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Faculdade de Direito de Lisboa Mafalda Maló – 2016/2017

Capítulo 11 - Outros Objetivos Que Não A Maximização De Lucro


A maximização de lucro: à partida as empresas procuram pela maximização de lucro.
Contudo, embora não seja frequente há situações em que esse objetivo da maximização de lucro
não é imediato ou é substituído por outros objetivos (por boas e por más razões).
O Produtor dos 7 ofícios: é necessário admitir que o produtor, outrora considerado
como gestor e administrador, não tem capacidade para se dedicar, por inteiro, às duas
atividades. Sabe, por conseguinte, pela inferência das vantagens comparativas, que é mais
vantajoso dedicar-se à atividade em que se considera mais capaz. Assim, passa a precisar de
terceiros na gestão da empresa.
Tese de Berle e Means: decorre da necessidade e da produtividade da empresa a
separação que se estabelece entre o proprietário e o gestor, na medida em que a empresa de
gestão ocupa os cargos na administração e na gestão na empresa do proprietário, sem dispor
de conhecimentos nefastos sobre o estabelecimento. Da necessidade desta contratação,
decorre uma relação de confiança - o proprietário confia no gestor, considerando que este
seguirá os seus interesses e objetivos e proporcionará a maximização do lucro da empresa. Há,
assim, um contrato comissão (entre comissário e comitente), sendo o comissário remunerado
consoante os resultados, não tendo ideias próprias e agindo por conta e nome dos interesses
do comitente.
Problema: os interesses seguidos pelo proprietário, os seus objetivos iniciais,
não são seguidos pelo gestor, não se promovendo a maximização de lucro. Surge o problema
de agência ou da divisão entre titularidade e controlo, já que os interesses do principal e do
agent não estão conciliados, ou seja, não garantem a maximização do lucro.
Causas: cláusulas abertas nos contratos de trabalho, especificações
técnicas e imperfeições. Quanto maior for a perfeição do contrato, mais difícil será ao gestor de
fugir aos interesses do proprietário e agir conforme os seus próprios interesses. Inversamente,
quanto maior a imperfeição, mais fácil será para o gestor atuar fora dos interesses do
proprietário sem ser descoberto (ou ser descoberto tardiamente).
Assimetria informativa: a enorme diferença de conhecimento entre o
proprietário e o gestor (que, aliás, reconduz ao próprio propósito do contrato estabelecido - o
gestor é contratado para fazer algo que o proprietário não consegue) permite que o segundo
tenha uma grande margem para agir em desconformidade com a maximização do lucro
empresarial e a favor do seu benefício pessoal, sem ser descoberto. Inicialmente, quando tem
pouco conhecimento da empresa, será mais difícil fazê-lo, já que o proprietário está em igual
vantagem - com o passar do tempo e com os conhecimentos que adquire, torna-se mais fácil
agir em benefício pessoal. Os administradores, devido ao risco moral, tendem a agir em
benefício pessoal, sabendo de antemão que não estão a ser observados. Surgem, assim,
PROPOSTAS DE SOLUÇÃO.

Soluções - convergência de interesses: soluções para o problema de agência.


1. "Venda da Empresa" ao Comissário: esta venda pode ser conseguida através de duas
estratégias. Pode ser feita através da remuneração, ou seja, em função dos resultados
empresariais conseguidos pelo gestor - a vantagem económica resulta do sucesso/êxito da
empresa. Cria-se, assim, a sensação de que o gestor é o novo proprietário da empresa -
desvantagem: o gestor pode deturpar os valores e convencer o proprietário de um êxito que
não existe. Pode ser feita, ainda, através do pagamento à peça, sendo o gestor contratado para
fazer tarefas específicas, que caso não sejam alcançadas, levam ao despedimento.
Problemas: não funcionam e são consideradas as piores soluções, porque
dificilmente os gestores experientes aceitam este tipo de remuneração e a informação pode ser
deturpada favoravelmente, a favor do gestor (da remuneração) ou, até mesmo, a favor do
proprietário (pretende fazer valer o nome da empresa no mercado).
2. O Sistema de Incentivos: consiste numa simulação de mercado. Assim, paralelamente
a uma remuneração fixa (que permite minimizar o risco), há incentivos ou compensações, que
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assumem a forma de bónus, comissões, compensações, ações ou ações de compra de ação,


em função dos resultados das metas alcançadas.
Opções de compra de ações: há um empréstimo da empresa que é retornado,
num valor mais elevado, com a revenda das ações.
Problemas: os resultados podem ser deturpados pelo gestor/administrador; o
gestor pode aproveitar-se da especulação inerente ao mercado das ações, provocando uma
valorização que ultrapassa o valor real da empresa e lhe permite beneficiar às custas da mesma;
3. O Sistema de Comando: supervisão, fiscalização e auditoria por parte de empresas
especializadas (auditorias independentes), às contas e à gestão. Assim, podem ocorrer quatro
panoramas distintos: o auditor contratado faz parte das estruturas da empresa (há
proximidade, logo os resultados podem ser pouco rigorosos); uma empresa externa fiscaliza as
contas da empresa; há um revisor oficial de contas, agente qualificado que não é um elemento
do mercado, logo é menos permeável a subornos e que age em função do interesse público; há
entidades reguladoras de marcado.

Controlo Formal: em termos teóricos, para ter o controlo da empresa, é necessária a


compra de milhares de ações. Assim, o controlo acionista permite a vitória nas deliberações em
assembleia, para nomeação dos administradores. O que acontece nas grandes empresas é que
basta dispor de 20% das ações para ter o controlo acionista, já que o capital está
estrategicamente disperso.
Controlo informal: por vezes, o controlo é informal, na medida em que se formam redes
de influência, autónomas do mercado, que permitirá nomear uma equipa de gestão que
favorecerá os interesses particulares e não promovam a maximização de lucro (escolhas por
amiguismo, por exemplo). Assim, os acionistas podem ganhar dividendos e informações, que
não chegam aos restantes acionistas (inside trading).
Como resolver? A solução são as takeovers, ou aquisições de domínio, que pretendem
arranjar um novo controlo acionista que permita contratar uma nova equipa de gestão e
aumentar a valorização da empresa. Estas aquisições podem ser amigáveis, através de fusões
discutidas e deliberadas, ou hostis, quando há uma aquisição elevada de ações, que causa uma
reação defensiva por parte dos gestores do momento (procuram combater a nova equipa e
apresentar melhores resultados).
Estratégias utilizadas: a reação dos controladores às takeovers, no caso de aquisições
hostis, são de ordem adversa.
1. Greenmail: simulam, momentaneamente, um nível de eficiência máxima,
apostando tudo na rendibilidade a curto prazo. Evitam, assim, medidas de longo prazo, por
forma a prejudicar os ganhos da nova gestão.
2. Pílula envenenada: fazem investimentos que apenas subsistem com a antiga
gestão, perdendo-se com a nova gestão. São investimentos perdidos, que fazem perder valor à
empresa.
3. Desmantelamento do património da empresa.
4. Staggered board: através de alterações nos estatutos, bloqueiam a
substituição completa de todos os administradores, tendo esta de ser feita de forma faseada.
Evitam o único golpe.
5. Para-quedas dourado: estabelecem indemnizações milionárias, para o caso
de perderem o controlo.
6. Contra-assalto: ameaçar adquirir o domínio da empresa assaltante, através
de uma contra-aquisição.
7. Management buy-out: retiram a empresa do mercado, através da compra
maciça de ações, passando a dispor do controlo acionista.
Situações em que as aquisições de domínio falham.
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1. Situações em que a administração não valoriza a empresa, pelo que se reage


através de aquisições, com a tomada da empresa. Por vezes termina em canibalização
(aproveita-se o bom, que pode não ser intencional, ou para resolver as dividas da aquisição).
2. Por motivos especulativos, ocorre uma revenda com lucros assinaláveis, das
ações previamente adquiridas pela empresa que ameaçava a aquisição.
3. Quando se dá uma mera substituição dos interesses particulares por outros
interesses particulares.
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Capítulo 12 - A Repartição do Rendimento e o Mercado dos Fatores


De que forma é determinado o rendimento? O foco principal será a repartição do
rendimento, em especial no mercado dos fatores.
Processo económico: cada indivíduo participa no processo económico na expectativa
de obter uma remuneração que seja equivalente ao contributo da sua participação. Ambiciona,
assim, obter o seu rendimento individual, que deverá ser equivalente à contribuição de cada
um, no processo de criação de riqueza. A exclusão, em contrapartida, determinará a
condenação do indivíduo à pobreza.
Problemas: surgem problemas de justiça na repartição da remuneração dos fatores,
em especial no que toca à proporção entre o valor da contribuição e o valor da remuneração.
Sabe-se, contudo, que a perfeita igualdade impediria a função dos preços (distinguir os
produtos) e desincentivaria o investimento em capital humano (impedindo a especialização e
a complementaridade entre as partes). Assim, por vezes, admitem-se ratificações institucionais.
Remuneração diferenciada: é proporcionada pelo mercado e pela oferta e
procura dos mercados no mercado dos produtos - pela lei da oferta e da procura. É, assim, um
resultado inevitável da valorização da sociedade a determinados produtos. Os fatores (trabalho,
fatores naturais, matérias-primas - fator terra -, capital e fator empresarial) serão tanto mais
remunerados quanto mais escassa for a oferta e vice-versa. São, também, bens de procura
derivada - a sua procura depende da procura dos bens ou serviços finais da produção no
mercado dos produtos. Há uma grande interdependência entre ambos os mercados.

A Procura de Capital e de Fatores Naturais: entende-se por capital, os bens


instrumentais, que auxiliam na produção de outros bens e que coadjuvam o esforço laboral. Há,
então, duas hipóteses de utilização destes bens: a locação ou a aquisição de capital.
Locação de capital: consiste num contrato de aluguer, ou seja, uso temporário de uma
coisa mediante o pagamento de uma remuneração (não há, efetivamente, transferência do
direito de propriedade). Este método permite diminuir os custos de manutenção, evitar a
desatualização tecnológica, etc.
Empresa que procede à locação: irá recorrer à locação de capital sempre que o
rendimento marginal (que coincidirá com a procura - no sentido, à partida, decrescente) desse
capital exceda ou iguale os custos da sua remuneração. Por outras palavras, se o preço do capital
for superior ao seu rendimento marginal, incorrerá em prejuízo.
Empresa que cede bens de capital: a remuneração da cedência será o juro. A
curto prazo, o capitalista, aquele que dispõe de bens de capital, estará disposto a ceder os seus
bens sempre que os custos marginais não excedam os juros - por custos marginais irá entender-
se, assim, custos de transporte, manutenção, administração, etc. Se os juros não excederem os
custos marginais, então o capitalista estará disposto a vender os bens de capital (como bens
usados). No longo prazo, o capitalista irá adquirir novos bens, com vista à sua cedência
temporária. Esta aquisição depende vários fatores - os custos de oportunidade (senão existirão
aplicações financeiras mais rentáveis), da depreciação dos bens (a diferença entre o seu valor
inicial e o seu valor para a sucata), dos custos do capital (transporte, manutenção).
Aquisição de capital: será rentável sempre que a igualdade entre preço e o valor do
produto se prolonguem por sucessivos períodos (a vida útil do bem de capital), prevendo o valor
futuro para o rendimento marginal do respetivo bem (irá decrescer).
Fatores Naturais - terra: são fatores fixos, devido à inelasticidade da sua oferta. A sua
remuneração é a renda fundiária, que depende de dois fatores - da remuneração dos capitais
aplicados (a produtividade) e da renda fundiária diferencial ricardiana (resulta da
produtividade natural, da localização geográfica e da pressão da produção - assim, aplicando-se
a lei do custo de produção, o preço era estabelecido no custo de produção mais elevado,
incentivando a abertura dos mercados e a concorrência, num cenário de procura virtualmente
inelástica).
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A Oferta e a Procura de Trabalho: o fator produtivo trabalho é preponderante,


consumindo a maior parte do rendimento geral gerado. Exige-se, assim, uma grande divisão por
toda a população ativa, pelo que a parte que chega aos trabalhadores não é tão elevada como
a correspondente aos restantes fatores produtivos. É, também, uma procura derivada.
Fatores condicionantes da procura de mão de obra: a procura de mão de obra é
condicionada por fatores como - o rendimento do empregador, a procura derivada dos bens no
mercado dos produtos, a estrutura de custos (de acordo com o nível tecnológico), o preço dos
fatores (salário/remuneração) e da comparação entre custo da mão de obra e produtividade.
Remuneração e contratação: para uma empresa atomística, que é price-taker, a chave
será a diferença entre o produto marginal e o preço/salário (quando o preço seja superior ao
produto marginal, então já não será rentável contratar). Na ponderação da remuneração
calcula-se o valor em moeda do produto marginal que o novo trabalhador acrescenta à
empresa.
Consequências da procura derivada: a subida do preço no mercado dos
produtos fará aumentar o valor do produto marginal, pelo que a procura de trabalhadores
aumenta em todos os níveis salariais.
Consequências de variações da oferta: o aumento da oferta faz diminuir o nível
salarial e aumentar, por isso, a necessidade de trabalhadores (o produto marginal decresce,
porque contratar mais um trabalhador significa retirar produtividade marginal ao último
contratado). Em contrapartida, a diminuição da oferta faz aumentar o nível salarial e, ainda, o
produto marginal (por isso, se estabelecem barreiras aos acessos - exemplo: maior ou menor
duração do curso superior).
Relação produtividade-salários: há uma relação direta, o que significa que um
aumento da produtividade faz aumentar os salários e uma diminuição da produtividade faz
diminuir os salários.
Elasticidade da procura de mão de obra: a elasticidade da procura da mão-de-
obra depende da intensidade da exploração, da substituição por capital e da elasticidade dos
produtos no mercado dos produtos.

Informação Imperfeita e Descriminação Salarial: as remunerações dos indivíduos podem


variar imenso, já que, como se disse, a plena igualdade trataria inúmeras desvantagens.
Estabelecem-se, assim, diferenciais compensatórios, que ultrapassam a simples distinção do
valor monetário das funções - são as diferenças não-monetárias. Exemplo: um emprego melhor,
tem mais procura, logo salários mais baixos; um emprego pior, que tem menos procura, tem
salários mais elevados.
Capital Humano: consiste no investimento na formação pessoal e na
especialização. Este investimento tem duas consequências - o aumento da produtividade e o
aumento das aptidões e do consequente salário. Como remuneração, consiste no valor presente
do total das remunerações futuras esperadas em função da especialização em que se investiu.
Esse investimento terá de ser compensado no futuro, na medida em que as remunerações
cubram o custo de oportunidade e os custos direitos do investimento. Em termos estatísticos,
sabe-se que o desemprego atinge em maior número os trabalhadores menos especializados.
O Investimento em Capital Humano: é certo que o investimento em capital
humano é uma das consequências da clivagem remuneratória. Contudo, pode não estar
associado à formação superior, podendo até ocorrer situações em que esse investimento não é
compensado. No entanto, de um modo geral o que não investe na educação fica mais exposto
à concorrência, já que não dispõe de um sinal idóneo que o proteja da seleção adversa.
O Papel do Estado: entende-se que o Estado deve promover um nível ótimo de
educação, por forma a garantir o investimento privado e o consequente aumento do
investimento coletivo, que proporcionam as ditas externalidade positivas. Para além disso, a
tecnologia, o crescimento económico, a mundialização do comércio e a divisão internacional do
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trabalho exigem, cada vez mais, a especialização, o que aumenta a descriminação


remuneratória.
Bens de Mérito e Cheques Educação: as externalidades positivas e o
interesse público justificam a intervenção do Estado. Este poderá elevar os serviços educativos
a bens de mérito, que consistem em bens cujo consumo o Estado pretende aumentar,
presumindo o subconsumo dos mesmos. É certo que esta medida pode ferir a lógica de
liberdade dos mercados. Para além disto, poderá ainda conceder subsídios de apoio educativo
ou até mesmo vouchers, entendidos pelos críticos como fomentadores do ensino privado.
A Sinalização pelo trabalhador: na contração, como já se referiu, há um nível
elevado de assimetria informativa (aquele que contrata não conhece verdadeiramente as
qualificações e qualidades do candidato) e na base da escolha dos candidatos estão
variadíssimas razões - o talento, o esforço, os casos, as assimetrias informativas, as injustiças
puras e iniciativa própria. Assim, afigura-se como tentativa de solução a teoria da sinalização -
explora o que o candidato oferece numa lógica de idoneidade, apostando-se assim na reputação
e nos dados objetivos da qualificação (dados esses que possam ser apreciados por um ignorante
na matéria), de forma gratuita. Ao empregador é concedida uma dupla opção - ou não confia e
procura atingir um maior nível de qualificação; ou confia na sinalização, avaliando de acordo
com indícios que permitirão aferir, com elevada probabilidade, as qualificações do trabalhador.
Críticas: aponta-se uma descrição pouco informativa e algo injusta. A
solução proposta seriam períodos experimentais, contudo reconhece-se que o empregador
incorreria em custos elevados.
Vencimento de Transferência, Quase Renda, Renda Económica e Renda Pura:
o vencimento de transferência corresponde ao vencimento a partir do qual o trabalhador está
disposto a exercer aquela função (a sua disposição de vender). A renda económica corresponde
aquilo que o trabalhador recebe para lá do vencimento de transferência, excede o mínimo que
é necessário para incentivar uma atividade. Esta renda depende da procura do bem no mercado
dos produtos e da sua acessibilidade a baixo custo - depende do nível de procura. A quase renda
corresponde à remuneração paga acima do vencimento de transferência que, no longo prazo,
para ele caminha. Verifica-se em situações de grande inelasticidade no curto prazo e de grande
elasticidade no longo prazo. A renda pura verifica-se em situações em que trabalho é
absolutamente infungível e insubstituível, é um mercado de um único vendedor, onde não há
vencimento de transferência.

A Discriminação no Mercado do Trabalho: muitas vezes, verifica-se que a procura não é


motivada por motivos de eficiência, mas sim por critérios de sexo, raça, etnia, convicções
políticas, convicções religiosas, etc. Verifica-se esta discriminação, maioritariamente, no setor
feminino e nas minorias étnicas e raciais. É certo que, atualmente, já se entende que esta
discriminação não é apenas movida por fanatismos, mas também pelo investimento em capital
humano. A mulher, muitas vezes, abandona temporariamente o mercado de trabalho para se
dedicar à maternidade. Nas restantes situações, que derivam de crenças e opções sociais, há de
facto uma procura derivada, que resulta do mercado dos produtos. Importa referir que, nos
anos 50, um movimento veio insurgir-se contra a matéria (o movimento feminista), provando
que não havia fundamento para a contratação descriminada. Note-se que, atualmente, a
carreira fala mais alto, pelo que a maternidade fica em segundo plano, o que causa a quebra na
fertilidade e o envelhecimento - problemas graves do mundo contemporâneo.
A Racionalidade Económica: de facto, vem-se comprovando, que as descriminações
infundadas, não só são chocantes, como diminuem a eficiência das empresas. Assim, deverá
atender-se apenas às forças de mercado para a contratação - salvo se as próprias forças forem
elas guiadas por descriminações, que se possam concretizar em leis vigentes. Cabe ao Direito
reformar os quadros normativos, com vista ao término das descriminações.
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Capítulo 13 - A desigualdade e a pobreza


A desigualdade e a pobreza: as diferenças remuneratórias causam problemas na coesão
e na homogeneidade internas, o que justifica a intervenção do Estado. Contudo, note-se que
administração da justiça exige a emissão de juízos de mérito, não podendo proceder-se a uma
redistribuição unicamente centrada na eficiência económica.
Questão social: nasceu no XIX, como uma reação aos excessos capitalistas,
afirmando que a lógica de mercado traria inúmeros problemas para a sociedade, que
condicionariam a justiça a favor da eficiência económica. Assim, a Economia Social procura uma
retificação nas leis de mercado, com vista a corresponder às exigências sociais e garantir o bem
comum.
Alguns problemas: pode acontecer que, em resultado das leis do
mercado, se dê uma distribuição irregular da propriedade, gerando-se grandes distorções entre
superabundância e carência.
Património vs. Rendimento: o património é a riqueza que cada indivíduo possui
no momento, enquanto rendimento será o modo principal de criação, manutenção e
agravamento das disparidades entre ricos e pobres, refletindo-se no património como riqueza
nova.
O Problema da Intervenção: não há limites para os diferenciais remuneratórios,
já que o mercado funciona numa lógica de eficiência, por forma a garantir a eficiência máxima
da afetação de recursos. Este cenário é, apesar de tudo, incompatível com a ideia de justiça,
pelo que se justifica a intervenção do Estado. A grande consequência da intervenção do Estado
é o desincentivo à atividade e ao enriquecimento.
Outros aspetos relacionados com a pobreza: há que não esquecer que existem
situações de pobreza voluntária, em que os indivíduos escolhem livremente essa
postura/posição na vida. Há, ainda, situações de pobreza tão profunda que os métodos
redistributivos são meros cuidados paliativos, pouco eficientes, não resolvendo o problema da
pobreza.

A medição da pobreza: a redistribuição desigual do rendimento traduz-se na grande


desigualdade da riqueza que a cada um cabe. Desta forma, torna-se necessário aferir essa
desigualdade, através de métodos que permitam compreender a homogeneidade da
redistribuição.
Método: divide-se a sociedade em 5 grupos, cada um representante de 20% da
população. Numa sociedade igualitária, a cada grupo caberia 20% da riqueza total. Não sendo
igualitária, deve dividir-se a sociedade em classes de rendimentos. Quanto maior for a coesão
social, menor será a diferença entre a percentagem de riqueza que cabe às demais classes, logo
menor será a motivação económica para os mais pobres deixarem de ser pobres - e vice-versa.
Conclui-se que a necessidade de fuga à pobreza é inversamente proporcional à coesão.
Curva de Larenz: proposta por Max Larenz, consiste num gráfico que demonstra
o efeito cumulativo da pobreza - é a correlação entre a fração cumulativa do rendimento e a
fração cumulativa da população a quem o rendimento cabe. Neste sentido, a perfeita igualdade
levaria a uma linha reta, pelo que, quanto maior a desigualdade, mais afastada estará a linha de
uma reta. Daqui se conclui, logicamente, que quanto mais eficaz for a redistribuição, maior será
a aproximação à linha reta.
Coeficiente de Gini: em resultado da curva de Larenz, é possível calcular o
coeficiente de Gini. Este consiste no quociente entre a área que separa a curva de Larenz da
desigualdade máxima e a área que separa a curva de Larenz da igualdade máxima. O resultado
estará [0,1], sendo que 0 corresponde a uma situação de igualdade máxima e 1 a uma situação
de desigualdade máxima.
Economias desenvolvidas e mundial: estima-se que o valor das
economias desenvolvidas se situe em torno de 0,4. A nível mundial, aponta-se para um aumento
do coeficiente de Gini, o que permite concluir um aumento das disparidades entre mais ricos e
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mais pobres e, consequentemente, menor coesão e maiores desigualdades na repartição da


riqueza.
Coesão Social vs. Crescimento: de acordo com Nikolas Kolder e Simon Kuznets,
existe uma tensão entre os objetivos de coesão social e de crescimento, que se traduz na Curva
de Kuznets. Esta configura que, ultrapassada a fase de desigualdade máxima, gerada pelo
crescimento, o próprio crescimento promoveria a convergência dos rendimentos. Atualmente,
já se entende que a desigualdade, contrariamente ao que diria Kuznets, como variável
independente, condiciona negativamente o crescimento.
O Limiar da Pobreza: o limiar da pobreza define uma situação de carência grave,
em que uma família é incapaz de adquirir alimentação, vestuário, habitação que sejam,
contextualmente, considerados o mínimo indispensável à sua sobrevivência - entende-se que
seja um conceito subjetivo. Contudo, de uma forma geral, foi definida em 1985 pelo Banco
Mundial a fronteira - 1 dólar por dia (linha da pobreza).
A Perpetuação da Riqueza: os fatores da pobreza transmitem-se e perpetuam-
se geração em geração - sobretudo na igualdade de oportunidades, intimamente relacionada
com a educação. De facto, a solução deste problema exige medidas custosas, que derivam de
outros problemas sociais, tais como: subrepresentação política dos pobres (determina
condicionamentos no acesso a meios e a possibilidades de integração), inexistência de
instituições imparciais que procurem a coesão social, existência de um mercado de favores
políticos (permite maior capacidade de resistência). Para além do problema das medidas, a
pobreza é como uma doença - espalhando-se pelo setor produtivo, em especial, no consumo,
que terá consequências para o lucro proveniente da produção. É assim um problema que
condiciona todos os grupos sociais.
A questão das heranças: a herança garante a continuidade inter-
geracional da desigualdade económica e a constante acumulação. É certo que, atualmente,
representam uma parte insignificante da riqueza com que cada indivíduo pode contar. Em todo
o caso, contribui para aumentar a auto-perpetuação da riqueza ou da pobreza e as
disfuncionalidades das classes.
Sinais de Progresso: na generalidade, verifica-se uma diminuição da
pobreza nas áreas rurais, devido à produtividade do trabalho e dos fatores naturais.

Atitudes perante a pobreza - justiça, utilidade e liberdade: o combate à pobreza e à


desigualdade depende, não só, do contexto social, como também do contexto ideológico, em
concreto político.
A Escolha Política: cada sociedade deverá encontrar um ponto intermédio entre
a coesão e o dinamismo económico, promovendo uma situação em que a justiça e a eficiência
não sejam sacrificadas totalmente. Neste sentido, ao Estado, caberá a determinação do ponto
intermédio entre o método que reverte a riqueza adicional a favor daqueles cujos esforços é
menor (o que gera desincentivos ao enriquecimento) e o método que abra mão dos valores da
coesão e da solidariedade (que põe em causa a própria subsistência da sociedade, conduzindo
à total desagregação). Como a pobreza é um problema geral, já que exclui parte da população
do consumo, gera mais pobreza. Afiguram-se, assim, necessários mecanismos de redistribuição,
que acabam por funcionar como um seguro social (resultado da aversão ao risco) para um caso
de empobrecimento (quanto maior for a coesão social, menor será a queda dos rendimentos).
A Justiça dos Resultados: parte da solução dos resultados, e subdivide-se numa
solução utilitarista e na solução rawlsiana (John Rawls).
Solução utilitarista: pretende criar incentivos sem gerar
constrangimentos à atividade económica, preservando-se a iniciativa individual, sujeitando-a,
apenas, a ratificações mínimas, dentro do âmbito da razoabilidade - transferindo a riqueza e
evitando um grande deadweight loss. Parte-se, assim, do pressuposto da utilidade marginal
decrescente, sendo que tirar ao que tem mais é uma perda menor que dar ao que tem menos,
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cujo ganho é menor que a perda (logo, é compensador). Aumenta-se a utilidade total, logo
justifica-se a tributação com taxas progressivas.
Solução rawlsiana: consiste em concentrar os esforços de coesão
apenas nas perdas máximas, derivadas do facto de uma pessoa se encontrar no grupo mais
pobre. Assim, são medidas que procuram erradicar a pobreza extrema. Os esforços
concentram-se num grupo restrito, pressupondo-se que não sejam em demasia.
A Justiça dos meios: consiste numa perspetiva do Estado Mínimo, proposta por
Robert Nodzick - centra-se, assim, na igualdade de oportunidades, sem se interferir com os
resultados. Em teoria, o que cabe a cada um resulta da produção e das trocas, pelo que a
remuneração será a valorização da sociedade e a utilidade social daquele que é remunerado - a
justiça estará assegurada se o processo de distribuição for efetivamente justo, ainda que os
resultados sejam desiguais. A ideia principal será a de que cada um traça o seu destino
económico.

Combate à pobreza: o problema incide sobre que políticas adotar no combate à


pobreza. O objetivo será o de fornecer uma rede de segurança a todos os cidadãos, impedindo
que caiam para lá dos extremos de pobreza, acabando por prejudicar toda a sociedade.
Formas de redistribuição: a redistribuição, por forma a assegurar a justiça, pode
ser feita através da tributação do rendimento, de medidas de combate à pobreza, como
subsídios e a segurança social e a prestação de serviços subsidiados ou em espécie aos pobres.
Outras soluções: afiguram-se algumas soluções diversas, para além da
redistribuição, entre elas o estabelecimento de um salário mínimo e um imposto negativo
(consiste num crédito de imposto deduzido do imposto, que se converteria num subsídio para
os mais pobres - este permite, ainda, uma transição suave entre uma situação de benefício
tributário e uma situação de oneração). Este imposto tem, contudo, problemas - não recebido
de acordo com a necessidade, mas sim de acordo com o rendimento, incentivando a situações
de fraude (declarações de rendimentos incompletas).
A Armadilha da Pobreza: consiste no efeito combinado do início da tributação
e de fim de subsídio sobre aquele que pretende ultrapassar o limiar da pobreza. A oneração
marginal dos rendimentos é, nesta situação, superior a 100%, deixando aquele que tenta
transitar ainda mais pobre (é uma situação que tende a perpetuar-se). A solução seria aplicar
um método semelhante ao imposto negativo, que permita uma transição suave. O problema
desta suavização do tributo do mais pobre é o aumento do peso da oneração dos restantes
contribuintes líquidos.
A Opção das Transferências em Espécie: são a forma mais eficiente e mais
direta de combate à pobreza. São exemplos a entrega da habitação social, prestação de apoio
social e fornecimento de serviços gratuitos. Há, contudo, vários problemas:
1. na demarcação dos necessitados, na medida em que possa haver
aproveitamento por parte de alguns, que não são necessitados, o que leva à necessidade de
deterioração da qualidade dos serviços, afastando os ricos através da elasticidade-rendimento,
apostando no maior custo de oportunidade.
2. na perda de motivação do trabalhador;
3. irresponsabilização;
4. descriminação do acesso a serviços sociais;
5. transformação das habitações em guetos;
6. maior problema: põe em causa a liberdade dos mais pobres, já que
há uma escolha em nome de (...), o que coloca o paternalismo em cima da liberdade do
mercado.
A Questão da Segurança Social: a segurança social consiste numa forma de
transferência de rendimentos, onde os beneficiários são descriminados em função das suas
contribuições e contribuem para segurar os restantes. Suscita problemas, especialmente, em
sociedades que padecem de envelhecimento populacional.
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Sistema dominante: consiste no sistema pay-as-you-go, com baixa


capitalização e encaminhamento dos descontos diretamente para os beneficiários. Contudo,
este sistema tem vindo a ser substituído por sistemas de elevada capitalização e pré-
financiamento, que alimenta a esperança de uma oneração da população futura diminuída. O
problema deste sistema é o facto de colocar a poupança em risco elevado.
Reforma e contabilidade geracional: as opções de reforma são
condicionadas por vários fatores - incerteza de salários, relação entre taxas de juro e taxas de
desconto, variação da idade da reforma, opções por sistemas de financiamento, ponderação de
riscos e subsistência do sistema. O sistema pay-as-you-go diminui o risco e implica um equilíbrio
entre custos e receitas - causa problemas na medida em que o aumento dos custos é mais rápido
que o aumento das receitas e, ainda, porque permite idades mais baixas na reforma e fuga a
descontos obrigatórios, que deterioram o sistema.
Segurança social - um sistema público: é um sistema público devido a
paternalismo, prevenção do efeito boleia (garantindo a contribuição de todos), taxas de
desconto elevadas ou baixas (que poderiam condicionar à pobreza na velhice).
Contabilidade geracional: aparecida no século XX, procura medir o peso
da tributação e das taxas líquidas de imposto para cada geração, por forma a garantir medidas
que promovam a igualdade entre gerações. A comparação tem levado a entender que as
gerações presentem são beneficiadas em relação às gerações futuras.
Método: toma-se alguém como membro representativo e
calcula-se o valor presente das contribuições que suporta e o valor de todas as transferências
de que beneficia (a diferença será o imposto líquido). Permite, assim, aferir o custo que cada
pessoa causa ao Estado e quanto desse custo é deixado para pagamento pelas gerações futuras.
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Capítulo 14 - Redistribuição e Tributação


Redistribuição e tributação: uma das formas de redistribuição é a tributação, ou seja,
através dos impostos. Os impostos são então a cobertura financeira para as despesas das
entidades públicas, pelo que são feitos em função do financiamento de intervenção
indispensável, das perdas de eficiência da tributação, da intervenção, para a prossecução de
interesses do Estado, para ratificar externalidades e para resolver situações de património
insuficiente do Estado para cobrir as despesas públicas.
Resultado das Receitas Públicas: permitem gerar intervenção do Estado, que é
indispensável e sem a qual muitas falhas de mercado poderiam vir a surgir comprometendo a
satisfação coletiva. Assim, ao evitar falhas de mercado, nomeadamente externalidades
negativas, gera outros problemas: retrai a atividade económica e causa perdas de bem-estar,
relativas ou absolutas (estas, na medida em que os custos podem vir a ser superiores à receita
marginal da tributação). Pode ainda resultar em excesso de tributação ou défice de tributação.
Problemas da tributação: o problema da justiça fiscal (partilha de sacrifícios e
justificação da própria tributação) e o problema da carga tributária. A tributação de bens
essenciais é a mais vantajosa, na medida em que estes são bens de procura inelástica, pelo que
a receita tributária não sofre grandes alterações, contudo prejudica os que deles mais
necessitam.
Situação atual: há uma tributação da riqueza nova gerada durante um período,
pelo que se dá a transferência de meios financeiros para uma entidade pública. A bom rigor, e
idealmente, essa entidade deveria retornar essa tributação de forma equivalente. De forma
inovadora, introduziu-se ainda uma oneração sobre a despesa, através do valor acrescentado,
dos atos de consumo e do património - e, ainda que indiretamente, através da segurança social.
Problema global: provoca uma duplicação na tributação da poupança,
através da tributação do rendimento e da poupança gerada pelo primeiro, o património. Forma-
se, assim, um grande desincentivo à poupança.

Tributação do rendimento: centra-se em núcleos que geram riqueza (famílias, para o


rendimento individual, e empresas, para o rendimento de formas coletivas de organização).
Nesta situação, ocorre um fenómeno de repercussão: todos os impostos acabam por ser
assegurados pelas pessoas individuais. Cabe ainda referir que os impostos se fazem acompanhar
de isenções, deduções, abatimentos e benefícios, que retiram despesas do rendimento bruto -
aplica-se em situações indispensáveis, em transferências em espécie e naquelas cujo mérito seja
inequívoco, abandonando-se a neutralidade tributária.

Os Custos de Eficiência: os custos de eficiência repercutem-se em vários aspetos da


tributação, inclusive influenciam o seu cumprimento, na medida em que a complexidade do
sistema aumenta a possibilidade de fuga à contribuição.
Custos de Eficiência - Medição: os custos de eficiência medem-se com base no
custo do imposto (impacto no bem-estar), custo de acatamento e de fiscalização, custo de
burocracia (relacionados com a descriminação e a corrupção) e do aproveitamento por parte
dos indivíduos mais ricos da complexidade da lei fiscal.
Perda de bem-estar: condiciona o incentivo ao enriquecimento e pode
causar um excess burdem, um imposto superior ao rendimento gerado na troca, já que há uma
perda absoluta. Esta perda de bem-estar corresponde ao custo de acatamento de deveres
formais e informais que acompanham a obrigação do imposto (serão maiores quanto maior for
a complexidade do regime legal).
Problemas da Tributação: A complexidade permite que os
contribuintes mais ricos encontrem lacunas, abrindo espaço para a diminuição da oneração
tributária, em detrimento dos mais pobres. O inverso desta situação é a futura maior oneração
sobre os contribuintes, levando a externalidades, devido à parte que se auto-isenta da
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oneração. Pode ainda ocorrer que, devido à administração tributária, se dê um excesso de


tributação (um problema inerente à teoria da agência).
O Problema da Corrupção: a corrupção implica a existência de barreiras de
entrada no mercado de favores políticos, surgindo pela interferência no mecanismo dos preços
e pelas insuficiências e carências. Gera, assim, uma nova reafectação de recursos, em função da
disposição de pagar repartida entre o valor dos bens e dos serviços e o valor dos fatores. Em
consequências, os ganhos da corrupção dependem das pessoas envolvidas.
Possível solução: desmantelamento de estruturas monopolísticas, que
permitam administrar favores, por forma a obter-se a identificação do corrupto e a geração de
uma reputação de corrução.

A Justiça Social: a solução da progressividade afigura-se como a mais querida, anda que
gere as maiores ilegalidades e isenções. A sua apologia social deve-se, maioritariamente, à ideia
de que há sempre quem pague mais.
Capitação, proporcionalidade, progressividade e regressividade: há várias
formas de tributação.
1. Capitação: todos pagam a mesma quantia (por cabeça - soma única).
É a mais eficiente, porque a taxa marginal é maior, não provoca perdas absolutas de bem-estar
e não tem custos administrativos. O problema é não ter em conta características individuais, o
que a torna a mais injusta.
2. Proporcionalidade: consiste numa taxa uniforme e proporcional a
cada rendimento. A taxa média e a taxa marginal coincidem, logo não há desincentivos à
mudança de condutas e a novas escolhas económicas.
3. Proporcionalidade limitada: isenção dos rendimentos mais baixos,
sendo a proporcionalidade limitada às classes inferior, às quais se aplica um imposto negativo.
4. Progressividade das taxas: taxas que se agravam com o aumento do
rendimento, admitindo-se um limite superior. Será regressiva se for no sentido inverso.
Apresenta uma clivagem entre a taxa média (sacrifício do contribuinte) e a taxa marginal
(incentivos), implicando a certo ponto uma taxa média que conduzirá a um completo
desincentivo ao enriquecimento. É a menos eficiente, contudo a mais justa.

Capacidade e Benefício: há dois princípios que podem orientar a tributação, o da


capacidade contributiva e do benefício.
Princípio da capacidade contributiva: a oneração deve ser distribuída conforme
de cada um para suportar o sacrifício dessa oneração. Desde logo há dificuldades na avaliação
dos sacrifícios, recorrendo-se assim a princípios objetivos: o da igualdade horizontal (dois
contribuintes com capacidade similar devem pagar o mesmo montante) e o da igualdade
vertical (um contribuinte que demonstre maior capacidade deve pagar mais de imposto).
Princípio do benefício (ou da equivalência): a oneração é feita de acordo com
o uso que cada um faz dos bens público - desde logo, levantam-se problemas devido à natureza
dos bens públicos. Uma outra visão propõe que os mais ricos são os que têm mais a perder com
o colapso das instituições (exemplo: o direito que lhes protege o património), pelo que deviam
ser os que mais contribuem para a sua preservação. O imposto é visto como uma proteção.

Redistribuição e Taxa Plana: afigura-se como a solução, na medida em que combina a


simplicidade do imposto e dos regimes legais, a diminuição dos custos de acatamento e a
transparência do sistema fiscal. É o imposto de taxa uniforme ou plana. Aplica-se, a diferentes
montantes, a mesma taxa (a taxa marginal não é variável), admitindo-se uma progressividade
para escalões inferiores.
Vantagens: dispensa custos administrativos e de acatamento (através da
redução da complexidade), aplica formas impercetíveis e expeditas de cobrança, em que a taxa
marginal não se altera, pelo que poderia haver cobrança pela entidade que emite o rendimento,
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aliviando os deveres dos contribuintes e da administração, e alargamento dos contribuintes,


devido à redução dos meios de se fugir ao imposto. Acresce, ainda, que se eliminam
desincentivos ao enriquecimento e torna-se as taxas mais neutras, pelo que o imposto seria um
franco entrave ao esforço e permitia um aumento da riqueza compensada pelas perdas do
pagamento do imposto. Acima de tudo, responderia às vantagens de justiça e de eficiência.
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Capítulo 15 - O Problema Ambiental


O Problema Ambiental e as Externalidades: o mercado gera externalidades, que
consistem em efeitos secundários sobre interesses de terceiros, sejam positivos ou negativos. A
questão das externalidades prende, desde logo, nos custos gerados - são difíceis de calcular.
Produtor Poluidor e as Externalidades: uma das externalidades mais
preocupantes, geradas pelo mercado, em especial pela produção, é a poluição. O produtor
centra-se, com perfeita racionalidade, na maximização dos seus ganhos e na minimização dos
seus custos, sem atender a efeitos poluidores. Não se espera, ainda, que incorra em custos mais
elevados por forma a implementar políticas não poluidores - fá-lo-á, somente, se tal for
relevante no que toca à procura dos seus produtos.
Causa Ambiental: conduziu à formação de meta-preferências, que aumentam a
disposição de pagar - são preferências de segunda ordem. De entre estas, avulta a vontade de
pertencer a uma boa causa - warmglow effect -, que se traduz na preferência, ainda que, na
maioria das vezes, apenas aparente, por produtos sustentáveis.
Papel da Economia: a partir dos anos 70, passou a caber à ciência económica a
procura por soluções eficientes, que permitam o concílio entre a atividade produtiva e os valores
ambientais. O grande objetivo é introduzir a sustentabilidade no setor produtivo, por forma a
garantir, às gerações futuras, qualidade de vida e oportunidades de consumo e de produção.

O Problema das Externalidades: as externalidades são causadoras de falhas de mercado,


uma vez que não há mercado que lhes responde, que as solucione e as internaliza. No entanto,
cabe referir que as externalidades são sempre bilaterais, havendo sempre o lado do
externalizador e o lado dos externalizados (exemplo: poluidor e vítimas). A existência de
externalidade é absolutamente crucial: não pode haver externalização senão existirem vítimas.
Esta necessidade remete para a importância da proximidade entre ambas as partes. Como
relação estritamente bilateral, a externalidade dispõe de características para que se forme um
mercado de internalização das externalidades, através do cálculo marginal e daquele que é o
nível eficiente da externalização, em que os prejuízos são ainda inferiores às vantagens causadas
pela externalização.
Importância dos Custos: a redução da externalidade justifica-se sempre que o
custo da sua limitação for menor às vantagens obtidas da mesma externalidade. Assim, sempre
que o custo for superior, não compensará a limitação - o remédio prejudica mais do que resolve.
Externalidades Positivas: serão positivas se provocam um benefício. A
quantidade de equilíbrio no mercado é escassa perante os benefícios que poderia produzir, pelo
que o mercado produz menos do que o que otimizaria o bem-estar.
Externalidades Negativas: serão negativas se provocam um custo. Acontece
quando a quantidade de equilíbrio é excessiva em contrapartida com os custos socialmente
suportados, pelo que o mercado produz mais do que o que otimizaria o bem-estar.
O Mercado Ambiental: há várias propostas para a criação de um mercado
ambiental, que permita a internalização das externalidades (a solução mais frequente e bem-
sucedida é o sistema de quotas negociáveis). Contudo, há dificuldade em apurar as
preferências (ainda que, com base nas meta-preferências - muitas vezes, as preferências
declaradas diferem das preferências reveladas). Surge, assim, a avaliação contingente procura
determinar o valor dos bens fora do mercado através de estimativas da disposição de pagar - é
de caráter hipotético. Estas dificuldades complicam a avaliação custo-benefício, que consiste
na forma de avaliação global dos efeitos da preservação dos ecossistemas no bem estar
humano. A grande importância desta análise reside no facto da qualidade ambiental ser um
bem público, que amplia as externalidades negativas e apela ao efeito boleia - o que obriga a
imposição de medidas.
Necessidade de Intervenção do Estado: já que não uma
espontaneidade do mercado para resolver as externalidades, cria-se as condições necessárias
para a intervenção do Estado. Esta intervenção não se aplica em todas as situações - como se
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verá a propósito do Teorema de Coase, 1º Parte - e consiste, simplesmente, em atribuir as


ponderações de bens de mérito e males de mérito (o que põe em causa a liberdade e a
soberania do consumidor).
A Ineficiência Causada pelas Externalidades: a ineficiência varia consoante os
efeitos projetados, em terceiros, sejam positivos ou negativos.
Externalidades Negativas: o custo privado (para os produtores) é menor
que o custo social (para os outros que não são produtores e são obrigados a suportar parte dos
custos da produção). A diferença entre ambos corresponderá ao valor da externalidade. A
forma de internalizar será a de somar ao custo privado a externalidade negativa, fazendo com
que a curva da oferta se desloque no sentido da retração, o que faz com que a cada nível de
preços seja maior o custo, logo diminui-se a disposição de vender e a quantidade oferecida. O
novo ponto de equilíbrio realiza-se a preços superiores e quantidades inferiores - retração da
oferta, abrandamento da produção e subida de preço.
Formas de Internalização: refletir, nos custos privados, o
montante dos custos sociais que corresponde ao ótimo social, através de um imposto que
corresponda ao valor da externalidade.
Caso do Consumo: o valor social do consumo está aquém do
valor privado, pelo que se requer uma retração da curva da procura até que esta coincida com
a curva que representa o valor social. O novo ponto de equilíbrio encontrar-se-á com preços e
quantidades inferiores - o consumo foi desencorajado.
Externalidades Positivas: os custos sociais são inferiores ao custo
privado, pelo que internalizar significa deslocar a curva da oferta no sentido da expansão, até
que esta coincida com a curva dos custos sociais. O novo ponto de equilíbrio caracterizar-se-á
por preços mais baixos e quantidades superiores.
Formas de Internalização: pode ser executada através da
atribuição de um subsídio às atividades geradoras desta externalidade, através de atividades
de investigação ou atividades de ensino e formação.
Problema da internalização das externalidades positivas: a
grande problemática da internalização destes casos encontra-se no plano dos incentivos -
deixando de consumir, o que extermina o mercado.
Caso do Consumo: no caso do consumo, o valor privado que a
curva da procura reflete está aquém do valor social, pelo que é necessária uma expansão do
consumo até ao ponto de equilíbrio que a curva representativa do valor social intercete a curva
da oferta. O consumo deve ser encorajado.

A Perspetiva de Coase: o caráter bilateral das externalidades possibilita a sua resolução


através da negociação. Contudo, a negociação é dificultada por outros aspetos, como a
existência de vários interessados e o facto de não existir um mercado em funcionamento. Cabe
referir, adicionalmente, que muitas externalidades são resolvidas por práticas sociais reiteradas
outras por via contratual. De forma geral, qualquer que seja a solução, procurará uma
compatibilização de interesses, não se encarando um sacrifício total dos interesses em causa -
exceto as externalidades perigosas, que carecem de eliminação total. Na internalização
procurar-se-á fixar relações preço-quantidade que se aproximem do ótimo social,
Custos de Transação e solução extra-mercado. As fronteiras da empresa: o que
impede a formação espontânea de uma solução de mercado ou de negociação são os custos de
transação - a onerosidade envolvida no procedimento das trocas. Os custos de transação são
assim os custos em que se incorre na troca de utilidades e na afetação comutativa de recursos,
na procura de uma contraparte, na negociação, na supervisão, etc. (exemplos: busca de
oportunidades de troca e custos de negociação). A importância dos custos de transação reside
na relevância da atribuição inicial de recursos - com custos de transação elevados, a atribuição
inicial de recursos será fundamental.
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Proposta de Ronald Coase, 1937: a empresa, ao aumentar a sua


produção, tenderá a aumentar a sua dimensão, o que fará aumentar os custos de transação -
este agravamento pode, inclusive, impedir o aumento de dimensão, caso a empresa não arranje
forma de minimizar esses custos. Assim, ao determinarem a existência e dimensão da empresa,
estabelecem Fronteiras da Empresa - o que separa o que a empresa faz, do que adquire no
mercado. Estas fronteiras podem ser verticais (relações com fornecedores e clientes) ou
horizontais (relações da empresa com concorrentes). Como observa Oliver Williamson, haveria
uma tendência para a integração vertical das empresas, por forma a aumentar a eficiência e
reduzir os custos de transação.

O Teorema de Coase: foi sugerido em 1960 por Ronald Coase e transformado em


teorema por George Stigler, em 1966. Em termos gerais, teorema centra-se, não no resultado
mais justo, mas na máxima eficiência. Estatui, assim, que as afetações iniciais de recursos
seriam irrelevantes num contexto hipotético onde não existem custos de transação. Recorrer-
se-ia à negociação, recusando-se a intervenção do Estado (cada um estaria disposto a pagar
consoante o prejuízo ou benefício da externalidade ou seria recompensado). Contudo, no
mundo, onde existem custos de transação, são absolutamente relevantes as afetações iniciais
de recursos, não sendo assim solução a negociação, já que estes custos elevados
dificultam/impedem a formação espontânea de soluções eficientes (a atribuição inicial poderá
converter-se num privilégio, de que o titular não se pode libertar, ainda que cause
externalidades negativas ou deixe de causar externalidades positivas).
Solução: sempre que estes custos de transação sejam elevados e impossíveis de
baixar, colocando-se num nível inferior ao valor das externalidades, justifica-se a intervenção
do Estado. Como administração pública, garante condições peculiares e favoráveis. Nesta
situação, o que acontece é que as trocas voluntárias são substituídas por trocas involuntárias
promovidas pelo Estado e preferíveis à completa ausência de trocas.
1. Baseia-se numa legitimidade que dispensa a intervenção individual
para a resolução de problemas coletivos.
2. O modo de funcionamento hierarquizado permite evitar custos de
execução, levando ao acatamento das decisões.
3. Tem força para impor soluções, evitando as demoras associadas à
negociação.
IDEIA A RETER: há lugar, desde que se justifique, à intervenção do Estado;
esta regulação política e jurídica deve justificar-se com base em custos de transação
superiores aos custos de regulação.
A Teoria Pura das Trocas e o Teorema de Coase: caixa de Edgeworth, uma forma
de representação da interação entre dois agentes económicos.
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A Correção das Externalidades: verificada a ineficiência do mercado em situações de


elevados custos de transação, passa a competir ao Estado o aumento da eficiência do mercado
e a resolução das externalidades. A análise da solução a optar pelo Estado deve, ela mesma,
atentar à análise e à eficiência económica, ponderando custos e vantagens.
1. Expropriação: consiste na substituição, pelo Estado, dos promovem a
atividade externalizadora. Assim, apropria-se dos recursos e promove o nível de atividade
correspondente ao ótimo social.
2. Regulação (command-and-control): consiste em impor limites máximos e
mínimos de atividade, proibir ou exigir certas práticas, estabelecer diretrizes e submeter as
atividades a supervisão. Obriga, assim, os agentes económicos a seguirem objetivos de
otimização, justificando-se mormente em situações onde outros valores falam mais alto que a
liberdade e a eficiência (saúde, segura, sustentabilidade ambiental).
Princípio da precaução: não defendido pela regência, uma vez que -
intimamente ligada à regulação ambiental - fomenta, sempre que haja possibilidade, ainda que
não cientificamente comprovada, um aumento dos riscos com a atividade nova e propõe
medidas restritivas (caberia ao proponente dessa atividade provar a inexistência do risco, para
fins de remoção das medidas).
3. Sistema de incentivos: estabelecem-se incentivos ou desincentivos às
atividades, preservando a liberdade de iniciativa, encorajando-a ou desencorajando-a,
interferindo no plano dos custos e dos ganhos.
Impostos Ambientais ou Pigouvianos: propostos por Arthur Cecil Pigou,
consistem numa taxa ambiental, refletindo sobre a transação o valor equivalente ao custo
marginal da externalização para terceiros. De certa forma, é um preço por poluir, afigurando-se
como os custos totais das transações externalizadoras. Provocarão, assim, um agravamento dos
custos às empresas menos eficientes, pelo que, ceteris paribus, um incentivo à redução dos
níveis de produção e da consequente externalização. Não provocam perdas de bem-estar,
aproximando o ótimo social do mercado. Têm, assim, um duplo benefício: o benefício
ambiental, de aumentar a qualidade ambiente com a diminuição da poluição; o benefício
económico, já que o imposto é fonte de receita, geram receita diminuindo as hipóteses de se
recorrerem a impostos que diminuem o incentivo às atividades (alívio da carga fiscal e aumento
do bem-estar coletivo). Estes impostos incentivam a eficiência e exigem uma reduzida
monitorização, apenas uma pressão por parte do credor do imposto (deixam o poluidor apenas
na posição de diminuir a poluição por forma a pagar menos).
Sistema de Quotas Negociáveis (cap-and-trade): é exemplo o protocolo
de Quioto (1997). Sabe-se que os impostos pigouvianos são atribuições iniciais de direitos de
poluir e agravam-se na medida em que uma atividade alcança e ultrapassa a sua quota-parte no
nível ótimo de externalização negativa. Assim, admite-se uma maior flexibilidade, permitindo-
se reduções de poluição a custos mais baixos que o imposto pigouviano, tornando cada vez mais
vantajoso o investimento em inovação. Este sistema consiste, assim, na atribuição a cada
poluidor de uma quota máxima permitida, que permite a livre negociabilidade das quotas
atribuídas. Cria-se um mercado de direitos de externalizar, podendo leiloar-se ou atribuir
aleatoriamente (inicialmente). Ainda que subsistem críticas ao método, é certo que a
inutilização das quotas é rentável (já que permite reduzir a pressão no ambiente) e, ainda que
seja imoral vender direitos de poluir, a externalização diminui.

Bens Públicos e Recursos Comuns: a sua natureza torna-os insuscetíveis de análise


económica. Assim, sem preços, constituem uma falha de mercado, não permitindo que haja
sequer um mercado. As classificações dos demais bens não são fixas, resultando das
circunstancias do uso e do acesso ao bem.
Bens Públicos: não suscetíveis de exclusão do uso (ninguém consegue ficar afastado da
fruição direta e integral do bem) e a não rivalidade ou não exclusividade do uso (o acesso a cada
um ao bem não interfere com o acesso ou o uso de qualquer outro agente). É assim um caso de
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extrema externalidade positiva - de que todos beneficiam. O bem público puro seria aquele
cujo custo marginal de proporcionar o seu gozo a mais um utente seria 0 (difícil de alcançar).
Aspetos relevantes: poderão
não ter o mesmo valor para todos, a classificação
depende do mercado e da tecnologia (há bens públicos
impuros), pode ter cumulativamente características de
bem público e de recurso comum, há entidades que,
apesar de não serem bens, têm as características de bens
públicos, o setor público não produz apenas bens
públicos e o setor privada também pode produzir bens
públicos.
Recursos Comuns: não são
suscetíveis de exclusão, contudo manifestam
características do uso rival ou exclusivo.
Monopólios Naturais: há
suscetibilidade de exclusão do uso, contudo não há
rivalidade no consumo.
Bens privados: será o bem que é
suscetível de exclusão do uso como é objeto de uso
exclusivo (o uso próprio rivaliza com o uso dos outros).
Custo dos bens públicos e recursos comuns: William Vickrey reconheceu a
necessidade de estabelecimento de preços extra-mercado para a produção de bens públicos e
gestão de recursos comuns, como taxas moderadoras, por forma a garantir o uso não
congestionado. Assim, este valor seria de acordo com os custos marginais de manutenção e de
congestionamento dos recursos.
Problemas: perda de incentivo à sua produção, já que todos beneficiam do bem
independentemente do pagamento (não é possível excluir o acesso) e a falta de travão à
degradação desse recurso.
O Problema da Boleia: a falha da produção dos bens públicos deve-se
ao efeito boleia, já que as características do bem público fazem com que cada indivíduo espere
pela respetiva produção pelos demais, para que depois possa retirar benefício sem ter que
suportar os custos. Esta falta de coordenação pode mesmo impedir que o bem venha a ser
produzido. Assim, há uma tendência natural para obter benefícios à custa da disposição de pagar
dos outros (tese da contribuição zero) - é um problema que explica a subprodução de bens
públicos, devido ao parasitismo.
O Financiamento de Bens Públicos: cabe ao Estado providenciar a produção de
bens públicos, contudo subsiste o problema da assimetria informativa (dificuldade de
determinar as prioridades de produção). Cabe, assim, aos planificadores estaduais, através da
análise custo-benefício (comparação entre o custo da produção e os ganhos dessa produção) -
deriva a técnica do preço-sombra, que consiste na avaliação de custos e benefícios quando não
preços de mercado. Para solucionar a incerteza poder-se-ia recorrer a questionários, que
poderia levantar problemas de insinceridade. Assim, dentro das das limitações, um projeto
público dependerá uma situação de pareto potencial, em que há possibilidade de, em cas de
necessidade, os beneficiários do projeto indemnizarem os prejudicados com ele.
Esgotamento e Apropriação dos Recursos Comuns: nos recursos comuns existe
rivalidade no uso, surgindo problemas de gestão desses recursos que podem obter ao seu uso
por outros. O mais comum é o abuso, associado ao problema da tragédia dos baldios - os
recursos esgotam-se pela sua saturação. Este problema gera-se porque cada um ganha em
retirar um benefício privado apoiado em externalidades negativas, mas ninguém ganha em
suportar os custos de benefícios comuns geradores de externalidades positivas (como a
manutenção ou a redução da exploração), o que conduz a sobreexploração dos recursos. Pode
também ocorrer no caso dos recursos renováveis, se a sua exploração no curso prazo for mais
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intensa que a sua capacidade de renovação. Uma solução possível consiste na implementação
de um sistema de quotas ou da negociação entre as partes - a tragédia dos baldios é uma das
justificações para a preferência pela propriedade privada, que permite ganhos de eficiência
maiores.
Falha de mercado: afigurando-se como uma falha de mercado, surge a
necessidade de ação coordenadora por parte do Estado. Assim, a privatização desses recursos
tem-se afirmado como a solução, contudo surgem obstáculos, nomeadamente na falta de meios
para se impor a exclusão do acesso e do uso, necessitando-se de instruções extra-mercado.

Crescimento e qualidade ambiental: recorre-se à adaptação da curva de Kuznets, para


formular a curva de Kuznets ambiental, que correlaciona o desenvolvimento e a poluição - uma
curva em U invertido. Numa primeira fase do crescimento, a poluição tenderia a crescer mais
rapidamente que o nível de produção, até se chegar ao cume a partir do qual decresceria,
chegando mesmo, numa fase de desenvolvimento máximo, a níveis de poluição inferiores aos
da mais fase inicial. Sugere-se, assim, que o crescimento não se alcança sem sustentabilidade
económica e que a proteção ambiental não é alcançada sem crescimento - vem negar a ideia
de que a pura racionalidade económica não é compatível com os interesses de preservação
ambiental. Acresce ainda a ideia que se difunde acerca da tecnologia: está a permitir achatar a
curva, permitindo-se que os países mais pobres paguem uma fatura ambiental cada vez menos
pesada ou que se assista a uma diminuição da poluição generalizada, sem prejuízo do progresso
económico.
Problema - a armadilha do endividamento externo: impede que os países
endividados tomem medidas que, no curto prazo, não sirvam o pagamento da dívida, não se
permitindo a gestão ambiental mínima - atualmente, já se insiste numa conexão entre gestão
da dívida e responsabilidade ambiental.
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Capítulo 16 - A Intervenção do Estado e a Escolha Pública


Intervenção do Estado: há problemas na eficiência e na justiça, em especial, nas formas
de concorrência imperfeita. Assim, por várias vezes, é absolutamente necessária a intervenção
do Estado para a resolução dos problemas.
Monopólio Natural: o produtor monopolista, com o objetivo de maximizar o
lucro, restringe as quantidades produzidas, ficando-se por um ponto aquém da escala de
eficiência. Assim, o preço que pratica - que, como tem poder de mercado, não é dado - excede
o custo marginal. É, contudo, possível baixar os preços, aumentando a produção e o bem-estar
dos consumidores, cuja disposição de pagar passa a ser compatível.
Efeitos no bem-estar: a restrição de produção configura uma
transferência de bem-estar dos consumidores para o produtor, o que conduz a perdas absolutas
de bem-estar, pois que há uma parte das trocas (entre a escolha de eficiência e o nível de
produção optado) que ainda se pode realizar, sem necessariamente incorrer em prejuízos.
Outros Problemas: causa desincentivos na competitividade, já que a
empresa tem poder de mercado e consegue obter lucros extraordinários no longo prazo, sem
sentir pressão para reduzir os preços - não sofre ameaças do mercado. Assim, a concorrência
imperfeita desloca meios para fins improdutivos: o lucro extraordinário passa a ser utilizado
para compra de favores e benefícios fiscais, por exemplo, ao invés de investir no aumento de
bem-estar.
Captação de Renda: consiste no esforço de desvio, para proveito próprio, de
uma remuneração que não seria necessária para incentivar uma atividade eficiente (renda
económica - ultrapassa o valor mínimo que incentiva a realização de uma atividade). Esta
captação pode ocorrer através de atividades protegidas por barreiras anti-concorrenciais,
monopólio natural.
Teoria da Captação de Renda: resulta da análise económica da pressão
do lobbying e da corrupção no setor público - será tanto maior e mais intenso quanto maior for
a descentralização política, já que esta aumenta o risco moral e as deficiências de supervisão.
Problema: é fundamental, assim, combater o lobbying e a corrupção,
contudo este combate assume as características de um bem público, conduzindo ao efeito
boleia e a um incentivo coletivo à sua subprodução. A corrupção é assim o abuso do poder
público para proveito privado, ou o não acatamento intencional de normas em detrimento do
proveito comum - deve-se às deficiências estruturais que permitem uma exploração corruptora
e a preservação do mecanismo optimizador do mercado. A economia alerta para a principal
causa da corrupção, não sendo a liberdade, mas sim a regulação e os entraves a essa liberdade,
que incentivam a sua remoção.
Mercado de Captação de Renda: não está protegido por
barreiras de entrada, podendo nele ser for o nível e a pressão concorrencial, sendo despendidos
muitos esforços na captação. O equilíbrio económico que se cria no mercado, muitas vezes,
ultrapassa o equilíbrio renda zero, fazendo com que os agendes despendam mais do que o valor
de retorno esperado.

O Problema do Monopólio Natural: ocorre quando é possível a um produtor responder


a toda a procura, quando não foi ainda atingida a escala de eficiência (na lógica do monopólio),
dificultando a intervenção corretora do Estado.
Possíveis soluções: afigurar-se-ia como solução a atribuição de subsídios aos
produtores, cujo valor corresponderia ao diferencial de preço. O problema seria,
consequentemente, que o ganho dos consumidores em bem-estar seria uma perda em
impostos. Outras soluções, são, então:
1. Apropriação dos monopólios: levanta problemas na eficiência do
setor produtivo, sendo por vezes entregue a entidades autónomas e outras a privados, com
supervisão do setor público.
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2. Privatização dos monopólios através de leilões: parte-se do princípio


que o que separa o vencedor do leilão dos demais é a vantagem marginal na eficiência,
revelando-se na concorrência do mercado.
3. Regulação: impõe-se regras e objetivos ao monopolista, que este
deve obrigatoriamente acatar, obrigando-o a fixar um preço (o monopolista pode manipular a
sua curva de custos médios).
4. Desregulação: fomentar a concorrência, ainda que imperfeita, por
forma a manter a pressão e a contestação.
Aplicabilidade das soluções: a desregulação e a privatização são as tendências
dominantes.

A Regulação: consiste no procedimento das conciliações necessárias entre as categorias


de agentes económico e entre os interesses (entrada e saída dos mercados, preços, questão da
qualidade produtiva). Existe, assim, um mercado da regulação, podendo analisar-se um lado da
oferta e um lado da procura.
Procura: a procura depende do excedente de bem-estar obtido através da
mesma, se foram suficientemente numerosos e organizados. A regulação reduzirá as escolhas,
no entanto, poderá permitir um favorecimento da posição dos agentes já instalados.
Oferta: os políticos e burocratas oferecem regulação, maximizando os
benefícios percebidos pelo leitor mediano (captação eleitoral) e a captação orçamental (para as
estruturas burocráticas).
Mercado: o equilíbrio da regulação permitiria um aumento da eficiência
económica, já que a principal prioridade da regulação seria a eliminação de áreas de perda
absoluta de bem-estar, contrabalançando as falhas de mercado. Assim, será certo que a
regulação tem vantagens (redução de custos, benefícios para setor desregulados, aumentos de
produtividade e de sofisticação tecnológica), mas também tem desvantagens (grandes riscos,
podendo levar a privatizações ou desregulações incompletas, que criam vazios de poder,
surgimento de imperfeições concorrenciais e, ainda, evidencia os desperdícios que gera).

Preservação da Concorrência: há várias imposições que procuram um mínimo de


concorrência, mormente algumas iniciativas antitrust. Recorre-se a tais políticas sempre que os
incentivos à concorrência não sejam estimuladores da mesma nem dissuasores do uso e do
abuso de poder do mercado.

A Escolha Pública: há várias razões para o Estado intervir na economia - promoção da


eficiência comprometida pelas falhas de mercado, disparidade entre eficiência e bem-estar
social e a injustiça das preferências dos consumidores ou das regras distributivas.
Teoria da Escolha Pública: James Buchanan e Gordon Tullock propuseram a
teoria da escolha pública, uma desvalorização ideológica relativa à existência de uma vontade
geral funcionalizada à proeminência de um bem comum. Constata-se que não existe uma
solução espontânea que promova o bem-estar coletivo, já que o esforço de decisão incorre em
custos de interdependência que não se equilibram automaticamente como sucederia num
verdadeiro mercado. Entende-se, assim, que a assimetria informativa e a falta de perceção
levam a problemas na Escolha Pública - cabe à economia fornecer boas intuições à forma e à
legitimação que correspondem à agregação de preferências.

Votação e indecidibilidade: há várias teorias que demonstram os problemas da escolha


pública.
Teoria do Votante Mediano ou Princípio da Diferenciação Mínima: proposta
por Harold Hotelling, explica a bipolarização partidária aparente e a convergência dos partidos
para as posições centrais. Quanto mais os partidos se afastam, mais se arriscam a levar com
maiorias da oposição, mais desagradam o votante mediano. Assim, a restrição das preferências
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concentra os votos nos valores centrais e os dois partidos políticos maximizadores de votos
tomarão por alvo o mediano vencedor de Condorcet. É certo que, nesta medida, a teoria poderia
conduzir ao desincentivo na participação das eleições, dada a extrema impossibilidade de ser a
sua vontade a decidir os resultados.
Paradoxo do Voto: a legitimação através do voto impede a formação de
vontades coerentes e consistentes e, por vezes, a impossibilidade de se chegar a prevalências
agregadas.
Teoria da Impossibilidade: perante a dificuldade de associar estados de
satisfação a simples somatórios de produtos recebidos, a única redistribuição inequívoca desses
estados de satisfação, no sentido da maximização da satisfação coletiva, teria que ser unânime
(dada a irracionalidade e inconsistência procedimental presente na maior parte dos processos
de decisão coletiva).
Conclusões: a dificuldade de se encontrar unanimidade e até de a preservar
torna inevitável o recurso a regras maioritárias (paradoxo do voto, por exemplo). A necessidade
de decisões coletivas agrava-se, ainda, com a fundamental interdependência da vida em
sociedade e com a ocorrência de externalidades, que fazem com que terceiros sejam afetados
pelas decisões de outros agentes.

Grupos de Interesse: a segunda grande dificuldade da atuação do Estado é o facto de


esta nem sempre se orientar por uma ponderação objetiva e igualitária de interesses,
desviando-se para o favorecimento de particulares ou grupos de interesse - é o resultado da
captação de renda, através da compra de favores políticos, que prejudicam o interesse geral.
Mercado Político: os políticos e burocratas oferecem condições, com vista à
obtenção de determinadas vantagens. São, assim, permeáveis a condições impostas para fins
de captação orçamental e eleitoral - para garantir a eleição, sem ter em conta a eficiência. Assim,
os grupos de interesse, serão tanto mais eficientes quanto mais pequeno e coeso for o grupo,
já que assim será maior o benefício daqueles que tomam a iniciativa de pressionar o governo,
esbatendo-se o efeito boleia que se verificaria maior quanto maior fosse o grupo.
Oferta: políticos (empresários motivados pela maximização do seu lucro
- votos) e burocratas (tentando captar para os seus setores dotações orçamentais).
Procura: votantes que se manifestam através do voto, da pressão dos
lobbies, de contributos financeiros e de corrupção;
Problemas: a situação agrava-se com a própria ineficiência da atuação do
Estado, pelo peso da burocracia, pelo risco moral dos comissários na estrita prossecução do
interesse público (corrupção, inércia, descoordenação, etc.).

Limitações Procedimentais: já se constatou que a eficiência da intervenção do Estado


compensa a limitação, em algumas situações, da liberdade. Contudo, há ineficiências nessa
atuação, ditadas pela organização do Estado.
1. Rigidez e complexidade das estruturas;
2. Dificuldade dos agentes em realizar projetos que vão para lá dos circulos
eleitorais;
3. Soft budget Constraint - como a estrutura e os gastos dificilmente são
sentidos, há uma fraca possibilidade de insolvência dos Estados, sendo estes facilmente
reabilitados, pelo que há uma pressão menor para a atuação correta. Aumenta, assim, o risco
moral.
4. Problemas de assimetria informativa.
5. Lei de Adolf Wagner, que aponta para um aumento sistemático das despesas
públicas, que são diminuídas por efeitos externos (austeridade, por exemplo).
Conclusões: seria de questionar, dadas as insuficiências da intervenção do
Estado, se não seria preferível conviver com as falhas de mercado a arriscar o surgimento das
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falhas de intervenção, mais agudas. No fundo, elas são o preço mínimo a pagar pela correção
das falhas de mercado.
IDEIA FUNDAMENTAL: a intervenção do Estado pode implicar custos que excedem os
benefícios, dados os incentivos não estritamente económicos por que se pauta a ação
política, podendo as interferências resultar em falhas de intervenção.

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