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SITUAÇÕES JURÍDICAS*

Situação jurídica: situação concreta da vida humana à qual o Direito atribui relevância jurídica (e.g., direitos
subjetivos, poderes, faculdades, deveres jurídicos, obrigações, ónus, etc.).

SITUAÇÕES ATIVAS SITUAÇÕES PASSIVAS

O titular encontra-se em situação de vantagem (e.g., direitos O titular encontra-se em situação de desvantagem (e.g.,
subjetivos, poderes, faculdades, etc.). deveres jurídicos, ónus, obrigações, etc.)

SITUAÇÕES ABSOLUTAS SITUAÇÕES RELATIVAS

Não dependem da existência de uma relação jurídica ou de Dependem da existência de uma relação jurídica entre dois ou
outra situação de sentido inverso, existindo por si próprias mais sujeitos (e.g., direitos de crédito, os quais pressupõem a
(e.g., direitos reais, direitos de personalidade, ónus, etc.) existência de um vínculo obrigacional entre devedor e credor)

SITUAÇÕES COMPLEXAS SITUAÇÕES SIMPLES

Situações que abrangem outras situações (mais simples), Situações com um único elemento ou traço caracterizador, não
nas quais se podem decompor (e.g., o direito de propriedade se podendo decompor noutras situações (e.g., a obrigação de
pode decompor-se no direito de uso, fruição ou disposição) pagamento do preço ou de entrega da coisa na compra e venda)

CASOS ESPECÍFICOS:

− DIREITO SUBJETIVO: permissão normativa de aproveitamento de um bem jurídico em específico (Menezes Cordeiro);
a doutrina tem igualmente definido o direito subjetivo ora como um poder da vontade (Savigny / Windscheid), ora como
um interesse juridicamente protegido (Jhering) ou segundo uma tese normativista (Kelsen).

− DIREITO POTESTATIVO: direito exercido unilateralmente pelo titular (i.e., por sua vontade exclusiva), produzindo efeitos
jurídicos na esfera de outrem, independentemente da sua vontade, o que significa que a parte contrária se encontra numa
situação jurídica de sujeição.

➢ Podem ser constitutivos (constituem ou criam novas situações / relações jurídicas), modificativos (modificam
situações / relações jurídicas existentes) ou extintivos (extinguem situações / relações jurídicas existentes).

− EXCEÇÕES: também designadas como contra-direitos, servem de oposição ao exercício de um direito ou de uma posição
jurídica ativa pela contrária, permitindo o não cumprimento ou o adiamento da realização de um dever pelo respetivo
titular (e.g., exceção de não cumprimento – artigo 428.º, n.º 1, do CC).

− EXPECTATIVAS JURÍDICAS: situação jurídica que, não constituindo ainda um verdadeiro direito subjetivo (que se
encontra ainda em período de formação e/ou consolidação), atribui proteção jurídica ao respetivo titular (e.g., o adquirente
de um direito sob condição suspensiva – artigo 272.º do CC).

➢ Distinguem-se das meras expectativas de facto, que consistem em meras esperanças de aquisição de um
direito ou vantagem pelo respetivo titular, mas em que o Direito não oferece qualquer proteção jurídica na sua
pendência (e.g., progressão na carreira, pensão de reforma, etc.)

*O presente documento não serve de substituto da bibliografia recomendada para Introdução ao Estudo do Direito. Importa
assinalar que este resumo é, propositadamente, simplificado, não versando a matéria na sua completude.
− PODERES FUNCIONAIS: também designados poderes-deveres, correspondem a situações complexas de exercício
vinculado, abrangendo não apenas poderes e prerrogativas, mas igualmente deveres (e.g., poder paternal exercido pelos
pais do menor; poder disciplinar e de instrução exercido pela entidade empregadora).

− DEVERES JURÍDICOS: situação passiva, que vincula o seu titular a adotar certa conduta, sob pena de a sua violação
poder suscitar a aplicação de uma sanção ou de um desvalor jurídico.

➢ Distinguem-se entre deveres genéricos (pressupõem o respeito por direitos absolutos da parte contrária) ou
deveres específicos / obrigações (que vinculam o seu titular à realização de uma prestação em benefício da
parte contrária, pressupondo, desse modo, a existência de uma relação jurídica).

− ÓNUS: situações que não correspondem a um dever jurídico na medida em que o seu acatamento não pode ser exigido
por outrem e a sua inobservância não suscita a aplicação de uma sanção jurídica ou de um desvalor jurídico, mas apenas
a perda de uma vantagem ou benefício ao respetivo titular (e.g., ónus da prova – artigos 342.º e ss. do CC).

Resolução do Caso Prático n.º 1:

Identifique e classifique as situações jurídicas que decorrem dos seguintes preceitos:

a) Artigo 1305.º do Código Civil. Na perspetiva do proprietário, é contemplado um direito subjetivo e absoluto, que
se pode caracterizar igualmente por ser uma situação jurídica ativa, absoluta e complexa (abrange múltiplas outras
situações jurídicas ativas, como o direito de uso, fruição e disposição da coisa). Quanto aos demais sujeitos que
contactem com o proprietário, os mesmos encontram-se adstritos a um dever geral de respeito.

b) Artigo 1409.º, n.º 1, do Código Civil. Na perspetiva do comproprietário, o direito de preferência assume-se como um
direito potestativo constitutivo (cria uma obrigação de dar preferência na venda ou dação em cumprimento da
quota), colocando o consorte e demais interessados numa posição de sujeição, na medida em que estes ficam
subordinados à primazia que deve ser dada ao preferente em caso de venda da quota. O direito de preferência
constitui, deste modo, uma situação jurídica ativa, relativa e simples.

c) Artigo 916.º, n.º 1, do Código Civil. Na perspetiva do comprador, a denúncia dos defeitos corresponde a um ónus,
visto que o seu acatamento não pode ser exigido por outrem e a sua inobservância apenas tem como consequência
a perda de uma vantagem (in casu, a possibilidade de exercer qualquer um dos direitos do comprador em caso de
compra e venda de bem defeituoso – substituição ou reparação da coisa, diminuição ou restituição do preço, etc.).
Trata-se de uma situação jurídica passiva, absoluta e simples.

d) Artigo 847.º, n.º 1, do Código Civil. A compensação de créditos consubstancia uma exceção, na medida em que
visa modificar ou extinguir a obrigação a que o seu titular se encontra perante o direito de crédito da parte contrária,
funcionando, assim, como um contra-direito (in casu, um direito de crédito recíproco). Constitui uma situação jurídica
ativa, relativa e simples.

e) Artigo 2156.º do Código Civil. Na perspetiva dos herdeiros legitimários, estamos perante uma expectativa jurídica,
pois, não beneficiando os mesmos do direito à partilha da herança enquanto o autor da sucessão ainda se encontra
vivo, é-lhes assegurada alguma proteção pela ordem jurídica, proibindo o autor do testamento de dispor de bens
que ultrapassem a quota indisponível (que se encontra exclusivamente reservada aos herdeiros legitimários). Esta
é uma situação jurídica ativa, absoluta e simples.

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