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Osvaldo Simão Chirute

Plano Curricular da disciplina de Português – 10ª Classe

Mestrado em Educação/Currículo

Universidade Save

Massinga

2023
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Osvaldo Simão Chirute

Plano Curricular da disciplina de Português – 10ª Classe

Projecto de Plano Curricular apresentado à


Faculdade de Educação e Psicologia como
requisito parcial de avaliação no Módulo VIII –
Saberes e Poderes Curriculares.

A docente:

Prof.ª Doutora Isabel Vilanculo

Universidade Save

Massinga

2023
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Índice

1. Notas introdutórias .............................................................................................................. 3

1.1. Princípios orientadores do currículo ............................................................................ 4

2. Objectivos gerais da disciplina de Português na 10.ª Classe............................................... 5

3. Perfil de saída ...................................................................................................................... 5

4. Plano Temático da disciplina de português, 10.ª Classe ..................................................... 6

5. Abordagem transversal ........................................................................................................ 9

5.1. Projecto “Fala comunidade” ........................................................................................ 9

6. Avaliação........................................................................................................................... 10
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1. Notas introdutórias
Derivado do latim curriculum, o termo Currículo designou inicialmente um plano de estudos
imposto aos professores para que o ensinassem aos alunos 1. Nesta perspectiva, por um longo
período, o currículo foi tomado unicamente como uma área técnico-pedagógica, ocupada em
definir conteúdos, procedimentos e métodos. Em Silva (1999, p. 12) pode-se ler que nesta época
“o currículo é visto como um processo de racionalização de resultados educacionais, cuidadosa
e rigorosamente especificados e medidos. O modelo institucional dessa concepção de currículo
é a fábrica,” onde os alunos são a matéria-prima a ser moldada em adultos, os professores são
operários da fábrica, o director é visto como patrão, e os supervisores como capatazes.

No entanto, dada a abrangência da sua influência, o currículo deixou de ser analisado como
simples área técnica pedagógica, e passou a ser estudado considerando também questões
identitárias, culturais, sociológicas, político-ideológicas, económicas, epistemológicas, etc., tal
como se pode testemunhar em Moreira & Silva (2002):

O Currículo não é mais um elemento neutro de transmissão desinteressada de


conhecimentos, estando agora implicado em relações de poder, produzindo identidades
sociais particulares e interessadas. O currículo (…) é vinculado a formas específicas e
contingentes de organização da sociedade e da educação.

Na sua obra Documentos e Identidades, Tomaz Silva percorre a história do currículo até
desaguar nas Teorias Pós-Críticas, fazendo uma abordagem suficientemente aprofundada sobre
a forma como o currículo dialoga com as categorias de identidade, alteridade e diferença. Nesta
obra pode-se ler que as teorias pós-críticas defendem o reconhecimento da pluralidade cultural
e diversidade humana, sendo mais problematizadoras no concernente aos processos de
dominação social, discutindo aspectos da dominação e opressão outrora apagados, tais como
nas relações de poder materializadas na distinção social, econômica, étnica, cultural, de gênero
e de sexualidade.

Após debruçar-se sobre os conceitos acima arrolados e a sua relação com o currículo, Silva
(1999) termina sentenciando que: “o currículo é lugar, espaço, território. O currículo é relação
de poder. O currículo é trajetória, viagem, percurso. O currículo é autobiografia (…). O
currículo é texto, discurso, documento. O currículo é documento de identidade” (p. 150).

Com base no exposto até aqui, pode-se depreender que o currículo é uma expressão de poder
na medida em que a sua construção compreende a seleção e exclusão de saberes de acordo com

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Sacristán (2013).
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o tipo de sujeito que se pretende formar, e para que sociedade; e ao mesmo tempo, os saberes
selecionados para abordagem nas instituições formais de ensino, ao formarem um tipo
específico de sujeito também estão construindo identidades particulares e colectivas.

No contexto do módulo Saberes e poderes Curriculares ministrado no âmbito do Mestrado em


Educação/Currículo que decorre na UniSave, surgiu-nos a necessidade de esboçar um currículo
que considere a diversidade identitária e cultural característica do nosso país. Sendo assim,
decidimos desenvolver a seguinte proposta curricular baseada nos princípios e características
propostos por Zabalza (2000).

1.1. Princípios orientadores do currículo

➢ Sociabilidade e relação com os recursos locais

Este princípio parte do pressuposto de que a escola tem um mandato social com a comunidade
na qual está inserida, por isso não deve ser vista como um edifício no meio do território, mas
sim como uma agência cultural à disposição do tal território. A escola deve deixar de se
constituir como uma estrutura institucional acabada, fechada e sempre igual, posta em qualquer
lugar; deve ser, pelo contrário, a escola de tal localidade, bairro ou lugar.

Neste sentido, desafiámo-nos a propor um projecto curricular que irá possibilitar a edificação
de uma escola que esteja a serviço da comunidade em que estará inserida, e que se sirva dos
recursos locais para o seu funcionamento.

➢ Selectividade e consensualidade

Este princípio assenta-se no pressuposto de que o currículo precisa pautar pela busca incessante
de consensos na selecção dos conteúdos a serem abordados na sala de aulas, através do
dinamismo e da dialéctica, o que poderá acomodar cada situação. Desta feita, o currículo
converte-se num espaço de comunicação-negociação social onde todos têm voz (professores,
alunos, pais, comunidade, etc.).

Baseados neste princípio, desafiámo-nos a propor um projecto curricular flexível, que permita
integrar saberes locais na sua grelha de conteúdos por forma a se tornar ainda mais relevante
localmente.
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2. Objectivos gerais da disciplina de Português na 10.ª Classe


➢ Usar a língua portuguesa como veículo de aquisição e desenvolvimento de
conhecimentos gerais, técnicos e científicos;
➢ Desenvolver e consolidar a capacidade de expressão e compreensão oral, visando a
construção e interpretação de discursos de natureza diversa e a adequação do discurso
às várias situações de comunicação social;
➢ Desenvolver as habilidades de leitura, tendo em vista a consolidação da capacidade de
compreensão escrita, de forma autónoma e livre, sabendo reconhecer as regras de
construção dos vários tipos de texto;
➢ Desenvolver as habilidades de escrita, garantindo a coerência e coesão e revelando o
domínio das regras de textualização e de funcionamento da língua;
➢ Desenvolver e consolidar os aspectos de funcionamento da língua necessários à reflexão
sobre as suas propriedades e regras, assim como ao aperfeiçoamento das competências
linguística e comunicativa, oral e escrita;
➢ Desenvolver hábitos de pesquisa e estudo independente na área da língua, que habilitam
para a busca de soluções para dúvidas surgidas na actividade estudantil e futura
actividade profissional.

3. Perfil de saída
Quanto às competências na disciplina de português, o graduado da décima classe …

➢ Interpreta textos orais e escritos de natureza diversa;


➢ Expressa-se oralmente e por escrito, de forma lógica, estruturada, criativa e espontânea,
em diferentes circunstâncias da vida quotidiana, social, económica e política;
➢ Aplica as regras de organização e funcionamento da língua em diferentes situações de
comunicação;
➢ Pesquisa informação em língua portuguesa recorrendo a materiais bibliográficos e às
tecnologias de informação e comunicação;
➢ Interpreta obras literárias de escritores moçambicanos, dos países africanos de língua
oficial portuguesa (PALOP) e da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP),
visando a criação da sensibilidade estética e gosto pela leitura;
➢ Usa expressões adequadas para argumentar e defender os seus pontos de vista sobre
temas diversos de interesse social, económico e político.
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4. Plano Temático da disciplina de português, 10.ª Classe

Textos normativos

Conteúdos Objectivos Competências

Regulamento Interno da Conhecer a estrutura dos Conhece as regras e


Escola; textos normativos; normas que regem o
funcionamento da sua
Regulamentos de Jogos Reconhecer a importância
escola, comunidade e/ou
Locais; dos textos normativos na
país;
convivência harmoniosa em
Lei da Família;
sociedade; Produz textos normativos.
Constituição da República
Propor artigos a serem
de Moçambique;
acrescidos nos textos
Lei eleitoral;
normativos abordados na
… sala de aulas.

Notas para o professor

É importante que nesta unidade temática os textos a serem abordados estejam


hierarquizados, ou seja, dos mais locais aos mais globais, evitando assim situações em que
a turma aborda, por exemplo, a Declaração Universal dos Direitos Humanos antes mesmo
de estudar os direitos e liberdades fundamentais plasmados na Constituição da República de
Moçambique.

Textos literários

Conteúdos Objectivos Competências

Conto; Identificar textos Recita textos literários por


literários; si conhecidos;
Fábula;

Romance; Enquadrar textos literários Produz diferentes gêneros


nos respectivos gêneros; de textos literários.
Lenda;
Reconhecer a literatura Intervém socialmente
Mito;
como uma arte e cultura de através da produção literária.
Poesia um povo.
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Notas para o professor

O presente plano curricular não prescreve os textos específicos a serem abordados nesta
unidade temática, entretanto, recomenda-se que se paute pela leitura e interpretação de
escritores locais e contemporâneos, já que na sua maioria abordam nos seus textos
temáticas da actualidade. Também se deve considerar fortemente a possibilidade de se ler e
interpretar textos literários escritos nas línguas locais.

Textos administrativos

Conteúdos Objectivos Competências

Carta; Discriminar a estrutura Faz gestão burocrática da


dos diferentes textos sua vida escolar (requerer
Currículo Vitae;
administrativos; transferências, relevação de
Requerimento;
faltas; convocar reuniões de
Conhecer os objectivos e
Aviso; turma; comunicar-se com a
contextos de produção dos
Convocatória direcção da escola através de
diferentes textos
cartas; etc.).
Acta; administrativos.

Notas para o professor

Os manuais escolares aprovados pelo Ministério de Educação e Desenvolvimento Humano


já sugerem alguns textos administrativos a serem lidos e interpretados nesta unidade
temática, no entanto, o professor não está vedado de buscar outros textos de outras fontes,
desde que a sua qualidade seja devidamente apurada nos encontros dos grupos de
disciplina.

Textos jornalísticos

Conteúdos Objectivos Competências

Notícia; Distinguir os textos Informa-se através dos

Publicidade; jornalísticos dos demais textos jornalísticos;


através dos seus objectivos; Produz textos jornalísticos
Entrevista;
Identificar e caracterizar respeitando as características
Reportagem;
os diferentes tipos de textos de cada texto.
Artigo de opinião. jornalísticos.
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Notas para o professor

Na actualidade, quase que todas as comunidades possuem rádios comunitárias. Sendo


assim, sugere-se que o professor explore a produção jornalística local como material
didáctico para a abordagem deste conteúdo, seja para dele aprender ou a ele criticar.

Textos didáctico-científicos

Conteúdos Objectivos Competências

Texto expositivo- Distinguir o texto Produz textos didáctico-


explicativo; expositivo explicativo do científicos;
expositivo argumentativo;
Texto expositivo- Expressa a sua opinião de
argumentativo. Interpretar textos forma lógica e coerente
didáctico-científicos. através dos textos
expositivo-argumentativos.

Notas para o professor

Nesta unidade temática o professor deverá optar por textos que abordam assuntos mais
próximos do aluno, como por exemplo um texto expositivo-explicativo sobre a calamidade
natural que mais assola a comunidade em que estiver inserida a escola (sismos, secas, cheias,
desflorestamento, erosão, etc.).

Funcionamento da língua

Conteúdos Objectivos Competências

Categorias gramaticais Dominar o léxico da Produz discursos coesos e


(substantivos, verbos, língua portuguesa; coerentes, respeitando a
preposições, advérbios, norma culta da língua
Classificar sitáctica e
adjectivos, conjunções, portuguesa;
morfologicamente as
interjeições, numerais, palavras; Associa as regras de
artigos, pronomes); realização discursiva da
Comunicar-se
Morfologia (processos de língua portuguesa à sua
fluentemente na língua
formação de palavras); língua local e ensaia a
portuguesa.
construção da gramática da
Sintaxe (concordância
sua língua local.
nominal e verbal)
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Notas para o professor

A abordagem dos aspectos gramaticais deve estar sempre relacionada às ocorrências


discursivas observáveis na comunidade. O professor deve optar fortemente pela
aprendizagem a partir do erro, levando, assim, o aluno a aprender não só as regras
gramaticais, mas também a incrementar a sua competência linguística e comunicativa.

Em vários aspectos, as regras gramaticais da língua portuguesa também são aplicáveis às


línguas do grupo Bantu. Sendo assim, é de vital importância que o professor estabeleça
sempre que possível alguma ponte entre a gramática da língua portuguesa e a das línguas do
grupo Bantu com vista a salvaguardar o valor das línguas nacionais e tornar a escola mais
relevante linguística e culturalmente, uma vez que a língua e a cultura são indissociáveis.

5. Abordagem transversal
A transversalidade apresenta-se no presente currículo como uma estratégia de desenvolvimento
integral e harmonioso do indivíduo. Com efeito, toda a comunidade escolar é chamada a
contribuir na formação dos alunos, envolvendo-os na resolução de situações parecidas com as
que se vão confrontar na vida.

5.1. Projecto “Fala comunidade”

A abordagem transversal dos conteúdos visa essencialmente tornar o ensino mais


contextualizado à realidade local, pelo que surge a necessidade de um engajamento total da
comunidade em sugerir temáticas relevantes para abordagem na sala de aulas. Dependendo das
características particulares de cada comunidade, os conteúdos podem estar relacionados à
criminalidade; consumo de drogas; criminalidade; saúde sexual e reprodutiva;
(des/re)florestamento; desastres naturais; patriotismo; democracia; exploração consciente de
recursos naturais, florestais e marinhos; educação moral e cívica; etc.

Neste contexto, o presenta projecto curricular sugere que se crie, ao nível da escola, uma
plataforma concreta e desburocratizada de interação com a comunidade, que irá permitir que
qualquer membro da comunidade escolar (alunos, professores, direcção, pais e/ou encarregados
de educação) possa, a qualquer momento, reivindicar de forma ordeira a inclusão ou exclusão
dos saberes prescritos na grelha curricular.

Prevê-se que esta plataforma permita que o currículo escolar seja resultado de uma construção
conjunta de toda a comunidade escolar, o que poderá torná-la relevante e afastará qualquer
possibilidade de que se pense numa desescolarização da educação, tal como propõe Ivan Illich.
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6. Avaliação
A avaliação é um processo contínuo e sistemático; não pode ser esporádica e improvisada. Deve
ser realizada em função dos objectivos previstos. A avaliação deve desempenhar uma função
orientadora ao indicar os avanços e dificuldades do aluno, bem como nortear a prática
pedagógica do professor. A avaliação deve ser integral: considerar o aluno como um ser total e
integrado, julgando-o em todas as dimensões do comportamento; incidindo sobre os elementos
cognitivos, afectivos, e do domínio psicomotor (Libâneo 1990; Piletti 2004).

Com base non exposto acima, este projecto curricular recomenda uma avaliação que não se
limite apenas à medição e aplicação de testes, uma vez que estas técnicas de avaliação estão
mais ligadas às teorias tradicionais do currículo em que a educação era concebida numa
perspectiva fabril, e a aprendizagem era confundida com a simples memorização.

Desta feita, é imprescindível que no processo avaliativo, o professor busque interpretar dados
quantitativos e qualitativos para obter um parecer ou julgamento de valor, tendo como base
padrões e critérios. A avaliação deve ser usada como um meio para conhecer os alunos;
identificar as suas dificuldades de aprendizagem; determinar se os objectivos traçados para o
PEA estão sendo alcançados; aperfeiçoar o PEA.

Para tal, é importante que a avaliação do professor não se limite na aplicação de testes escritos.
É importante que este coloque o aluno diante de problemas reais cuja resolução requere a
aplicação das aprendizagens adquiridas. Em suma, testes práticos devem ser privilegiados em
detrimento dos meramente teóricos.
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Referências Bibliográficas

Gajardo, M. (2010). Ivan Illich. tradução e organização: José Eustáquio Romão. Brasil:
Fundação Joaquim Nabuco, Massangana.

INDE (2010). Português, Programa da 10.ª Classe. Maputo, Moçambique: MINED.

Libâneo, J. C. (1990). Didática. São Paulo, Brasil: Cortez Editora.

Moreira, A. F. & Silva, T. T. (Orgs.). (2002). Currículo, cultura e sociedade. (7.ªed.) São Paulo,
Brasil: Cortez.

Piletti, C. (2004). Didática Geral. (23ª ed.) São Paulo, Brasil: Editora Ática.

Sacristán, J. G. (Org.). (2013). Saberes e incertezas sobre o currículo. Brasil: Penso.

Silva, T. T. (1999). Documentos de Identidade: uma introdução às teorias do currículo). Belo


Horizonte, Brasil: Autêntica.

Zabalza, M. (2000). Planificação e desenvolvimento curricular na escola. 5ª ed. Lisboa,


Portugal: ASA Editores.

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