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Segundo o Dicionário de Psicanálise (Chemama 1995, p 203), s.m.

(alem.: Symptom; fr.: symptôme; ing.: symptom). Fenômeno subjetivo que


constitui, para a psicanálise, não o sinal de uma doença, mas a expressão de
um conflito inconsciente. Para S. Freud (1892), a palavra "sintoma" adquire um
sentido radicalmente novo, a partir do momento em que ele sugeriu que o
sintoma de conversão histérica, em geral considerado como uma simulação, é,
de fato, pantomima do desejo inconsciente, expressão do recalcado. O
sintoma, a princípio concebido como a comemoração de um trauma, será, a
seguir, definido mais exatamente como a expressão de uma realização de
desejo e a realização de um fantasma inconsciente, que serve para realizar tal
desejo. Conforme podemos observar o autor nos mostra que Freud, sugeri que
os sintomas histéricos não era apenas simulações, mas expressões simbólicas
do desejo do inconsciente ou seja que eles são como uma forma de encenação
ou uma representação não verbalizada de conflitos. Os sintomas
representavam manifestações do desejo reprimido e fantasias inconscientes.
No artigo “O sintoma: de Freud a Lacan”, a autora Maria das Graças Leite
Villela Dias, descreve sintomas:
Os sintomas são ou uma satisfação de algum
desejo sexual ou medidas para impedir tal
satisfação e, via de regra, têm a natureza de
conciliação, de formação de compromisso
entre as duas forças que entraram em luta no
conflito: a libido insatisfeita, que representa o
recalcado, e a força repressora, que
compartilhou de sua origem. É esse acordo
entre as partes em luta que torna o sintoma
tão resistente (DIAS, 2006).
No artigo “O estudo do conceito de sintoma em Freud: como a psicanálise se destaca
de outras práticas” a autora Bárbara Santos Andrade Nascimento, tem -se que os
sintomas aparecem como uma conciliação entre 2 forças em jogo: uma querendo que
a experiência tenha um motivo para ser lembrada e outra força (a resistência) que luta
para que não haja nenhuma preferência desta ordem. Nessa luta de forças o que é
registrado é um elemento que é intimamente associado ao que teria sido inicialmente
passível de objeção. Logo, se observa que houve a criação de uma lembrança
substituta por conta desta conciliação. Os sintomas seriam assim produto de algo que
se negou a ser reprimido e que através de uma representação, através de um
substituto, retornam de forma patológica (FREUD, 1899). A ideia de sintoma como
formação substitutiva inconsciente e como formação de compromisso, se sustenta ao
longo da obra de Freud.
No mesmo artigo autora destaca: Assim irão apontar que a origem dos sintomas, na
Psicanálise, passará pelas noções de um conteúdo que foi recalcado por um teor de
natureza sexual e chegará à concepção de uma defesa contra a angústia, passando
pela noção de trauma e fantasia. É na 2ª tópica que a insistência e a constância dos
sintomas irão revelar algo da ordem da pulsão que deve ser entendida como o retorno
do recalcado e em 1920 aparece o problema da resistência ao tratamento e a
angústia, que também surge na consideração dos sintomas. (BOLSSON;
CALZAVARA, 2013; CRUZ BENETTI, 2016; CURI; DIAS, 2014).
O sintoma na obra freudiana passa a ser entendido como uma satisfação pulsional,
mas Freud trabalhará na sua 2ª tópica o fato de que além de uma satisfação, há um
sofrimento envolvido além desta satisfação. De ser não apenas o retorno do
recalcado, mas também um lugar de satisfação mórbida (CURI; DIAS, 2014; NEVES
et al., 2013).

De acordo com Maia, Medeiros e Fontes (2012), ao longo da obra de


Freud, o sintoma ainda aparece como 1. expressão de um conflito psíquico; 2.
mensagem do inconsciente; e, 3. satisfação pulsional (ligada à satisfação
de um desejo). É importante tomar as maneiras pelas quais o sintoma é
entendido em seu conjunto, pois, a partir daí, é possível perceber pistas que
indiciam um modo de funcionamento que não parece ser tão inequívoco quanto
se acreditaria em princípio.

Se na perspectiva de Freud, considerarmos que o sintoma é uma mensagem que tem


criptograma, se percebe uma implicação de que possa haver uma relação direta entre
o conteúdo recalcado e a surgimento do sintoma. Para o analista o sintoma é algo a
ser desvendado, que tem como finalidade buscar uma tradução direta e evidente do
conteúdo latente para o texto do manifesto. O que implica na interpretação do analista
que pode levar a compreensão de forma precisa dos sintomas, permitindo assim uma
“cura” do sujeito ao se desvendar os significados escondidos por trás dos sintomas

Neste caminho, Freud se concentra nos surgimentos do inconsciente, dentre sonhosm


esquecimento entre outros. Mais tarde, Lacan, vai associar o funcionamento dessas
manifestações as regras da linguage.Diante desse contexto, a terapia vai visar
entender o aparente nonsense (absurdo) que é caracterizado pelo sintoma. Enquanto
o sintoma é ajustado pelo recalque

Enquanto o sintoma é moldado pelo recalque, ele também proporciona uma satisfação
pulsional
Nesta jornada, Freud concentra-se nas manifestações do inconsciente, como sonhos,
deslizes, esquecimentos e piadas. Posteriormente, Lacan associa o funcionamento
dessas manifestações às regras da linguagem. Dentro desse contexto, a terapia visa
decifrar o aparente absurdo que caracteriza o próprio sintoma. Enquanto o sintoma é
influenciado pela repressão, ele também oferece uma gratificação pulsional.

Ao considerarmos a perspectiva de Freud de que o sintoma é uma "mensagem cifrada",


podemos perceber uma implicação de que há uma relação direta entre o conteúdo
recalcado e a manifestação do sintoma. Neste sentido, o sintoma é como um enigma a
ser decifrado pelo analista, onde se busca uma tradução direta e inequívoca do
conteúdo latente para o texto manifesto. Essa visão implica que a interpretação do
analista pode levar à compreensão precisa do sintoma, permitindo assim uma "cura" do
sujeito ao desvendar os significados ocultos por trás do sintoma.
O sintoma, derivado do recalcado, é, ao mesmo tempo, "território estrangeiro" (Freud,
1933a/1980, p. 75) para o eu e representante do recalcado perante o eu. É, também, a via
indireta de satisfação pulsional, uma satisfação substitutiva, deformada e irreconhecível,
sentida como sofrimento e geradora de desprazer e angústia. Nessa situação, a angústia
sentida pelo eu é o sinal de desprazer que leva o eu a pôr-se em posição de defesa,
desencadeando o recalcamento e a formação de sintomas.

Pela psicanálise, o sintoma revela não a verdade da doença, mas a verdade do sujeito do
inconsciente, pois busca apreender no sintoma o desejo inconsciente indestrutível, do qual
fala Freud (1900/1980) em "A interpretação de sonhos"

Em 1892 Freud passa a considerar o sintoma uma expressão do recalcado, a partir de


seu trabalho de pesquisa sobre a conversão histérica, rompendo com a
conceitualização médica que considerava os sintomas como signos. Afirma que o
sintoma, expressão do retorno de uma satisfação sexual há muito tempo recalcada, é
uma formação de compromisso na qual se exprime o recalcamento.
Referências

Chemama, Ronald.Dicionário de Psicanálise. Tradução: Francisco Fran K E Settineri.


Local Editora Artes Médicas, Porto Alegre, 1995. Disponível em:<
https://lotuspsicanalise.com.br/biblioteca/Roland_Chemama_Dicionario-de-
Psicanalise.pdf>. Acessado em: 10 de março 2024.

Dias, Maria das Graças Leite Villela. O sintoma: de Freud a Lacan; Minas Gerais, maio
2006. Disponível em :< https://doi.org/10.1590/S1413-73722006000200019>.
Acessado em : 10 de março de 2024.

CURI, D.; DIAS, M. D. G. L. V. (2014). O corpo como suporte para a inscrição do


sintoma. Revista Subjetividades, 14(3), 463-474.

Freud, S. (1980). Inibição, sintoma e angústia. (J. Salomão, Trad.). Edição


Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas (Vol. XX, pp. 107-198). Rio
de Janeiro: Imago. (Original publicado em 1926).

Nascimento, Bárbara Santos Andrade. O ESTUDO DO CONCEITO DE SINTOMA EM


FREUD: COMO A PSICANÁLISE SE DESTACA DE OUTRAS PRÁTICAS.Sergipe,
julho 2009. Disponível em: <
https://ri.ufs.br/bitstream/riufs/13101/2/EstudoConceitoSintomaFreud.pdf>. Acessado
em 12 de março de 2024.

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