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Artigo publicado na revista eletrônica Âmbito Jurídico, Rio Grande, 75, 01/04/2010.
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Professor assistente de Direito Penal e Criminologia da Universidade Federal do Rio Grande – FURG.
Doutorando e Mestre em Ciências Criminais (PUCRS). Mestre em História (UFRGS). Especialista em História
do Brasil (FAPA). Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais (PUCRS). Licenciado em História (FAPA). Líder do
Grupo de Pesquisa Hermenêutica e Ciências Criminais (FURG/CNPq). Autor de Ambição de Verdade no
Processo Penal (Desconstrução Hermenêutica do Mito da Verdade Real), editora jusPODIVM. 2009 e
“Horizontes Identitários (A Construção da Narrativa Nacional Brasileira pela Historiografia do Século XIX)”-
EDIPUCRS, 2010.
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O Direito Penal é um ramo do Direito e, logo, o seu conceito deve reportar-se, de alguma
forma, ao conceito de Direito em geral. O problema posto por essa questão se encontra no fato
de que está longe de haver uma concepção consensual e inequívoca do conceito de Direito,
diante da pluralidade de interpretações através das quais o fenômeno jurídico pode ser
entendido. Neste sentido, qualquer conceito sempre implica uma redução da complexidade
inerente ao fenômeno jurídico-normativo.
Reconhecida esta insuficiência, pode ser dito que o Direito regula (ou procura regular) o
convívio social e funciona como elemento de harmonização das relações sociais, oferecendo
mecanismos de resolução de conflitos, por meio de sua dúplice natureza de poder que protege
e, simultaneamente obriga, através de um conjunto de normas que integram o ordenamento
jurídico. Trata-se de uma definição que evidentemente não esgota o fenômeno jurídico, mas
que, ao menos, abrange parcela significativa de suas características.
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O Direito Penal é formado por um conjunto de regras e princípios que integram um campo
específico do ordenamento jurídico, dedicado à tutela dos bens jurídicos mais relevantes de
uma sociedade. É a partir desses pressupostos que se pode chegar a uma definição
propriamente dita do que consiste o Direito Penal.
O Direito Penal é um meio de controle social3 formalizado, que representa a espécie mais
aguda de intervenção estatal. É formado por um conjunto de normas jurídicas (princípios e
regras) que definem as infrações de natureza penal e suas conseqüências jurídicas
correspondentes – penas ou medidas de segurança. É considerado um meio de controle social
formal precisamente por ter sido estabelecido com esta finalidade: o controle, que visa a tutela
de bens jurídicos.4 O princípio de exclusiva proteção de bens jurídicos enfatiza justamente o
caráter instrumental da tutela jurídico-penal, vedando ao direito penal interferência no âmbito
da moral, da religião, da ética, enfim, de tudo que diga respeito às convicções íntimas dos
cidadãos. É um controle social voltado para a tutela de bens juridicamente tutelados e não se
constitui em mecanismo para propor mudanças na ordem social ou constituir uma ética em
qualquer sentido.
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Por outro lado, as mesmas normas jurídico-penais que estipulam sanções em caso de
violação de seus preceitos (mandamentos e proibições) conformam um sistema que estabelece
garantias ao cidadão diante do poder punitivo, pois exigem uma série de condições para o seu
exercício. O que significa que o Direito Penal – enquanto instrumento de controle social
normativo – também tem uma função de proteção e garantia, que lhe é inerente e necessária,
uma vez que a partir da intervenção jurídico-penal é possível retirar direitos da pessoa
humana que lhe são constitucionalmente assegurados, sendo por isso a sua utilização
reservada somente às lesões mais graves aos bens jurídicos mais importantes, o que
caracteriza a idéia de fragmentariedade da tutela jurídico penal, por exigência do princípio da
intervenção mínima ou ultima ratio. Portanto, sua utilização é reservada aos bens jurídico-
penais absolutamente essenciais ao convívio social e que são considerados merecedores da
tutela penal. Tudo isso conduz a um meio de controle com alto grau de formalização, com
regras e princípios muito bem definidos.
Toda norma penal que institui um crime protege (ou deveria proteger) algum bem
fundamental, que através de sua proteção é elevado à condição de bem jurídico. Trata-se de
uma proteção de ordem subsidiária, pois o emprego da intervenção jurídico-penal somente é
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Considerando-se que ao Direito Penal está reservada a mais grave sanção do ordenamento
jurídico – a pena – e que esta é conseqüência jurídica do crime, fica assinalada a
especificidade da intervenção jurídico-penal, que caracteriza esse ramo do Direito. Conforme
Roxin, o Direito Penal é composto por todos os preceitos que regulam os pressupostos e
conseqüências de uma conduta cominada com pena ou medida de segurança. Dentre os
pressupostos se encontram as descrições de condutas delitivas (como o homicídio, por
exemplo) e dentre suas conseqüências, todas as normas que se ocupam da configuração e
determinação da pena, ou da imposição de medida de segurança. Pena e medida, são,
portanto, o ponto comum de referência a todos os preceitos jurídico-penais. O que faz com
que um preceito pertença ao Direito Penal não é a mera regulação normativa de uma violação
a mandamento ou proibição (porque também ocorre em muitos casos no âmbito civil e
administrativo), mas o fato dessa infração ser passível de sanção através de pena ou medida
de segurança.12
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O Direito Penal – como todo texto – é datado. Logo, é um objeto cultural que pertence a
um recorte histórico e geográfico específico.14 Isso significa que é a expressão de um tempo,
de determinadas circunstâncias sociais, culturais, políticas, econômicas, enfim. O processo de
elaboração legislativa em âmbito penal não escapa a esta regra. São circunstâncias de cunho
histórico/valorativo que conduzem à definição abstrata por meio do Direito Penal de uma
série de comportamentos que devem ser obedecidos e/ou evitados pelos cidadãos. A proibição
legislativa de uma determinada conduta, através da norma penal, importa em uma valoração
negativa que conduz à criminalização da mesma. Isso implica mandamentos e proibições
relacionados a determinados bens jurídicos, que definem o injusto penal e as conseqüências
para as condutas desviadas, estabelecendo o desvalor de certas ações e resultados.
No entanto, o Direito Penal tem natureza ao menos, parcialmente constitutiva, ainda que a
primeira seja predominante. Como refere Zaffaroni, ele será excepcionalmente constitutivo
quando proteger bens ou interesses não regulados em outras áreas do direito, como é o caso da
omissão de socorro.19 Todavia, de acordo com Bitencourt, é preciso reconhecer a natureza
primária e constitutiva do Direito Penal, pois mesmo quando protege bens já cobertos por
outros ramos do ordenamento jurídico, o faz de uma forma que lhe é peculiar, com outra
espécie de valoração.20 Para Luiz Regis Prado, o Direito Penal tem natureza autônoma ou
constitutiva (valorativa) mas também sancionatária.21
De qualquer forma, o fato do Direito Penal também ter natureza constitutiva (primária ou
secundária) não deve levar ao equívoco de conceber o mesmo a partir de uma perspectiva
isolada dos mandamentos constitucionais, pois uma interpretação hermenêutica exige uma
aplicação conjunta do ordenamento jurídico, o que conduz, por sua vez, à exigência de uma
dimensão constitucional de aplicação do Direito Penal. Inclusive não se pode esquecer que o
Direito Penal é um dos ramos do ordenamento jurídico em que mais se impõe uma leitura
constitucional.
Costuma-se distinguir entre Direito Penal comum (ou nuclear) e Direito Penal especial. O
primeiro corresponde ao Código Penal Brasileiro (de 1940, cuja Parte Geral foi reformada em
1984), que é subdividido em Parte Geral e Parte Especial; o segundo é constituído pela
legislação penal extravagante (como a Lei dos Crimes Hediondos e a Lei dos Crimes
Ambientais).22
A divisão do Código Penal em uma Parte Geral e uma Parte Especial consiste na
atribuição à primeira das questões centrais da teoria e aplicação do Direito Penal, enquanto a
segunda trata da descrição de delitos concretos. Por este motivo temas como a função e
missão do Direito Penal e os fins da pena são tradicionalmente discutidos nos estudos
dedicados à Parte Geral.
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Também merece menção uma série de referências às subdivisões do Direito Penal, como
Direito Penal Econômico, Direito Penal Empresarial, Direito Penal do Consumidor, Direito
Penal Ambiental e assim por diante, que caracterizam um objeto de estudo mais específico.
Todavia, não são áreas autônomas, apesar de algumas especificidades.
O termo Direito Penal não se refere somente aos aspectos de ordem normativa (ou seja, a
legislação penal em si e os efeitos que ela pretende obter) mas também ao saber da Ciência
Penal, que conforma um sistema de conhecimento e interpretação dessa legislação, que recebe
o nome de Dogmática Penal.
Não seria exagero dizer que a Dogmática Penal é um método (com todos os limites que
são inerentes a qualquer método) de investigação, conhecimento, interpretação e crítica de um
objeto específico, que é o Direito Penal.23 Afinal, um conjunto normativo – como é o caso do
Direito Penal – não pode ele próprio, ser um método.24
De forma que “Dogmática” (no sentido aqui referido) não significa “dogmatismo”, ou
seja, uma atitude conservadora e acrítica. Ao contrário: se a Dogmática Jurídico-Penal não
quer ser considerada reacionária, tem que ser uma Dogmática crítica do Direito Penal.27 De
acordo com Welzel, a Dogmática, como ciência sistemática, dá fundamento para uma
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A Ciência Penal, por sua vez, pode (e deve) ser integrada ao campo de análise das
Ciências Criminais (ou Ciências Penais)31, que têm interesse não só no Direito Penal, mas
também no Direito Processual Penal, na Criminologia e na Política Criminal, abordando-as a
partir de relações interdisciplinares e de interdependência. Como aponta Roxin, é
inimaginável um Direito Penal moderno sem estreita colaboração entre todas as disciplinas
parciais que compõem a “Ciência Global do Direito Penal”.32
Em que pese uma certa convergência dessas áreas, em função de uma aproximação que se
faz mais do que útil, mas até mesmo necessária diante da complexidade contemporânea, é
importante mencionar no que consiste – ainda que de forma sucinta – a especificidade de cada
uma delas.
A Criminologia33 é uma ciência interdisciplinar por excelência, que tem como objeto o
estudo do crime, da pessoa do infrator e seu tratamento, da vítima e do controle social do
comportamento criminoso, buscando apreender a gênese e as principais variáveis da dinâmica
do crime e dos mecanismos de prevenção e controle da conduta social desviada. 34 Investiga
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A Política Criminal, por sua vez, é algo por definição variável. A própria expressão
comporta um significado um tanto quanto vago. 37 Existe uma discussão – não muito
proveitosa – sobre o estatuto científico da Política Criminal38, uma vez que não se trata, a
rigor, de uma disciplina com um método próprio, mas de qualquer forma, sua importância é
inegável. A Política Criminal consiste na sistematização de estratégias, táticas e meios de
11
controle social da criminalidade (penais e não penais) tendo, portanto, penetração no Direito
Penal (principalmente no que se refere à elaboração das normas) mas não restringindo-se a
ele.
A Política Criminal realiza uma análise crítica do Direito, buscando orientá-lo de acordo
com ideais jurídico-penais, mas também critérios políticos e de oportunidade. Sua ligação
com a dogmática é inevitável (ainda que se discuta o quanto), pois invariavelmente critérios
de política-criminal interferem, em alguma medida, na elaboração, aplicação e interpretação
da lei penal. Munõz Conde considera que uma Dogmática Jurídico-Penal crítica, na medida
em que oferece alternativas para a melhoria do Direito Penal, exerce uma função político-
criminal.40 Por outro lado, segundo Lizst, o Direito Penal se coloca como limite infranqueável
da Política Criminal.41 Essa definição parte do pressuposto de que nenhuma política criminal
pode ultrapassar o limite dado pelo Direito Penal às possibilidades de incidência do poder
punitivo.
Sem dúvida, há uma relação muito próxima entre Política Criminal, Direito
Constitucional e Dogmática Jurídico-Penal, conformando uma fronteira que é definitivamente
borrada sob vários aspectos. Em alguns casos, é inclusive defendida a sua primazia em
relação à dogmática (é o caso do funcionalismo de Roxin), conformando uma abertura da
dimensão normativa à critérios valorativos político-criminais. A proposta de Roxin é bem
recebida por muitos, mas vozes expressivas se levantam contra o perigo que essa abertura
representa para o caráter de garantia do sistema. Independentemente do posicionamento
adotado, como refere Queiroz, não é nada fácil estabelecer uma distinção entre Direito Penal e
Política Criminal, uma vez que o Direito Penal é um fenômeno político por excelência. 42 O
12
Apesar das distinções que demarcam o espaço próprio de atuação de cada área, são
disciplinas que convergem, cada vez mais, para um modelo integrado de análise, o que é
imposto pela complexidade inerente ao fenômeno do crime.44 Não é por acaso que Hassemer
e Munõz Conde falam na idéia de uma “Ciência Totalizadora do Direito Penal” que pretende
reunir de forma coesa todos os instrumentos das Ciências Criminais, desde a Criminologia e a
Política Criminal, passando pelo Direito Penal e Direito Processual Penal, até o que chamam
de Direito Penitenciário, sem descuidar do âmbito da Dogmática Penal.45
3. O jus puniendi colocado em questão: para além da dicotomia Direito Penal objetivo e
Direito Penal subjetivo
Entretanto, ainda que limitado pelos pressupostos da legalidade, o jus puniendi é exercido
de forma coativa por parte do Estado, que detém o monopólio do uso legítimo da força,
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através de seu poder de império. Este monopólio não se transfere mesmo nos casos de ação
processual penal privada, pois ainda assim cabe ao Estado executar a sentença condenatória,
ou seja, exercer o jus puniendi. Somente ocorre transferência do jus persequendi.
Assim, de um lado colocam-se limites quanto à criação de normas penais, postos por
garantias penais e de outro, limites quanto à aplicação de normas penais, que são garantias
de persecução: processuais e de execução. A conjunção de garantias penais e processuais
conduz a um sistema que legitima democraticamente o exercício do poder punitivo e também
deslegitima seu uso abusivo. São proposições prescritivas que referem o que, de fato, deveria
ocorrer em um Estado Democrático de Direito, mas que, infelizmente, nem sempre
acontecem, tanto no âmbito de criação como no de aplicação da norma.
É somente a partir dessa perspectiva que o Direito Penal tem condições de se legitimar,
na medida em que a intervenção jurídico-penal é invocada para assegurar a proteção de bens
jurídicos e direitos fundamentais, mostrando-se, ao mesmo tempo, respeitosa de direitos
fundamentais. Afinal, o sistema penal em um Estado Democrático de Direito deve ser um
sistema de garantias, em que a resposta penal somente deve surgir a partir da aplicação de um
modelo que exclua a arbitrariedade tanto no momento de elaboração da norma quanto no de
sua aplicação. Esta exigência impõe que as normais penais passem por um exame mais
rigoroso do que o da mera legalidade, ou seja, a promulgação de normas formalmente válidas.
Devem também estar em conformidade com princípios constitucionais para que encontrem
validade material (estrita legalidade) como será visto a seguir.
É evidente que este item mereceria um artigo inteiro por si só, o que certamente não a
proposta aqui estabelecida. Dito isso, a intenção foi enfatizar os aspectos mais relevantes da
intersecção entre Direito Penal e demais ramos do ordenamento jurídico, a partir da lógica que
deve pautar o funcionamento de um sistema penal afeito a um Estado Democrático de Direito.
Ou seja, uma proposta de máxima eficácia na redução de danos aos direitos fundamentais do
cidadão, acrescida de tutela efetiva e eficaz de bens juridicamente relevantes para a sociedade.
O Direito Penal é, por excelência, um meio de controle social (dentre os vários meios que
existem) do qual se vale o Estado para efetivar a função constitucional de garantir a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança, à dignidade, à
intimidade, etc. Neste sentido, a criminalização de uma conduta que coloca em risco o bem
jurídico vida não visa outra coisa senão a proteção subsidiária da inviolabilidade deste direito
fundamental, estabelecido no Art. 5º da Constituição Federal.
O limite dado por este núcleo principiológico constitucional se manifesta tanto em sede de
aplicação da norma quanto da sua elaboração, sendo esta a especificidade que distingue os
Estados Constitucionais de Direito dos antigos Estados de Direito do século XIX e dos
Estados Absolutistas. Portanto, como lembra Hesse, é a Constituição que estabelece os
pressupostos de criação, vigência e execução do ordenamento jurídico, sendo seu elemento de
unidade.51
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Conforme refere Ferrajoli, o modelo positivista clássico reduzia a validade de uma norma
à sua existência jurídica (Hobbes, Bentham, Kelsen, Hart, Bobbio e tantos outros) –
considerando-a apenas como mero produto de um ato normativo de acordo com as normas
que regulam sua produção. Jamais entrava em questão o significado ou conteúdo normativo
das normas produzidas. Sem dúvida, trata-se de uma concepção insuficiente para os modernos
Estados constitucionais de direito, nos quais se exige também dos enunciados normativos
produzidos uma valoração da correspondência do seu conteúdo com o “dever ser” jurídico
estabelecido por normas superiores, de natureza constitucional.
Ou seja, a própria hierarquia normativa exige conformidade das normas inferiores com as
superiores, sendo importante neste sentido a distinção entre vigência e validade. Como aponta
Ferrajoli, efetivamente existem normas acerca da produção de normas, que no Estado
constitucional de direito tem introduzido múltiplos princípios ético-políticos ou de justiça que
impõem valorações ético-políticas das normas produzidas e atuam como parâmetros ou
critérios de legitimidade e ilegitimidade não mais externos ou jusnaturalistas, senão internos
ou juspositivistas. Dessa forma, as normas se tornam inválidas se violam princípios
constitucionais de direitos humanos. Não se trata somente de regularidade formal, mas
material também.
Portanto, uma determinada norma pode ter vigência (formal), observando-se apenas o
critério de legitimidade jurídica formal, mas não ter validade (material) por estar em
desconformidade com significados ou conteúdos normativos delimitados constitucionalmente.
No Estado absolutista validade e vigência eram equivalentes. O Estado Democrático de
Direito caracteriza-se justamente por essa possível divergência. A validade das normas exige
conformidade com os valores estabelecidos por outras normas superiores a elas. Uma teoria
juspositivista contemporânea como a de Kelsen não faz essa distinção, pois para o autor, todo
Estado é um Estado de Direito, equivalendo-se vigência e validade. A possibilidade de
invalidade de uma norma vigente se abre diante da recusa dessa premissa.
Entretanto, não pode ser esquecido que não é exatamente assim que as coisas se passam
no campo da prática. O próprio Ferrajoli afirma a existência de uma “endêmica possibilidade
de contradição entre normas, gerada pela violação dos modelos em função das práticas e pela
possível ineficácia dos primeiros e a correlativa invalidade dos segundos”.52 O autor considera
que “quanto maiores os valores de justiça professados e perseguidos por um ordenamento,
mais complexas e vinculantes as garantias, maior a possível divergência com as práticas
efetivas, e por conseqüência, o índice de ineficácia das primeiras e falta de validez das
segundas”.53
Evidentemente, a realização plena do modelo é uma meta a ser perseguida, pois muitas
vezes os direitos fundamentais normativamente reconhecidos são desconsiderados em maior
ou menor medida no momento de sua aplicação efetiva. 54
A relação entre Direito Penal e Direito Processual Penal é tão estreita que antigamente
ambos eram regulados conjuntamente no mesmo corpo legal.58 Ainda que a distinção entre
Direito Penal substantivo (ou material) e Direito Penal objetivo (formal) tenha perdido a razão
de ser em função do desenvolvimento da autonomia do Direito Processual Penal, algumas
palavras se fazem necessárias.
Prova disso é que o Código Penal contém dispositivos referentes à ação processual
penal (art. 100 a 106, CP) e também tutela os bens jurídicos referentes à Administração da
Justiça, estabelecendo sanções em caso de obstrução de seus interesses (arts. 338 a 359, CP).
Não se pode falar em subordinação da esfera formal à esfera material, uma vez que o
Direito Processual Penal possui autonomia e conteúdo que lhe são peculiares, tratando da
aplicação do Direito Penal, que somente encontra realização prática e concreta através da
instrumentalidade processual penal. O processo penal, juntamente com sua regulamentação
jurídica, é um instrumento do Direito Penal.62 Nele se realiza o Direito Penal, que lhe
subscreve os objetos que deve investigar e sobre os quais deve se pronunciar. No entanto, a
forma com que o instrumento processual deve realizar essa tarefa não vem pré-definida pelo
Direito Penal material. O Direito Processual penal é autônomo, ainda que subordinado, assim
como Direito Penal, a princípios constitucionais.
Uma questão delicada que merece ser mencionada – embora não diretamente
pertinente ao tema em questão – é a relação entre Direito Processual Penal e Direito
Processual Civil, pois muitos defendem a existência de uma série de conceitos comuns a
ambos.63 Trata-se de uma posição que embora permaneça majoritária não pode mais se
sustentar, pois o emprego desmedido de categorias do processo civil conduz a uma série de
distorções e inadequações em âmbito processual penal.64
É o caso, por exemplo, das indenizações civis ex-delicto que acompanham a condenação
em âmbito penal e a tutela penal de vários institutos de âmbito civil, como a propriedade
(furto, roubo, dano, etc.), a fraude nos negócios privados, a violação da fé pública e
autenticidade de documentos públicos e particulares.
Além disso, em sede comercial, o Direito Penal exerce tutela do cheque, das duplicatas e
da emissão de warrants, além de estabelecer sanções para a fraude mercantil e para
especulações abusivas (Direito Penal Econômico). Também se mostra um meio apto – em
casos de falência – a coibir os abusos sobre garantias do crédito mercantil.65
20
Assim como o Direito Penal, o Direito Administrativo também realiza a proteção de bens
jurídicos, sendo que o que determina a escolha entre crime e ilícito administrativo são
critérios de ordem político-criminal, pois a fronteira entre os dois ramos do direito é difícil de
ser delimitada, motivo pelo qual podem perigosamente se confundir. De fato, nos últimos
tempos tem ocorrido um processo de inflação legislativa que torna cada vez mais difícil
definir o espaço de atuação de cada esfera. O perigo reside, de um lado, na atribuição de tutela
penal a um bem para o qual a tutela administrativa já seria eficaz (e com isso conduzindo a
uma intervenção excessiva na vida do cidadão, pois o remédio penal é sempre mais amargo);
e de outro, na atribuição de tutela administrativa a um bem que exige tutela penal para ser
efetivamente resguardado, o que importa em uma proteção insuficiente ao referido bem.
Ainda que toda ordem social disponha de mecanismos que garantem a sua estabilidade,
que conformam os chamados controles sociais informais, tais controles necessitam ser
reforçados por um controle específico, de ordem jurídica. O controle social formal da
intervenção jurídico penal é a face mais aguda desse controle. O Direito Penal cumpre uma
função essencial, enquanto ramo do ordenamento jurídico encarregado de zelar por condições
sociais indispensáveis para a ordem social.
Temos assim, de um lado, controle social informal (da sociedade) e controle social formal
(do Estado), sendo que o último entra em cena quando os mecanismos de autoproteção da
ordem social fracassam. Assim, a intervenção jurídico-penal garante, nos conflitos mais
graves, a inviolabilidade de valores fundamentais da convivência humana, reagindo diante de
determinados comportamentos desviados (os delitos), se servindo de uma classe particular de
sanções: as penas e medidas de segurança.
Conforme já estabelecido, o Direito Penal é um meio de controle social formal, que tem
por finalidade a proteção subsidiária de bens jurídicos, exercendo uma dupla função de
proteção e garantia. Trata-se da opinião doutrinária dominante, mas que, como referido
anteriormente, não é a única, sendo de especial relevância uma tese minoritária, porém,
significativa: a que extrai de um magistério ético das proibições penais uma força “criadora de
costumes”. Trata-se da suposta função ético-social do Direito Penal, que segundo seus
defensores, como Welzel e Cerezo Mir, é mais importante e eficaz do que a própria proteção
de bens jurídicos.71
Hassemer e Munõz Conde comentam que nem sempre a questão do bem jurídico é tratada
no tópico referente à “missão do Direito Penal”, uma vez que algumas obras reservam o
assunto ao ponto que trata da teoria do delito. Para os autores, o reconhecimento de que a
missão do Direito Penal é a proteção de bens jurídicos faz com que o assunto repercuta
também na teoria do delito, não havendo grande importância na opção assumida. 72 Preferimos
seguir aqui a orientação de Hassemer, Munõz Conde e Garcia-Pablos, que discutem o tema a
partir da função e missão do Direito Penal.
Trata-se de um tema de grande importância política e social, uma vez que é a partir da
definição de bem jurídico – em torno da qual não há unanimidade – que é possível estabelecer
quais são os instrumentos jurídico-penais idôneos e qual o seu espaço de atuação e
intervenção. O que significa dizer que o Direito Penal tutela determinados bens jurídicos?
Em primeiro lugar, não se trata pura e simplesmente de exigir a obediência dos cidadãos
aos ditames do Direito, mas sim, de colocar a natureza instrumental do Direito Penal a serviço
da convivência humana, através da proteção de valores fundamentais da ordem social, ou seja,
a proteção de bens jurídicos. Bens jurídicos são bens vitais, fundamentais, para o indivíduo e
para a comunidade, que ao serem tutelados pelo Direito Penal adquirem a condição de bens
jurídicos.73 Segundo essa perspectiva, a função do Direito Penal – como instrumento de
controle formalizado – encontra legitimidade na medida em que sua atuação visa a referida
proteção, através de um conjunto normativo seguro, prévio, previsível e controlável, que
sempre deve objetivar a redução de danos em relação a inocentes.
23
Como lembra Garcia-Pablos, o Direito Penal somente protege os bens mais valiosos para
a convivência, diante dos ataques mais intoleráveis que podem sofrer (natureza fragmentária
da intervenção jurídico-penal); e somente quando não há outros meios eficazes, de natureza
não penal para protegê-los (natureza subsidiária do Direito Penal). O autor conclui que o
Direito Penal realiza uma função indispensável, já que a vida humana somente é viável se os
bens jurídicos são garantidos de forma eficaz. 74 De acordo com esta posição, o Direito Penal
protege “bens vitais”, como a vida, a liberdade, a segurança e a propriedade; bens, portanto,
que são indispensáveis para a convivência humana em sociedade e que por isso devem ser
protegidos pelo poder de coação do Estado através da pena pública.75
No entanto, afirmar que a função do Direito Penal é a proteção de bens jurídicos está
longe de encerrar a questão, pois o próprio conceito de bem jurídico está longe de ser claro e
inequívoco, uma vez que existem várias definições conflitantes na doutrina.
De acordo com Silva-Sanchéz, parece difícil negar que no plano de realidade (fático) o
Direito Penal exerce sobre a sociedade uma função ético-social, que também pode ser
chamada de força configuradora de costumes.76 Portanto, a partir deste ponto de vista, o que
interessa investigar é a legitimidade e a extensão dessa influência e não a sua existência. 77
Silva-Sanchéz considera que essa função pode ser comprovada com transcorrer de tempo
de um processo de criminalização ou descriminalização e provavelmente tem relação com a
estreita vinculação entre a matéria penal e os valores éticos fundamentais. De acordo com essa
perspectiva, o Direito Penal representa o “mínimo ético” da comunidade, integrado pelas
convicções mais profundas e geralmente compartilhadas em seu seio. 78 Portanto, sob um
ponto de vista material, o delito não lesiona ou põe em perigo somente um bem jurídico, mas
também constitui uma infração da ética social.79
O autor de maior nome que sustenta a função ético-social do Direito Penal é Hans Welzel.
Importante referir que, no entanto, Welzel não nega em momento algum a função de proteção
de bens jurídicos, mas apenas lhe atribui uma característica subsidiária face à função ético-
social.80 A proteção de bens jurídicos efetivamente se dá, para ele, através e por meio da tutela
24
Segundo o autor, com isso é assegurada a vigência dos valores ético-sociais positivos,
como o respeito à vida, à saúde, à propriedade, etc. São valores que consistem em uma atitude
de conformidade ao Direito e que constituem o substrato ético-social das normas de Direito
Penal. Portanto, a função do Direito Penal seria assegurar a validade inviolável desses valores,
mediante a ameaça e aplicação de penas para ações que afrontam de modo significativo
valores fundamentais da vida humana. 82 Como percebe Garcia-Pablos, Welzel estrutura seu
sistema a partir da distinção entre desvalor da ação e desvalor do resultado, atribuindo
primazia ao primeiro.83 De um lado, o Direito Penal busca a proteção de determinados bens
essenciais para a convivência humana (os bens jurídicos), estabelecendo uma sanção em caso
de lesão a eles (desvalor do resultado); de outro lado, obtém a proteção de tais bens jurídicos
proibindo ou castigando as condutas dirigidas a lesioná-los, objetivando evitar o desvalor da
ação.84
Portanto, a partir do momento que o Direito Penal fixa pena ao atos contrários ao Direito,
ampara, ao mesmo tempo, os bens jurídicos, estabelecendo o desvalor do ato correlativo.
Assim, por exemplo, ao assegurar o respeito pela personalidade humana, protege a vida. 85
Sendo assim, a função primária do Direito Penal, para Welzel, não é a proteção de bens
jurídicos (como a propriedade e a vida), pois sua intervenção é tardia. Acima da proteção de
bens jurídicos concretos se encontra a missão de assegurar a validade real (a observância) dos
valores de atuar conforme o pensamento jurídico, que constitui o mais sólido fundamento
sobre o qual se sustentam o Estado e a sociedade.86 De acordo com Welzel, o mero amparo de
bens jurídicos tem somente uma finalidade negativo-preventiva, policial-preventiva. O papel
mais profundo que cabe ao Direito Penal é de natureza positiva, ético-social: ao estabelecer
sanções aos afastamentos mais manifestos dos valores fundamentais do pensamento jurídico,
o Estado exterioriza, da forma mais ostensiva que dispõe, a validade inviolável de tais valores,
formando o juízo ético-social dos cidadãos e fortalecendo seu sentimento de permanente
fidelidade ao Direito.87
25
Garcia-Pablos não está equivocado quando refere que por trás da função ético-social
existe uma verdadeira intenção pedagógica, muito mais ambiciosa do que a mera proteção de
bens jurídicos. Com efeito, segundo Cerezo Mir, que é o mais destacado defensor desta
posição na Espanha, há uma intenção clara de estimular o respeito aos bens jurídicos,
buscando obrigar os cidadãos e influenciar suas consciências, inclusive, apelando a seus
interesses egoístas por meio de coação.90 Outros autores, como Mayer, Jescheck, Marauch e
Stratenwerth também tem defendido essa posição, ainda que a partir de outros pressupostos.
Ainda que possa ser discutida a sua validade enquanto fundamentação teórica, o fato é
que o Direito Penal vem exercendo uma força criadora de costumes, conformando uma
espécie de pedagogia social.91 Os processos político-criminais de neocriminalização são, eles
próprios, em alguma medida, formas de estabelecimento de uma moral, de uma ética em
determinado sentido. Este é o caso, evidentemente, de boa parte das infrações contra o meio
ambiente, como refere Silva Sánchez.92
Todavia, como refere Garcia-Pablos, parece claro que não cabe ao Direito Penal a
realização de um processo de moralização da sociedade e muito menos o estabelecimento de
uma ética (em qualquer sentido) uma vez que isto cabe a outras instâncias.93 Sua função deve
se restringir à proteção de bens jurídicos, não havendo fundamento teórico para uma função
ético-social, mesmo que supostamente esta possa vir a ser mais eficaz na proteção de bens
jurídicos.
Como aponta Silva Sánchez, a atribuição dessa função ao Direito Penal prejudica,
inclusive, o surgimento de uma ética civil. Como se isso não bastasse, os processos de
descriminalização poderiam conduzir a equívocos: o que não tem relevância penal poderia ser
considerado ética e moralmente aceitável, só porque não é punido com uma pena.
Para Garcia-Pablos, a função ético-social não é nada além do que uma manifestação da
função promocional, que alguns autores atribuem, sem fundamento algum, ao Direito Penal.
Sem fundamento porque o Direito Penal não é responsável pelo desenvolvimento social e nem
tampouco o baluarte moral da sociedade. Ainda que uma melhora nos níveis éticos da
sociedade seja necessária e que ela possa conduzir a uma redução significativa nas taxas de
criminalidade, não corresponde ao Direito Penal tal missão.96
Considerações finais:
BIBLIOGRAFIA:
27
ASSIS TOLEDO, Francisco de. Princípios Básicos de Direito Penal. São Paulo: Saraiva,
1994.
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal 1. São Paulo: Saraiva, 2008.
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GARCÍA-PABLOS, Antonio. Criminologia: uma introdução aos seus fundamentos
teóricos. São Paulo: RT, 2002.
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GAUER, Ruth Maria Chittó (coord.) Sistema Penal e Violência. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
2006.
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Derecho Penal. Valencia: Tirant Lo Blanch, 1989.
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Geral. São Paulo: Atlas, 2008.
MIR PUIG, Santiago. Introduccion a las Bases del Derecho Penal. Buenos Aires: BdeF,
2003.
MUNÕZ CONDE, Francisco. Introduccion al Derecho Penal. Buenos Aires: BdeF, 2001.
28
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PRADO, Luiz Régis. Curso de Direito Penal Brasileiro v.1. São Paulo: RT, 2008.
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Barcelona: JMB, 1992.
WELZEL, Hans. Derecho Penal: Parte General. Buenos Aires: Roque Depalma Editor
ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Manual de Derecho Penal. Buenos Aires: Ediar, 1991
1
MIR PUIG, Santiago. Introduccion a las Bases del Derecho Penal. Buenos Aires: BdeF, 2003. p.1.
2
MIR PUIG, Santiago. Introduccion a las Bases del Derecho Penal. Buenos Aires: BdeF, 2003. p.19.
3
O termo controle social expressa os recursos que uma determinada sociedade dispõe para assegurar-se da
conformidade dos comportamentos de seus membros a um conjunto de princípios e regras estabelecidos, assim
como as formas organizadas com que a sociedade responde às suas transgressões. Portanto, não se refere
somente ao Direito Penal, que é um dos vários meios de controle social de que uma sociedade dispõe. BUSTOS
RAMIREZ, Juan J e MALARÉE, Hernán Harmazábal. Leciones de Derecho Penal Volumen I. Madrid:
Editorial Trotta, 1997. p.15.
4
Como também é o caso da Polícia, do Processo Penal, da Justiça Penal e dos estabelecimentos penitenciários
em sentido amplo (carcerários, sócio-terapêuticos, etc.). Diferentemente do controle social informal (a família,
por exemplo) são meios de controle regulados pelo Direito e que se integram dentro um sistema dinâmico onde
cada um cumpre uma função definida: o sistema penal, cuja função é o exercício de um controle específico, o
controle penal. BUSTOS RAMIREZ, Juan J e MALARÉE, Hernán Harmazábal. Leciones de Derecho Penal
Volumen I. Madrid: Editorial Trotta, 1997. p.15. pp.18-19.
5
HASSEMER, Winfried. Por qué no Debe Suprimirse el Derecho Penal. México: Instituto Nacional de
Ciencias Penales, 2003. p.11.
6
GARCIA-PABLOS. Antonio. Derecho Penal: Introducción. Madrid: Universidad Complutense, 1995. p.38.
7
As definições partem da clássica formulação de Von Lizst: “Direito Penal é o conjunto de regras jurídicas
estabelecidas pelo Estado, que associam o crime, como fato, à pena, como legítima conseqüência”. Trata-se de
uma definição a qual se acrescentou a medida de segurança, que ao longo do século XX ingressou nos sistemas
jurídico-penais contemporâneos”. MIR PUIG, Santiago. Introduccion a las Bases del Derecho Penal. Buenos
Aires: BdeF, 2003. p.7.
8
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal 1. São Paulo: Saraiva, 2008. p.2.
9
BRANDÃO, Cláudio. Curso de Direito Penal: Parte Geral. Rio de Janeiro: Forense, 2008. p.5.
10
PRADO, Luiz Régis. Curso de Direito Penal Brasileiro v.1. São Paulo: RT, 2008. p.55.
11
NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado. São Paulo: RT, 2008. p.37.
12
ROXIN, Claus. Derecho Penal: Parte General Tomo I. Madrid: Civitas, 1997. p.41.
13
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal 1. São Paulo: Saraiva, 2008. p.3.
29
14
Como referem Bustos Ramirez e Malarée, em cada etapa histórica existe um conceito diferente de desvio e de
suas estratégias de controle, assim como dos órgãos encarregados de exercê-lo. BUSTOS RAMIREZ, Juan J e
MALARÉE, Hernán Harmazábal. Leciones de Derecho Penal Volumen I. Madrid: Editorial Trotta, 1997. p.16.
15
É o que refere Roxin, ao dizer que deveria se chamar, ao menos, de “Direito Penal e de Medidas”. A
manutenção do termo “Direito Penal” se explica pela integração tardia das últimas a este ramo jurídico. ROXIN,
Claus. Derecho Penal: Parte General Tomo I. Madrid: Civitas, 1997. p.42. Welzel também considera a
expressão restrita demais em função da inclusão de medidas de segurança. WELZEL, Hans. Derecho Penal:
Parte General. Buenos Aires: Roque Depalma Editor, pp.21-22.
16
Cultural, porque se preocupa com o dever ser e não com o ser, como é o caso das ciências exatas (embora
existam ciências humanas que também se preocupam com o ser). É normativa porque tem como objeto o estudo
da norma, do conjunto dos preceitos legais e das conseqüências jurídicas da desobediência dos preceitos
normativos. É necessariamente valorativa, pois estabelece sua própria escala de valores, valorizando as normas,
que dispõe de forma hierárquica. Além disso, há um caráter finalista, pois preocupa-se com a proteção de bens
jurídicos fundamentais, através da ameaça legal de aplicação de sanções em caso de violação de seus
mandamentos.
17
No século XIX, o caráter público do Direito Penal, conforme assinalado por Feuerbach, chegou a ser colocado
em questão por Hugo e Kleinschrod, que afirmavam o seu caráter privado, além da posição eclética de
Grolmann. Hoje não há qualquer dúvida quanto ao monopólio estatal em sede de criação e aplicação de normas
penais. JIMENEZ DE ASÚA, Luis. Principios de Derecho Penal: La Ley y el Delito. Buenos Aires: Editorial
Sudamericana, 1997. p.19.
18
JIMENEZ DE ASÚA, Luis. Principios de Derecho Penal: La Ley y el Delito. Buenos Aires: Editorial
Sudamericana, 1997. p.20.
19
ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Manual de Derecho Penal. Buenos Aires: Ediar, 1991. p.57.
20
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal, Volume 1: Parte Geral. São Paulo: Saraiva,
2008. p.4.
21
PRADO, Luiz Régis. Curso de Direito Penal Brasileiro v.1. São Paulo: RT, 2008. p.56.
22
No entanto, para parte da doutrina (Bitencourt e Mirabete, entre outros) considera que a distinção entre Direito
Penal comum e Direito Penal especial trata-se de um critério de classificação que tem por base a competência do
órgão encarregado de aplicar a norma. De acordo com essa concepção – que enfatiza o órgão competente e não
uma determinada classe de indivíduos ou certos ilícitos – são de Direito Penal especial o Direito Penal Militar e
Direito Penal Eleitoral. Em que pesem as opiniões contrárias de Frederico Marques e Damásio de Jesus, Cezar
Bitencourt considera que tanto a Justiça Militar quanto a Justiça Eleitoral são órgãos especiais com estruturas
próprias e jurisdições especializadas, o que justifica a especialidade em questão. Portanto, de acordo com esse
critério, essa distinção não se relaciona com a distinção entre legislação penal comum (inserida no Código Penal)
e a chamada legislação extravagante, que se encontra disposta nas demais leis de caráter penal que integram o
ordenamento jurídico. BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal 1. São Paulo: Saraiva, 2008.
p.6.
23
Para Asúa, a Dogmática Jurídico-Penal consiste na reconstrução do Direito vigente de acordo com bases
científicas. JIMENEZ DE ASÚA, Luis. Principios de Derecho Penal: La Ley y el Delito. Buenos Aires:
Editorial Sudamericana, 1997. p.24.
30
24
Como afirma Munõz Conde, somente uma atividade humana pode ter um método, o que não é o caso de um
conjunto normativo. MUNÕZ CONDE, Francisco. Introduccion al Derecho Penal. Buenos Aires: BdeF, 2001.
p.211.
25
MUNÕZ CONDE, Francisco. Introduccion al Derecho Penal. Buenos Aires: BdeF, 2001. p.187.
26
MUNÕZ CONDE, Francisco. Introduccion al Derecho Penal. Buenos Aires: BdeF, 2001. p.212.
27
MUNÕZ CONDE, Francisco. Introduccion al Derecho Penal. Buenos Aires: BdeF, 2001. p.278.
28
WELZEL, Hans. Derecho Penal: Parte General. Buenos Aires: Roque Depalma Editor, p.1.
29
MUNÕZ CONDE, Francisco. Introduccion al Derecho Penal. Buenos Aires: BdeF, 2001. p.212.
30
SILVA SÁNCHEZ, Jesús María. Aproximación al Derecho Penal Contemporáneo. Barcelona: JMB, 1992.
p.45.
31
Jimenez de Asúa emprega o termo enciclopédia das Ciências Penais (para referir todas as disciplinas que
estudam o delito, o delinqüente e a pena) que é composta dos seguintes ramos: a) Filosofia e História: Filosofia
do Direito Penal, História do Direito Penal e Legislação Penal comparada; b) Ciências Causal-explicativas
(Criminologia): Antropologia e biologia criminais, Psicologia Criminal, Sociologia Criminal, Penologia; c)
Direito Penal (dogmática penal); Direito Processual Penal, Direito Penitenciário e Política Criminal; d) Ciências
de Investigação: Criminalística e Polícia Científica; e) Ciências Auxiliares: Estatística Criminal, Medicina Legal
e Psiquiatria Forense. JIMENEZ DE ASÚA, Luis. Principios de Derecho Penal: La Ley y el Delito. Buenos
Aires: Editorial Sudamericana, 1997. pp.25-26.
32
ROXIN, Claus. Derecho Penal: Parte General Tomo I. Madrid: Civitas, 1997. p.47.
33
Expressão concebida pelo antropólogo francês Topinard no século XIX. Importante citar que não há um
conceito pacífico do que consiste a Criminologia. Isto se deve, em primeiro lugar, à imprecisão de seu objeto, o
delito e, em segundo lugar, aos distintos enfoques com que este objeto pode ser abordado. MUNÕZ CONDE,
Francisco. Introduccion al Derecho Penal. Buenos Aires: BdeF, 2001. p.193.
34
GARCÍA-PABLOS, Antonio. Criminologia: uma introdução aos seus fundamentos teóricos. São Paulo:
RT, 2002.
35
GARCÍA-PABLOS, Antonio. Criminologia: uma introdução aos seus fundamentos teóricos. São Paulo:
RT, 2002. pp.26-27.
36
MUNÕZ CONDE, Francisco. Introduccion al Derecho Penal. Buenos Aires: BdeF, 2001. p.164.
37
MUNÕZ CONDE, Francisco. Introduccion al Derecho Penal. Buenos Aires: BdeF, 2001. p.199.
38
Franz Von Lizst especificamente recusava à Política Criminal o estatuto de uma ciência. Trata-se de discussão
que é atualmente estéril, pois a própria definição de ciência e seu estatuto de verdade se encontram em profunda
crise.
39
BUSTOS RAMIREZ, Juan J e MALARÉE, Hernán Harmazábal. Leciones de Derecho Penal Volumen I.
Madrid: Editorial Trotta, 1997. p.29.
40
MUNÕZ CONDE, Francisco. Introduccion al Derecho Penal. Buenos Aires: BdeF, 2001. p.282.
41
MUNÕZ CONDE, Francisco. Introduccion al Derecho Penal. Buenos Aires: BdeF, 2001. p.200.
42
O autor considera que a existência mesma do Direito Penal “[...] não decorre de uma necessidade moral,
divina ou ética, mas política: se num determinado momento o Estado entendeu – e ainda entende – de se valer de
leis e instituições penais para responder a determinados conflitos, assim o fez por julgá-lo necessário à sua
31
própria afirmação enquanto poder”. QUEIROZ, Paulo. Direito Penal: Parte Geral. São Paulo: Saraiva, 2006.
p.16.
43
BRANDÃO, Cláudio. Curso de Direito Penal: Parte Geral. Rio de Janeiro: Forense, 2008. p.13.
44
Como considera Gauer, “toda e qualquer forma de ilícito pode ser considerado um fenômeno complexo, e,
portanto, impossível de ser explicado sob o olhar de uma só ciência com base na “verdade” absolutizada e na
imparcialidade do julgador”. GAUER, Ruth Maria Chittó. A ilusão totalizadora e a violência da
fragmentação. In: GAUER, Ruth Maria Chittó (coord.) Sistema Penal e Violência. Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 2006. p.13.
45
HASSEMER, Winfried e MUNÕZ CONDE, Francisco. Introduccion a la Criminologia y al Derecho Penal.
Valencia: Tirant Lo Blanch, 1989. Pp.143-144.
46
BUSTOS RAMIREZ, Juan J e MALARÉE, Hernán Harmazábal. Leciones de Derecho Penal Volumen I.
Madrid: Editorial Trotta, 1997. p.63.
47
BRANDÃO, Cláudio. Curso de Direito Penal: Parte Geral. Rio de Janeiro: Forense, 2008. p. 12.
48
Manzini já dizia que não existia esse direito subjetivo do Estado, afirmando que a faculdade de punir era um
atributo da soberania. JIMENEZ DE ASÚA, Luis. Principios de Derecho Penal: La Ley y el Delito. Buenos
Aires: Editorial Sudamericana, 1997. p.21.
49
BRANDÃO, Cláudio. Curso de Direito Penal: Parte Geral. Rio de Janeiro: Forense, 2008. p. 12.
50
FERRAJOLI, LUIGI. Direito e Razão: Teoria do Garantismo Penal. São Paulo: RT, 2002.
51
HESSE, Konrad. Escritos de Derecho Constitucional. Madrid: Centro de Estudios Constitucionales, 1983.
p.17.
52
FERRAJOLI, LUIGI. Direito e Razão: Teoria do Garantismo Penal. São Paulo: RT, 2002.
53
FERRAJOLI, LUIGI. Direito e Razão: Teoria do Garantismo Penal. São Paulo: RT, 2002.
54
BUSTOS RAMIREZ, Juan J e MALARÉE, Hernán Harmazábal. Leciones de Derecho Penal Volumen I.
Madrid: Editorial Trotta, 1997. p.33.
55
FERRAJOLI, LUIGI. Direito e Razão: Teoria do Garantismo Penal. São Paulo: RT, 2002.
56
QUEIROZ, Paulo. Direito Penal: Parte Geral. São Paulo: Saraiva, 2006. p.33.
57
QUEIROZ, Paulo. Direito Penal: Parte Geral. São Paulo: Saraiva, 2006. p.35.
58
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Valencia: Tirant Lo Blanch, 1989. p.123.
59
MARQUES, José Frederico. Elementos de Direito Processual Penal v.1. Campinas: Bookseller, 1997. p.32.
60
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal 1. São Paulo: Saraiva, 2008. p.6.
61
LOPES JR, Aury. (Re)Pensando as condições da Ação Processual Penal. In: GAUER, Ruth Maria Chittó
(org). Criminologia e Sistemas Jurídico-Penais Contemporâneos. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2008.
62
HASSEMER, Winfried e MUNÕZ CONDE, Francisco. Introduccion a la Criminologia y al Derecho Penal.
Valencia: Tirant Lo Blanch, 1989. p.125.
63
MIRABETE, Júlio Fabbrini e FABBRINI, Renato. Manual de Direito Penal Vol.1: Parte Geral. São Paulo:
Atlas, 2008. p.9.
64
LOPES JR, Aury. (Re)Pensando as condições da Ação Processual Penal. In: GAUER, Ruth Maria Chittó
(org). Criminologia e Sistemas Jurídico-Penais Contemporâneos. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2008.
65
PRADO, Luiz Régis. Curso de Direito Penal Brasileiro v.1. São Paulo: RT, 2008. p.61.
32
66
PRADO, Luiz Régis. Curso de Direito Penal Brasileiro v.1. São Paulo: RT, 2008. p.59.
67
FERRAJOLI, LUIGI. Direito e Razão: Teoria do Garantismo Penal. São Paulo: RT, 2002. p.
68
HASSEMER, Winfried e MUNÕZ CONDE, Francisco. Introduccion a la Criminologia y al Derecho Penal.
Valencia: Tirant Lo Blanch, 1989. p.132.
69
GARCIA-PABLOS. Antonio. Derecho Penal: Introducción. Madrid: Universidad Complutense, 1995. p.40.
70
GARCIA-PABLOS. Antonio. Derecho Penal: Introducción. Madrid: Universidad Complutense, 1995.
pp.39-40.
71
GARCIA-PABLOS. Antonio. Derecho Penal: Introducción. Madrid: Universidad Complutense, 1995. p.38.
72
HASSEMER, Winfried e MUNÕZ CONDE, Francisco. Introduccion a la Criminologia y al Derecho Penal.
Valencia: Tirant Lo Blanch, 1989. pp.99-100.
73
CEREZO MIR, José. Curso de Derecho Penal Espanõl: Parte General. Madrid: Tecnos, 2004. p.14.
74
GARCIA-PABLOS. Antonio. Derecho Penal: Introducción. Madrid: Universidad Complutense, 1995. p.41.
75
HASSEMER, Winfried e MUNÕZ CONDE, Francisco. Introduccion a la Criminologia y al Derecho Penal.
Valencia: Tirant Lo Blanch, 1989. p.103.
76
SILVA SÁNCHEZ, Jesús María. Aproximación al Derecho Penal Contemporáneo. Barcelona: JMB, 1992.
p.300.
77
SILVA SÁNCHEZ, Jesús María. Aproximación al Derecho Penal Contemporáneo. Barcelona: JMB, 1992.
p.301.
78
SILVA SÁNCHEZ, Jesús María. Aproximación al Derecho Penal Contemporáneo. Barcelona: JMB, 1992.
p.300.
79
CEREZO MIR, José. Curso de Derecho Penal Espanõl: Parte General. Madrid: Tecnos, 2004. p.17.
80
WELZEL, Hans. Derecho Penal: Parte General. Buenos Aires: Roque Depalma Editor, 1956. p.5.
81
WELZEL, Hans. Derecho Penal: Parte General. Buenos Aires: Roque Depalma Editor, 1956. p.5.
82
WELZEL, Hans. Derecho Penal: Parte General. Buenos Aires: Roque Depalma Editor, 1956. pp.2-3.
83
GARCIA-PABLOS. Antonio. Derecho Penal: Introducción. Madrid: Universidad Complutense, 1995. p.44.
84
WELZEL, Hans. Derecho Penal: Parte General. Buenos Aires: Roque Depalma Editor, 1956. p.2.
85
WELZEL, Hans. Derecho Penal: Parte General. Buenos Aires: Roque Depalma Editor, 1956. p.3.
86
WELZEL, Hans. Derecho Penal: Parte General. Buenos Aires: Roque Depalma Editor, 1956. p.3.
87
WELZEL, Hans. Derecho Penal: Parte General. Buenos Aires: Roque Depalma Editor, 1956. pp.3-4.
88
WELZEL, Hans. Derecho Penal: Parte General. Buenos Aires: Roque Depalma Editor, 1956. pp.4-5.
89
WELZEL, Hans. Derecho Penal: Parte General. Buenos Aires: Roque Depalma Editor, 1956. p.5.
90
CEREZO MIR, José. Curso de Derecho Penal Espanõl: Parte General. Madrid: Tecnos, 2004. p.17.
91
GARCIA-PABLOS. Antonio. Derecho Penal: Introducción. Madrid: Universidad Complutense, 1995. p.48.
92
SILVA SÁNCHEZ, Jesús María. Aproximación al Derecho Penal Contemporáneo. Barcelona: JMB, 1992.
p.302.
93
GARCIA-PABLOS. Antonio. Derecho Penal: Introducción. Madrid: Universidad Complutense, 1995. p.48.
94
SILVA SÁNCHEZ, Jesús María. Aproximación al Derecho Penal Contemporáneo. Barcelona: JMB, 1992.
p.303.
95
GARCIA-PABLOS. Antonio. Derecho Penal: Introducción. Madrid: Universidad Complutense, 1995. p.49.
96
GARCIA-PABLOS. Antonio. Derecho Penal: Introducción. Madrid: Universidad Complutense, 1995. p.49.