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O Código Civil de 2002 traz um Capítulo em que ele trata dos direitos da
personalidade:
Isso significa que você pode opor esses direitos da personalidade contra toda e
qualquer pessoa. Você pode exigir que respeitem sua honra não somente A, B
e C, mas toda a sociedade.
O oposto seria dizer que eles são relativos, o que é o caso dos direitos
obrigacionais. Esse direitos são relativos (e não absolutos) porque quando
você olha para uma relação jurídica obrigacional, em que tem um credor de um
lado e o devedor do outro, apenas o credor pode cobrar a dívida e não toda a
sociedade. O credor somente pode cobrar do devedor. Então é relativa àquela
pessoa especificamente.
Quanto custa minha honra? Ela não tem preço. Não é assim que se diz?
Essa é a grande ideia que está por traz dos direitos da personalidade.
Quando eu morrer, o que eu deixo para o meu filho? Minha casa, meu carro,
meu dinheiro. Não vou deixar minha integridade física, minha intimidade nem
minha privacidade.
Seria bem absurdo o Código Civil prever, por exemplo, que a honra da pessoa
é somente pelos próximos cinco anos ou a integridade física pelos próximos
três anos.
Porém, imagine que uma pessoa divulgou minha imagem sem minha
autorização. O que essa pessoa fez? Violou um direito de personalidade meu.
É por isso que tem autores que escrevem artigos pra dizer que esses
programas não deveriam existir. Isso porque em que pese a pessoa estar
dispondo de um direito da personalidade dela (o que seria permitido), aquilo
está ofendendo a dignidade dela.
Daí vem a ideia de que você tem que preservar a sua dignidade. A partir do
momento que você não faz isso, o Estado vai interferir para proteger a sua
dignidade.
“Ahh, mas ela assinou um contrato com a Rede Globo que ela deixou ali filmar
o que quisesse e tudo”. Mas ela está dispondo da dignidade dela e ela não
pode fazer isso.
Esse programa a 1ª vez que passou foi por volta de 2000, mas depois não
passou mais por pelo menos uns 10 anos. Isso porque o Ministério Público
ajuizou uma ACP para proibir a exibição do programa justamente por essa
ideia, a de que estaria violando a dignidade da pessoa humana.
Dez anos depois foi liberado de novo, passou mais uma edição e depois disso
acabou não passando mais. Não sei por qual motivo.
“Ahh, mas por que então não proíbe o BBB?” Somente dá pra teorizar. Não tem
uma resposta certa, mas certamente o poderio econômico influencia nisso.
CLASSIFICAÇÕES
Art. 11
Art. 11. Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da
personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu
exercício sofrer limitação voluntária.
A doutrina traz várias outras para uma melhor compreensão desses direitos.
Art. 12
Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da
personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções
previstas em lei.
O CC/02, que está em vigor desde janeiro de 2003, foi muito festejado quando
entrou em vigor. Isso porque ele trouxe no seu texto várias Cláusulas Gerais. O
art. 12 trata de uma delas.
Afinal, o legislador fez bem ao trazer uma redação assim? A doutrina vai dizer
que sim, pois o juiz, no caso concreto, vai ter uma maior liberdade para julgar,
de modo que o CC não vai envelhecer rapidamente.
Mas não é perigoso o juiz ter toda essa liberdade? Não, pois apesar de o artigo
se manifestar por meio de uma Cláusula Geral e o juiz ter uma certa liberdade,
ele está limitado pela CF/88, pelos direitos fundamentais.
O interessante de um Código que tenha Cláusulas Gerais é que ele não vai
envelhecer rapidamente. Um professor chamado Nelson Rosenvald diz que
essas Cláusulas Gerais vão funcionar como “janelas”, nas quais vão entrar os
valores de uma época.
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem,
fica obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de
culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente
desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os
direitos de outrem.
O art. 12 traz a possibilidade de proteção tanto para lesão quanto para ameaça
de lesão de direito da personalidade:
- LESÃO: nesse caso, pode ser manejada uma TUTELA REPRESSIVA. Para
reprimir aquele mal que lhe ocorreu;
Esse art. 12 está em sintonia com a CF/88 que diz o seguinte em seu art. 5º,
XXXV:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
[...]
XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou
ameaça a direito;
O artigo 12 diz que além da tutela cabível naquele caso para proteger o direito
de personalidade, a pessoa ainda faz jus a uma indenização por perdas e
danos.
Ambos podem pleitear a reparação. Isso porque o Lesado Indireto terá sofrido
o dano indireto ou por ricochete.
Exemplo: assaltante mata João. João é o lesado direto. Mas imagine que João
tinha esposa e filhos. Esses parentes foram atingidos indiretamente por aquela
lesão à vida de João. É como se a bala tivesse batido em João, ricocheteado e
atingido sua esposa e filhos.
Essas pessoas sofrem danos reflexos ou por ricochete. Embora a lesão direta
tenha sido a João, é como se a bala tivesse atingido essas pessoas.
- Cônjuge e companheiro/companheira
- Parentes na linha reta (ascendentes e descendentes sem limitação de grau:
pai, avô, bisavô, filho, neto, bisneto
- Parentes na linha colateral até o 4º grau:
Mas e se um deles ajuizar uma ação, isso impede que outro também ajuíze?
Essa ordem do parágrafo único do art. 12 é uma ordem que um excluiu o
outro?
Mas e se houver outro direito da personalidade que foi lesado e que seja
diferente desses do CC/02, posso reclamar?
Sim. Primeiro porque o art. 12 traz uma cláusula geral de tutela. Além disso, a
CF/88 traz previsões de proteção desses direitos (art. 1º, III e art. 5º, X):
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
[...]
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das
pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação;
Arts. 13, 14 e 15
Art. 13. Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio
corpo, quando importar diminuição permanente da integridade física, ou
contrariar os bons costumes.
Parágrafo único. O ato previsto neste artigo será admitido para fins de
transplante, na forma estabelecida em lei especial.
Art. 15. Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a
tratamento médico ou a intervenção cirúrgica.
Se você tem cinco dedos e entende que um deles não serve para nada, você
pode arrancá-lo? Não.
O que o transgênero quer muito na vida dele? Adequar o seu sexo anatômico
ao seu sexo psicológico.
Ele quer ser feliz e se ele será feliz assim, ele precisa se submeter à cirurgia. O
Estado precisa permitir isso.
Mas surgiu ainda mais uma discussão sobre o tema. Essa é mais recente.
Para mudar o nome, o transgênero tem que obrigatoriamente ter feito a cirurgia
de transexualização?
a) por ato INTER VIVOS – significa que a pessoa busca efeitos daquele ato
enquanto está viva.
Sim. Isso é reconhecido no parágrafo único do art. 13, mas esse parágrafo vai
remeter esse ato para uma lei especial – a lei n.º 9.434/97.
Essa lei dispõe sobre a remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano
para fins de transplante e tratamento. Ou seja, trata do transplante de órgãos.
Essa lei traz os limites de como vai ser feito esse ato de doação inter vivos.
a) científico – Ex: doar órgãos para uma faculdade de medicina para ajudar no
desenvolvimento de uma pesquisa de cura de doenaças
É possível revogar a disposição que alguém fez dizendo que era doador de
órgãos?
Imagine que vou a um Cartório e informe naquele documento que sou doador
de órgãos. Aí passam-se alguns anos e eu me frustro com o mundo. Chego à
conclusão que as pessoas são horríveis e decido revogar aquela disposição
dos meus órgãos registrada num documento público. Posso fazer isso?
O parágrafo único do art. 14 permite que isso seja feito a qualquer tempo.
A lei que cuida da doação de órgãos, em seu art. 4º, exige a autorização da
família:
Por fim, o art. 15 dispõe que ninguém pode ser constrangido a submeter-se,
com risco de vida, a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica.
Numa interpretação superficial, o que esse artigo quer dizer é que “se um
paciente vai precisar se submeter a um determinado tratamento, é necessário
que a informação seja passada a ele para que ele autorize ou não”.
A pessoa alega que com base no direito fundamental que ela tem de liberdade
religiosa, ela não quer se submeter a transfusão de sangue. Ou então a própria
família do paciente fala que não vai autorizar a transfusão.
Em tese, de acordo com o art. 15, aquela decisão deveria ser acatada.
Crença religiosa
x
Direito/dever dos profissionais de saúde de zelar pela vida do ser humano.
Art. 16. Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e
o sobrenome.
Art. 17. O nome da pessoa não pode ser empregado por outrem em
publicações ou representações que a exponham ao desprezo público, ainda
quando não haja intenção difamatória.
Art. 18. Sem autorização, não se pode usar o nome alheio em propaganda
comercial.
Art. 19. O pseudônimo adotado para atividades lícitas goza da proteção que
se dá ao nome.
A adoção de algum sobrenome da família que a pessoa goste, mas que não
consta em sua certidão de nascimento, também é um motivo que pode levar à
mudança em razão da inclusão desse sobrenome.
- ALTERAÇÃO DE NOME
O prenome é mais fácil de ser alterado, pois pertence à própria pessoa. É mais
comum de ocorrer.
Art. 56. O interessado, no primeiro ano após ter atingido a maioridade civil,
poderá, pessoalmente ou por procurador bastante, alterar o nome, desde que
não prejudique os apelidos de família, averbando-se a alteração que será
publicada pela imprensa.
A mutabilidade do nome e sobrenome, por sua vez, está amparada por um dos
fundamentos da nossa república, a dignidade da pessoa humana. O princípio
da busca pela felicidade, que não consta em nosso texto constitucional, mas é
assunto de debate recorrente nas cortes superiores e no Congresso Nacional,
também justifica essa possibilidade.
a) Decisão Judicial (ex: ação de retificação de registro civil; divórcio judicial etc)
Art. 55.
Parágrafo único. Os oficiais do registro civil não registrarão prenomes
suscetíveis de expor ao ridículo os seus portadores. Quando os pais não se
conformarem com a recusa do oficial, este submeterá por escrito o caso,
independente da cobrança de quaisquer emolumentos, à decisão do Juiz
competente.
b) Erro de grafia
c) Homonímia
Art. 47. O vínculo da adoção constitui-se por sentença judicial, que será
inscrita no registro civil mediante mandado do qual não se fornecerá
certidão.
§ 5 o A sentença conferirá ao adotado o nome do adotante e, a pedido de
qualquer deles, poderá determinar a modificação do prenome.
h) Transgênero
União estável - única previsão legal é o art. 57, § 2º da Lei n.º 6.015/73:
Art. 57
§ 2º A mulher solteira, desquitada ou viúva, que viva com homem solteiro,
desquitado ou viúvo, excepcionalmente e havendo motivo ponderável,
poderá requerer ao juiz competente que, no registro de nascimento, seja
averbado o patronímico de seu companheiro, sem prejuízo dos apelidos
próprios, de família, desde que haja impedimento legal para o casamento,
decorrente do estado civil de qualquer das partes ou de ambas.
No que tange a filhos menores, esse Provimento dispõe que também poderá
ser feito em cartório o acréscimo do patronímico de genitor ao nome do filho
menor de idade, quando houver alteração do nome do genitor em decorrência
de separação, divórcio ou viuvez, ou nos casos em que a filho tiver sido
registrado apenas com o patronímico do outro genitor.
Art. 21
Art. 21. A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a
requerimento do interessado, adotará as providências necessárias para
impedir ou fazer cessar ato contrário a esta norma.
OBS: DIREITO DE ESQUECIMENTO
É um direito da personalidade?
A doutrina traz outras denominações para esse direito como: direito de ser
deixado em paz ou direito de estar só.
Esse direito propõe que as pessoas têm o direito de serem esquecidas pela
opinião pública.
Esse direito surgiu no Brasil ligado a casos criminais. Ex: o cara praticou um
crime lá atrás, já cumpriu a pena, mas não consegue se reintegrar na
sociedade, pois quando joga o nome dele no Google, conta toda a história da
vida dele.
Tem 02 casos que chamaram mais atenção como ponto de partida sobre esse
tema. Esses 02 casos dizem respeito à Rede Globo. Nesses dois casos a
Globo transmitiu um programa em que relatou sobre o caso de uma pessoa
que havia sido acusada de um crime, mas havia sido absolvida. Embora o
programa tenha dito que ela foi absolvida, a pessoa se sentiu lesada por esse
caso ter sido trazido à tona depois de muitos anos.