síntese, dizendo que celebrou o contrato
de empreitada que identifica com o R., sendo que este o incumpriu, não
executou algum dos trabalhos contratados e causou-lhe prejuízos.
O R. contestou negando o incumprimento do contrato e deduzindo
reconvenção em que pediu:
1º Declarar-se que o A. desistiu do contrato de empreitada nos termos
previsto no art. 1229º do C.C. e, simultaneamente, condenar-se o
mesmo a reconhecer que o seu comportamento contratual corresponde à
desistência injustificada do contrato de empreitada sub judice;
2º Em decorrência, deve condenar-se o A. e Reconvindo no pagamento
ao R. e reconvinte de uma indemnização global não inferior a
108.000,00 Euros correspondentes às perdas dos lucros cessantes e
www.gde.mj.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/b8f49f134583bc06802577e30042e55f?OpenDocument 2/18
25/02/24, 13:38 Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça
dados como não escritos, nos termos do disposto no artigo 646°, n°4, do
CPC.
6ª- Mais entendeu o Tribunal a quo, que, no caso vertente, embora
fixado o respectivo objecto, atenta a natureza dos trabalhos efectuados e
a necessidade, altamente provável, de um relatório pericial para o
efeito, não foi possível quantificar tais trabalhos realizados pelo Réu, os
quais carecem de avaliação pecuniária, sendo que o M° Juiz do Tribunal
de 1ª instância não o podia fazer e daí a faculdade de remeter para
execução de sentença.
7ª- Sucede que a falta de quantificação do valor dos alegados trabalhos
efectuados, fixado que se mostrava o respectivo objecto, como aliás
bem diz o Tribunal a quo, era da exclusiva responsabilidade do Réu, a
quem competia, para a fixação da respectiva quantidade, a alegação e a
prova de tal, podendo então ter-se socorrido para o efeito de um
relatório pericial, o que não fez, pelo que não poderá fazê-lo agora.
8ª- Com efeito, conforme alegado pelo Recorrente em sede de Recurso
de Apelação, da alínea M) dos factos dados como provados pelo
Tribunal de 1ª instância consta que o Réu deixou a obra numa fase em
que se encontrava colocada a cobertura e executado todo o reboco dos
exteriores da moradia, alínea esta que se relaciona com a alínea d) do
contrato em causa, a qual, por sua vez estipula que o Autor pagará ao
Réu a quantia de € 35.000.00, após a colocação da cobertura e
revestimentos interiores e exteriores da moradia, sendo que dessa
alínea, conjugada com a alínea N) dos factos dados como provados,
resulta que, no caso, o Réu não executou o reboco e revestimentos
interiores da moradia.
9ª- Assim, constando tais factos da acção, constata-se que, aquando da
Contestação, já eram perfeitamente conhecidas as designadas “unidades
componentes da universalidade” em questão, sendo por isso
perfeitamente possível quantificá-las com exactidão, bastando para tal
deduzir à quantia em causa o valor do reboco e revestimentos interiores
da moradia não executado pelo Réu.
10ª- E o mesmo se verificando relativamente ao lucro que o Réu terá
alegadamente deixado de auferir com a realização da obra no seu todo,
sem prejuízo do lucro que o mesmo já auferiu com os pagamentos
entretanto efectuados pelo Autor, referidos nas alíneas E) a H) dos
factos provados e correspondentes às alíneas a) a c) da cláusula 3ª do
contrato em causa, o qual já era perfeitamente fixável aquando da
contestação, porque não alteradas as consequências do alegado acto
ilícito motivador de tal indemnização.
11ª- Ora, tendo-se, no momento da formulação do pedido, e
consequentemente no momento da prolação da Sentença pelo Tribunal
de 1ª instância, já verificado todos os elementos de facto constitutivos
do direito, e logo já todos os elementos relativos não só ao objecto mas
também à quantidade em causa eram determináveis ou, por outras
palavras, os factos já eram todos conhecidos e não estavam em
evolução, não era legalmente possível remeter tal liquidação para sede
de execução de sentença como fez aquele Tribunal e se mostra
confirmado pelo Tribunal a quo.
www.gde.mj.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/b8f49f134583bc06802577e30042e55f?OpenDocument 5/18
25/02/24, 13:38 Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça
www.gde.mj.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/b8f49f134583bc06802577e30042e55f?OpenDocument 7/18
25/02/24, 13:38 Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça
www.gde.mj.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/b8f49f134583bc06802577e30042e55f?OpenDocument 8/18
25/02/24, 13:38 Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça
www.gde.mj.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/b8f49f134583bc06802577e30042e55f?OpenDocument 9/18
25/02/24, 13:38 Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça
www.gde.mj.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/b8f49f134583bc06802577e30042e55f?OpenDocument 11/18
25/02/24, 13:38 Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça
www.gde.mj.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/b8f49f134583bc06802577e30042e55f?OpenDocument 12/18
25/02/24, 13:38 Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça
www.gde.mj.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/b8f49f134583bc06802577e30042e55f?OpenDocument 13/18
25/02/24, 13:38 Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça
www.gde.mj.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/b8f49f134583bc06802577e30042e55f?OpenDocument 14/18
25/02/24, 13:38 Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça
contrato, tal implicaria uma alteração da causa de pedir que não foi
invocada pelo R., sendo, por isso, encerrada que está a audiência de
discussão e julgamento, e na ausência de acordo do A., tal alteração da
causa de pedir legalmente inadmissível, nos termos do art. 273° do
C.P.Civil.
Contra o que sustenta o recorrente, não vemos aqui qualquer alteração
da causa de pedir. Com efeito, um dos fundamentos do pedido
reconvencional deduzido pelo R. (vide o pedido subsidiário aduzido sob
o nº 4) foram precisamente os “trabalhos a mais” (vide designadamente
o art. 68º da contestação). Daí que a decisão proferida, no que toca à
condenação do A. no pagamento dos trabalhos extra convencionados e
realizados, não se tenha arredado da causa de pedir e pedido
formulados.
2-4- Defende depois o recorrente que o Tribunal a quo entendeu que
não foi possível quantificar tais trabalhos realizados pelo R., os quais
carecem de avaliação pecuniária, tendo remetido essa avaliação para
execução de sentença. Ora, a falta de quantificação do valor dos
alegados trabalhos efectuados, fixado que se mostrava o respectivo
objecto, era da exclusiva responsabilidade do R., a quem competia, para
a fixação da respectiva quantidade, a alegação e a prova de tal, podendo
então ter-se socorrido para o efeito de um relatório pericial, o que não
fez, pelo que não poderá fazê-lo agora. Acresce que aquando a
contestação, já eram perfeitamente conhecidas as designadas “unidades
componentes da universalidade” em questão, sendo por isso
perfeitamente possível quantificá-las com exactidão, bastando para tal
deduzir à quantia em causa o valor do reboco e revestimentos interiores
da moradia não executado pelo R.. E o mesmo se verificando
relativamente ao lucro que o R. terá alegadamente deixado de auferir
com a realização da obra no seu todo, sem prejuízo do lucro que o
mesmo já auferiu com os pagamentos entretanto efectuados pelo A..
Assim, tendo-se no momento da formulação do pedido e
consequentemente no momento da prolação da sentença pelo tribunal
de 1ª instância, já verificado todos os elementos de facto constitutivos
do direito, e logo já todos os elementos relativos não só ao objecto mas
também à quantidade em causa eram determináveis ou, por outras
palavras, os factos já eram todos conhecidos e não estavam em
evolução, não era legalmente possível remeter tal liquidação para sede
de execução de sentença como fez aquele Tribunal e se mostra
confirmado pelo Tribunal a quo. Em rigor, a necessidade de remissão
para sede de liquidação de sentença não resulta da falta de elementos
bastantes para fixar, no caso, a quantidade da indemnização, mas sim da
inexistência de factos alegados pelo R. para sustentar tal obrigação de
indemnizar, cuja alegação e prova a ele competia, facto este que obsta à
utilização de tal mecanismo de remissão para execução de sentença, nos
termos dos arts. 342º nº 1 do CC e 661° nº 2 do CPC.
Igualmente esta questão já havia sido colocada no recurso de apelação
para o Tribunal da Relação. Sobre o assunto o acórdão recorrido referiu
que o dispositivo a ter em conta será o do art. 661º nº 2 do C.P.Civil,
acrescentando-se que atendendo às circunstâncias que se aduziu “não se
www.gde.mj.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/b8f49f134583bc06802577e30042e55f?OpenDocument 15/18
25/02/24, 13:38 Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça
trata assim de dar uma nova oportunidade ao Réu para suprir lacunas
no seu pedido reconvencional, que não se mostrou lacunoso, mas antes
de avaliar pecuniariamente, dentro dos limites contratuais, o valor de
trabalhos efectuados pelo Réu e que este não recebeu (caso dos
trabalhos a mais na cave e da parcela da obra prevista na alínea d) do
contrato de empreitada), sendo que este logrou provar como lhe
competia a realização de tais trabalhos”.
Haverá desde logo que fazer uma precisão ao alegado pelo recorrente. É
que contra o que refere, o R. reconvinte alegou factos para sustentar a
obrigação de indemnizar neste âmbito (vide designadamente os arts.
14º, 17º, 19º, 34º, 35º, 45º, 56º, 62º e 68º da contestação).
Estabelece o art. 661º nº 2 do C.P.Civil que "se não houver elementos
para fixar o objecto ou a quantidade, o tribunal condenará no que se
vier a ser liquidado, sem prejuízo de condenação imediata na parte que
já seja líquida ".
Aplicação desta norma, para o que aqui interessa, depende da
verificação, em concreto, de uma indefinição de valores de prejuízos.
Mas como pressuposto primeiro de aplicação do dispositivo, deverá
ocorrer a prova de existência de danos. Este preceito tanto se aplica no
caso de se ter inicialmente formulado um pedido genérico e de não se
ter logrado converter em pedido específico, como ao caso de ser
formulado pedido específico sem que se tenha conseguido fazer prova
da especificação, ou seja, quando não se tenha logrado coligir dados
suficientes para se fixar, com precisão e segurança, o quantitativo na
condenação (neste sentido A. Reis, C.P.C. Anotado, Vols. I pág. 614 e
segs. e V pág. 71, Vaz Serra, RLJ, ano 114º, pág. 309, Rodrigues
Bastos, Notas ao C.P.C, vol. III, pág. 233). Portanto e para o que aqui
importa, no caso de o R. ter deduzido um pedido específico (isto é, um
pedido de conteúdo concreto), caso não logre fixar com precisão a
extensão dos prejuízos, poderá fazê-lo em liquidação ulterior. A este
propósito haverá a salientar, corroborando a posição que se assume, que
a norma não distingue os pedidos, aplicando regimes diversos
consoante se trate de pedidos genéricos ou pedidos específicos. Note-se
que a norma fala genericamente em casos em que não há elementos
para fixar a quantidade, pelo que reduzir o campo de aplicação da
norma aos pedidos genéricos (concretizados no art. 471º nº 1 do
C.P.Civil), é diminuir, sem razão, o campo de aplicação da disposição,
indo contra o antigo dito latino e princípio atinente à interpretação de
normas jurídicas, segundo o qual "ubi lex non distinguit, nec nos
destinguere debemus".
Quer isto dizer que, no caso vertente, apesar de se ter deduzido um
pedido específico em relação aos prejuízos que diz ter sofridos (vide
designadamente pedidos referenciados sob os nºs 2º e 4º) e de não ter
logrado fazer a prova concreta deles, provando-se a existência de
prejuízos no âmbito referido, a aplicação à situação da dita disposição,
é correcta (neste sentido entre outros Acs. do STJ. de 3-12-98, BMJ,
482º, 179 e de 27-1-93, Col. Jur., Acs. STJ, 1993, 1º, 89).
Também aqui a recorrente carece de razão.
É certo que, conforme diz o recorrente, em processo civil o tribunal está
www.gde.mj.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/b8f49f134583bc06802577e30042e55f?OpenDocument 16/18
25/02/24, 13:38 Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça
limitado pelos pedidos das partes, não podendo extravasá-los, uma vez
que não se pode pronunciar sobre mais do que o que lhe foi pedido,
dado que o objecto da sentença (ou do acórdão) tem que coincidir com
o objecto do processo, sob pena de violação dos princípios do pedido e
do dispositivo.
Segundo o recorrente esta situação ocorre no caso vertente porquanto se
verifica que o Tribunal de 1ª instância não estabeleceu qualquer limite à
respectiva decisão de condenação nos montantes a liquidar em sede de
execução de sentença. Assim, ao decidir como decidiu o Tribunal de 1ª
instância conheceu condenou em quantidade superior ou objecto
diverso do pedido, ultrapassando os limites da condenação, ao remeter
tal liquidação para execução de sentença.
Vejamos:
Como ponto prévio, haverá a sublinhar que, pelas razões que aduziu,
não se trata aqui de uma condenação em objecto diverso do pedido.
Fica-nos, assim, a observação sobre se a condenação proferida,
ultrapassou os limites do pedido, ao remeter a fixação de parte da
indemnização para ulterior liquidação.
Nos termos do art. 661º nº 1 do C.P.Civil “a sentença não pode
condenar em quantidade superior ou em objecto diverso do que se
pedir”.
Segundo esta norma, o juiz na sentença não pode extravasar do pedido
formulado pelas partes. “A decisão, seja condenatória, seja absolutória,
não pode pronunciar-se sobre mais do que foi pedido ou sobre coisa
diversa daquela que foi pedida” (1) Este preceito define e limita os
termos da condenação a proferir de forma a que se contenha, em
substância e em quantidade, dentro do pedido formulado, em
observância e respeito ao princípio dispositivo das partes (2) O objecto
da sentença deve, pois, coincidir “com o objecto do processo, não
podendo o juiz ficar aquém nem ir além do que lhe foi pedido” (3) .
À não coincidência entre a sentença e o pedido, pode genericamente
chamar-se extrapetição. Se a diferença não é de qualidade mas só de
quantidade pode falar-se de ultrapetição ou de infrapetição Neste
sentido, vide (4), consoante se ultrapasse ou se fique aquém do pedido.
O vício da extrapetição gera a nulidade da sentença, como decorre do
disposto no art. 668º nº 1 al. e) do C.P.Civil.
De sublinhar também que com vem sendo entendido pela generalidade
da jurisprudência (5), os limites de condenação contidos no art. 661º,
estendem-se ao pedido global formulado e não às parcelas que
compõem essa globalidade.
Nesta conformidade, apenas haverá que assinalar que a liquidação
determinada não poderá ultrapassar, o pedido global formulado pelo R.
reconvinte.
Fora esta pequena precisão, a revista é improcedente.
III- Decisão:
Por tudo o exposto, nega-se a revista, com excepção da precisão
indicada (a liquidação determinada não poderá ultrapassar o pedido
global formulado pelo R. reconvinte).
Custas pelo recorrente.
www.gde.mj.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/b8f49f134583bc06802577e30042e55f?OpenDocument 17/18
25/02/24, 13:38 Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça
www.gde.mj.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/b8f49f134583bc06802577e30042e55f?OpenDocument 18/18