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Avaliação em

Estética
Heloísa Caires
BLOCO 1. INTRODUÇÃO À FISIOLOGIA RELACIONADA À ESTÉTICA
A fisiologia do corpo humano, entender como ocorrem processos metabólicos, como
as células reagem, quais as consequências e de que maneira ocorrem são de suma
importância para avaliar um cliente para a realização de tratamentos estéticos tão
como propor os melhores tratamentos possíveis dentro de cada quadro de cada
cliente.

1.1. Conceito de Saúde e Doença e características da Lesão Celular


A saúde significa estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e seu ambiente, é
bem-estar e energia. Corpo e mente em disposição significa ter saúde física e mental.
Conceito definido pela OMS em 2018: “a saúde é um estado de completo bem-estar
físico, mental e social e não apenas a ausência de doença ou enfermidade”.
Já a doença significa ter um conjunto de sinais e sintomas que afetam o ser vivo,
alterando seu estado normal de saúde, ou seja, é o oposto de saúde. São fatores que
causam alterações físicas ou mentais, estes fatores são exógenos ou endógenos.
Dentre as vertentes que estudam principalmente a relação da doença em seres vivos
temos a ciência médica, que estuda os seres humanos, a fitopatologia que analisa as
plantas e a medicina veterinária que estuda as manifestações em animais.
Então, quais são os fatores que levam às doenças? São muitos, mas podemos dizer que
os principais agentes causadores das doenças são os micro-organismos patogênicos; as
diferentes formas de energia (radiação, calor); a privação de proteínas, os fatores
genéticos têm influencia sob este aspecto e também os processos de defesa como a
inflamação, que podem representar uma forma de defesa do organismo.
Quando pensamos em doenças de pele ou afecções estéticas, devemos pensar
também em lesão celular, é a partir destas lesões que podemos entender melhor as
doenças que afetam nossa pele principalmente.
O interstício, onde estão localizadas nossas células, apresenta poucas alterações, pois
somos dotados de mecanismos capazes de proteger e regular as atividades vitais. Em

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algumas situações, como uma demanda por maior trabalho das fibras musculares,
pode ocorrer adaptação celular a esse meio hostil.
Estas adaptações podem ocorrer em situações normais como a gravidez (hiperplasia
dos ácinos mamários), menopausa (atrofia do endométrio) ou situações anormais,
como ocorre na hipertensão arterial, por causa do aumento da resistência vascular
periférica e que produz hipertrofia cardíaca.
O interstício pode ter modificações da substância fundamental amorfa e de fibras
elásticas, colágenas e reticulares, a partir daí é que podem ocorrer uma série e
modificações estéticas.
Quando há distúrbio da circulação ocorre um aumento, diminuição, cessação do fluxo
sanguíneo para os tecidos (hiperemia, oligoemia e isquemia), coagulação sanguínea no
leito vascular (trombose), aparecimento na circulação de substâncias que não se
misturam ao sangue e causam oclusão vascular (embolia), saída de sangue do leito
vascular (hemorragia) e alterações das trocas de líquidos entre o plasma e o interstício
(edema).
Caso o estímulo celular nocivo seja mais intenso ou mais prolongado, a capacidade
adaptativa da célula é excedida e ocorre lesão celular, que pode ser reversível ou
irreversível (caminhando para morte celular). Estas lesões celulares podem ser
classificadas em dois grupos:
 Lesão celular letal ou reversível: compatíveis com a regulação do estado de
normalidade após cessada a agressão;
 Lesão celular não letal: são representadas pela necrose e pela apoptose.
Conforme vimos o conceito de doença, as causas podem ser exógenas ou endógenas.
Ocorre o mesmo com a lesão celular e algumas das principais causas seriam:
1) Privação de oxigênio (hipóxia ou anóxia) ‒ asfixia, altitudes extremas.
2) Isquemia ‒ obstrução arterial.
3) Agentes físicos ‒ trauma mecânico, queimaduras, radiação solar.
4) Agentes químicos ‒ álcool, medicamentos, poluentes ambientais, venenos.
5) Agentes infecciosos ‒ vírus, bactérias, fungos.
6) Reações imunológicas ‒ doenças autoimunes, reação anafilática.
7) Defeitos genéticos ‒ anemia falciforme.

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8) Alterações nutricionais ‒ obesidade, má nutrição
As respostas da lesão celular são alterações metabólicas; alterações do apetite e do
sono, febre, dor, alterações na atividade fagocitária e modulação da resposta
imunitária.

1.2. Características Gerais da Inflamação Aguda


A inflamação aguda tem como objetivo principal a eliminação do agente agressor,
ocorrendo frequentemente destruição tecidual.
A inflamação aguda ocorre a partir de uma lesão tecidual, em seguida ocorre o
processo de inflamação aguda que em seguida o próprio corpo tende a se regenerar,
vindo em seguida a cicatriz ou a inflamação crônica caso não seja possível a
regeneração.
Os principais sinais da inflamação são calor, avermelhamento/rubor, inchação/edema;
dor; podendo levar até à perda da função do tecido ou órgão.
Os diferentes quadros inflamatórios dependem da quantidade predominante dos
seguintes elementos: exsudação, proliferação de células teciduais e necrose.
A inflamação aguda é a resposta inicial a lesão celular e tecidual, predominando
fenômenos de aumento de permeabilidade vascular e migração de leucócitos,
particularmente neutrófilos. Os fenômenos agudos, como o próprio nome diz, são
transitórios, havendo posteriormente a regeneração ou cicatrização da área envolvida,
ou cronicidade do processo se o agente agressor não for eliminado.

1.3. Padrões morfológicos da inflamação


A resposta inflamatória possui dois componentes principais: uma reação vascular e
uma reação celular.
Muitos tecidos e células estão envolvidos nessas reações, incluindo o fluido e as
proteínas plasmáticas, células circulantes, vasos sanguíneos e componentes celulares e
extracelulares do tecido conjuntivo.
A inflamação aguda inicia-se rapidamente e tem uma duração relativamente curta;
envolve a exsudação de liquido (edema) e migração de células polimorfonuclear
(neutrófilo).

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A inflamação serosa, fibrinosa, purulenta e as úlceras são padrões morfológicos e tem
as seguintes características:

Inflamação serosa: presente nas primeiras fases das lesões, ocorre em tecidos serosos
como pleura, pericárdio, peritônio e em algumas mucosas como laringe, faringe e
intestino.
Derivada de fluidos do plasma ou secreção de células mesenteliais oriundas do
peritônio, pleura e cavidades pericárdicas.
Exemplos: pleurite, rinite serosa, bolha devido à queimadura etc.

Inflamação fibrinosa
Resultado do aumento da permeabilidade vascular, onde moléculas grandes, como
fibrinogênio, passam a barreira vascular e a fibrina formada é depositada no espaço
extracelular. O exsudato fibrinoso aparece quando o vazamento vascular é grande ou
há um estímulo pró-coagulante no interstício (células cancerosas). Um exsudato
fibrinoso é característico de inflamação na superfície das cavidades do corpo, como
meninges, pericárdio e pleura. Exsudatos fibrinosos podem ser removidos por
fibrinólise e/ou ingerido por macrófagos.

Inflamação purulenta
Na inflamação purulenta há grande produção de pus ou exsudato purulento,
constituído de neutrófilos, células necróticas, fluido, edema e bactérias piogênicas.
Exemplo: apendicite aguda. O abscesso é formado em tecidos que sofreram
inflamação purulenta.

Úlceras
As úlceras são caracterizadas por um local defeituoso ‒ ou extravasamento da
superfície de um órgão ou tecido ‒ produzidas por exposição de um tecido necrótico
inflamatório. Elas são comumente encontradas em necrose inflamatória da mucosa da
boca, estômago, intestino ou trato gastrointestinal, e inflamação cutânea.

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Já a inflamação crônica, ou seja, quando ocorre a cronificação da inflamação
aguda,tem uma instalação maior (dias) e uma duração maior (semana a anos); envolve
linfócitos e macrófagos e induz a proliferação de vasos sanguíneos e fibrose. Há quatro
sinais clínicos clássicos da inflamação, mais proeminentes na inflamação aguda que são
calor, rubor, edema e dor.
Pode se seguir à inflamação aguda ou a resposta pode ser crônica praticamente desde
o início. A transição de aguda para crônica ocorre quando não há uma resolução da
resposta inflamatória aguda devido à persistência do agente nocivo ou a alguma
interferência com o processo normal de cicatrização.

1.4. Reação de Hipersensibilidade Imediata (Alergia)


O termo hipersensibilidade é uma resposta imune que ocorre de forma exacerbada.
Reações desse tipo são respostas protetoras que podem resultar em reações
inflamatórias e dano tecidual.
A anafilaxia é também conhecida como a hipersensibilidade do tipo I e pode ser
provocada por diversas substâncias. É também uma reação sistêmica de
hipersensibilidade imediata caracterizada por edema e queda na pressão arterial, após
a vasodilatação; justamente esse processo da queda da pressão arterial é que é
chamado de choque anafilático.
A identificação do quadro anafilático é feita através do exame sanguíneo, que ao
mostrar o índice de imunoglobulina do tipo E específica para determinados alérgenos,
torna visível a participação dos mesmos na indução dos sintomas.
O tratamento mais adequado para a anafilaxia é a administração de adrenalina que
proporciona broncodilatação e vasoconstrição no quadro. Esse quadro é perigoso e é
importante ser diagnosticado o quanto antes, pois pode ser mortal. As medidas
cabíveis devem ser tomadas rapidamente para sua reversão.

1.5. Reparo Tecidual: Regeneração, Cicatrização e Fibrose


O reparo tecidual é um estado dinâmico que compreende diferentes processos, entre
eles, inflamação, proliferação celular e síntese de elementos que constituem a matriz
extracelular, como colágeno, elastina e fibras reticulares.

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A grande maioria das lesões é reparada pela regeneração das células, na pele, quando
não há lesão da camada basal, por reepitelização.
A geração de um novo tecido presente neste processo de regenerar contempla a a
síntese de colágeno que tem seu início com a lesão intersticial e se estende até o final
da fase de cicatrização, quando ocorre a remodelação dos tecidos.
Os processos de cicatrização e reparo tecidual ocorrem após trauma ou doença. A
cicatriz clinicamente é uma marca visível de uma lesão; histologicamente é uma reação
fibroblástica; é a substituição do tecido lesado por tecido conjuntivo neoformado, por
meio de um processo complexo e gradativo.
O reparo das feridas e sua reestruturação constituem mecanismo complexo,
em que vários fatores contribuem para a criação de diversos tipos de
cicatrização, como hipertrofia, atrofia ou normotrofia, da área lesionada.
Esses processos compreendem três fases: inflamação, granulação e
formação de matriz extracelular.
Normalmente no processo de cicatrização de feridas, após o início do
estágio de granulação, ocorre tênue predominância de macrófagos e
aumento do número de fibroblastos com síntese de nova matriz
extracelular, ocorrendo remodelação desses tecidos com a contração do
tecido de granulação. Na fase de formação da matriz, os fibroblastos
produzem quantidades abundantes de matriz extracelular. A síntese de
o
colágeno ocorre no 21 dia posterior à lesão, e o retorno da pele ao aspecto
o
normal, no 26 dia. Com a resolução da ferida e estando ela envolvida por
tecido de granulação, ocorre significativa diminuição de macrófagos e
fibroblastos, e a maturação da cicatriz torna-se relativamente acelular.
(ROCHA JR. et al., 2006)

Os fatores que podem interferir na formação dessa cicatriz são hereditários ou


genéticos, raciais, podem estar envolvidas na relação do tamanho da lesão e
localização da mesma. A cicatriz pode ser discrômica, acrômica, hipercrômica, atrófica,
hipertrófica, queloideana e mista.
Já a fibrose são ondulações que aparecem na região lesionada, podendo ocorrer em
maior e menor grau; ocorre a produção de colágeno desordenada e desorganizada:
que leva a ondulações na pele, que podem causar repuxamento e dor. Aparecem
também, na área estética, pós-cirurgias plásticas principalmente.

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1.6. Avaliação corporal
A avaliação corporal, presente neste bloco, consiste trazer a possibilidade de você
profissional saber identificar as diferentes formas de inflamação e saber quando
poderá ou não fazer algum procedimento neste cliente. Muitas vezes é necessário
encaminhá-lo ao médico, sabendo que nós esteticistas temos como função a
manutenção da saúde, ou seja, se tivermos um cliente com uma inflamação aguda ou
crônica, temos que entender que não trataremos a grande maioria destes problemas,
pois não faz parte de nossa função. Iremos sim identificar para encaminhar este cliente
ao médico adequado, ou à melhor terapêutica. Por exemplo, se tivermos um cliente
com febre, sabemos que ele poderá estar com alguma inflamação provavelmente
aguda, mas podemos não saber onde é nem o porquê, devemos imediatamente
indicá-lo ao médico para ser tratado da forma correta. Após a melhora do quadro
poderemos tratá-lo, mas se ocorrer uma cronicidade desta inflamação, teremos que
entender e solicitar a autorização de um médico para a realização de qualquer
procedimento neste cliente.

Conclusão do Bloco 1
Identificar os sintomas de reações alérgicas, inflamações aguda e crônica, processo de
cicatrização e fibrose é de suma importância para a vida dos esteticistas, pois
trataremos de pele, devemos entender o que ocorre, quando a cliente está com
edema é porque com certeza está com questões metabólicas no interstício que fazem
aquele processo inflamatório regional ocorrer, ou mesmo quando há uma cicatriz,
existem momentos que devemos e os momentos que não devemos manipulá-la.
Vamos aprender com a prática as melhores formar de tratar um cliente nestes casos e
também, compreender, quando precisaremos da ajuda de um médico para um
resultado multidisciplinar melhor.

Referências do Bloco 1
TAZIMA, M. de F.; ANDRADE VICENTE, Y.; MORIYA, T. BIOLOGIA DA FERIDA E
CICATRIZAÇÃO. Medicina (Ribeirão Preto. Online), v. 41, n. 3, p. 259-264, 2008.

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Disponível em: <https://doi.org/10.11606/issn.2176-7262.v41i3p259-264>. Acesso em:
nov. 2018.

ROCHA Jr., A. M. et al. Modulação da proliferação fibroblástica e da resposta


inflamatória pela terapia a laser de baixa intensidade no processo de reparo tecidual.
An Bras Dermatol., v. 81, n. 2, p. 150-6, 2006. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/%0D/abd/v81n2/v81n02a06.pdf>. Acesso em: nov. 2018.

SCOGNAMILLO-SZABÓ, M. V. R. BECHARA, G. H. Acupuntura: bases científicas e


aplicações. Ciência Rural. Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), v. 31, n. 6, p.
1091-9, 2001. Disponível em: <http://hdl.handle.net/11449/2933>. Acesso em: nov.
2018.

INFLAMAÇÃO AGUDA. Disponível em:


<https://w2.fop.unicamp.br/ddo/patologia/downloads/db301_un4_InflamAguda.pdf>.
Acesso em: nov. 2018.

LESÃO E MORTE CELULAR. Disponível em: <https://pt.slideshare.net/natfuga/leso-


celular-6891875>. Acesso em: nov. 2018.

LESÕES CELULARES. Disponível em:


<https://www.ebah.com.br/content/ABAAAfDc4AD/lesoes-celulares-patologia>.
Acesso em: nov. 2018.

CAMARGO, M. H. B. de. Alterações morfológicas e funcionais dos rins de cães com


insuficiência renal crônica. 2002. ix, 34 f. Dissertação (mestrado) ‒ Universidade
Estadual Paulista, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, 2002. Disponível em:
<http://hdl.handle.net/11449/95985>. Acesso em: nov. 2018.

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INFLAMAÇÃO AGUDA CRÔNICA. Disponível em:
<https://www.academia.edu/7354412/INFLAMA%C3%87%C3%83O_AGUDA_E_CR%C3
%94NICA?auto=download>.

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<http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:4LF4ffsSprAJ:143.107.240.
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em: nov. 2018.

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