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PRATICANDO
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PRATICANDO
Terapia do paciente com afasia predominantemente expressiva
Vou começar a abordar esse tema pelo termo “afasia de expressão”, tão
usado e tão equivocado.
Dito isso, vou considerar que nosso paciente hipotético não possui
nenhuma alteração de compreensão.
Sim, existem casos de alteração neuromuscular tão grave, mas tão grave,
que o paciente não consegue nem mover os lábios, nem elevar a língua,
porque tem muita flacidez, ou porque tem muita movimentação
involuntária, espasticidade, incoordenação pneumofonoarticulatória, e
tudo isso pode leva-lo à incapacidade motora para falar, apesar de
conseguir programar bem o que vai dizer e de estar com a linguagem
preservada. Isso, então, seria disartria, não afasia! A disartria é essa
alteração das bases da fala, que não está ligada à linguagem, não é uma
alteração linguística.
Anote isso para a sua vida: a disartria não faz parte da afasia!
É claro que o paciente pode ter afasia, disartria, disfagia, paralisia facial,
tudo ao mesmo tempo. Mas a disartria é uma coisa, a afasia é outra.
Falei tudo isso só pra você começar a raciocinar! Quando você pegar o
prontuário do paciente, precisa analisar se o quadro dele é compatível
com uma afasia ou não. Já cansei de ler em prontuário: “paciente com
demência diagnosticada há mais de dez anos; hipótese: Alzheimer, ainda
a esclarecer; afasia de expressão”.
Não me mata do coração!!! A pessoa que está demenciando não vai ter
afasia! Isso só será possível se ela já tinha afasia ANTES da demência.
Difícil, mas acontece, são as demências vasculares. Mas, no geral, o
afásico que precisa ser reabilitado na expressão teve uma lesão!
Vamos falar do paciente afásico que está em mutismo, aquele que teve
uma lesão, um AVC, um tumor, um aneurisma, um trauma, e não está mais
falando. De uma hora pra outra, não importa se tem 18, 30, 45 ou 56 anos;
se estava no trabalho e era ativo. De repente, não fala mais nada!
Toda vez que você for encontrar um afásico, o que você precisa ter em
mente é:
1) Avaliar todas as habilidades de compreensão;
2) Avaliar todas as habilidades de expressão.
Isso é possível? Sim, é! E tenho certeza que muitos já passaram por isso.
Quando o paciente tem uma compreensão razoável e você solicita que ele
fale alguma coisa, ele tem uma intenção comunicativa. Se ele não faz
nada, não esboça absolutamente nenhuma reação, normalmente está
ligado a quadros demenciais. É claro que afásicos também passam por
isso, mas por uma questão mais de comportamento e humor do que de
problemas de fala dentro da linguagem. Então, os casos de linguagem, de
lesão focal, são detectados se o paciente tentou se expressar (mexeu a
boca, tentou articular alguma coisa); ou começou a chorar porque tentou
falar e não saiu nada; ou ele falou, mas saiu outra coisa; ou se ele fica
repetindo, falando sempre a mesma palavra e não o que você está
pedindo! Esse paciente é aquele que você sabe que sofreu uma lesão
focal, que não tem idade pra estar degenerando, não tem nenhuma
demência associada, e está em mutismo. O paciente não é disártrico, está
com a musculatura facial ótima, mímica também, não tem nada que
evidencie uma alteração neuromuscular, o paciente faz “jóia” com a mão,
dá tchau, sorri, cumprimenta, tem intenção comunicativa! Entende? Ele
tem tudo isso preservado, mas ele não fala.
Quando isso acontece?
Quando o paciente tem apraxia de fala, ou seja, ele tem intenção, ele
programaria o que quer dizer, mas a programação é ruim. Se, por
exemplo, ele quer falar “mamão”: ou ele não programa nada; ou deixa uma
programação automática rolando (aqueles que só falam “Ave Maria”,
palavrões etc.); ou ele começa a programar, mas não sai como deveria,
ele não sabe onde começa o som.
Além disso, o paciente pode ter uma apraxia bucofacial, o que dá alteração
de mímica (você pede pra ele mandar um beijo e ele dá um sorriso, por
exemplo). Nesses casos, eles programam errado também os movimentos
bucofaciais.
“Mas e a ecolalia?”
A ecolalia é a repetição descontextualizada de algo que o paciente ouviu,
na televisão, na rua, no rádio, em casa ou até no momento da conversa.
Por exemplo:
- Oi, Sr. Mário! Tudo bem?
- Tudo bem?
- O Sr já comeu hoje?
- Hoje.
Ahhh, essas nomenclaturas! Não faz sentido a gente ficar usando “afasia
de Broca”, “afasia de Wernicke”, essas nomenclaturas são muito, muito,
muito ultrapassadas! Mesmo! Ok? Mas vamos lá!
A “afasia de Broca” seria quando você tem uma lesão frontal do lado
esquerdo, que é a região de Broca, e onde predominantemente estão as
células de expressão oral, de programação motora da fala. Quando essa
região é lesionada, a principal característica é uma compreensão de
média complexidade (não compreende perfeitamente, mas entende muito
bem as coisas corriqueiras do dia a dia) e uma expressão com
características de apraxia de fala. Então, é esperado que o afásico de
Broca tenha uma apraxia de fala. Certo? Mas nós não vamos colocar os
pacientes dentro dessa caixinha “afasia de Broca”, porque dentro disso ele
pode ou não ter uma apraxia de fala; pode ter um agramatismo com
apraxia de fala leve ou um agramatismo com uma apraxia de fala grave;
uma compreensão razoável ou ótima, apenas com algumas alterações
cognitivas. Todos esses seriam “afásicos de Broca”.
Então, aqui, você não vai me ver usando classificação de afasias, ok? E eu
sugiro que você também não use, porque isso atrapalha muito o
planejamento terapêutico, você vai classificar os seus pacientes e todos
que tiverem a mesma classificação vão receber o mesmo tratamento.
Suas terapias vão ficar protocoladas, sabe? O ideal é estudarmos cada
alteração que ele apresenta e tratarmos de forma individual.
“Mas como eu coloco o diagnóstico no prontuário, Paola?”
Aí você vai pensar “Nossa, eu quero melhorar a fala do paciente e vou ter
que fazer treino de memória operacional?”. Pois é! Vai, sim! Porque para
programar o que vai falar, ele vai precisar memorizar a sequência de
pontos articulatórios. E como o fonoaudiólogo faz o que o cérebro não faz,
você vai treinar memória operacional, sim!
Então, vamos trabalhar em cima do que falta para o paciente e que é mais
importante para a comunicação dele. Vamos supor que ele fala alguma
coisa, mas muitas palavras ele ainda não consegue. Você vai treinar essas
palavras que ele não fala, começando sempre pelas mais importantes pra
ele, como os nomes das pessoas, as coisas que ele gosta de comer e não
consegue pedir, os cumprimentos, “por favor”, “obrigado”, “xixi”, todas
essas coisas urgentes.
Você vai treinar muito e é possível que depois de dez minutos ele esqueça.
Afinal, ele tem alteração de memória operacional, certo? É normal! Não
desiste!!! Continua treinando! Você vai fazer o treino da memória, o treino
dos fonemas/palavras, vai usar todas as possibilidades que o cérebro tem
de receber dicas/inputs para produzir fonemas (usando música com a
letra, por exemplo; mesmo que ele só consiga falar uma palavra, você grifa
a que ele conseguiu e a cada vez vai grifando as novas, pra ele ver a
evolução), vai mandar o FonoSpeak pra ele treinar com a família em
casa... Persista!
PRATICANDO
- Quantos fonemas eu devo treinar por dia?
Agora, quero esclarecer algo importante! Já entreguei pra você como tratar a
apraxia de fala, que é a coisa mais difícil da expressão oral. Mas a gente sabe
que existem aqueles pacientes que já falam, não têm apraxia, não têm nada,
mas que não conseguem lembrar o nome das coisas.
A dificuldade na nomeação nem sempre é uma alteração na programação
motora da fala. E, aí sim, estaremos nos deparando com o que chamamos de
anomia.
Como você vai saber qual é a alteração do paciente? Como saber qual é a
rota alterada? Na hora que você der a pista.
Exemplo:
Terapeuta: Sr. José, fala pra mim o que é isso (mostrando uma escova de
cabelo).
Paciente: É... ai! Ai... é... não sei.
T: Eu uso pra isso aqui, oh (enquanto penteia os cabelos). Você também usa
pra isso. A gente fala “eu vou... o meu cabelo”!
P: PENTE! ESCOVA! ESCOVA DE CABELO!
O que aconteceu nesse diálogo? Você deu uma pista semântica! Você
mostrou qual é a gaveta e ele achou a escova lá dentro. Mas pode acontecer
de essa pista não ser suficiente e ele continuar sem saber. Por exemplo:
P: Eu sei, eu sei o que é! Minha mulher usa todo dia, eu usei hoje de manhã.
Eu sei!
T: É a ES...
P: COVA! ESCOVA! Escova de cabelo!
Dessa última vez, a pista foi fonêmica. Isso significa que ele tinha a rota
semântico-lexical preservada, mas não tinha a fonêmica. Ele buscou na
gaveta certa, mas lá dentro estava tudo fora do lugar!
Então, o que você ofereceu e beneficiou o paciente é o que ele tem de pior.
Se você ofereceu pista semântica e ele acertou, o problema está na rota
semântica-lexical. Se você ofereceu pista fonêmica e ele acertou, o problema
está na rota fonêmica.
Não. Porque a terapia não é dar pistas, a terapia é fortalecer a rota fonológica
que o paciente precisa. Conforme você for fazendo as atividades que eu
sugeri aqui, as pistas vão sendo cada vez menos necessárias.
E na parafasia verbal?
Exemplo:
Alteração de expressão e compreensão orais, leitura e escrita.
Conduta – exemplo:
-Fonoterapia “x” vezes por semana com o objetivo de expandir rota fonêmica.