Você está na página 1de 11

1

APG 11- “MEU FÍGADO NÃO PASSOU NO TESTE”

Objetivos CARACTERÍSTICAS DO VÍRUS

1- Estudar a epidemiologia, fatores de risco, ↠ O VHA está classificado na família Picornaviridae como
etiologia, fisiopatologia, manifestações clínicas e representante único do gênero Hepatovirus. Como os
diagnóstico das hepatites virais. demais membros dessa família, o VHA não tem envelope
lipídico e seu genoma é revestido por um capsídeo
Hepatites virais proteico composto por 60 cópias de cada uma de suas
proteínas estruturais, VP1, VP2 e VP3 (VEROSENI-
↠ O termo “hepatite viral” é mais comumente utilizado
FOCACCIA, 2015).
no contexto do comprometimento hepático por vírus
hepatotrópicos, que incluem os vírus das hepatites A, B, ↠ Tem a forma icosaédrica, com 28 nm de diâmetro
C, D e E (KUMAR et. al., 2023). (DANI; PASSOS, 2011).
Outros vírus podem infectar o fígado, mas este órgão não é ↠ O genoma do VHA é constituído por uma molécula
nem o local primário de suas replicações, nem o seu alvo principal.
Nessa condição, incluem-se o citomegalovírus, o herpes simples, o
de RNA de fita simples com polaridade positiva que
Epstein-Barr, o vírus da febre amarela e da dengue, assim como funciona, também, como RNA mensageiro (VEROSENI-
outros flavivírus (DANI; PASSOS, 2011). FOCACCIA, 2015).
↠ As hepatites agudas são processos inflamatórios que ↠ Além do hepatotropismo e da inabilidade em suprimir
acometem de maneira difusa o parênquima hepático e a síntese de macromoléculas da célula hospedeira, outras
que têm duração, em geral, inferior a seis meses características distinguem o VHA dos demais membros
(ZATERKA; EISIG., 2016). da família Picornaviridae, como a notável estabilidade da
partícula viral e o ciclo replicativo lento, não citopático, do
↠ As hepatites agudas virais podem ser causadas por
VHA selvagem (VEROSENI-FOCACCIA, 2015).
cinco diferentes tipos de vírus: A, B, C, Delta e E,
denominados vírus hepatotrópicos. Conforme a via de
transmissão, os vírus hepatotrópicos podem ser
classificados em dois grupos: enterais, cuja transmissão se
faz por via fecal-oral, e parenterais, nos quais a
transmissão ocorre através do sangue ou outras
secreções (ZATERKA; EISIG., 2016).

↠ O Brasil registra presença dos cinco vírus


hepatotrópicos, porém, são mais importantes as
infecções causadas pelos vírus A, B e C (ZATERKA;
EISIG., 2016).

MODO DE TRANSMISSÃO
↠ O HAV é transmitido principalmente por via fecal-oral,
sendo rara a via parenteral, dado o curto período de
viremia. A transmissão pessoa a pessoa é a forma mais
frequente de disseminação da doença, ocorrendo em
situações de contato íntimo e prolongado, como nos domicílios, nas
creches, em escolas, instituições e acampamentos militares
(ZATERKA; EISIG., 2016).
Surtos epidêmicos por contaminação dos suprimentos de água
de abastecimento têm sido descritos em algumas regiões, mas são
uma forma menos frequente de disseminação da doença. Alimentos
HEPATITE A crus ou mal cozidos que estiveram em contato com água
contaminada, como frutos do mar, podem gerar surtos epidêmicos da
↠ A infecção pelo vírus da hepatite A (HAV) é uma doença (ZATERKA; EISIG., 2016).
doença autolimitada que não leva à hepatite crônica
(KUMAR et. al., 2023).

Júlia Morbeck – @med.morbeck


2

↠ A viremia não ultrapassa 7 dias, daí porque a doença. Por questões culturais, a subnotificação de HVA é marcante.
transmissão parenteral é rara. Não evolui para hepatite As maiores taxas de casos notificados de hepatite A ocorrem nas
Regiões Centro-Oeste e Norte do Brasil. Apesar das flutuações vistas
crônica, embora raríssimos casos com essa evolução de ano a ano, as taxas nessas regiões permanecem sempre acima da
tenham sido descritos (DANI; PASSOS, 2011). média nacional (VEROSENI-FOCACCIA, 2015).

Outras formas de transmissão da doença já foram


HEPATITE B
descritas, mas com menor importância epidemiológica: transmissão
sexual, uso de drogas ilícitas injetáveis e transfusão de sangue ou por ↠ O vírus da hepatite B (HBV) é do tipo DNA, classificado
via vertical, em que o vírus é transmitido da mãe para o recém-nascido
entre os hepaDNAvírus
no momento do parto (ZATERKA; EISIG., 2016).

↠ Nos países de alta renda, infecções esporádicas CARACTERÍSTICAS DO VÍRUS


podem ser contraídas pelo consumo de moluscos crus ↠ Com vírion completo, a partícula de Dane tendo 42
ou cozidos no vapor (ostras, mexilhões, amêijoas), que nm de diâmetro, com genoma circular, composto de
concentram o vírus da água do mar contaminada por dupla fita de DNA com aproximadamente 3.200 pares de
esgoto humano. Pode ocorrer transmissão sexual, mas base de extensão (DANI; PASSOS, 2011).
não transmissão materno-fetal. Como a viremia do HAV
é transitória, a transmissão hematogênica do HAV é rara, Como observado por Dane, à microscopia eletrônica, no soro
de indivíduos infectados pelo VHB, é possível encontrar três tipos de
e o sangue doado não é submetido a rastreamento para
partículas. A menor delas é esférica, com 22nm de diâmetro e
esse vírus (KUMAR et. al., 2023). representa o antígeno de superfície (AgHBs) com seu envoltório
lipídico. Essas partículas não são infecciosas e produzem-se em grande
↠ O período de incubação dura em média 28 dias, quantidade durante a infecção viral. As partículas de Dane,
podendo variar de 15 a 45 dias. O HAV é excretado nas propriamente ditas, são esferas com 42 nm de diâmetro e constituem
fezes por 1 a 2 semanas antes do início dos sintomas e o vírion completo (VEROSENI-FOCACCIA, 2015).
mantém-se por uma semana após o aparecimento do
quadro clínico. Esta é, portanto, a fase de maior
transmissibilidade da doença (ZATERKA; EISIG., 2016).
O VHA, geralmente adquirido pela via fecal-oral, em razão de
sua capacidade de resistir ao pH ácido, atravessa o estômago e,
provavelmente, se replicará em algum ponto, ainda não determinado,
no trato digestivo. Atravessando o epitélio intestinal mediante sistemas
de transporte ainda não bem definidos, que levam às veias
mesentéricas e ao fígado pelo sistema porta. No hepatócito, ocorre a
replicação viral com participação de mecanismo mediado por uma
polimerase RNA dependente. O VHA é excretado nos sinusoides e
canalículos biliares, atingindo o intestino por meio da bile (VEROSENI-
FOCACCIA, 2015).

O receptor para o HAV nos hepatócitos é a HAVcr-1 (também


conhecida como TIM-1), uma glicoproteína que é membro da família
de proteínas que servem como receptores para vários outros vírus.
O HAV não é citopático, e a lesão hepatocelular é provocada por
linfócitos T citotóxicos e células NK que reconhecem e matam os
hepatócitos infectados pelo vírus (KUMAR et. al., 2023).

EPIDEMIOLOGIA
↠ Nos países em desenvolvimento atinge principalmente
crianças de 6 a 15 anos de idade, e sua prevalência varia
de região para região, na dependência das condições de
As partículas de Dane são constituídas por um envoltório lipídico
higiene e padrão socioeconômico; quanto mais precárias
externo que contém o antígeno de superfície do VHB (AgHBs) e uma
forem as condições de saúde de determinada região, região nuclear densa (core). Esse núcleo central tem uma proteína
mais baixa é a faixa etária em que incide a doença interna (AgHBc) que induz a formação de anticorpos específicos (anti-
(ZATERKA; EISIG., 2016). HBc) pelos indivíduos infectados (VEROSENI-FOCACCIA, 2015).

A hepatite A é de notificação compulsória no país, sendo os O antígeno do core (AgHBc) não é secretado, por isso é muito difícil
dados do sistema de vigilância baseados na notificação passiva dessa sua detecção no sangue circulante, diferentemente do que ocorre no

Júlia Morbeck – @med.morbeck


3

fígado doente, onde é abundante. O AgHBc pode ser encontrado nos O gene P codifica a DNA-polimerase, uma enzima es pecífica
hepatócitos de doentes aguda ou cronicamente infectados pela técnica fundamental para a duplicação do DNA, que também tem atividade de
da imunoperoxidase (VEROSENI-FOCACCIA, 2015). transcriptase reversa (VEROSENI-FOCACCIA, 2015).

Na zona central da partícula de Dane, encontra-se, ainda, o ácido REPLICAÇÃO DO VHB


nucleico viral (DNA-VHB). Esse DNA, que forma a matriz genética do
vírus, tem uma dupla cadeia disposta circularmente com 3.200
nucleotídeos. No genoma, ainda se localizam enzimas como a DNA-
polimerase e a fosfoquinase (VEROSENI-FOCACCIA, 2015).

Na parte central do vírus, também está presente o antígeno e


(AgHBe), que é secretado e, diferentemente do AgHBc, pode ser
facilmente detectado no sangue. O AgHBe se associa à replicação e
à infectividade virais e induz a formação de um anticorpo específico
(anti-HBe), normalmente relacionado com a parada da replicação viral
(VEROSENI-FOCACCIA, 2015).

GENOMA

↠ Nesse genoma, identificam-se quatro estruturas


A entrada do HBV nos hepatócitos ocorre por meio da ligação do
gênicas principais: S, P, C, X, que possuem diferentes HbsAg grande ao transportador de sais biliares, conhecido como
funções (VEROSENI-FOCACCIA, 2015). polipeptídeo cotransportador de sódio-taurocolato (NTCP) (KUMAR et.
al., 2023).

O vírus se liga, por um peptídeo codificado pela região pré-S1, a um


receptor específico localizado na membrana do hepatócito quando,
então, perde seu envoltório e, por meio da albumina polimerizada, o
genoma viral é introduzido na célula hepática (VEROSENI-FOCACCIA,
2015).

O DNA-VHB, ao alcançar o núcleo do hepatócito, pela ação da DNA-


polimerase, perde sua disposição circular e se converte em DNA
super-helicoidal (ccc-DNA) que servirá de molde para a síntese do RNA
viral. Isso ocorre pela transcrição dos genes virais, no núcleo da célula
infectada. Mediante a transcrição reversa, produzir-se-á um RNA pré-
genômico de 3,5 Kb (VEROSENI-FOCACCIA, 2015).

A partir daí, ambos, o RNA mensageiro e o RNA pré-genômico, são


transportados para dentro do citoplasma, onde serão transcritos para
a produção do pré-genoma. Várias cópias do pré-genoma são, então,
elaboradas. Nesta fase não ocorre integração do DNA viral no genoma
do hospedeiro. Esse grande RNA de 3,5 Kb, que serve de molde para
a transcrição reversa, contém todas as informações presentes no DNA
viral. Enquanto isso, no citoplasma da célula hospedeira, são sintetizadas
as proteínas do core, as quais encapsularão o RNA pré-genômico e a
O gene S é dividido em três sítios de iniciação, o que levará à DNA-polimerase (VEROSENI-FOCACCIA, 2015).
formação de três diferentes proteínas de superfície com suas formas
No citoplasma, particularmente no retículo endoplasmático e no
glicosiladas: a p25 (proteína de cadeia curta ou S); a p33 (proteína de
complexo de Golgi, ocorrerá a transcrição reversa do pré-genoma,
cadeia média ou pré-S2); e a p139 (proteína de cadeia longa ou pré-
sendo, então, sintetizada a cadeia longa (minus) do DNA viral. O pré-
S1). Entre esses peptídeos, a p25 é predominante e representa o
genoma, que produziu a cadeia longa, é destruído por ação enzimática,
principal antígeno de superfície (AgHBs) que vai induzir a formação do
e essa cadeia, por meio da DNA-polimerase, produzirá a outra cadeia
anticorpo anti-HBs. Esse peptídeo é encontrado em níveis elevados
do DNA-viral (cadeia curta ou plus). Esse capsídeo será envolvido pelo
nas fases aguda ou crônica da hepatite B (VEROSENI-FOCACCIA, 2015).
envelope externo e essa estrutura viral completa deixa a célula
As regiões pré-S1 e pré-S2, durante a penetração do VHB no (VEROSENI-FOCACCIA, 2015).
hepatócito, unem-se à membrana hepatocítica mediante a formação
de pontes e participam, portanto, como elemento de ligação para a MODO DE TRANSMISSÃO
adsorção do VHB (VEROSENI-FOCACCIA, 2015).
↠ O HBV pode ser transmitido por via parenteral, sexual
O gene C e a região pré-C (pré-core) que o precede codificam, e vertical (ZATERKA; EISIG., 2016).
respectivamente, o antígeno do core (AgHBc) e o antígeno e (AgHBe)
do VHB (VEROSENI-FOCACCIA, 2015). O VHB está presente no sangue, saliva, sêmen, secreções
vaginais, e, em menor grau, suor, leite materno, lágrimas e urina de

Júlia Morbeck – @med.morbeck


4

indivíduos infectados. Esse vírus é resistente ao calor, pode sobreviver profissionais de saúde (acidentes perfurocortantes) e destes para
fora do corpo e é facilmente transmitido pelo contato com líquidos pacientes (cirurgias) (VEROSENI-FOCACCIA, 2015).
corporais infectados (VEROSENI-FOCACCIA, 2015).

↠ Atinge todas as faixas etárias, predominando entre os


20 e os 40 anos de idade, já que a via sexual é hoje a
principal forma de disseminação da doença (ZATERKA;
EISIG., 2016).
Atualmente, a transmissão por transfusões de sangue é
praticamente nula, em função do controle nos bancos de sangue, mas
outras formas de transmissão parenteral podem ocorrer: uso de
drogas intravenosas, acidentes ocupacionais, tatuagens, acupuntura ou
outros procedimentos envolvendo materiais potencialmente PATOGÊNESE
contaminados (ZATERKA; EISIG., 2016).
Existem evidências consideráveis de que a hepatite B se inicia por uma
resposta imunocelular dirigida contra antígenos virais específicos que
↠ Os portadores funcionam como um grande
levarão ao dano hepático (VEROSENI-FOCACCIA, 2015).
reservatório da infecção, e são responsáveis pela
ocorrência das formas agudas de infecção. O período de Provavelmente a participação dos dois componentes da resposta
incubação da infecção pelo HBV é de 45 a 90 dias, imune (celular e humoral) seja necessária para que ocorra a eliminação
do vírus, além da inativação viral intracelular produzida por citocinas
podendo se estender até 180 dias (ZATERKA; EISIG., 2016). liberadas pelas células linfomononucleares. As principais citocinas
produzidas e liberadas no fígado são as interleucinas, o interferon-
EPIDEMIOLOGIA gama (IFN-.) e o fator de necrose tumoral (FNT), que podem levar
diretamente à morte dos hepatócitos infectados ou sãos (VEROSENI-
↠ A hepatite B continua sendo um problema de saúde FOCACCIA, 2015).
pública global, apesar dos esforços para eliminar essa
infecção viral crônica por meio de orientação, triagem e Os interferons produzem um estado de “alerta” antiviral no fígado,
reduzindo a replicação e induzindo a expressão das glicoproteínas da
dos programas de vacinação (VEROSENI-FOCACCIA,
classe 1 do MHC (complexo maior de histocompatibilidade). Além disso,
2015). ocorre ativação das células T citotóxicas antivirais específicas, com a
consequente produção de anticorpos antivirais neutralizantes que
↠ A hepatite B continua representando importante limitam a reinfecção das células hepáticas pelos vírus circulantes
problema de saúde pública em todo o mundo, estimando- (VEROSENI-FOCACCIA, 2015).
se que existam globalmente 300 milhões de portadores
A ativação das células destruidoras naturais (NK) as faz migrar para o
crônicos do vírus (ZATERKA; EISIG., 2016). fígado para destruir os hepatócitos infectados. Durante a fase aguda
da hepatite viral, os hepatócitos infectados pelo VHB expressarão na
↠ Os pacientes com hepatite crônica por VHB têm entre sua superfície um complexo formado por proteínas do core do VHB
15 e 40% de risco de desenvolver cirrose, insuficiência e proteínas da classe 1 do HLA (antígeno linfocitário humano). O linfócito
hepática ou carcinoma hepatocelular (CHC); e entre 15 e T citotóxico reconhece as proteínas do core viral (AgHBc e AgHBe)
25% de risco de morte por doença relacionada com a e o peptídeo da classe 1 do HLA e, ao atacar o hepatócito infectado,
produz a lise celular ou a sua degeneração (VEROSENI-FOCACCIA,
infecção por VHB (VEROSENI-FOCACCIA, 2015).
2015).
↠ Nas áreas de alta incidência de infecção pelo VHB, a A resposta das células T às proteínas virais sintetizadas,
transmissão é usualmente vertical (mãe-filho) ou e que se expressam em antígenos HLA de classe 1 na superfície dos
horizontal (entre familiares). Nas áreas de baixa hepatócitos infectados, representa o maior determinante da lise dessas
prevalência, o VHB é doença de adolescentes e adultos células. Quando esse mecanismo é eficiente, dá-se a recuperação da
infecção. Essa lise imunológica dos hepatócitos infectados é, portanto,
jovens com predominância das transmissões sexual e a base histopatológica da enfermidade crônica produzida pelo VHB. O
parenteral (VEROSENI-FOCACCIA, 2015). indivíduo poderá desenvolver infecção crônica porque não ocorre a
expressão da classe 1 do HLA ou porque o linfócito citotóxico não é
Na exposição vertical, a transmissão pode ocorrer durante o
apropriadamente estimulado ou, ainda, por algum outro mecanismo
parto, pela exposição do RN a sangue ou líquido amniótico (onde está
desconhecido (VEROSENI-FOCACCIA, 2015).
presente o VHB), durante a passagem pelo canal vaginal, pela
amamentação e, também, mais raramente, por transmissão
HEPATITE C
transplacentária (VEROSENI-FOCACCIA, 2015).

A transmissão nosocomial do VHB também pode ocorrer.


↠ O vírus da hepatite C (HCV) raramente causa hepatite
Existem casos de transmissão entre pacientes, de pacientes para aguda sintomática, porém constitui a causa mais comum
de hepatite viral crônica (KUMAR et. al., 2023).

Júlia Morbeck – @med.morbeck


5

CARACTERÍSTICAS DO VÍRUS
↠ O vírus C da hepatite (HCV) é do tipo RNA, semelhante
aos flavivírus e classificado atualmente como um
hepacivírus (ZATERKA; EISIG., 2016). Composto de
genoma de fita única (DANI; PASSOS, 2011).

↠ O HCV é um pequeno vírus de RNA de fita simples e


envelopado, com um quadro de leitura aberto que codifica
uma única poliproteína, que é subsequentemente
processada em várias proteínas funcionais, incluindo duas
proteínas do envelope, E1 e E2, e cinco proteínas do
cerne: p7, NS2, NS3/4a (protease), NS5A (complexo de
replicação) e NS5B (RNA polimerase) (KUMAR et. al.,
2023).

↠ Destaque-se como importante característica do vírus


C, a grande variedade de genótipos (9) e subtipos (76) já
descritos, com grande variabilidade de prevalência ao
longo do mundo, além de um mecanismo complexo de
fuga imunológica, que dificulta sua eliminação pelo sistema
imune na maioria dos casos, levando a cronificação da
hepatite C (SILVA et. al., 2012).
A incapacidade da resposta imune do hospedeiro de eliminar o
HCV está relacionada com o rápido surgimento de variantes genéticas,
tanto na população quanto nos indivíduos infectados. A RNA polimerase
do HCV apresenta baixa fidelidade, dando origem a variantes que são
classificadas em sete genótipos e muitos subtipos. Com a progressão
da doença, múltiplas variantes genéticas “pessoais”, conhecidas como
quasispécies, surgem em indivíduos infectados. Os anticorpos anti-HCV MODO DE TRANSMISSÃO
dirigidos contra a proteína do envelope E2 são comuns e têm
↠ O HCV transmite-se por via parenteral, através do
atividade neutralizante, porém as variantes emergentes com epítopos
E2 alterados escapam dessa defesa do hospedeiro. A protease sangue ou seus derivados. Embora possam ocorrer, as
NS3/NS4A também afeta a resposta antiviral celular mediada por transmissões por via sexual ou vertical são pouco
interferona, bloqueando outros meios potenciais de defesa do relevantes na epidemiologia da doença (ZATERKA; EISIG.,
hospedeiro (KUMAR et. al., 2023).
2016).
O período de incubação da hepatite C é variável, em função da
carga do inóculo. Pode variar de 30 a 180 dias (ZATERKA; EISIG., 2016).

↠ O período de incubação da hepatite por HCV varia de


4 a 26 semanas, com média de 9 semanas. O RNA do
HCV é detectável no sangue durante 1 a 3 semanas na
infecção aguda e coincide com o aumento das

Júlia Morbeck – @med.morbeck


6

transaminases. Os anticorpos anti-HCV surgem 3 a 6 ↠ A replicação do vírus ocorre por meio de síntese de
semanas após a infecção. A eliminação espontânea do RNA dirigida por RNA pela RNA polimerase do hospedeiro.
vírus após 4 a 6 meses é rara, de modo que a detecção A base dos surtos de doença associados à superinfecção
persistente do RNA do HCV depois desse período pelo HDV não está bem elucidada; foram sugeridos
fornece um indicador de infecção crônica pelo HCV efeitos citopáticos e aumento das respostas citotóxicas
(KUMAR et. al., 2023). do hospedeiro (KUMAR et. al., 2023).

EPIDEMIOLOGIA O VHB exerce função de fornecedor de moléculas do HBsAg


ao vírus delta, as quais servem de invólucro e proteção para este
↠ A prevalência varia mundialmente, e no Brasil estima- último, permitindo desse modo sua replicação, transmissão,
se que existam cerca de 2 milhões de portadores do infectividade, penetração e a replicação exclusiva nos hepatócitos.
Portanto, a infecção com o vírus da hepatite D ocorre somente
vírus. Após a introdução dos testes sorológicos para associada à presença do VHB (SILVA et. al., 2012).
detecção do HCV nos bancos de sangue, a incidência da
doença caiu dramaticamente. Atualmente, a ocorrência de MODO DE TRANSMISSÃO
casos agudos de infecção pelo HCV é pouco frequente,
↠ A transmissão do HDV ocorre por via parenteral,
mas tem sido relatada em algumas populações, como os
sendo o uso de drogas ilícitas injetáveis a principal forma
usuários de drogas intravenosas e os hemodialisados
de disseminação da doença (ZATERKA; EISIG., 2016).
(ZATERKA; EISIG., 2016).
O vírus C é considerado um vírus oncogênico, associando-se à ↠ Ocorre mais frequentemente entre usuários de
instalação do carcinoma hepatocelular (DANI; PASSOS, 2011). drogas injetáveis em países desenvolvidos, e nas
populações que habitam a região da Amazônia ocidental
HEPATITE D (ZATERKA; EISIG., 2016).
↠ O vírus da hepatite D (HDV) ou “agente delta” é um ↠ A infecção aguda pelo HDV pode ocorrer de duas
vírus de RNA característico, que depende do HBV para o formas: coinfecção e superinfecção. Na coinfecção
seu ciclo de vida (KUMAR et. al., 2023). adquirem-se, a um só tempo, o HBV e o HDV. A evolução,
CARACTERÍSTICAS DO VÍRUS embora possa ser grave na fase aguda, em geral resulta
no clareamento de ambos os vírus. Na superinfecção o
↠ O vírus da hepatite Delta (HDV) é do tipo RNA, portador crônico de HBV adquire a infecção aguda pelo
defectivo, que necessita do vírus B para sua Delta, o que acarreta evolução para formas graves de
sobrevivência. É o único representante da família doença, com alta incidência de hepatite fulminante e
Deltaviridae (ZATERKA; EISIG., 2016). evolução para cronicidade do HDV em 70% dos casos
(ZATERKA; EISIG., 2016).
• Ocorre coinfecção após a exposição a soro contendo tanto
HDV quanto HBV. A coinfecção pode resultar em hepatite
aguda, que é indistinguível da hepatite B aguda. Ela é
autolimitada e geralmente é seguida de eliminação de
ambos os vírus. Entretanto, existe uma maior taxa de
insuficiência hepática aguda em usuários de substâncias
intravenosas (KUMAR et. al., 2023).
• Ocorre superinfecção quando um portador crônico de
HBV é exposto a um novo inóculo de HDV. Isso resulta em
doença dentro de 30 a 50 dias, que se manifesta como
hepatite aguda grave em um portador de HBV
assintomático ou como exacerbação de infecção crônica
↠ O antígeno de revestimento externo do HDV envolve preexistente pelo vírus da hepatite B. A infecção crônica
uma montagem polipeptídica interna, denominada pelo HDV ocorre em mais de 80% das superinfecções e
antígeno delta (HDAg), que é a única proteína produzida pode apresentar duas fases: uma fase aguda, com
replicação ativa do HDV e supressão do HBV associada a
pelo vírus. Associada à partícula viral, existe uma pequena
níveis elevados de transaminases; e uma fase crônica, em
molécula circular de RNA de fita simples, cujo que a replicação do HDV diminui, a replicação do HBV
comprimento é o mais curto de qualquer vírus animal aumenta e os níveis de transaminases flutuam (KUMAR et.
conhecido (KUMAR et. al., 2023). al., 2023).

Júlia Morbeck – @med.morbeck


7

EPIDEMIOLOGIA replica no citoplasma dos hepatócitos (VEROSENI-


FOCACCIA, 2015).
↠ A doença ocorre em praticamente todo o mundo,
com maior prevalência em áreas tropicais da America do EPIDEMIOLOGIA
Sul e da África Subsaariana, nas quais a infecção pelo VHB
↠ O HEV é uma doença zoonótica com reservatórios
é consideravelmente elevada (SILVA et. al., 2012).
animais, como macacos, gatos, porcos e cães. Foram
↠ No Brasil, os casos de hepatite delta concentram-se na relatadas epidemias na Ásia e no subcontinente indiano,
Amazônia Ocidental, que apresenta uma das maiores na África Subsaariana, no Oriente Médio, na China e no
incidências mundiais da doença, ocorrendo principalmente México (KUMAR et. al., 2023).
entre crianças e adultos jovens (SILVA et. al., 2012).
O HIV é um importante fator de comorbidade nas infecções por
vírus hepatotrópicos. A coinfecção pelo HIV e por vírus da hepatite é
HEPATITE E comum nos EUA, visto que entre 10 e 25% dos indivíduos infectados
↠ O vírus da hepatite E (HEV) é uma infecção transmitida pelo HIV também são infectados por HBV e HCV, respectivamente.
As infecções crônicas por HBV e HCV constituem as principais causas
entericamente pela água, cuja ocorrência se dá de morbidade e mortalidade em indivíduos infectados pelo HIV, embora
principalmente em jovens e adultos de meia-idade a gravidade e a progressão em pacientes imunocompetentes
(KUMAR et. al., 2023). infectados pelo HIV sejam semelhantes àquelas de indivíduos HIV
negativos. A infecção pelo HIV não tratada exacerba de modo
CARACTERÍSTICAS DO VÍRUS significativo a gravidade da doença hepática causada por HBV ou HCV
(KUMAR et. al., 2023).
↠ Descoberto em 1983, o HEV é um vírus de RNA de
fita positiva e não envelopado, do gênero Hepevirus. O MECANISMO DE LESÃO CELULAR (PATOGÊNESE)
genoma de RNA tem 7,3 kb de comprimento e contém Aceita-se que a magnitude da lesão celular, nas hepatites agudas,
quatro quadros de leitura abertos, que codificam múltiplas dependa da carga viral e da capacidade de multiplicação do agente
proteínas, incluindo uma protease viral e a RNA viral (DANI; PASSOS, 2011).
polimerase viral (KUMAR et. al., 2023).
↠ Por sua vez, tem importância a resposta despertada
↠ O HEV não é citopático, e acredita-se que os danos pelo hospedeiro, classificada como: (DANI; PASSOS, 2011).
hepáticos sejam decorrentes da resposta do hospedeiro
• não especifica, dependente da participação de
às células infectadas pelo vírus (KUMAR et. al., 2023).
interferon, complemento e linfócito NK;
• de células killer, como neutrófilos e macrófagos,
as quais requerem anticorpos para sua atuação;
• especificidade exercida pelos linfócitos T
citotóxicos (CTC).

↠ Esses mecanismos atuam visando a eliminar o agente


viral, precipitando a lise celular. Quando essas respostas se
revelam eficientes e precoces, propiciam a cura
sorológica e restituição total do parênquima, não
facilitando a instalação de estado de portador ou de
hepatite crônica. Além desses efeitos, o vírus pode lesar
a célula do hospedeiro ao interferir diretamente com o
seu maquinismo, ou exercer toxicidade a partir de seus
MODO DE TRANSMISSÃO produtos (DANI; PASSOS, 2011).
↠ Sua transmissão é fecal-oral, à semelhança da hepatite
HEPATITE AGUDA X CRÔNICA
A (ZATERKA; EISIG., 2016).
Do ponto de vista de classificação morfológica, as hepatites virais
↠ Após a entrada do VHE no hospedeiro, habitualmente agudas são consideradas doenças necroinflamatórias difusas que
por via oral na ingestão de água e alimentos envolvem, primariamente, o parênquima lobular, enquanto as hepatites
contaminados, ele atinge o fígado por mecanismos crônicas acometem, predominantemente, as áreas portais e
desconhecidos até agora. Sabe-se, porém, que o VHE se periportais. As hepatites virais agudas, geralmente, duram menos do
que seis meses e produzem degenerações hepatocelulares (necroses
focais, corpos acidófilos e apoptose celular), inflamações difusas

Júlia Morbeck – @med.morbeck


8

(ativações de células sinusoidais, células de Kupffer e inflamação das ↠ Ocorre desenvolvimento de septos fibrosos, que
células mononucleares lobulares e portais, e endoflebites das vênulas levam à fibrose em ponte portoportal e, por fim, à cirrose
centrais) e regenerações hepatocelulares (mitoses e hepatócitos
multinucleados). As hepatites virais crônicas são definidas
(KUMAR et. al., 2023).
morfologicamente como doenças hepáticas necroinflamatórias, difusas
e fibrosantes, e que duram mais de seis meses (VEROSENI-
↠ Algumas características morfológicas estão presentes
FOCACCIA, 2015). em determinados subtipos de hepatite viral crônica:
(KUMAR et. al., 2023).
HEPATITE VIRAL AGUDA
• Na hepatite B crônica, o retículo endoplasmático dos
↠ A hepatite viral aguda, o tamanho do fígado pode ser hepatócitos está intumescido e preenchido por HBsAg,
normal, aumentado (devido à inflamação) ou diminuído levando a uma aparência de “vidro fosco”. A imuno-
histoquímica para os antígenos de superfície e do cerne da
(retraído) nos casos associados à insuficiência hepática
hepatite B pode confirmar a infecção por HBV.
aguda e à necrose hepática maciça (KUMAR et. al., 2023). • Em geral, a hepatite C crônica exibe agregados linfoides
proeminentes ou folículos linfoides totalmente formados
↠ No exame microscópico, há um infiltrado inflamatório nos tratos portais. A esteatose é comum na hepatite C
portal e lobular, constituído predominantemente de crônica e pode ser significativa nos casos de infecção pelo
linfócitos e uma mistura variável de plasmócitos e genótipo. Pode-se observar a presença de lesão dos ductos
eosinófilos. A lesão dos hepatócitos pode resultar em biliares na hepatite C, simulando uma doença biliar, porém
isso normalmente é um achado focal.
necrose ou apoptose, geralmente com macrófagos
pigmentados, que removem os restos celulares mortos. Com frequência, a biopsia de fígado é realizada para
Nos casos graves, pode-se observar a necrose de grupos confirmar o diagnóstico de hepatite crônica e para avaliar a atividade
inflamatória (grau) e a fibrose (estágio). O estágio da doença é utilizado
de hepatócitos (i. e., necrose confluente), que pode
em associação a outros parâmetros clínicos para determinar a
progredir para a necrose do lóbulo inteiro (i. e., necrose abordagem terapêutica (KUMAR et. al., 2023).
panlobular ou panacinar) ou conectar estruturas
vasculares (i. e., necrose em ponte). Além disso, pode
haver o desenvolvimento de insuficiência hepática com
necrose hepática maciça (KUMAR et. al., 2023).

Hepatócitos com aspecto de vidro fosco na hepatite B crônica, causados pelo acúmulo do
antígeno de superfície do vírus da hepatite B no retículo endoplasmático. As inclusões
citoplasmáticas são de coloração rosa-claro e finamente granulares na coloração pela
hematoxilina e pela eosina; a imuno-histoquímica (detalhe) confirma que elas contêm o antígeno
de superfície da hepatite B (em marrom).

HEPATITE VIRAL CRÔNICA MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS


↠ A característica histológica definidora da hepatite viral ↠ O quadro clínico das hepatites agudas virais é bastante
crônica é a inflamação linfocitária ou linfoplasmocitária semelhante, seja qual for o vírus envolvido, e
portal com fibrose. Com frequência, as células compreende quatro períodos distintos: de incubação,
inflamatórias cruzam a placa limitante e levam à lesão dos prodrômico, de estado e de convalescença (ZATERKA;
hepatócitos periportais (atividade de interface). Isso pode EISIG., 2016).
ser acompanhado de grau variável de inflamação lobular.
Há formação de fibrose com o aumento dos danos • Incubação: é o período que se estende desde o
hepáticos, que se manifesta inicialmente como fibrose momento da contaminação até o aparecimento
portal e periporta (KUMAR et. al., 2023). do primeiro sintoma. É variável conforme o tipo
de vírus responsável.

Júlia Morbeck – @med.morbeck


9

• Prodrômico: caracteriza-se por manifestações por queda rápida das aminotransferases e


de quadro viral inespecífico. Dura em média uma elevação das bilirrubinas.
semana, podendo ser mais prolongado. Às vezes, • Hepatite prolongada: é aquela em que a fase
manifestações decorrentes da formação de aguda se arrasta por mais de quatro meses, com
imunocomplexos podem ocorrer, como artralgias, sinais de melhora progressiva, porém lenta. A
púrpuras, glomerulites e manifestações dermatológicas .
evolução para cura, entretanto, é regra nesses
• Estado: nas formas ictéricas clássicas, a colúria é casos. Muitas vezes pode se apresentar com
o primeiro sintoma que faz sugerir o diagnóstico características de quadro recorrente, com
de hepatite. Precede de 1 a 2 dias o quadro reativação clínica e bioquímica após
ictérico. Conforme este se acentua, as fezes recuperação aparentemente completa do
ficam descoradas ou até acólicas. Nesse período, quadro. Tem sido frequente mente relatada em
os sintomas inespecíficos da fase prodrômica adultos com hepatite A.
tendem a desaparecer e o paciente sente-se • Hepatite colestática: caracterizada por prurido
melhor. De acordo com a intensidade da icterícia, pode intenso, elevação significativa das enzimas
ser acompanhado por prurido. O exame físico mostra
hepatomegalia dolorosa (70% dos casos) e esplenomegalia
colestáticas e da bilirrubina. É importante
(20%). A rápida regressão do tamanho do fígado e a piora estabelecer o correto diagnóstico diferencial
da icterícia podem sugerir má evolução. O período ictérico com icterícia obstrutiva. Em geral, a evolução é
dura de 4 a 6 semanas, em geral. favorável, com recuperação completa do
• Convalescença: os sintomas desaparecem e quadro em 2 a 6 meses.
exames laboratoriais tendem à normalização,
que em geral ocorre até o quarto mês. ESPECIFICIDADES NAS MNIFESTAÇÕES
As hepatites agudas, em geral, têm boa evolução. A A hepatite crônica pelo VHB geralmente é
hepatite pelos vírus A não cronifica. Até recentemente se acreditava
assintomática até o aparecimento de sinais e sintomas de
que a hepatite E, à semelhança da hepatite A, também não evoluía
para formas crônicas de doença. Entretanto, relatos recentes indicam doença hepática avançada. Muitos pacientes descobrem a
que, em pacientes imunossuprimidos, a hepatite E pode ser hepatite por meio de sorologias positivas ou elevações de
responsável por quadros de infecção crônica. Já as hepatites B, C e aminotransferases ao realizar uma doação de sangue, durante a
Delta devem ser cuidadosamente acompanhadas, pois cronificam em realização de exames de sangue de rotina ou na investigação de
porcentagens elevadas de casos, sobretudo a hepatite C, cuja taxa de outras doenças. Quando questionados, a astenia é um dos
cronificação é de cerca de 80% (ZATERKA; EISIG., 2016). sintomas mais relatados. Outras manifestações relatadas
incluem artralgias, anorexia, dor vaga e persistente em
↠ Embora a maior parte das hepatites agudas virais tenha
hipocôndrio direito. Icterícia, aparecimento de hematomas
boa evolução, algumas formas particulares merecem ser
e sangramento fácil, edema e ascite indicam
consideradas: (ZATERKA; EISIG., 2016).
desenvolvimento de doença hepática avançada, como a
• Hepatite anictérica: é a forma mais comum de evolução para a cirrose hepática e/ou desenvolvimento
hepatite (70% dos casos). Em geral esta forma do carcinoma hepatocelular (ZATERKA; EISIG., 2016).
passa despercebida e o diagnóstico de hepatite
aguda não chega a ser estabelecido e DIAGNÓSTICO
confirmado laboratorialmente. Parece acarretar ↠ As hepatites agudas virais caracterizam-se, seja qual
maior tendência à cronificação, quando causada for o vírus causador, por níveis de aminotransferases
pelos vírus B e C. (ALT e AST) em geral superiores a 10 vezes o limite
• Hepatite fulminante: ocorre em menos de 1% superior da normalidade (xLSN), sendo que a dosagem
dos casos de hepatite, independentemente da dessas enzimas é utilizada tanto no diagnóstico como para
etiologia, e é bastante rara nas infecções pelo acompanhamento da evolução do quadro (ZATERKA;
HCV. É a forma mais temida da doença, pois EISIG., 2016).
apresenta elevada taxa de mortalidade (superior
a 80%) nos centros que não dispõem de ↠ A persistência de níveis elevados de aminotransferases
transplante de fígado. Vômitos, sonolência, por período superior a seis meses indica diagnóstico de
confusão mental, piora da icterícia e regressão hepatite crônica, que necessita ser confirmado por estudo
rápida da hepatomegalia prenunciam esta histológico do fígado (ZATERKA; EISIG., 2016).
condição, que laboratorialmente se caracteriza

Júlia Morbeck – @med.morbeck


10

↠ Os níveis de bilirrubinas atingem seu máximo após o HEPATITE B


pico das aminotransferases, e em geral a bilirrubina total
não ultrapassa o nível de 10 mg/dL, diminuindo mais
lentamente que as aminotransferases. Formas colestáticas
podem ocorrer, com importante elevação dos níveis de bilirrubinas,
fosfatase alcalina e gama-GT; o diagnóstico diferencial com icterícias
obstrutivas extra-hepáticas, nesses casos, impõe-se, estando indicado
o emprego da ultrassonografia (ZATERKA; EISIG., 2016).

↠ O diagnóstico etiológico das hepatites é realizado por


Alterações temporais dos marcadores sorológicos na infecção pelo vírus da hepatite B. A.
meio dos marcadores sorológicos, que são antígenos e Infecção aguda com resolução. B. Progressão para a infecção crônica. Em alguns casos de
hepatite B crônica, os níveis séricos de transaminases podem tornar-se normais.
anticorpos detectados no soro em consequência da
infecção viral (ZATERKA; EISIG., 2016). Algumas características relevantes desses marcadores merecem ser
citadas: (KUMAR et. al., 2023).
HEPATITE A
• O HBsAg aparece antes do início dos sintomas e alcança
um pico na doença sintomática aguda. Em pacientes com
resolução da infecção, o HBsAg com frequência declina
para níveis indetectáveis em 12 semanas, porém pode
persistir por até 24 semanas. Em contrapartida, o HBsAg
persiste nos casos que progridem para a cronicidade
• O anticorpo anti-HBs começa a surgir após a resolução da
doença aguda, geralmente após o desaparecimento do
HBsAg. Em alguns casos, o aparecimento do anticorpo anti-
HBs é retardado até várias semanas a meses após o
desaparecimento do HBsAg; nesses casos, pode-se
estabelecer um diagnóstico sorológico pela detecção do
anticorpo IgM anti-HBc. Os anticorpos anti-HBs tendem a
persistir durante toda a vida, conferindo proteção ao
organismo, base essa das estratégias atuais de vacinação
que utilizam o HBsAg não infeccioso. Em contrapartida, os
anticorpos anti-HBs não são produzidos nos casos que
progridem para a doença hepática crônica, que também
está associada a elevações persistentes e variáveis dos
níveis séricos de transaminases na maioria dos casos (mas
não em todos).
• O HBeAg, o DNA do HBV e a DNA polimerase do HBV são
Alterações temporais dos marcadores sorológicos na infecção aguda pelo vírus da hepatite A
(HAV). IgM, imunoglobulina M.
detectáveis no soro logo após o HBsAg e indicam uma
replicação viral ativa. A persistência do HBeAg é um
importante indicador de replicação viral contínua,
↠ O diagnóstico da hepatite A é confirmado pela infectividade e provável progressão para a hepatite crônica.
presença do marcador sorológico anti-HAV IgM, cuja Uma ressalva é o possível surgimento de cepas mutadas
positividade coincide com o início do quadro clínico e dura de HBV que não produzem HBeAg, mas que apresentam
cerca de 6 a 12 meses. Após a fase aguda, os anticorpos replicação competente e expressam HBcAg. Nesses
pacientes, o HBeAg pode estar baixo ou indetectável,
IgM desaparecem do soro e passam a ser detectáveis apesar da presença do DNA do HBV no soro
anticorpos anti-HAV IgG, que perduram para o resto da • A presença do anticorpo anti-HBe indica que a infecção
vida, conferindo imunidade à doença (ZATERKA; EISIG., aguda alcançou o seu pico e está declinando, ao passo que,
2016). nos casos que progridem para a infecção crônica, o
anticorpo anti-HBe não é produzido ou só aparece
A identificação de partículas virais e antígenos nas fezes também tardiamente no curso da doença.
é possível, mas muito pouco utilizada na prática clínica (ZATERKA;
EISIG., 2016). ↠ Nos casos em que há suspeita de hepatite pelo vírus
B, a presença no soro do HBsAg, inicialmente
denominado antígeno Austrália, e do anticorpo anti-HBc
IgM confirma o diagnóstico. Via de regra, esses marcadores já
são positivos por ocasião das primeiras manifestações clínicas
(ZATERKA; EISIG., 2016).

Júlia Morbeck – @med.morbeck


11

↠ O HBsAg é o primeiro marcador a aparecer no soro, ↠ Na coinfecção, além dos marcadores de hepatite
e já pode ser detectado no período de incubação, 2 a 6 aguda Delta, detectam-se os marcadores de infecção
semanas antes do início do quadro clínico. Nos casos que pelo HBV, ou seja, o HBsAg e o anti-HBc IgM (ZATERKA;
evoluem para a cura, o HBsAg torna-se negativo antes EISIG., 2016).
do sexto mês (ZATERKA; EISIG., 2016).
↠ Já na superinfecção estão presentes os marcadores
A cicatriz sorológica da hepatite B será de infecção crônica pelo HBV: HBsAg, anti-HBc IgG e, em
caracterizada pela presença de anticorpos anti-HBc IgG e geral, está positivo o anti-HBe, indicando a inibição da
aparecimento dos anticorpos anti-HBs (ZATERKA; EISIG., replicação do HBV ocasionada pela superinfecção Delta
2016). (ZATERKA; EISIG., 2016).

HEPATITE E
↠ A infecção aguda pelo HEV pode ser detectada pela
presença no soro de anticorpos anti-HEV IgM, que
permanecem positivos por cerca de 4 a 6 meses após
o episódio agudo, dando lugar a anticorpos da classe IgG,
conferindo imunidade definitiva (ZATERKA; EISIG., 2016).
HEPATITE C

VÍRUS HEP. A HEP. B HEP. C HEP. D HEP. E


TIPO DE RNAfs Parcialmen RNAfs RNAfs RNAfs
VÍRUS te DNAfd circular
defeituoso
VIA DE Fecal-oral Parenteral, Parenter Parenteral Fecal-oral
TRANSMISS contato al; uso
ÃO sexual, de
perinatal cocaína
intranasal
PERÍODO 2a6 2 a 26 4 a 26 Igual ao 4 a 5 semanas
MÉDIO DE semanas semanas semanas HBV
INCUBAÇÃO
FREQUÊNCI Nunca 5 a 10% >80% 10% Apenas em
Alterações temporais dos marcadores sorológicos na infecção pelo vírus da hepatite C. A.
A DE (coinfecção) hospedeiros
Infecção aguda com resolução. B. Progressão para a infecção crônica.
DOENÇA ; 90 a 100 % imunocomprometi
para a dos
HEPÁTICA
superinfecç
CRÔNICA
↠ Em relação à hepatite C, não há um teste diagnóstico que permita Anticorp Anticorpos ELISA
ão
Anticorpos Anticorpos IgM e
DIGNÓSTICO
diferenciar a hepatite C aguda da forma crônica da doença. Na os IgM anti-HBs para IgM ou IgG IgG séricos; PCR
séricos ou anti- anticorpo séricos; PCR para RNA do HEV
infecção aguda o diagnóstico baseia-se na presença do HBc; PCR s anti- para RNA
para DNA HCV; do HDV
anti-HCV, se possível com documentação da do HBV PCR para
RNA do
soroconversão (paciente anteriormente negativo para o HCV

teste torna-se positivo). Como isso nem sempre é


possível, o diagnóstico de infecção aguda baseia-se na Referências
história clínica, epidemiologia compatível e elevação de
aminotransferases, acompanhada da presença do anti- VEROSENI-FOCACCIA. Tratado de infectologia, 5ª edição.
HCV (ZATERKA; EISIG., 2016). São Paulo: Editora Atheneu, 2015.

É importante ressaltar que o anticorpo anti-HCV é um anticorpo DANI, Renato; PASSOS, Maria do Carmo
de aparecimento tardio, tornando-se positivo cerca de 8 a 12 semanas F. Gastroenterologia Essencial, 4ª edição. Grupo GEN, 2011
após a contaminação (ZATERKA; EISIG., 2016).
ZATERKA; EISIG. Tratado de Gatroenterologia da
↠ O diagnóstico poderá ser feito mais precocemente graduação à pós-graduação, 2ª edição. Atheneu, 2016.
pela pesquisa no soro do HCV RNA, por técnica de PCR
(ZATERKA; EISIG., 2016). KUMAR, Vinay; ABBAS, Abul K.; ASTER, Jon C. Robbins &
Cotran Patologia: Bases Patológicas das Doenças. Grupo
HEPATITE D GEN, 2023.
↠ Na infecção pelo vírus Delta, o diagnóstico pode ser SILVA et. al. Hepatites virais: B, C e D: atualização. Revista
feito no soro, pela presença de antígeno Delta e anticorpo Brasileira de Clínica Médica, São Paulo, 2012.
anti-Delta IgM (ZATERKA; EISIG., 2016).

Júlia Morbeck – @med.morbeck

Você também pode gostar