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DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE

DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE

Os direitos da personalidade, tratados pelo Código Civil em seus arts. 11 a 21, adentram o
ordenamento jurídico brasileiro como uma forma de aumentar a proteção em relação à pessoa
humana no que se refere à ótica privada.
Resumidamente, compreendendo os direitos da personalidade como uma cláusula geral de proteção,
o Código Civil é responsável por realizar um movimento de repersonalização do Direito, em que se
tem a preocupação com a integridade física, moral e intelectual dos indivíduos.

No entanto, conforme exposto anteriormente, os artigos nos quais se trabalha a matéria em questão
apresentam um rol exemplificativo em relação a esses direitos, posto que não haveria como o
legislador ser capaz de inserir no Código todas as situações possíveis e imagináveis em relação aos
direitos da personalidade .

Segundo o princípio da operabilidade, o Direito foi pensado para ser efetivado. Em decorrência
desse entendimento várias normas presentes no ordenamento jurídico brasileiro são definidas como
cláusulas gerais com o intuito de que não ocorra um engessamento da situação de proteção no
momento da interpretação da lei.
Nesse sentido, sendo a dignidade da pessoa humana um pilar dos direitos da personalidade e os
direitos da personalidade servindo às questões da dignidade humana, esta deverá ser tratada como
uma cláusula geral a ser interpretada no caso concreto.
Em outras palavras, os direitos da personalidade não se limitarão àquilo que é expresso pelos arts.
11 a 21 do Código Civil, mas abrangerão também inúmeras outras situações pensadas pela doutrina
e pela jurisprudência em relação a essa espécie de direito e que não estão elencados no referido
Código.

CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE Os direitos da personalidade são:


• Absolutos: quanto a essa característica é importante ressaltar que o fato de os direitos da
personalidade serem indicados como direitos absolutos não quer dizer que estes não podem ser
relativizados, dado que é totalmente possível que alguém ceda seus direitos de imagem, por
exemplo. Nesse sentido, considerar os direitos da personalidade como direitos absolutos significa
dizer que estes são erga omnis, isto é, oponíveis contra todos, de modo que a ninguém é dada a
possibilidade de violar o direito de personalidade alheio. Ou seja, nenhum indivíduo está autorizado
a usar o nome, a imagem ou até mesmo a dispor do corpo de outra pessoa sem a devida autorização.
• Inatos: por serem considerados direitos inerentes à condição humana, os direitos da personalidade
são apontados como direitos inatos, aplicando-se em relação à proteção do ser humano. No entanto,
é importante destacar que a pessoa jurídica também pode sofrer dano moral, conforme estabelece o
Código Civil em seu art. 52: Art. 52. Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos
direitos da personalidade. Obs.: vale destacar que no Brasil os direitos da personalidade são
considerados inatos, porque o país adota a teoria jusnaturalista, em que se determina que essa
espécie de direito é inerente à condição de ser humano. Em uma ordem de aprofundamento esse
entendimento encontra divergências na doutrina, pois há quem defenda o positivismo, teoria que
determina que os direitos da personalidade são decorrentes da disposição do direito. •
Extrapatrimoniais: diferentemente do que ocorre em relação os objetos tratados pelo direito
patrimonial, os direitos da personalidade são extrapatrimoniais, ou seja, não possuem valoração
econômica, de maneira que não é possível precificar, por exemplo, a imagem, o nome ou a honra de
alguém. Contudo, considerar os direitos da personalidade como extrapatrimoniais não significa
dizer que o conteúdo desses direitos não admite valoração econômica: perante a violação de um
direito de personalidade o titular do direito violado pode buscar reparação pelos danos.

Classicamente existem três espécies de dano que podem ser sofridos por uma pessoa, podendo esta
solicitar reparação em vias judiciais: • dano moral; • dano material (referente a algum prejuízo
material/econômico que tenha sofrido em virtude do comportamento do outro); e • dano estético
(intimamente associado à integridade física). No entanto, é importante destacar que atualmente a
doutrina moderna discute acerca da existência de outros tipos de dano aos quais pode caber
reparação, tais como a perda de uma chance e o direito de esquecimento, além de analisar também a
questão acerca dos danos coletivos, danos existenciais, entre outros. ATENÇÃO Seja qual for a
espécie de dano sofrido por um indivíduo, uma possível reparação econômica em decorrência de
sua violação não corresponde à precificando do direito desrespeitado, mas apenas a uma ação
reparatória/indenizatória quanto ao ato.

Obs.: de acordo com o entendimento pacífico do Supremo Tribunal de Justiça (STJ) é possível
cumular contra uma mesma pessoa pedido de reparação em relação a dano moral, material e
estético, pois estes possuem propriedades distintas.

• Impenhoráveis: como é sabido, a penhora de bens consiste em um ato de constrição judicial por
meio do qual o devedor é obrigado a pagar suas dívidas.

No entanto, em um cenário em que se configure essa situação, os direitos de personalidade não


poderão ser penhorados.
Nesse sentido, caso o indivíduo devedor possua dentes de ouro, por exemplo, estes não poderão ser
penhorados para a realização do pagamento da dívida, pois os dentes constituem parte do corpo da
pessoa.
O mesmo ocorre em relação a cadeiras de rodas ou a muletas, objetos que não podem ser
penhorados devido ao fato de serem utilizados como as pernas do indivíduo, estando, portanto,
intimamente ligados à integridade física da pessoa.

Obs.: cabe destacar que o tema acerca a impenhorabilidade dos direitos da personalidade é
altamente polêmico, entrando nesse contexto também a questão da impossibilida

de da penhora de sepulturas, posto que esse tipo de direito também tem projeção após a morte. •
Imprescritíveis: não há prazo extintivo para o exercício de um direito de personalidade, isto é, as
pessoas não estão sujeitas à perda dos direitos de personalidade simplesmente pelo decurso do
tempo. Obs.: em relação a essa característica é importante destacar que os diretos de personalidade
em si não são prescritíveis, mas o direito de ajuizar ação com pedido de reparação/indenização
contra uma pessoa em relação aos danos sofridos em razão da violação de um direito de
personalidade, sim. De acordo com os arts. 205 e 206 do Código Civil: Art. 205. A prescrição ocorre
em dez anos, quando a lei não lhe haja fixado prazo menor. Art. 206. Prescreve: § 1º Em um ano: I –
a pretensão dos hospedeiros ou fornecedores de víveres destinados a consumo no próprio
estabelecimento, para o pagamento da hospedagem ou dos alimentos; II – a pretensão do segurado
contra o segurador, ou a deste contra aquele, contado o prazo: a) para o segurado, no caso de seguro
de responsabilidade civil, da data em que é citado para responder à ação de indenização proposta
pelo terceiro prejudicado, ou da data que a este indeniza, com a anuência do segurador; b) quanto
aos demais seguros, da ciência do fato gerador da pretensão; III – a pretensão dos tabeliães,
auxiliares da justiça, serventuários judiciais, árbitros e peritos, pela percepção de emolumentos,
custas e honorários; IV – a pretensão contra os peritos, pela avaliação dos bens que entraram para a
formação do capital de sociedade anônima, contado da publicação da ata da assembleia que aprovar
o laudo; V – a pretensão dos credores não pagos contra os sócios ou acionistas e os liquidantes,
contado o prazo da publicação da ata de encerramento da liquidação da sociedade. § 2º Em dois
anos, a pretensão para haver prestações alimentares, a partir da data em que se vencerem. § 3º Em
três anos: I – a pretensão relativa a aluguéis de prédios urbanos ou rústicos; II – a pretensão para
receber prestações vencidas de rendas temporárias ou vitalícias; III – a pretensão para haver juros,
dividendos ou quaisquer prestações acessórias, pagáveis, em períodos não maiores de um ano, com
capitalização ou sem ela; IV – a pretensão de ressarcimento de enriquecimento sem causa; V – a
pretensão de reparação civil;

A partir de quando se inicia a contagem desse prazo? Prescrição e decadência constituem efeitos do
tempo nas relações jurídicas. O art. 189 é o primeiro a tratar de prescrição: Art. 189. Violado o
direito, nasce para o titular a pretensão, a qual se extingue, pela prescrição, nos prazos a que aludem
os arts. 205 e 206. A prescrição aniquila a pretensão, a intenção de ir a juízo. Nesse caso específico,
a prescrição aniquila a pretensão de buscar no Judiciário a condenação em dano moral, material ou
estético. Ainda que ultrapassado o prazo de 3 anos, o direito continua valendo, mas não se pode
mais cobrá-lo judicialmente. Isso não impede que o devedor pague a dívida espontaneamente.
Portanto, a prescrição não aniquila o direito, apenas a pretensão. O art. 189 estabelece que, quando
violado o direito, nasce a pretensão, ou seja, a possibilidade de ajuizar uma ação que terá um prazo
prescricional até que ocorra a extinção da pretensão. Logo, a contagem do prazo prescricional
ocorre no período compreendido entre a violação do direito e a extinção da pretensão. Por exemplo,
no caso de uma agressão física, o dia em que ocorreu esse fato é o início da contagem do prazo (3
anos, conforme art. 206, § 3º). Encerrado esse prazo, não é mais possível cobrar, exceto se o
devedor pagar voluntariamente.

Em uma situação hipotética, em que um aluno presencial de curso preparatório de Brasília descubra,
em 2020, que sua imagem foi utilizada com fins publicitários no Acre, em 2012, segundo o art. 189,
seu direito à pretensão estaria extinto, devido ao prazo ter-se esgotado. Entretanto, o STJ tem o
entendimento que se deve considerar a data da ciência da violação do direito para início da
contagem do prazo prescricional.. O STJ sugere uma análise subjetiva do art. 189, propondo que
seja considerada a ciência da violação e não sua data de ocorrência. Isso leva ao aspecto subjetivo
chamado de Tese da actio nata ou actio nata na vertente subjetiva, que pode ser encontrado na
Súmula 278 do STJ.

CASO IMPRESCRITÍVEL O STJ, no julgamento do Recurso Especial 816.209-RJ (leading case),


estabelece que, no caso de torturas oriundas da ditadura militar, as ações propostas de pretensão
patrimonial são imprescritíveis. Nesse caso, o STJ aplica a Lei n. 9.140/1995.

Morto sofre dano moral? Há uma diferença entre se considerar o direito da personalidade como
vitalício (extingue- -se com a morte) ou como perpétuo (transcende a morte). Os direitos da
personalidade são vitalícios. ATENÇÃO Direitos da personalidade não se confundem com
personalidade jurídica. Existe proteção dos direitos de personalidade após a morte?

Existe proteção dos direitos de personalidade após a morte? 1) Sucessão processual Quando umas
das partes morre, isso não implica obrigatoriamente a extinção do processo. Pode ser que o processo
continue com alguém substituindo o falecido. Via de regra, substituem o morto: • Os herdeiros (se a
ação discute direito extrapatrimonial); ou • A herança, que passa a se chamar espólio (massa
patrimonial). Obs.: embora esse seja um aspecto processual, ele encontra previsão no art. 110 do
CPC. 2) Transmissibilidade do direito à reparação Recentemente, uma prova da banca CESPE
apresentou a seguinte questão: “João dirigia bêbado quando colidiu com o veículo de Maria. João
morreu no local. Maria foi levada com vida para o hospital, mas faleceu poucas horas depois.
Poderão os herdeiros de Maria ajuizar ação de reparação contra os herdeiros de João?” A resposta é
sim. A transmissibilidade do direito à reparação (obviamente nos limites da herança) encerra o
previsto no art. 943 do Código Civil: Art. 943. O direito de exigir reparação e a obrigação de prestá-
la transmitem-se com a herança

3) Lesados indiretos Primeira situação: Em 1992, foi televisionada a novela De Corpo e Alma,
escrita por Glória Perez, que elencou sua filha, Daniela Perez, para fazer par romântico com o ator
Guilherme de Pádua. Guilherme e sua esposa assassinaram Daniela Perez e isso gerou um grande
clamor nacional por justiça. Os assassinos foram julgados e condenados. Um tempo depois, um
jornal de grande circulação publicou uma imagem de Daniela Perez com a matéria intitulada “O
beijo da morte”, sugestionando que a atriz havia sido morta por manter relacionamento
extraconjugal com Guilherme.

Nesse caso, Daniela sofreu dano moral, em relação a sua honra, após a morte? Segunda situação:
Cristiano Araújo, cantor, morreu em acidente de carro. Na época, pessoas filmaram seu corpo sem
vida e divulgaram na internet.

Nesse caso, Cristiano sofreu dano moral?

A resposta para essas duas situações é não! Quando ocorre a violação de direito de personalidade do
morto, sofrem dano moral aqueles que ficam, também conhecidos como lesados indiretos, pois
sofrem dano moral por reflexo ou ricochete. Os lesados indiretos estão previstos em dois artigos
diferentes:

• Art. 12. – Aplicado quando há violação de qualquer direito de personalidade do morto;

• Art. 20. – Aplicado quando há violação do direito de imagem do morto.

Obs.: a imagem não é apenas a fotografia.

Ela se divide em três categorias:

• Voz;
• Atributos (características); e
• Retrato (imagem em sentido estrito).

Para fins do art. 12, são considerados lesados indiretos:

• Ascendentes;
• Descendentes;
• Cônjuges ou companheiros; e
• Colaterais até o 4º grau (irmãos, sobrinhos, tios e primos).

Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas
e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei. Parágrafo único. Em se tratando de morto,
terá legitimação para requerer a medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer
parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau. Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias
à administração da justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a
transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa
poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe
atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais. (Vide
ADIN 4815) Parágrafo único. Em se tratando de morto ou de ausente, são partes legítimas para
requerer essa proteção o cônjuge, os ascendentes ou os descendentes. Obs.: no art. 20, os colaterais
estão excluídos da possibilidade de requerer a proteção.
Há dois julgados do STJ acerca desse tema. O primeiro deles é o REsp n. 86.109 acerca do caso de
Lampião e Maria Bonita, em que um Banco utilizou a foto do casal após a morte e a filha ajuizou a
ação, pois não havia autorização de uso da imagem.

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