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Universidade Federal da Paraíba

Centro de Ciências Agrárias


Departamento de Solos e Engenharia Rural
Disciplina: Nutrição de plantas, adubos e adubação de plantas
Professor: Roberto Wagner Cavalcanti Raposo

ELEMENTOS TÓXICOS E ELEMENTOS


BENÉFICOS

Areia/PB
2021
ELEMENTOS TÓXICOS
- Qualquer elemento pode ser tóxico (depende da
concentração do elemento).

- São aqueles que não são essenciais nem benéficos,


e podem ser:
• Naturais – Al
• Antropogênicos – Ar, Br, Cd, Cr, F, I, Pb
ALUMÍNIO
- A toxicidade do alumínio é um dos principais
fatores limitantes à produção vegetal;
- Solos tropicais;
- Constituinte da fração mineral dos solos,
ocorrendo como 𝐴𝑙2 𝑂3 .
ANTAGONISMO
COM
EFEITOS NUTRIENTES
MEMBRANA
FITOTÓXICOS
PLASMÁTICA
DO ALUMÍNIO
DESBALANÇO
IÔNICO
ORGANELAS
CITOPLASMA

INJÚRIA
DESBALANÇO MEMBRANA EFLUXO DE
PRIMÁRIA
IÔNICO PLASMÁTICA ÍONS
DIRETA
DESBALANÇO
IÔNICO

ORGANELAS
CITOPLASMAS

INIBIÇÃO DA
DIVISÃO DESARRANJO
METABÓLICO
CELULAR

RESPIRAÇÃO,
INIBIÇÃO DO FOTOSSÍNTESE
CRESCIMENTO ATIVIDADE
RESPIRATÓRIA

INJÚRIA
PRIMÁRIA
INDIRETA
ANTAGONISMO
DEFICIÊNCIA INJÚRIA
COM
DO NUTRIENTE SECUNDÁRIA
NUTRIENTES
FLÚOR
- Concentração normal na planta: 2 a 20 𝑚𝑔 𝑘𝑔−1

- Espécies tolerantes: 200 – 400 𝑚𝑔 𝑘𝑔−1

- Pode causar toxicidade aos animais e plantas:


• Toxicidade ocorre em áreas industriais → liberação de HF
• Apresenta efeito cumulativo
FLÚOR
-Teores no solo: 150 – 400 𝑚𝑔 𝑘𝑔−1
-Sintomas de excesso
• Necrose marginal
• Ponta queimada
• Clorose internerval

-Uvas e outras frutíferas são muitos sensíveis


TEOR DE FLÚOR EM FOLHAS DE MILHO
200
180
160
140
120
mgkg¹

100 Exceller
80 Catial 30
60 IAC V3
40
20
0
350 1000
Distância da indústria cerâmica (m)
BROMO
-Teores em solo são muito baixos
-Em plantas – até 260 𝑚𝑔 𝑘𝑔−1
-É menos tóxico que o iodo
-Principal origem: fumigantes de solo
-Efeitos tóxicos:
• Folhas cloróticas e necróticas
• Sintomas semelhantes ao de excesso de sais
BROMO
• Espécies sensíveis: cravo, crisântemo, batata,
espinafre, beterraba e cebola.

• Espécies tolerantes: acumulam até 2000 𝑚𝑔 𝑘𝑔−1


sem apresentar qualquer sintoma de toxicidade:
tomate, cenoura, fumo, melão e aipo.
IODO
-Em solução nutritiva:
• 0,1 𝑚𝑔 𝑘𝑔−1 - efeitos estimulantes
• 0,5 – 1,0 𝑚𝑔 𝑘𝑔−1 - efeitos tóxicos
-Em condições de campo, os efeitos fitotóxicos são
raros
-Teor no solo:
• Varia de 0,1 a 40 𝑚𝑔 𝑘𝑔−1 , numa média de 2,8 𝑚𝑔 𝑘𝑔−1
IODO
-Sintomas
• Folhas velhas ficam cloróticas e em seguida ocorre necrose
• Folhas novas com coloração verde escura

-Concentração em vegetais:
• Feijão: 0,75 𝑚𝑔 𝑘𝑔−1
• Tulipas: >20 𝑚𝑔 𝑘𝑔−1
• Gramíneas forrageiras e trevos: > 100 𝑚𝑔 𝑘𝑔−1 nas
folhas
IODO
-Tem inibição competitiva com o cloro

-É essencial aos animais

-Participa da síntese de tiroxina

-Plantas superiores podem incorporas I − em tirosina e


sintetizar moléculas similares a tiroxina
CROMO
• Essencial aos animais – participa do
metabolismo da glucose em mamíferos;
• Compostos pouco solúveis no solo – baixa
absorção;
• Toxicidade também pode ocorrer em plantas
cultivadas em solos derivados de serpentina.
CROMO
-Fatores antropogênicos:
• Produção de celulose e papel
• Resíduo de curtume

-Adição ao solo
• Ar atmosférico (emissões de forno elétrico na siderurgia)
• Água (polimento de metais)
• Diretamente (cinzas, adubos fosfatados, calcário, lodo de
esgoto)
CHUMBO
-No solo: 2 a 200 𝑚𝑔 𝑘𝑔−1

-Adições antropogênicas:
• Combustão da gasolina: 80%
• Indústrias de metais
• Queima de carvão
• Lodo de esgoto
CHUMBO
-Toxicidade

Planta:
• Campo → não é comum ocorrer
• Redução no crescimento, principalmente radicular, em
condições experimentais
CHUMBO
Animais:
• Altamente tóxicos: inibe diversos sistemas enzimáticos

• Causa danos ao cérebro


– Induz comportamento agressivo em animais
– Em cidades industriais está correlacionado

• Formas de absorção
– 𝑃𝑏 2+ (inorgânico): baixa absorção e pouco móvel no solo
– 𝑃𝑏 – orgânico: extremamente móvel no solo e rápida absorção
Total inibição
Orgânico
do crescimento

100 𝒎𝒈𝒌𝒈−𝟏
de Pb
Sem inibição
Inorgânico
de crescimento
CÁDMIO
- Solo: baixa concentração natural 0,07 a 2 𝑚𝑔𝑘𝑔−1

- Adições antropogênicas: fertilizantes fosfatados, lodo de


esgoto, pneu, óleos lubrificantes.

- Cádmio pode causar toxicidade em plantas e animais

- Cd→ Grupamentos – SH (tiol) → Distúrbios em


atividades enzimáticas
CÁDMIO
- Em plantas: distúrbio no metabolismo do ferro (clorose)

- Cumulativo (rins, fígado e pulmão): desordens crônicas

- Concentração normal em plantas: 5 a 10 𝑚𝑔𝑘𝑔−1

- Pouco móvel quanto a redistribuição: ↓ grãos

- Inibição competitiva: Zn e Ca
Tolerância e toxicidade: (50% de redução no crescimento)

Cd no solo (𝑚𝑔𝑘𝑔−1 ) Plantas


Espinafre, soja, alface romana, milho doce e arroz
10 a 50
sequeiro

50 a 100 Capim do sudão, cenoura e feijão

100 a 300 Trevo, alfafa, rabanete e beterraba

> 300 Repolho, grama-bermuda, tomate e feijão irrigado


ARSÊNIO
- Elemento de ocorrência natural na crosta terrestre
(arsenato e arsenito)
- Encontra-se, geralmente, combinado com oxigênio,
cloro, enxofre, etc.
- Apresenta-se na forma de compostos orgânicos e
inorgânicos, oriundos de fontes naturais e/ou
antropogênicas
ARSÊNIO
- Fontes antropogênicas:
• Depósitos finais de rejeitos químicos;
• Manufatura (fusão) de cobre e outros metais, e na
fabricação de vidro;
• Combustíveis fósseis;
• Praguicidas;
ARSÊNIO
- Fontes antropogênicas:
• Raticidas;
• Uso de tintas, corantes, etc;
• Mobilização das atividades industriais (fundições,
mineração, geração de eletricidade a partir do carvão,
etc) e agrícolas (herbicidas, inseticidas, dessecantes,
preservativos para madeira).
ARSÊNIO
- Efeito tóxico principal
• Inibição da respiração mitocondrial;
• Competição com fosfato durante a fosforilação oxidativa;
• Inibe a conversão de piruvato a acetil-CoA, pela reação
com ácido lipóico;
• Cirrose hepática; doença vascular; alterações sensoriais;
reconhecido como causador de câncer de pele e pulmão.
ELEMENTOS BENÉFICOS
SÓDIO
- Brownell (1965), estabeleceu que sódio é essencial
para a halófita Atriplex vesicaria.
- Quando ocorre baixa concentração de sódio no
substrato:
• Plantas cloróticas e necróticas e com crescimento prejudicado
• Pode ser essencial para a Amaranthaceae, Chenopodiaceae e
Cyperaceae
Substituição de K por Na
EFEITO DE
GRUPO SUBSTITUIÇÃO
CRESCIMENTO
A GRANDE EXPRESSIVO

B RAZOÁVEL ALGUM

C PEQUENA SEM

D NÃO HÁ SEM
SÓDIO
Substituição do potássio por sódio
- EXEMPLO DE ESPÉCIES DOS QUATRO GRUPOS
• GRUPO A: Beterraba e gramíneas C4.
• GRUPO B: Repolho, rabanete, algodão, ervilha, trigo e
espinafre.
• GRUPO C: Cevada, milheto, arroz, aveia, tomate e batata.
• GRUPO D: Milho, centeio, feijões e soja.
Substituição do potássio por sódio

GRUPO A GRUPO D

Tolerância
MAIOR
a sais MENOR

Natrofílicas Natrofóbicas

Diferença entre elas na absorção de Na e na translocação das


raízes para a parte aérea
Substituição do potássio por sódio

• Ocorre na parte aérea, onde se acumula nos vacúolos


das células das folhas para ajustes osmóticos.

• Nas folhas velhas torna o potássio disponível para


regiões meristemáticas e tecidos em expansão.
SÓDIO
- Estímulo ao crescimento
• Causado por efeitos na expansão celular e no balanço
de água.
• Melhor ajuste osmótico é importante ao crescimento de
plantas natrofílicas (halófitas).
• Existem diferenças entre espécies e dentro delas.
SÓDIO
- Relevância do efeito do sódio
• Possibilidade do uso de fertilizante potássico com maior
proporção de sódio (abaixa o custo).
• Aplicação em áreas:
– Com plantas natrofílicas
– Com baixa disponibilidade de sódio
– Com irregularidade de sódio e com ocorrência de secas
SILÍCIO
- Segundo elemento na crosta terrestre;
• Em solução permanece como 𝐻4 𝑆𝑖𝑂4 ;
• Absorvido e transportado como 𝐻4 𝑆𝑖𝑂4 ;
• Similar ao 𝐻3 𝐵𝑂3 : ácido fraco, interage com pectina
e polifenóis e deposita-se principalmente na parede
celular
SILÍCIO
- Em plantas silicófilas, a falta de Si resulta em:
• Redução do crescimento;
• Diminuição na produção de grãos;
• Necrose em folhas maduras;
• Murchamento das plantas;
• Aumento do auto-sombreamento.
SILÍCIO
- Papel do silício nas plantas
• Maior resistência da parede • Menor ataque de pragas;
celular; • Menor efeito de geadas;
• Maior resistência ao • Regula a evapotranspiração
acamamento; (economia de água);
• Plantas mais eretas (maior • Maior produtividade.
taxa de fotossíntese);
• Menor ataque de doenças
(fungos);
SILÍCIO
- Principais fontes de Si no Brasil:

• Termofosfatos magnesianos • Escórias de siderúrgia;


(Yoorin); • Sílica-gel;
• Silicatos de cálcio e • Bagaço de cana;
magnésio;
• Escórias de P elementar;
• Silicato de potássio;
• Wollastonita (𝐶𝑎𝑆𝑖𝑂3 ).
• Casca de arroz (crua,
queimada/carbonizada.);
SILÍCIO

• Deposita-se nas paredes celulares (corrente


transpiratória) e nas brácteas das inflorescências
• Fica na forma de sílica amorfa (SiO2)
• Silificação resulta em proteção mecânica contra
insetos e patógenos
COBALTO
• Austrália (1935) – essencial aos ruminantes
• Ahmed & Evans (1960) – essencial para a fixação de
𝑁2 em leguminosas e em nódulos radiculares de não
leguminosas.
• A coenzima cobalamina (vitamina 𝐵12 e seus
derivados) possui Co (III) como principal
componente metálico central.
ENZIMAS EM RHIZOBIUM E BRADYRHIZOBIUM

ENZIMA DEFICIÊNCIA DE COBALTO


Metionina sintase Menos metionina e menos proteína
Redutase de ribonucleotídeo Menos DNA e menos bacteróides
Mutase de metilmalonil Menos leghemoglobina

Tratamento Cong/g Bacteróide Cobalamina Leghemoglobina


Sem cobalto 45 5,9 0,71
Com cobalto 105 28,3 1,91
Fonte: Dilworth (1999)
COBALTO
• O cobalto não tem função direta no metabolismo de
plantas;
• Concentração em plantas: 0,05 – 0,30 𝑚𝑔𝑘𝑔−1 ;
• Acúmulo: raízes > nódulos > parte aérea;
• Quantidade na semente pode ser suficiente para a
cultura (100 a 200 𝑚𝑔𝑘𝑔−1 );
• Difícil encontrar deficiência no campo (exceto solos
arenosos pobres em Co).
COBALTO

Resposta de amendoim a cobalto


TRATAMENTO NÓDULOS Nº N (𝑔𝑘𝑔−1 ) VAGEM (kgha−1 )
Menos Co 91 23,8 1,232
Co via semente 150 26,2 1,687
Aplicação foliar (2x) 123 31,4 1,752
V. sem. + foliar (2x) 166 33,8 1,844
SELÊNIO
• Química do Se é similar a do S. Pode existir nos
estados de oxidação –II, 0, -IV, -VI;
• Absorvido como selenato (𝑆𝑒𝑂42− );
• Sulfato e selenato competem pelo mesmo sítio ativo;
• Grande variabilidade genética na absorção e no
acúmulo de selênio (crucíferas);
• Selenocisteina, selenocistina e selenometionina.
SELÊNIO

ESPÉCIE VEGETAL CONCENTRAÇÃO (mg Se/kg m. seca)


Astragalus pectinalus 4000
Stanleya pinnola 330
Gutierrezia fremontii 70
Zea mays 10
Helianthus annus 2
Volatilização do selênio em plantas acumuladoras e não
acumuladoras (volatilização de selênio)

Se-metilcisteína (acumuladora)

𝐶𝐻3

Dimetilselenido
𝑺𝒆𝑶𝟐−
𝟒 Se-cisteína Se-metionina
(𝑪𝑯𝟑 − 𝑺𝒆 − 𝑪𝑯𝟑

Compete com 𝑺𝑶𝟐−


𝟒 Proteína (não-acumuladora)
Selênio x Enxofre
• Ocorrência na solução do solo como ânions selenato
(𝑆𝑒𝑂42− ) e sulfato (𝑆𝑂42− );
• Competem pelo mesmo sítio de absorção nas raízes;
• Produção de componentes voláteis nas plantas
(dimetilselenido x isotiocianatos)
SELÊNIO
Plantas classificadas em três grupos:
A – Se acumuladoras: Astragalus, xyhrrhiza e Stanleya, chegam a
Se = 20 – 30 mg/g
B – Se indicadoras: crucíferas como mostarda e brócolis (> 100
𝝁g/g).
C – Se não acumuladoras: várias espécies de uso agrícola, com
toxicidade menor que 100 𝝁g/g (alfafa) ou menor que 10 𝝁g/g
(trigo).
Obrigado!

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