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Técnicas Utilizadas

em
Química Forense

Bruno Lemos Cons


DETECÇÃO E IDENTIFICAÇÃO DE RESÍDUOS
O Exame Residuográfico de Disparo de Armas de Fogo

Uma arma de fogo é considerada uma máquina térmica, sendo constituída pelo aparelho
arremessador ou arma propriamente dita, pela carga de projeção (pólvora) e pelo projétil.

Com a combustão da pólvora, que ocorre pela “chama iniciadora” proveniente da espoleta, o
projétil é lançado para fora do cano. A força com que é projetado depende da qualidade da
combustão. A combustão da pólvora gera um volume de gases, que gera uma pressão que
impele o projétil pelo cano da arma.

A expansão dos gases ocorre na região anterior do cano da arma, orientada para a frente e
na região posterior da arma, em decorrência da presença de orifícios na culatra (em
revólveres) ou do extrator (no caso de pistolas). É o fluxo de gases emitido pela região
posterior da arma que atinge a mão do atirador, sendo chamado de vestígios ou resíduos de
arma de fogo.
Os resíduos de tiro (GSR), do inglês Gun shot residue, são produzidos em todo
crime em que tenha ocorrido um disparo de arma de fogo. Representam um
conjunto complexo de compostos orgânicos e inorgânicos, ou seja, elementos
metálicos oriundos do cano (Fe), do estojo (Cu, Zn, Ni), do projétil (Pb, Sb), do
iniciador (Pb, Ba, Sb) e da pólvora (orgânicos).
Porém, não pode ser detectado a olho nu e, portanto, necessita de técnicas de
laboratório para sua revelação. Esses resíduos de tiro, quando presente nas mãos,
apresentam um tempo de vida curto. Dessa forma, a coleta precisa ser feita o mais
rápido possível para não comprometer o andamento das investigações
A coleta dos resíduos dos disparos é realizada nas seguintes regiões da mão do
atirador: a palma, o dorso e a região palmar (Pinça-Palmar) e dorsal (Pinça-Dorsal)
dos dedos polegar e indicador.

O procedimento de coleta independe do tipo de análise dos resíduos. Utiliza-se


cotonetes ou swabs embebidos em solução diluída de EDTA (Ácido
etilenodiaminotetracético) a 2% ou outra solução complexante por um período de
dois minutos. Após esse período, esses cotonetes são esfregados nas quatro
regiões distintas da mão do possível atirador por um minuto.
As extremidades dos cotonetes ou swabs são armazenadas em tubos devidamente
identificados e então levados aos laboratórios para que possam ser analisados. A
realização dos testes de detecção de resíduos de armas de fogo surgiu com a
necessidade de determinar se um indivíduo foi ou não o responsável pelos disparos
em um crime sob investigação.

Espectrometria de Absorção atômica sem chama (Flameless Atomic


Absorption Spectrometry) – FAAS

A técnica da espectrometria de absorção atômica sem chama (FAAS) baseia-se no


aquecimento a elevadas temperaturas com o objetivo de romper as ligações das
moléculas presentes na amostra. Dessa forma, os átomos em seu estado
elementar são analisados e avaliados pela capacidade de absorção de radiação.

A presente técnica representa uma possibilidade de detecção de Bário, Antimônio e


Chumbo, sendo de simples execução, alta sensibilidade e, acima de tudo, baixo
custo. Porém, apresenta como desvantagem a impossibilidade de detecção dos
elementos que estão na mesma partícula.
Revelações de Impressões Digitais
A Papiloscopia é a ciência responsável pela identificação por meio das papilas
dérmicas. As papilas dérmicas são reentrâncias que representam o local de contato
entre a derme e a epiderme. As papilas são irrigadas e apresentam receptores
sensoriais.

A Papiloscopia é, portanto, baseada na perenidade, individualidade, viabilidade e


imutabilidade das papilas dérmicas:

• Perenidade: As papilas dérmicas apresentam a capacidade de resistir à ação do


tempo;
• Individualidade: As papilas dérmicas são específicas de indivíduo para indivíduo;
• Viabilidade: O estudo das papilas dérmicas é viável às práticas periciais, pelo seu
baixo custo e fácil operacionalização;
• Imutabilidade: As papilas dérmicas não variam com o passar do tempo.
Datiloscopia
• O uso das impressões digitais na identificação humana remonta à pré-história. Em
geral, essas marcações eram feitas em argila, reproduzindo principalmente as
extremidades digitais.

• Após isso, várias descobertas tiveram importância no campo das impressões digitais
e vários sistemas de identificação por meio destas foram propostos. Porém, em 1891,
Juan Vucetich apresentou o novo sistema de identificação, que ficou conhecido como
Iconofalangometria.

O processo datiloscópico divide-se em:

a) Monodatilar

É quando se refere à impressão digital de um só dedo.

b) Decadátilar

É quando se trata da impressão do conjunto dos 10 dedos.


Os desenhos papilares estão presentes desde a vida embrionária e só
desaparecem com a putrefação corporal, ocorrida após a morte. Os desenhos são
expressos em datilogramas que podem ser divididos de três formas:

• Datilogramas naturais: são aqueles realizados diretamente pelo auxílio da


lupa.

• Datilogramas artificiais: são aqueles realizados de forma artificial, ou seja,


com o auxílio de meios gráficos de impressão. Um exemplo é a ficha datiloscópica.

• Datilogramas acidentais: são aqueles encontrados acidentalmente nos


locais de crime.
Há quatro tipos de desenhos fundamentais que servem de base para toda a
classificação datiloscópica. Esses desenhos são baseados na presença de duas
características: o delta e as linhas do sistema nuclear.
Diante disso, os quatro tipos de desenhos fundamentais e suas características são:
arco, presilha interna, presilha externa e verticilos. Esses tipos apresentam a
seguinte denominação de acordo com os dedos:
1. Arco (A – polegar; 1 – demais dedos)
Características do Arco:

I) Ausência de delta;

II) As linhas atravessam o campo da impressão de um lado para o outro, assumindo


forma abaulada.
Presilha interna (I – polegar; 2 – demais dedos)

Características da Presilha Interna:

I) Um delta à direta do observador;

II) As linhas nucleares ocorrem para a esquerda do


observador.
Presilha externa (E – polegar; 3 – demais dedos)

Características da Presilha Externa:

I) Um delta à esquerda do observador;

II) As linhas nucleares ocorrem para a direita do observador.


Verticilo (V – polegar; 4 – demais dedos)

Características do Verticilo:

I) Apresenta dois deltas: um à direita e outro à esquerda do observador;

II) As linhas nucleares ficam encerradas entre dois deltas.


As impressões digitais podem ser:

• Impressões latentes (IPL): são as impressões formadas por óleo ou secreções de suor
depositadas pelo dedo de uma pessoa quando esta toca determinada superfície ou objeto. São
invisíveis a olho nu e necessitam de técnicas que as faça visíveis.

• Impressões visíveis: são formadas quando o dedo do criminoso está contaminado com
algum tipo de fluido. Daí é deixada uma marca visível.

• Impressões plásticas ou moldadas: são formadas quando a impressão do dedo é deixada


em uma substância macia. Raras de serem encontradas nas cenas de crime.

Nas técnicas de revelação de impressões digitais são utilizados reveladores. Os reveladores


reagem com os produtos liberados no suor.
A técnica do pó
Na revelação de impressões digitais
utilizando a técnica do pó são utilizados
diversos tipos de pó. A escolha depende
da superfície avaliada, das condições
climáticas e da experiência do perito. O
pó pode ser aplicado com o auxílio de um
pincel com cerdas macias, spray de
aerossol e aparato eletrostático
Vapor de Iodo
O iodo tem a capacidade de sublimar, para isso
necessita absorver calor. O vapor gerado por essa
mudança apresenta a coloração marrom amarelada.
O princípio da técnica de revelação utilizando o vapor
de iodo está relacionado a essa mudança de estado.
Coloca-se o material a ser examinado em um saco
plástico selado junto a cristais de iodo. Agita-se o
saco, movimento suficiente para gerar calor no
microambiente. Ocorre, dessa forma, a sublimação e
o vapor reagem com a impressão digital latente por
meio de uma absorção física.

É uma técnica extremamente simples e indicada para


avaliação de pequenos objetos. Apresenta a
vantagem de não danificar o vestígio, portanto, pode
ser realizada antes de outras técnicas.
Nitrato de Prata
É uma técnica bastante utilizada e baseia-se na reação do nitrato de prata com os
íons cloreto presentes nas secreções do suor e consequentemente nas impressões
digitais.

O princípio da técnica consiste em imergir a superfície a ser analisada em um


recipiente contendo solução 5% de nitrato de prata (AgNO3(aq)) por 30 segundos.
O cloreto de prata (AgCl(ppt)) originado é insolúvel em água, ou seja, é um
precipitado. Após esse procedimento, a superfície deve ser colocada em câmara
escura para secagem. Depois, deve ser deixada ao sol para que o íon prata seja
reduzido à prata metálica, revelando a impressão digital sob um fundo negro. Deve-
se fotografar a impressão digital antes que toda a superfície escureça.
Ninidrina
A ninidrina é uma substância que apresenta afinidade por compostos orgânicos
como proteínas e aminoácidos. O princípio é o seguinte: é feita uma solução de
0,5 g de ninidrina com 30 ml de etanol. Deve-se borrifar a solução na superfície a
ser analisada, sempre mantendo uma distância de segurança de
aproximadamente 15 cm. Esse procedimento deve ser repetido o número de
vezes necessárias para a visualização da impressão.

A impressão, caracterizada pela cor púrpura, só aparecerá quando a superfície


estiver completamente seca.
Sangue
Quanto à presença de sangue na cena de um crime há três situações possíveis de
ocorrer:

I) O sangue/mancha de sangue encontra-se visível;

II) O sangue/mancha de sangue encontra-se invisível;

III) O sangue /mancha de sangue foi removida pelo criminoso, portanto,


considerada também invisível.

O tipo de mancha de sangue deixada como vestígio vai depender do tipo de


ferimento em questão
Testes colorimétricos presuntivos
1. Reagente de Kastle-Meyer
A amostra de sangue coletada deve ser macerada
com 1 ml de água destilada ou hidróxido de amônio
concentrado. Duas gotas do macerado são
colocadas em um tubo de ensaio junto com duas
gotas do reagente e duas de peróxido de hidrogênio
a 5 %.

Reagente de Kastle-Meyer:
• 0,1 g de fenolftaleína;
• 2,0 g de hidróxido de sódio (sob a forma
de pellet);
• 2,0 g de pó de zinco metálico;
• 10 ml de água destilada.

Caso a amostra contenha sangue, haverá a decomposição do peróxido em água e


oxigênio. O oxigênio liberado promoverá a mudança de cor da fenolftaleína. É essa
mudança de cor que evidencia ao perito que a amostra contém sangue. É um teste
de sensibilidade de 1/1.000.000.
2. Reagente de Adler- Ascarelli ou Benzidina

A amostra coletada deve ser macerada em 1 ml de água destilada ou ácido


acético glacial. Colocam-se duas gotas do macerado em um tubo de ensaio
juntamente com duas gotas do reagente e duas de peróxido de hidrogênio. Caso
a amostra contenha sangue, o oxigênio liberado irá oxidar a benzidina fazendo
com que haja o aparecimento da coloração azul.

A sensibilidade desse teste é de 1/ 2.000.000.


3. Reagente de Luminol

O luminol produz uma reação quimioluminescente em solução básica quando em


contato com o sangue. A vantagem da utilização do luminol é que ele é capaz de
reagir com quantidades ínfimas de sangue, mesmo se já tenha passado longos
períodos ou se tenha sido realizada a remoção prévia pelo criminoso. A
sensibilidade do teste pode chegar a 1/ 1.000.000.000.

Hoje, há kits especiais no mercado facilitando a vida dos peritos na revelação de


manchas de sangue.
Reações confirmatórias

Cristais de Teichmann

Os cristais de Teichmann são a forma química particular da heme, cujo átomo de


ferro está oxidado. São cristais rômbicos ou prismáticos, isolados ou agrupados de
cor castanho-escuros. Podem formar-se no sangue quando adicionado um reagente
de Bertrand, assim confirmam que a amostra é sangue.

É visto em lâmina ao microscópio

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