Pierre Bourdieu Arthur Meucci Professor do Departamento de Educação da UFV meucci@ufv.br Pierre Bourdieu (1930 - 2002) Formou-se em Filosofia na Faculdade de Letras de Paris em 1954, e tornou-se orientando de Raymond Aron, um filósofo que migrou para o campo da sociologia e se tornou referência. Bourdieu seguiu o mesmo caminho. Ele se consagrou na Antropologia e na Sociologia pesquisando sobre educação, cultura, literatura, arte, linguística e política. Sua sociologia neoestruturalista dialoga com as teorias de Max Weber e Karl Marx. Foi um dos mais importantes sociólogos do século XX. Campo artístico É o espaço estruturado de disputa entre os diversos agentes da arte pelo poder de legitimação (hierarquia, divulgação, troféus...). Tal poder está baseado no acúmulo e articulação de capital social, cultural e econômico. Habitus São disposições corporais, culturais e simbólicas de ação que são arraigados em seus agentes pelo campo social ao qual pertencem. Os comportamentos são incorporados e dispensam questionamento. Dinâmica: Ação / Comportamento Lógica Símbolos / Valoração Ilusio / amor fatti O mercado da arte Bourdieu aponta que o mercado da arte se consolida no status social que o objeto de arte confere ao agente. Seu estudos sobre os museus e casas de leilão mostraram como as obras de arte são utilizadas como estratégia de distinção social. Arte como distinção Os gostos artísticos revelam a classe social e econômica dos seus agentes. O gosto por obras mais realistas revelam pouco capital cultural. O gosto pelo estilo clássico denuncia os emergentes (com alto capital econômico e baixo capital cultural). Gosto por obras abstratas ou com materiais diferentes revelam alto capital cultural e econômico. Ex.: Steve Ballmer (Pietá) / Edmond Safra (Miró e Botero) / Sônia diarista (Quadro 3D de Nossa Senhora com Menino Jesus) Arte endógena ao campo Nas entrevistas com artistas, Bourdieu constatou que os aspirantes e dominantes no campo artístico não fazem suas obras preocupados com a experiência artística do comprador ou do contemplador. Os artistas, assim como os publicitários e acadêmicos, fazem suas obras para serem contemplados e avaliados por outros artistas – tão ou mais dominantes. A criatividade artística se inscreve no próprio campo artístico. O gosto do público não impacta na percepção que o campo tem do artista. Arte como dominação O campo artístico é utilizado como instrumento de dominação social. Ao diferenciar as artes nobres (ópera, concerto, e estilos acadêmicos de artes plásticas) das artes populares (MPB, Jazz, dança de salão, cinema) e da “não-arte” (funk, street dance, grafite), o campo artístico estabelece vários níveis de discriminação. Diferencia as classes sociais mais abastardas como tendo um gosto “natural” pelo bom e belo, já as classes menos favorecidas são rotuladas como lixo cultural. Arte como dominação O gosto pelas “artes eruditas” mostrada pelos filhos da elite como se fosse uma dom “natural” (piano, violino, balé) é um simples fruto da trajetória social de sua família. Não nasceu com seu “sangue azul”, não é hereditário, é um fato social. Assim também acontece com os sambistas e passistas. Seus dons “naturais” de cantar e dançar não tem origem no DNA africano, mas no contato com essa arte desde a tenra infância na comunidade. A aula de arte como reprodução de desigualdades Quando os professores de educação artística se propõe a ensinar os modelos acadêmicos consagrados de arte, eles perpetuam a dominação ideológica das elites. Raramente um jovem da classe operária terá facilidade em reproduzir linguagens artísticas distante de seu universo social – e se assim conseguir não significará nada para ele.
A arte é uma forma de expressão, de liberdade, de criatividade, de
relação. Quando a escola se prende a ideologia eurocêntrica ela retira dos jovens todo o seu interesse e o seu potencial transformador. Vídeo
Ariano Suassuna: A arte indígena no Brasil
https://youtu.be/GlrxAVL1YUU Os livros sobre arte de Pierre Bourdieu:
A distinção: crítica social do julgamento. Porto Alegre: Ed. Zouk
As regras da arte: gênese e estrutura do campo literário. São Paulo: Ed. Cia das Letras O amor pela arte: os museus de arte na Europa e seu público. São Paulo: EDUSP