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Disciplina: Teorias da cultura e da sociedade

Texto: O luto e a melancolia (Sigmund Freud)

- A natureza da melancolia: Freud compara a melancolia com o afeto normal do luto;


associação do luto com a melancolia.
"Luto, termo alemão que significa tanto "luto quanto " tristeza (Trauer)
→ O equivalente em português do adjetivo "Faurig” é "triste”.
- Via de regra, o luto é uma reação à perda de uma pessoa amada ou de uma abstração que
ocupa o seu lugar, como pátria, liberdade, um ideal, etc. Não nos ocorre ver o luto como um
estado patológico e indicar tratamento médico para ele, embora ocasione afastamento da
conduta normal da vida.
“Melancolia” – abatimento doloroso (em termos psíquicos) – cessação do interesse pelo
mundo exterior, perda de capacidade de amar, inibição de toda atividade e diminuição da
autoestima.
Abatimento (desânimo, depressão); autoestima (amor-próprio)
- O luto exibe os mesmos traços, mas nele a autoestima não é afetada. De resto, é o mesmo
quadro.
Sobre o luto, Freud diz que esse comportamento só não nos parece patológico porque
sabemos explicá-lo bem.
- Luto: o objeto amado não existe mais, então toda libido é retirada das conexões com esse
objeto. Após a consumação do luto, o Eu fica novamente livre e desimpedido.
“Libido”: carga energética direcionada a um objeto; energia que dirigimos ao objeto dos
nossos desejos.
A melancolia pode também ser uma reação à perda de um objeto amado. Em outras
situações, a perda pode ser de natureza mais ideal. No luto, nada é inconsciente na perda,
mas na melancolia é possível relacionar a uma perda de objeto subtraída à consciência.
Na inibição melancólica, isto é algo enigmático, pois não conseguimos ver o que tanto
absorve o doente. Há o rebaixamento da autoestima, que falta no luto.
- No luto, é o mundo que se torna pobre e vazio; na melancolia, é o próprio EU. O doente
descreve seu EU como indigno, incapaz e desprezível, espera rejeição e castigo.
- Freud cita Hamlet como exemplo de melancolia; diz que não há dúvidas de que quem
chega a uma avaliação negativa de si mesmo e a expressa diante dos outros, está doente,
mesmo que esteja dizendo a verdade sobre si e sobre os outros.
“Trate cada homem conforme seu mérito, e quem escapará do açoite?” (Ato 11, cena 2) –
Hamlet encontra satisfação no desnudamento de si próprio.
Fazendo analogia com o luto, ele sofreu uma perda relativa ao objeto – que no caso é o
próprio EU.
- Consciência moral tão profunda que chega a adoecer por si própria! Quadro clínico da
melancolia: insatisfação moral com o próprio EU – defeitos físicos, feiura, debilidade,
inferioridade social. Segundo Freud, a chave para o quadro clínico da melancolia são
recriminações a si mesmo – recriminações a um objeto amoroso que deste se voltaram para
o próprio EU.
- Ocorreu um abalo nessa relação de objeto por algum motivo (real ofensa ou decepção) e o
resultado foi “anormal”; em vez de a libido ser retirado desse objeto e deslocada para um
novo, a libido foi recuada para o EU – estabelecendo uma identificação do Eu com o objeto
abandonado – a sombra do objeto caiu sobre o EU.
- A melancolia é, por um lado, como o luto, uma reação à perda do objeto amoroso, mas
além disso é marcada por uma condição que se acha ausente no luto normal! No tocante aos
motivos, a melancolia ultrapassa bastante o luto, que, via de regra, é desencadeado pela
morte real, a morte do objeto.
- 3 pressupostos da melancolia: perda do objeto, ambivalência das relações amorosas e
regressão da libido para o EU (este último é o mais influente, segundo Freud).
- Luto e melancolia: ambos ocorrem a partir de um evento traumático, de alguma perda
(morte, relacionamento, emprego). A diferença entre eles é a resposta que cada uma dessas
estruturas dá a esse evento traumático. O luto é mais natural, cotidiano – é um momento
necessário de introspecção, para ressignificar a vida.
“O luto é a vitória da realidade sobre o nosso ego”
Já a melancolia é um processo mais enigmático, mais complexo, mais duro. Não depende
do evento, mas da estrutura psíquica daquela pessoa... Na melancolia, o luto é crônico, é
algo exacerbado. Há um desinteresse pelo mundo externo, diminuição muito grande da
própria autoestima.
- O melancólico se identifica com o objeto – quando perde o objeto, é como se perdesse a si
mesmo. Na melancolia, a pessoa pode ser ela mesma, como se ela o objeto fossem a mesma
coisa. O melancólico sofre o processo de luto de si mesmo, cronicamente. No luto, é o
mundo externo que fica sem graça – na melancolia, é o mundo interno que desmorona.
- O texto ajuda a pensar sobre as patologias atuais! Grande número de casos de depressão e
ansiedade – a grande epidemia.
Para Freud, a psicanálise é uma teoria da cultura, pois a cultura influencia o nosso modo de
ser! A criação nas décadas anteriores era marcada pela repressão, autoritarismo, sociedade
disciplinar (Vigiar e Punir, Michel Foucault), regida pelo medo do castigo – medo da
autoridade externa (figura castradora externa).
A partir dos anos 90, com a globalização, surgem relações menos verticalizadas.
Atualmente precisamos cumprir uma série de requisitos de beleza, saúde, bem-estar,
felicidade, modo de viver, que, caso não atendamos, não somos suficientes.
Demanda excessiva – insuficiência diante da pressão do individuo sobre si mesmo a todo
tempo. Os quadros melancólicos do século 21 são justamente esse sentimento de
insuficiência diante da pressão de competitividade esmagadora – constante sentimento de
fracasso, de atraso, angústia (excesso de idealização).

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