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EDIÇÃO 47 - ESPECIAL

Out. / Nov. 2019


Fechamento autorizado
Pode ser aberto pela ECT

ADANA OMÁGUA KAMBEBA

CANTO DE
ALERTA

A ativista do movimento
indígena faz defesa da
natureza, em palestra e canto,
no XII Congresso Brasileiro
de Direito das Famílias
e Sucessões do IBDFAM

MATÉRIAS ENUNCIADOS
O XII Congresso Brasileiro de Direito das Famílias e Aprovados novos 10 Enunciados do IBDFAM. Eles
Sucessões reuniu cerca de 1.500 pessoas, entre os dias servem de diretriz para a criação doutrinária e
pág. 5 16 e 18 de outubro, em Belo Horizonte. Tema: “Famílias e pág. 15 referência jurisprudencial no Direito brasileiro das
Vulnerabilidades”. Confira algumas das palestras desta Famílias e das Sucessões.
edição.
1
"É ESSENCIAL A GARANTIA DE UM
MEIO AMBIENTE CULTURAL SAUDÁVEL"
Com indumentária típica de seu A Constituição de 1988 representou
povo, a ativista do movimento indíge- grande avanço nessa luta, quebrando
na e estudante de medicina Adana a figura de tutela para garantir às po-
Omágua Kambeba (AM) emocionou o pulações indígenas sua autonomia, o
público presente ao levar ao palco o respeito às especificidades culturais, o
questionamento “Famílias indígenas: reconhecimento dos territórios tradi-
quais são as vulnerabilidades?”. Em cionais e o usufruto deles.
sua palestra, ela traçou um panorama
dos avanços na luta dos povos indíge- Apesar de alguns avanços, Adana
nas ao longo da história do Brasil, des- elencou conflitos iminentes em ter-
de o período colonial até a contempo- ritório brasileiro, como o dos povos
raneidade, bem como os retrocessos Guajajaras e Awá contra as madeirei-
imputados a essa população desde a ras. “O avanço das motosserras, de-
chegada dos europeus, há mais de 500 vastando florestas e provocando alte-
anos, até os dias de hoje. rações drásticas nos modos de vida,
tem levado muitos à morte”, alertou a
Adana, nascida do povo Kambeba, palestrante. Aos profissionais do Direito, Adana
do Amazonas, ressaltou a criação, atentou ao princípio da dignidade da pes-
já na Nova República, do Serviço de Ela ressaltou, entre os principais soa humana no trato com as populações
Proteção ao Índio – SPI, cuja linha problemas enfrentados pelos povos in- indígenas. É essencial a garantia de um
de assistência inoportuna perdurou dígenas, na atualidade, o crescimento meio ambiente cultural saudável, ade-
por muitas décadas. “O ordenamento das cidades, a seca, o confinamento a quado para o desenvolvimento autôno-
jurídico da época nos via como rela- microterritórios, a ausência de condi- mo. O meio ambiente físico, defendido
tivamente incapazes, o que colabo- ções de plantio, além da discrimina- constitucionalmente, também deve ser
rou para que fosse estabelecida uma ção e dos conflitos com fazendeiros, respeitado.
figura jurídica de tutela”, explicou a posseiros, mineradoras e madeireiras,
palestrante. que têm levado a genocídios. Ao final da palestra, ela entoou Cora-
ção da Mãe Natureza (Kaá Piá), um canto
Na década de 1970, foi criada “A demarcação das terras indígenas em tupi, de sua autoria (melodia e com-
Fundação Nacional do Índio – FU- deveria ser prioridade como estratégia de posição), sobre a relação do povo indígena
NAI, que amenizou danos causados enfrentamento, mas é tratada de forma com as terras nativas: “Yasendú, yasendú
pelo SPI. Também foi promulgada a morosa. Há necessidade de mais espaço kaá upurungitá uikú/Ixé amanu putari/Ixé
Lei n. 6.001/73, conhecida como o de diálogo para chegar a uma convergên- amanu ramé, panhé pemanu se irumu”.
Estatuto do Índio. “A relação do Esta- cia tanto na compreensão e elaboração
do com as famílias indígenas ainda é de programas que valorizem e respeitem Confira a tradução para o português:
de paternalismo e tendencionismo, as especificidades dos povos indígenas “Escutemos, escutemos/ A Mãe Natureza,
mesmo o Estatuto do Índio preven- quanto para alcançar um caminho para que está falando/ Eu não quero morrer/ Eu
do a integração dos povos indígenas efetivação da inclusão das famílias in- não quero morrer/ Eu não quero morrer/ Eu
com a população não indígena”, ob- dígenas e atendimento de suas deman- não quero morrer/ Se eu morrer, vocês to-
servou Adana. das”, afirmou. dos morrerão comigo”.
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