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Linguagem

Ações verbais, realizadas pelo falante, que afetam o comportamento de outra pessoa que
compartilha da mesma língua.
Muitas pessoas com autismo têm dificuldade em emitir mandos, ou seja, realizar
pedidos (por exemplo, “posso pegar a bola?”) e em nomear itens (por exemplo, “é um
carro!”), e assim também apresentam dificuldade com a linguagem mais avançada
como, por exemplo, iniciar e manter uma conversa. Embora o processo de ensinar essas
habilidades possa ser demorado, é possível ensinar habilidades de conversação usando
técnicas da Análise do Comportamento Aplicada (ABA).
Fazer pedidos (mando), rotular objetos (tato), responder perguntas (intraverbal) e
imitação vocal (ecoico) são exemplos de comportamentos verbais definidos a partir do
estímulo que antecede, da consequência e da emissão de cada uma das respostas
verbais.
O comportamento ecoico, que é foco desse texto, é um comportamento verbal
importante para estabelecer outras habilidades verbais. Uma vez adquirida essa
habilidade de repetir um modelo auditivo apresentado por outra pessoa,
comportamentos verbais mais complexos podem ser ensinados. Por exemplo, quando
uma criança não sabe pedir um pedaço de bolo, a dica verbal “bolo” pode ser
apresentada por um mediador para que a criança repita “bolo” e assim tenha acesso ao
doce desejado. O comportamento ecoico também pode ser solicitado para ensinar a
rotular objetos: na presença de uma bola, por exemplo, o mediador fornece o modelo
ditado “bola”, a criança repete “bola” e, na sequência, recebe um elogio. Como
podemos observar, o ecoico pode ser amplamente utilizado como dica que, aos poucos,
deve ser removida para que o aprendiz possa fazer pedidos, nomear e responder
perguntas de forma independente.
- Imitação vocal: esse procedimento consiste, basicamente, na apresentação do modelo
auditivo pelo educador, espera pela resposta vocal do aprendiz e apresentação de uma
consequência social. O ensino começa com sons ou fonemas pequenos e o mediador
oferece feedback positivo a cada aproximação da resposta ao modelo auditivo
apresentado.
- Transferir a vocalização de fazer pedidos para a imitação vocal: alguns autores
(Drash, High, & Tudor, 1999; Cividini-Mota, Scharrer, & Ahearn, 2017) ensinaram os
aprendizes a fazer pedidos (mandos) - considerando a motivação para obter esses itens
preferidos - e depois a emitir essa vocalização frente aos modelos auditivos (ou seja, nas
tarefas de imitação oral). Vamos pensar em um exemplo: o mediador ensina a resposta
vocal “MM” para a criança obter o confeito de chocolate quando ela quiser (ou seja, a
fazer pedidos). Em seguida, a criança aprende a responder “MM” quando o modelo
vocal “MM” é falado pelo educador (evento antecedente), mesmo que a criança não
sinta vontade em comer o doce naquele dado momento.
- Pareamento Estímulo-Estímulo: nesse procedimento, os educadores apresentam um
modelo auditivo de forma consecutiva e repetitiva, sendo que tal modelo auditivo pode
ser selecionado com base nas vocalizações que a criança já emite ou sons que ela ainda
não produz. Após um determinado número de repetições desse som estabelecido como
alvo (podendo variar de uma a sete repetições), o aprendiz tem acesso ao item desejado,
sem haver necessidade de emitir qualquer oralização. Na sequência, é realizado um
teste para avaliar se essa resposta vocal ocorrerá frente ao modelo auditivo apresentado
pelo mediador (Esch, Carr, & Michael, 2005; Carroll, & Klatt, 2008). Por exemplo, o
mediador apresenta o som alvo “ba” cinco vezes consecutivas, e em seguida entrega
uma porção de chocolate para a criança (sem ela ter emitido qualquer som).
Posteriormente, o mediador avalia se a criança emite o som “ba” imediatamente após
ouvir o modelo fornecido pelo mediador.
- Imitação motora rápida: para realizar esse procedimento, é necessário que o
aprendiz demonstre habilidades de imitação motora generalizada, ou seja, é capaz de
imitar qualquer ação motora. O objetivo desse tipo de intervenção é realizar atividades
de imitação motora consecutivas, antes de solicitar uma resposta ecoica. Alguns estudos
têm demonstrado que esse procedimento aumenta a probabilidade do aprendiz
responder corretamente às demandas de imitação vocal (Bridges, 2020).

Habilidades intraverbais
O intraverbal é um operante verbal que se refere a uma resposta verbal sob controle de
estímulos antecedentes verbais, sendo essa resposta mantida por reforçamento
generalizado (Cooper, Heron & Heward, 2007). Dito de outra forma, refere-se
basicamente ao comportamento de uma pessoa responder a algo que outra pessoa disse,
como responder perguntas ou fazer comentários durante uma conversa. Essa habilidade,
intraverbal, é controlada por declarações verbais feitas por outras pessoas. Um exemplo
é quando um professor pede a seus alunos para nomearem seus alimentos favoritos para
o almoço e o aluno responde “sanduíche!”, nesse momento o aluno é reforçado
socialmente com um elogio. Essa resposta dada pelo aluno é classificada como
intraverbal porque o que foi dito pelo aluno foi produzido por algo que alguém o
perguntou – um estímulo verbal.

O repertório intraverbal pode variar de muito simples a complexa. Vamos ver algumas
possibilidades a seguir:

– Preencher as palavras que faltam em músicas: comece cantando uma música que a
criança goste, mas omita algumas palavras para que a ela seja dita pela criança.

– Sons de animais/objetos: inicie preenchendo perguntas simples como, por exemplo,


“o cachorro faz …” ou “a buzina faz…”. Nesses casos, a resposta esperada da criança é
responder, respectivamente, ‘’auau’’ e ‘’bibibi’’.

– Associações entre palavras: aqui a ideia é fazer com que a criança faça conexões
entre palavras, lugares, ações ou eventos. Nesse sentido, podemos começar com
associações simples e altamente preferidas de duas palavras, como “mamãe e …
(papai)” e “sapatos e … (meias)”. Certifique-se de usar associações de palavras que seu
filho pode fazer no tato.

– Responder a perguntas “WH”: As possibilidades são infinitas! “Qual o seu


nome?”, “qual o nome da sua irmã?”, “onde você vai?”, “qual o nome da sua
professora?”, “onde estão seus brinquedos?”, “onde estão seus sapatos?” e etc.
– Responder perguntas “WH” que têm mais de uma resposta: Mais uma vez, as
possibilidades são infinitas. Esta atividade ajudará seu filho a perceber que há muitas
coisas a dizer sobre um único tópico. Faça perguntas ao seu filho como: “o que você
gosta de comer?”, “cite alguns animais?”, “que coisas você pode ver na
praia?”. Como as pessoas com autismo podem não entender que as respostas podem
mudar, talvez seja necessário modelar maneiras diferentes de responder às mesmas
perguntas. Por exemplo, você pode solicitar que seu filho diga: “água, areia e pipas” em
uma tentativa e na tentativa seguinte ” areia, pás e baldes”.

– Responder a várias perguntas sobre o mesmo tópico: Isso também ajudará seu
filho a perceber que há muitas coisas a dizer sobre um único assunto e ajudará seu filho
a permanecer no assunto por mais tempo. Por exemplo, se o assunto for escola, você
pode levar se manter nesse tema por alguns minutos e perguntar diversas coisas ao seu
filho sobre a escola: em que escola você estuda?, qual o nome da sua professora?, o
que você faz na escola?, o que você comeu na escola?, com quem você brinca na
escola?

Dicas:

– Escolha temas que sejam interessantes para o seu filho.

– Evite a ensinar seu filho a simplesmente memorizar respostas de perguntas. Por isso,
treine variando as perguntas. Por exemplo, “qual o seu nome?”, “como você se chama?”
e etc.

– Antes de ensinar a responder sobre associações de palavras, ensine-o a nomear os


estímulos isoladamente. Afinal, para saber que computador vai com mouse, a criança
precisa saber nomear computador e mouse.

– Outra maneira de ajudar seu filho a aprender a fazer comentários espontâneos é


modelando-os em suas interações diárias com ele. Assim, crie o hábito de fazer
comentários divertidos e entusiasmados sobre as coisas que seu filho está fazendo ao
longo do dia e reforce-o pelas tentativas de comentar ou fazer perguntas.

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