Quais as diferenças entre as Distrofias de Duchenne e Becker? Qual a
etiologia? Qual paciente é mais acometido (qual patologia é mais severa)? Distrofias musculares são distúrbios musculares progressivos hereditários resultantes de defeitos em um ou mais genes necessários para a função e estrutura muscular normal. A Distrofia Muscular de Duchenne (DMD) e a Distrofia Muscular de Becker (DMB) são as formas mais comuns de miopatias que acometem crianças. A DMD tem caráter recessivo, e caracteriza-se por um distúrbio progressivo e irreversível, principalmente da musculatura esquelética. Os primeiros sinais evidenciados são distúrbios de deambulação, tendo como característica o sinal de Gowers, caracterizado por uma dificuldade de contração de toda a musculatura dos membros inferiores, resultando no andar miopático, por consequência da fraqueza muscular proximal nos membros inferiores. A fraqueza muscular que se segue por contratura articular origina deformidades compensatórias da coluna, como escoliose e hiperlordose. Tais deformidades agravam a postura a ponto de a criança não conseguir mais deambular, passando a utilizar auxílios de locomoção. A DMB é uma forma um pouco mais branda de distrofia muscular, mas o quadro clínico e a sequência de sua evolução tendem a ser semelhantes ao da DMD, no entanto nessa, os primeiros sinais evidentes ocorrem geralmente por volta dos 3 aos 5 anos de vida, enquanto na DMB a manifestação é mais tardia. Estas duas doenças recessivas ligadas ao X são causadas por deficiência da distrofina nos músculos esquelético e cardíaco, levando a lesões necrosantes progressivas. A DMD ocorre na infância e segue até a adolescência. Os primeiros sinais aparecem por volta dos 2 anos, acometendo mais precocemente a cintura pélvica. Já no ano seguinte (ao início dos primeiros sinais) pode ocorrer a pseudo-hipertrofia do tríceps sural e alteração da marcha. Já, os primeiros sinais de DMB ocorrem após os 10 anos e sua evolução é mais lenta. A perda da capacidadede de andar ocorre após os 25 anos, as alterações respiratórias são mais discretas, mas o acometimento cardíaco é mais sério (hipertrofia ventricular direita e/ou esquerda – HVD/HVE). Relação Teórico-Prática Não existe tratamento específico. Incentiva-se exercício ativo leve (submáximo) pelo maior tempo possível para evitar atrofia por desuso ou complicações decorrentes da inatividade. Os exercícios passivos podem alongar o período de deambulação. O objetivo das intervenções ortopédicas deve ser manter a função e prevenir contraturas. A ortose tornozelo-pé usada durante o sono pode ajudar a prevenir contraturas por flexão. Aparelhos nas pernas podem ajudar temporariamente a preservar a ambulação ou a permanência de pé. Às vezes, é necessária a cirurgia corretiva, particularmente para escoliose. Obesidade deve ser evitada, as necessidades calóricas são provavelmente menores do que o normal por causa da atividade física reduzida.
A insuficiência respiratória pode ser tratada com suporte ventilatório
não invasivo. Para crianças com miocardiopatia dilatada, um inibidor da enzima conversora de angiotensina (ECA) e/ou um betabloqueador pode ajudar a prevenir ou desacelerar a progressão.
Na distrofia de Duchenne, as diretrizes mais recentes recomendam
fortemente prednisona ou deflazacorte diário para pacientes com mais de 5 anos de idade que não estão mais ganhando ou têm habilidades motoras em declínio. O uso a longo prazo melhora a força, atrasa a idade em que se perde a deambulação em 1,4 a 2,5 anos, melhora os testes funcionais cronometrados, melhora a função pulmonar, reduz complicações ortopédicas, estabiliza a função cardíaca e aumenta a sobrevida em 5 a 15 anos.
Referências
OKAMA, Larissa O. et al. Avaliação funcional e postural nas distrofias
musculares de Duchenne e Becker. ConScientiae Saúde, v. 9, n. 4, p. 649- 658, 2010. Gloss D, Moxley RT 3rd, Ashwal S, Oskoui M. Practice guideline update summary: Corticosteroid treatment of Duchenne muscular dystrophy: Report of the Guideline Development Subcommittee of the American Academy of Neurology. Neurology 86:465–472, 2016. doi: 10.1212/WNL.0000000000002337