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Curso de Teoria da

Regulação
Mauricio Benegas

Regulação e Concorrência 1
Ementa: Teoria de Regulação
 Ambiente regulatório e instituições;
 As teorias de regulação;
 Regulação de monopólios naturais;
 Outras soluções para o problema do monopólio
natural:
 Leilões de Concessão e Empresa Pública;
 A nova teoria de regulação: informação assimétrica;
 Regulação de serviços públicos com segmento
competitivo: o caso de telecomunicações;
 Regulação em países em desenvolvimento.
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Bibliografia
 Viscusi, W. K., J. M. Vernon & J. E. Harrigton Jr., Economics
of Regulation and Antritrust, 2ª ed. – Cambridge, Mass.: MIT
Press, 1995.

 Laffont, J.-J. & J. Tirole, A Theory of Incentives in


Regulation and Procurement. Cambridge: MIT Press, 1993,
Introdução.

 Laffont, J.-J. & J. Tirole, Competition in Telecommunications.


Cambridge: MIT Press, 2000, cap 2, 3.

 Laffont, J.-J., Regulation and Development, Cambridge


University Press, 2005, cap 1, 2.

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Aula 1
 Bibliografia:

 Viscusi et al., 1995, Cap 10;

 Laffont e Tirole, 1993, Introdução.

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Parte I: Regulação econômica
e seus instrumentos
 Definição:

Interferência direta do Estado em variáveis


decididas por agentes econômicos através
do uso de seu poder coercitivo.

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A interferência direta: os
instrumentos regulatórios
1. Regras de conduta:

 Controle de preços;
 Controle da quantidade;
 Controle de qualidade;
 Restrições sob tecnologias de produção;

2. Restrições sobre a estrutura do mercado:

 Controle da entrada ou saída do mercado.

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1. Regras de conduta
 Controle de preços:

 Determinação do preço ou de intervalo de variação;

 Limite superior: caso típico em monopólio regulado;


 Limite inferior: caso típico quando empresa regulada sofre
concorrência (ameaça de preços predatórios);

 Preço pode variar no tempo (preço da energia em horário


de pico) ou em função de condições do mercado (quando
chove pouco, a energia encarece)
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 Objetivo do controle de preços:

Limitar o lucro da indústria (taxa de retorno do capital deve ser


equivalente à tx de retorno de mercado).

 No entanto, o lucro é determinado por uma série de fatores fora do


controle do regulador:
 Inovações tecnológicas;
 Períodos inflacionários;
 Recessão internacional (aumento do custo do capital).

Defasagens nos reajustes de preços podem levar a lucros muito altos


ou muito baixos.

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 Controle de quantidade:

 Pode ser combinado com o preço;


 Preços podem ser determinados pelo mercado (nacional
ou internacional):
Controle de quantidade pode acarretar mudanças nos preços
relativos;
 Regra regulatória:
Ao preço regulado, toda demanda deve ser atendida.

 Regulação de preço apenas pode levar a excesso de


demanda e logo racionamento.
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 Controle de qualidade:

 Padrões mínimos de qualidade;

 Exemplos:
 Padrões de segurança e saúde no trabalho;

 No caso da oferta de energia:


Governo exige a construção de geradoras de energia em excesso,
criando uma capacidade de reserva (plantas redundantes).

Objetivo: Aumentar a regularidade da oferta (evitar blackouts).

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 Restrições sob tecnologias de produção:

 Pode ser uma alternativa ao controle de qualidade;

 Exemplo: proibição do uso de tecnologias sujas;

 Escolha da tecnologia também pode ser controlada:

 Exemplo: obrigar uma empresa a comprar tecnologia


nacional somente.

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2. Restrições sob a estrutura
do mercado
 Controle da entrada ou saída do mercado:
 Controle sob número de empresas ativas numa indústria;

 Veremos adiante que a eficiência alocativa e produtiva são


determinadas também pelo número de empresas;

 Exemplo: indústria de telecom:

 Controle do número de licenças para operadoras de telefonia


móvel (o espectro é um recurso escassso);

 Monopólio legal da prestação de serviços de telefonia fixa até


2003;

 Metas de universalização: obrigatoriedade de prestar serviços a


mercados não lucrativos...
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Importante: as hipóteses
 A regulação é corretiva de falhas de mercado (veremos em
detalhe ao longo do curso);

 O governo é benevolente e responde aos objetivos da


população;

 Hipótese inicial: o governo conhece a demanda, a tecnologia,


a estrutura de custos e observa as ações de todos os
agentes da economia;

 Regulação não é onerosa (ou custo suficientemente baixo).

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As hipóteses podem ser fortes
Controle Problemas
Preço ou quantidade Assume que governo conhece a estrutura
dos custos e da demanda.

Qualidade Mensuração e monitoramento pode ser de


alto custo → difícil implementação.
Controle da qualidade do ar em
ambientes fechados?
Tecnologias de produção Assume que o governo tem conhecimento
superior sobre as tecnologias disponíveis
na indústria.

A regulação dos contratos é feita sob uma série de restrições relevantes.


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Parte II: Por que Regular?
 3 explicações:

1. Análise Normativa como teoria positiva;

2. Teoria da Captura;

3. Teoria econômica de regulação: grupos de


interesse.

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1. Análise normativa como
teoria positiva
 Análise normativa:
 Investiga quando regulação deve ocorrer;
 Análise positiva:
 Investiga o que ocorre de fato na economia.

Explicação:

Regulação ocorre qdo deve ocorrer.

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Análise Normativa

Nem todos os mercados geram alocações pareto


ótimas.

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Exemplos de falhas de
mercado
 Presença de Externalidades:
 agentes não levam em conta efeito de suas decisões individuais no
bem estar dos demais, levando a consumo exagerado
(externalidade negativa) ou abaixo do ótimo (externalidade positiva).
 Exemplos:
 fumo em lugares públicos, bebida e direção;
 Produção de CO2.

 Assimetria de informação:
 Exemplo: mercado de carros usados.

 Não exclusividade do produto:


 Exemplo: iluminação pública.

 Monopólio Natural: foco do curso.

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Análise Normativa: o
Monopólio Natural
 Eficiência produtiva:
 Indústria caracterizada por uma tecnologia cujo
custo somente é minimizado com a atividade de
uma única empresa.

 Ineficiência alocativa:
 Uma vez monopolista, a empresa tem incentivo
em reduzir volume de produção e praticar preço
mais elevado que seu custo marginal.

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Análise Normativa como teoria
positiva
 Explicação: Regulação ocorre qdo deve
ocorrer, isto é:

 No caso de Monopólio Natural:


Como existe um monopólio natural, uma regulação
corretiva é elaborada para resolver o problema de
ineficiência alocativa.

 Caso geral:
Sempre que houver falha de mercado, regulação
corretiva estará presente.
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As Críticas
 Não explica como a sociedade consegue se organizar para
elaborar a regulação corretiva;
 Evidência de regulação em mercados onde não há falha
aparente:
 Exemplo: regulação de origem de capital em empresas
competitivas;

 Reformulação da teoria: falha dos Reguladores.

Falha de Mercado Sociedade Regulação

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2. Teoria da Captura
 Reguladores são capturados pelas indústrias:

Indústria Regulação

 Críticas: evidência que nem toda regulação é pró-


industria.
 Exemplos: regulação trabalhista, gratuidade de transporte
urbano para pessoas acima de 65.

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3. Teoria Econômica de
Regulação
 Stigler (1971): Regulação responde a grupos de
interesse que agem para maximizar suas rendas;
 Grupos usam poder coercitivo do Estado para
distribuir renda a seu favor.

Consumidores Produtores
Sindicalistas
Concorrentes
Potenciais

Eleitores
Políticos
.

Regulação
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Teoria Econômica de
Regulação (cont.)
 Stigler e Pelzman: Características dos
grupos de interesse mais mobilizados:
 Maior percepção de preferências;
 Menor custo de organização;
 Maior potencial de ganho per capita.

 Grupos com muitos membros sofrem com


problema de carona / free-rider: maior dificuldade
em implementar mudanças regulatórias.
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Teoria Econômica de
Regulação (cont.)
 Becker: foco no competição entre grupos de interesse:

 O que importa é o nivel de influência relativa entre os grupos, que


competem a la Nash pela influência na regulação da industria;

 Grupos onde o problema do carona é mais severo perdem


influência relativa;

 Equilibrio de influências final não é pareto ótimo:


 grupos poderiam atingir mesmo nivel de influência relativa com
menos recursos.

 Implicações:
 Grupos com maior potencial de ganho são os mais mobilizados;
 Em monopolio natural, grupos têm maior potencial de ganho que em
um mercado competitivo.
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Parte III: Ambiente Regulatório
e Instituições
 O regulador esta sujeito a 3 tipos de
restrições:

1. Restrições informacionais;

2. Restrições transacionais;

3. Restrições administrativas e políticas.

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1. Restrições informacionais

 Problema de controle do regulador sob as empresas reguladas;

 2 tipos:

Risco Moral

Seleção Adversa

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 Risco moral:
 dificuldade em controlar o comportamento/atividades da
empresa frente aos incentivos regulatórios.
(variavel endógena não observada pelo regulador)

 Seleção adversa:
 Dificuldade em discernir a tecnologia (custos) da empresa
regulada.
(variavel exógena não observada pelo regulador)
 Se o serviço deve ser provido independente do custo,
empresas de baixo custo vão pretender ter custos altos para
aumentar sua renda (renda informacional).

A nova teoria de incentivos sugere uma resposta ao problema do


regulador.
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2. Restrições transacionais
 Contratos são incompletos;

 Contratos são revogáveis (low commitment);

 Garantias aos contratos são custosas.

(Mais sobre restrições transacionais no fim do curso)

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3. Restrições administrativas e
políticas
 Alcance do regulador é limitado:
 ANEEL regula a industria de energia eletrica, mas não pode
interferir na industria de petroleo, apesar da complementariedade
dos produtos;

 Instrumentos do regulador são limitados:


 Reguladores podem ser impedidos fazer transferências que cubram
os custos fixos da empresa regulada.

 Regulação é sujeita a revisão periodica;

 Regulação envolve requisitos processuais:


 A transparência da administração publica exige a adoção de ritos
processuais muitas vezes lentos.

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Importante: Restrições
administrativas e políticas podem
ser endógenas.
Governância regulatória que:
 limite os instrumentos;
 limite o alcance;
 Imponha revisões periódicas;
 Ritos processuais.

… pode ser uma solução da sociedade (miríade de


grupos de interesse) para limitar o poder do
regulador, que pode, de outro modeo, seguir uma
agenda própria.
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