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DIREITOS DA PERSONALIDADE

Direitos da personalidade são direitos aos atributos fundamentais da pessoa.


Por exemplo: honra, imagem, integridade física, intimidade, privacidade, dentre
muitos outros.

Há uma proteção aos direitos da personalidade que se inicial na CRFB/88:

a) art. 1º, III (trata da dignidade da pessoa humana) – só faz sentido eu


me preocupar com os direitos de personalidade de uma pessoa porque eu
me preocupo com a dignidade dela enquanto pessoa humana que ela é.

b) art. 5º, V e X (rol dos direitos fundamentais) – permite concluir que os


direitos da personalidade são antes de tudo direitos fundamentais.

O Código Civil de 2002 traz um Capítulo em que ele trata dos direitos da
personalidade:

a) arts. 11 a 21 – há quem diga que o legislador desse Código perdeu a


oportunidade de esmiuçar esse tema porque é um tema muito importante.
Outros vão dizer que está bom, Que já ajudou bastante, afinal o Código
Civil de 1916 não falava nada sobre o tema.

Para que se possa delinear justa e perfeitamente os direitos da personalidade


porque temos conceito e temos exemplos, é necessário traçar as
características dos direitos da personalidade:

1) ABSOLUTOS: Os direitos da personalidade são oponíveis erga omnes, isto


é, contra todos.

Isso significa que você pode opor esses direitos da personalidade contra toda e
qualquer pessoa. Você pode exigir que respeitem sua honra não somente A, B
e C, mas toda a sociedade.

O oposto seria dizer que eles são relativos, o que é o caso dos direitos
obrigacionais. Esse direitos são relativos (e não absolutos) porque quando
você olha para uma relação jurídica obrigacional, em que tem um credor de um
lado e o devedor do outro, apenas o credor pode cobrar a dívida e não toda a
sociedade. O credor somente pode cobrar do devedor. Então é relativa àquela
pessoa especificamente.

2) ILIMITADOS: Os direitos da personalidade não se limitam a um rol taxativo


previsto em lei.
Você não vai encontrar no Código Civil um artigo que diga “são direitos da
personalidade: esse, aquele e aquele outro”.
Como os direitos da personalidade são ilimitados, não há como o legislador
trazer um rol fechado de quais seriam suas espécies.

3) EXTRAPATRIMONIAIS: Os direitos da personalidade não apresentam um


conteúdo econômico de forma imediata.

Quanto custa minha honra? Ela não tem preço. Não é assim que se diz?

Essa é a grande ideia que está por traz dos direitos da personalidade.

Eles ocupam um espaço totalmente extrapatrimonial. E como corolário lógico


disso, vem a próxima característica.

4) INSTRASMISSÍVEIS: Os direitos da personalidade não se transmitem com a


herança.

Quando eu morrer, o que eu deixo para o meu filho? Minha casa, meu carro,
meu dinheiro. Não vou deixar minha integridade física, minha intimidade nem
minha privacidade.

Não vou transmitir esses direitos justamente por serem extrapatrimoniais.

5) IMPENHORÁVEIS: Os direitos da personalidade não se submetem a


qualquer tipo de constrição judicial.

Imagine que eu devo para alguém um valor. Chega no vencimento e eu


simplesmente não pago. Daí o credor ajuíza uma ação contra mim. Num belo
dia aparece um oficial de justiça na minha porta me dando um prazo para fazer
o pagamento e eu não faço o pagamento. Diante disso, o Oficial de Justiça vai
ver o que tem na casa da pessoa para penhorar. Esse Oficial de Justiça vai
penhora a obra de arte que está na parede, o carro que está na garagem, mas
não vai penhorar minha integridade física nem minha honra.

6) IMPRESCRITÍVEIS/PERPÉTUOS: Não existe prazo para o exercício de um


direito da personalidade.

Seria bem absurdo o Código Civil prever, por exemplo, que a honra da pessoa
é somente pelos próximos cinco anos ou a integridade física pelos próximos
três anos.

Porém, imagine que uma pessoa divulgou minha imagem sem minha
autorização. O que essa pessoa fez? Violou um direito de personalidade meu.

A partir do momento que alguém viola um direito de personalidade meu, surge


um prazo para eu ser reparado civilmente.
Existe um prazo para eu reclamar a devida reparação civil? SIM.

Essas informações não podem ser confundidas.

Não há prazo para exercitar direitos Existe prazo para reclamar a


da personalidade reparação civil em caso de violação a
um direito da personalidade (art. 206,
§ 3º, V, do CC/02)

Art. 206. Prescreve:


[...]
§ 3 o Em três anos:
I - a pretensão relativa a aluguéis de prédios urbanos ou rústicos;
II - a pretensão para receber prestações vencidas de rendas temporárias ou
vitalícias;
III - a pretensão para haver juros, dividendos ou quaisquer prestações acessórias,
pagáveis, em períodos não maiores de um ano, com capitalização ou sem ela;
IV - a pretensão de ressarcimento de enriquecimento sem causa;
V - a pretensão de reparação civil;
VI - a pretensão de restituição dos lucros ou dividendos recebidos de má-fé,
correndo o prazo da data em que foi deliberada a distribuição;
VII - a pretensão contra as pessoas em seguida indicadas por violação da lei ou do
estatuto, contado o prazo:
a) para os fundadores, da publicação dos atos constitutivos da sociedade anônima;
b) para os administradores, ou fiscais, da apresentação, aos sócios, do balanço
referente ao exercício em que a violação tenha sido praticada, ou da reunião ou
assembléia geral que dela deva tomar conhecimento;
c) para os liquidantes, da primeira assembléia semestral posterior à violação;
VIII - a pretensão para haver o pagamento de título de crédito, a contar do
vencimento, ressalvadas as disposições de lei especial;
IX - a pretensão do beneficiário contra o segurador, e a do terceiro prejudicado, no
caso de seguro de responsabilidade civil obrigatório.

7) IRRENUNCIÁVEIS/INDISPONÍVEIS: Não posso dispor, renunciar, abrir mão


de um direito de personalidade meu.

Mas e o Big Brother Brasil? Como os direitos da personalidade são


irrenunciáveis se passam esses reality shows e está tudo bem?

Quando se apresenta essa característica, quer-se dizer que EM REGRA os


direitos da personalidade são indisponíveis. Mas EXCEPCIONALMENTE,
posso dispor. Exemplos:

- quando a pessoa se deixa filmar. Nesse caso ela está cedendo


temporariamente o direito da imagem dela.
- quando a pessoa doa órgão. Excepciona-se o direito à integridade física.

Essa disposição há de encontrar limite. O limite para dispor do direito da


personalidade é a DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA.

Enunciados do Conselho da Justiça Federal:


Enunciado 4: O exercício dos direitos da personalidade pode sofrer limitação
voluntária, desde que não seja permanente nem geral.

Enunciado 139: Os direitos da personalidade podem sofrer limitações, ainda


que não especificamente previstas em lei, não podendo ser exercidos com
abuso de direito de seu titular, contrariamente à boa-fé objetiva e aos bons
costumes.

É por isso que tem autores que escrevem artigos pra dizer que esses
programas não deveriam existir. Isso porque em que pese a pessoa estar
dispondo de um direito da personalidade dela (o que seria permitido), aquilo
está ofendendo a dignidade dela.

Ex: as provas de resistência do BBB. Em uma delas o participante tinha que


ficar segurando uma barra de gelo e o que conseguisse segurar a barra por
mais tempo ganharia um carro. Tinha maluco que ficava segurando aquilo até
necrosar se precisasse, sem saber que ele ia ganhar o carro e não ia poder
nem dirigir porque poderia ter uma lesão gravíssima nas mãos.

Daí vem a ideia de que você tem que preservar a sua dignidade. A partir do
momento que você não faz isso, o Estado vai interferir para proteger a sua
dignidade.

“Ahh, mas ela assinou um contrato com a Rede Globo que ela deixou ali filmar
o que quisesse e tudo”. Mas ela está dispondo da dignidade dela e ela não
pode fazer isso.

Ex²: Programa NO LIMITE. Para ganhar o prêmio a pessoa se submetia a


literalmente tudo. Comia restos de animais, fezes e tudo mais.

Esse programa a 1ª vez que passou foi por volta de 2000, mas depois não
passou mais por pelo menos uns 10 anos. Isso porque o Ministério Público
ajuizou uma ACP para proibir a exibição do programa justamente por essa
ideia, a de que estaria violando a dignidade da pessoa humana.
Dez anos depois foi liberado de novo, passou mais uma edição e depois disso
acabou não passando mais. Não sei por qual motivo.

“Ahh, mas por que então não proíbe o BBB?” Somente dá pra teorizar. Não tem
uma resposta certa, mas certamente o poderio econômico influencia nisso.

CLASSIFICAÇÕES

Os direitos da personalidade são classificados de acordo com os aspectos


fundamentais que são objeto da tutela jurídica, a saber: o físico, o intelectual e
o moral.
Dessa foram, podem ser sintetizados em: direito à integridade física, direito à
integridade intelectual e direito à integridade moral.

a) Direito à integridade física: proteção à vida, ao próprio corpo, quer na sua


totalidade, quer em relação a tecidos, órgãos e partes do corpo humano
suscetíveis de separação e individualização, quer no tocante ao corpo sem
vida, o cadáver, ainda o direito à liberdade de alguém submeter-se ou não a
exame e tratamento médico. – Previsto nos arts. 13 a 15 do Código Civil.

b) Direito à integridade moral: proteção à honra, liberdade, intimidade, imagem


e nome.

c) Direito à integridade intelectual: protege o direito moral do autor, isto é,


direito de reivindicar a “paternidade”/autoria da obra; e o direito patrimonial que
é o direito de dispor da obra e explorá-la.

Se essas características e classificações foram entendidas, voltamos para a


disciplina dos direitos da personalidade no Código Civil, que está prevista entre
os arts. 11 a 21.

Art. 11
Art. 11. Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da
personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu
exercício sofrer limitação voluntária.

O art. 11 traz as características dos direitos da personalidade. Porém esse


artigo foi muito econômico, pois ele só traz 02 características dos direitos da
personalidade.

A doutrina traz várias outras para uma melhor compreensão desses direitos.

Art. 12
Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da
personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções
previstas em lei.

O art. 12 traz aquilo que chamamos de CLÁUSULA GERAL DE TUTELA aos


direitos da personalidade.

O CC/02, que está em vigor desde janeiro de 2003, foi muito festejado quando
entrou em vigor. Isso porque ele trouxe no seu texto várias Cláusulas Gerais. O
art. 12 trata de uma delas.

Mas o que são Cláusulas Gerais? E por que festejar isso?

Clausula Geral é uma maneira intencionalmente vaga e imprecisa de legislar. É


uma técnica legislativa.
Nosso Código Civil é dividido em Livros (cada um traz um assunto) e
geralmente no início de cada livro há uma Cláusula Geral (um artigo que vai
trazer uma informação vaga e imprecisa).

Exemplos de Cláusula Gerais:


a) Livro do Direito de Família – art. 1.511:
Art. 1.511. O casamento estabelece comunhão plena de vida, com base na
igualdade de direitos e deveres dos cônjuges.

O que é comunhão plena de vida? As vezes o que é comunhão de vida pra


mim, não é para o outro.

Afinal, o legislador fez bem ao trazer uma redação assim? A doutrina vai dizer
que sim, pois o juiz, no caso concreto, vai ter uma maior liberdade para julgar,
de modo que o CC não vai envelhecer rapidamente.

Mas não é perigoso o juiz ter toda essa liberdade? Não, pois apesar de o artigo
se manifestar por meio de uma Cláusula Geral e o juiz ter uma certa liberdade,
ele está limitado pela CF/88, pelos direitos fundamentais.

O interessante de um Código que tenha Cláusulas Gerais é que ele não vai
envelhecer rapidamente. Um professor chamado Nelson Rosenvald diz que
essas Cláusulas Gerais vão funcionar como “janelas”, nas quais vão entrar os
valores de uma época.

Daqui a 20 ou 30 anos comunhão plena de vida pode ter outra concepção.

b) Direitos das coisas/direitos reais – art. 1.228, § 1º:


Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e
o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou
detenha.
§ 1 o O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas
finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de
conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas
naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem
como evitada a poluição do ar e das águas.

O que são finalidades econômicas e sociais?

c) Dos contratos em geral – art. 421:


Art. 421. A liberdade contratual será exercida nos limites da função social
do contrato.

O que é função social do contrato?

d) Responsabilidade civil – art. 927, parágrafo único:

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem,
fica obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de
culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente
desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os
direitos de outrem.

O que é uma atividade de risco?

No caso dos direitos da personalidade, o art. 12 traz uma Cláusula Geral de


Tutela dos direitos da personalidade (qualquer direito da personalidade).

O art. 12 traz a possibilidade de proteção tanto para lesão quanto para ameaça
de lesão de direito da personalidade:

- LESÃO: nesse caso, pode ser manejada uma TUTELA REPRESSIVA. Para
reprimir aquele mal que lhe ocorreu;

- AMEAÇA: se não houve a concretização da lesão, mas há uma ameaça de


que essa lesão vai acontecer. Pode ser utilizada uma TUTELA PREVENTIVA.

Esse art. 12 está em sintonia com a CF/88 que diz o seguinte em seu art. 5º,
XXXV:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
[...]
XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou
ameaça a direito;

O artigo 12 diz que além da tutela cabível naquele caso para proteger o direito
de personalidade, a pessoa ainda faz jus a uma indenização por perdas e
danos.

Mas quem vai pleitear essa reparação?

O art. 12 pensou primeiro no Lesado Direito, mas podem existir, também,


Lesados Indiretos:

- LESADO DIRETO: a pessoa que foi diretamente ofendida;

- LESADO INDIRETO: pessoas que indiretamente sofreram com aquilo.

Ambos podem pleitear a reparação. Isso porque o Lesado Indireto terá sofrido
o dano indireto ou por ricochete.
Exemplo: assaltante mata João. João é o lesado direto. Mas imagine que João
tinha esposa e filhos. Esses parentes foram atingidos indiretamente por aquela
lesão à vida de João. É como se a bala tivesse batido em João, ricocheteado e
atingido sua esposa e filhos.

Essas pessoas sofrem danos reflexos ou por ricochete. Embora a lesão direta
tenha sido a João, é como se a bala tivesse atingido essas pessoas.

O parágrafo único diz quem são os lesados indiretos:

Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a


medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em
linha reta, ou colateral até o quarto grau.

- Cônjuge e companheiro/companheira
- Parentes na linha reta (ascendentes e descendentes sem limitação de grau:
pai, avô, bisavô, filho, neto, bisneto
- Parentes na linha colateral até o 4º grau:
Mas e se um deles ajuizar uma ação, isso impede que outro também ajuíze?
Essa ordem do parágrafo único do art. 12 é uma ordem que um excluiu o
outro?

Enunciado 398 do CJF:


As medidas previstas no art. 12, parágrafo único, do Código Civil podem ser
invocadas por qualquer uma das pessoas ali mencionadas de forma
concorrente e autônoma.

São concorrentes entre si.


Dos arts. 13 a 21, o CC/02 escolhe alguns direitos da personalidade e traz uma
disciplina mínima.

Arts. 13/14/15 – trata de integridade física

Arts. 16/17/18/19 – trata do nome

Art. 20 – trata da imagem

Art. 21 – trata da privacidade

Mas e se houver outro direito da personalidade que foi lesado e que seja
diferente desses do CC/02, posso reclamar?
Sim. Primeiro porque o art. 12 traz uma cláusula geral de tutela. Além disso, a
CF/88 traz previsões de proteção desses direitos (art. 1º, III e art. 5º, X):

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos


Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado
Democrático de Direito e tem como fundamentos:
[...]
III - a dignidade da pessoa humana;

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
[...]
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das
pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação;

Arts. 13, 14 e 15
Art. 13. Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio
corpo, quando importar diminuição permanente da integridade física, ou
contrariar os bons costumes.
Parágrafo único. O ato previsto neste artigo será admitido para fins de
transplante, na forma estabelecida em lei especial.

Art. 14. É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição


gratuita do próprio corpo, no todo ou em parte, para depois da morte.
Parágrafo único. O ato de disposição pode ser livremente revogado a
qualquer tempo.

Art. 15. Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a
tratamento médico ou a intervenção cirúrgica.
Se você tem cinco dedos e entende que um deles não serve para nada, você
pode arrancá-lo? Não.

Em regra ninguém pode dispor do próprio corpo, mas há 02 exceções em que


isso é admitido.

EXCEÇÃO 1: Se o médico exigir. Exemplo: Se a pessoa sofreu um acidente e


para sobreviver é necessário amputar a perna, pode haver essa disposição do
próprio corpo.

É dentro dessa perspectiva da exigência médica que chega o caso do


TRANSGÊNERO.

O que o transgênero quer muito na vida dele? Adequar o seu sexo anatômico
ao seu sexo psicológico.

Mas pela literalidade do art. 13, o transgênero poderia se submeter à cirurgia


de transexualização?

Pela literalidade não.

Daí, os doutrinadores perceberam esse problema, pois, em tese, o artigo não


permitia a realização dessa cirurgia. O que não é correto. Isso porque o
transgênero também tem o direito à felicidade.

Ele quer ser feliz e se ele será feliz assim, ele precisa se submeter à cirurgia. O
Estado precisa permitir isso.

Nesse contexto, logo em 2002 o Conselho da Justiça Federal se reuniu e


editou o Enunciado 6 que assim dispõe:

A expressão "exigência médica" contida no art. 13 refere-se tanto ao


bem-estar físico quanto ao bem-estar psíquico do disponente.

Há uma exigência médica de que o transgênero seja submetido a uma cirurgia


de transexualização para que ele tenha bem-estar psíquico.

Mas estamos no Brasil. Tudo é mais complicado.

A pessoa era submetida à cirurgia e chegava para fazer matrícula numa


faculdade. Aspecto fisionômico todo feminino, mas na Carteira de Identidade
tinha uma foto masculina, nome masculino e identidade sexual masculino.
Aquilo certamente causava um constrangimento enorme para a pessoa porque
ela mudava o sexo, mas não conseguia mudar o nome.

Daí veio um outro Enunciado do CJF que tratou do tema:

Enunciado 276 – CJF


O art. 13 do Código Civil, ao permitir a disposição do próprio corpo por
exigência médica, autoriza as cirurgias de transgenitalização, em
conformidade com os procedimentos estabelecidos pelo Conselho Federal de
Medicina, e a conseqüente alteração do prenome e do sexo no Registro Civil.

O STJ foi na senda da doutrina, reconhecendo o que esses enunciados diziam.


Assim, o STJ passou a reconhecer não só o direito à cirurgia como, também, à
mudança do nome no Registro Civil.

Mas surgiu ainda mais uma discussão sobre o tema. Essa é mais recente.

Para mudar o nome, o transgênero tem que obrigatoriamente ter feito a cirurgia
de transexualização?

Não. Para o STJ e para o STF, não é obrigatória a cirurgia de


transgenitalização para que ocorra a alteração do nome do transgênero.

Esses tribunais entenderam que em determinadas situações a pessoa é


transgênero, mas não pode se submeter à cirurgia por um problema de saúde,
mas ela continua sendo transgênero. Então ela merece poder trocar o nome.

EXCEÇÃO 2: No caso de doação de órgãos. Embora o artigo 13 não diga, é


possível dispor do próprio corpo para doar órgãos.

A doação de órgãos pode acontecer de 02 formas:

a) por ato INTER VIVOS – significa que a pessoa busca efeitos daquele ato
enquanto está viva.

b) por ato CAUSA MORTIS – quer os efeitos depois da morte.

Doação de órgãos inter vivos pode?

Sim. Isso é reconhecido no parágrafo único do art. 13, mas esse parágrafo vai
remeter esse ato para uma lei especial – a lei n.º 9.434/97.

Essa lei dispõe sobre a remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano
para fins de transplante e tratamento. Ou seja, trata do transplante de órgãos.

Essa lei traz os limites de como vai ser feito esse ato de doação inter vivos.

Essa lei dispõe o seguinte:

Art. 9o É permitida à pessoa juridicamente capaz dispor gratuitamente de


tecidos, órgãos e partes do próprio corpo vivo, para fins terapêuticos ou para
transplantes em cônjuge ou parentes consangüíneos até o quarto grau,
inclusive, na forma do § 4o deste artigo, ou em qualquer outra pessoa,
mediante autorização judicial, dispensada esta em relação à medula óssea.
§ 3º Só é permitida a doação referida neste artigo quando se tratar de órgãos
duplos, de partes de órgãos, tecidos ou partes do corpo cuja retirada não
impeça o organismo do doador de continuar vivendo sem risco para a sua
integridade e não represente grave comprometimento de suas aptidões vitais
e saúde mental e não cause mutilação ou deformação inaceitável, e
corresponda a uma necessidade terapêutica comprovadamente indispensável
à pessoa receptora.

§ 4º O doador deverá autorizar, preferencialmente por escrito e diante de


testemunhas, especificamente o tecido, órgão ou parte do corpo objeto da
retirada.

§ 5º A doação poderá ser revogada pelo doador ou pelos responsáveis legais


a qualquer momento antes de sua concretização.

§ 6º O indivíduo juridicamente incapaz, com compatibilidade imunológica


comprovada, poderá fazer doação nos casos de transplante de medula óssea,
desde que haja consentimento de ambos os pais ou seus responsáveis legais
e autorização judicial e o ato não oferecer risco para a sua saúde.

§ 7º É vedado à gestante dispor de tecidos, órgãos ou partes de seu corpo


vivo, exceto quando se tratar de doação de tecido para ser utilizado em
transplante de medula óssea e o ato não oferecer risco à sua saúde ou ao
feto.

§ 8º O auto-transplante depende apenas do consentimento do próprio


indivíduo, registrado em seu prontuário médico ou, se ele for juridicamente
incapaz, de um de seus pais ou responsáveis legais.

O artigo 14 regula a situação da doação após a morte. Porém, a doação de


órgãos causa mortis não se exaure no art. 14, sendo complementada por essa
mesma lei n.º 9.434/97.

O art. 14 dispõe que é válida a doação causa mortis se atender a 02 requisitos:


atender algum dos objetivos (científico ou altruístico) e a disposição ser
gratuita.

a) científico – Ex: doar órgãos para uma faculdade de medicina para ajudar no
desenvolvimento de uma pesquisa de cura de doenaças

b) altruístico: Ex: caridade, salvar vidas

Pergunta-se: se o objetivo for científico e eu doar meu corpo para uma


instituição privada, essa doação pode ser onerosa de forma a meus herdeiros
receberem algum pagamento?
NÃO!!

A CF/88 veda a comercialização de órgãos em seu art. 199:


Art. 199. A assistência à saúde é livre à iniciativa privada.
[...]
§ 4º A lei disporá sobre as condições e os requisitos que facilitem a remoção de
órgãos, tecidos e substâncias humanas para fins de transplante, pesquisa e
tratamento, bem como a coleta, processamento e transfusão de sangue e seus
derivados, sendo vedado todo tipo de comercialização.

É possível revogar a disposição que alguém fez dizendo que era doador de
órgãos?

Imagine que vou a um Cartório e informe naquele documento que sou doador
de órgãos. Aí passam-se alguns anos e eu me frustro com o mundo. Chego à
conclusão que as pessoas são horríveis e decido revogar aquela disposição
dos meus órgãos registrada num documento público. Posso fazer isso?

O parágrafo único do art. 14 permite que isso seja feito a qualquer tempo.

A lei que cuida da doação de órgãos, em seu art. 4º, exige a autorização da
família:

Art. 4o A retirada de tecidos, órgãos e partes do corpo de pessoas falecidas para


transplantes ou outra finalidade terapêutica, dependerá da autorização do cônjuge
ou parente, maior de idade, obedecida a linha sucessória, reta ou colateral, até o
segundo grau inclusive, firmada em documento subscrito por duas testemunhas
presentes à verificação da morte.

Agora e se a manifestação de vontade da família for diferente da manifestação


de vontade do falecido? Qual vai prevalecer?

De acordo com o Enunciado 277 do CJF, irá prevalecer a manifestação de


vontade do falecido:

O art. 14 do Código Civil, ao afirmar a validade da disposição gratuita do


próprio corpo, com objetivo científico ou altruístico, para depois da morte,
determinou que a manifestação expressa do doador de órgãos em vida
prevalece sobre a vontade dos familiares, portanto, a aplicação do art. 4º da
Lei n. 9.434/97 ficou restrita à hipótese de silêncio do potencial doador.

Na prática, há hospitais que não seguem isso e levam em consideração a


vontade da família.

Por fim, o art. 15 dispõe que ninguém pode ser constrangido a submeter-se,
com risco de vida, a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica.

Numa interpretação superficial, o que esse artigo quer dizer é que “se um
paciente vai precisar se submeter a um determinado tratamento, é necessário
que a informação seja passada a ele para que ele autorize ou não”.

O art. 15 cuida da autonomia privada do paciente.

Mas esse artigo traz uma problemática muito comum.


O caso de transfusão de sangue para Testemunhas de Jeová.

A pessoa alega que com base no direito fundamental que ela tem de liberdade
religiosa, ela não quer se submeter a transfusão de sangue. Ou então a própria
família do paciente fala que não vai autorizar a transfusão.

Em tese, de acordo com o art. 15, aquela decisão deveria ser acatada.

Imagine que o hospital acatou a decisão do paciente, não faz a transfusão e o


paciente morre. Depois vem a mãe do paciente, que não era Testemunha de
Jeová, e ajuíza uma ação contra o hospital e contra o médico dizendo que
houve uma negligência enorme e que o que importava era a vida do filho dela.

Esse exemplo mostra como essa situação é extremamente complicada.

Existe um conflito entre:

Crença religiosa
x
Direito/dever dos profissionais de saúde de zelar pela vida do ser humano.

Acima desses existe o princípio fundamental da dignidade humana.

Tanto direito à vida quanto direito à liberdade de crença são direitos


fundamentais previstos no art. 5º da CF/88.

Há, portanto, uma colisão de direitos fundamentais.

Não há uma posição pacifica tanto na doutrina quanto na jurisprudência.

A jurisprudência ainda é majoritária no sentido de consagrar o direito à vida em


detrimento ao direito à liberdade de crença.

A Procuradoria Geral da República ajuizou Ação de Descumprimento de


Preceito Fundamental (ADPF-618) perante o Supremo Tribunal Federal
visando assegurar às pessoas que professam a religião Testemunhas de
Jeová, desde que sejam maiores e capazes, o direito de não se submeterem a
transfusões de sangue, por motivo de convicção pessoal. Os seguidores desta
fé não aceitam o referido procedimento médico que irá considerá-los pessoas
impuras e indignas do reino de Deus. O fulcro da questão reside no fato da
comunidade religiosa aceitar métodos alternativos à transfusão de sangue. Na
impossibilidade, a recusa é o demonstrativo inequívoco da convicção religiosa.
A medida judicial visa, desta forma, impedir a obrigação dos médicos de
realizarem o procedimento quando encontrarem pela frente a recusa
terminativa do paciente. A opção religiosa, nesta formatação, abarca, a um só
tempo, os direitos de personalidade proclamados na Constituição Federal. A
obrigatoriedade terá lugar, no entanto, quando o paciente for menor e o
tratamento for indispensável para salvar a vida da criança, mesmo com a
oposição dos responsáveis.
Importante registrar que existem alternativas sintéticas para evitar a transfusão
de sangue e que devem ser levadas em consideração.

Nesses casos cabe ao juiz realizar o julgamento se valendo do chamado


CRITÉRIO DA PONDERAÇÃO. Isto é, o juiz, no caso concreto, irá ponderar
qual direito fundamental deverá prevalecer.

OBS: Há um posicionamento doutrinário que fala que em caso de paciente


menor e/ou situação emergencial, deverá ser feita a transfusão de sangue, de
modo que a ponderação teria cabimento para situações não emergenciais e
que não envolvessem paciente menor.

Arts. 16, 17, 18 e 19

Art. 16. Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e
o sobrenome.

Art. 17. O nome da pessoa não pode ser empregado por outrem em
publicações ou representações que a exponham ao desprezo público, ainda
quando não haja intenção difamatória.

Art. 18. Sem autorização, não se pode usar o nome alheio em propaganda
comercial.

Art. 19. O pseudônimo adotado para atividades lícitas goza da proteção que
se dá ao nome.

O nome é a forma de individualizar a pessoa perante o Estado e a Sociedade.

Quando nascemos, recebemos um nome que passa a constar na nossa


certidão de nascimento, mas nem sempre é esse o nome que carregaremos ao
longo dos anos. Diversos acontecimentos na vida de uma pessoa podem levar
a uma mudança de sobrenome, a exemplo do casamento, se assim o noivo ou
noiva desejar.

A adoção de algum sobrenome da família que a pessoa goste, mas que não
consta em sua certidão de nascimento, também é um motivo que pode levar à
mudança em razão da inclusão desse sobrenome.

Ao proteger o nome, o Código de 2002 nada mais fez do que concretizar o


princípio constitucional da dignidade da pessoa humana. Essa tutela é
importante para impedir que haja abuso, o que pode acarretar prejuízos e,
ainda, para evitar que sejam colocados nomes que exponham ao ridículo seu
portador.

O nome tem 02 aspectos:


a) Aspecto Público: o nome é o meio que o Estado tem de identificar a pessoa
para lhe conferir direitos e deveres.

b) Aspecto Individual: o nome é o meio como a própria pessoa vai ser


individualizada e identificada perante as demais pessoas. A pessoa exercerá
seus direitos e deveres por meio de seu nome.

NOME é dividido em PRENOME (pertence à própria pessoa) e SOBRENOME


(pertence à família da qual aquela pessoa descende). Ambos podem ser
simples ou compostos.

OBS: AGNOME – distingue os indivíduos que possuem o mesmo nome e


pertencem a mesma família. Ex: filho, junior, neto etc.

- ALTERAÇÃO DE NOME

O prenome é mais fácil de ser alterado, pois pertence à própria pessoa. É mais
comum de ocorrer.

Os arts. 56 a 58 da Lei n.º 6.015/73 (Lei de Registro Civil) dispõe que:

Art. 56. O interessado, no primeiro ano após ter atingido a maioridade civil,
poderá, pessoalmente ou por procurador bastante, alterar o nome, desde que
não prejudique os apelidos de família, averbando-se a alteração que será
publicada pela imprensa.

Art. 57. A alteração posterior de nome, somente por exceção e


motivadamente, após audiência do Ministério Público, será permitida por
sentença do juiz a que estiver sujeito o registro, arquivando-se o mandado e
publicando-se a alteração pela imprensa, ressalvada a hipótese do art. 110
desta Lei.

§ 2º A mulher solteira, desquitada ou viúva, que viva com homem solteiro,


desquitado ou viúvo, excepcionalmente e havendo motivo ponderável,
poderá requerer ao juiz competente que, no registro de nascimento, seja
averbado o patronímico de seu companheiro, sem prejuízo dos apelidos
próprios, de família, desde que haja impedimento legal para o casamento,
decorrente do estado civil de qualquer das partes ou de ambas.

§ 3º O juiz competente somente processará o pedido, se tiver expressa


concordância do companheiro, e se da vida em comum houverem decorrido,
no mínimo, 5 (cinco) anos ou existirem filhos da união.

§ 7o Quando a alteração de nome for concedida em razão de fundada coação


ou ameaça decorrente de colaboração com a apuração de crime, o juiz
competente determinará que haja a averbação no registro de origem de
menção da existência de sentença concessiva da alteração, sem a averbação
do nome alterado, que somente poderá ser procedida mediante determinação
posterior, que levará em consideração a cessação da coação ou ameaça que
deu causa à alteração.

§ 8o O enteado ou a enteada, havendo motivo ponderável e na forma dos §§


2o e 7o deste artigo, poderá requerer ao juiz competente que, no registro de
nascimento, seja averbado o nome de família de seu padrasto ou de sua
madrasta, desde que haja expressa concordância destes, sem prejuízo de
seus apelidos de família.

Art. 58. O prenome será definitivo, admitindo-se, todavia, a sua substituição


por apelidos públicos notórios.

Parágrafo único. A substituição do prenome será ainda admitida em razão


de fundada coação ou ameaça decorrente da colaboração com a apuração de
crime, por determinação, em sentença, de juiz competente, ouvido o
Ministério Público.

A imutabilidade do nome faz com que as alterações sejam exceção e não a


regra.

A mutabilidade do nome e sobrenome, por sua vez, está amparada por um dos
fundamentos da nossa república, a dignidade da pessoa humana. O princípio
da busca pela felicidade, que não consta em nosso texto constitucional, mas é
assunto de debate recorrente nas cortes superiores e no Congresso Nacional,
também justifica essa possibilidade.

FORMAS DE ALTERAÇÃO DO NOME:

a) Decisão Judicial (ex: ação de retificação de registro civil; divórcio judicial etc)

b) Através do Cartório de Registro Civil (ex: casamento)

Hipóteses de alteração do PRENOME:

a) Nome que exponha a pessoa ao ridículo

- não é uma hipótese de alteração propriamente dita.

Art. 55.
Parágrafo único. Os oficiais do registro civil não registrarão prenomes
suscetíveis de expor ao ridículo os seus portadores. Quando os pais não se
conformarem com a recusa do oficial, este submeterá por escrito o caso,
independente da cobrança de quaisquer emolumentos, à decisão do Juiz
competente.

b) Erro de grafia

Art. 110. O oficial retificará o registro, a averbação ou a anotação, de ofício


ou a requerimento do interessado, mediante petição assinada pelo
interessado, representante legal ou procurador, independentemente de prévia
autorização judicial ou manifestação do Ministério Público, nos casos de:
I – erros que não exijam qualquer indagação para a constatação imediata de
necessidade de sua correção;

Ex: Pabro (ao invés de Pablo); Osvardo (ao invés de Osvaldo)

c) Homonímia

Ocorre quando existem pessoas com o mesmo nome. Geralmente acontece


quando a pessoa tem prenome e sobrenome comuns. Ex: João Pereira; Maria
da Silva.

Nesses casos, a alteração se dá com a inserção de sobrenomes. A justificativa


é que a homonímia pode causar problemas à pessoa, que pode ser confundida
pela Justiça ou por órgãos diversos, o que pode gerar muitos aborrecimentos.

d) Apelido Público e Notório

Art. 58. O prenome será definitivo, admitindo-se, todavia, a sua substituição


por apelidos públicos notórios

Ex: Zico, Kaká, Cafú, Dida

Pode tanto trocar o prenome pelo apelido quanto acrescentar o apelido ao


nome.

e) Adoção durante a menoridade

Art. 47. O vínculo da adoção constitui-se por sentença judicial, que será
inscrita no registro civil mediante mandado do qual não se fornecerá
certidão.
§ 5 o A sentença conferirá ao adotado o nome do adotante e, a pedido de
qualquer deles, poderá determinar a modificação do prenome.

f) quando a pessoa é conhecida por outro nome (prenome de uso)

Isso pode trazer constrangimentos e aborrecimentos à pessoa. Por isso, a


jurisprudência admite, em casos excepcionais, a alteração do prenome.

Ex: O Superior Tribunal de Justiça deu provimento a um recurso para aceitar


que a maranhense Raimunda se torne oficialmente Danielle.
Ela alegou que sempre foi chamada assim em seu meio social e familiar,
desde a infância. Afirmou ainda que a situação lhe causava embaraços no dia
a dia, por gerar desconfiança e insegurança nas pessoas e em alguns locais
que frequenta.
O pedido foi rejeitado em primeiro grau. Segundo a sentença, de 2013, o
prenome não tinha potencial de expor a pessoa ao ridículo e o pedido foi
apresentado fora do prazo previsto em lei — o artigo 57 da Lei 6.015/73 (sobre
registros públicos) permite a alteração quando cidadãos atingem a maioridade
civil, mas a autora já tinha 27 anos quando buscou a mudança. O Tribunal de
Justiça do Maranhão também rejeitou o pleito.
Consta no Acórdão do STJ que:
“Nos casos em que não se vislumbra vício ou intenção fraudulenta, orienta a
doutrina que a posse prolongada do prenome é suficiente para justificar a
alteração do registro civil de nascimento, visto que faz valer o direito da
personalidade do indivíduo e reflete sua vontade e integração social”

g) por motivos de fundada coação ou ameaça


Art. 58.
Parágrafo único. A substituição do prenome será ainda admitida em razão
de fundada coação ou ameaça decorrente da colaboração com a apuração de
crime, por determinação, em sentença, de juiz competente, ouvido o
Ministério Público.

h) Transgênero

O Provimento nº 73 do CNJ regulamenta a alteração de nome e sexo no


Registro Civil.

Esse Provimento dispõe sobre a averbação da alteração do prenome e do


gênero nos assentos de nascimento e casamento de pessoa transgênero no
Registro Civil das Pessoas Naturais (RCPN).

Art. 2º Toda pessoa maior de 18 anos completos habilitada à prática de


todos os atos da vida civil poderá requerer ao ofício do RCPN a alteração e
a averbação do prenome e do gênero, a fim de adequá-los à identidade
autopercebida.
§ 1º A alteração referida no caput deste artigo poderá abranger a inclusão ou
a exclusão de agnomes indicativos de gênero ou de descendência.

Hipóteses de alteração do SOBRENOME:

OBS: o sobrenome já foi chamado de “patronímico” quando a sociedade era


baseada no sistema patriarcal. Hoje essa palavra está em desuso.

Casamento - Ao contraírem o matrimônio, esposo e esposa poderão adotar o


sobrenome de seus cônjuges, o que é um direito que pode ser exercido ou não.
Código Civil de 2002
Art. 1.565. Pelo casamento, homem e mulher assumem mutuamente a
condição de consortes, companheiros e responsáveis pelos encargos da
família.
§ 1 o Qualquer dos nubentes, querendo, poderá acrescer ao seu o sobrenome
do outro.

OBS: a pessoa não poderá suprimir seu próprio sobrenome.

União estável - única previsão legal é o art. 57, § 2º da Lei n.º 6.015/73:

Art. 57
§ 2º A mulher solteira, desquitada ou viúva, que viva com homem solteiro,
desquitado ou viúvo, excepcionalmente e havendo motivo ponderável,
poderá requerer ao juiz competente que, no registro de nascimento, seja
averbado o patronímico de seu companheiro, sem prejuízo dos apelidos
próprios, de família, desde que haja impedimento legal para o casamento,
decorrente do estado civil de qualquer das partes ou de ambas.

A jurisprudência reconhece esse direito aos conviventes.

Divórcio - No divórcio, o novo estado civil também autoriza a exclusão do


sobrenome do ex, sendo que a decisão cabe ao indivíduo. Dessa forma, é
possível tanto excluir quanto continuar com o sobrenome adquirido no
casamento, mesmo após a separação.

Adoção - O processo de adoção autoriza a mudança na certidão de


nascimento para a alteração de nome, sobrenome e inclusão de outros dados
relacionados à nova filiação, como a inserção do nome dos pais adotivos na
certidão e em outros documentos.
Art. 47. O vínculo da adoção constitui-se por sentença judicial, que será
inscrita no registro civil mediante mandado do qual não se fornecerá
certidão.
§ 5 o A sentença conferirá ao adotado o nome do adotante e, a pedido de
qualquer deles, poderá determinar a modificação do prenome.

OBS: Há decisões que permitem ao adotado usar o sobrenome dos pais


biológicos em conjunto com o dos pais adotantes.

Socioafetividade - A Lei de Registros Públicos também autoriza a mudança no


sobrenome para a inclusão do nome do padrasto ou madrasta, o que demanda
a anuência desses. Para isso, o interessado deve peticionar ao poder
judiciário que, mediante decisão judicial, autorizará a averbação do novo
sobrenome.

O Provimento n.º 63, de 14 de novembro de 2017, do CNJ dispõe sobre o


reconhecimento voluntário e a averbação da paternidade e maternidade
socioafetiva.

Assim, o filho reconhecido (afetivo) pode usar o sobrenome do pai ou da mãe


afetiva.
Para o CNJ, quaisquer pessoas maiores de 18 anos, independentemente do
estado civil, poderão reconhecer a paternidade e a maternidade socioafetiva,
salvo irmãos e ascendentes e desde que sejam 16 anos mais velhas do que o
filho a ser reconhecido.

Ainda sobre o nome, no tópico da Reprodução Assistida, o Provimento assim


dispõe:

Art. 16. O assento de nascimento de filho havido por técnicas de reprodução


assistida será inscrito no Livro A, independentemente de prévia autorização
judicial e observada a legislação em vigor no que for pertinente, mediante o
comparecimento de ambos os pais, munidos de documentação exigida por
este provimento.
§ 1º Se os pais forem casados ou conviverem em união estável, poderá
somente um deles comparecer ao ato de registro, desde que apresente a
documentação referida no art. 17, III, deste provimento.
§ 2º No caso de filhos de casais homoafetivos, o assento de nascimento
deverá ser adequado para que constem os nomes dos ascendentes, sem
referência a distinção quanto à ascendência paterna ou materna.

Inclusão de apelido notório - A legislação também permite a inclusão de


apelido notório, como aconteceu com o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva,
que incorporou o apelido “Lula” em seu registro civil.

Na maioria dos casos, a mudança deve ser precedida de autorização judicial,


cuja sentença servirá para autorizar o cartório a realizar a alteração. Cada
estado tem procedimentos distintos.

A Corregedoria do Conselho Nacional de Justiça editou o Provimento 82/2019


que passou a permitir em todo o país a correção do sobrenome dos genitores
nos registros de nascimento e de casamento dos filhos, sem o necessário
ajuizamento de ação de retificação.

No que tange a filhos menores, esse Provimento dispõe que também poderá
ser feito em cartório o acréscimo do patronímico de genitor ao nome do filho
menor de idade, quando houver alteração do nome do genitor em decorrência
de separação, divórcio ou viuvez, ou nos casos em que a filho tiver sido
registrado apenas com o patronímico do outro genitor.

Se o filho for maior de 16 anos, no entanto, o acréscimo do patronímico exigirá


o seu consentimento.

Art. 21
Art. 21. A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a
requerimento do interessado, adotará as providências necessárias para
impedir ou fazer cessar ato contrário a esta norma.
OBS: DIREITO DE ESQUECIMENTO

É um direito da personalidade?

A doutrina vai se dividir. Uma parte diz que é um direito da personalidade


autônomo. A outra vai dizer que é apenas uma faceta do direito à privacidade.

Por que surgiu esse tal direito de esquecimento?


Na sociedade contemporânea, as informações correm com uma velocidade
gigantesca, principalmente em razão das tecnologias.
As vezes aconteceu algo na sua vida há muitos anos atrás e que você quer
deixar pra trás. Você não quer que as pessoas fiquem sabendo. Não quer que
a pessoa jogue seu nome no google e a pessoa tenha acesso a algo que
aconteceu há muito tempo atrás.
Daí surge a ideia do direito a ser esquecido.

A doutrina traz outras denominações para esse direito como: direito de ser
deixado em paz ou direito de estar só.

Esse direito propõe que as pessoas têm o direito de serem esquecidas pela
opinião pública.

Esse direito foi reconhecido no Enunciado 531 do CJF:


A tutela da dignidade da pessoa humana na sociedade da informação inclui o
direito ao esquecimento.

Esse direito surgiu no Brasil ligado a casos criminais. Ex: o cara praticou um
crime lá atrás, já cumpriu a pena, mas não consegue se reintegrar na
sociedade, pois quando joga o nome dele no Google, conta toda a história da
vida dele.

Desde 2013 o STJ tem decisões reconhecendo esse direito.

Tem 02 casos que chamaram mais atenção como ponto de partida sobre esse
tema. Esses 02 casos dizem respeito à Rede Globo. Nesses dois casos a
Globo transmitiu um programa em que relatou sobre o caso de uma pessoa
que havia sido acusada de um crime, mas havia sido absolvida. Embora o
programa tenha dito que ela foi absolvida, a pessoa se sentiu lesada por esse
caso ter sido trazido à tona depois de muitos anos.

O direito ao esquecimento é tutelado, geralmente, de duas forma: tutela


inibitória e tutela reparatória.

O próprio direito ao esquecimento não é unânime. Tem uma parcela da


doutrina que critica esse direito sob o argumento de que há um interesse
público sobre aquela informação até para que ela não aconteça novamente.

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