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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO

CAMPUS REITORIA

LAURO TOZETTO NETO

ProfGPT: potenciais usos e limitações éticas do ChatGPT na educação

SÃO PAULO
2023
LAURO TOZETTO NETO

ProfGPT: potenciais usos e limitações éticas do ChatGPT na educação

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


Universidade Federal de São Paulo como
requisito parcial para obtenção do título de
tecnólogo em design educacional.
Orientadora: Profa. Dra. Izabel P. Meister
Coorientador: Prof. Dr. Felipe Mancini
Coorientador: Prof. Dr. Cícero Inácio da Silva

São Paulo
2023
Na qualidade de titular dos direitos autorais, em consonância com a Lei de direitos
autorais nº 9610/98, autorizo a publicação livre e gratuita desse trabalho no
Repositório Institucional da UNIFESP ou em outro meio eletrônico da instituição, sem
qualquer ressarcimento dos direitos autorais para leitura, impressão e/ou download
em meio eletrônico para fins de divulgação intelectual, desde que citada a fonte.

Tozetto Neto, Lauro.

ProfGPT: potenciais usos e limitações éticas do ChatGPT na


educação / Lauro Tozetto Neto. – 2023. – 33 f.

Trabalho de conclusão de curso. – São Paulo : Universidade Federal


de São Paulo. Campus Reitoria.

Orientadora: Izabel P. Meister.


Co-orientarores: Felipe Macini; Cícero Inácio da Silva

Título em inglês: ProfGPT: potencial uses and ethical limitations of


ChatGPT in educaciton.
LAURO TOZETTO NETO

ProfGPT: potenciais usos e limitações éticas do ChatGPT na educação

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


Universidade Federal de São Paulo como
requisito parcial para obtenção do título de
tecnólogo em design educacional.

Aprovado em: de de 2023

Prof(a). Dra. Izabel P. Meister Orientadora


Universidade Federal de São Paulo

Prof. Dr. Felipe Mancini


Universidade Federal de São Paulo

Prof. Dr. Cícero Inácio da Silva


Universidade Federal de São Paulo
Para meu marido e companheiro de vida
Gabriel.
AGRADECIMENTOS

Agradeço aos professores Izabel, Cícero e Felipe por todos os ensinamentos, orientações
e apoio ao longo do desenvolvimento desse projeto.
Também agradeço ao meu marido Gabriel por estar presente em mais essa importante
etapa da minha vida. Obrigado por me ouvir falar tanto sobre ChatGPT e, ainda sim, seguir
entusiasmado com as histórias.
Um muito obrigado ao ChatGPT, que é o objeto de estudo dessa pesquisa, mas também
foi uma ferramenta muito útil em várias etapas. Agradeço e dedico também a todos os
profissionais e pesquisadores envolvidos no desenvolvimento das IAs, em especial aqueles que
dedicam horas da sua vida e saúde mental para treinar as IAs generativas em trabalhos mal
remunerados. Embora a inteligência seja artificial, muita inteligência humana é necessária.
E, por fim, agradeço às minhas filhas felinas Pagu e Elvira por me acompanharem em
todo o processo de escrita e desenvolvimento e esquentarem o meu colo nos dias frios.
“As máquinas me surpreendem muito
frequentemente”.
Alan Turing.
RESUMO

O uso de tecnologias na educação é um fato reconhecido pela comunidade escolar e que se


amplia a cada ano com as novas descobertas tecnológicas. Parte do estímulo para que as escolas
e universidades utilizassem mais ferramentas tecnológicas ocorreu devido à pandemia de Sars-
CoV-19, vírus causador da COVID-19, quando as aulas aconteceram de forma remota devido
à obrigatoriedade do isolamento social. Nesse contexto, especialmente as Tecnologias Digitais
da Informação e Comunicação (TDIC) foram amplamente utilizadas e aperfeiçoadas. Outro tipo
de tecnologia que passou a ter cada vez mais uso no ambiente educacional foi a inteligência
artificial generativa (IAG), presente principalmente na forma de atendentes virtuais e chatboot
de interação com o aluno. Em novembro de 2022 foi lançado pela OpenAI o chatbot
denominado ChatGPT, um protótipo associado com uma IA com técnicas de aprendizado.
Nesse projeto será proposto a criação de um curso massivo e aberto (MOOC) de extensão sobre
o uso do chat GPT na educação, voltado aos docentes da educação básica com fluência
computacional.

Palavras-chave: EaD, MOOC, ChatGPT, TDIC, ProfGPT.


ABSTRACT

The use of technology in education is a recognized fact by the school community and it
expands every year with new technological discoveries. Part of the stimulus for schools and
universities to use more technological tools came about due to the Sars-CoV-19 pandemic, the
virus that causes COVID-19, when classes were conducted remotely due to the requirement of
social isolation. In this context, especially Digital Information and Communication
Technologies (DICT) were widely used and improved. Another type of technology that has
increasingly been used in the educational environment is generative artificial intelligence
(GAI), mainly in the form of virtual assistants and chatbots for student interaction. In november
2022, OpenAI launched a chatbot called ChatGPT, a prototype associated with an AI with
learning techniques. In this project, the creation of a massive open online course (MOOC) on
the use of ChatGPT in education will be proposed, aimed at elementary education teachers with
computational fluency.

Keywords: EaD, MOOC, ChatGPT, DICT, ProfGPT.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 12
1 ANÁLISE CONTEXTUAL ................................................................................................ 13
1.2 Inteligência artificial ........................................................................................................ 14
1.2.1 O uso do chat GPT na educação .................................................................................. 16
1.2.1.1 Chat GPT e avaliação: uma possibilidade de uso complementar na docência ............. 18
2. DESIGN METODOLÓGICO ........................................................................................... 19
2.1 Personas ............................................................................................................................. 19
2.2 Curadoria .......................................................................................................................... 21
2.3 Objetivos ............................................................................................................................ 22
2.4 A construção dos questionários ..................................................................................... 222
2.5 População e amostra....................................................................................................... 222
2.6 Análise dos dados .............................................................................................................. 23
3 CARACTERÍSTICAS DO PROTÓTIPO A SER ENTREGUE .................................... 25
3.1 Tipo do produto ................................................................................................................ 25
3.2 Desenho do curso .............................................................................................................. 26
3.2.1 Concepção curricular ....................................................................................................... 26
3.2.1.1 Bloco temático I: O que são inteligências artificiais .................................................... 27
3.2.1.2 Bloco temático II: O que é o ChatGPT ........................................................................ 27
3.2.1.3 Bloco temático III: Aspectos éticos no uso do ChatGPT na docência ......................... 27
3.2.1.4 Bloco temático IV: Potenciais de uso do ChatGPT na docência: a avaliação .............. 28
CONCLUSÃO .................................................................................................................... 30
REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 31
APÊNDICE A – Questionário .......................................................................................... 33
APÊNDICE B – Cronograma ........................................................................................... 34
APÊNDICE C – Mapa visual da curadoria..................................................................... 34
12

INTRODUÇÃO

O avanço tecnológico tem transformado significativamente a nossa sociedade,


proporcionando inúmeras facilidades e ampliando nossas capacidades. No entanto, é importante
compreender que a tecnologia não é um fenômeno recente, pois acompanha a história da
humanidade desde seus primórdios. Ao longo dos anos, diferentes formas de tecnologia foram
desenvolvidas, desde ferramentas primitivas até dispositivos eletrônicos sofisticados.
Atualmente, a tecnologia computacional desempenha um papel fundamental em nossa vida
cotidiana, permeando diversos aspectos, inclusive na educação.
Nesse contexto, o presente estudo busca explorar o tema da inteligência artificial (IA) e
seu impacto na educação. A IA é uma área da ciência da computação que se dedica ao
desenvolvimento de máquinas capazes de imitar a inteligência humana. Esses sistemas têm se
aperfeiçoado rapidamente e apresentado capacidades surpreendentes, como compreensão da
linguagem natural, tomada de decisões e aprendizado.
A escolha desse tema se justifica pela relevância e pelo potencial transformador da IA
na educação. A tecnologia computacional, em especial os recursos de IA, têm sido amplamente
utilizados como ferramentas de ensino e aprendizagem, proporcionando novas abordagens e
possibilitando o desenvolvimento do pensamento computacional. Essas habilidades são
fundamentais para a resolução de problemas e para a compreensão do mundo atual, cada vez
mais permeado por dispositivos computacionais.
Diante desse cenário, o objetivo deste estudo é analisar o uso da IA, em particular o
ChatGPT, na educação. Pretende-se compreender como essa tecnologia pode ser aplicada de
forma crítica e reflexiva, explorando suas possibilidades de automação de tarefas
administrativas e sua contribuição para o ensino e aprendizagem. Além disso, busca-se também
discutir os desafios e as preocupações relacionadas ao uso da IA na educação, como a
substituição de profissionais e a necessidade de adaptação dos docentes às habilidades digitais
exigidas pela sociedade contemporânea.
Com base nesses aspectos, será proposto um curso de extensão que visa contribuir para
uma reflexão ampla sobre a integração da IA na educação, considerando seus benefícios,
desafios e impactos sociais. Ao compreender e se apropriar das tecnologias digitais, incluindo
a IA, os profissionais da educação podem atuar de forma mais eficiente e preparar os alunos
para enfrentar os desafios do mundo tecnológico em constante evolução.
13

1 ANÁLISE CONTEXTUAL
De acordo com Cândido (2023, [n.p])
falar de tecnologia hoje em dia é, de modo geral, discorrer sobre mundos virtuais,
robôs, inteligência artificial, veículos autônomos, ou comunicação global instantânea.
Nada mais natural, uma vez que vivemos cercados de objetos que potencializam
nossas capacidades e tornam a vida mais fácil e confortável.

Porém, a tecnologia é algo tão antigo quanto à história da humanidade. Isso porque a
espécie humana tem criado ferramentas desde que compreendeu que pedras poderiam ser
lascadas para serem usadas como armas ou friccionadas para gerar faíscas e, assim, produzir
fogo. Atualmente, o conceito de tecnologia mais aceito é o cunhado pelo sociólogo americano
Read Bain que define tecnologia como “ferramentas, máquinas, utensílios, armas, instrumentos,
habitação, roupas, dispositivos de comunicação e transporte disponíveis, além de habilidades
técnicas necessárias para usar um produto, desenvolver uma técnica de produção ou prestar
serviços” (AKABANE & POZO, 2020, p.15).
Nesse sentido, Cândido (2023) defende que muitas tecnologias se tornaram marcos na
história da humanidade, desde as armas e objetos de ferro inventados durante a Idade do Ferro,
até as tecnologias relacionadas com a eletricidade e que foram massivamente aperfeiçoadas
durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), contexto em que foi criado um aparelho
eletrônico que se tornaria um grande marco na sociedade: o computador.
Ao longo das décadas, esse aparelho foi aperfeiçoado a tal ponto que atualmente está
incorporado em outros aparelhos eletrônicos, a exemplo dos smartphones, tablets,
smartwatches, smart TV ou qualquer outro aparelho eletrônico com conexão à internet
(ZIMMERMANN et al., 2016).
Essa evolução tecnológica têm um grande potencial de uso na educação, que há décadas
já incorpora o computador pessoal (PC) como ferramenta de ensino e aprendizagem. Um desses
usos é fundamentado por meio do pensamento computacional, definido como uma “abordagem
para resolução de problemas que combinou o pensamento crítico com os fundamentos da
computação” (ZIMMERMANN et al., 2006, p.1248). Nesse sentido, as habilidades
computacionais são usadas para a resolução de problemas do cotidiano do aluno e para a
aprendizagem em diferentes áreas do conhecimento. Os autores destacam ainda que
a base dessa metodologia consiste na utilização do computador como um instrumento
para melhor compreensão do mundo atual, permeado por dispositivos
computacionais, refletindo positivamente em na produtividade, inventividade e
criatividade do usuário (ZIMMERMANN et al., 2006, p.1248).
14

Akabane e Pozo (2020, p. 17) destacam que “a tecnologia é considerada fundamental


para a solução de problemas. É preciso entender que se trata de algo complexo, sempre em
mutação e evolução que, quando usado para o bem, pode transformar sociedades”.
Zimmermann et al. (2006 p.1248) reforça que a
tecnologia computacional, que permeia nosso mundo e rotinas, é vista como
importante recurso provedor de subsídios para que os indivíduos possam não apenas
utilizar a tecnologia, mas também compreendê-la e serem capazes de implementar
soluções para problemas utilizando recursos computacionais.

Toda semana é anunciado algum tipo de inovação em tecnologia digital pelas empresas
de tecnologia. Se por um lado é impossível acompanhar todas essas inovações, por outro é
impensável para um profissional conectado às tendências de mercado ficar alheio a elas
(CÂNDIDO, 2023). Nesse sentido, a educação tem o dever de conhecer e se apropriar das
tecnologias digitais para que estas sejam usadas de forma crítica e reflexiva.

1.2 Inteligência artificial


Um exemplo é a inteligência artificial, ou simplesmente IA, definida por Gabriel (2002,
p.56) como “a área da Ciência da Computação que lida com o desenvolvimento de
máquinas/computadores com capacidade de imitar a inteligência humana”. A autora ainda
defende que

o desenvolvimento de máquinas pensantes, portanto, abriga inúmeras disciplinas


debaixo do guarda-chuva do termo IA, que, assim, se relaciona com todas as áreas do
conhecimento usadas no estudo da inteligência, além de métodos, algoritmos e
técnicas que possam tornar um software/hardware inteligente no sentido humano da
palavra (GABRIEL, 2022, P.57).

Cândido (2023; [s.p]) complementa que as IAs são

sistemas e tecnologias que podem realizar atividades antes consideradas exclusivas


do ser humano, como falar e entender linguagem natural, reconhecer e criar imagens,
planejar, integrar habilidades para realizar uma ação, tomar decisões e – sobretudo –
aprender.
A investigação sobre a capacidade das máquinas “pensarem” foi iniciada pelo pai da
computação, o matemático Alan Turing (1912-1954) logo após o final da Segunda Guerra
Mundial, por meio do que ficou conhecido como Teste de Turing (TT), método no qual um
humano faz perguntas à uma máquina e analisa sua resposta (CÂNDIDO, 2023).
Mas seria apenas no ano de 1956 que “o termo inteligência artificial seria cunhado pelos
cientistas da computação norte-americanos John McCarthy (1927-2011), Marvin Minsky
(1927-2016), Nathaniel Rochester (1919-2001) e Claude Shannon (1916-2001) em uma
15

proposta para um projeto de pesquisa da Universidade de Dartmouth” (CÂNDIDO, 2023, [s.p]).


De acordo com Gabriel (2022) as IAs podem ser divididas em três categorias básicas:

• Inteligência Artificial Limitada (ou IA Fraca): é especializada em tarefas


específicas que não demandam capacidade de generalização ou de raciocínio
abstrato;
• Inteligência Artificial Geral (ou IA Forte): sua inteligência se equipara a
do ser humano e é capaz de aprender e fazer inferências;
• Superinteligência: tipo hipotético de IA que promete superar a capacidade
intelectual humana.
As IAs têm sido aperfeiçoadas em um ritmo tão veloz que especialistas da área chegaram
a pedir a pausa do desenvolvimento de uma em específico, o ChatGPT, também conhecido
como “Generative Pre-trained Transformer”. Desenvolvido pela OpenAI e disponibilizado
publicamente em 30 de novembro de 2022 (CORREIA, 2023), esse software de conversação
simula o comportamento humano ao estabelecer diálogos com linguagem fluida e coesa por
meio de um chatbot online com inteligência artificial generativa (IAG). Segundo Silvestre
(2023; [n.p]):
o ChatGPT é uma plataforma criada pela empresa OpenAI capaz de escrever textos
complexos a partir de comandos em linguagem natural. Ele simula uma conversa com
uma pessoa, permitindo o encadeamento entre respostas e perguntas. Funciona em
vários idiomas, inclusive no português, e suas produções vêm surpreendendo
especialistas e o público, pela qualidade.

Causando um verdadeiro alvoroço em diferentes setores da sociedade, o ChatGPT “foi


o estopim de uma série de discussões sobre inteligência artificial no mundo todo” (CÂNDIDO,
2023; [n.p]). Muitos países baniram seu uso, enquanto em outros a discussão sobre a
regulamentação das chamadas big techs foi aquecida, inclusive no Brasil1.
Como resultado, no dia 04 de maio de 2023, o presidente do senado Rodrigo Pacheco
apresentou um projeto de Lei que regula a inteligência artificial no Brasil2. Vale lembrar que o
nosso país construiu de forma coletiva o Marco Civil e, nesse sentido, seria interessante que a
população fosse consultada por meio de audiências públicas, a fim de criar seu próprio modelo
de regulação tecnológica de forma democrática. Segundo Silvestre (2023; [n.p]):
As escolas - as universidades especialmente - têm um papel importantíssimo nesse
processo. São elas que realizam as pesquisas sobre seus impactos sem um viés
econômico. As empresas criadoras desses recursos deveriam, por sua vez, fazer o
mesmo, mas nem sempre isso acontece, preferindo promover inconsequentemente
seus lançamentos que podem lhes render bilhões em lucros.

1 Executivos e academia pedem uma pausa em pesquisas de IA. Valor Econômico. Disponível em: https://valor.globo.com/empresas/noticia/2023/03/30/executivos-e-
academia-pedem-uma-pausa-em-pesquisas-de-ia.ghtml ou as ferramentas oferecidas na página. Acesso em: 11 maio 2023.
2 Semana será importante para a internet no Brasil. Folha de São Paulo. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/ronaldolemos/2023/05/semana-sera-importante-
para-a-internet-no-brasil.shtml. Acesso em: 15 maio de 2023.
16

1.2.1 O uso do chat GPT na educação


A chegada do ChatGPT provocou uma verdadeira “corrida da IA”, em que empresas de
tecnologia aceleraram o desenvolvimento de seus próprios produtos baseados em IA, a exemplo
da Microsoft que disponibilizou “para todos os usuários do buscador Bing e do navegador Edge
versões com uma ferramenta de IA desenvolvida pela OpenAI, a mesma do ChatGPT”
(CÂNDIDO, 2023; [s.p]).
Mas essa corrida não ficou restrita às big techs: no campo social e profissional, a
sociedade se viu pressionada a entender o que eram as IAGs, quais seus usos e como seria
afetada por essa nova tecnologia.
Com isso surgiram diversos medos sociais, como a perda de empregos – incluindo de
que “a docência possa ser substituída por uma IA” (SILVESTRE, 2023) –, o desaparecimento
de algumas profissões, possibilidade desse tipo de tecnologia “substituir seres humanos em
tarefas intelectuais em que ainda nos sentíamos “seguros” (SILVESTRE, 2023; [n.p]),
discussões sobre os limites entre o mundo “real” e o mundo “digital”, além da ansiedade por
ter que conhecer e dominar rapidamente essas novas tecnologias.
Por outro lado, possibilidade disruptivas com o uso das IAs generativas também se
abriram. Para Cesário (2023; [n.p]) “as IAs hoje dão oportunidade para que novos criadores
surjam no processo. Oferece oportunidades e muito mais capacidade de criar conteúdos que
usem como referência diferentes fontes, culturas, países, trazendo mais pluralidade para as
criações”. Segundo Correia (2023; [n.p.]):
o ChatGPT tornou-se popular em várias indústrias, incluindo as finanças, saúde e
comércio eletrônico, como uma maneira de incorporar capacidades avançadas de
processamento de linguagem natural em seus produtos e serviços.
Concomitantemente, o ChatGPT vem ganhando terreno e causando grandes
discussões no ensino.

Vale destacar que todas essas preocupações são legítimas, e novas tecnologias
costumam causar pânico diante do seu potencial. No entanto, deve-se considerar que o papel
fundamental da escola é ensinar, e não proibir. Nesse sentido, Silvestre (2023; [n.p]) defende
que “o caminho para resolver os temores escolares passa pelos professores se apropriarem da
inteligência artificial, ao invés de tentar bloqueá-la”. Os professores devem conhecer esse tipo
de recursos e ensinar aos seus alunos como utilizá-lo, já que os seus estudantes sem dúvida
continuarão usando essas ferramentas e sempre encontrarão formas de burlar as restrições.
Segundo Correia (2023; [n.p])
com sua capacidade de gerar texto semelhante ao discurso humano e de realizar tarefas
de processamento de linguagem natural, o ChatGPT pode ter um impacto significativo
na forma como alunos e professores trabalham [...] Uma das principais áreas em que
17

o ChatGPT pode ter impacto é na automação de tarefas administrativas. Por exemplo,


o ChatGPT pode responder a perguntas frequentes, fornecer informações sobre cursos
e organizar horários, liberando tempo valioso para os professores e permitindo que
eles se concentrem no que fazem de melhor: ensinar.

Para isso, é preciso que a prática docente seja repensada de acordo com as habilidades
digitais exigidas pela sociedade contemporânea. Com a popularização do ChatGPT, alunos
passaram a usar esse recurso para resolver tarefas, escrever trabalhos e redações e vários outros
usos que ainda vamos descobrir. Um dos primeiros questionamentos dos professores era se eles
conseguiriam identificar quando as atividades solicitadas fossem feitas pelo próprio aluno ou
pelo ChatGPT, e se isso seria considerado plágio. Nesse sentido, Cesário (2023; [n.p]) questiona
que
qualquer produção, texto, peça publicitária que você produziu e foi publicizada é de
autoria sua, e você tem direito sobre ela. Qualquer criação que está na internet é feita
por alguém, e a inteligência artificial generativa vai buscar justamente o que está na
internet. Qual é a garantia de que ela criou algo original?

Ainda de acordo com Cesário (2023), inevitavelmente as IAs violarão em algum


momento as leis de propriedade intelectual. No entanto, também é inevitável o uso das IAs para
a produção de conteúdo, portanto para a educação, e a recusa ao uso desse tipo de tecnologia
pode colocar empresas e profissionais em um lugar ultrapassado em relação às habilidades com
o uso de ferramentas digitais. Nesse sentido, o autor defende que “utilizem a ferramenta não
para criações completas, mas para automatizar partes delas, nas produções operacionais”
(CESÁRIO (2023; [n.p]). Para Silvestre (2023; [n.p])
manter os processos atuais de aprendizagem e de avaliação é igualmente inadequado.
A tecnologia deve ser usada como aliada para alunos ganharem recursos para entender
o porquê do que aprendem.

Correia (2023; [n.p]) defende que “ao facilitar conversas baseadas em texto entre alunos
e o ChatGPT, os alunos podem interagir com um sistema inteligente que responde em tempo
real, levando a uma experiência de aprendizagem mais personalizada e envolvente”.
Correia (2023) nos lembra que, assim como a calculadora científica causou uma
revolução na década de 1970 e os computadores na década seguinte, a educação vive o
momento de integração com a IA generativa. Para Bozkurt et al. (2023) uma maneira de levar
os alunos a refletir os usos éticos desse tipo de tecnologia e suas potencialidades é por meio da
integração do IA no currículo ao ensinar como usá-la de forma responsável.
18

1.2.1.1 Chat GPT e avaliação: uma possibilidade de uso complementar na docência


A avaliação de alunos desempenha um papel fundamental no processo educacional,
fornecendo informações sobre o seu progresso e desempenho (CLARK & MAYER, 2016).
Koedinger et al. (2012) defende que as IAGs, como o ChatGPT, podem ser utilizadas como
ferramentas pelos docentes na avaliação de alunos devido às suas capacidades de interação,
feedback imediato, personalização e geração de recursos. Ao utilizar uma IAG, os docentes
podem oferecer aos alunos a oportunidade de receber comentários imediatos sobre suas
respostas ou trabalhos, permitindo que eles identifiquem áreas de melhoria e corrijam erros
prontamente. Esse feedback instantâneo contribui para uma aprendizagem mais efetiva, pois os
alunos podem consolidar seus conhecimentos e compreender onde precisam aprimorar suas
habilidades.
Koedinger et al. (2012) também cita que os docentes podem usar as IAGs para
apresentar problemas desafiadores aos alunos e, por meio da interação com a IA, os estudantes
podem receber orientações e sugestões sobre como abordar a questão. Essa abordagem auxilia
no desenvolvimento de habilidades de resolução de problemas, incentivando os alunos a
pensarem criticamente e explorar diferentes estratégias. Nesse sentido, a avaliação pode ser
inovada ao apresentar novos contextos na prática de resolução de problemas em que as
habilidades dos alunos são testadas.
As IAGs também são capazes de simular entrevistas orais, um método valioso de
avaliação. Por meio dessa simulação, os alunos podem praticar habilidades de comunicação e
expressão verbal, respondendo a perguntas geradas pela IA como se estivessem em uma
entrevista real. Esse tipo de exercício aprimora a capacidade de articulação, clareza e
argumentação dos alunos, aspectos importantes no desenvolvimento de suas habilidades de
comunicação (CLARK & MAYER, 2016).
Outra aplicação das IAGs na avaliação é a geração automática de perguntas. Os docentes
podem fornecer um contexto ou tópico específico e, com o auxílio da IA, gerar perguntas
relevantes e desafiadoras. Isso possibilita diversificar as opções de avaliação, tornando o
processo mais dinâmico e engajador (KOEDINGER et al.,2012). Além disso, a geração
automática de perguntas economiza tempo na criação de bancos de perguntas, permitindo que
os docentes se concentrem em outras atividades educacionais.
Por fim, as IAGs podem atuar como tutores virtuais adaptativos de comunicação
(CLARK & MAYER, 2016), fornecendo suporte personalizado aos alunos. Com base nas
respostas e interações dos alunos, a IA pode identificar lacunas de conhecimento e fornecer
explicações adicionais ou recursos relevantes para ajudar os alunos a progredir em sua
19

aprendizagem. Esse tipo de tutoria adaptativa permite que cada aluno receba um suporte
individualizado, atendendo às suas necessidades específicas.
No entanto, Koedinger et al. (2012) ressaltam que o uso das IAGs na avaliação de alunos
requer uma abordagem cuidadosa e supervisionada pelos docentes. É fundamental garantir que
as IAGs sejam usadas como ferramentas complementares, não substituindo a avaliação
realizada pelos professores. A supervisão humana e a análise crítica dos resultados gerados
pelas IAGs são essenciais para garantir uma avaliação precisa, justa e contextualizada.

2. DESIGN METODOLÓGICO
Para a construção do produto proposto, foi feita uma pesquisa uma pesquisa quali-
quantitativa baseada em um questionário composto por dez questões a fim de conhecer o perfil
sociodemográfico dos participantes e caracterizar a fluência computacional (uso do
computador/celular, tempo, quais ferramentas etc.). Essa pesquisa será detalhada a seguir.
2.1 Personas
Ao pensar sobre a persona que norteará o desenvolvimento do protótipo do curso, surgiu
a seguinte dúvida: quem seria o docente ideal para o curso proposto?
Para responder a essa pergunta é preciso considerar dois perfis de docentes muito
diferentes: aquele que não utiliza as tecnologias digitais e tem receio e resistência no seu uso
na educação e o docente que está habituado a utilizar diferentes tipos de tecnologias digitais em
suas aulas.
Como educador e trabalhando como designer educacional, tem sido comum ouvir
questionamentos vindo de professores ou autores sobre o uso das tecnologias, a exemplo das
IAs na produção de materiais educativos. Essa experiência empírica, trouxe uma reflexão sobre
como esses profissionais têm se relacionado em especial com o ChatGPT.
Por isso, foram feitas duas personas para entender as motivações desses dois tipos de
docentes.
20

Imagem1 - Mapa de empatia da persona 1.

Imagem 2 - Mapa de empatia da persona 2


21

2.2 Curadoria
Por meio do Miro foi elaborado um mapa visual partindo do ponto central de quais são
os usos que o ChatGPT pode ter na educação. Ao longo dessa curadoria foram investigados
tanto os pontos de atenção como os potenciais de uso desse recurso, conforme apresentado na
imagem a seguir.

Imagem 3 - Mapa visual da curadoria

Para visualizar com mais detalhes, verifique os anexos.

A partir na análise das personas e do mapa, foi decidido que o público-alvo são os
docentes da educação básica com um nível básico de fluência computacional e habituados ao
uso das tecnologias digitais de informação e comunicação. Essa é uma estratégia adotada para
vencer a resistência ao uso da tecnologia, justamente partindo do compartilhamento e
socialização do que foi aprendido por docentes com maior afinidade com as ferramentas
tecnológicas com seus pares resistentes.
O codesign foi escolhido como estratégia para a gestão das etapas do projeto, sendo elas:
análise, design, desenvolvimento, implementação e avaliação (DINIZ, 2020). Essa é uma opção
viável, já que nele “o Designer Educacional acumula as funções de gestor de projetos, gestor
educacional, social media, web designer, designer gráfico, produtor audiovisual, instrutor e
suporte técnico” (DINIZ, 2020). Além disso, essa é uma abordagem que dialoga
constantemente com o usuário, tornando-o parte do desenvolvimento do projeto.
22

2.3 Objetivos
Dado o potencial de uso das IAs generativas, esse trabalho tem como objetivo elaborar
o desenho de um curso de extensão massivo e aberto (MOOC, do inglês Massive Open Online
Course) que segundo Liyanagunawardena et al. (2013) é uma forma de ensino online que
oferece acesso gratuito e aberto a um amplo público e são projetados para fornecer educação
de alta qualidade através de plataformas online, permitindo que milhares, e até mesmo milhões,
de pessoas em todo o mundo tenham acesso a cursos ministrados por especialistas de diversas
áreas. Esse curso será realizado no ambiente virtual da Universidade Federal de São Paulo e
apresentará noções básicas sobre os potenciais usos do ChatGPT na educação.

2.4 A construção dos questionários


A investigação do público foi feita por meio de pesquisa quantitativa composta por dez
questões para caracterizar a fluência computacional, verificar dados sobre o perfil
sociodemográfico dos participantes e interesse em participar de um curso que apresente os usos
do ChatGPT na educação.
As questões eram fechadas, com respostas pré-determinadas de dois tipos: múltipla
escolha ou com uma escala de classificação chamada de Escala Likert, que segundo Gonçalves
e Leite (2005; [n.p]) “apresenta dois campos de variação, um de concordância e o outro de
discordância”. Ainda de acordo com as autoras,

esse tipo de questionário constitui-se em uma escala intervalar, portanto, a distância


entre as posições é a mesma; quando utilizada para medida de opiniões e atitudes,
essas posições medem proporções do mais desfavorável ao mais favorável
(GONÇALVES & LEITE, 2005; [n.p]).
A escala construída apresenta a resposta em cinco graus, partindo do total desacordo
(grau 1) até o outro extremo de total acordo (grau 5). Entre estes, há graus intermediários nos
quais o 3 representa o neutro ou indeciso.
Na segunda etapa, pretende-se que os mesmos docentes sejam convidados a responder
outro formulário para avaliar o desenho/protótipo do curso. Essas informações serão de
fundamental importância para o desenvolvimento das etapas do curso que terão como base de
enredo as preferências dos participantes do estudo.

2.5 População e amostra


O questionário elaborado foi disparado em grupos de Whatsapp e Telegram destinados
a professores da educação básica, além de ser encaminhado diretamente a professores
23

conhecidos. Embora tenha sido feito um esforço para ter um volume grande de respostas, apenas
nove professores responderam o formulário até o final.
Cabe ressaltar, que foi garantido, aos docentes, o sigilo das informações, bem como a
voluntariedade para responderem ao questionário e participarem da pesquisa.

2.6 Análise dos dados


A maioria (44,4%) tem entre 35 e 44 anos, sendo que 22,2% têm entre 45 e 54 anos e
outros 22,2% responderam ter entre 55 e 63 anos. Apenas 11,1% têm entre 25 e 34 anos.
Em relação ao tempo de docência, 44,4% dizem ter mais de 18 anos na atividade,
enquanto 22,2% atuam entre 1 e 5 anos com docente. Outros 22,2% têm entre 12 e 17 anos na
profissão e somente 11,1% atuam entre 6 a 22 anos.
Ao serem questionados sobre o aparelho eletrônico mais utilizado para navegar na
internet, 66,7% afirmaram usar o smartphone, enquanto 33,3% preferem o computador.
Ninguém declarou utilizar o tablet.
Na Escala Likert (GONÇALVES & LEITE, 2005), 33,3% optaram pelo grau máximo
(5) para se declararem como pessoas conectadas à internet, enquanto outros 33,3% escolheram
a posição intermediária (3), e o restante se dividiu em 11,1% pelo grau mínimo (1), 11,1% no
grau 2 e outros 11,1% no grau 4.
Ao serem questionados sobre o quanto tem facilidade em fazer buscas na internet para
preparar aulas e o quanto costumam usar tecnologias digitais para planejá-las, é interessante
observar que embora 44,4% afirmem ter facilidade para usar a internet, apenas 11,1%
escolheram o grau cinco para descrever o quanto usa as tecnologias digitais no planejamento
docente, conforme a figura a seguir.
24

Imagem 4 – Comparação dos gráficos de resposta

Esse resultado é refletido nas respostas da pergunta seguinte, sobre a frequência de uso
dessas tecnologias nas aulas. Novamente, apenas 11,1% se identificaram com o grau 5,
enquanto 44,4% optaram pelo grau 4, 11,1% com o grau intermediário e 33,3% com o grau 2.
A maioria (66,7%) afirmou saber o que são inteligências artificias aplicadas à educação,
no entanto 77,8% dizem nunca ter utilizado uma IAG como o ChatGPT para preparar aulas ou
para situações de aprendizagem com os alunos.
25

Imagem 5 – Identificação dos docentes com o uso de IAG em suas aulas

Por fim, ao investigar o interesse em participar de um curso de extensão sobre o uso do


chat GPT, mais da metade dos respondentes (55,56%) demonstraram interesse na realização do
curso.

3 CARACTERÍSTICAS DO PROTÓTIPO A SER ENTREGUE


3.1 Tipo do produto
A ideia do nome parte dos termos professor e proficiência, simbolizados pelo prefixo
“prof” e da sigla GPT que na tradução livre corresponde a “Transformador pré-treinado
generativo” e remete ao ChatGPT. O curso a ser desenvolvido será de extensão, que é
caracterizado como
a ação pedagógica de caráter teórico e prático, presencial ou a distância, planejada e
organizada de modo sistemático para atender às necessidades da sociedade, visando
ao desenvolvimento, à atualização e ao aperfeiçoamento de conhecimentos, com carga
horária mínima de 20 horas e critérios de avaliação definidos (IFSP, 2020; [n.p]).

A modalidade do curso será a distância por ser “caracterizado pela não exigência da
presença do aluno durante toda a oferta da carga horária, sendo que as atividades presenciais
(sessões de esclarecimento, orientação presencial, avaliação, etc.) não devem ultrapassar 20%
da carga horária total” (IFSP, 2020; [n.p]). Vale destacar que trata-se de um curso livre de
extensão, que de acordo com o IFSP (2020; [n.p]) “são aqueles com “carga horária mínima de
20 horas e máxima de 40 horas”.
26

3.2 Desenho do curso


O desenho do curso será feito com base na carga horária e estrutura dos cursos de
extensão da Unifesp. Será criado um protótipo do desenho do curso uma unidade será testada
com os professores que responderam o formulário.

Quadro 2 - Desenho do curso

Dados do curso

Nome do curso: ProfGPT: potenciais usos e limitações éticas


do ChatGPT na educação.

Tipo de curso: Extensão

Área do conhecimento: Educação


Tecnologia

Modalidade: Distância

Carga horária total: 20 horas

Público-alvo Docentes da rede básica de educação

Objetivo Informar docentes, especialmente que


lecionem na educação básica, sobre o que são
as IAs generativas, quais os aspectos éticos
envolvidos no uso do ChatGPT na educação
e alguns possíveis usos na docência.

3.2.1 Concepção curricular


Dada a abrangência do tema, o curso foi estruturado em quatro pilares, cada um deles
sustentando um tema dos potenciais usos e limitações do ChatGPT na educação, sendo eles: (1)
educação; (2) tecnologia; (3) fluência computacional; (4) potencial disruptivo.
A organização em pilares temáticos, que se conectam ao tema central, proporciona a
integração dos conhecimentos para o desenvolvimento da formação sistêmica e holística do
aluno, visto que o curso é voltado para um perfil profissional multiespecialista. A figura a seguir
apresenta uma matriz sintética, a qual expõe visualmente a relação entre os pilares e os
componentes curriculares, bem como a distribuição da carga horária.
27

Quadro 3 - Matriz de concepção do curso livre de extensão

Componente curricular Educação Tecnologia Fluência Potencial Carga


computacional disruptivo horária

O que são inteligências


artificiais

O que é o ChatGPT 5 horas

Aspectos éticos no uso do 5 horas


ChatGPT no ensino

Potenciais de uso do 5 horas


ChatGPT na aprendizagem:
a avaliação

TOTAL 20 horas

3.2.1.1 Bloco temático I: O que são inteligências artificiais


Neste bloco, estão inseridos os componentes curriculares que tratam sobre a
conceituação de inteligências artificiais (o que são, quais são os tipos atualmente existentes,
exemplos de como são usadas em diferentes contextos) e que proporciona ao docente o
conhecimento a respeito dessas tecnologias.
3.2.1.2 Bloco temático II: O que é o ChatGPT
Neste bloco é apresentado o ChatGPT como um exemplo de software de conversação
que simula o comportamento humano ao estabelecer diálogos por meio de um chatbot online
com inteligência artificial generativa (IAG).
3.2.1.3 Bloco temático III: Aspectos éticos no uso do ChatGPT na docência
Questões como os uso de pessoas em trabalhos precarizados para treinar o ChatGPT,
uso e acesso democrático às IAs generativas, geração de conteúdo com vieses preconceituosos,
serão tratadas nesse bloco. Reflexões direcionadas ao uso de ChatGPT na educação serão
priorizadas nos seguintes tópicos:
• Viés e falta de imparcialidade: as inteligências artificiais generativas são
treinadas com base em conjuntos de dados existentes, que podem refletir
preconceitos e desigualdades presentes na sociedade. Isso pode levar a
resultados gerados pela IA que perpetuam estereótipos, preconceitos ou
desigualdades, o que pode ser problemático na educação, onde a
imparcialidade e a equidade são essenciais.
28

• Qualidade e confiabilidade dos resultados: a qualidade das saídas geradas


por IA pode variar e nem sempre atingir os padrões esperados. Erros
gramaticais, informações incorretas ou respostas inadequadas podem ser
gerados pela IA, o que pode levar a informações imprecisas ou enganosas na
educação.
• Falta de compreensão contextual: as inteligências artificiais generativas
podem ter dificuldade em entender o contexto completo de uma pergunta ou
tarefa, o que pode levar a respostas incompletas ou incorretas. A compreensão
contextual é especialmente importante na educação, onde as respostas e
soluções corretas podem depender de nuances específicas do problema ou do
contexto em que está sendo aplicado.
• Falta de interação humana: embora as inteligências artificiais generativas
possam fornecer respostas rápidas e automatizadas, elas geralmente carecem da
capacidade de interação humana genuína. A educação também envolve
aspectos sociais e emocionais, nos quais a presença de um professor ou tutor
humano é valorizada, pois pode oferecer suporte personalizado, motivação e
orientação adaptada às necessidades individuais dos alunos.
• Ética e responsabilidade: o uso de IA na educação levanta questões éticas e
de responsabilidade. Isso inclui questões relacionadas à privacidade dos alunos,
coleta e uso de dados, transparência dos algoritmos e garantia de que as
decisões tomadas pela IA sejam justas e compreensíveis.

3.2.1.4 Bloco temático IV: Potenciais de uso do ChatGPT na docência: a avaliação


Por fim, neste bloco são tematizados os potenciais de uso do ChatGPT na educação com
foco na avaliação dos alunos. Alguns dos pontos que serão explorados nesse bloco são:
• Feedback rápido: o ChatGPT pode fornecer feedback imediato aos alunos sobre suas
respostas ou trabalhos. Isso pode ajudar a acelerar o processo de avaliação, permitindo
que os alunos recebam comentários mais rapidamente e tenham a oportunidade de
corrigir ou melhorar seu trabalho de forma mais eficiente.
• Prática de resolução de problemas: os professores podem usar o ChatGPT para
fornecer aos alunos problemas para resolver ou questões a serem respondidas. Os
alunos podem interagir com o ChatGPT para receber orientações ou sugestões sobre
como abordar o problema. Isso permite que os alunos pratiquem suas habilidades de
resolução de problemas de forma interativa e individualizada.
29

• Simulação de entrevistas orais: o ChatGPT pode ser usado para simular entrevistas
orais, permitindo que os alunos pratiquem suas habilidades de comunicação e
expressão verbal. Os alunos podem interagir com o ChatGPT como se estivessem
participando de uma entrevista real, recebendo perguntas e fornecendo respostas
verbais.
• Geração de perguntas de avaliação: o ChatGPT pode ajudar na geração automática
de perguntas de avaliação. Os professores podem fornecer aos alunos um contexto ou
um tópico específico, e o ChatGPT pode ajudar a criar perguntas relevantes e
desafiadoras. Isso pode economizar tempo na criação de bancos de perguntas e
diversificar as opções de avaliação.
• Tutoria adaptativa: o ChatGPT pode atuar como um tutor virtual adaptativo,
fornecendo suporte personalizado aos alunos com base em suas necessidades
individuais. Ele pode identificar lacunas de conhecimento, fornecer explicações
adicionais e propor recursos adicionais para ajudar os alunos a progredirem em sua
aprendizagem.

Nesse momento, o ChatGPT é apresentado como uma ferramenta complementar, e não


como substituto da avaliação realizada por professores, já que a supervisão humana e a análise
crítica dos resultados gerados pelo ChatGPT são essenciais para garantir uma avaliação precisa
e justa.
30

CONCLUSÃO

A pesquisa apresentou uma proposta para o desenvolvimento de um curso de extensão


sobre os potenciais usos e limitações do ChatGPT na educação. O nome do curso "ProfGPT”
reflete a combinação dos termos "professor" e "proficiência", representando a natureza do curso
e o uso do prefixo "prof" associado ao ChatGPT. A modalidade escolhida foi a distância,
permitindo flexibilidade para os participantes.
O desenho do curso foi baseado na carga horária e estrutura dos cursos de extensão da
instituição, seguindo critérios de avaliação definidos. A concepção curricular foi organizada em
quatro pilares temáticos: educação, tecnologia, fluência computacional e potencial disruptivo.
Esses pilares permitem uma abordagem abrangente do tema, integrando conhecimentos para
formação sistêmica e holística dos alunos.
A matriz sintética apresentada visualmente demonstra a relação entre os pilares e os
componentes curriculares, além da distribuição da carga horária. A proposta do curso é voltada
para profissionais multiespecialistas, visando ao desenvolvimento, atualização e
aperfeiçoamento de conhecimentos sobre as possibilidades e desafios da inteligência artificial
na educação.
Com a implementação do protótipo do curso, será possível testar a unidade com os
professores que participaram da pesquisa, obtendo feedback valioso para aprimorar e ajustar o
desenho do curso. Espera-se que esse curso de extensão contribua para a formação de
profissionais da área educacional, capacitando-os a utilizar o ChatGPT de forma eficiente,
consciente dos seus limites e potencialidades, e promovendo a integração da tecnologia de
forma ética e responsável no contexto educacional.
31

REFERÊNCIAS

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Érica, 2020. E-book.

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Distance Education, v. 18, n. 1, p. 53-130, 2023.

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Editora Senac São Paulo, 2023. Série Universitária.

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marcas. Uol para marcas. Disponível em:
https://blog.publicidade.uol.com.br/networking/gustavo-cesario-da-espm-violacao-de-
direitos-autorais-por-ias-e-risco-para-marcas/?utm_source=uol&utm_medium=tvhome.
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LIYANAGUNAWARDENA, Tharindu R.; ADAMS, Andrew A.; WILLIAMS, Shirley A. O


impacto e alcance dos MOOCs: uma perspectiva dos países em desenvolvimento.
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https://www.irrodl.org/index.php/irrodl/article/view/1455>. Acesso em: 29 maio 2023.
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32

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aprendemos e ensinamos. Estadão. Disponível em:
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http://dx.doi.org/10.5753/cbie.wcbie.2016.1249. Acesso em: 15 maio 2023.
33

APÊNDICE A – Questionário

1 Qual é sua idade?

2 Qual seu tempo de docência?

3 Selecione o aparelho eletrônico que você mais utiliza para navegar na internet
( ) computador ( ) tablet ( ) smartphone

4 Em uma escala de 1 a 5, quanto você se sente uma pessoa conectada à internet?


( ) nunca ( ) raramente ( ) às vezes ( ) quase sempre ( ) sempre

5 Em uma escala de 1 a 5, quanto você tem facilidade em fazer buscas na internet para
preparar aulas?
( ) nunca ( ) raramente ( ) às vezes ( ) quase sempre ( ) sempre

6 Em uma escala de 1 a 5, quanto você costuma usar tecnologias digitais para o planejamento
de suas aulas?
( ) nunca ( ) raramente ( ) às vezes ( ) quase sempre ( ) sempre

7 Em uma escala de 1 a 5, com que frequência você usa tecnologias digitais como uma
ferramenta para sua aula?
( ) nunca ( ) raramente ( ) às vezes ( ) quase sempre ( ) sempre

8 Você sabe o que são inteligências artificiais aplicadas na educação?


( ) sim ( ) não

9 Em uma escala de 1 a 5, quanto você já utilizou algum tipo de inteligência artificial (como
o ChatGPT), seja para preparar aulas ou para situações de aprendizagem com os alunos?
( ) nunca ( ) raramente ( ) às vezes ( ) quase sempre ( ) sempre

10 Você tem interesse em participar de um curso de extensão sobre o uso do ChatGPT na


educação?
34

APÊNDICE B – CRONOGRAMA

Data Atividade

25/03 Presencial (on-line) - Apresentação do Manual do TCC. Apresentação dos egressos José
Edson, Catarine e Cristiane. Apresentação dos professores/orientadores. Dinâmica para
produção dos projetos.

28/03 1ª Entrega - Canvas – Desenho Inicial do Projeto - Incluir arquivo de áudio com
explicação

30/03 Início das orientações

24/04 2ª Entrega - Fundamentação – Curadoria – Mapa de Empatia

02/05 3ª Entrega – Definição da Proposta (Intervenção, Curso, Produto, Framework ...) e


Demanda da Mentoria/Qualificação

06/05 Presencial - Dia da Mentoria/Qualificação

23/05 4ª Entrega - Desenvolvimento Parcial do Projeto

20/06 5ª Entrega – Relatório final e produto educacional

29/06 6ª Entrega – Apresentação (slides)

30/06 Presencial - Bancas de TCC


e
01/07
35

APÊNDICE C – MAPA VISUAL DA CURADORIA


36

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