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Economia II- Capítulos de macroeconomia

CAP 11- OUTROS OBJETIVOS QUE NÃO A MAXIMIZAÇÃO DO LUCRO

As empresas pretendem a maximização do lucro e o seu próprio valor de mercado.

Surgem problemas relativos ao controlo dessas empresas. – Esse controlo não é uma
emanação de uma vontade unanime, mas sim o resultado de uma forma de legitimação interna
(vontades divergentes).

TEORIA DA AGÊNCIA: É necessária uma transferência do controlo das empresas dos seus
proprietários para os seus gestores, uma vez que que estes não possuem todos os
conhecimentos necessários para tal gestão. O comitente estabelece um contrato que assegure
ações apropriadas da parte do comissário, no sentido de alinharem a conduta e o esforço do
comissário com a prossecução e maximização dos interesses do comitente.

No entanto, é difícil ultrapassar os obstáculos da assimetria informativa (posição dos gestores)e


das oportunidades de desalinhamento de interesses por ela propiciados: o gestor passa a deter
de total informação sobre a empresa e age de acordo com os seus interesses e não com os
interesses do proprietário.

O proprietário tem interesses a longo prazo (maximização do lucro) enquanto o gestor


tem interesses a curto prazo (satisfação dos seus interesses próprios).

É possível concluir que o risco moral tem por base a indefinição de poderes do gestor, ou a
amplitude de respetiva discricionariedade, depois convertido num problema de agencia, nas
suas relações com os proprietários.

Controlo acionista vem diminuir esse risco moral(possibilidade de um agente


mudar o seu comportamento de acordo com os diferentes contextos nos quais ocorrem as
transações económicas).

Soluções para o desalinhamento de interesses:

• Endividamento elevado- o gestor, sendo administrador da empresa é o responsável e em


quem os acionistas confiam para o retorno dos investimentos. Investimentos elevados
constituem riscos elevados para a empresa, o que obriga o gestor a alinhar os seus
interesses com os proprietários e acionistas, reduzindo a ineficiência para haver uma
maior possibilidade de sobrevivência da empresa e desses investimentos.

• Venda da empresa ao comissário- entrega ao comissário de poderes de apropriação dos


recursos que gere. Este terá um incentivo máximo para cumprir o estabelecido já que
será remunerado pela integralidade dos seus resultados.

• Sistema de incentivos- venda parcial que consiste no estabelecimento de remunerações


dependentes de resultados, premiado o comissário pelo esforço ao mesmo tempo que
ele é parcialmente libertado do risco uma vez que parte da sua remuneração é fixa.

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• Sistema de comando- supervisão, fiscalizando e auditando a conduta dos comissários e


as contas que eles são obrigados a prestar, havendo o problema de decidir quem poderá
realizar essa vigilância.

A fiscalização pode levar a uma captura do regulador pelo regulado.

CAP 12- REPARTIÇÃO DO RENDIMENTO E O MERCADO DE FATORES

Participar no processo económico é obter uma remuneração que corresponda àquela


participação, uma remuneração que seja uma quota-parte da própria riqueza criada.

No entanto surgem problemas associados a essa repartição:

-Tem de existir uma proporção entre o valor do contributo produtivo e o valor da remuneração
em função desse, fundamenta-se assim a justiça, uma vez que cada um se sente justiçado se
receber em função da sua produtividade e contributo.

-Existem distorções de todo o processo produtivo, porque não há um limite superior àquilo que
cada um pode querer reclamar, do total de riqueza criada, nem limite inferior que atenda à
satisfação de necessidades básicas.

-Tem de haver retificações institucionais na medida de estabelecer o justo e a igualdade: todos


queremos o justo, mas este é desigual.

Os diferenciais remuneratórios não são, maior parte das vezes, causalidades injustas. Muita
dessa injustiça é consequência inevitável, ainda que não intencional, da expressão livre das
nossas preferências através do mercado.

REMUNERAÇÃO DOS FATORES: As desigualdades verificadas na remuneração dos fatores


(trabalho- salário-; capital-juro- e terra- renda-) são gerados pela lei da oferta (famílias ) e procura
(empresas).

Os fatores serão tanto melhor remunerados quanto mais escassa for a respetiva oferta, ou
quanto mais intensa for a procura.

Os meios de produção não são procurados por eles próprios- o que os torna uteis como fatores
do processo produtivo inutiliza-os-; satisfazem diretamente as necessidades dos consumidores.
Existe então uma procura derivada- não são procurados por si mesmos, mas pelo que podem
produzir.

Procura de capital

Capital- conjunto de bens que foram produzidos com vista a auxiliar a produção de outros bens;
conjunto de bens instrumentais que coadjuvam o esforço laboral, potenciando-o.

O valor do capital varia consoante: a decisão do empresário seja por via da aquisição ou da
locução.

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Locação (rendimento não é suficiente para a aquisição ou não se torna vantajoso) - remunerada
através de um equilíbrio entre oferta e procura de bens de capital, ou dos meios financeiros
através dos quais é possível adquirir o capital. Recorre-se à locação até que a remuneração
requerida pelo uso desse capital iguale ou exceda o rendimento marginal que se espera do
respetivo emprego.

Aquisição(ponderação entre o preço e o valor residual)- a igualdade entre preço e valor do


produto marginal tem que se alastrar por sucessivos períodos, tantos quantos os da vida útil dos
bens adquiridos, envolvendo uma previsão quanto ao valor esperado no futuro para o produto
marginal correspondente aos bens de capital.

A procura de capitais por um empresário num mercado competitivo dependerá apenas da


determinação do ponto em que a produtividade marginal decrescente do capital se cruza com o
preço do mercado desses capitais.

A procura de capitais tende a ser inelástica.

Oferta de capital

O capitalista que não disponha de poder de mercado venderá ou cederá temporariamente os


seus capitais em função do correspondente custo marginal.

Curto prazo: Capitalista cede, com relativa inelasticidade, aqueles bens de que já dispõe. O
capitalista está disposto a ceder todos os seus capitais aos juros correntes, se eles excederem os
custos marginais. No caso de não excederem, o capitalista estará disposto a vender os seus
capitais como equipamentos usados, saindo do mercado de fatores.

Longo prazo: É possível ao capitalista adquirir novos bens com vista à sua cedência temporária,
com maior elasticidade, a troco de um juro. Esta ação realizar-se-á em função do respetivo CO,
da depreciação total dos bens e de todos os custos totais envolvidos.

Todos estes custos totais têm de lhes ser aplicados a sua taxa de desconto, de forma a
permitirem a comparação com os juros que poderiam ser recebidos em cada período. A
durabilidade dos bens de capital adquiridos pela empresa afere-se em função do valor presente
dos ganhos esperados e da taxa de retorno do investimento.

Procura e oferta de terra/fatores naturais

A respetiva renda resulta igualmente do encontro de oferta e procura, com a única especialidade
da imobilidade desses fatores que tende para determinar alguma inelasticidade da respetiva
oferta.

A renda pode resultar de dois vetores: 1) da remuneração dos capitais aplicados na exploração
fundiária; 2)da “renda económica” decorrente das diferentes produtividade natural e localização
geográfica das terras, e das oscilações no rendimento marginal dessas terras. – pois pode haver
inovação tecnológica que as valorize, por exemplo.

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Procura e oferta de trabalho

Cabe ao trabalho a maior quota parte na repartição do rendimento total gerado pelo processo
produtivo. A procura, pelas empresas, do fator de produção de trabalho é uma procura derivada.
A procura de mão-de-obra depende também dos preços dos fatores que devam ser combinados
com o trabalho.

A decisão de produzir mais ou menos bens ou serviços, de admitir ou despedir mais ou menos
trabalhadores, é essencialmente um resultado colateral do esforço fundamental de maximização
de lucros.

Enquanto o valor do produto marginal for superior ao nível de mercado dos salários, justifica-se
a contratação.

A curva do rendimento marginal do empregador é que ditará a curva da procura de mão-de-


obra: enquanto o nível salarial for inferior ao rendimento marginal, a admissão de mais
trabalhadores contribuirá para aumentar os lucros do empregador. – Uma Empresa competitiva
e maximizador de lucros contratará trabalhadores até que o valor do produto marginal seja igual
ao dos salários.

Uma diminuição do número de trabalhadores tenderá para o aumento do nível de salários que
por seu turno provocará um aumento proporcional do valor do produto marginal (daqui surge o
estabelecimento de barreiras corporativas à entrada de trabalhadores por parte dos anteriores).

Produtividade Laboral- capacidade que um trabalhador tem de realizar no menor período de


tempo a mesma função de que outro.

Os salários acompanham a produtividade incremento de produtividade explica a subida de


salários reais; aumento do poder de compra; melhoria do bem-estar dos consumidores.

DOTAÇÕES QUE DETERMINAM A PRODUTIVIDADE

Capital humano Tecnologia


Capital (físico)
nível de educação e capacidade Formas otimizador as de
bens intermédios que,
de conversão de conhecimentos produção e prestação de
combinados com o capital
na otimização de formas trabalho
humano, potencia um
rendimento, p.ex, maquinas produtivas

O rendimento das pessoas é maioritariamente fixado em função do valor dos recursos


produtivos que fornecem ao mercado (acompanha o valor do produto marginal que cada um
determina no processo produtivo).

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Assim, a procura de mão-de-obra depende: 1) do caráter mais ou menos intensivo da exploração


do recurso “trabalho”; 2) da substituibilidade do trabalho por capital; 3) Da elasticidade da
procura dos produtos para os quais o trabalho contribui.

Situações que podem justificar a discrepância salarial:

• Diferenciais compensatórios

Compensações monetárias que resultam de uma diversidade de características não monetárias


dos diversos empregos. P.e, subsídios de turnos, feriados…

• Capital humano

Fruto do investimento feito na formação pessoal, de que se esperam resultado em termos de


aumento de produtividade.

Capital humano como investimento na educação para se ser compensado por incrementos
remuneratórios, que compensam o custo integral do investimento, e o custo de oportunidade
do acesso tardio ao mercado de trabalho (college premium).

Incremento de produtividade; maior qualidade de prestação de trabalho e resultados


líquidos positivos (aceleração das taxas de crescimento económico).

• Bens de mérito

Bens cujo consumo estado pretende expressamente alargar, presumindo-se que há um


subconsumo espontâneo desses bens.

Lado positivo: evita-se externalidades, incentiva se a especialização e, por isso, a produtividade


e o bem-estar geral.

Lado negativo: questiona-se se o estado não estará a condicionar a liberdade dos agentes (estado
numa perspetiva paternalista)

• Sinalização pelo trabalhador

Modo como os trabalhadores conseguem persuadir os destinatários dos seus serviços e


competências para prenderem os requisitos procurados. tratam-se de aparências (inexistência
assimetria informativa) portanto são decisões injustas.

• Própria formação do rendimento

O rendimento é composto por:

1)Vencimento de transferência- vencimento de equilíbrio no setor de atividade considerado-


uma vez alcançado o respetivo nível, não existe incentivo para sair do setor aqueles que nesse
momento, sobrevivendo à correspondência, se mantiveram nele.

2) Renda económica- toda a remuneração que excede o vencimento de transferência, o mínimo


que é necessário para incentivar a atividade num determinado setor, ultrapassando o custo de
oportunidade de desvio, de transferência, para outro setor.

3) Quase-renda -toda a remuneração que, sendo paga acima do vencimento de transferência,


para ele converge, contudo no longo prazo, presumindo-se que a entrada de novos

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trabalhadores não pode ser definitivamente impedida, mas apenas adiada em benefício
temporário dos trabalhadores estabelecidos no setor.

• Discriminação no mercado e perspetiva feminista

Não justificam a discrepância salarial no entanto ainda são tidos como fatores que influenciam
os salários.

CAP 13- A DESIGUALDADE E A POBREZA

Quando se fala de redistribuir, temos que ter consciência de que, o cálculo da racionalidade
económica ao serviço da eficiência perde a sua validade, e cede perante valores sociais que
transcendem a própria economia. Dá-se uma perspetiva liberal que consiste nas diferenças de
rendimento justificáveis em função do esforço que cada um aplica na atividade produtiva.

Hoje fala-se de uma economia social que insiste na “retificação” das leis de mercado em nome
de um “bem comum” (força dos valores éticos e o peso das instituições).

Causas da pobreza:

• Distribuição irregular da propriedade que faz com que alguns disponham de grande
abundância de recursos naturais e de bens de capital, ou de recursos financeiros que
lhes permitam adquirir aqueles, enquanto a maioria não dispõe de quase nada;
Património: riqueza de que se dispõe em cada momento
Rendimento: na ausência de um património vultuoso, o acesso à riqueza significará
apenas acesso à criação riqueza nova
• Pobreza voluntária: nem tudo na pobreza é atribuível a desigualdades de oportunidades
ou a falhas no mercado dos fatores, sendo que muito resulta de escolhas que, por serem
menos avisadas, não deixam de ser livremente feitas pelas pessoas;
• Fatores de desigualdade profundos: pobreza que é tão generalizada e aguda, que os
habituais procedimentos redistributivos não passam, perante eles, de paliativos mais ou
menos ineficientes.

A medição da pobreza

Se o rendimento fosse distribuído de forma absolutamente igualitária, qualquer pessoa teria


uma parcela igual à de qualquer outra.

Torna-se possível apreciar o grau de desigualdade, entendendo por isso o distanciamento


que existe face à hipótese de uma distribuição absolutamente igualitária.

Se esta sociedade não é muito rica como um todo, pode ultrapassar limiares de carência
absoluta.

Curva de Lorenz: Forma de representar a desigualdade numa economia; gráfico que


evidencia o efeito cumulativo da distribuição de riqueza, começando pelo Grupo mais pobre
e terminando no grupo mais rico; se houvesse perfeita igualdade, a linha seria reta; quanto
maior a desigualdade, mais afastada de uma linha reta se encontrará a curva de Lorenz.

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Coeficiente de Gini: Medida de desigualdade de distribuição de uma qualquer variável pelo


total da população, apresentando valor 0 no caso da perfeita igualdade e de 1 no caso de
completo desigualdade. Permite determinar que a desigualdade entre países ricos e pobres
tem aumentado.

Nicholas Kaldor e Simon Kuznets: existe uma tensão dificilmente reconciliável entre os
objetivos de coesão social e de crescimento-ideia associada à curva de kuznets, que indica
que, ultrapassada uma fase de desigualdade Máxima requerida pela aceleração do
crescimento, o próprio crescimento passa, numa fase superior, a ser o principal promotor de
convergência de rendimentos.

O limiar de pobreza

Há várias formas de medir a pobreza mas todas elas são suscetíveis de induzir em erro.

Alguns pontos a precisar para que não se incorra numa interpretação rígida dos contornos
que a pobreza assume como consequência extrema da desigualdade:

• Muita da solidariedade social manifesta-se sob formas diretas e em espécie de


benefício aos pobres, que melhoram o bem-estar dos pobres sem lhes aumentar
nominalmente o rendimento;
• A circunstância de um rendimento pessoal variar ao longo do ciclo de vida;
• A circunstância de existirem choques transitórios no rendimento que não impedem
o regresso a expedita uma posição de reequilíbrio;
• Mobilidade social (“self-made man”)

É um pouco redutora a concentração exclusiva na transmissão de património e de capital


humano sendo razoável que uma tal perspetiva se complemente com considerações sociológicas
acerca da mobilidade entre estratos e grupos de geração para geração.

Não pode subestimar se a motivação de legar riqueza aos descendentes que alcança ainda algum
sucesso.

Os fatores de pobreza transmitem se e perpetuam-se de geração em geração.

A pobreza tem uma viscosidade inter-temporal, e os vários fatores que a originam e favorecem
a sua transmissão entre gerações não são suscetíveis de erradicação absoluta nem de diminuição
sem medidas custosas e complexas.

A perpetuação da desigualdade e da pobreza resultam de uma colaboração de alguns efeitos


socioeconómicos como:

• a sub-representação política dos pobres, retirando lhes “voz” e por essa via reduzindo a
probabilidade de acesso a como a educação, a saúde, e outros que propiciariam a
melhoria das suas condições;
• A inexistência ou escassez de instituições, que com imparcialidade prossigam os valores
da coesão social;
• a existência de um “mercado de favores políticos” nos quais os ricos dispõem de mais
“argumentos” e de mais capacidade de resistência.

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Sinais de progresso

Está hoje comprovada a diminuição generalizada da pobreza nas áreas rurais, por efeito
combinado da melhoria da produtividade do trabalho e da produtividade dos fatores naturais.

Nos países mais desenvolvidos em termos de produtividade agrícola, é de esperar que, dada a
elasticidade rendimento, a procura de produtos alimentares e agrícolas cresceu muito pouco,
determinando antes a intensificação da migração “campo-cidade”, a redução da população
agrícola e do peso percentual da atividade agrícola no PIB.

O aumento do rendimento nas sociedades mais prósperas tem levado a um declínio da


elasticidade rendimento da procura de produtos alimentares e agrícolas.

Comparação da produtividade do trabalho agrícola e dos fatores naturais na agricultura dos


países mais desenvolvidos e dos países menos desenvolvidos: as diferenças atribuem se às
dotações naturais, a dotações de capital e a capital humano, predominando nas restantes causas
da distinção as economias de escala.

Todos os indicadores de desenvolvimento humano indicam que o bem-estar experimentado


aumentou significativamente mesmo nos países subdesenvolvidos. Em contrapartida, do ponto
de contato entre a persecução coletiva dos valores da eficiência e da justiça.

Atitudes perante a pobreza: justiça, utilidade e liberdade

o combate à desigualdade e à pobreza depende da ideologia prevalecente no contexto político


de que se trata.

Uma sociedade que queira apegar-se muito drasticamente a um ideal nivelador e igualitário cedo
descobrirá que esse ideal é esterilizante da iniciativa económica individual, a qual as mais das
vezes se pauta por uma ordem de valores que é praticamente a oposta àquele ideal.

uma sociedade que abra mão dos seus valores de coesão e da solidariedade pode não durar
muito enquanto sociedade.

A pobreza é um problema direto não apenas para os pobres mas para a sociedade como um
todo, na medida em que a pobreza exclui os pobres tanto no processo produtivo como no
consumo-quanto maior for a coesão social menor é a amplitude da queda nos rendimentos,
menor a perda(mecanismos de redistribuição de riqueza).

Há que encontrar um ponto intermédio em que seja possível preservar a coesão sem perder o
dinamismo económico, ou seja, em que em que exista igualdade e liberdade, mas a justiça não
seja sacrificada à eficiência.

Existem 2 perspetivas:

1) Ideologia igualitária, onde o que importa é o resultado material E não os meios empregues
para se alcançar o nivelamento dos rendimentos;

2) Ideologia de liberdade individual, onde o primordial é a consideração dos procedimentos


empregues na preservação de condições iniciais a igualdade de oportunidades.

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O problema crucial da justiça refere-se ao equilíbrio entre eficiência e justiça, entre a


necessidade de incentivar a criação de riqueza e o imperativo de não se deixar esboroar a
solidariedade e a coesão da sociedade nesse afã individual de enriquecimento.

JUSTIÇA DOS RESULTADOS

Solução utilitarista: presente o princípio da utilidade marginal decrescente, tirar a quem tem
mais doses de um bem implica uma perda de utilidade menos significativa do que o ganho
correspondente daquele que, dispondo de poucas doses desse bem, vê serem atribuídas aquelas
doses.

Há então uma transferência de riqueza que aumenta a utilidade total justificada numa tributação
com taxas progressivas

Solução rawlsiana: adotam se medidas cirúrgicas na erradicação das formas mais extremas da
pobreza, segurando a sociedade contra os resultados mais desfavoráveis do grupo mais pobre,
sem atender especialmente a repercussão dessas medidas de utilidade dos demais grupos.

Deve haver uma distribuição igualitária dos bens básicos que satisfaçam necessidades
primárias(minimização de perdas máximas), já que se cada um se colocar na pior hipótese, irá
querer alternativa de ter a possibilidade sair do limite inferior.

A eficiência reclama desigualdade de resultados, enquanto a justiça reclama igualdade


de oportunidades- entramos tenta equilibrar se o critério redistributivo, tentando retificar a
desigualdade sem provocar o empobrecimento

JUSTIÇA DOS MEIOS

Nozick e Adam Smith: os ganhos recebidos pelo trabalho realizado honestamente, não devem
ser redistribuídos. O estado deve assegurar a proteção dos cidadãos sem interferir na vida das
pessoas.

Pretende-se uma justiça independentemente de qualquer resultado- o resultado justo será


aquele que corresponder àquilo que cada um aplica na resolução dos seus problemas e na
satisfação dos seus interesses particulares (se o processo for justo, o resultado também o é).

Os libertários sugerem ideia de liberdade negativa- não prejudicar ninguém como única fronteira
à legitimação do exercício da liberdade.

Combate à pobreza:

-Tributação do rendimento (progressiva ou proporcional)

• Estabelecimento de medidas de combate direto à pobreza (apoios sociais)

o Prestação de serviços subsidiados ou em espécie (serviços de saúde…)

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• Uma das possíveis soluções é a do estabelecimento de um rendimento mínimo. Os


subsídios de desemprego e as medidas de promoção de emprego não têm por objetivo
primordial o combate à pobreza, mas podem servir indiretamente de resguardo contra
o empobrecimento daqueles que, dependendo crucialmente dos rendimentos do seu
trabalho por não disporem de um património gerador de outro tipo de rendimentos,
podem ficar em situações desesperadas se subirem desempregados.

O Estado pode: 1) conceder subsídios em função da conjugação de um baixo rendimento com


qualquer outra circunstância que possa ser objetivamente apreciada, para minimizar situações
de pura indolência parasitária; 2) reduzir a componente monetária dos subsídios, em favor das
transferências em espécie, bens e serviços gratuitamente fornecidos aos pobres, ou a atribuição
de meios de pagamento de circulação restrita.

Outra solução é a técnica do imposto negativo sobre o rendimento que consiste num alastrar da
ideia de progressividade das taxas de imposto a própria abordagem do problema da pobreza.
todos os indivíduos seriam formalmente tributados, não havendo isenção do mínimo de
existência; contudo, a todos seria concedido um crédito de imposto que, deduzido ao imposto
devido, corresponderia à atribuição de um subsídio às classes de rendimento mais pobres,
permitindo o mesmo passo assegurar uma transição suave de situações de benefício para
situações de oneração tributária. Esse crédito de imposto não seria mais do que um rendimento
mínimo garantido, acima do qual todo o rendimento seria tributado à mesma taxa marginal.

se pensarmos na pobreza como uma espécie de externalidade negativa agregada dentro de uma
sociedade, então todos os impostos progressivos deveriam idealmente contar com um setor de
taxas marginais negativas aplicáveis aos mais baixos rendimentos, uma espécie de “subsídio
pigouviano” destinado a prevenir a formação da externalidade negativa.

O imposto negativo equivale à garantia de um rendimento mínimo

A armadilha da pobreza

designa o efeito combinado de início de tributação e define subsídio que recai sobre aquele
que pretende ultrapassar o limiar de pobreza. a presença desta armadilha complica as soluções
que possam conceber se para resolver esta questão social: se não se discrimine entre graus de
pobreza e se garante indiscriminadamente um rendimento mínimo a todos aqueles que estão
abaixo do limiar de pobreza, isso constitui um incentivo ao abandono de todos os empregos
que sejam remunerados abaixo desse limiar.

Como evitar essa armadilha da pobreza?

- estabelecendo tributação suave e não confiscatória, como faz um imposto negativo

-recorrendo a formas de auxílio aos pobres mais decalcadas das tradicionais práticas
caritativas, ou seja, mais presas ou socorro de manifestações parcelares e inequívocas de
pobreza do que o apuramento do nível de rendimento total do qual se faça depender o
montante dos subsídios a atribuir

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a solução continua a não ser fácil uma vez que aliviar a armadilha da pobreza implica a sua visa
são do tributo que marginalmente incide sobre o rendimento dos mais pobres, mas isso
significa necessariamente o alargamento do benefício a mais famílias, e consequentemente um
agravamento do peso de redistribuição sobre os contribuintes líquidos, ou seja, sobre aqueles
que pagam mais imposto do que aquilo que recebem subsídio.

o Transferências em espécie

As transferências para os mais desfavorecidos são a forma mais direta e das mais eficientes de
proceder a redistribuições.

As transferências em espécie suscitam vários problemas, como o da demarcação do conjunto


verdadeiramente necessidades, a perda de motivação para trabalhar resultante do acesso a
serviços gratuitos e o problema da liberdade e dignidade dos destinatários dessas transferências
em espécie, que deixam de ter escolha e vivem de acordo com as ajudas que recebem, não
estando a ser verdadeiramente ajudados a reintegrar-se num contexto socioeconómico normal.

Segurança social

Outra forma de transferência de rendimentos é a segurança social, que funciona como um


mecanismo de mutualidade de seguros, em que cada um contribui para segurar os outros e para
ser segurado por eles.

Este sistema de segurança social defronta se com problemas graves de sustentabilidade em


sociedades em que o envelhecimento populacional, a baixa fertilidade e o aumento das
expectativas de vida, fazem com que a proporção entre os contribuintes e beneficiários da
segurança social vai evoluindo muito rapidamente, no sentido do aumento da carga financeira
por contribuinte, embora existam alguns fatores de atenuação.

A segurança social é um mecanismo com efeitos redistributivos, com a particularidade de que


redistribuição é em larga medida ditada por acasos, pelo que só em grandes números é
estatisticamente discernível a transferência a favor dos contribuintes mais pobres à custa dos
contribuintes mais ricos e mais onerados. A relação entre segurança social e combate à pobreza
é tudo menos linear.

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CAP 14- REDISTRIBUIÇÃO E TRIBUTAÇÃO

Os impostos são meios de arrecadação de receita pública, vias pelas quais se encontra cobertura
financeira para as despesas inerentes às atividades que as entidades públicas desenvolvem.

Justificação da tributação: 1) constatação de que existe um domínio de intervenção pública


indispensável ao funcionamento da economia, e que é preciso financiar; 2) verificação das
perdas de eficiência que aquela intervenção, e o suporte tributário, necessariamente acarretam;
3) Insuficiência do património do Estado para cobrir as suas despesas.

A tributação causa sempre uma retração da atividade económica e uma perda de bem-estar. Um
Agravamento tributário pode ajudar ao crescimento económico se ajudar a reduzir o défice
orçamental e o endividamento público e um desagravamento tributário constituirá um incentivo
a esse crescimento, deixando mais rendimento líquido de imposto nas mãos de produtores e de
consumidores.

A tributação também agrava os problemas de justiça relativa, uma vez que são impostos
sacrifícios através da tributação- problema da carga tributária.

O problema da tributação ótima assenta na necessidade de configuração de mecanismos


suscetíveis de forçar a revelação das preferências individuais, vencendo a assimetria informativa.

Custos de eficiência:

-custos de oportunidade associados ao facto do imposto retirar o incentivo que as partes possam
ter para concluir em transações- deadweight loss.

-custo oportunidade inerente ao acatamento de todos os deveres instrumentais e formais que


acompanham a constituição e o cumprimento da obrigação de imposto.

Torna-se mais aliciante e menos detetável a corrupção, uma forma de redução drástica dos
custos de acatamento que pode ser racionalmente compensadora, da expectativa de custos que
adviriam da detenção e punição do ato corruptor.

Estes custos de acatamento provocam também deadweight loss, porque não é pelo facto de o
contribuinte perder mais ou menos tempo a cumprir deveres acessórios e formais que existir a
maior receita fiscal.

Justiça fiscal

A maior parte das formas de tributação do rendimento adotam a solução da progressividade das
taxas- pretendem discriminar as pessoas de mais elevados rendimentos, fazendo-os pagar um
montante de imposto que é mais do que proporcional àquilo que pagam aqueles que têm
rendimentos menores.

Temos ainda o problema da coexistência de uma redistribuição justa com os efeitos mais ou
menos desincentivadores e ineficientes de qualquer mecanismo redistributivo.

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Princípio de finanças públicas- Adam Smith:

Princípio da capacidade tributiva- cada um deve contribuir consoante as suas possibilidades


económicas

Princípio da equivalência- tem de haver uma equivalência de benefícios que esperamos em


função dos impostos pagos

Princípio da legalidade- os impostos devem ser consentidos por lei

Critérios de justiça para distribuir o peso total da carga tributária:

-Impostos de capitação- a tributação de todos os contribuintes pela mesma soma

-Impostos proporcionais- tributação proporcional ao rendimento de cada contribuinte ou seja,


com uma taxa uniforme (taxa é a mesma mas sentir-se-á de formas diferentes)

-Tributação proporcional com isenção dos rendimentos mais baixos, ou seja, com
progressividade limitada às classes inferiores de rendimento, p.e, imposto negativo.

-Impostos progressivos (PT)- tributação com progressividade de taxas, isto é, com taxas que se
vão agravando à medida que é mais elevado o rendimento tributado (taxa é diferente consoante
os rendimentos).

A tributação por capitação é a mais eficiente no entanto, a mais injusta.

No caso da tributação progressiva, esta é forma menos eficiente, mas num certo sentido
é mais justa, visto que É Ela quem por estrato mais retira o rendimento dos contribuintes
mais ricos, deixando-os mais próximos dos mais pobres e visto que aproxima o valor dos
rendimentos líquidos de imposto, tal como eles podem ser aferidos em termos de
utilidade marginal.

Modelo de impostos Proporcionais Modelo de impostos progressivos

-justiça -justiça (vertical-impostos diferentes para cada


um- e horizontal - dentro do mesmo rendimento
-armadilha da pobreza
identificar o que foi diferente e valorizar as
-desaparece o desincentivo marginal (deixa-se diferenças desse montante-.
de se desistir de não subir de cargo só pq vamos
O progressivo é mais justo pq há uma
descontar mais, já que os impostos vão se
justiça vertical e horizontal
manter iguais)
-desincentivo ao rendimento marginal (pessoas
-Simplificação (encargos administrativos e
fogem aos impostos ou preferem trabalhar
custos de acatamento)
menos)

-há mais complexidade - gera fraude, cargos


administrativos e compliance

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Capacidade e benefício:

Princípio da igualdade horizontal- 2 contribuintes com uma capacidade contributiva similar


devem pagar o mesmo montante de imposto;

Princípio da igualdade vertical-um contribuinte que demonstre maior capacidade contributiva


do que o outro deve pagar mais imposto do que este.

Segundo o princípio do benefício, as pessoas devem ser tributadas proporcionalmente


ao uso que fazem dos bens públicos, o que exige que se pressuponha que é possível detetar e
contabilizar um uso privado dos bens públicos.- este princípio é o único os libertários aceitam
como legítimo.

Redistribuição e taxa plana:

Uma das soluções que tem sido sugerida como remédio é a simplificação das leis de imposto e
os deveres acessórios da obrigação tributária- a qualidade de um sistema tributário prende-se
com a necessidade de facilitar os esforços de acatamento por parte dos contribuintes.

Uma dessas medidas é a do imposto taxa uniforme ou plano que significa que se aplicaria a
qualquer montante de rendimento a mesma taxa- Nosso trataria de um puro imposto de taxa
proporcional por se admitir uma progressividade para os escalões inferiores (similitude com o
imposto negativo).

A igualdade vertical seria posta em xeque nestas propostas de taxa plano por tentarem
responder simultaneamente às exigências de justiça e de eficiência que são reclamadas de
qualquer solução de política tributária.

Poder-se-ia provar que a flat tax é inferior à progressividade dos impostos, se por Ventura fosse
evidente e consensual o padrão de um “sistema ótimo”; mas, na ausência de um tal padrão,
pode aceitar-se pacificamente que esta taxa plana é uma robusta solução sub-ótima para a
reforma fiscal.

Patrícia Falé- ECO II- FDUL


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CAP 15-O PROBLEMA AMBIENTAL

A produção de um bem ou serviço causa danos e efeitos secundários- externalidades.

-Para o produtor-poluidor a adoção de medidas corretivas revela-se um custo desacompanhado


de remunerações compensadoras, embora ainda haja alguns que adotam tais medidas no
sentido de ficarem melhor vistos na sociedade e destacarem o seu produto.

-O mesmo para o consumidor que, dentro da sua racionalidade, opta pelos produtos com menor
valor (mais poluentes), já que estes satisfazem a mesma necessidade.

Surgem então “meta-preferências”, preferências de segunda ordem que reforçam a


disposição de pagar. Entre estas avulta a gratificação de participar numa boa causa.

Tem competido à Economia indicar soluções eficientes para os problemas ambientais, seja para
os limites impostos pelos constrangimentos ambientais, seja para os limites da própria eficácia
interventiva na preservação e otimização das condições ambientais.

A externalidade envolve tanto um causador como uma vitima, sendo que sem a presença de um
essa externalidade não pode ocorrer. É nesta ideia que se funa do o Teorema de Coase.
Existem dois externalizadores que reciprocamente se impõem custos ou se proporcionam
benefícios através das decisões que tomam. É uma ideia de bilateralidade, essa externalidade só
ocorre porque existe uma vitima- estamos numa situação em que é concebível a formação de
um novo tipo de “mercado de internalização de externalidades” que eficientemente promova o
ótimo social.

Nas externalidades negativas o mercado falha na medida em que produz mais do que aquilo que
otimizaria o bem-estar social, nas externalidades positivas a falha de mercado consiste em se
produzir menos do que aquilo que optimizaria o bem-estar social. --- Não faltam propostas de
criação de um mercado para a satisfação das necessidades de internalização das externalidades.

Há que atender que a qualidade ambiental é um bem público, o que amplia os efeitos das
externalidades negativas e torna irresistível o efeito de boleia.

Criam-se condições para a intervenção do Estado na correção destas externalidades, mesmo que
o caráter bilateral destas aponte para a possibilidade de soluções negociadas que dispensam a
intervenção deste.

Ineficácia causada pelas externalidades

O custo para os produtores é menor do que o custo que essa produção acarreta para o todo da
sociedade. O custo social diminui o bem-estar coletivo, enquanto que o custo privado se limita
a redistribuir esse bem-estar entre as partes envolvidas nas trocas.

O Estado pode impor uma retração a esses produtores, obrigando-os a internalizar a


externalidade negativa, isto é, a refletir nos seus custos privados o montante dos custos sociais
correspondentes ao ótimo social (retirar dos lucros e não pelo aumento dos preços). O esforço
de internalização faz com que a eficiência privada se alinhe coma eficiência social (possibilidade
de gerar externalidades mas com custos associados).

Patrícia Falé- ECO II- FDUL


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A perspetiva de Coase: O caráter bilateral do fenómeno das externalidades aponta no sentido da


possibilidade de uma solução negociada (via contratual). Esse contrato tenderá a fixar relações
preços-quantidades que se aproximam do ótimo social. Excetuam-se externalidades perigosas
que envolvem a intervenção do Estado.

Custos de transação e solução extra-mercado: O que impede a formação de mercados e a


solução espontânea, negociada, de muitos dos aspetos relativos às externalidades é a simples
onerosidade, resultado dos custos de transação, dos procedimentos envolvidos num tal tipo de
soluções.

A ideia de custos de transação, elaborada por Ronald Coase, é a de todos aqueles em que se
incorre na troca de utilidades e a afetação comutativa de recursos, quando se busca uma
contraparte, se negoceia com ela, se preveem e supervisionam as contingências do
cumprimento. Há uma tendência para a existência de uma informação assimétrica, racionalidade
limitada e oportunismo que multiplicam os custos de transação e fragilizam o cumprimento de
contratos incompletos (lock-in). É esta perspetiva de custos de transação que veio permitir a
intervenção do Estado, já que a resolução espontânea não é possível por haver tais custos para
ambas as partes.

Teorema de Coase: Implica que as afetações iniciais de recursos se tornem irrelevantes num
contexto hipotético em que não haja “custos de transação”.

Se, num contexto hipotético, estivéssemos isentos de custos de transação, a solução eficiente
formar-se-ia sempre através da negociação.

O teorema refere-se apenas à formação espontânea de um máximo de eficiência, não


necessariamente à produção do resultado abstratamente mais justo.

Atribuição de direitos de apropriação, abarcando todos os aspetos nos quais possam manifestar-
se externalidades, garante a reação espontânea do titular desses direitos contra as
externalidades negativas e facilita a identificação dos beneficiários das externalidades positivas
(seria um passo na resolução do problema, restando o obstáculo dos custos de transação).

A apropriação e existência de baixos custos de transação evitam a formação de externalidades


negativas, ou promovem a sua rápida correção e internalização.

Teorema de Coase: duas atividades reciprocamente externalizadoras podem chegar a um


equilíbrio através de compensações mútuas, sinalizando o compromisso entre “disposição de
suportar os custos de internalização da externalidade” e “disposição para suportar uma
externalidade mediante uma compensação”.

É a apropriação do teorema de Coase que explica a generalização de métodos de controlo de


poluição através da constituição de mercados para a afetação e reafectação de “direitos de
poluir”, pelo sistema de “quotas negociáveis” que no conjunto perfaçam um “nível-alvo” de
poluição.

Patrícia Falé- ECO II- FDUL


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Correção das externalidades

O Estado pode:

1) Substituir-se a alguns daqueles que promovem atividades externalizadoras, fazendo


seus os respetivos recursos, expropriando, de forma a promover diretamente o nível de
atividade correspondente ao ótimo social (solução para os monopólios naturais).

2) Regular as principais atividades externalizadoras, impondo-lhe limites máximos ou


mínimos de atividade, estabelecendo diretrizes.

A solução regulamentadora é a mais comum, o Estado estabelece objetivos de otimização social


que depois obriga os agentes económicos a prosseguirem, independentemente de incentivos
económicos que tenham para fazê-lo.

Apesar da tendência preferencial pelos incentivos, a solução de controlo quantitativo não deixa
de ser comum, dada a verificação de limites absolutos e não negociáveis.

Não esquecer a possibilidade de riscos de falhas de intervenção.

3) Estabelecer incentivos e desincentivos económicos às atividades externalizadoras,


preservando a liberdade de iniciativa mas encorajando-a, ou desencorajando-a, através
de uma interferência no plano dos custos e ganhos que possam corresponder a essas
atividades.

-Os impostos que visam internalizar as externalidades negativas são apelidados de “impostos
pigouvianos”, por referência a Pigou.

Esses impostos recaem sobre os autores dessas externalidades negativas e esses não possam
repercuti-los inteiramente sobre terceiros, provocando um agravamento de custos e, portanto,
um incentivo à redução dos níveis de produção e da externalização.

Talvez não devessem ser designados como “impostos” porque não provocam perdas de bem-
estar, mas são impostos na medida em que através deles se obtém uma receita pública ao
mesmo tempo que se promove a coincidência dos valores do custo social marginal e do benefício
social marginal.

Fala-se no duplo beneficio dos impostos pigouvianos, já que estes, cirando benefícios
ambientais, criam também benefícios económicos (criação de riqueza).

Os impostos pigouvianos incentivam a eficiência das atividades externalizadoras: já que se paga


tanto mais imposto quanto mais se polui, e sse deixa de pagar imposto quando o nível de
poluição já é aquele que é compatível com a maximização do bem estar-social (desoneração
fiscal como incentivo aos produtores).

-Considera-se, ainda, como sistema de incentivos, um sistema de quotas negociáveis que admite
uma maior flexibilidade, permitindo-se reduções de poluição a custos mais baixos que o imposto
pigouviano, tornando cada vez mais vantajoso o investimento em inovação. Este sistema consiste

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na atribuição a cada poluidor de uma quota máxima permitida, que permite a livre
negociabilidade das quotas atribuídas. Cria-se um mercado de direitos de externalizar.

Bens públicos e bens comuns

A sua natureza torna-os insuscetíveis de análise económica. Assim, sem preços, constituem uma
falha de mercado, não permitindo que haja sequer um mercado.

Bens públicos- não suscetíveis de exclusão do uso(ninguém consegue ficar afastado da fruição
direta e integral do bem) e a não rivalidade ou não exclusividade do uso (o acesso a cada um ao
bem não interfere com o acesso ao uso de qualquer outro agente). É um caso de extrema
externalidade positiva.

Rivalidade do uso Exclusividade


Bens privados SIM SIM
Bens públicos NÃO NÃO
Recursos comuns SIM NÃO
Monopólio natural NÃO SIM

Problema: perda de incentivo à sua produção, já que todos beneficiam do bem


independentemente do pagamento e a falta de travão à degradação desse recurso.

Problema da boleia: a falha da produção dos bens públicos deve-se ao efeito boleia, já que as
características do bem Público fazem com que cada individuo espere pela respetiva produção
pelos demais, para que depois possa retirar benefícios sem ter que suportar os custos. Esta falta
de coordenação pode mesmo impedir que o bem venha a ser produzido.

Esgotamento e apropriação dos recursos comuns: Nos recursos comuns existe rivalidade no uso,
surgindo problemas de gestão desses recursos que podem obter ao seu uso por outros. O mais
comum é o abuso, associado ao problema da tragédia dos baldios, os recursos esgotam-se pela
sua saturação. Este problema gera se por cada um ganha em retirar um benefício privado
apoiado em externalidades negativas, mas ninguém ganha em suportar os custos benefícios
comuns geradores destino de dispositivas, o que conduz à sobreexploração dos recursos.

Crescimento e qualidade ambiental

Recorre-se a curva de kuznets ambiental. Não a primeira fase do crescimento, a poluição


tenderia a crescer mais rapidamente que o nível de produção, até se chegar ao cume a partir do
qual decresceria, chegando mesmo a níveis de poluição inferiores aos da mais fase inicial.

Assim, o crescimento não se alcança sem sustentabilidade económica e a proteção ambiental


não é alcançada sem crescimento- a pura racionalidade económica é/pode ser compatível com
os interesses de preservação ambiental.

Importa referir que a tecnologia está a permitir achatar a curva.

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CAP 16-A INTERVENÇÃO DO ESTADO E A ESCOLHA PÚBLICA

Há problemas na eficiência e na justiça sendo, , por várias vezes, absolutamente necessária a


intervenção do Estado para a resolução dos mesmos.

Captação de Renda: consiste no esforço de desvio, para proveito próprio, de uma remuneração
que não seria necessária para incentivar uma atividade eficiente. Esta captação pode ocorrer
através de atividades protegidas por barreiras anti-concorrenciais, monopólio natural.

Teoria da Captação de Renda: resulta da análise económica da pressão do lobbying e da


corrupção no setor público - será tanto maior e mais intenso quanto maior for a descentralização
política, já que esta aumenta o risco moral e as deficiências de supervisão.

Problema: : é fundamental, assim, combater o lobbying e a corrupção, contudo este combate


assume as características de um bem público, conduzindo ao efeito boleia e a um incentivo
coletivo à sua subprodução.

Mercado de Captação de Renda: não está protegido por barreiras de entrada, podendo nele ser
for o nível e a pressão concorrencial, sendo despendidos muitos esforços na captação. O
equilíbrio económico que se cria no mercado, muitas vezes, ultrapassa o equilíbrio renda zero,
fazendo com que os agendes despendam mais do que o valor de retorno esperado.

A Regulação: consiste no procedimento das conciliações necessárias entre as categorias de


agentes económico e entre os interesses. Existe, assim, um mercado da regulação, podendo
analisar-se um lado da oferta e um lado da procura.

Procura: a procura depende do excedente de bem-estar obtido através da


mesma, se foram suficientemente numerosos e organizados. A regulação reduzirá as
escolhas, no entanto, poderá permitir um favorecimento da posição dos agentes já
instalados.

Oferta: os políticos e burocratas oferecem regulação, maximizando os


benefícios percebidos pelo leitor mediano (captação eleitoral) e a captação orçamental
(para as estruturas burocráticas).

Mercado: o equilíbrio da regulação permitiria um aumento da eficiência económica, já que a


principal prioridade seria a eliminação de áreas de perda absoluta de bem-estar. Assim, a
regulação tem vantagens (redução de custos, benefícios para setor desregulados, aumentos de
produtividade e de sofisticação tecnológica), mas também tem desvantagens (grandes riscos,
podendo levar a privatizações ou desregulações incompletas, que criam vazios de poder,
surgimento de imperfeições concorrenciais e, ainda, evidencia os desperdícios que gera).

Teoria da Escolha Pública: James Buchanan e Gordon Tullock- uma desvalorização ideológica
relativa à existência de uma vontade geral funcionalizada à proeminência de um bem comum.
Constata-se que não existe uma solução espontânea que promova o bem-estar coletivo, já que
o esforço de decisão incorre em custos de interdependência. Entende-se, assim, que a
assimetria informativa e a falta de perceção levam a problemas na Escolha Pública - cabe à
economia fornecer boas intuições à forma e à legitimação que correspondem à agregação de
preferências.

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Votação e indecidibilidade: há várias teorias que demonstram os problemas da escolha pública.

Teoria do Votante Mediano ou Princípio da Diferenciação Mínima: explica a bipolarização


partidária aparente e a convergência dos partidos para as posições centrais. Quanto mais os
partidos se afastam, mais se arriscam a levar com maiorias da oposição, mais desagradam o
votante mediano. Assim, a restrição das preferências concentra os votos nos valores centrais e
os dois partidos políticos maximizadores de votos tomarão por alvo o mediano vencedor.

A dificuldade de se encontrar unanimidade e até de a preservar torna inevitável o recurso a


regras maioritárias(paradoxo do voto, por exemplo). A necessidade de decisões coletivas agrava-
se, ainda, com a fundamental interdependência da vida em sociedade e com a ocorrência de
externalidades, que fazem com que terceiros sejam afetados pelas decisões de outros agentes.

Grupos de Interesse: a segunda grande dificuldade da atuação do Estado é o facto de esta nem
sempre se orientar por uma ponderação objetiva e igualitária de interesses, desviando-se para
o favorecimento de particulares ou grupos de interesse - é o resultado da captação de renda,
através da compra de favores políticos, que prejudicam o interesse geral.

Mercado Político: os políticos e burocratas oferecem condições, com vista à obtenção de


determinadas vantagens. Os grupos de interesse, serão tanto mais eficientes quanto mais
pequeno e coeso for o grupo, já que assim será maior o benefício daqueles que tomam a
iniciativa de pressionar o governo, esbatendo-se o efeito boleia que se verificaria maior quanto
maior fosse o grupo.

Oferta: políticos (motivados pela maximização dos votos) e burocratas (tentando captar
para os seus setores dotações orçamentais).

Procura: votantes que se manifestam através do voto, da pressão dos lobbies, de


contributos financeiros e de corrupção;

Problemas: a situação agrava-se com a própria ineficiência da atuação do Estado, pelo


peso da burocracia, pelo risco moral dos comissários na estrita prossecução do interesse público.

Limitações procedimentais: já se constatou que a eficiência da intervenção do Estado compensa


a limitação, em algumas situações, da liberdade. Contudo, há ineficiências nessa atuação,
ditadas pela organização do Estado.

Seria de questionar, dadas as insuficiências da intervenção do Estado, se não seria preferível


conviver com as falhas de mercado a arriscar o surgimento das falhas de intervenção, mais
agudas. No fundo, elas são o preço mínimo a pagar pela correção das falhas de mercado.

IDEIA FUNDAMENTAL: a intervenção do Estado pode implicar custos que excedem os benefícios,
dados os incentivos não estritamente económicos por que se pauta a ação política, podendo as
interferências resultar em falhas de intervenção.

Patrícia Falé- ECO II- FDUL

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