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TEXTO: ETC GROUP. Barones de la alimentación 2022.

Lucro con las crisis,


digitalización y nuevo poder corporativo. Montréal, 2022.

O texto traz que a fusão da SinoChem e da ChemChina criou um gigantesco


conglomerado químico, o Grupo Syngenta que domina agora o mercado de produção
agrícolas industriais. Esta consolidação do mercado permitiu que grandes empresas
agroquímicas e de sementes aumentassem o seu controle, e estão agora investindo em
tecnologias digitais para expandir ainda mais a sua influência. As maiores empresas de
tecnologia do mundo, como Apple, Alibaba, Amazon, IBM, Google, Baidu e Microsoft,
também estão envolvidas na produção de alimentos. Estas empresas procuram lucrar
não só com a venda de insumos tradicionais, mas também com a venda de ferramentas
digitais e assinaturas de aplicativos e serviços de gestão agrícola baseados em dados.
A expansão da agricultura e da alimentação digitalizada também atinge a
agricultura camponesa e de pequena escala no Sul global. No entanto, estas novas
tecnologias também apresentam desafios, pois podem ameaçar a autonomia e a tomada
de decisões dos agricultores e facilitar uma nova era de apropriação de terras. Além
disso, os esquemas de créditos de carbono para agricultores proliferaram nos últimos
cinco anos, especialmente na Europa e nos Estados Unidos, sob o suporte dos
agroserviços digitais. Estes regimes representam outra forma através da qual as
empresas procuram beneficiar da agricultura digital.
Sobre a questão da indústria mundial de fertilizantes é complexa e interligada
com outras indústrias, como a mineração, o transporte marítimo e a fabricação de
produtos químicos industriais. Esta indústria tem um histórico de comportamento
fraudulento e os produtores de fertilizantes são fundamentais para as economias locais.
Muitas vezes, estão entrelaçados com os governos nacionais, o que faz com que a
geopolítica desempenhe um papel importante no comércio. Por exemplo, a empresa
estatal chinesa Sinochem controla a Sinofert, a maior empresa de fertilizantes da China.
A China é um dos maiores produtores de fertilizantes do mundo, com uma participação
global de 31% na ureia e 42% na capacidade de fosfato de diamônio (DAP). Marruecos
controla 72% das reservas mundiais de fosfato (incluindo a rocha fosfatada que extrai
do território ocupado do Sahara Ocidental) e possui a OCP, um importante produtor de
fertilizante fosfatado e a maior empresa de fertilizantes de Marruecos. Esses exemplos
ilustram a concentração de poder e controle na indústria de fertilizantes, que tem
implicações significativas para a economia global e a segurança alimentar.
O setor de genética pecuária, embora pequeno em valor (menos de um quinto do
tamanho da indústria mundial de sementes), tem um impacto significativo na indústria,
afetando as emissões de gases de efeito estufa, o meio ambiente e o bem-estar animal. A
adoção generalizada da genética pecuária industrial tem levado à perda da diversidade
genética dos animais de fazenda em todo o mundo. Apenas três empresas controlam a
maioria da genética avícola a nível mundial, tornando este o setor mais concentrado da
cadeia alimentar industrial. Muitos países e continentes inteiros dependem de apenas
dois criadores industriais de reservas genéticas para a indústria mundial de frangos.
Na China, por exemplo, mais de dois terços dos porcos (74%) foram criados em
sistemas industriais que se baseiam em uma única raça híbrida. O vírus mortal da peste
suína africana dizimou 60% da manada de porcos da China entre 2018 e 2020, levando
o país a importar carne de porco e a transportar milhares de porcas e reprodutores por
via aérea para repor o rebanho industrial. A genética da aquicultura está atraindo
criadores de gado industrial e investidores privados, à medida que a indústria de
aquicultura cresce globalmente. As operações industriais de salmão, semelhantes às
fazendas industriais em terra, tornaram-se grandes fontes de poluição ambiental,
doenças e parasitas.
As principais comercializadoras de alimentos e matérias-primas agrícolas juntas
acumularam mais de meio trilhão de dólares em receitas apenas em 2020. O comércio
global de todos os produtos agrícolas atingiu um estimado de 1,33 trilhões de dólares
em 2019. Os dez principais comerciantes de matérias-primas agrícolas representam pelo
menos 40% do mercado mundial. Essas gigantescas empresas que controlam o comércio
de matérias-primas estão entre as companhias mais poderosas e menos transparentes da
cadeia alimentar. Três das principais comercializadoras de commodities são privados e
uma é de propriedade estatal.
Em relação a indústria da carne, ela continua a enfrentar problemas
significativos, incluindo contaminação por patógenos em produtos da carne,
contaminação das águas subterrâneas, corrupção e más condições de saúde no trabalho.
Desafios recentes incluem seca na América do Norte, surtos de gripe aviária em todo o
mundo, peste suína africana na Ásia, atrasos nos matadouros e sequestro digital de
dados. No entanto, apesar da pandemia, os maiores países exportadores de carne -
Brasil, Estados Unidos, Canadá, Rússia, países da União Europeia e México -
conseguiram exportar mais carne em 2020 do que em 2019.
No que diz respeito a escala local, mesmo com o aumento das compras online
devido à pandemia, supermercados e lojas de bairro continuam dominando as vendas de
alimentos e bebidas em todo o mundo, representando cerca de 40% do total. No entanto,
espera-se que esse domínio diminua no futuro, com o comércio eletrônico
experimentando o maior crescimento entre os canais de varejo. Embora os maiores
varejistas online do mundo, Alibaba e Amazon, não estejam entre os 10 principais
vendedores de alimentos, sua experiência em comércio eletrônico lhes deu uma
vantagem quando a pandemia chegou. Todos os outros tiveram que correr para
acompanhar.
E ainda, o setor de entrega de alimentos está se consolidando rapidamente, mas é
difícil determinar quem domina, pois as mesmas empresas que lutam pela hegemonia
regional compram, vendem e trocam participações com seus concorrentes. O modelo de
negócio do setor de entrega de alimentos sempre se baseou na logística e no comércio
eletrônico (incluindo a coleta de dados dos clientes), e não no serviço de alimentos.
Em síntese, Os Barões da Alimentação apesar de seu poder aparentemente
formidável, são uma anomalia histórica e seu domínio não é inevitável. Eles controlam
uma grande parte da economia mundial e da cadeia alimentar, mas à medida que essa
concentração aumenta, também aumenta sua vulnerabilidade. O setor do agronegócio
está passando por uma transformação significativa, enfrentando desafios de novos
atores e crises ambientais que ele mesmo causou. Este é um momento crucial para
reconhecer esses Barões da Alimentação, identificar suas fraquezas e tomar medidas
estratégicas para confrontá-los. O texto resumido é uma ferramenta valiosa para os
movimentos pela soberania alimentar em suas futuras batalhas.

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