Você está na página 1de 18

A Revolução Verde

Trata-se de um conjunto de novas técnicas e diversas tecnologias modernas


aplicadas na agricultura e voltadas ao melhoramento da produção. Foi
desenvolvida no pós-Segunda Guerra Mundial a fim de buscar mecanismos de
minimizar a fome em certos lugares do planeta Terra. Ademais, usam-se
técnicas modernas também na pecuária.

Na década de 1950, o engenheiro agrônomo Norman Borlaug desenvolveu


novas práticas na produção de trigo no México. A partir de então o México
conseguiu deixar de ser importador de trigo para se transformar num importante
exportador. O objetivo de Norman Boularg era desenvolver alguma técnica que
eliminasse o fungo ‘’ferrugem do colmo’’ que diminuía a produção.

Norman Boularg cruzou geneticamente sementes resistentes ao fungo com


sementes endêmicas do México, obteve bons resultados. Após alguns anos de
pesquisas os resultados foram positivos e a espécie de trigo ficou conhecida
como semente milagrosa. Aliás, o trigo, junto com o milho, são os dois mais
importantes produtos alimentares do mundo.

As características da Revolução Verde são:


a. Modificações genéticas nas sementes. A partir daí surge a expressão
Organismo Geneticamente Modificado (OGM).
b. Mecanização da produção. Houve significativo e crescente uso de máquinas
na produção agrícola, tanto no plantio, quanto na colheita. Vê-se um processo
de industrialização da agricultura com semeadeiras e maquinários.
c. Disseminação de produtos químicos, os famigerados agrotóxicos, na
produção, a exemplo de fungicidas, pesticidas. É comum se referirem aos
agrotóxicos como ‘’agrovenenos’’ com o fim de criticarem seu uso crescente. Os
defensores de agrotóxicos os chamam de ‘’agroquímicos’’ e apontam seus
benefícios. Outros produtos químicos usados na agricultura são os fertilizantes
e adubos químicos.
d. Técnica de irrigação.

Controversas: apesar do aumento significativo na produtividade agrícola e


pecuária, há muitas críticas às novas técnicas oriundas da Revolução Verde por
ambientalistas e movimentos naturalistas e veganos, através de ONGs, que
discordam das técnicas usadas na agropecuária moderna.

1. Redução da biodiversidade genética


No caso, a produção em massa tem finalidade de expandir as áreas produtivas
e acaba privilegiando apenas um tipo de espécie. Tais características estão
fortemente associadas à monocultura.
2. Uso grande de água com muito desperdício
Apesar do desperdício, que ocorre por causa de métodos inadequados de
irrigação, há o desenvolvimento de novas técnicas como a aspersão e o
gotejamento.
3. Impactos ambientais
Contaminação da água e do solo, uso exaustivo do solo e desmatamento.
4. Dependência tecnológica dos países subdesenvolvidos em relação aos
países desenvolvidos
Isto pois, a maior parte das indústrias associadas às novas tecnologias
agropastoris são de países desenvolvidos. Destacam-se as grandes empresas
norte-americana e alemã, Monsanto e Bayer, respectivamente.
5. Aumento da concentração de renda e fundiário
Pois - em muitos casos - os pequenos produtores não têm acesso às tecnologias
da Revolução Verde e vão à falência ou vendem suas propriedades rurais aos
grandes produtores.

A Chegada ao Brasil da Revolução Verde!


A partir da década de 1970, as novas técnicas da agricultura moderna chegaram
ao Brasil. A chegada da revolução verde ao nosso País possibilitou nossa
expansão da soja em direção ao Cerrado brasileiro, por exemplo. O Brasil foi
fortemente beneficiado com as novas técnicas agrícolas e pecuaristas quando
consideramos nosso agronegócio, apesar das críticas que se fazem às
monoculturas da soja e cana-de-açúcar ou desmatamento para as pastagens
bovinas.

Os modelos agrícolas e pecuários


Agricultura e pecuária intensiva: consiste na produção agrícola e pecuária que
utiliza grande quantidade de insumos e muitos recursos tecnológicos. Há forte
mecanização da produção, mão-de-obra altamente qualificada, há crescente
produtividade por hectare. No caso do Brasil, este tipo de agricultura tem como
destino, em boa medida, os mercados externos através da agropecuária.
Agricultura e pecuária extensiva: consiste na produção agrícola e pecuária
mais tradicional e sem muitos recursos tecnológicos. A mão-de-obra tende a ser
menos qualificada e se dá em grandes propriedades historicamente. Nesse
sistema há baixa produtividade.
Latifúndio: historicamente o Brasil foi explorado em sua economia através do
sistema agrícola latifundiário. Os latifúndios são caracterizados como grandes
propriedades, monocultores e voltados à exportação. Some-se a estes fatores,
no caso do Brasil, a presença de mão-de-obra escrava.
Empresa rural: imóveis rurais cuja extensão tem no máximo 600 módulos rurais.
Latifúndio por exploração: imóveis rurais cuja extensão varia de 1 a 600
módulos rurais, mas não é explorado economicamente. Imóvel de grande
extensão territorial que é subutilizado e pouco explorado em suas
potencialidades econômicas.
Latifúndio por dimensão: imóvel de dimensões territoriais grandes, mas pouco
utilizado em sua dimensão.
Agricultura de Subsistência: consiste em atividade agrícola com a finalidade
de abastecer apenas a família produtora, sem excedentes. Usa-se técnicas
tradicionais de cultivo em regiões como Ásia, América Latina e África. É
produzida em pequenas propriedades e há pouca produção. Essa modalidade é
muito importante em diversas regiões do Brasil onde se produz arroz, mandioca,
feijão, milho e batata, por exemplo.
Na África é comum a atividade agrícola de subsistência junto com o pastoreio
nômade com rebanhos ovinos, bovinos, ou rebanhos de camelos, a depender da
região do continente.
Na Ásia a agricultura de subsistência é praticada em propriedades coletivas e é
comum que se produza arroz (rizicultura).
Agricultura Familiar: no caso brasileiro a agricultura familiar é determinada pela
Carta Magna. Em outras palavras, a Constituição Federal considera a atividade
agrícola como familiar aquela em que há uso predominantemente mão-de-obra
da própria família, a maior parte da renda é gerada nas atividades agrícola e/ou
pecuária no próprio estabelecimento rural em que vivem e são propriedades
rurais pequenas com no máximo quatro módulos fiscais. Saliente-se: cada
módulo fiscal é delimitado municipalmente e varia de 1 a 5 hectares a depender
do município.
Agronegócio: diz respeito a uma série de atividades econômicas que envolvem
agricultura e pecuária numa diversidade de atividades bastante complexas.

No caso, abrange desde a produção no campo com o trabalho humano, a


produção fabril de máquinas e ferramentas, a indústria química de insumos como
fertilizantes e adubos químicos, bem como o desenvolvimento de tecnologias
universitárias de engenharia genética.

Não por acaso a atividade econômica do agronegócio usa mão-de-obra


qualificada, é fortemente mecanizada e há uso de diferentes recursos
tecnológicos. Por vezes é chamado agrobusiness. No caso do Brasil, o
agronegócio é uma de nossas mais importantes atividades econômicas, pois as
produções de soja, café, proteína animal (carne bovina, suínos e frango –
voltados à exportação) estão inseridos na prática do agronegócio.

Maiores produtores agrícolas: os maiores exportadores agrícolas do planeta


envolvem as maiores economias do mundo, a exemplo da União Européia, dos
Estados Unidos e da China (veja a tabela abaixo).

Figura 1. Líderes globais em US$, 2014. Fonte: OMC. *inclui os 28 países da União Européia e os países
que não estão no bloco.

Os maiores exportadores de cereais em dólares, para o ano de 2014, são Europa


(notadamente França e Alemanha), Estados Unidos, Brasil, China, Canadá,
Indonésia, Índia, Tailândia, a Austrália e a Argentina. Os países como Estados
Unidos, Alemanha, Canadá, Austrália e França têm como característica o alto
padrão tecnológico em quase toda sua produção e são países desenvolvidos.
Brasil, Argentina e Tailândia são países menos desenvolvidos e marcados por
fome e pobreza, apesar de serem grandes exportadores agrícolas.

União Européia
Os dois países mais importantes da União Européia, França e Alemanha,
representam a importância do bloco econômico no cenário agrícola
internacional.

O bloco econômico da União Européia tem uma Política Agrícola Comum (PAC)
desde 1962 e desenvolve políticas de protecionismo e concede subsídios
agrícolas a seus produtores a fim de não os deixar sujeitos às leis de mercado
internacional quando isso possa prejudicar sua agricultura. Ademais, no
mercado internacional e nas negociações sobre comércio agrícola a União
Européia, constituída por 27 países, vota como um membro só com objetivos de
autoproteção da concorrência externa.

As características da PAC
- ‘’Unificação do mercado comunitário e garantia de preços mínimos para cada
produto.
- Preferência de compra pata produtos europeus.
- Fixação de tarifas comuns para as importações extracomunitárias.’’ Segundo
Demétrio Magnoli.

Além da proteção ao produtor agrícola europeu, os subsídios agrícolas têm como


finalidade a tentativa de manter os produtores em regiões camponesas para que
não haja êxodo rural e esvazie de vez as zonas rurais do continente.

Uma das grandes marcas da agricultura em solo europeu é o cultivo em


propriedades de pequena extensão territorial se comparadas aos belts norte-
americanos ou mesmo às lavouras monocultoras do Brasil.

Estados Unidos
O Estados Unidos é o maior exportador agrícola do planeta quando
consideramos os países isoladamente. Entretanto, concorre com a União
Europeia nesse quesito.

Uma das grandes características da agricultura dos Estados Unidos é o tamanho


de suas propriedades que tendem a ser grandes. Em média, a propriedade
agrícola dos Estados Unidos é de 160 hectares desde os anos 1970. A produção
agrícola em solo americano se destina à venda interna, no caso, a venda para
indústrias alimentícias no complexo da agroindústria.

Os fatores locacionais foram fundamentais no processo de criação e


desenvolvimento da agricultura norte-americana. A busca pelo lucro associada
às condições climáticas, fertilidade dos solos, disponibilidade de água, bem
como a infraestrutura de transportes possibilitou aos Estados Unidos serem a
potência agrícola que são. Os Belts – cinturões – são grandes regiões
especializadas na produção agrícola. Os cinturões agrícolas não são
monocultores, pois no Corn Belt (cinturão do milho) há produção secundária de
soja, por exemplo. No caso, é comum aos cinturões agrícolas a presença de
culturas principais e secundárias.

Os cinturões

Figura 2. Cinturões agrícolas dos Estados Unidos.

Dairy Belt: laticínios. Cinturão agrícola de pecuária leiteira e se estende ao sul


e leste dos Grandes Lagos e envolve os estados da região nordeste, desde o
Maine até Minnesota. Essa região está próxima aos grandes mercados
consumidores das duas grandes megalópoles americanas (BosWash e ChiPitts).
Há importante produção de leite, importante produção hortifrutigranjeira, frutos e
verdura em importante policultura que abastece grandes mercados
consumidores.

Corn Belt: cinturão do milho. O milho é fundamental para produção de ração


animal, óleos, bens agrícolas humanos e etanol (o EUA é o maior produtor
mundial deste produto energético). O milho está localizado às margens do rio
Mississipi por onde é escoado para abastecer o Dairy Belt. Há importante
produção de suínos e a cultura de soja neste cinturão.

Cotton Belt: cinturão do algodão, por vezes há grande produção de tabaco. Na


região costeira dos estados da Virgínia, das duas Carolinas, Geórgia e Flórida é
comum a produção de laranja e cana-de-açúcar por causa do clima úmido. É
mais ao interior dos estados da Geórgia, Tennessee, Alabama, Mississipi até o
Texas que se cultiva o algodão e o tabaco.

Wheat Belt: cinturão do trigo. Há importante produção de trigo em diferentes


colheitas. Ao norte, mais precisamente em estados das pradarias centrais –
Dakota do Norte e Dakota do Sul, bem como em Nebraska – há o trigo de
primavera. Já nos Estados de clima mais ameno, às margens do rio Missouri
(Kansas, Colorado, Oklahoma e Novo México), há a produção em duas colheitas
anuais: o trigo de primavera e de inverno. É comum a rotação de culturas com
cevada e girassol.
Policultura nos desertos: as técnicas de irrigação, aspersão e gotejamento
possibilitaram a produção de frutos nas regiões áridas.

Fruit Belt: cinturão das frutas. Os climas úmidos costeiros são aproveitados para
produção de laranja e cana-de-açúcar, seja na Califórnia, seja na Flórida.

Importadores agrícolas: os países que mais necessitam importar bens


agrícolas envolvem as economias ricas e os países de grande população.

Os grandes importadores agrícolas mundiais envolvem basicamente duas


questões fundamentais. Uma de ordem econômica e outra de natureza
geográfica.

As grandes economias, como a Europa e os Estados Unidos, importam muitos


bens alimentícios, apesar de serem grandes produtores mundiais de grão, pelas
suas características econômicas de países e regiões desenvolvidas e
consequente alto poder de consumo de suas populações.

Em 2010, o Japão, o Egito e a Coréia do Sul, por exemplo, foram os maiores


consumidores de cereais no mercado internacional em decorrência de fatores
geográficos como a pequena extensão territorial de seus países e sua grande
população. Em 2014 o Japão, Hong Kong e Coréia do Sul figuraram novamente
entre os maiores importadores agrícolas mundiais (ver figura abaixo).

Figura 3. Líderes globais em US$, 2014. Fonte: OMC. *inclui os 28 países da União Européia e os países
que não estão no bloco.

A grande população é um dos fatores em comum entre os maiores importadores


agrícolas, além das condições geográficas que dificultam o setor primário da
economia. Nos casos, desertos no Egito e México, extensas regiões geladas no
Canadá e na Rússia, formato peninsular ou insular da Coréia do Sul e Japão,
respectivamente. Já a China e a Índia são grandes importadores por suas
enormes populações.
O campo brasileiro
Ocupação no litoral: a ocupação do Brasil, em virtude do processo de
colonização portuguesa, ocorreu de fora para dentro e não por acaso habitamos
sobretudo a zona costeira. É a atividade econômica, especialmente agrícola e
pecuária, que possibilitou ligeira penetração ao interior do território, seja através
das ‘’’drogas do sertão’’ e pecuária às margens do rio S. Francisco, ao longo do
Brasil colonial, seja nas últimas décadas do século XX com a expansão
agropecuária em direção ao Cerrado e Amazônia nacionais por meio da
interiorização da fronteira agrícola.

As Capitanias Hereditárias: o acesso à terra no Brasil sempre foi difícil. A


tentativa de divisão – do que seria o território nacional – e de sua ocupação de
maneira minimamente organizada ocorre a partir de 1534, quando a Coroa
Portuguesa divide as terras do Novo Mundo latitudinalmente desde a faixa
costeira até os limites interioranos por onde passava o Meridiano de Tordesilhas,
este que fora traçado em 1494.

Figura 4. Capitanias Hereditárias.

A divisão se deu em 15 faixas territoriais conforme se observa no mapa acima.


Os administradores das Capitanias Hereditárias eram nobres e, portanto,
homens de confiança de D João III, rei de Portugal (1502-1557), que recebiam o
dever de ocupar e bem administrar a Colônia. Os homens responsáveis pela
administração local – em solo que seria o Brasil – receberam a alcunha de
Capitães Donatários, cujo poder equivaleria hoje ao poder exercido pelos
Governadores de estados. Aliás, por meio das Capitanias Hereditárias houve o
crescimento em seu interior de vilas, e, por fim, as capitanias virariam províncias
e se transformariam, já na República, em estados nacionais.

Os Capitães Donatários recebiam da Coroa Portuguesa a grande extensão de


terra através da Carta de Doação. A Carta de Doação designava os limites
geográficos, regulamentava seus limites territoriais e trazia a jurisdição civil e
criminal da capitania. Em linhas gerais, a Carta de Doação era a posse do
Capitão Donatário que seria o responsável por povoar, proteger e administrar o
lote recebido, fundar vilas e desenvolver a economia local.

Os deveres e direitos do Capitão Donatário eram delimitados pela Carta de Foral,


era proibido, por exemplo, comercializar as terras recebidas e a transferência se
dava por meio da hereditariedade.

Os Capitães Donatários podiam escravizar os indígenas, doar pequenos lotes


ainda não cultivados – as famigeradas sesmarias –, e, por fim, cobrar impostos
e usufruir dos recursos naturais de que dispunha a região.

O sistema de Capitanias Hereditárias não prosperou, entretanto. E fracassaria


por uma série de fatores, algumas foram abandonadas, outras sequer foram
ocupadas. Algumas sofreram ataques e retaliações indígenas contrários à
ocupação e invasão portuguesa. Porém, são dignas de nota que a Capitania de
Pernambuco, bem como a Capitania de São Vicente, porque ambas obtiveram
melhores resultados.

A Capitania de São Vicente, a cargo de Martin Afonso de Sousa, teria prosperado


graças ao tráfico indígena. A Capitania de Pernambuco, a cargo de Duarte
Coelho, teria prosperado graças à economia açucareira.

Apesar de não ter prosperado, o sistema de Capitanias Hereditárias na Colônia


permitia o acesso à terra e à riqueza, dada a importância do campo para a
economia do País ao longo dos séculos. Logo não é exagero dizer que no Brasil
terra significa riqueza.

Lei de Terras, 1850


A Lei de Terras, de 1850, procurou instituir a propriedade rural como algo privado
e não apenas uma concessão do Estado necessariamente. Foi a primeira lei no
Brasil com objetivos de organizar a propriedade privada.

Essa lei institui que o acesso à terra se dará a partir da compra e da venda ou
por doação do Estado. Os já proprietários receberam o lote do governo como
título de proprietário.

Há uma série de críticas à lei, promulgada por D. Pedro II, porque o País era
escravocrata e os ex-escravizados não tiveram acesso à propriedade rural,
tampouco os escravizados que só seriam libertos em 1888 com o advento da Lei
Áurea. Além disso, a estrutura fundiária foi mantida e as melhores terras (em
termos de solo, topografia etc.) ficaram concentradas nas mãos de antigos
proprietários que as legaram, como herança a seus familiares, perpetuando a
grande concentração fundiária do País.

Com o Brasil republicano e nossa primeira Constituição (1891) as terras públicas,


também chamadas terras devolutas, foram transferidas para o patrimônio das
então províncias nacionais. A partir de então, os oligarcas – que exerciam forte
influências nos governos regionais – regularizaram as vastas propriedades para
si.
O curso do século XX é marcado por fortes tensões no campo brasileiro. Merece
destaque as décadas de 1950 e 1960, as ligas camponesas em Pernambuco e
o governo de João Goulart, respectivamente.

Ligas Camponesas
Sob a égide do Partido Comunista do Brasil (PCB) nos anos 1940, em pleno
Estado Novo (1937-1945), as ligas camponesas iniciaram movimentos no campo
brasileiro a fim de pressionarem os latifundiários para que houvesse uma
Reforma Agrária. As ligas camponesas teriam sido importantes na defesa dos
trabalhadores rurais. As perspectivas políticas das reformas propostas pelo
movimento camponês e por um dos líderes do movimento, o deputado Francisco
Julião, foram associadas ao socialismo. Destaque-se que na década de 1960
estávamos em plena Guerra Fria e a revolução em Cuba certamente serviam,
aos críticos de reformas no campo, como argumentos contrários aos líderes das
ligas camponesas.

Governo de João Goulart


O governo de João Goulart havia se comprometido com uma série de reformas
estruturais de ordens política, social e econômica no Brasil, as famosas
Reformas de Base. Dentro das tentativas de reformar a sociedade nacional João
Goulart propunha uma reforma agrária, entretanto, as forças políticas contrárias
às perspectivas de Jango serviram de base para sua retirada do poder.
Outrossim, no contexto da Guerra Fria havia grande temor que movimentos no
campo brasileiro levassem o Brasil a uma sangria através de revoltas ou alguma
revolução sangrenta.

O Estatuto do Trabalhador Rural (ETR) foi aprovado no parlamento brasileiro em


2 de março de 1963, na vigência do governo de João Goulart. O Estatuto do
Trabalhador Rural foi inspirado na Consolidação das Leis Trabalhistas e estendia
os direitos do trabalhador urbano para o trabalhador rural.

‘’Um ponto importante do texto da lei foi o que determinou que os pequenos proprietários, os
parceiros, os meeiros e os arrendatários deixariam de ser considerados empregadores e,
juntamente com os assalariados agrícolas, passariam a integrar a Confederação Nacional dos
Trabalhadores na Agricultura (Contag), criada em dezembro de 1963 e reconhecida pelo governo
em janeiro de 1964 de acordo com as diretrizes do Estatuto do Trabalhador Rural. A estrutura
vertical vigente no sindicalismo urbano também foi mantida: na base, os sindicatos, de âmbito
municipal, em seguida as federações, de âmbito estadual, e finalmente a confederação, de
âmbito nacional.’’ Fonte: Sérgio Lamarão e Leonilde de Medeiros. Verbete da FGV.

O que vimos, no decorrer de nossa história, foi a queda de João Goulart. A


reforma agrária não obteve os resultados pelos grupos mais à esquerda. O que
assistimos, durante o Período Militar, foi um projeto geopolítico de ocupação da
Amazônia e para tanto a população rural de regiões de tensão foram realocadas
no projeto de integração da Amazônia ao território nacional.

As zonas de tensão camponesa no país se concentraram nas franjas agrícolas


da Amazônia, a exemplo do Pico do Papagaio – região fronteiriça entre
Maranhão, Tocantins e Pará. Outras regiões de tensão se deram nos Estados
de Rondônia, na porção setentrional do Mato Grosso, nos vales dos rios Mearim
e Pindaré, no Maranhão. Registrou-se crescente número de conflitos envolvendo
posseiros, grileiros, proprietários e jagunços no que ficou conhecido como ‘’arco
da violência’’.

MST
Fundado no fim do Regime Militar, em 1984, o Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra foi o grande protagonista a respeito dos debates sobre
Reforma Agrária no Brasil no final dos anos 1980 e ao longo da década de 1990.

O MST exerceu grande influência na Constituinte de 1987. Fato observável na


nova Constituição Federal de 1988 que prevê a desapropriação fundiária por
interesse social e crê ser necessária a Reforma Agrária.

A Reforma Agrária, em linhas gerais, é proposta através de uma agricultura


familiar, de subsistência e voltada ao mercado interno, em minifúndios e
policultora.

Figura 5. Regiões no Brasil com grande tensão envolvendo a Reforma Agrária.


O Mapa traz o número de pessoas assassinadas em conflitos pela terra. O
destaque se dá na fronteira entre PA, TO e MA em região conhecida como Bico
do Papagaio. Fonte: Pastoral da Terra.

A produção no campo brasileiro


A produção agrícola e pecuária no Brasil: historicamente o Brasil foi importante
país fornecedor de bens agrícolas a Portugal e aos demais países europeus. A
história do País se confunde com nossos ciclos econômicos agrários, a exemplos
do Pau-Brasil, da cana-de-açúcar, das drogas do sertão, da borracha, do café e,
hoje em dia, da soja e proteína animal.

Até os anos 1930 o Brasil foi um país predominantemente agroexportador em


complexos rurais. À medida que o país se urbanizou e industrializou houve forte
expansão de tecnologias agrícolas aplicadas à nossa agricultura e pecuária,
resulta daí grande modernização do campo brasileiro, em importantes
complexos agroindustriais.

O agronegócio é importante ramo da economia fortemente associado ao campo


e às atividades primárias, porém, envolve desde famílias produtoras da
agricultura familiar, cooperativas produtivas, médios e grandes produtores e
grande rol de atividades econômicas nas áreas da indústria e da pesquisa
científica e universitária do mais alto padrão tecnológico. O agronegócio,
portanto, está alicerçado em pesquisas científicas, indústrias modernas,
financiamento de grandes bancos e toda infraestrutura logística de transportes e
energia. Quer seja, a moderna agricultura está longe daquele estereótipo do
agricultor isolado em regiões rurais e com enxada em mãos.

Conforme se vê, nós assistimos a grandes avanços na agropecuária nacional,


entretanto, a modernização do campo não chegou em todas as regiões do país,
nem a todos produtores rurais, na mesma proporção. Há ainda muitos bolsões
de pobreza no campo brasileiro e muitos trabalhadores rurais em más condições
de trabalho e, em algumas regiões, há trabalhadores rurais que sequer têm
acesso às condições básicas de saneamento básico e de saúde.

Dois brasis: apesar de observarmos grandes avanços na agricultura nacional,


as tecnologias modernas não alcançaram todas as regiões do território nacional,
pois há profundas diferenças entre a agricultura desenvolvida em complexos
agroindustriais do Paraná e em regiões pobres no campo no Agreste nordestino.

Há que se diferenciar a agricultura patronal do Centro-Sul e a agricultura familiar


de regiões do Nordeste e Amazônica. Resulta daí o que se compreende como
Modernização Conservadora, pois ao mesmo tempo em que certas culturas
agrícolas e bens pecuaristas dispõem de significativo uso de tecnologia, em
outras regiões do Brasil predomina pobreza e fome.

O Centro-Sul: agricultura moderna


Essa região envolve os estados de melhor infraestrutura do Brasil e melhores
indicadores sociais, quer seja, os estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina,
Paraná, São Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul apresentam importante
produção agropecuária em complexos agroindustriais. Esse tipo de agricultura
modernizada recebe o nome, invariavelmente, de agricultura patronal porque
envolve uma cadeia produtiva salarial e de propriedades privadas que buscam o
lucro em sua atividade econômica.

Há nessa região agricultura e pecuária diversificada com alto padrão tecnológico,


mão-de-obra qualificada e uso de insumos em larga escala. Entretanto, nessa
região há forte presença da agricultura familiar.

Essa região apresenta os maiores PIBs do País e grandes concentrações


urbano-industriais, logo a demanda agrícola aí é enorme e o preço da terra tende
a ser bem alto por causa da grande demanda pela atividade agrícola das grandes
aglomerações urbanas.
Agricultura familiar: técnicas menos sofisticadas
É na região Nordeste do País que temos a agricultura familiar em maior destaque
quando observamos a produção agropecuária no Brasil. Ainda que na região
haja alguns pontos importantes de alto padrão tecnológico camponês, a exemplo
do Tapete Verde às margens do rio São Francisco nas cidades de Juazeiro (BA),
e Petrolina (PE). O Tapete Verde ocorre no Vale do Velho Chico onde se produz
com alto padrão tecnológico e técnica de irrigação uva e uma variedade de
fruticultura, a produção vinícola local é voltada à exportação.

No Oeste baiano, região predominantemente do Domínio dos Cerrados, há


crescente avanço da sojicultura e agricultura algodoeira com técnicas do mais
alto padrão tecnológico. Além disso, assiste-se à importante agricultura
modernizada em estados do Piauí e do Maranhão. O grande destaque nesses
Estados é o avanço da soja nos últimos anos. A propósito, estes estados de
avanço da cultura da soja no Nordeste do país recebem o acrônimo de
MAPITOBA, no caso: Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia, que compõem
importante fronteira agrícola nos últimos anos.

Figura 6. Observe o mapa agrário nacional.

Grande produção agrícola nacional: a região Centro-Sul do país tem a mais


importante produção agroindustrial nacional. Há grande produção de laranja,
café, cana-de-açúcar, soja, fumo e arroz.

O caso do arroz é curioso, pois a maior produção, do tipo arroz irrigado, é no Rio
Grande do Sul em planícies alagadiças dos rios Jacuí e na Campanha Gaúcha.
Há o caso da produção de arroz de sequeiro que se expandiu para o Cerrado
nacional, MT e GO.

Observe o mapa da produção de cana-de-açúcar no Brasil:

Figura 7. Concentrações da produção canavieira no Brasil.

A grande produção canavieira nacional se destaca no estado paulista,


especialmente por causa da expansão dos biocombustíveis nas últimas décadas
em decorrência do Pró-Álcool e por causa da grande tecnologia agroindustrial
disponível no Estado. Entretanto, a Zona da Mata nordestina continua sendo
importante polo açucareiro nacional. A diferença, porém, é que a produção por
hectare é diferente em ambas as regiões. No Centro-Sul, notadamente São
Paulo, é produzido em torno de 110 toneladas por hectare e na faixa litorânea
do Nordeste se produz 75 toneladas por hectare. A demanda pelos
biocombustíveis fez com que a produção de cana avançasse em direção ao
Centro-Oeste brasileiro onde há importantes polos produtores em MT, MS e GO.

São Paulo, além da grande produção de cana-de-açúcar, também tem grande


produção de laranja. Veja o mapa abaixo.

Figura 8. Laranjais no Brasil. Destaque-se que em S. Paulo a produção ocorre em pequenas e médias propriedades.
De longe o estado campeão na produção de laranja no Brasil é São Paulo. A
produção abastece o mercado interno e externo e ocorre em pequenas e médias
propriedades familiares. As regiões próximas às cidades de Araraquara, São
José dos Campos, Matão, Bebedouro e Taquaritinga são os grandes polos
produtores no Estado paulista.

A longa marcha do café: São Paulo ainda hoje produz muito café. Entretanto,
houve grande migração da produção deste produto para outras regiões do país
ao longo dos anos.

Figura 9. Mancha da produção de café.

O café foi durante décadas o mais importante produto nacional em nossa pauta
de exportações, mas ainda hoje não perdeu importância no comércio
internacional. Conforme se observa no mapa acima até meados de 1850 o café
era produzido no Vale do Paraíba paulista e fluminense. Destacam-se
importantes cidades nessa região como Taubaté (SP), e Resende (RJ).

A partir de 1850 até meados de 1900 houve expansão cafeicultora para regiões
como Pouso Alegre e Juiz de Fora, na Zona da Mata mineira, bem como para o
interior do Estado paulista nas proximidades de Campinas, Sorocaba e Jundiaí.
De Jundiaí partiram milhares, quiçá milhões, de toneladas de café ao porto de
Santos pela Estrada de Ferro Santos-Jundiaí.

No final do século XIX o café seguia importante marcha para o Oeste Paulista
em polos importantes como Rio Claro, Araraquara e Ribeirão Preto. Ainda no
século XIX o café avançou para o nordeste da região Sudeste e ganhou os
terrenos do Espírito Santo.

A partir do século XX nós assistimos à penetração da cultura cafeicultora mais


ao interior paulista com importantes polos em Botucatu, Marília, São José do Rio
Preto e Presidente Prudente.

Antes de 1950 o café já era produzido em Ourinhos e Assis, SP, e ganhava


terrenos no norte do Paraná em Londrina e tinha suas franjas em Maringá. Hoje
o café é produzido em grandes quantidades no sul de Minas, Espírito Santo e
em São Paulo.
Soja: a maior monocultura nacional. A soja foi produzida em grandes
quantidades no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina até meados da década
de 1960. Não teria sido introduzida na agricultura local como produto principal,
mas como alternativa à produção do trigo. No caso, o trigo é produzido em
épocas frias, a soja em épocas quentes, e por esses motivos a soja se alternava
com a produção do trigo. A partir de então avançou para outras regiões do país.
Na década de 1970 já era produzida no noroeste paranaense, nos anos 1980 e
1990 ganhou os Cerrados nacionais do Centro-Oeste em importante fronteira
agrícola para essa região.

Nos anos 1970 o avanço da soja para o estado do Paraná ocorreu por uma série
de fatores naturais e econômicos e ocupou antigas regiões produtoras de café,
a exemplo de Maringá no centro-norte do estado. O café é um cultivo
permanente, mas sofre com as geadas – congelamento do orvalho na superfície
das folhas das plantas – e acaba ‘’queimando’’. Em outras palavras, o café é
perdido com as geadas, a soja não. Não é por acaso que o café migra, nos anos
1950-1970 para o sul mineiro.

Hoje o Mato Grosso é o maior produtor do grão em solo brasileiro. Parte


considerável de nossa produção é voltada aos mercados externos via corredores
de exportação, especialmente porque a soja é um dos mais importantes grãos
agrícolas na alimentação mundial.

A soja é usada na indústria produtora de óleos vegetais e é fundamental insumo


à produção de ração animal através do farelo da soja. A produção da sojicultura
nacional e sua expansão ao noroeste do Paraná e Centro-Oeste brasileiro
ocorreu pela possibilidade de exportar este produto na entre-safra norte-
americana de fevereiro a maio.

A melhoria genética no grão na década de 1970 desenvolvida pela Empresa


Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) possibilitou a expansão
agrícola para as regiões tropicais e desde então a soja abriu muitos caminhos
nos sertões do Brasil, notadamente em regiões de Cerrado. O solo do Cerrado
é caracterizado pela ligeira acidez, mas com o desenvolvimento de produtos
pedológicos, à base de calcário, corrigem a qualidade do solo e o torna propício
à agricultura de soja.

Os estados de maior produção de soja no país são o Mato Grosso, seguido do


Rio Grande do Sul e do Paraná, na sequência estão Goiás e Mato Grosso do
Sul. O Brasil é o segundo maior produtor de soja mundial, fica atrás dos Estados
Unidos. É considerável nossa produção tanto para o abastecimento do mercado
interno – produção de ração animal, farelo de soja e biodiesel –, como para
abastecer a China que é nossa principal importadora e por este motivo o Brasil
é o maior exportador mundial desse produto e concorre com os produtores dos
Estados Unidos.
Figura 10. Dados da produção mundial de soja em toneladas para o ano de 2018 e a respectiva produção
nos maiores produtores em tonelagem e em percentagem. Juntos os EUA, Brasil e Argentina produzem
82,3% da soja mundial. Fonte: USDA.

Pecuária no Brasil: as aves e os suínos passaram a ser produzidos em


crescentes quantidades no Paraná na década de 1970 e este é um dos motivos
para o aumento da produção de soja neste estado ao longo dessa década.
Conforme dito acima a soja é importante ração animal e está atrelada à pecuária
brasileira. Os frigoríficos que existem na região Sul do Brasil têm importante
infraestrutura associada à produção do grão.

Na região Sul há produção familiar em pequenas e médias propriedades a fim


de abastecer as grandes empresas do setor, Sadia e Perdigão, que se fundiram
em 2009 e deram origem ao grande truste da BRF Brasil Foods. No caso, os
pequenos e médios produtores abastecem as grandes empresas processadoras
e exportadoras de carne suína e de aves.

Quanto à carne bovina o País é um grande competidor no mercado internacional.


O Brasil é o maior exportador de carne bovina mundial e tem nos mercados da
Rússia, do Irã, União Européia e Estados Unidos grande mercado consumidor,
além dos próprios vizinhos na América do Sul.
Figura 11. Participação no mercado mundial de carne bovina no ano de 2017.

Você também pode gostar