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IRRIGAÇÃO, ASPIRAÇÃO E INUNDAÇÃO DOS CANAIS RADICULARES

O tratamento é realizado nos sistemas de canais radiculares.

A tomografia é um dos métodos cada vez mais utilizados na endodontia, devido a visão tridimensional
dos canais radiculares que consegue ser visualizado. O preparo biomecânico não será realizado apenas
no canal principal e sim, em todos os canais radiculares.

25 a 35% das paredes internas do canal principal ficam sem ser tocadas pelo instrumento durante o
preparo biomecânico.

50% dos canais radiculares não são tocados pelos instrumentos endodônticos durante o preparo
biomecânico.

A escolha da técnica de instrumentação e soluções irrigadoras que permitem a neutralização


bacteriana e inativação das toxinas, sem interferir no processo de cicatrização, é fundamental para o
sucesso do tratamento endodôntico.
É esperado que as soluções irrigadoras alcancem ramificações do canal e outras áreas inacessíveis à
instrumentação.

• IRRIGAÇÃO - Procedimento endodôntico que visa a remoção de (através de uma corrente líquida):

- Restos orgânicos;
- Raspas de dentina; CORRENTE
- Microrganismos; LÍQUIDA
- Outros detritos.

É realizado com seringas, podendo ser seringas descartáveis ou seringas esterilizáveis. As agulhas são
coloridas e cada cor, vai de acordo com o comprimento da agulha, verde mais longa e a branca mais
curta. A escolha da agulha irá depender do campo real de trabalho – CRT.
• ASPIRAÇÃO – Ato de auxiliar a remoção do interior do canal, fluídos provenientes de processos
patológicos ou do preparo biomecânico.

- Anula a pressão hidrostática produzida pela irrigação;


- Alivia a região periapical de exsudatos;
- Elimina produtos provenientes da instrumentação;
- Ajuda na secagem do canal radicular, após a instrumentação.

IRRIGAR E ASPIRAR SIMULTÂNEAMENTE! DE MODO QUE A CÂNULA ASPIRADORA E A AGULHA


IRRIGADORA FIQUEM JUNTAS.
PRINCÍPIOS DA IRRIGAÇÃO, ASPIRAÇÃO E INUNDAÇÃO – (IAI)

1. A câmara pulpar e os canais radiculares (toda a cavidade pulpar) devem estar sempre
inundados com solução irrigadora (Irriga, aspira e inunda). Sempre tomando o cuidado para
não transbordar e caindo solução irrigadora na boca do paciente;

2. Para que ela seja eficaz, a solução irrigadora deverá:

- Estar em grande volume (Irrigar sempre. Estudos mostram que devem ter 50 a 60 ml por
canal de radicular para que a irrigação seja eficaz);
- Ter tempo de contato (Por isso deve estar irrigando, inundando e aspirando sempre);
- Sofrer frequentes trocas durante todos o preparo biomecânico (Devido aos restos de dentina
que vão soltando da cavidade).

3. A agulha deve ter a ponta romba (Sem bisel), para que a solução irrigadora se espalhe por
todos os sistemas de canais radiculares. Se a agulha tiver o bisel, a solução fica concentrada
em apenas uma parte dos canais radiculares;

4. A agulha irrigadora deve atingir o terço apical do canal radicular, ficando cerca de 2mm aquém
do CRT e com movimentos de entrada e saída (Cada agulha tem um comprimento e vai
depender do CTP – Campo de Trabalho Provisório. Usar o stop para medir o CTP);

5. A agulha irrigadora não deverá obliterar (travar) a luz do canal radicular para permitir refluxo
(A agulha deve ser mais fina do que a luz do canal, para ela ficar solta e permitir a irrigação do
canal);

6. Pressionar o êmbolo de forma suave;

7. Sempre realizar movimentos de vai e vem no interior dos canais.

FUNÇÕES DA IRRIGAÇÃO, ASPIRAÇÃO E INUNDAÇÃO

1. Controle de uma possível infecção superficial da polpa (biopulpectomia - estéril);

2. Remoção de sangue da câmara pulpar e dos canalículos dentinários (hemostasia –


biopulpectomia);

3. Remoção da matéria orgânica (polpa) e inorgânica (dentina);

4. Evitar o entulhamento de raspas de dentina no terço apical (A raspagem feita pela lima vai
sendo removida raspas de dentina e se a irrigação não é realizada de forma correta e a todo
momento, essa raspa vai ficar depositada no terço apical, fazendo com que perca o
comprimento do CRT. DEVE-SE EVITAR);
5. Neutralizar o conteúdo tóxico do sistema de canais radiculares e diminuir do nº de bactérias;

6. Ter ação lubrificante para facilitar a atuação dos instrumentos no interior do canal radicular;

7. Facilitar o contato de medicações aplicadas nos canais;

8. Favorecer a adesão dos cimentos obturadores;

QUAL O MOMENTO DE SE REALIZAR A IRRIGAÇÃO, ASPIRAÇÃO E INUNDAÇÃO – IAI?

Deve ser realizado ANTES, DURANTE E DEPOIS.

ANTES: assim que foi realizada a abertura coronária e que foi eliminado todo o teto da cavidade
pulpar, deve ser realizado, ou seja, antes de iniciar o preparo biomecânico e de acessar com as limas.

- Nos casos de biopulpectomia: para manter a cadeia asséptica;

- Nos casos de necropulpectomia: para neutralizar parcialmente produtos tóxicos, antes da sua
remoção mecânica (penetração desinfetante).

DURANTE: todo o preparo biomecânico.

- Para manter úmidas as paredes do canal, favorecendo a instrumentação;

- Para dissolver a matéria orgânica (polpa);

- Para adentrar nos túbulos dentinários e ramificações radiculares;

- Para impedir o acúmulo de raspas de dentina no terço cervical.

DEPOIS: chama-se de “toalete final”

- Remoção de smear-layer aderida nas paredes internas do sistema de canais radiculares e túbulos
dentinários.
SOLUÇÕES IRRIGADORAS

PROPRIEDADES DESEJÁVEIS DAS SOLUÇÕES IRRIGADORAS: Desejável porque, nem sempre, todas
essas propriedades estarão presentes nas soluções irrigadoras. Mas procura-se a solução que tenha a
maioria dessas propriedades para que seja eficaz.

• Facilitar a ação dos instrumentos endodônticos;


• Precisa manter a cadeia asséptica nos casos de biopulpectomia;
• Auxiliar no controle das infecções endodônticas;
• Possuir ação antimicrobiana;
• Ser capaz de adentrar nos túbulos dentinários e ramificações radiculares (para isso é necessário
possuir baixa tensão superficial e baixo coeficiente de viscosidade);
• A solução precisa dissolver tecidos orgânicos e inorgânicos;
• Ser BIOCOMPATÍVEL.

1. TENSÃO SUPERFICIAL: é a resistência que um líquido oferece à sua ruptura.

QUANTO MENOR MAIOR O PODER MAIOR SERÁ A


A TENSÃO DE PENETRAÇÃO LIMPEZA DO
SUPERFICIAL DA SOLUÇÃO CANAL

EX: ÁGUA E ÓLEO. A ÁGUA POSSUI UMA MENOR TENSÃO SUPERFICIAL DO QUE O OLÉO, PENETRANDO
MELHOR.
2. PODER BACTERICIDA: para ajudar na eliminação e desinfecção dos sistemas de canais radiculares.

3. COMPATIBILIDADE BIOLÓGICA: não adianta ser bactericida e ser super agressiva aos tecidos.
Quanto maior o poder bactericida, menor a compatibilidade biológica.

4. PODER DE DISSOLUÇÃO DA MATÉRIA ORGÂNICA: não são todas que possuem.

5. SOLÚVEL EM ÁGUA: para ser fácil de ser removida e não ficar grudada no interior de sistemas
radiculares.

6. ADEQUADA VIDA ÚTIL.

7. FACILIDADE DE ARMAZENAMENTO.

SOLUÇÕES IRRIGADORAS UTILIZADAS

1. Hipoclorito de Sódio (NaOCl);


2. Clorexidina;
3. Soro fisiológico;
4. Água de cal;
5. Água oxigenada;
6. Detergentes;
7. Quelantes (EDTA).

1. Hipoclorito de Sódio (NaOCl): é a solução irrigadora mundialmente escolhida em cerca de 99% dos
casos. A escolha do Hipoclorito de Sódio, na UNIRP, é Hipoclorito de Sódio a 2,5% OU Licor de
Labarraque. Tanto para BIOPULPECTOMIA OU NECROPULPECTOMIA.
Antes era utilizado Hipoclorito de Sódio a 1,0% ou Licor de Milton para BIOPULPECTOMIA. E em
casos de NECROPULPECTOMIA, utilizava-se Hipoclorito de Sódio a 2,5% ou Licor de Labarraque.
De acordo com estudos, mostrou que Licor de Labarraque é mais eficaz na desinfecção e não
provoca agressões biológicas, continua sendo biocompatível.

Liberação de cloro
Antissépticos
e oxigênio

CONCENTRAÇÃO DENOMINAÇÃO “De acordo com a concentração, recebe


0,5% Líquido de Dakin uma denominação.”
1,0% Solução de Milton
A descrição correta é Hipoclorito de Sódio
2,5% Licor de Labarraque
a 2,5% OU Licor de Labarraque. Usa
4-6% Soda duplamente clorada
apenas uma nomenclatura.
5,25% Preparação oficial USP
VANTAGENS DO HIPOCLORITO DE SÓDIO (NaOCl):

• Baixa tensão superficial;


• Excelente ação solvente da matéria orgânica;
• Amplo espectro de ação antimicrobiana;
• Ação detergente;
• pH alcalino = alto poder bactericida.

DESVANTAGENS DO HIPOCLORITO DE SÓDIO (NaOCl):

• Irritação aos tecidos periapicais quando em altas concentrações (por isso a solução de escolha é
o Hipoclorito de Sódio a 2,5%);
• Risco de ser injetado na região periapical e seio maxilar (pode acontecer quando a técnica de
aspiração não é bem executada, quando não realiza os movimentos de vai e vem; quando não
respeita os 2,0mm aquém; quando a agulha está muito presa no canal radicular);
• Gosto e cheiro desagradáveis;
• Manchamento de roupas (Ter cuidado durante a manipulação para não manchar a roupa do
paciente);
• Lesões aos olhos e pele dos pacientes (Usar óculos de proteção);
• Reações alérgicas (Perguntar, na anamnese, se o paciente possui alguma reação alérgica durante
o manuseio de produtos de limpeza).
• Solução pouco estável. Difícil armazenamento. Deve ser feito em frasco âmbar, em local escuro,
fresco e, por no máximo, 3 meses);
• Efeito corrosivo. Deve-se lavar com grande quantidade de água após a utilização, antes de
esterilizar, para evitar de danificar e oxidar os instrumentos.

2. Clorexidina a 2%: apresentada na forma de gel e na forma de solução. Para irrigação, utiliza-se,
sempre, a Clorexidina a 2% na forma de solução. Não faz irrigação na forma em gel.

- Antisséptico químico;
- Ação bactericida e bacteriostática;
- Capaz de eliminar bactérias gram-positivas e gram-negativas.

VANTAGENS DA CLOREXIDINA A 2%:

• Substantividade (efeito residual). Consegue ter ação após 48horas, por isso o efeito residual;
• Amplo espectro de ação antimicrobiana;
• Biocompatibilidade;
• Estabilidade;
• Atóxica;
• Alto poder desinfetante.

DESVANTAGENS DA CLOREXIDINA A 2%:


• Incapacidade de dissolução da matéria orgânica, diferente do hipoclorito de sódio. Sendo um fator
muito importante como propriedade da solução irrigadora;
• Não substitui o hipoclorito de sódio.

INDICAÇÕES DA CLOREXIDINA A 2%:

• Casos resistentes. Em casos em que persiste o processo infeccioso, após finalização do


tratamento;
• Pacientes alérgicos ao hipoclorito;
• Dentes com rizogênese incompleta. Existe a possibilidade de extravasamento da solução
irrigadora;
• Dentes com reabsorções ou forames arrombados. Existe a possibilidade de extravasamento da
solução irrigadora. Mesmo nesses casos, quando a técnica é feita de forma correta, utiliza-se o
hipoclorito de sódio.

USO COMBINADO É CONTRAINDICADO!

Causa uma interação química com formação de um precipitado (camada de cor marrom avermelhada)
que pode se depositar nos túbulos dentinários, levando a sua obstrução.

3. DETERGENTES: Não é utilizado na clínica.

4. PERÓXIDO DE HIDROGÊNIO H2O2: Água oxigenada. Pouco utilizada.

5. SORO FISIOLÓGICO: não tem nenhuma propriedade bactericida ou bacteriostática. Sem poder de
dissolução de matéria orgânica. Não é utilizado como solução irrigadora.

6. ÁGUA DE HIDRÓXIDO DE CÁLCIO: também conhecida como água de cal = pó de hidróxido de cálcio
+ água destilada ou soro fisiológico. Com a decantação, utiliza a água de cal. Utiliza em alguns
casos, como na pulpite aguda irreversível, com muita dor e, na hora de acessar o canal, vai ocorrer
sangramento, devido a polpa estar muito inflamada. E muitas vezes, só com o hipoclorito de sódio,
não consegue conter. Então utiliza a irrigação inicial com a água de cal. Com a hemostasia, volta a
ser feita irrigação com hipoclorito de sódio.

• PROPRIEDADES DA ÁGUA DE CAL:


- Elevado poder bactericida;
- pH alcalino;
- Grande poder bactericida;
- Hemostasia sem causar vasoconstrição.

7. QUELANTES (EDTA – ÁCIDO ETILENODIAMINOTETRACÉTICO): promove a quelação (remoção) de


íons cálcio da dentina através de uma reação química. É importante no “toalete final”.

PROPRIEDADES DO QUELANTE – EDTA:


- Ação descalcificadora, removendo o cálcio do dente;
- Influência na permeabilidade dentinária e no selamento marginal;
- Preparo biomecânico de canais atrésicos e/ou calcificados;
- Remoção da smear-layer.

O QUE É SMEAR-LAYER:

- Lama dentinária que se acumula nas paredes do canal radicular, após o preparo biomecânico,
obstruindo as entradas dos túbulos dentinários;
- Sua remoção é imprescindível para o sucesso do tratamento endodôntico, promovendo uma
ação mais efetiva do curativo de demora e dos cimentos obturadores.

APÓS O PREPARO BIOMECÂNICO: “toalete final” – remoção da camada de smear-layer.

TIPOS DE IRRIGAÇÃO

Tipo de irrigação utilizada na clínica: IRRIGAÇÃO COM ASPIRAÇÃO SIMULTÂNEA.

SISTEMA ULTRASSÔNICO:

AGITAÇÃO ULTRASSÔNICA PASSIVA – AUP


OU
PASSIVE ULTRASSONIC IRROGATION – PUI

• Agitação do líquido irrigador no interior do canal por meio da vibração;


• Potencializa os efeitos das soluções irrigantes.

DEVE SER REALIZADO NO FINAL DO PREPARO BIOMECÂNICO.

• Promove maior redução de debris e smear-layer do que a irrigação convencional.

Na clínica, utiliza-se a easy-clean. Deve ser acoplada no micro-motor. E é utilizada apenas no “toalete
final”.

• É uma lima de plástico que promove limpeza das paredes dos sistemas de canais radiculares
através de agitação mecânica das substâncias químicas e do atrito de suas lâminas no interior do
canal, principalmente no terço apical;
• Ela pode ser utilizada durante e depois do preparo ou somente depois do preparo;
• Deve ser usada com movimentos rotatórios (motor elétrico ou micromotor).

PROTOCOLO DE USO – EASY CLEAN: quando terminar todo o preparo biomecânico, após
confeccionado o batente apical, definição da lima memória e o canal já estiver todo instrumentado e
todo desinfectado, realizar o toalete final. É necessárias duas seringas, uma com NaOCl e outra com
EDTA.

1. Inundar a cavidade pulpar com NaOCl;


2. Introduzir o easy clean com o stop de borracha 2,0mm aquém do CRT e acionar, fazendo
movimentos de vai e vem, durante 20 segundos;
3. Aspirar;
4. Inundar com o EDTA;
5. Easy clean por mais 20 segundos;
6. Aspirar;
7. Inundar com NaOCl;
8. Easy clean por mais 20 segundos;
9. Aspirar;
10. Inundar com EDTA;
11. Easy clean por mais 20 segundos;
12. Inundar e irrigar abundantemente com soro fisiológico (para inativar a solução de NaOCl, para
evitar reação química com a clorexidina);
13. Aspirar e secar;
14. Irrigar com clorexidina;
15. Aspirar e secar;
16. Curativo de demora ou obturação do canal radicular (O canal não pode ficar vazio, deve receber
o curativo de demora ou a obturação) Se optar pelo curativo de demora, quando o paciente
retornar, deve ser retirado o curativo de demora e deve ser realizado, novamente, o toalete
final.

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