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“Causa é aquilo que argumenta seu efeito pela força causal. Causalidade é aquele influxo
que a causa implica para a existência do causado. Em latim, é chamada de ratio producendi
confervandi et effectum, isto é, razão para a produção e preservação do efeito”.1
É o fato universal, ou a crença evidente de que as coisas estão sempre mudando que
estabelece a composição do Ser em potência e ato e, por consequência a noção de causalidade.
Potência: uma capacidade real em um sujeito real, como a água que tem a capacidade
de congelar e evaporar.
Ato: é a perfeição da potência, quando uma água é fria passa a esquentar ao receber o
calor do fogo, então adquiriu perfeição passando da potência para o ato. Quando estava fria,
estava em potência, quando esquentou, passou para o ato. Agora é quente em ato. Todo ser é
limitado naturalmente pela sua potência.
Toda mudança é um movimento. Tudo que se move é movido por outro, pois nenhum
Ser pode estar simultaneamente, no mesmo aspecto, em potência e ato, disso se conclui que
nada passa da potência para o ato, senão por outro ser em ato, que é a causa do seu
movimento (“porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos,” At 17.28).
a) Natureza: por causa da relação de dependência. Toda ação supõe o Ser. Em relação à
essência, a causa e o causado são simultâneos, ou seja, não há anterioridade da causa
em relação ao causado. Se dois objetos forem igualmente eternos, ainda assim pode
1
ALSTED; Johannes. Compendium logicae harmonicae.
haver um causado e o causador, pois é necessário apenas uma dependência de natureza.
Aqui, devemos considerar um duplo modo de ver: a causa em exercício atual e a causa
em potência, mas não em exercício. A primeira é simultânea ao efeito, mas a segunda
pode preceder o efeito.
b) Conhecimento: porque pela causa se conhece o efeito, mas se pelo efeito se conhece a
causa, dizemos que esse conhecimento é confuso, pois não é claro como quando se
conhece algo pela sua causa.
c) Dignidade: porque o causado sempre recebe o que a causa concede, isso torna a causa
mais nobre que o causado.
Somente aquilo que tem uma razão adequada em si mesmo para existir, não precisa de
causa, mas o que não tem uma razão adequada em si mesmo para existir, precisa de causa. Isso
pode ser visto por um duplo ângulo:
2.1 – Tudo que é finito é composto em potência e ato, portanto é necessariamente contingente.
Sendo contingente não pode existir por si mesmo, pois sua essência não coincide com sua
existência, logo, não sendo infinito, é dependente, portanto, não existe.
2.2 - A razão da existência do universo é a glória de Deus (“Os céus declaram a glória de Deus e
o firmamento anuncia a obra das suas mãos.” Sl 19.1), portanto, não há razão em si mesmo para
existir, mas em Deus, que é a causa do Universo.
3 - Nenhuma causa pode dar ao efeito algo que não tenha formalmente ou eminente e
virtualmente, ou seja, o efeito preexiste na causa.
O efeito preexiste na causa formalmente porque o não Ser não pode produzir Ser.
Eminentemente porque a causa possui, virtualmente, toda perfeição do efeito. Virtualmente
porque o efeito não existe em ato na causa, mas somente em potência.
Então, podemos dizer que o fogo aquece porque formalmente, isto é, essencialmente e
subjetivamente, é quente. O fogo aquece porque eminente ou virtualmente possui, de forma
mais perfeita, o calor.
4 – Para que haja um efeito são necessários a suficiência e o ato. Após a causa suficiente estar
presente em ato, o causado é presumido.
a) Este princípio é válido somente em causas essenciais, isto é, naquelas subordinadas por
natureza: por exemplo, o avô é a causa do pai, e o pai do filho, ou ainda, a causa do filho
é o neto do pai. No entanto, não é válido em causas acidentais ou subordinadas
acidentalmente. Deus não é a causa do pecado, embora seja a causa do homem, pois o
homem peca por causa de sua maldade, não somente porque é homem.
Importante ressaltar que não é possível que uma causa seja ativa e passiva
simultaneamente, mas que ativa enquanto age e é passiva somente enquanto sofre uma
reação, sucessivamente, não simultaneamente.
Aqui surge a grande questão: se a causa também causada pelo causado, então como Deus
não é causado pela sua criação? Resposta: diz o filósofo: “o primeiro motor move como o
objeto do amor atrai o amante”. Assim como aquele que é amado atrai aquele que ama sem
ser movido por ele, assim Deus atrai a todos sem ser movido.
Causa subordinada por natureza ou per si: depende essencialmente quanto a sua
atividade causal e quanto sua existência, como as criaturas dependem de Deus para Ser e Existir
(Atos 17.28). A essa subordinação chamamos de subordinação quanto ao Ser. Na ordem
predicamental, as causas instrumentais podem ser subordinadas somente no tocante à sua
atividade causal.
A causa eficiente está para a final, assim como a causa material está para a formal.
A causa é externa (extrínsecas) quando está fora da essência do causado, são as causas
eficiente e a final.
CAUSA FINAL
A causa final é quando o fim (finalidade, objetivo) é a causa da ação. A causa final é a
causa pela qual algo é limitado, ou seja, o fim para o qual é dirigida ou determinada por uma
causa superior. É a intenção da mudança.
1.1 – A causa final perfeita, ou o fim perfeito, é aquela pela qual algo é limitado pela sua
própria natureza.
1.2 - O fim imperfeito é quando algo é limitado para além de sua natureza. O bem é
limitado pela sua própria natureza, mas o pecado é limitado por algo além de sua
natureza, pois por meio dele Deus pode retirar cosias boas que, obviamente, não
pertence à sua natureza.
Quem quer o fim, também quer o meio, logo o que está destinado ao fim, também está
destinado aos meios, porém isso só é válido para o que é bom e perfeito, nunca para o que é
acidental ou confuso, pois o fim concilia a amabilidade, a ordem e a medida com os Meios. Deus
não quer o pecado pela sua própria natureza quando permite sua existência e o usa como meio,
mas o quer para um fim que excede a natureza desse pecado. Do mesmo modo é um absurdo
metafísico que Deus queira algo antecedentemente sem atingir o fim consequentemente, pois
isso significa que o fim não coincidiu com a primeira vontade, tampouco os meios foram
adequados, conciliados e ordenados a esse fim.
Há quem diga que Deus pode agir quando a condição ou ocasião for posta.
Positiva: quando serve como instrumento ou como meio, como, por exemplo o homem
caído é a condição para que ele possa ser salvo.
Nem a condição, nem a ocasião pode ser confundida com a causa, porque efeito algum
depende da condição ou ocasião.
Aquilo para o qual algo é, é mais importante. Assim, se alguém é um ser inteligente,
Deus é mais inteligente. E se um pai ama um mestre por causa do filho, ama mais o filho.
Todo fim é bom, mas nem todos são realmente bons, mas podem ser aparentemente
bons.
CAUSA EFICIENTE
Causa Eficiente é a causa pela qual o efeito é produzido, ela confere o existir em ato, é o
princípio extrínseco da mudança. Enquanto a causa final é a intenção da mudança, a causa
eficiente é o que produz a mudança.
1.2 – Causa conservadora (causa conservans): é aquela que preserva o efeito. Deus é causa
procriadora e conservadora do universo. Uma temperatura abaixo de zero é o que mantém a
água congelada.
1.3 – Causa corruptora (causa corrumpens): é aquela que corrompe, como a heresia corrompe a
Igreja.
Principal é aquela pela qual o efeito é produzido primariamente, pois age sempre por
sua própria forma. Ela pode ser solitária ou sociável.
Solitária produz a coisa sem a ajuda de outros, também é chamada de causa total.
Quando tratamos de concorrência divina dizemos que Deus e o homem são causas totais de seus
efeitos, cada um em sua própria ordem.
Sociável é a que precisa da ajuda de outros, também é chamada de causa parcial. Nos
concursus providenciais simultâneos, como os molinistas e arminianos, as causas são parciais,
como dois homens que remam lado a lado em um barco ou quando os soldados se juntam para
atacar de forma coordenada. Toda ação coordenada deve estar unida por um agente distinto
superior, pois duas causas independentes não se coordenariam, per si, para a produção de um
mesmo efeito. Isso nos leva a concluir que um concurso simultâneo é impossível na ordem
transcendental, ou seja, entre Deus e a criatura, pois se se exige uma coordenação superior, o
que poderia ser superior a Deus?
3.1 - Por si mesma é aquela que age com base em sua própria capacidade. Também
chamada de causa eficiente essencial.
3.1.1 – A causa eficiente por si mesma pode ser necessária, livre ou contingente.
3.1.2 – A Causa eficiente necessária, também chamada de Causa Eficiente Natural, é
aquela que a ação sempre produz um efeito fixo de acordo com sua própria natureza. Por
exemplo, o fogo sempre queima, os objetos são sempre atraídos ao chão.
3.1.3 – A Causa livre ou voluntária é aquela que age por deliberação. Por exemplo, o
homem/anjo/demônio raciocina, delibera e escolhe. Pode-se dizer que essa causa também é
contingentemente voluntária.
3.1.4 – A causa eficiente contingente é aquela que o efeito é contingente, como os jogos
da loteria. A causa eficiente contingente pode ser chamada de Causa Eficiente Mista quando o
efeito é produzido tanto pelas leis da natureza como pela deliberação humana, como um
arremesso de uma pedra em um determinado alvo. Mas se o evento for fortuito temos uma
causa eficiente acidental contingente, como se um machado de um homem que estava cortando
uma árvore, viesse a sair de seu cabo, e atingir, e matar outro homem a quem ele nunca viu.
3.2 - Por acidente é aquela que age com base em uma capacidade externa. Isso inclui
causas acidentais, como imprudência, compulsão e eventos fortuitos.
4.1 - Primária é aquela que não é de forma alguma secundária, não recebe, mas concede
o movimento. É a causa suprema do qual nada é secundário. Em termos absolutos, a única causa
primária é Deus, mas em termos relativos, as criaturas podem ser causas primárias e
secundárias, como o fogo que esquenta uma água e um machado que corta uma árvore movido
por um lenhador.
4.2 - Secundária é aquela que depende da primária, portanto, só pode ser chamada de
primária em algum sentido. É dividida em dois tipos:
4.2.1 – Causa Secundária Remota está mais distante do efeito. Por exemplo, o
movimento do céu é a causa remota do movimento dos animais, enquanto a alma sensitiva é a
causa próxima.
4.2.2 - Causa Secundária Próxima está mais próxima do efeito. Por exemplo, a causa
eficiente da visão é a luz.
5.1 – A causa física é a que age por influxo físico, não sensível ou material, mas
metafísico. Esse influxo é real e faz passar da potência para o ato.
5.2 – A causa moral se opõe à física por ser uma mera atração, mas não realiza o trânsito
da potência para o ato, como se fosse um conselho dado a um amigo. Por isso é chamada de
causa eficiente de modo impróprio.
CAUSA MATERIAL
Matéria é aquilo de que algo é feito. A matéria e a forma são partes essenciais de
qualquer coisa, por isso podemos dizer que a causa material é aquela que entra na essência da
causa.
1.1 - Materia sensibilis: é aquilo de que algo sensível é feito. Ela tem duas condições: ser
nada e ser tudo. É nada daquilo que vemos, mas é indiferente a todas essas coisas.
1.2 - Materia intelligibilis: é aquilo de que algo incorpóreo é feito. É a matéria de todas
as entidades abstratas, exceto Deus, como os anjos, a alma racional, conceitos abstratos e coisas
matemáticas.
CONTINUA...