Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
CAROMANO, F.A., KUGA, L.S., PASSARELLA, J., SÁ, C.S.C. Efeitos fisiológicos de sessão de
hidroterapia em crianças portadoras de distrofia muscular de Duchenne. Rev. Fisioter. Univ. São
Paulo, v. 5, n. 1, p. 49-55, jan. / jun., 1998.
Estudos sobre os efeitos dos exercícios Dois fatores podem estar relacionados na
físicos em portadores de DMD, apresentam redução destes volumes: o primeiro fator está
9
controvérsias . Os autores alertam sobre um relacionado à pressão hidrostática de 20cm de
possível efeito deletério associado à concepção H 0 que o tórax e abdôme estão sujeitos; o
2
de que atividades que requerem força mus- segundo fator está relacionado à complacência
cular máxima contra a ação da gravidade, de pulmonar que pode diminuir, como resultado
forma repetitiva, podem ser prejudiciais à do ingurgitamento vascular central . 7
14
evolução da criança portadora de D M D . Por
N o s s o objetivo é e s t u d a r os efeitos
outro lado, a inatividade física é completamen-
fisiológicos da imersão em água aquecida em
te desaconselhável e seus efeitos considerados
crianças portadoras de Distrofia Muscular de
perniciosos.
Duchenne (DMD), através das medidas de
Uma das atividades prescritas com fre-
Freqüência Cardíaca (FC), Saturação de
qüência, quando a criança encontra-se na fase
Oxigênio (Sat0 ), Pressão Inspiratória má-
2
de deambulação, é a caminhada simples,
xima (PImax), Pressão Expiratória máxima
diária, associada a alguns exercícios específi-
(PEmax), Temperatura Oral (TO).
cos de alongamentos e exercícios respiratórios.
Com a evolução da doença, uma das opções MÉTODO
de manutenção de uma fisioterapia efetiva está
Sujeitos
relacionada com a transferência da atividade
física para meio aquático, isto é, hidroterapia. Participaram deste estudo um total de 20
A hidroterapia é uma forma clássica de crianças portadoras de Distrofia Muscular de
tratamento fisioterápico, utilizada em grandes Duchenne (DMD), do sexo masculino com
variedades de disfunções. Neste tipo de ativi- idade entre 8 e 15 anos.
dade, as propriedades físicas da água aquecida
promovem facilitação dos movimentos e alívio Local
das dores, além de permitir o trabalho em gru- A coleta de dados foi r e a l i z a d a na
po e tornar a terapia agradável, principalmente Associação Brasileira de Distrofia Muscular
para crianças, as quais muitas vezes são (ABDIM) - São Paulo, SP, no período da ma-
impossibilitadas de realizar determinadas nhã, durante as sessões de hidroterapia, reali-
atividades em outro meio, senão o aquático. zadas em piscina aquecida e coberta, com tem-
Nas sessões de hidroterapia, a temperatura peratura da água variando entre 30° a 32°C.
da água deve estar em torno de 30°C, com
13 Material
variação de 2°C . Durante a imersão em água
aquecida, o corpo humano sofre algumas A coleta de dados foi realizada utilizando-
alterações, dentre as quais as mais evidentes se os seguintes equipamentos:
são alterações: na temperatura corporal, • manovacuômetro de marca IMEBRAS;
Freqüência Cardíaca (FC), Pressão Arterial . termômetro digital de marca TOSHIBA;
• pulso Oxímetro de marca OHMEDA de 90°, fora da água, e então coletou-se as
3700. mesmas medidas.
A Freqüência Cardíaca (FC) e a Saturação
Procedimento
de Oxigênio ( S a t 0 ) foram medidas com
2
n = 20 SITUAÇÃO
FC - Freqüência Cardíaca
Temp. Oral - Temperatura Oral
SatO, - Saturação de Oxigênio
PImáx - Pressão Inspiratória máxima
PEmáx - Pressão Expiratória máxima
Freqüência Cardíaca (B), obtivemos um acréscimo de 7,4 cm de
água na Pressão Expiratória máxima (PEmáx)
Observou-se um decréscimo médio de 7,3
e, posteriormente, entre os períodos de imersão
bpm na Freqüência Cardíaca (FC) entre o
inicial (B) e final (C), houve uma queda de
período inicial de imersão (B) e o período pré-
6,8 cm de água.
imersão (A). Entre o período final de imersão
As alterações observadas, nos valores
(C) e o início da imersão (B), houve um
obtidos nas pressões respiratórias máximas,
aumento médio de 7 bpm e observou-se
provavelmente, decorrem da pressão hidrostá-
também um decréscimo médio de 0,3 bpm
tica sobre a caixa torácica e abdome e também
entre os períodos pré-imersão (A) e final da
ao esforço físico na água. As alterações obser-
imersão (C).
vadas, nas diferenças das médias das variáveis
Temperatura Oral estudadas, foram consideradas como adapta-
ções do organismo ao meio líquido.
A Temperatura Oral (TO) apresentou um
acréscimo de 0,1 °C, durante o período inicial DISCUSSÃO
de imersão (B), em relação ao período pré-
Os resultados encontrados, em relação à
imersão (A). Este acréscimo provavelmente
Freqüência Cardíaca (FC), Saturação de
está associado à imersão em água aquecida
Oxigênio ( S a t 0 ) , Pressão Inspiratória
2
somada à atividade física. Não houve alteração
máxima (PImáx) e Pressão Expiratória máxi-
entre o período final (C) e pré-imersão (A).
ma (PEmáx) provavelmente relacionam-se aos
Observou-se um decréscimo 0,1 °C entre o
efeitos fisiológicos da imersão e do movimen-
período final de imersão (C) e o período inicial
to em meio aquático.
de imersão (B).
Neste estudo observamos alterações clini-
Saturação de 0 2
camente significativas nas pressões respira-
tórias que, provavelmente, estão relacionadas
A Saturação de Oxigênio (Sat0 ) mostrou
2
a dois fatores: à pressão hidrostática e à
um decréscimo nos valores obtidos após a complacência pulmonar, que possivelmente
imersão, onde ocorreu diminuição de 2,7% pode diminuir, como cita HALL et al. . 7
entre o período inicial de imersão (B) e o pré- A temperatura da água também pode ser
imersão (A). Um aumento de 0,9% ocorreu responsável por alterações na Temperatura
entre os períodos inicial (B) e final de imersão Oral (TO) e Saturação de Oxigênio (Sat0 ), 2
(C) e um aumento de 1,8% entre os valores como foi possível observar nos resultados
dos períodos final (C) e pré-imersão (A), que obtidos.
também foram consideradas medidas de ajuste A alteração da capacidade vital respiratória
fisiológicos normais às atividades físicas. decorre das modificações na biomecânica
Pressão Inspiratória máxima respiratória nos pacientes portadores de DMD.
Acreditamos que estas modificações na
Ocorreu um decréscimo médio de 8 cm biomecânica relacionem-se às alterações
de água entre o período inicial de imersão (B) observadas, neste estudo, com relação às pres-
e o período pré-imersão (A). Esta alteração sões respiratórias.
foi considerada clinicamente significativa. Foi possível observar pequenas alterações,
Entre os períodos de imersão (B) e (C), significativas, em relação aos indicadores de
observou-se um acréscimo médio de 3,8 cm Pressão Inspiratória máxima (PImáx) e pressão
de água no valor da Pressão Inspiratória Expiratória máxima (PEmáx) e discretas
máxima (PImáx). alterações nos valores de Freqüência Cardíaca
(FC) e Saturação de Oxigênio (Sat0 ), como
2
Pressão Expiratória máxima
esperado, demonstrando que a hidroterapia
Ao relacionar os valores obtidos entre os não é uma sobrecarga de atividade física para
períodos pré-imersão (A) e inicial de imersão crianças portadoras de DMD.
CONCLUSÃO (PEmáx), Freqüência cardíaca (FC) e Satura-
ção de Oxigênio (Sat0 ), como esperado, de-
2
Este estudo mostra que a hidroterapia monstrando que este recurso terapêutico não
proporciona pequenas alterações em relação representa uma sobrecarga para crianças
aos indicadores de Pressão Inspiratória máxi- p o r t a d o r a s de Distrofia M u s c u l a r de
ma (PImáx), Pressão Expiratória máxima Duchenne.
CAROMANO, F.A., KUGA, L.S., PASSARELLA, J., SÁ, C.S.C. Physiological effects of hidrotherapic
session in children with Duchenne muscular distrophy. Rev. Fisioter. Univ. São Paulo., v. 5, n. l,p.
49-55, Jan. / jun., 1998.
ABSTRACT: The Duchenne Muscular Distrophy (DMD) is a recessive genetic disturb, with a high
mutation rate of a gene localized in the short side of X cromossome. It is characterized by an irreversible
and progressive damage, mainly in the skeletal muscles. We believe that physical activities that requires
maximum power against gravity, in a repetitive way, as bad as inactivity, can prejudice children with
DMD. Warm water can improve moviments by flutuation effect and pain relief by warmness; it also
provides a good environment for kids activities. In this article, we studied some physiologic responses of
immersion and hydrotherapic sessions executed in 20 DMD children. It was possible to find some significant
alterations in inspiratory and expiratory maximum pressures, and discrete alterations in cardiac frequency,
oral temperature and level of oxigen saturation, as expected. So, we have demonstrated that hydrotherapy
associated with physical activities is not a physical overload in children with DMD.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. ADACHI, E., FOSATTO, R. E. Pesquisa de 7. HALL, J., BISSON, D., O'HARE, P. The
campo sobre terapia em piscina. São Paulo, physiology of imersion. Physiotherapy, v.
1988. 76, n. 9, p. 517-21, 1990.
2. BONILLA, E., SAMITT, C. E., MIRANDA, 8. ISHIHARA, T. e cols. Significance of
A. F., HAYS, A. P., SALVIATI, G., pulmonary function in the end stage of
DiMAURO, S., KUNKEL, L. M., respiratory failure in muscular dystrophy
HOFFMAN, E. P., ROWLAND, L. P. patients. Muscular dystrophy abstract
Duchenne muscular distrophy: deficiency presented by muscular dystrophy
association. New York in cooperation with
of distrophin at the muscle cell surface.
Excerpta Medica, 1990.
Cell, v. 54, n. 4, p. 447-52, 1988.
9. LEVY, J. A. Miopatias. São Paulo : Atheneu,
3. EMERY, A. E. H . Duchenne muscular
1978.
dystrophy. Oxford Monograph Med. 10. LEVY, J. A., NITRINI, R. A neurologia que
Genetics, v. 24, n. 4, 1993, USA. todo médico deve saber. São Paulo :
4. GARDNER-MEDWIN, D. Clinical features Maltese, 1991. p. 268.
and classification of muscular dystrophies. 11. MIRANDA, A. F., BONILLA E., MARTUCCI,
Br. Med. Bui., v. 36, n. 2, p. 109-15, 1980. G., MORAES, C. T., HAYS, A. P.,
5. GOWERS, W.R. Pseudo-hyperthrophic DiMAURO, S. Immunocytochemical study
muscular paralysis. A clinical lecture. of dystrophin in muscle cultures from
London : Churchill, 1979. patients with Duchenne Muscular Distrophy
6. HARRISON. Medicina interna. 11 ed. Rio de and unaffected control patients. Am. J.
Janeiro : Guanabara, 1988. v. 2, p. 87-8. Pathol., v. 132, n. 3, p. 410-6, 1988.
12. NEWSON-DAVIS, J. The respiratory system of exercise in muscular dystrophy.
in muscular distrophy. Br. Med. Bull., v. J.A.M.A., v. 197, n. 11, p. 843-8, 1966.
36, n. 2, p. 135-8, 1980.
15. ZATZ, M., FROTA-PESSOA, O. Distrofias
13. SKINNER, A. T., THONSON, D. Exercícios
na água. São Paulo : Manole, 1985. musculares. Ciência Hoje, v. 5, n. 26, p.
14. VIGNOS, P. J., WATKINS, M. P. The effect 26-32, 1986.