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Aula 2

 Bibliografia:

 Viscusi et al., 1995, Cap 10;

 Laffont e Tirole, 1993, Introdução.

Regulação e Concorrência 1
Parte IV: Instrumentos
Regulatórios e Esquemas de
Incentivos

 Dependendo do tipo de regulação, usa-se ou não


informações sobre os custos e demanda;

 Em esquemas de regulação com partilha de custos


entre regulador/governo e empresa regulada
(exemplo: política de universalização de serviços), é
preciso ter informações sobre custos;

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 Problemas com aferição de custos:

empresas normalmente são multiprodutoras… como


alocar custos às atividades reguladas?

 Se manipulação dos custos é limitada, pode se usar


medidas de subcustos (proxies);
 Se não, opção por métodos muitas vezes ad hoc:
 Fully Distributed Costs: custos proporcionais a volume
de produção.

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 Informações sobre demanda: relevante
quando a empresa regulada atende à
população e qualidade dos serviços é
importante.

 Exemplo:
 Qualidade não observada do transporte urbano pode
ser aferida pela demanda por transporte.
 Demanda é proxy da qualidade dos serviços, na
ausência de outras medidas mais diretas.

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Esquemas de Incentivo
 2 situações:

 A empresa regulada produz para o Estado : o


Estado é o cliente
(ex: construção da barragem de Tucuruí, construção do
novo prédio do Tribunal Superior Eleitoral, compra de
armamentos de ponta etc);

 A empresa regulada produz para terceiros


(população, distribuidores e geradores de energia,
operadores de telefonia móvel, etc).
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Esquemas de incentivo: o Estado
é o cliente
 O regulador reembolsa ou não parcela das despesas da
empresa regulada;

 Regra de reembolso:

t  a  bC
 b parcela dos custos a ser paga pela empresa regulada.

 b mede o poder do esquema de incentivos.

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t  a  bC

b  1 parcela dos custos paga pela empresa aumenta;


Incentivo para reduzir custos;
Forte poder de incentivos.
b  0 parcela dos custos paga pela empresa reduz;
Pouco incentivo para reduzir custos;
Fraco poder de incentivos.

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Nomenclatura

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Regulação de infra-estrutura na
prática
 Regras simples:
 Não atribuem poder ao regulador;

 Regras que exigem informações levantadas pelo regulador:


 Regulador julga e seleciona as informações a serem usadas na
aplicação da regra;
 Atribui poder ao regulador.

 Regras complexas:
 Aparentemente, reguladores conseguem aplicar regras
complexas;
 Mas abusos devem ser evitados…

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Parte V: Esquemas de
incentivo comuns
 Esquemas de incentivo refletem:
 Instrumentos;
 Instituições regulatórias; e
 O principal problema enfrentado pelo regulador.

 2 linhas de esquemas de incentivo:


 Transferências entre regulador e empresa
regulada podem ser permitidas ou não;
 Poder dos incentivos.

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 Distinção entre intenções e aplicação do regime:
 transferências podem ser proibidas formalmente, mas
empresa regulada pode estar recebendo:
 Subsídios diretos,

 empréstimos governamentais a baixa taxa de juros,


 garantias governamentais quando no mercado de
crédito privado,
 oferta de insumos públicos a preços favoráveis, etc.

Efeito no poder do esquema de incentivos efetivo.


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Regulação quando
transferências são proibidas
 Empresa regulada produz para terceiros:

1. Regulação baseada nos custos dos serviços


(CS);

2. Regulação com incentivos;

3. Price-caps (preço teto).

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1. Regulação baseada em custos
dos serviços (cost of service
regulation ou CS)
 Preço p é tal que:

R (Q , p )  C (Q )

Taxa de Retorno + estrutura de preços

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 O regulador deve ter:

 Informações sobre custos operacionais + custos


fixos ;
Problema: como medir custos fixos e atribuir uma taxa
de retorno ao capital razoável?

 Informações sobre a demanda (pois trata-se de


regulação de serviços para terceiros).

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 Revisões regulatórias e defasagens:
 Preço é fixo até nova revisão regulatória;
 Quanto maior o período entre revisões, maior o tempo em
que preço é fixo:
Regime interim próximo a Fixed-fee.

 Dificuldade de coesão sobre método de aferição dos


custos (ou mudanças inesperadas) pode alongar período
entre revisões.

Defasagens e revisões podem introduzir incentivos.


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2. Regulação com incentivos
 Sliding Scale plans:

 Geralmente implementado via mecanismo


de reajuste automático de taxa de retorno;

 Custo é usado como medida de


performance: a Empresa regulada absorve
parte dos beneficios derivados de
reduções no custo.

 Muito frequente.

Exemplo: New York Telephone Company, 1986.

 Receita ajustada em:


(r – 15%) / 2 se r > 15%
(13% - r) / 2 se r < 13%

 Sem ajuste se:


(13% - r) / 2 < r < (r – 15%) / 2

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3. Price Caps
 Preço máximo a ser cobrado por um produto
ou
 Preço médio máximo a ser cobrado por uma cesta
de produtos.

 Teoricamente, não deve ser baseado em


informações contábeis, mas exige conhecimento
sobre custo e demanda:
 Cap muito alto: preço de monopólio
regulação inoperante;
 Cap baixo: inviabilidade do negócio
nenhuma empresa se candidata.
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 Definido o nível de preços, é preciso definir as
regras de reajuste;
 Fórmulas comuns de reajuste de preço:

 IPCA – X;

X : taxa antecipada de progresso tecnológico da indústria.


Trata-se de uma variável exógena.

Importante: se a empresa consegue performar melhor que o


índice pré-determinado, ela guarda a diferença.

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 IPCA – X + Y;

Y : reajuste de preços de insumos


(transferência integral de certos custos, tais como
preço da energia, combustível etc).

 IPCA – X + Y – S;

S : índice de reclamações
(pune má qualidade).

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A convergência entre regimes
regulatórios

Regulação baseada nos


Price Cap
custos dos serviços (CS)

Fatores:
 Frequência das revisões regulatórias via:
 Periodicidade de revisões (lags);
 Requisição de revisão;
 Governância regulatoria;

 Compromisso com política regulatórias (ratchet effect):


 Empresa é penalizada quando revela ser eficiente ou investe em atividades
ligadas à redução de custos;
 CS protege a empresa regulada do pouco compromisso (do
governo/regulador) com a politica regulatória.
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Resumo
 Parte I: Regulação econômica e seus
instrumentos;
 Parte II: Por que Regular?;
 Parte III: Ambiente Regulatório;
 Parte IV: Instrumentos Regulatórios e
Esquemas de Incentivos;
 Parte V: Esquemas de incentivo comuns.

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A Teoria do
Monopólio Natural

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Introdução
 Vimos varias explicações justificando regulação;

 A maioria das teorias de regulação são baseadas


na análise normativa;

 Foco do curso: eficiência econômica;

Regulação como resposta a falhas de mercado, no caso, à


existência de monopólio natural.

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Parte I: Teoria do Monopólio
Natural
 Usualmente associado a indústrias com retornos de escala
crescentes;

 Exemplo: tecnologia é tal que custos médios de longo prazo


(CMeLP) são decrescentes:

A simples expansão da capacidade leva a empresa a reduzir seu


custo:

Eventualmente, apenas uma empresa vai atuar no mercado.

Eficiência Produtiva leva a monopólio.

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 Uma vez monopolista, a empresa tem
incentivo a reduzir produção e cobrar preço
de monopólio:

Ineficiência alocativa.

Dilema: Como a sociedade pode se beneficiar da


forma menos custosa de produção (monopólio
natural) sem sofrer apreçamento de monopólio??
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Monopólio natural pode ser
temporário ou permanente
 Mudanças nas condições de mercado podem transformar
monopólios naturais em potencialmente competitivos.

2 tipos de mudanças:

 Mudanças na demanda: se tecnologia é tal que custos unitários


reduzem até certo nível, expansão da demanda pode ser
acomodada por outra firma com tecnologia semelhante;

 Mudanças tecnológicas: inovações podem levar a redução dos


custos unitários de produtos substitutos.

Exemplo: telefonia local. Telefone fixo vs telefone celular.

 Problema: regulação de monopólios temporários tende a não


desaparecer com o fim do monopólio.
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Definição de Monopólio
Natural
 Monopólio Monoprodutor (caso raro):

Uma indústria é um Monopólio Natural se sua


tecnologia é tal que sua função de custos é
subaditiva, ie :

C  q   C  q1   C  q2  , onde q  q1  q2

Custos são minimizados quando uma única


empresa atua no mercado.
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 Definição de monopólio natural é usualmente
ligada a retornos crescentes de escala, mas:

Monopólio Natural ou
Economias de escala Fç de custos subaditiva

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monopólio Natural ou
Economias de escala Fç de custos subaditiva

$
CMe

q < q* Economias de escala

q
q*

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Monopólio Natural ou
Economias de escala Fç de custos subaditiva

$ CMe1 CMe2 CMe1+CMe2

20

10
q*
2 3 2 3 34 6

q<3 Produção com economias de escala de única empresa


3 < q < q* Produção com deseconomias de escala por uma única empresa

q < q* Função du custo subaditiva Monopólio Natural se q < q*

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 Monopólio Multiprodutor:

Uma indústria é monopólio natural (multiprodutor) se,


independente da combinação de produtos, é mais
barato que uma única empresa os produza.

C  q1 , q2   C  q1 , 0   C  0, q2 

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monopólio Natural ou
Economias de escala Fç de custos subaditiva

 Neste caso, economias de escala não é condição


necessária nem suficiente para a subaditividade da
função de custos;
 Na produção de múltiplos produtos, a
interdependência entre eles passa a ser importante,
ie, economias de escopo se tornam importantes.
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monopólio Natural ou
Economias de escala Fç de custos subaditiva

 Exemplo (VVH, pg 356):

C  q1 , q2   q1  q2   q1q2 
1/ 3

C  q1 ,  q2    C  q1 , q2  ha economias de escala,
mas
C  q1 , q2   C  q1 , 0   C  0, q2  não ha economias de escopo.
Ganhos de escala para qualquer nível de produção, mas
deseconomias de escopo neste exemplo são superiores.
Logo, eficiência produtiva ‘pede’ 2 empresas especializadas.
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Pontos importantes
 Indústrias serão monopólios naturais se sua função de
custos é subaditiva;

 Subaditividade: uma única empresa produz ao menor


custo quaisquer combinações de produtos;

 Em indústrias multiprodutoras, economias de escala não


são suficientes para um monopólio natural;

 Se há economias de escala e economias de escopo, é


mais provável que a indústria seja um monopólio natural.

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Parte II. Soluções para o
apreçamento de monopólio
1. Não fazer nada;

2. Preço igual a custo marginal ou custo médio;

3. Preço não linear;

4. Preço de pico (peak-load);

5. Preço Ramsey-Boiteux;

6. Leilão de concessão;

7. Estatização do monopólio: empresa publica.


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1. Não fazer nada
 Se monopólio é temporário;

 Se há substitutos próximos: TV a cabo,


Satélite etc.

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2. Apreçamento custo
marginal
Benefício dos
 Monopólio Natural, onde consumidores
p tal que:
CMg

p  CMg
P*
tal apreçamento é otimo de
pareto. Demanda
q = D(p)

Alocações ótimo de pareto: Q

alocações que
Benefício dos
maximizam o bem estar consumidores
da sociedade.
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 Note que, em tecnologias
que apresentam custos
fixos, a solução
p = CMg
implica prejuízo para a
p(Cme) F CMe
empresa regulada:
P* E CMg

Para Q*, CMe > CMg.


Demanda

Se p = CMe, empresa Q*
Q

recupera custos.

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Apreçamento baseado no custos
marginais ou custos médios?
 crítica 1: custos sociais

 Se p = CMg, o Estado cobre custo fixo:


 Recursos do Estado são levantados:
 através de impostos que distorcem consumo;
 através de um sistema muitas vezes ineficiente de cobraça de
taxas.

 Custos à sociedade que deveriam ser levados em conta:


 Inserir o custo sombra dos fundos publicos, λ. Se o Estado
cobre custos fixos (CF), o custo da sociedade é:
(1+ λ) CF
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 crítica 2: Valor social da produção

 A escolha do Estado em cobrir custos fixos implica:


 O governo julga que a compania deve ser ativa;
 Consumidores não devem pagar integralmente pelo custo da
produção, apenas CMg.

 A compania somente deve ser ativa se o beneficio liquido do


consumo é maior que seu custo de produção:
 p = CMg não é informativo sobre as preferências dos consumidores.
Governo deve fazer experimentos para identificar importância econômica da
atividade…

 crítica valida para indústrias cuja existência esta em questão.

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 crítica 3: Incentivos

 P = CMg + Transferências para custos fixos


 Incentivos ruins para redução de custos;

 P = CMe
 Perda de bem estar pois há consumidores (quando p = CMg) que
deixam de consumir. Não é pareto ótimo.

 Incentivos para redução de custos se demanda é elastica;


 Implica que consumidores diretos e não a sociedade arcam com
os custos de produção: maior controle sobre a performance da
empresa.

Consumidores são melhores watchdogs que a sociedade.

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