- A natureza da melancolia: Freud compara a melancolia com o afeto normal do luto;
associação do luto com a melancolia. "Luto, termo alemão que significa tanto "luto quanto " tristeza (Trauer) → O equivalente em português do adjetivo "Faurig” é "triste”. - Via de regra, o luto é uma reação à perda de uma pessoa amada ou de uma abstração que ocupa o seu lugar, como pátria, liberdade, um ideal, etc. Não nos ocorre ver o luto como um estado patológico e indicar tratamento médico para ele, embora ocasione afastamento da conduta normal da vida. “Melancolia” – abatimento doloroso (em termos psíquicos) – cessação do interesse pelo mundo exterior, perda de capacidade de amar, inibição de toda atividade e diminuição da autoestima. Abatimento (desânimo, depressão); autoestima (amor-próprio) - O luto exibe os mesmos traços, mas nele a autoestima não é afetada. De resto, é o mesmo quadro. Sobre o luto, Freud diz que esse comportamento só não nos parece patológico porque sabemos explicá-lo bem. - Luto: o objeto amado não existe mais, então toda libido é retirada das conexões com esse objeto. Após a consumação do luto, o Eu fica novamente livre e desimpedido. “Libido”: carga energética direcionada a um objeto; energia que dirigimos ao objeto dos nossos desejos. A melancolia pode também ser uma reação à perda de um objeto amado. Em outras situações, a perda pode ser de natureza mais ideal. No luto, nada é inconsciente na perda, mas na melancolia é possível relacionar a uma perda de objeto subtraída à consciência. Na inibição melancólica, isto é algo enigmático, pois não conseguimos ver o que tanto absorve o doente. Há o rebaixamento da autoestima, que falta no luto. - No luto, é o mundo que se torna pobre e vazio; na melancolia, é o próprio EU. O doente descreve seu EU como indigno, incapaz e desprezível, espera rejeição e castigo. - Freud cita Hamlet como exemplo de melancolia; diz que não há dúvidas de que quem chega a uma avaliação negativa de si mesmo e a expressa diante dos outros, está doente, mesmo que esteja dizendo a verdade sobre si e sobre os outros. “Trate cada homem conforme seu mérito, e quem escapará do açoite?” (Ato 11, cena 2) – Hamlet encontra satisfação no desnudamento de si próprio. Fazendo analogia com o luto, ele sofreu uma perda relativa ao objeto – que no caso é o próprio EU. - Consciência moral tão profunda que chega a adoecer por si própria! Quadro clínico da melancolia: insatisfação moral com o próprio EU – defeitos físicos, feiura, debilidade, inferioridade social. Segundo Freud, a chave para o quadro clínico da melancolia são recriminações a si mesmo – recriminações a um objeto amoroso que deste se voltaram para o próprio EU. - Ocorreu um abalo nessa relação de objeto por algum motivo (real ofensa ou decepção) e o resultado foi “anormal”; em vez de a libido ser retirado desse objeto e deslocada para um novo, a libido foi recuada para o EU – estabelecendo uma identificação do Eu com o objeto abandonado – a sombra do objeto caiu sobre o EU. - A melancolia é, por um lado, como o luto, uma reação à perda do objeto amoroso, mas além disso é marcada por uma condição que se acha ausente no luto normal! No tocante aos motivos, a melancolia ultrapassa bastante o luto, que, via de regra, é desencadeado pela morte real, a morte do objeto. - 3 pressupostos da melancolia: perda do objeto, ambivalência das relações amorosas e regressão da libido para o EU (este último é o mais influente, segundo Freud). - Luto e melancolia: ambos ocorrem a partir de um evento traumático, de alguma perda (morte, relacionamento, emprego). A diferença entre eles é a resposta que cada uma dessas estruturas dá a esse evento traumático. O luto é mais natural, cotidiano – é um momento necessário de introspecção, para ressignificar a vida. “O luto é a vitória da realidade sobre o nosso ego” Já a melancolia é um processo mais enigmático, mais complexo, mais duro. Não depende do evento, mas da estrutura psíquica daquela pessoa... Na melancolia, o luto é crônico, é algo exacerbado. Há um desinteresse pelo mundo externo, diminuição muito grande da própria autoestima. - O melancólico se identifica com o objeto – quando perde o objeto, é como se perdesse a si mesmo. Na melancolia, a pessoa pode ser ela mesma, como se ela o objeto fossem a mesma coisa. O melancólico sofre o processo de luto de si mesmo, cronicamente. No luto, é o mundo externo que fica sem graça – na melancolia, é o mundo interno que desmorona. - O texto ajuda a pensar sobre as patologias atuais! Grande número de casos de depressão e ansiedade – a grande epidemia. Para Freud, a psicanálise é uma teoria da cultura, pois a cultura influencia o nosso modo de ser! A criação nas décadas anteriores era marcada pela repressão, autoritarismo, sociedade disciplinar (Vigiar e Punir, Michel Foucault), regida pelo medo do castigo – medo da autoridade externa (figura castradora externa). A partir dos anos 90, com a globalização, surgem relações menos verticalizadas. Atualmente precisamos cumprir uma série de requisitos de beleza, saúde, bem-estar, felicidade, modo de viver, que, caso não atendamos, não somos suficientes. Demanda excessiva – insuficiência diante da pressão do individuo sobre si mesmo a todo tempo. Os quadros melancólicos do século 21 são justamente esse sentimento de insuficiência diante da pressão de competitividade esmagadora – constante sentimento de fracasso, de atraso, angústia (excesso de idealização).