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Aula 5

 Bibliografia:

 Viscusi et al., 1995, Cap 13 e 14;

Regulação e Concorrência 1
Leilões (recapitulação)
 Problemas com o uso do leilão como substituto à
regulação:

a. Não é otimo de pareto (p = CMe)

b. Preço ao consumidor é apenas uma dimensão do objeto


leiloado: e a qualidade de serviços?

c. Oportunismo de parte da empresa e do regulador: custos


dinâmicos.

Regulação e Concorrência 2
Leilões (recapitulação)
 São distintos quanto a regras e objetos leiloados:

 Exemplo de regras de leilões:


1. Ganha o leilão quem oferece o menor preço;

2. Ganha quem paga o maior lance, mas fica livre para


estabelecer o preço;

3. Ganha quem maximiza o bem estar social.

Regulação e Concorrência 3
Regra 1: Ganha o leilão quem
oferece o menor preço
 Se objeto leiloado é simples, empresa mais
eficiente ganha o leilão;
 Se há número suficiente de empresas eficientes,
p = CMe.

 No entanto se objeto é heterogêneo, leilão deve


levar em conta demais atributos:
 Imposição de atributos ou
 lance de leilão deve ser de preço mais atributos.

Regulação e Concorrência 4
Aumento da complexidade do leilão.
Regra 2: Ganha quem paga o maior
lance, mas livre para definir preço

 Maximiza a arrecadação do governo, mas...


 Minimiza o bem estar dos consumidores,
que passam a pagar preço de monopólio.

Esta regra não resolve o problema de eficiência alocativa do leilão.

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Regra 3: Ganha quem maximiza o
bem estar social.
 Trata-se de uma solução para o leilão de um
objeto com muitos atributos;
 Ganha a empresa mais eficiente;

 Preço praticado maximiza o bem estar social


sujeito à restrição orçamentária da empresa
(lucro econômico igual a zero).

Regra ideal, mas com pré-requisitos informacionais elevados.


Regulação e Concorrência 6
Nesse caso, o leilão exige tanta informação qto a regulação padrão.
c. Custos de Transação e
Oportunismo
 Até agora, a análise foi estática;

 Mas condições econômicas mudam:


 Demanda;
 Tecnologia;
 Custos dos insumos.

 Contratos de concessão devem ser complementados para levar


em conta tais contingências;

 No entanto, há alto custo (de transação) para elaborar contratos


completos.

Regulação e Concorrência 7
Soluções para custos de
transação

 Contratos de curto prazo recorrentes;

 Contratos de longo prazo incompletos.

Regulação e Concorrência 8
 Contratos de curto prazo recorrentes:

 Concessão é colocada à venda periodicamente;


 Vantagens do contrato:
 Evita a especificação de todas as contingências;
 Mudanças no custo e na demanda podem ser tratadas
simplesmente recontratando;

 Crucial: paridade entre concorrentes no momento da


renovação:
 Incumbentes em posição vantajosa renovam contrato mais
facilmente: destrói benefícios da competição pelo monopólio.

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 Vantagem do incumbente:
 Conhecimento da tecnologia;
 Learning-by-doing;
 Informação sobre demanda do mercado;
 Familiaridade com o processo de leilão;
 Já afundou investimento, diferentemente do entrante, logo
pode fazer lances abaixo do custo médio total.

Uma solução: transferência do capital, mas implica que a


preço de venda é custo menos depreciação. Como saber
se preço não é inflado?
Mas, se uma entrante ganha a concessão, a negociação do
preço do capital se reduz a um problema de barganha.

Regulação e Concorrência 10
 Desvantagem do contrato:
 Tendência de se manter o status-quo: a agência
governamental tende a favorecer a incumbente.

 Contratos de longo prazo incompletos:

 Contratos de 15 a 30 anos na prática;


 Contratos Incompletos: nem todas as contingências estão
previstas de ante-mão, mas elas serão negociadas ex-post
e com entendimentos implícitos;

Regulação e Concorrência 11
 Vantagem do contrato: Incentivos a investimentos
de longo prazo: importante para monopólios
naturais, e em países em desenvolvimento
(investimento em K);

 Desvantagem do contrato: escrevê-lo...


 Com fórmula que relacione preços a mudanças nas
condições de mercado;
 Monitoramento da qualidade com sistema de penalidades:
volta do papel do regulador.

Regulação e Concorrência 12
Comportamento oportunista
ex-post
 Como incumbente, a empresa pode fazer uso de
suas vantagens para renegociar os termos do
contrato.

 Renegociação ocorre continuamente na medida em


que novas informações (sobre demanda e custos)
surgem.

 Na expectativa de uma renegociação, as empresas


podem achar racional fazer lances agressivos, ie,
oferecer um desconto muito alto.

Regulação e Concorrência 13
 Lances agressivos significam
frequentemente que a concessão não é
financeiramente viável.

 Pode ser uma estratégia racional para as


empresas se o governo é incapaz de se
comprometer a uma política de não
renegociação;

Regulação e Concorrência 14
 Estas empresas farão lances insustentáveis,
com a intenção de ganhar, e depois
renegociar o contrato de concessão:

 Se o governo renegocia, sociedade ou


consumidores pagam;
 Se não renegocia, a empresa sai do negocio,
transferindo ativos para o governo, a um custo.

 Empresa vencedora do leilão não é


necessariamente a mais eficiente.
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Experiência internacional:
Casos de renegociação
 Concessão do Aeroporto de Lima, 2001:
« Ganha a empresa que transfere o maior % de receita ao
governo »
Contrapartida: Investimento de 1 bilhão de dolares +
construção de uma segunda pista de pouso.

Ganhadora: 47% ao governo, com pedidos de reneg.


imediatamente após assinatura do contrato.

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 Privatização de ferrovias no México, 1996.

Lance ganhador: 1,5 bi dólares ;

(3X maior que o segundo maior lance)

Renegociação imediata e em segredo (pouca


transparência).

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Soluções para o
comportamento oportunista

 Não renovar contrato;


 Inclusão de cláusulas punitivas:
 No caso de contratos incompletos, puni-la na
renegociação;
 O regulador pode punir a incumbente em outras
concessões controladas por ela;
 Ameaçar com expropriação.

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 Mas o comportamento oportunista pode vir
no sentido contrário:

A agência governamental pode exercer seu


poder coercitivo.

(No Brasil, 75% dos casos de renegociação de


concessões parte do governo)
fonte: Worldbank

Regulação e Concorrência 19
Exemplo: se custos estão afundados,
incumbente é ativa enquanto:
p > CVMe,
Mas se p < CMe, então incumbente sofre
expropriação de seu investimento.

 Isso pode ser feito através de correção


monetária indevida, proibição de reajuste
frente a aumento de custos de insumos etc;
Regulação e Concorrência 20
 O comportamento oportunista do governo
não vem a um custo barato:

As empresas participantes de leilões de


concessão vão internalizá-lo em sua
estratégia: seus lances vão refletir tal risco.

Regulação e Concorrência 21
Análise de leilões de
concessão
 Idealmente, leilões são mecanismos menos onerosos:
 Apenas informações sobre a demanda são necessárias e não sobre
o custo.

 Introdução de novos elementos pode comprometer as vantagens


do mecanismo :
 Outras dimensões, rent-seeking;
 Interação dinâmica: custos de transação.

 Mecanismos de leilões mais complexos devem levar em conta


restrições informacionais e transacionais.

Regulação e Concorrência 22
Empresa Pública
Uma solução para monopólio natural

Regulação e Concorrência 23
Empresa pública
 Até então, soluções para o problema de monopólio natural
eram soluções indiretas:

Criação de restrições que tivessem efeito sobre a função objetivo


da empresa com vistas a implementar o ótimo social.

Regulação Leilão de concessão

Através do poder coercitivo Através de


das agências regulatorias. competição ex-ante.

Regulação e Concorrência 24
 A empresa pública é uma solução direta:
mudar a função objetivo do monopolista.

Maximização dos lucros é substituída pela


maximização do bem-estar social.

Regulação e Concorrência 25
 Intuição: empresas públicas respondem à
sociedade e não a seus acionistas privados.

 Modelo comum de gestão de monopólios na


Europa.

 Nos EUA, regulação de monopólios privados.

Regulação e Concorrência 26
Empresa Pública vs
Regulação de empresa privada
 Uma comparação entre regulação e empresa pública exige uma
teoria sobre como uma empresa pública se comporta:

 Como ela é pública, é improvável que maximize lucros.

 De fato, empresas públicas podem atender diferentes objetivos:

 Razões ideológicas ou políticas: no rent para a iniciativa privada;

 Falência de empresa privada: governo compra e restrutura a indústria;

 Aumento da receita do Estado: caso do petróleo ou jogos de azar.

 Ideal que maximize o bem estar, mas isso implica dizer que empresa
pública é solução para monopólio natural.

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 Diferença entre teoria normativa e positiva:

 Perspectiva normativa: a empresa pública é


desenhada para resolver o problema do
monopólio natural, ie, maximizar o bem estar
social;

 Perspectiva positiva: como a empresa pública de


fato se comporta.

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Modelo gerencial da empresa
 Característica comum em organizações é a separação entre
propriedade e controle gerencial:

Empresa privada moderna Empresa pública

Propriedade Acionistas População da


jurisdição política
relevante
Controle Gerente escolhido por Gerente escolhido
gerencial acionistas. pelo governo

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Modelo Básico da Empresa
 Modelo baseado na contratação de gerente para
administrar a empresa.

 Problema de controle do gerente:

 Se proprietários tem tanta informação quanto o


gerente, separação entre propriedade e controle não
tem importância;
 Caso distribuição de informação entre proprietários e
gerentes seja assimétrica, o monitoramento do
gerente é imperfeito.
Regulação e Concorrência 30
 Monitoramento imperfeito é problemático
quando gerentes e proprietários têm
objetivos distintos:

Desalinhamento de interesses é a hipótese


central do modelo gerencial da firma.

Regulação e Concorrência 31
 2 diferenças fundamentais entre empresa
pública e privada:
Mecanismos Def: Instrumentos para induzir o
de controle gerente a agir corretamente

Objetivos Def: Interesses dos proprietários

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Modelo gerencial da empresa
privada
 Proprietarios querem maximizar lucro;

 Gerentes são controlados por:


 Mecanismos explicitos e
 Mecanismos implicitos.

 Mecanismos explicitos: compensação financeira


sob performance da empresa.
 Bonus, ações da empresa;

Regulação e Concorrência 33
 Mecanismos implicitos:
 Reputação no mercado de trabalho;
 Ameaça de demissão, comprometendo renda presente e futura
(reputação), mas de dificil implementação devido a pulverização
da propriedade em centenas de acionistas;
 Ameaça de take-over por outra empresa, visando a
reestruturação da empresa.

 Tais restrições de mercado de capital e trabalho +


esquemas de incentivo induzem gerentes a
agirem aproximadamente como maximizadores de
lucro.
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Modelo gerencial da empresa
publica

As restrições sofridas por gerentes de empresas


publicas são as mesmas?

Regulação e Concorrência 35
 Problemas:

Objetivos e mecanismos de controle.

 Bem-estar, diferente do lucro, é dificil de mensurar;


 gerentes pode fazer uso de indicadores imperfeitos para seguir
agenda própria em detrimento dos objetivos da sociedade;

 Ameaça de take-over e demissão são inexistentes;


 Mais discreção às ações dos gerentes de empresas publicas.

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 Proxies para o bem estar que podem ser usadas
por eleitores e governadores:
 Preço; e
 Qualidade dos serviços.

 Problema de uso dessas variaveis: gerentes em


empresas públicas maximizam seu apoio politico:
 Preço pode ser subsidiado, não refletindo os custos;
 Provisão de níveis de qualidade em excesso,
independente dos custos.

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Modelo gerencial da empresa
publica:
O Modelo de Peltzman
 Hipótese: o gerente maximiza sua função de
apoio politico.
M(P, Π)
 Π é o lucro da empresa, Π < 0 implica que
empresa deve ser subsidiada, mas subsidio fere
contribuintes (eleitores);
 P é o preço final ao consumidor.

MΠ > 0, ie, maior o lucro, maior o apoio politico.


MP < 0, ie, maior o preço, menor o apoio politico.
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• Suponha que o retorno deve ser tal que
maximize lucros ou:
M1(P, Π) p deve ser tal que π´= 0.
• Redução pequena em p, ie, para p-ε,
Π M0(P, Π) implica dois efeitos:
• Efeito direto positivo sob os consumidores,
• Efeito indireto negativo sob os
contribuintes.

O efeito nos contribuintes: negligivel se


mudança for pequena o suficiente (π´= 0
na vizinhança de p).

|Efeito direto| > |Efeito indireto|


P1 P0 P

Logo, diminuir preço abaixo de p0 aumenta


M1(P, Π) > M0(P, Π) apoio politico.

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 2 outros resultados do modelo:

1. Se empresa pública também atende a consumidores não


contribuintes, preço será mais baixo para consumidores
contribuintes:
 Suponha que empresa sob jurisdição A atua também em B; Logo
os eleitores estão localizados em A;
 Preço maior em B pode reduzir impostos em A sem alterar preço
em A;
 Limites no aumento de preço:
 consumidores de B podem migrar para A;
 Consumidores de B podem formar empresa própria.

2. Empresa pública faz menos discriminação de preço que empresa


privada:
 Tratamento diferenciado pode afastar eleitores.

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 Outros objetivos que maximizar apoio político:

Maximizar benefícios não pecuniários e lazer.

 Nenhum mecanismo de controle (ou disciplinador) factível de


transferência da propriedade da empresa pública;

Gerentes de empresas publicas têm maior autonomia que gerentes


de empresas privadas para seguir agenda própria:
 aumento de salarios;
 minimizar esforço;
 super-investir em capacidade.

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Empresa pública
versus
Empresa privada regulada
 Empresa pública, em relação a empresa privada, é:
 Menos eficiente: super-investimento em qualidade;
 Preço inferior; lucros inferiores;
 Discrimina menos;

No caso da empresa privada regulada temos dois problemas


diferentes:

Maximização do bem estar


versus
Maximização do lucro sujeito a restrição regulatória.

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 Se a restrição orçamentária é muito fraca (não ativa), então a
análise acima segue.

 Caso contrario, regulação também gera preços e lucros baixos.

 Por outro lado, regulação baseada em taxa de retorno incentiva


capitalização excessiva, mas risco moral é limitado pelas
restrições do mercado de capital (take-over).

Comparação entre estruturas industriais


é questão empírica.

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 Evidência empírica confirma:
 Preços inferiores;
 Não discriminação de preços.

 Não discriminação de preços implica


ineficiência alocativa (VVH pag 466).

 Evidência empírica ambígua sobre


ineficiência produtiva.
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