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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ

SAMIRA GUISSONI BUENO

A HISTÓRIA DA QUÍMICA COMO INSTRUMENTO DE


MOTIVAÇÃO EM AULAS DE QUÍMICA

ILHÉUS - BAHIA
2009
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SAMIRA GUISSONI BUENO

A HISTÓRIA DA QUÍMICA COMO INSTRUMENTO DE MOTIVAÇÃO EM AULAS


DE QUÍMICA

Projeto de Pesquisa apresentado à


Universidade Estadual de Santa Cruz -
UESC, como parte dos requisitos para
cumprimento de crédito da disciplina
Prática de Pesquisa em Ensino de Química
para o TCC.

Área de concentração: Ensino de Química


Orientador: Prof. Dr. Paulo N. M. dos
Anjos

ILHÉUS - BAHIA
2009
iii

A História da Química como Instrumento de Motivação em Aulas de


Química

RESUMO

A abordagem da História da Química no Ensino Médio, em sua maioria, se resume à


simples caracterizações de datas, personagens e descobertas, direcionando o aluno a visões
distorcidas do método científico e a idéias míticas sobre a Ciência. Neste projeto pretende-se
verificar se uma abordagem planejada deste tema pode tornar as aulas de química no Ensino
Médio (E.M.) mais desafiadoras e reflexivas, permitindo, deste modo, um maior
envolvimento dos alunos frente aos conteúdos conceituais. O estudo envolverá uma
observação participante de uma professora/investigadora em duas turmas de 1° ano do E.M. e
terá caráter exploratório, com abordagem de pesquisa qualitativa. A análise dos dados
envolverá o conjunto de respostas aos questionários abertos, os registros de observações e as
anotações sobre as aulas.
Palavras chave: História e Filosofia da Ciência; Ensino de Química; Natureza da Ciência;
Motivação do aluno.
iv

SUMÁRIO

Resumo ....................................................................................................................... iii

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 1

2 OBJETIVOS ................................................................................................................ 3

2.1 Objetivo geral ................................................................................................................ 3

2.2 Objetivos específicos ..................................................................................................... 3

3 REVISÃO DE LITERATURA ...................................................................................4

4 METODOLOGIA ....................................................................................................... 6

5 CRONOGRAMA ........................................................................................................ 9

6 BIBLIOGRAFIA ....................................................................................................... 11
1 INTRODUÇÃO

Parece óbvio que aprender sobre a química é importante para a formação de nossos
alunos como cidadãos, porém para muitos deles a idéia que se tem é que a química é uma
matéria maçante, abstrata e praticamente impossível de ser entendida por uma pessoa
“comum”. Neste projeto o que se pretende investigar é se a História da Química pode
modificar esta aversão dos alunos à matéria química, motivando-os e possibilitando um maior
fascínio pela ciência.

A crise no Ensino de Ciências tem afetado países de todo o mundo, evidenciando os


altos níveis de analfabetismo em ciências e a evasão de professores e alunos das salas de aulas
(ARANHA, 2007). Por isto a importância de obter métodos que estimulem os alunos e
professores a entenderem a Natureza da Ciência1 e não somente passar e receber informações
a cerca dos conteúdos de ciência.

A primeira série do Ensino Médio é também o primeiro contato dos alunos com a
química escolar, logo a necessidade de estimular os alunos destas turmas a interpretarem o
mundo e intervir na realidade, apresentando a química como construção histórica e
relacionada ao desenvolvimento tecnológico alcançado pela sociedade. E como Sequeira &
Leite (1988) afirmam, “A História da Ciência pode dar aos alunos uma imagem correta da
ciência e dos cientistas, evidenciando as inter-relações entre a ciência, a tecnologia, a
sociedade e as outras áreas do conhecimento”.

A importância da História da Química para a educação científica tem sido amplamente


reconhecida na literatura nas últimas décadas (PAIXÃO e CACHAPUZ, 2003; FREIRE
JÚNIOR, 2002; LEITE, 2002). E no Brasil, de alguma forma esta tendência aparece
explicitada em documentos oficiais, como os Parâmetros Curriculares Nacionais para o
Ensino Médio (PCNs). De acordo com este mesmo documento:

A Química pode ser um instrumento de formação humana que amplia os horizontes culturais e
a autonomia no exercício da cidadania, se o conhecimento químico for promovido como um
dos meios de interpretar o mundo e intervir na realidade, se for apresentado como ciência, com

1
Para maiores detalhes sobre a Natureza da ciência veja, por exemplo, SILVA 2003.
2

seus conceitos, métodos e linguagens próprios, e como construção histórica, relacionada ao


desenvolvimento tecnológico e aos muitos aspectos da vida em sociedade.
A inclusão da História da Química nos currículo do Ensino Médio pode parecer
desnecessária e despropositada, assim como sendo um tempo perdido que poderia ser melhor
aproveitado para aprofundar conceitos que sejam importantes para o vestibular. Mas se
opondo a esta concepção os autores Wortmann (1996) e Silva (2003) apresentam vantagens
para o uso da história no ensino, dentre elas:

Melhoria da motivação e a possibilidade de trabalhar o conteúdo de forma mais


criativa e integrada;

Humanização da visão de ciência;

Mudança na visão de ciência como processo e não como produto;

Compreensão da articulação de eventos em determinados eventos em determinados


períodos da História e contextualização das descobertas;

O desenvolvimento do pensamento crítico podendo contribuir com uma visão mais


ampla sobre a ciência acabando com a fumaça da insignificância que insiste em
sufocar as salas de aula;

Podem melhorar a compreensão dos alunos sobre a intervenção da sociedade na


produção dos conhecimentos científicos, e o impacto deste na sociedade.

Portanto apesar desta inclusão ser amplamente defendida, necessita-se de maior


número de investigações empíricas para que seja avaliada a influência deste tipo de
abordagem frente à primeira série do Ensino Médio, assim como a confecção de materiais
didáticos que possam ser utilizados durante esta investigação.

Na pesquisa que se pretende realizar, trataremos de questões sobre a constituição da


matéria, visto que, mesmo sendo um conteúdo de extrema importância para todo o
entendimento dos conteúdos posteriores, os alunos apresentam grandes dificuldades para
aprendê-lo, por motivos que vão desde analogias incorretas a assuntos demasiadamente
extensos. Utilizando uma abordagem de ensino contextualizada e direcionada, priorizando os
aspectos histórico-filosóficos da ciência no processo.
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2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo geral

Analisar através de uma intervenção se a inclusão da História da Química no currículo


de química do 1° Ano de E.M pode tornar os alunos mais motivados durante as aulas desta
mesma matéria.

2.2 Objetivos específicos

• Verificar se um referencial histórico contribui para o estudante adquirir uma imagem


de ciência mais contextualizada, promovendo assim uma melhor formação inicial;

• Identificar se a compreensão de um conceito químico através de sua contextualização


histórica pode contribuir para uma aprendizagem mais significativa deste conceito;

• Elaborar uma Unidade Didática com conteúdos da História da Química e conteúdos


conceituais para posterior utilização, dando subsídio a investigação didática;

• Detectar se a utilização da História da Química possibilita aos alunos algum ganho nos
conhecimentos epistemológicos;
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3 REFERENCIAL TEÓRICO

Apesar da História da Química ter sido amplamente considerada como essencial ao


ensino de química, não é encontrado materiais e iniciativas que possibilitem uma inserção
correta da História da Química nos currículos atuais do Ensino Médio. A química sendo
considerado conhecimento básico e, portanto obrigatório no nível Médio, é na verdade
insignificante para os alunos por tratar de fórmulas e conceitos não compreensíveis
(MATTHEWS, 1995).

Introduzir a História da Química nos currículos escolares pode ser uma tarefa um tanto
complicada para um professor do Ensino Médio, enfrentam-se problemas que são
essencialmente de duas naturezas. Os primeiros estão relacionados com a dificuldade em se
optar pelo programa a ser seguido, muitos professores não sabem quais elementos da História
da Química incorporarem a seus conteúdos, além de considerá-la mais trabalhosa que a
abordagem tradicional (MORAES, 1999).

Esta dificuldade é agravada pela falta de materiais didáticos que consigam unificar os
conteúdos conceituais e históricos de forma que não se afastem muito da seqüência a qual os
professores já estão habituados, com boa qualidade científica e adequados aos alunos a que se
destinam. Estes problemas a cerca do desenvolvimento dos conteúdos podem agravar os
problemas advindos da escolha dos conteúdos e estratégias.

Estes problemas podem ser encontrados no momento de selecionar quais elementos do


passado serão utilizados para mostrar como a ciência progrediu até evoluir ao estágio atual.
Não é possível abordar tudo, porém não se deve reduzir a história à biografia de cientistas,
pois, se não há mal em se estudar isto, o mesmo já não se passa quando a única recordação de
um aluno a cerca da História da Química se restringe a nomes e datas mal compreendidos
(MOREIRA, 1993).

Nesta escolha entre o quê ensinar a formação do professor é um fator que influencia
diretamente. Um estudo realizado por Correia (2003) relata que um terço dos professores
embora apresentasse durante a graduação uma disciplina de História da Química, muitos a
consideram “insuficiente”. Além deste fator, a maioria dos professores nunca freqüentou
cursos sobre História da Química. Neste mesmo estudo os autores apontam que os professores
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também não avaliavam os seus alunos em objetivos relacionados à História da Química, o que
demonstra a necessidade de, além de pronunciar a importância da incorporação da História da
Química nos currículos escolares, precisa-se ter um maior direcionamento ao acesso em que
os professores terão a esta metodologia.

Na unção destes dois problemas está uma visão deformada do trabalho científico
(GIL-PEREZ, et al., 2001) que é compartilhada por professores e alunos. Neste ponto a
História da Química permite “ver” a natureza real do conhecimento, que pode assim ser
descrito segundo Sequeira & Leite (1988) como um conhecimento que é respeitado pelo
reconhecimento e não pela metodologia, que é subjetivo e provisório, através de como os
modelos foram modificados e adaptados a novos dados (experimentais ou teóricos),
descobertas e progressos de outros ramos do saber, como os aspectos sociais, econômicos e
políticos, e até a crença pessoal, a persistência e a criatividade interferem na construção e
aceitação destes modelos.

A educação química no Ensino Médio tem sido alvo de críticas assim como tem
recebido novas abordagens, como a abordagem contextual ou liberal. Esses termos são
utilizados por Matthews (1994) para se referir a uma educação informada pela História e
Filosofia da ciência. Porém é importante salientar que a História da Química não é uma
espécie de panacéia para o ensino atual, embora seja de alguma concordância que sua
aplicação seja essencial em um ensino mais coerente com a formação do cidadão.

Embora se constate na análise bibliográfica que a História da Química pode auxiliar o


processo de ensino aprendizagem de várias formas, a omissão de indicações de como utilizar
exatamente este recurso deixa essa utilização a critério de cada professor, observando-se o
mesmo quanto a qual material didático ou para-didático usar e qual extensão a dar à aplicação
deste material.
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4 METODOLOGIA

O desenvolvimento da pesquisa, que tem abordagem qualitativa e caráter exploratório,


envolverá a pesquisadora como professora da turma. Os sujeitos serão os alunos das turmas.
Todos os alunos matriculados participarão da investigação, uma vez que o módulo das turmas
é pequeno, o que justifica a não utilização de técnicas de amostragem para o levantamento de
dados (BOGDAN e BIKLEN, 1994).

A pesquisa proposta neste projeto acontecerá em duas turmas noturnas de 1° ano na


disciplina de Química, que faz parte do currículo de uma Escola Estadual pública da cidade de
Ilhéus, Bahia. As turmas foram escolhidas por dois principais motivos: primeiramente por ser
turmas noturnas e os alunos em sua maioria serem adultos e pouco motivados ao ensino, além
de terem participado de programas de aceleração no Ensino Fundamental, logo, e aí está o
segundo fator de ser o primeiro contato destes alunos com a química escolar.

A investigação didática será realizada durante duas unidades consecutivas e os


instrumentos de coleta de dados serão aplicados em sala de aula, durante os períodos letivos
da disciplina. Na primeira unidade a turma 1 será a turma teste, ou seja, a turma em que a
História da Química será adicionada aos conteúdos conceituais e a turma 2 será a turma
controle, em que os conteúdos conceituais serão trabalhados sem a conexão com a História da
Química. Na segunda unidade acontecerá o inverso e os resultados das turmas poderão ser
analisados através das duas metodologias.

Para incluir conteúdos sobre a natureza da ciência na disciplina utilizar-se-á uma


abordagem de ensino direcionada e contextualizada, priorizando o referencial da História e
Filosofia da Ciência no processo. Levando-se em conta a constatação de Matthews (1994) de
que a epistemologia dos alunos é comumente constituída informalmente, uma vez que não
encontra respaldo adequado nos cursos de formação inicial.

Para investigar as questões propostas, as atividades de avaliação serão a mesma para


ambas as turmas, assim como as atividades de pesquisa, discussão e apresentações, o objetivo
deste procedimento é isolar a única variável a ser estudada (a inclusão da História da
Química) de modo que a diferença nos resultados das duas turmas possa ser atribuída apenas a
esta.
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Os conteúdos históricos serão articulados numa perspectiva cronológica com os


conteúdos conceituais que normalmente são trabalhados na primeira série do Ensino Médio
através de uma Unidade Didática cujo tema central é “Constituição da matéria: da descoberta
do fogo ao átomo de Dalton”. Todo o planejamento das aulas será realizado para que diversas
dimensões epistemológicas possam ser adequadamente contempladas.

Serão utilizados como instrumento de coleta de dados: questionários e gravações das


discussões em grupo. O uso de questionários abertos contendo questões problematizadoras
tem como objetivo permitir aos estudantes revelarem e justificarem sua própria opinião sem
ter que escolher entre visões já pré-estabelecidas que, eventualmente, poderiam não
corresponder exatamente à deles.

O corpus de análise envolverá o conjunto de respostas aos questionários, os registros


de observações e as anotações sobre as aulas, em especial àquelas das turmas em que a
História da Química estiver sendo aplicada.

A tabela a seguir apresenta de forma resumida as atividades que serão desenvolvidas


durante a aplicação da Unidade Didática.

Aula Mês Atividade

1ª Jul 1ª apostila: As reações realizadas pelo Homem pré-histórico.

2ª Jul Vídeo e discussão.

3ª Jul 2ª apostila: Gregos: A arte de perguntar.

4ª Jul Avaliação: brincadeira “batata quente”

5ª Jul 3ª apostila: Alquimistas e química prática.

6ª Ago Conteúdo conceitual: métodos de separação.

7ª Ago Discussão e exercício.

8ª Ago Apresentação de teatro pelos alunos: alquimistas

9ª Ago Fechamento da 2ª Unidade: Prova


8

10ª Set 4ª Apostila: Boyle e o estudo dos gases.

11ª Set Experimento e exercícios.

12ª Set 5ª apostila: Lavoisier e a definição de um elemento.

13ª Set Discussão da apostila e exercícios.

14ª Set Júri Químico: defendendo os flogistas.

15ª Out 6ª Apostila: Dalton e o átomo de Leucipo

16ª Out “voltando ao passado” – Apresentação de slides revisando os


principais acontecimentos até então.

17ª Out Revisão

18ª Out Fechamento da 3ª unidade: Prova


9

5 CRONOGRAMA

Atividades
mar abr mai jun jul ago set out nov dez

Elaboraçã0o do
X X X X
projeto de pesquisa

Elaboração da
X X X X
Unidade Didática

Aplicação da Unidade
X X X X X
Didática

Revisão bibliográfica
X X X X X

Aplicação dos
X X X
questionários

Análise dos dados


X X X X X X

Elaboração do
X X X X
trabalho escrito

Apresentação à banca
X
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BIBLIOGRAFIA

ARANHA, A. Falta ensinar a pensar. Revista Época. Edição n° 499. Editora Globo, São
Paulo, 2007.

BOGDAN, R. C.; BIKLEN, S. K. Investigação qualitativa em educação: uma introdução


à teoria e aos métodos. Trad. Maria J. Alvarez; Sara B. dos Santos; Telmo M. Baptista.
Porto: Porto Editora, 1994. (Coleção Ciências da Educação).

CHASSOT, A. I. A Educação no Ensino de Química. Livraria Inijuí Editora; Rio Grande do


Sul, 1990.

CORREIA, S. A utilização da história da ciência no ensino da química: contributos para


o seu diagnóstico. Dissertação (Mestrado) - Universidade do Minho, Braga, 2003.

GIL, D. et al. Para uma imagem não deformada do Trabalho Científico. Ciência & Educação,
v.7, n.2, p.125-153, 2001.

LIND, G. Models in Physics: some pedagogical reflexions based on the history of science.
European Journal of science Education, v. 2, n.1, p. 15-23, 1980.

MATTHEWS, M. R. A role for history and philosophy of science teaching. Educational


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_________. Science Teaching – The role of History and Philosophy of Science. New
York: Routledge, 1994.

_________. História, filosofia e ensino de ciências: a tendência atual de reaproximação.


Caderno Catarinense de Ensino de Física, Florianópolis, v. 12, n. 3: p. 164-214, dez. 1995.

MORAES, R. Análise de conteúdo. Revista Educação, Porto Alegre, v. 22, n. 37, p. 7-32,
1999.

MOREIRA, M. A. Sobre o ensino do método científico. Caderno Catarinense de Ensino de


Física, Florianópolis, v. 10, n. 1, p. 108-117, 1993.

OKI, M. C. M., MORADILLO, E. F. O ensino de história da química: contribuindo para a


compreensão da natureza da ciência. Ciência & Educação, v. 14, n. 1, p. 67-88, 2008.
11

SEQUEIRA, M., LEITE, L. A História da Ciência no Ensino - Aprendizagem das Ciências.


Revista Portuguesa de Educação, Universidade do Minho, v. 1, n. 2, p. 29-40, 1988.

SILVA, C. C., MARTINS, R.A. A teoria das cores de Newton: um exemplo do uso da
história da ciência em sala de aula. Ciência & Educação, v. 9, n. 1, p. 53-65, 2003.

WORTMANN, M. L. C. É possível articular a Epistemologia, a História da Ciência e a


Didática no ensino científico? Episteme, Porto Alegre, v. 1, n. 1, p. 59-72, 1996.

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