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Controle de Estímulos
Lucelmo Lacerda

Esse é um tema dos mais complicados dentro da Análise do


Comportamento e aqui vamos fazer uma abordagem bem inicial, mas que irá
perpassar por todo nosso curso, que é como os estímulos dos ambientes agem
de diferentes maneiras para controlar o comportamento dos seres humanos.
Apesar de “controle de estímulos” ser um termo abrangente que, por si,
só, poderia indicar relações consequentes e antecedentes, o termo
normalmente é utilizado para falarmos das relações antecedentes à emissão
da resposta, limites que também respeitaremos nesta discussão abreviada
aqui.
Mas é claro que não podemos começar de outra forma que não com uma
definição do que se trata, afinal, o tal do estímulo. Esta expressão é utilizada no
senso comum para designar alguma coisa como alguma fala ou recompensa
para que algum comportamento aconteça, neste caso dizemos que a pessoa
foi “estimulada” a fazer algo. Mas em uma percepção analítico-comportamental,
estímulo é uma mudança física do ambiente, percebida por algum sentido de
um organismo.
Esta mudança física pode ter variada natureza, pode ser na iluminação,
percebida pelos órgãos do sentido da visão, pode ser uma mudança vibratória
do ar, percebido pelos órgãos do sentido a que chamamos de audição, pode
ser uma mudança da físico-química de algum aspecto do corpo, ocorrendo
dentro da pele, percebido pela propriocepção (posição de um membro, por
exemplo) ou nocicepção (dor, por exemplo). Tudo isso são estímulos do
ambiente, mas só são considerados como estímulos que compõem uma
contingência se esta mudança de fato exerce algum tipo de controle sobre um
certo comportamento e não necessariamente somente por existir e ser
percebido pelos sentidos.
Por exemplo, digamos que eu esteja no alto de uma montanha e lá eu
emita o comportamento de falar sobre o vento frio. A mudança do ar de um
lado para o outro, que me permite sentir na pele uma certa sensação, a troca
de calor entre meu corpo e este ar, a visão e audição de uma outra pessoa

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com quem subi a montanha são estímulos seguramente controladores de meu
comportamento, mas uma nuvem específica ou a visão de uma moita
específica também foram percebidos por minha visão, daí que eu tenha emitido
o comportamento de vê-los, no entanto, em uma análise de meu
comportamento de dizer “Esse ventinho aqui esfriou hein?” não tem essa visão
como estímulo.
Bom, dito tudo isso, nós já vimos nos capítulos anteriores de nossos
encontros que o comportamento tem 3 termos, os antecedentes (A), a resposta
em si (B) e as consequências que o mantém (C), mas agora nós falaremos
mais dedicadamente de um termo que vocês já ouviram muito falar, mas de
maneira ainda pouco explicativa, o Estímulo Discriminativo, que é um dos
principais componentes dos antecedentes, junto com as Operações
Motivacionais, que também falaremos por agora.
O Estímulo Discriminativo utiliza a sigla vinda das palavras que o
compõem em inglês, Discriminative Stimulus, daí que temos o tal Sd, assim,
com o S maiúsculo e o d minúsculo. Esse termo diz respeito a algum estímulo
do ambiente que sinaliza para o organismo que, se ele se comportar naquele
momento, então seu comportamento terá alta probabilidade de reforçamento.
Não se preocupe, muitos exemplos virão pela frente neste humilde textinho
(sim, esse recadinho sinaliza para você que continuar lendo, seu
comportamento, terá alta probabilidade de reforçamento - supondo que
compreender o tema seja reforçador para você), então não pare por aqui.
Imagine um bebê, que vamos chamar aqui de Lulu, explorando um
ambiente, que pode ser a sala ou seu próprio quarto, o que faz ele passar a
mão na parede? Lamber o chão? Pegar em tudo? Os antecedentes são
genéricos, inespecíficos, ele vê as superfícies com as quais não possui
qualquer história comportamental e “vai experimentando”, entre estes
comportamentos, alguns possuem consequências vantajosas para ele e são
reforçados enquanto outros não possuem consequência alguma e têm uma
probabilidade reduzida de se repetirem e outros ainda têm consequências
desvantajosas para o organismo sendo, portanto, punidos, isto é, passam a ter
uma probabilidade ainda mais reduzida.

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Suponhamos o seguinte, que o pai, Sr. João, esteja próximo a Lulu, mas
engajado no celular, ainda que esteja, digamos assim, com um olho no peixe e
outro no gato, olhando de quando em vez para esta criança. Em um certo
momento da brincadeira, o bebê coloca o dedo na tomada, quando o Sr. João
dá um pulo do sofá e bloqueia o comportamento de Lulu, pegando-a no colo e
a depositando em outro lado da sala, bem longe da tomada. Neste momento
este cuidador pega um brinquedo e apresenta ao bebê, mostrando como se
brinca, quando Lulu se engaja na nova brincadeira, o Sr. João fica mais
tranquilo e se retira novamente rumo a seu celular.
É claro que este bebê poderia estar saciado de atenção, que poderia ter
recebido um pouco antes, mas para nossa hipótese ficar bem redonda,
digamos que não seja o caso, Lulu estava, na verdade, bem privada de
atenção e antes de ser colocada no chão, Sr. João pouco interagiu com ela,
pois estava e casa, mas trabalhando em Home Office, precisando estar atento
ao celular. Então convenhamos que o comportamento que Lulu emitiu que
produziu a atenção do Sr. João, colocar o dedo na tomada, muito
provavelmente terá sua probabilidade aumentada, justamente porque produziu
aquilo que o bebê mais tinha necessidade daquele momento, a atenção do
cuidador. Podemos dizer que o comportamento de colocar o dedo na tomada
muito provavelmente foi reforçado, mas só iremos ter certeza disso se
medirmos o comportamento e ele aumentar de probabilidade de ocorrência.
Continuamos observando e, voilá, de fato o comportamento ocorreu mais e
mais, Sr. João teve pouco sossego dali para frente.
Lulu realmente aprendeu a colocar o dedo na tomada porque este
comportamento produz um reforçador poderoso demais, a atenção do Sr. João,
seu tão querido pai. Mas este comportamento, é preciso dizer, não ocorre
tendo um pensamento prévio de planejamento, Lulu não disse a si mesma,
dentro da pele “Sabe do que mais, vou ficar colocando o dedo na tomada e aí o
papai vai largar o celular e me dará atenção!”, lembre-se, Lulu é uma
bebezinha e ainda está longe do desenvolvimento desta linguagem e sabemos
que este tipo de relação de reforçamento acontece mesmo em organismos que
não desenvolvem linguagem e até organismos que não possuem cérebro.

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O comportamento de Lulu não acontece, neste começo, diante de algum
aspecto específico do ambiente. Como dito, os antecedentes são inespecíficos.
Mas, porém, contudo, todavia, no entanto, Lulu passa a colocar o dedo na
tomada também em outros contextos. Quando o Sr. João vai ao banheiro e
Lulu coloca o dedo na tomada, nada acontece. Quando o Sr. João vai atender
a uma ligação e fazer algum comando simultâneo no computador, não adianta
Lulu colocar o dedo na tomada, nada acontece também (a pressuposição é que
não haja choque, claro), de modo que Lulu, mesmo pequenina, mesmo ainda
sem linguagem, aprende uma coisa nova e passa a se comportar de modo
diferente, esta aprendizagem chama-se Discriminação, este organismo fofinho
e que dá vontade de apertar passa a discriminar que:
Diante do papai, o comportamento de colocar o dedo na tomada tem alta
probabilidade de produzir o reforçamento e, por sua vez, na ausência do
papai, o comportamento de colocar o dedo na tomada tem baixa
probabilidade de produzir o reforçamento.
Não se engane, pelamor, deixe-me explicar bem, não estamos dizendo
que Lulu coloca a mão no queixo, faz ar de inteligente e diz algo como “Ahhhh,
agora entendi, na ausência do papai não adianta eu colocar o dedo na tomada,
isso seria estúpido porque é super reduzida a probabilidade de que ele me
interrompa de dê atenção, isto tem muito mais alta probabilidade de ocorrer se
ele estiver no ambiente e puder ver o que eu faço. Não contavam com minha
astúcia!”, isto seria impossível para um bebê, na verdade, o que sabemos
muito claramente, porque nos é possível observar e mensurar, é que Lulu
passa a:
Emitir muito mais vezes o comportamento diante do pai. Não emitir o
comportamento ou emiti-lo com muito menos probabilidade na ausência
do pai.
Neste momento, dizemos que o comportamento operante de Lulu, que
ocorria diante de antecedentes inespecíficos, o que chamamos de Operante
Livre, deixou de sê-lo e passou a ser um comportamento que passou a ocorrer
diante de estímulos antecedentes específicos (a visão do pai no ambiente), ou
seja, o que antes era um Operante Livre agora não é mais, ele se tornou um
Operante Discriminado. Agora, qualquer análise comportamental que vá

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examinar a contingência em que o comportamento ocorre vai apontar algo
como: Em privação de atenção (Operação Motivacional Estabelecedora) e
diante do pai (Estímulo Discriminativo – Sd) (A), Lulu emite o comportamento
de colocar o dedo na tomada (B), que é consequenciado com a adição da
atenção do pai ao ambiente (C) que, em momento de privação, sacia a
Operação Motivadora, sendo altamente vantajoso para o organismo (a fofinha
Lulu), fazendo com que o comportamento aumente de probabilidade (Reforço
Positivo).
A relação oposta também é verdadeira, em certo momento Lulu vê o pai
longe, sentado em frente ao computador, por exemplo, este estímulo (ausência
do papai) é chamado de Estímulo Delta, representado pelo símbolo Δ,
somado à sigla de Stimulus, formando o SΔ, que sinaliza que o
comportamento, caso emitido, não será reforçado.
Neste caso, sabemos que Lulu ainda não tem uma linguagem elaborada,
nem na relação com outras pessoas, através da fala ou troca de cartões, nem
dentro da pele, pensando consigo mesma, daí que sabemos que a
discriminação não precisa, necessariamente de uma formulação verbal que a
acompanhe e mesmo quando o indivíduo é plenamente verbal, ele pode fazer
certas coisas em certas circunstâncias, isto é, ter comportamentos
discriminados, que ele não conhece os estímulos discriminativos, isto é, não
consegue descrever quais são os antecedentes específicos que o controlam.
Nossos comportamentos quase sempre são controlados por Estímulos
Discriminativos (Sd), o que torna nossa vida possível. Eu estou neste momento
de escrita, teclando no computador e olhando as palavras se formando na tela,
o que é Sd para eu escrever a próxima palavra e a próxima e a próxima. Se eu
vir a tela ficar preta, ou ainda, aquela maldita tela azul que vira e mexe os
computadores apresentam antes de reiniciarem do nada (aparentemente
reforçados só por a gente ficar com raiva). Então, se eu vir a tela preta ou azul,
isso é Estímulo Delta (SΔ) para eu me comportar, então eu paro de escrever,
porque de nada adiantaria, não vai ter reforçamento algum. Escrever no
computador é, portanto, um Operante Discriminado para mim, como
organismo.

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Mas veja, os Estímulos Discriminativos não se trata de um 8 ou 80, eu
poderia ver as palavras se formando na tela e depois o computador não salvar,
eu vou chamar aqui então o Sd (ver as palavras no word na tela) de Sd1,
enquanto se eu vir, do lado superior esquerdo do software a marcação
“Salvamento Automático” (que aprendi a discriminar à custa da perda de muitos
documentos) é um Estímulo Discriminativo diante do qual a probabilidade de
reforçamento de meu comportamento é muito maior, o que posso chamar aqui
de Sd2, por exemplo. Ou seja, o valor discriminativo de um certo estímulo pode
variar, daí que tenha que ser avaliado segundo seu poder específico de evocar
o comportamento quando a motivação esteja presente.
Voltemos ao exemplo de Lulu, ela pode aprender, no decorrer do tempo,
que a presença do papai no sofá da sala é Sd para seu comportamento de
colocar o dedo na tomada, mas que se ele estiver olhando para ela, a
probabilidade é quase de 100%, daí que esse cenário perfeito seja altamente
capaz de evocar o comportamento dela, mas se ele estiver no zapzap, então
pode ser que ele ainda acuda, mas a probabilidade disso ocorrer já diminui
bastante, daí que a probabilidade de que a visão do Sr. João empolgado no
zapzap, postando figurinhas iradas (a saber, aluninhos queridos, eu estou a par
de todas as figurinhas que me têm como personagem – e adoro a maioria),
tenha menor probabilidade de evocar o comportamento de nossa fofinha de
colocar o dedo na tomada. Ou seja, os Estímulos são discriminativos em certa
gradação, que pode ser extremamente variável.
Além disso, é claro, que pode haver não somente um estímulo
discriminativo no ambiente, mas uma série deles, que podem exercer o
controle sobre o comportamento. Por exemplo, um belo dia alguém pode ter
colocado do lado da cama um violão, que neste caso é o primeiro Sd, que
posso representar com um número ou com uma letra, como Sd a, Sd b, Sd c,
ou Sd 1, Sd 2, Sd 3 e diante deste violão Sd a e de um pedido para tocar uma
música Sd b e da cifra que abri na internet Sd c, então eu poderia tocá-la com
alta probabilidade de reforçamento.

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Vamos dar alguns exemplos do dia a dia de Estímulos Discriminativos:
Antecedente Resposta Consequência
Estímulo Discriminativo
Uma pessoa que já está no elevador Falar “Bom dia” Outra pessoa diz
quando você entra faz contato visual. “Bom dia”
Terapeuta toca o nariz com a mão Tocar o nariz Terapeuta diz
direita (Sd 1) e diz “Faz igual” (Sd 2) com o dedo “Muito bem!” e dá
uma ficha
Semáforo verde Acelero o carro Evito acidente e
multa
Uma tela no celular, com a foto de Toco com o dedo Ouço a música
um cantor que aprecio (Sd 1), o em cima do que me é
nome de uma música que gosto e triângulo agradável
não ouço há muito tempo (Sd 2) e um
símbolo de um triângulo com a ponta
para a direita (Sd 3) e escrito “play”
(Sd 4)
Professora escreve na lousa (mais 10 Aluno grita e É retirado da sala
minutos para terminar a atividade) chora e se livra da lição
aversiva
Diante da porta da academia (Sd 1) Entro e faço Acesso a
atividades físicas sensações
prazerosas na
estimulação
muscular e social

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