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Tradutor: Julia Yada

Revisor: Maurício Kakuei Tanaka

Minha história começa em Moscou.

Eu tinha 15 anos.

Meu melhor amigo e eu fazíamos parte


de um grupo de ocidentais

visitando a União Soviética.

Isso foi em 1987,

alguns anos antes da queda


do regime comunista.

Nos designaram um guia de turismo oficial.

O passeio começaria pela manhã,

e fizemos o check-in no hotel


para aquela noite.

Meu amigo disse:

"Vamos sair e dar uma olhada na cidade".

Achei uma ótima ideia.

Ideia idiota.

Pegamos os casacos, driblamos


a segurança e saímos para a rua.

Encontramos a entrada do metrô.

O sistema de metrô de Moscou


é o mais profundo do mundo.

Levamos um minuto
para descer a escada rolante.

Lá embaixo, na estação, meu amigo


foi direto para um trem parado.

Puxei-o pra trás e disse: "Espere!

Vamos anotar o nome da estação


para saber como voltar".

Eu tinha um bloco de papel,

em que escrevi as letras da estação.

Entramos no trem e ficamos mudando


de um trem para outro sem pagar.

Foi divertido porque...


bem, na verdade, foi estranho.

Havia muita gente, provavelmente


voltando do trabalho,

todos vestindo roupas cinza e marrom,

muitíssimo diferente
do que usávamos em nosso país.

As estações eram lindas.

Havia estações com estátuas,


pinturas nas paredes

e painéis de vidro.

Era realmente como um museu.

Nunca teríamos imaginado aquilo.

E tudo era perfeitamente limpo.

Bem,

mas era esquisito que as pessoas


não se falavam,

e parecia que todos nos olhavam,


o que achamos estranho.

Depois de 20, 30 minutos,


já queríamos ir para casa.

Mostrei minha anotação à uma pessoa,


que apontou para um lugar.

Lá o mostrei a outra pessoa,

que apontou para outro lado.

E uma terceira pessoa apontou para o lado.

Foi meio confuso.

Ah, então, eu vi, em cima


das escadas, o sinal.

Eu tinha escrito a palavra


em russo para "saída".

(Risos)

Então, subimos a escada e pegamos um táxi.

Aquilo foi ótimo.

Dissemos ao motorista: "Intourist Hotel",


e ele estava disposto a nos levar.

Lembro-me de estar sentado ao lado


do motorista e lhe entregar 50 rublos.

Ele me olhou e disse:

(Russo) Não, dólar!

(Risos)

Cinquenta dólares?

Sei lá, acho que era umas 20 vezes mais


do que aquele valor.

Não tínhamos escolha.

Então, descemos do táxi.

Ele foi embora e nos deixou lá plantados.

Era uma noite fria,

e tudo era estranho para nós.

Éramos adolescentes.

Estávamos bem nervosos,


sem saber o que fazer.

Começamos a caminhar.

Andamos até o final do quarteirão.

Viramos a esquina.

À nossa frente, a uns 180 metros,


lá estava o Intourist Hotel.

(Risos)

Bem, essa experiência


me afetou de duas maneiras.

Primeiro, toda vez que ouvia


alguém falando russo,

eu me encolhia.

(Risos)

Segundo, isso me ensinou a importância

de saber a língua local quando se viaja.

Na verdade, isso me levou a aprender


mais quatro línguas fluentemente
nos anos seguintes.

Agora, antes de prosseguir,


gostaria de saber da plateia...

Podem iluminá-la um pouco?

Gostaria de saber quem...

Levante a mão quem não é


falante nativo de inglês.

Deve ser uns 99%.

(Risos)

Alguém que não fale inglês, levante-se!

(Risos)

Certo, posso presumir

que todos aqui já passaram


pelo processo de aprender uma língua.

Alguém aqui fala três ou mais línguas?

Uau, talvez 70%.

Quatro ou mais línguas, alguém?

Ainda é bastante.

Alguém fala cinco ou mais línguas?

Venham falar comigo no intervalo.

(Risos)

Para mim, aprender uma língua é...

como um baralho sobre a mesa


com as cartas viradas para baixo.

Conforme vamos aprendendo e entendendo,


as cartas vão sendo viradas.

Não há um padrão para classificar isso.

Mas, conforme se aprende,


vamos alcançando níveis.

O primeiro seria quando 25% das cartas


estiverem voltadas para cima.

Você alcançaria o nível básico.

Nesse nível, você tem um vocabulário


básico e alguma gramática,

consegue manter conversas simples

e se comunicar um pouco.

E seu estudo continua até atingir


o ponto mágico da fluência,

que é ser fluente em uma língua.

E o que significa ser fluente


em uma língua?

Significa que você virou


mais de 50% das cartas do baralho,

e esse é o nível

em que a língua torna-se parte


de seu subconsciente.

Então, mesmo que não use o idioma


por dez anos ou mais,

você não se esquecerá dele.

Poderá voltar a falar novamente


em pouco tempo.

Esse é o nível em que você


pensa usando o idioma

e fica confortável comunicando-se nele.

Alguns avançam mais até dominar o idioma.

Nesse nível, você conhece


a literatura clássica de outra língua

e talvez tenha um conhecimento


profundo em áreas específicas.

Em geral, isso é alcançado


no nível acadêmico.

Para mim, quando aprendi


minha primeira língua estrangeira,

tive uma vantagem,

porque minha mãe fala alemão,


e meu pai é americano.

Quando eu era bebê, não entendia

que meus pais falavam línguas diferentes.

Mas, quando tinha dois anos,


matei a charada.

As mulheres só falavam alemão.

(Risos)

E os homens só falavam inglês.

(Risos)

Pensem como era divertido


quando eles me apresentavam a casais.

(Risos)

Na verdade, ser bilíngue foi muito útil


no aprendizado de minha primeira língua.

Isso realmente ajudou.

Mas isso também me deu algo mais:

duas identidades e a habilidade


de alternar entre elas.

Quando se é falante nativo


em mais de uma língua,

então,

sua personalidade, humor e valores

mudam quando você troca o idioma.

Isso pode ter vantagens enormes.

Alguns estudos mostram maior habilidade


na resolução de problemas,

ou até mesmo uma maior


resistência ao Alzheimer.

Mas o que mais me interessa

é que me trouxe muitos benefícios sociais.

Quando se é um falante nativo,

você se sente em casa


entre os nativos ou na cultura,

e também os nativos
o aceitam como um deles.

Isso é relevante apenas


para os falantes nativos?

Essa é a grande questão.


Mas não seria legal se aprender
uma língua estrangeira

pudesse nos dar outra identidade

e nos permitir aproveitar


os benefícios sociais de um nativo,

que vão além das habilidades


de comunicação?

Bem, foi o que aconteceu comigo.

Consegui fazer isso

e, por meio de minha experiência,


quero mostrar como é possível.

Então, se esta área verde


é o nível do falante nativo,

a primeira coisa a se observar


é que, para chegar até a fluência,

não há nenhum atalho.

Existem alguns métodos que se pode usar,


como o "Burrito Principle",

que identifica 20% dos materiais


de estudo mais eficazes.

Existem aplicativos como lições


com repetições espaçadas,

que aumentam a retenção de vocabulário.

Economizam tempo,

mas, no final, não tem jeito,


precisa estudar, praticar

até atingir o nível de fluência.

A segunda coisa para observar

é que o processo para ir da fluência


até o domínio é muito mais lento,

e proporcionalmente requer mais esforço.

Por isso, a maioria das pessoas para


ao atingir a fluência.

Elas falam inglês suficientemente bem

e nem tentam se aventurar adiante,


e eu consigo entender isso.
Mas a boa notícia

é que, para obter benefícios


de um falante nativo, no nível de um,

você não precisa passar pelo nível


de domínio, no sentido acadêmico.

Na verdade, pode pular toda essa etapa.

Então, se pensar sobre isso,

muitos falantes nativos


não têm conhecimento profundo

de áreas especificas
ou vocabulário sofisticado.

Ou seja, isso realmente não é mandatório.

Então, como fazer? O que é necessário?

Bem,

quero apresentar as três áreas


que devem ser focadas

quando você está aprendendo


e interagindo com falantes nativos.

Primeiro: trabalhe na eliminação


de seu sotaque.

Eu sei que disse eliminação.

Deve ser, pelo menos, minimizar o sotaque.

Na minha opinião, esse é o aspecto


mais negligenciado hoje

quando se aprende uma língua,

mas também é o mais importante

para atingir o nível de um falante nativo


ou o semelhante a de um nativo.

Se você se comunicar
sem sotaque ou quase sem,

isso muda o comportamento


dos nativos, inconscientemente,

e fornece a capacidade de você


se adaptar a uma nova autoimagem.

A melhor forma que encontrei


para melhorar a pronúncia
é o que chamo de técnica
da frase perfeita.

Você precisa achar


um falante nativo para ajudá-lo,

pegar um livro na língua estrangeira,

abrir uma página aleatoriamente


e ler a primeira frase.

Em seguida, peça ao nativo que avalie:

se seu sotaque é carregado,


leve ou inexistente.

Então, o nativo lê a frase para você.

Você deve ouvir com atenção

e repetir esse processo


até que o nativo diga

que não está mais ouvindo um sotaque


quando você lê a frase.

Percebi que isso leva muito tempo,

mesmo para obter


uma única frase sem sotaque.

Mas garanto que, se você insistir


e trabalhar com paciência,

ficará surpreso com seu sotaque.

A segunda área de foco

é usar verbos e expressões


que os moradores locais usam.

Todos sabemos que o vocabulário


pode ser específico por região.

Nos EUA, usa-se "stand in line".

No Reino Unido, é "queue".

Está tudo certo.

Mas, às vezes, a palavra é tão diferente,

a fala é tão diferente


dos livros didáticos

que eles são quase inúteis


quando se quer conversar com nativos.

Vou dar um exemplo.


Em francês, há palavras como "le travail",

que significa "meu trabalho".

Um francês, conversando
com um amigo, diria "mon boulot",

o que é completamente diferente.

O mesmo para "as roupas",


"le vestments",

mas que você ouviria "le fringues".

Ou dinheiro, que é "I'argent",

mas que as pessoas dizem "le fric",


"le sou", ou muitas outras expressões.

Naturalmente, isso é só
a ponta do iceberg.

Mas você precisa mesmo aprender

cada uma dessas palavras e expressões

e, claro, interagir com nativos.

Após alcançar uma massa crítica


que faça você se sentir confiante,

ficará mais fácil quando você


encontrar algo novo.

Você pegará rápido,


como um falante nativo faz

quando ouve palavras ou expressões novas.

A terceira área de foco

é adotar traços culturais.

O que quero dizer com isso?

Deixem-me perguntar:

o que significa esse gesto?

Há algum italiano aqui?

(Risos)

Está bem, dependendo


de sua cultura original,

isso pode significar algo grosseiro,


ou apenas algo incrédulo,

como: "Por que você fez isso?",

ou: "Como pôde fazer isso?",

ou pode ser só um sinal


para comida: "Me dê comida!"

Interessante!

No Oriente Médio, é uma forma


padrão para sinalizar:

"Por favor, espere!"

Você precisa internalizar


esses tipos de traços culturais.

Às vezes, são difíceis de identificar.

Leva muito tempo ouvindo com atenção.

Vou dar mais alguns exemplos.

Imaginem que estou com três amigos:


um americano, um alemão e um francês.

Estamos andando,
e o americano bate a cabeça,

e a reação dele poderia ser: "Ouch!"

É como se fala em inglês.

Mas o alemão, que, sei lá,


leva uma cotovelada,

poderia dizer: "Ow-ah!"

(Risos)

E o francês poderia pisar


num prego e dizer: "Ay!"

(Risos)

Isso, claro, em seu próprio idioma,

é algo que você precisa observar


e também internalizar,

e tem que se tornar parte de você.

Estou sentado de novo


com esses três amigos.

Digamos que eu sirva um chá


e pergunte ao americano:
"Quer um chá com bolachas?"

Ele pode responder


de forma afirmativa: "Uh-huh!"

Posso perguntar ao alemão:


"Que tipo de chá é esse?"

Ele irá dizer: "Mm- hmm!"

(Risos)

Então, pergunto ao francês:


"Você gosta disso?"

Ele responde: "Hmm!"

(Risos)

São essas coisas que exigem um bom ouvido.

Todas essas três coisas que falei:

a pronúncia,

a fala coloquial e os traços culturais,

todas requerem que você interaja


o máximo possível com nativos.

O ideal seria mergulhar na cultura.

Se você tiver a chance de morar


fora do país, seria ótimo;

ou viver entre nativos


em sua cidade natal;

talvez namorar alguém;

ou passar um tempo
com colegas de trabalho.

Eu poderia dar uma palestra


inteira sobre namoros.

(Risos)

Funciona muito bem para essas coisas.

Seria diferente para cada um, claro.

Mesmo longe de nativos,


seus estudos não devem parar.

Você pode assistir


a programas de TV e filmes,
imitar os personagens,

anotar palavras que nunca ouviu antes

e praticar.

Também quero incentivá-los


a aprender as letras das músicas.

As músicas são ótimas,


pois contam histórias.

Elas não só ajudam na pronúncia


quando você canta,

mas, se forem emotivas,

podem fixar as expressões


no vocabulário que você usa.

É como se você falasse o dia todo


usando inconscientemente as expressões.

É uma ótima forma.

Ouça música, com certeza.

Outra coisa que você precisa fazer


para alcançar o status de falante nativo

é ter a mentalidade correta

e acreditar que, se você falar


sem sotaque como um nativo,

se expressar como um nativo,

falar e agir como um nativo,

realmente alcançará esse nível.

Então, se eu fosse deixar


só uma mensagem para vocês,

eu diria: trabalhem em sua pronúncia,

porque ela

ajuda em qualquer etapa


do processo de aprendizagem,

mesmo no início.

Vai acelerar tudo.

E também é a chave para atingir


o nível de falante nativo,

ou o status de quase falante nativo.


Antes de ir embora,

gostaria de contar como superei


meu medo pelo idioma russo.

Foi uma solução muitíssimo elegante.

Casei-me com uma russa.

(Risos)

Agora tenho crianças em casa


falando russo comigo todos os dias.

(Risos)

Gostaria de agradecer a vocês.

(Aplausos)

Antes de ir, quero desejar:

(Espanhol) Muito sucesso


em seus estudos de línguas.

(Francês) Foi um prazer


me apresentar para vocês hoje.

(Hebraico) Desejo muito sucesso


em seus estudos.

(Alemão) Obrigado por ouvirem.

Boa sorte a todos e...

(Russo) Obrigado.

(Aplausos)

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