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COMO UMA RELIGIÃO NASCE DE UM FILME?

JEDIISMO UMA
RELIGIÃO MUITO, MUITO VERDADEIRA.

AS A RELIGION BORN OF A MOVIE? RELIGION JEDIISM A VERY,


VERY TRUE.
Mauro Thiago da Silva Giovanetti, Claude Lépine – Campus de Marília – Faculdade de Filosofias e Ciências
– Ciências Sociais – mauroanime@yahoo.com.br

Palavras chaves: antropologia da religião; cinematografia; jediismo.


Keywords: anthropology of religion; cinematography; jediism.

1. INTRODUÇÃO
No final da década de 1970 teve o inicio da primeira trilogia da série Star Wars, - Guerra nas
Estrelas em português -, do cineasta norte-americano George Lucas, que se tornou sucesso de
bilheteria nos EUA e em outros países nessa época. Série que é permeada por uma mitologia criada
pelo autor, a partir de um amalgama conceitual que recorre a elementos religiosos orientais, como o
budismo e o e o taoísmo, assim como a elementos judaico-cristãos. Atendo como referencia estas
múltiplas influencias culturais, George Lucas criou o conceito de “Força”, esta é uma espécie de
energia universal que permeia todas as coisas vivas (assim como o Tao, em uma leitura popular-
ocidental) e que alguns poucos “escolhidos” são capazes de manipular (como o QI budista). Estes
escolhidos, são capazes de inúmeros feitos extraordinários, diríamos paranormais, com essa energia,
são chamados “jedis” quando usam este poder para o bem, ou “sith” quando usam este poder para o
mal. Aqui fica patente que o universo ficcional criado por George Lucas é tipicamente maniqueísta.
Recentemente essa crença na Força parece ter transcendido o universo cinematográfico da
série, convertendo-se em uma verdadeira religião, ainda que multifacetada, a partir de uma leitura
que cada um de seus seguidores, ou pequenos grupos organizados, fazem da série de filmes. Em
alguns países, como o Reino Unido, onde existem segundo o senso de 2001 quase 400.000
seguidores do chamado jediismo, o que torna esta a quarta maior religião desse território ficando a
atrás apenas do cristianismo, islamismo e hinduísmo. No Brasil entramos em contato com um grupo
jediista na cidade do Rio de Janeiro, entretanto, esse grupo alega seguir o jediismo como uma
“filosofia” e não como uma “crença”. O que mostra que mesmo uma ficção é capaz de articular
valores de interesse afetivos e sociais.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E OBJETIVOS


2.1 Fundamentação Teórica
Para Eliade (1972) o mito ou a religiosidade é uma realidade com um alto grau de
complexidade, que pode ser abordada e interpretada através de perspectivas múltiplas e que são
complementares entre si.

2.2 Objetivos
• Compreendendo os elementos religiosos que serviram de inspiração para a série de filmes.
• Estudar o jediismo como fenômeno social.
• Observar como o jediismo se apresente entre os membros do grupo jediista na cidade do Rio
de Janeiro.

3. METODOLOGIA
A partir desta pesquisa inicial pretendemos dar seguimento a nossa pesquisa, primeiramente
compreendendo os elementos religiosos que serviram de inspiração para a série de filmes, para
tanto recorreremos a alguns estudos sobre mitologia e cinema, como o documentário “O poder do
mito” do mitólogo Joseph Campbell (2000), que influenciou o cineasta Jorge Lucas na elaboração
de seu universo cinematográfico. Então buscaremos compreender e apresentar as diversas facetas

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com que o movimento se apresenta em diversas culturas e países diferentes, para tanto recorreremos
a alguns estudos etnográficos ou a fontes jornalística, como o Spiritualità da una galassia lontana
lontana: il Jediismo come Nuovo Movimento Religioso da antropóloga italiana Andréa Molle
(2008). E no caso do Brasil, nos utilizaremos mesmo de entrevistas com membros de grupo por nós
identificado.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Esta é uma pesquisa em andamento, mas podemos considerar que até o momento de nossa
pesquisa de que vivemos numa era onde é possível postularmos várias interpretações sobre os
múltiplos fenômenos sociais. Visão da realidade que pode ser formatada pela religião, e que com o
jediismo essa mesma realidade pode tomar outros contornos. Ou seja, vivemos na Idade da
Interpretação (ZABALA, 2006), onde o pensamento não é dominado apenas por questões de
significância religiosa, cientifica ou filosófica. Ela é muito mais complexa e permite múltiplas
argumentações. Claro que existem questões que foram superadas historicamente – como o
geocentrismo e o exclusivismo ideológico da Igreja Católica, por exemplo -, mas a atual sociedade
globalizada apresenta questões tão complexas devido à enorme facilidade de acesso a informação
decorrente do avanço técnico, que praticamente torna possível haver qualquer explicação, mesmo
que equivocada, sobre qualquer fenômeno ou evento.
No caso do jediismo, o grupo por nós estudado alega segui-lo como fonte de inspiração, ou
nas declarações deles como “filosofia”. O que significa, na nossa perspectiva, que a narrativa
apresentada nessa ficção serve como modelo de orientação moral, a este grupo. O que não é algo de
tão espetacular devido as múltiplas influências religiosas presente nessa série cinematográfica. E
nesse ponto o jediismo vai se configurando como uma nova religião que busca uma integração entre
as religiões tradicionais e a filosofia da série. O que não é improvável, dado a semelhança de
inúmeras posições apresentadas no filme que se assemelham com religiões como o Taoísmo e o
Budismo. O que faz do jediismo uma religião, ou filosofia, bastante sincrética, permeada de
referencias mitológica
Essa narrativa apresenta uma serie de elementos que permearia uma mitologia, uma vez que
existem figuras heróicas capazes de feitos superiores aos dos demais mortais, capazes de desafiar,
ou relacionar-se, com personificações de poderes quase divinos. Narrativa que instrui
espiritualmente a aqueles que assistem à série. E que facilmente poderia ser qualificada como um
mito. Contudo, o mito como aponta Eliade (1972) é uma narrativa que fala das origens. No caso de
Star Wars, ou mais especificamente o movimento jedi, se inspira em eventos e figuras de
constituição mitológica.
Ou seja, o homem, em Eliade (SD), só se sente como homem quando se submete aos
ensinamentos do mito, isto é, imitando deuses ou figuras heróicas como os jedis. Mas não podemos
confundir mito com religião. Porque embora o mito e a religião procurem criar realidades
ontológicas que manifesta o sagrado, a religião ao contrario do mito é a institucionalização do
sagrado. O que implica em rotinizações e dogmas, que visem rememorar e fixar o acontecimento
mítico.
E no caso do grupo carioca, que se classifica como “Ordem” ou “Pilar”, essa “doutrina”
parece nem mesmo se configurar como uma religião, uma vez que parece não haver rituais,
cerimônias ou qualquer tipo de idolatria. Ela serve como parâmetro de orientação para uma conduta
diária, pautada no controle das paixões, na evolução do ser humano e na reflexão. E dessa forma
interagir com a energia cósmica que permeia todas as coisas, classificada de Força, mas que pode
outras denominações (Deus, Alá, Buda,...). O que mostra que essa filosofia, ou crença, responde a
Ordem questões que as religiões históricas não conseguem responde, talvez por estas estarem
pautadas numa extensa estrutura dogmática que não permita a reflexão.

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