Você está na página 1de 20

4

CINÉTICA DE PROCESSOS
FERMENTATIVOS

Prof. Dr. Cleber W. Liria


-atualizada em junho/2021-

BIBLIOGRAFIA
SCHIMIDELL, W. Biotecnologia Industrial, V2, Edgard Blücher Ltda, 2001.
LIMA, V. A., Biotecnologia Industrial, V3, Edgard Blücher Ltda, 2001.
LIRIA, C. W. “Processo Descontínuo Alimentado no Cultivo de Escherichia
coli BL21 (DE3) pLysS para Produção da Proteína Recombinante
Troponina C” Dissertação apresentada a EPUSP 1995.
1 - INTRODUÇÃO

Microrganismos crescem em diversos ambientes físicos e químicos e


estes microrganismos desenvolvem sua atividade vital em meios de elevada
complexidade, transforma substâncias em outras, podendo conduzir a
resultados de interesse econômico.
Cinética das fermentações descreve crescimento e formação de produto
por microrganismos, não somente o crescimento de células ativa, mas também
as atividades das células em repouso e células mortas, já que muitos produtos
de fermentação de interesse comercial são produzidos após o crescimento ter
cessado.

nutriente (S) + microrganismo (X) produto (P) + microrganismo (X)

A primeira dúvida que surge é saber das diversas substâncias


consumidas e produzidas pelo microrganismo quais devem ser escolhidas para
o estudo cinético.
Uma vez escolhida estas variáveis e também os métodos de medida de
concentração de nutrientes de produtos e de microrganismos durante a
fermentação, inocula-se então o meio e conserva-se o sistema em condições
favoráveis à atividade das células microbianas. Periodicamente retira-se uma
amostra do material e determina-se as concentrações de uma substância que
está sendo consumida (S), de um produto (P) e do microrganismo (X).
A variação dessas concentrações com o tempo conduz à curvas do tipo
representadas abaixo:

[] P
s
Representação gráfica
de um processo X
fermentativo qualquer

P s
tempo

1
2 - CRESCIMENTO MICROBIANO

Crescimento microbiano é usualmente caracterizado pelo tempo


requerido para duplicar massa celular ou número de células.
Tempo de duplicação de massa difere do tempo de duplicação de
células, pois a massa celular pode aumentar sem um acréscimo de número de
células.

2.1 - Crescimento de Bactérias

por divisão simples

td= 15-25 min

normal 45-60 min

2.2 - Crescimento de Levedura

normalmente por brotamento

td= 90-120 min

ou por divisão (menos frequente)

2.3 - Crescimento de mofos

Os mofos caracteristicamente crescem por alongar e/ou ramificar,


formando um micélio.
td= 4-8 horas
(mais comum)
60-90 min.
(Menos freqüente)

O micélio pode ser longo, curto e altamente ramificado ou uma mistura


dos dois. 2
O micélio formado, forma aglomerados em cultura submersa, alterando
profundamente as características do fluido.
O acesso de nutrientes fica limitado pela difusão.
O metabolismo dos mofos pode ser alterado ou reduzido devido a falta
de nutrientes.
O gradiente de concentração apresentado no “aglomerado” pode ser
esquematizado da seguinte forma:

[ ] de
nutrientes
ou nutriente
produtos
produto

É muito difícil seguir o crescimento dos mofos com relação ao número


de células porque elas não se apresentam separadas.

2.4 - Crescimento de Vírus

Vírus ou fagos não seguem os exemplos normais de crescimento. Eles


requerem um organismo hospedeiro, que pode ser uma bactéria, levedura,
mofo ou forma superior de células.
Vírus são estruturalmente simples, consistindo de material genético
(DNA), usualmente incorporado em uma capa protéica.
Para multiplicar, os vírus utilizam proteína celular e sintetizam novo
material viral, e para tal utlizam a “maquinaria” da célula hospedeira.
Como resultado, um simples vírus numa célula pode ser replicado 50-
300 vezes antes que a célula rompa e despreze os vírus formados. O
crescimento é exponencial, mas o expoente é muito maior que 2.

2.5 - Medidas de Crescimento Celular - Obtenção da concentração


microbiana Texto baseado em: Barbosa, H. R. e Torres, B. B., Microbiologia
Básica, Editora Atheneu, 114-116, 1999.

A escolha do método de medida do crescimento microbiano deve levar


em consideração algumas características particulares (quantificação de células
totais, quantificação de células viáveis, quantificação de células aeróbias ou
anaeróbias, quantificação de células em meios com ou sem partículas em
suspensão, quantificação de células que formam grupos ou não e se formam
hifas ou não). A seguir serão apresentados alguns métodos usados para
obtenção da concentração celular cujas peculiaridades das células e dos meios
de cultura afetam suas aplicabilidades.
2.5.1- Contagem de células em Microscópio (Método direto que determina
o número de células): O uso de lâminas especiais, que determinam com
precisão um determinado volume, permite a determinação da concentração
3
celular a partir da contagem de células individualizadas no microscópio. A
contagem é facilitada pela presença de uma área desenhada e conhecida nas
lâminas, bem como a altura da suspensão microbiana entre a lâmina e a
lamínula. Para este caso é usada uma lâmina chamada câmara de Neubauer
(figuras abaixo). É um método simples e rápido mas tem a desvantagem das
imprecisões das contagens, principalmente quando formam grupamentos de
células. Este método não permite distinção entre células vivas e mortas.

Câmara de Neubauer

Vistas da Câmara de Neubauer


Informações mais específicas sobre essa técnica podem ser obtidas no livro “MICROBIOLOGIA DE
ALIMENTOS – Métodos de Contagem Microbiana” disponível em formato pdf.

2.5.2- Contagem de células viáveis ou Unidades Formadoras de Colônias


UFC (Método indireto que determina o número de células): Este método
baseia-se no fato de um indivíduo dar origem a uma colônia após divisões
sucessivas. Um volume conhecido da suspensão microbiana é espalhado na
superfície (cultura em superfície) de uma placa de petri contendo meio sólido
4
(figura abaixo) e, após um tempo de ibncubação em temperatura adequada, as
colônias podem ser contadas macroscopicamente.

Foto representativa da inoculação de uma placa de petri contendo meio sólido


Dependendo do tipo de microrganismo, mais de uma célula pode dar origem a
uma única colônia, portanto o que se obtém como resultado da determinação,
não é exatamente o número de células na amostra, mas o número de unidades
formadoras de colônias UFC. Operacionalmente, é conveniente que se
obtenham colônia bem separadas para não incorrer em erro na sua contagem.
Por isso, quando a concentração celular é alta, a suspensão a ser avaliada
deve ser diluída antes da sua aplicação (figura abaixo). O valor final do número
de U.F.C. é calculado a partir do número de colônias formadas, dividido pelo
volume de amostra colocado sobre o meio de cultura sólido. As colônias a
serem contadas são os pontos escuros mostrados na figura abaixo.

Inoculação em superfície utilizando diversas diluições da suspensão


microbiana.
Este método permite contar o número de células viáveis, ou seja, aquelas
capazes de formar colônias. Tem a desvantagem de ser moroso e pouco
preciso para microrganismos que formam aglomerados. Este método também
pode ser aplicado para contagem de microrganismos anaeróbios usando
cultura em profundidade. 5
Informações mais específicas sobre essa técnica podem ser obtidas no livro “MICROBIOLOGIA DE
ALIMENTOS – Métodos de Contagem Microbiana” disponível em formato pdf.
2.5.3- Determinação da massa seca (Método direto que determina a massa
celular): Este método se baseia no fato da massa ser proporcional à
população microbiana. Uma amostra de volume conhecido é retirada do meio
de cultivo celular e submetido a filtração (figura abaixo).

Aparato de filtração usado na separação de células.


As células retidas no filtro são submetidas a secagem à temperatura de 85oC
por aproximadamente 8 h ou até massa constante. A concentração é obtida
pela divisão da massa de células seca pelo volume filtrado. Este método é
simples e rápido porém tem a desvantagem de não distinguir células vivas de
mortas e não poder ser utilizado para suspensões muito diluídas.

2.5.4- Turbidimetria (Método indireto que determina a massa celular): Este


método se baseia em princípios ópticos de turbidimetria, que se assemelham
muito às medidas de absorbâncias. A suspensão microbiana é retirada do meio
de fermentação e é submetida a um feixe de luz usando um espectrofotômetro
como mostrado na figura abaixo e a quantidade de luz transmitida é
diretamente proporcional à concentração microbiana seguindo a lei de
Lambert-Beer.

Esquema de medição turbidimétrica.


O resultado pode ser expresso em unidades de absorbância ou transmitância,
mas também pode ser expresso em UFC/mL ou massa seca/mL por meio da
obtenção de uma curva de calibração.
Informações mais específicas sobre essa técnica podem ser obtidas no livro “MICROBIOLOGIA DE
ALIMENTOS – Métodos de Contagem Microbiana” disponível em formato pdf.

6
3 - CINÉTICA DO CRESCIMENTO MICROBIANO

O crescimento microbiano é caracterizado por um acréscimo em massa


celular e/ou no de células e ocorre somente quando certas condições físicas e
químicas são satisfeitas tais como: temperatura e pH aceitáveis; bem como a
disponibilidade de nutrientes requerida.
Uma curva de crescimento descontínuo típico, para um microrganismo
que cresceu em um meio é mostrado a seguir:

Fases de crescimento celular. (A) Representação linear dos eixos X, tempo e


Y, concentração celular. (B) Representação linear para o eixo X, tempo e
logarítimica para o eixo Y, concentração celular. 1– fase lag, 2– fase de
transição, 3– fase log, 4– fase linear, 5– fase de desaceleração, 6– fase
estacionária e 7– fase de morte ou declínio.

Para estudarmos a cinética de crescimento microbiano vamos analisar o


comportamento da célula em cada fase desse crescimento.
Inicialmente é adicionado no fermentador o nutriente (também chamado
de mosto ou meio de cultura) e depois o inóculo que é o microrganismo. Neste
instante é iniciado processo fermentativo com a fase lag (fase 1 no gráfico).
A fase lag segue a inoculação do meio nutritivo e é um período de
adaptação. Quando uma cultura microbiana é mudada de um ambiente a outro,
é necessário reorganizar ambos os seus constituintes, micro e
macromoleculares. Isto pode envolver a síntese ou repressão de enzimas. A
fase lag, como conseqüência, pode ser muito curta ou muito longa.
Pode haver uma aparente ou pseudo fase lag quando o inóculo é
pequeno ou tem baixa viabilidade, já que o crescimento somente pode ser
registrado acima do nível de sensibilidade do método de análise.
A duração da fase lag é bastante difícil de estimar. O objetivo geral de
um bom processo seria minimizar a fase lag e maximizar a velocidade (taxa) e
a duração da fase exponencial. 7
A duração da fase lag depende: das mudanças em composição de
nutrientes experimentados pela célula; idade e viabilidade celular e tamanho do
inóculo.
Uma vez terminado o período de adaptação as células começam a
crescer, passando pela fase de transição (fase 2 no gráfico)e atingindo a
crescimento exponencial ou logarítmico (fase 3 no gráfico).
A fase log é caracterizada por uma linha reta em um gráfico semi-log de
lnX versus tempo ou uma linha logarítmica em um gráfico com ordenadas
lineares. Esse é um período de crescimento bastante elevado e a célula está
em plena viabilidade celular (melhor fase de crescimento celular).
Durante o crescimento celular em condição batelada a composição
química do meio de cultura está variando, já que nutrientes estão sendo
consumidos e produtos metabólicos estão sendo produzidos. Como uma
conseqüência, o ambiente não está em estado estacionário.
A diminuição dos nutrientes e a formação de produtos que podem ser
tóxicos para a célula interferem no crescimento que sai da plena viabilidade
celular da fase log e atinge a fase linear de crescimento (fase 4 no gráfico).
Terminada a fase de crescimento linear a célula passa para a fase de
desaceleração (fase 5 no gráfico) até atingir a fase estacionária (fase 6 no
gráfico).
A fase estacionária ocorre quando todas as células pararam de dividir ou
quando todas as células viáveis alcançaram equilíbrio com células mortas, isto
é, o número que células que crescem é igual ao número de células que
morrem.
Mesmo embora o crescimento líquido tenha paralisado, pode haver
ainda metabolismo e acúmulo de produtos na célula ou no meio.
A massa celular total, pode permanecer constante, mas o número de
células viáveis provavelmente diminuirá. Como a viabilidade decresce, pode
ocorrer lise celular, e a massa diminuirá atingindo a fase de morte (fase 7 no
gráfico, número de células que crescem é menor que o número de células que
morrem). Isso leva à criação de um meio complexo de produtos de lise, e um
período secundário de crescimento, chamado crescimento crítico, pode seguir.

Ln X

crescimento
crítico

tempo

A fase de morte tem pouca importância industrial, pois a formação dos


produtos de interesse ocorre antes dessa fase e portanto maioria dos
processos microbianos descontínuos industriais são terminados também antes
dessa fase.

8
3.1 - Velocidade Específica de Crescimento Celular

Dispondo dos dados de concentração celular no tempo de fermentação


como mostrado na curva em destaque na figura abaixo é possível obter a
velocidade de crescimento celular em cada ponto.

[] P
s
X

P s
tempo

A velocidade de crescimento celular é a derivada de X em cada tempo


(dX/dt). No estudo das cinéticas fermentativas são usadas as variáveis
velocidade de crescimento celular (V, menos usada) e velocidade Específica de
Crescimento Celular (, mais usada) que é definida da seguinte maneira:
 dX

X dt

onde: X = concentração celular (g/L)


t = tempo (h)
 = velocidade específica de crescimento (h-1)

Integrando dX/dt= X, quando = constante

LnX2/X1= t Quando t= td, isto é o tempo requerido para que X2= 2X1,
chamado tempo de geração ou tempo de duplicação, ou seja

td= ln2/= 0,693/

Podemos esquematizar o crescimento exponencial pela seguinte reta:

9
lnX
dx
 1
X
dt
ln x  ln x0  t

tempo

Podemos ainda esquematizar a curva de  em função do tempo.


fase exponencial
max

tempo
fase lag fase estacionária

4 - CINÉTICA DE CONSUMO DE NUTRIENTES

Dispondo dos dados de concentração de nutriente no tempo de


fermentação como mostrado na curva em destaque na figura abaixo é possível
obter a velocidade de consumo de nutriente em cada ponto.

[] P
s
X

10
X

P s
tempo
A velocidade de consumo de nutriente é a derivada de S em cada ponto
(dS/dt). No estudo das cinéticas fermentativas a variável velocidade de
consumo de nutrientes não é muito usada e sim a Velocidade Específica de
Consumo de Nutrientes (s) que é definido da seguinte maneira:
 dS
 s  
X dt

onde: S = concentração de nutrientes (g/L)


X = concentração celular (g/L)
t = tempo (h)
s = velocidade específica de consumo de nutrientes (h-1)

Podemos ainda esquematizar a curva de s em função do tempo.

s

smax

tempo

5 - CINÉTICA DE FORMAÇÃO DE PRODUTO

Formação de produto metabólito pode ser relacionada a consumo de


nutriente. Além do mais, formação de produto não pode ocorrer sem a
presença de células. Assim, é esperado que crescimento e formação de
produto estão intimamente relacionados à utilização de nutrientes que
dependendo dos controles metabólitos regulatórios, formação de produto será
ligada a crescimento e/ou concentração celular.
A relação cinética entre crescimento e formação de produto depende do
papel do produto no metabolismo celular. As duas cinéticas mais comuns são
aquelas que descrevem a síntese do produto durante o crescimento e após o
crescimento ter cessado. Um exemplo menos comum aplica ao caso onde o
crescimento inicialmente ocorre sem formação de produto, mas após algum
11
período de tempo o produto começa a aparecer enquanto o crescimento
continua.
X X X
[ ] [ ] [ ]

P P P

(a) t (b) t (c) t

No gráfico (a), a formação de produto é associada ao crescimento


celular. No gráfico (b), temos formação de produto associado ao crescimento,
de uma forma mais ou menos confusa, chamada de formação de produto
parcialmente associada ao crescimento. No gráfico (c), temos formação de
produto não associada ao crescimento.
A velocidade de formação de produto é a derivada de P em cada ponto
dP/dt. Da mesma forma que dX/dt e dS/dt não são muito usados, dP/dt
(velocidade de formação de protuto) pode ser transformada em Velocidade
Específica de Formação de Produto (p) que é definido da seguinte maneira:

 dP
 p 
X dt

onde: P = concentração de produto (g/L)


X = concentração celular (g/L)
t = tempo (h)
p = velocidade específica de consumo de nutrientes (h -1)

Uma vez admensionalizados pelos seus valores máximos max e pmax,


podemos mostrar graficamente:

/max /max
1 1
p/pmax p/pmax

t t

12
/max
1 p/pmax

Os gráficos acima mostram:


(d) formação de produto associada ao crescimento;
(e) formação de produto parcialmente associada ao crescimento e
(f) formação de produto não associada ao crescimento.

6 - FATORES DE CONVERSÃO

Crescimento e formação de produto por microrganismos são processos


de bioconversão nos quais os nutrientes alimentados à fermentação são
convertidos a massa celular e metabólitos. Cada uma dessas conversões pode
ser quantificada por um coeficiente de rendimentos, expressão como massa de
célula ou produto formado por unidade de massa de nutriente consumido, Y x/s e
Yp/s, para célula e produto, respectivamente. Assim, o coeficiente de
rendimento representa a eficiência de conversão.
Nos processos cujo produto é a célula (ex. obtenção de levedura de
panificação) o gráfico representativo da fermentação é mostrado abaixo:

[]
s X

tempo
O crescimento celular é maximizado e a formação de subprodutos é
minimizada.

O coeficiente de rendimento de célula por nutriente torna-se

Yx/s = X/S

13
Nos processos cujo objetivo é a formação de um produto e não a célula
(ex. obtenção de etanol, antibióticos) o gráfico representativo da fermentação é
mostrado abaixo

[]
s
P

s
tempo

A formação de subprodutos é maximizada e o crescimento celular é


minimizado.

 O coeficiente de rendimento do produto por nutriente será:

Yp/s = P/S

A maneira usual de calcular rendimentos é medir a massa celular ou


produto produzido e nutriente consumido sob um período de tempo e calcular
Yx/s e Yp/s.
Obs.: Quando no meio há mais de um nutriente de carbono, considera-se o
nutriente limitante do crescimento.

Os fatores de conversão também podem ser obtidos pelas relações


entre as velocidades específicas, ou seja na suas formas diferenciais e
instantâneas como mostrado abaixo:

Yx/s = /S

Yp/s = P/S

7 - INFLUÊNCIA DA CONCENTRAÇÃO DE NUTRIENTES NA


VELOCIDADE ESPECÍFICA DE CRESCIMENTO.

Durante a maioria das fermentações descontínuas típicas, velocidade


específica de crescimento, como uma velocidade de reação química, é uma
função da concentração de compostos químicos. Os compostos químicos
nesse caso são os nutrientes essenciais para o crescimento. A forma da
relação entre velocidade específica de crescimento e concentração de nutriente
foi observada em 1949 por Monod, sendo similar à cinética de saturação
exibida por adsorção monomolecular de Langmuir.
14
O modelo de Monod tem a forma:
 = max. S .  = vel. específica de crescimento;
KS + S max = vel. espec. de crescimento máximo;
S = concentração de nutriente;
KS= constante de saturação e é igual a
S, quando  = 0,5.max

 (h-1)
máx

0,5máx

KS concentração de S

Outra forma gráfica de determinar as constantes da equação de Monod é


chamada Lineweaver-Burk, resultando da inversão da equação de Monod.

1 = KS . 1 + 1 .

 max S máx

1/

KS/máx

Interpolação 1/máx

-1/KS 1/S

Alguns valores para Ks no modelo de Monod para crescimento

Nutriente KS (mg/L) Microrganismo


Glicose 1,0 Enterobacter aerogenes
Glicose 2,0-4,0 Escherichia coli
Glicose 25,0 Sacharomyces cerevisiae

Observações:
a) Os valores de Ks são muito pequenos em relação à concentração do
nutriente nas fermentações industriais. 15
b)  max, quando S> 10 KS
c) para S< 10 KS,  é uma forte função da concentração de nutriente.
d) Durante a fase exponencial  é constante .

8 - EVOLUÇÃO DE CALOR DURANTE A FERMENTAÇÃO

A evolução de calor durante a fermentação está intimamente


relacionada à utilização da fonte de carbono e energia.

a) Quando a fonte de carbono está sendo ativamente incorporada à


massa celular via crescimento, tipicamente cerca de 40-50% da entalpia
disponível é conservada na biomassa e o restante, perdido como calor (50-
60%).
b) Quando a fonte de carbono está sendo metabolizada para
manutenção celular, toda a entalpia associada com combustão é desprendida
como calor.
c) Se um produto está sendo formado, então o calor envolvido por
unidade de fonte de carbono metabolizada está entre os dois extremos.
O interesse na evolução do calor está na necessidade de removê-lo
durante o processo de fermentação e da utilidade do calor como indicador da
viabilidade metabólica.

9 - INFLUÊNCIA DO AMBIENTE NO CRESCIMENTO CELULAR

A habilidade de um microrganismo crescer e sintetizar produtos em um


dado ambiente é determinado pelo microrganismo (m.o). O desenvolvimento
bem sucedido de processos de fermentação é dependente, primeiro da
obtenção de boas linhagens por isolamento e mutação, segundo, dos
parâmetros ambientais no crescimento celular e formação de produto, tais
como:

9.1 – Efeito da Temperatura no Crescimento Celular

Crescimento microbiano e formação de produto são resultados de uma


complexa série de reações químicas. Como elas, eles são influenciados pela
temperatura da seguinte forma:
Três tipos de curvas crescimento-temperatura normalmente ocorrem:

16
Psicrófilos Mesófilos Termófilos

/max

10 20 30 40 50 60 70 (T o)

A maioria dos m.os usados na indústria crescem num intervalo de


temperatura entre 20 e 40oC.
A velocidade de crescimento cresce rapidamente quando a temperatura
aumenta até a temperatura ótima, mas a partir dessa, o crescimento cai
também rapidamente.
A maioria dos m.o. apresenta o seguinte comportamento:

Morte Crescimento
max

(1/T)

 pode ser dado pela equação de Arrhenius:

 = Ae-Ea/RT

 = A’e-Ea’/RT

A e A’ = constante (h-1)
Ea e Ea’ = energia de ativação (cal/mol)
R = 1,98 cal/mol K
T = temperatura (K)
 = velocidade específica de morte (h-1).
 = velocidade específica de crescimento (h-1)

A energia de ativação para crescimento varia de 15-20kcal/mol e para


morte de 60-70kcal/mol. Assim a velocidade específica de morte é muito mais
sensível à temperatura que a de crescimento.
A temperatura também pode afetar outros aspectos importantes do
crescimento microbiano como Yx/s. Na produção de biomassa o importante é
atingir a máxima conversão de nutriente à massa celular. Assim o coeficiente
de rendimento Yx/s celular é de principal interesse. Esse coeficiente de 17
rendimento é mostrado na figura a seguir para crescimento de bactérias em
metanol, em função da temperatura.

Yx/s

45 50 55 60 65 T(oC)

9.2 – Efeito do pH no Crescimento Celular

- pH do meio afeta o crescimento e a formação de produtos.


- Os m.os. trabalham com uma variação máxima de 3 a 4 unidades de
pH do valor ótimo.
- E a velocidade máxima de crescimento se dá para intervalos de 1 a
1,5 unidades de pH

Ex.:  Escherichia coli


(bactéria)
max

5,0 6,0 7,0 8,0 9,0 10,0 pH

Bactérias pH 4 – 8
Leveduras pH 3 – 6
Mofos pH 3 – 7
Procaiotos superiores pH 6,5 – 7,5

Como consequência o pH deve ser controlado nos seus valores ótimos


para melhorar a performance do processo.
Durante a fermentação, o pH tem uma tendência a mudar por várias
razões.
 Quando a fonte de N é um sal de amônio NH4+ o m.o. incorpora da
forma R-NH3+ liberando H+, portanto o pH diminui.
 Quando a fonte de N é NO3-, o m.o. remove H+ do meio para reduzir
o NO3- a R-NH3+ logo o pH aumenta.
18
 Outra razão para variação do pH ocorre quando ácidos orgânicos
são produzidos (ácido lático, pirúvico, acético e etc.).
Através da medida do ácido ou álcali adicionado para neutralizar a
mudança de pH, é possível obter informações sobre crescimento (X) e
formação de produto (P). A figura abaixo mostra a relação entre a massa de
NH4OH adicionado ao cultivo para controle de pH e a concentração celular. O
m.o. utilizado foi E. coli BL21(DE3)pLysS para produção da proteína
recombinante Troponina C

X (g/L)

X = 0,68 + 0,85(NH4OH)
E. coli BL21(DE3)pLysS

NH4OH (g)

19

Você também pode gostar