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DIREITO PENAL III

ARTIGOS
Artigo 180 e 180- A Artigo 184

Artigo 181 Artigo 210

Artigo 182 Artigo 211

Artigo 183 Artigo 212


CAPÍTULO VII
DA RECEPTAÇÃO

Art. 180. Adquirir, receber, transportar,

Artigo 180 conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou


alheio, coisa que sabe ser produto de crime,
ou influir para que terceiro, de boa-fé, a
adquira, receba ou oculte:

Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos,


e multa.
§ 3º Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela
§ 1º Adquirir, receber, transportar, desproporção entre o valor e o preço, ou pela condição de quem
conduzir, ocultar, ter em depósito, a oferece, deve presumir-se obtida por meio criminoso: Pena –
desmontar, montar, remontar, detenção, de 1 (um) mês a 1 (um) ano, ou multa, ou ambas as
vender, expor à venda, ou de penas.
qualquer forma utilizar, em proveito
próprio ou alheio, no exercício de
§ 4º A receptação é punível, ainda que desconhecido ou isento
atividade comercial ou industrial,
de pena o autor do crime de que proveio a coisa.
coisa que deve saber ser produto
de crime: Pena – reclusão, de
3(três) a 8 (oito) anos, e multa.
§ 5º Na hipótese do § 3º, se o criminoso é primário, pode o juiz,
tendo em consideração as circunstâncias, deixar de aplicar a
pena. Na receptação dolosa aplica-se o disposto no § 2º do art.
§ 2º Equipara-se à atividade 155.
comercial, para efeito do parágrafo
anterior, qualquer forma de comércio § 6º Tratando-se de bens e instalações do patrimônio da
irregular ou clandestino, inclusive o União, Estado, Município, empresa concessionária de serviços
exercido em residência. públicos ou sociedade de economia mista, a pena prevista no
caput deste artigo aplica-se em dobro.
SUJEITOS DO CRIME

S U J E I T O AT I V O :
Q UALQUER PESSOA

Trata-se de crime
S U J E I T O PA S S I V O : comum tanto em relação
Q UALQUER PESSOA,
I N C L U I N D O, N Ã O S O M E N T E ao sujeito ativo quanto
O P R O P R I E TÁ R I O, M A S ao sujeito passivo, haja
TA M B É M O P O S S U I D O R D A
COISA, QUE SE CONFUNDIRÁ vista que o tipo penal
C O M O S U J E I T O PA S S I V O D O não exige nenhuma
CRIME ANTERIOR DE ONDE
SURGIU O PROVEITO D O qualidade ou
CRIME. condição especial
CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA – Art. 180, caput
Considerando o delito de receptação encontrado no caput
do art. 180 do Código Penal, podemos concluir tratar-se de
crime comum tanto em relação ao sujeito ativo quanto ao
sujeito passivo, haja vista que o tipo penal não exige
nenhuma qualidade ou condição especial; doloso; comissivo,
pode também ser praticado via omissão imprópria, na
hipótese de o agente gozar do status de garantidor;
omissivo próprio quando tiver ocultação, dependendo do
caso concreto; material em ambas as espécies, própria e
imprópria, embora, para a maioria dos autores, a receptação
imprópria seja considerada crime formal; instantâneo
quando falamos a respeito dass condutas de adquirir,
receber; permanente enquanto o agente estiver
transportando, conduzindo ou ocultando a coisa;
monossubjetivo; plurissubistente; não
transeunte como regra.
Verbo e Objeto jurídico
... Verbo: Adquirir; Receber;Transportar; Objeto Jurídico e Objeto Material
Conduzir e Ocultar.
Adquirir tem o significado legal, como bem salientado por Luiz
Regis Prado: “De obter a propriedade da coisa, de forma
onerosa, como na compra, ou gratuita, na hipótese de doação. Objeto jurídico: Patrimônio.
Receber é utilizado pelo tipo penal em estudo no sentido de ter
o agente a posse ou a detenção da coisa, para o fim de utilizá-
la em seu proveito ou de outrem. A conduta de transportar, foi Objeto Material: Coisa móvel produto
inserida no caput do art. 180 do Código Penal pela Lei nº 9.426, de crime.
de 24 de dezembro de 1996. Tal inserção se deu,
principalmente, em razão do crescimento dos casos de roubo de
cargas transportadas em caminhões, pessoas eram contratadas
para, depois da prática da subtração anterior, fazer o seu
transporte até o local determinado por aquele que as havia
adquirido. Dessa forma, o transporte passou a ser reconhecido
como mais uma modalidade de receptação. Conduzir é guiar,
dirigir. Somente o caso concreto, na verdade, é que nos
permitirá, talvez, apontar o comportamento que melhor se
amolde à conduta levada a efeito pelo agente. A ação de
ocultar pressupõe aquisição ou recebimento. É sucessiva a uma
destas, vindo indicar atuação posterior sobre a coisa que se
detém.
Elemento
O caput e o § 1º do art. 180 do
Código Penal traduzem as
modalidades dolosas do delito de
receptação, sendo que o seu § 3º

Subjetivo prevê aquela de natureza culposa.


Assim, o delito de receptação pode ser
praticado dolosa ou culposamente.
MEIOS DE
EXECUÇÃO
Varia desde a aquisição de pequenos produtos vendidos
por camelôs e ambulantes até as mais impressionantes,
cometidas por grandes empresas, que adquirem
carregamentos inteiros de mercadorias, roubadas, quase
sempre, durante o seu transporte rodoviário.
CONSUMAÇÃO
Consuma-se o delito, no que diz
respeito à receptação própria,
quando o agente, efetivamente,
pratica qualquer um dos
comportamentos previstos na
primeira parte do caput do art.
180 do Código Penal, ou seja,
quando adquire, recebe,
transporta, conduz ou oculta, em
proveito próprio ou alheio, coisa
que sabe ser produto de crime.
PERDÃO
JUDICIAL
A primeira parte do § 5º do art. 180 do Código Penal assevera que na hipótese do § 3º, se
o criminoso é primário, pode o juiz, tendo em consideração as circunstâncias, deixar de
aplicar a pena.
Cuida-se, portanto, de perdão judicial, dirigido especificamente à receptação culposa.
Inicialmente, deverá ser reconhecida nos autos a primariedade do agente, não se exigindo,
pois, seja ele também portador de bons antecedentes.
Nesse caso, poderá o julgador, analisando todas as circunstâncias que envolveram o agente,
concluir que a aplicação do perdão judicial é a medida que melhor atende aos interesses de
política criminal, tratando-se, segundo entendemos, de uma faculdade sua, e não de um
direito subjetivo do acusado.
Ação Penal
A ação penal é pública incondicionada e pode ser proposta
no local em que se consumou a receptação ou, havendo
conexão, diante da regra constante do artigo 76, III, do
Código de Processo Penal.
RECEPTAÇÃO
QUALIFICADA
O § 1º do art. 180 do Código Penal, com a nova redação que lhe foi
conferida pela Lei nº 9.426, de 24 de dezembro de 1996, prevê
uma modalidade qualificada de receptação, dizendo: § 1º Adquirir,
receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito, desmontar,
montar, remontar, vender, expor à venda ou de qualquer forma
utilizar, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade
comercial ou industrial, coisa que deve saber ser produto de crime:
Pena – reclusão de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.
No delito de receptação qualificada, a lei comina abstratamente a pena de reclusão
de três a oito anos, para o comerciante que deveria saber da proveniência ilícita do
objeto material. Mas, se efetivamente o comerciante soubesse dessa origem ilícita,
a pena só poderia ser de um a quatro anos, o que se mostra incongruente e
paradoxal, pois impõe pena mais grave para quem assume uma conduta mais
branda. Não teria, assim, sentido inflingir punição gravosa á receptação qualificada
(artigo 180, § 1º, do CP) que supõe, em sua configuração típica, mero dolo

RECEPTAÇÃO eventual, e impor sanção penal mais branda à receptação simples (artigo 180, §
1º), cuja tipificação requer dolo direto, como ainda disse o próprio Damásio de

QUALIFICADA
Jesus[14], para quem o parágrafo primeiro do artigo 180 do Código Penal,
descrevendo crime próprio, pune o comerciante ou industrial que comete a
receptação, empregando a expressão ¨que deve saber ser produto do crime¨.
Como o caput prevê o conhecimento pleno (coisa que sabe ser produto do crime),
onde doutrina e jurisprudência conectam ao dolo direto, e o parágrafo terceiro
descreve a forma culposa, o parágrafo primeiro só pode tratar de crime doloso com
o chamado conhecimento parcial da origem ilícita da coisa, seja por dúvida,
insegurança, incerteza, o que faz a doutrina ligar ao dolo eventual.

Existe controvérsia doutrinária quanto ao fato de se consignar, no §


1º do art. 180 do Código Penal, uma modalidade de receptação
denominada qualificada. Isso porque, mediante a análise da figura
típica, verifica-se que o legislador, além de manter as condutas
previstas no caput do mencionado artigo, fez inserir outras que lhe
eram estranhas, fazendo com que alguns autores o entendessem
como verdadeiro tipo penal autônomo.
Damásio de Jesus afirma: “O dispositivo não descreve causa de
aumento de pena ou qualificadora. Não contém meras
circunstâncias. Cuida-se de figura típica autônoma: menciona seis
verbos que não se encontram no caput, repete cinco condutas e
apresenta dois elementos subjetivos do tipo. Não é um simples
acréscimo à figura típica reitora da receptação.”
RECEPTAÇÃO
QUALIFICADA Saindo em defesa da terminologia utilizada pelo legislador,
Guilherme de Souza Nucci esclarece: “Em que pese parte da
doutrina ter feito restrição à consideração desse parágrafo como
figura qualificada da receptação, seja porque ingressaram novas
condutas, seja pelo fato de se criar um delito próprio, cujo sujeito
ativo é especial, cremos que houve acerto do legislador. Na
essência, a figura do § 1º é, sem dúvida, uma receptação – dar
abrigo a produto de crime –, embora com algumas modificações
estruturais. Portanto, a simples introdução de condutas novas, aliás
típicas do comércio clandestino de automóveis, não tem o condão
de romper o objetivo do legislador de qualificar a receptação,
alterando as penas mínima e máxima que saltaram da faixa de 1 a 4
anos para 3 a 8 anos.”
A primeira característica que torna o § 1º do art. 180 especial em
relação ao caput do art. 180 do Código Penal diz respeito à
qualidade do autor, pois trata-se de crime próprio, somente
podendo ser levado a efeito por quem gozar do status de
comerciante ou industrial, pois as ações referidas pelo tipo penal
RECEPTAÇÃO qualificado devem ser praticadas no exercício de atividade
comercial ou industrial, mesmo que tal comércio seja irregular ou
QUALIFICADA clandestino, inclusive o exercido em residência, conforme esclarece
o § 2º do art. 180 do diploma repressivo.

Verifica-se, pela análise dos novos comportamentos inseridos no tipo


penal que prevê a receptação qualificada, a nítida intenção do
legislador em direcionar a aludida figura típica basicamente às
hipóteses de “desmanches de carros”, tão comuns nos dias de hoje,
em oficinas clandestinas, que mantêm, em virtude de suas
atividades, um intenso comércio com carros roubados e furtados,
merecendo, assim, maior juízo de reprovação, conforme se verifica
pela pena a ele cominada, que varia entre 3 e 8 anos de
reclusão, e multa.
MODALIDADE
O § 2º do art. 180 do Código Penal, inserido pela Lei nº
9.426, de 24 de dezembro de 1996, criou uma cláusula de
equiparação dizendo: § 2º Equipara-se à atividade

EQUIPARADA
comercial, para efeito do parágrafo anterior, qualquer
forma de comércio irregular ou clandestino, inclusive o
exercido em residência.

A origem dessa inserção deveu-se, basicamente, às


hipóteses de desmanches clandestinos de veículos, tão
comuns nos dias de hoje. Sua finalidade foi ampliar o
conceito de atividade comercial ou industrial, abrangendo
qualquer forma de comércio, mesmo os irregulares ou
clandestinos, ainda que praticados em residência.
SUJEITO ATIVO E SUJEITO PASSIVO

S U J E I T O AT I V O : S O M E N T E
AQUELES QUE ESTIVEREM NO
E X E R C Í C I O D E AT I V I D A D E
COMERCIAL OU INDUSTRIAL,
SEJA ELA IRREGULAR OU
CLANDESTINA, AINDA QUE
P R AT I C A D A E M R E S I D Ê N C I A .

S U J E I T O PA S S I V O :
Q UALQUER PESSOA POD ERÁ Crime próprio com
FIGURAR COM O SUJ EITO relação ao sujeito ativo e
PA S S I V O D A R E C E P TA Ç Ã O
QUALIFICADA, NÃO comum quanto ao
HAVENDO NENHUMA sujeito passivo
QUALIDADE OU CONDIÇÃO
ESPECIAL EXIGIDA PELO TIPO
P E N A L D O § 1 º D O A R T. 1 8 0
D O D I P L O M A R E P R E S S I V O.
CLASSIFICAÇÃO
DOUTRINÁRIA –
Art. 180, § 1
Crime próprio com relação ao sujeito ativo, uma
vez que o tipo penal exige a qualidade de
comerciante ou industrial, mesmo que essas
atividades sejam irregulares ou clandestinas, e
comum quanto ao sujeito passivo; doloso;
comissivo e omissivo próprio e podem também
vim a ser praticado, através da omissão
imprópria sendo o agente considerado como
garantidor; material; de dano; instantâneo;
permanente; monossubjetivo; plurissubsistente;
não transeunte, como regra.
CONSUMAÇÃO
Consuma-se o delito de receptação
qualificada (§ 1º do art. 180 do CP)
quando o agente, efetivamente,
adquire, recebe, transporta, conduz,
oculta, tem em depósito, desmonta,
monta, remonta, vende, expõe a
venda ou de qualquer forma utiliza,
em proveito próprio ou alheio, no
exercício de atividade comercial ou
industrial, coisa que deve saber ser
produto de crime.
CAPÍTULO VII
DA RECEPTAÇÃO DE ANIMAL

Art. 180-A. Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar,

Artigo 180-A
ter em depósito ou vender, com a finalidade de produção ou
de comercialização, semovente domesticável de produção,
ainda que abatido ou dividido em partes, que deve saber ser
produto de crime:

Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.


SUJEITOS DO CRIME

S U J E I T O AT I V O :
Q UALQUER PESSOA

S U J E I T O PA S S I V O :
Q UALQUER PESSOA,
I N C L U I N D O, N Ã O S O M E N T E
Crime comum tanto em
O P R O P R I E TÁ R I O, M A S relação ao sujeito ativo
TA M B É M O P O S S U I D O R D O
SEM OVENTE D OM ESTICÁV EL
quanto ao passivo, haja
D E P R O D U Ç Ã O, A I N D A Q U E vista que o tipo penal
A B AT I D O O U D I V I D I D O E M
PA R T E S , Q U E S E
não exige nenhuma
CONFUNDIRÁ COM O qualidade ou
S U J E I T O PA S S I V O D O C R I M E
ANTERIOR DE ONDE SURGIU
condição especial
O PRODUTO DO CRIME.
CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA
Crime comum tanto em relação ao sujeito ativo
quanto ao sujeito passivo, haja vista que o tipo
penal não exige nenhuma qualidade ou condição
especial; doloso; comissivo podendo,
excepcionalmente, ser praticado via omissão
imprópria, na hipótese de o agente gozar do
status de garantidor; omissivo próprio na
hipótese de ocultação, dependendo do caso
concreto; material; permanente quando o
agente estiver transportando, conduzindo,
ocultando ou tendo em depósito;
monossubjetivo; plurissubsistente; não
transeunte em regra.
Verbo e Objeto jurídico
... Verbo: Adquirir; Receber; Transportar; Objeto Jurídico e Objeto Material
Conduzir, Ocultar, Ter em Depósito e
Vender.
Adquirir tem o sentido de se tornar proprietário do semovente
domesticável de produção, ainda que abatido ou dividido em Objeto jurídico: Patrimônio.
partes, seja de forma onerosa ou mesmo gratuita. Receber
importa em tomar posse, sem contudo, ser proprietário, ou Objeto Material: O semovente
seja, sem o caráter de aquisição. Transportar significa carregar
domesticável de produção, ainda que
de um lugar para outro. Conduzir é guiar, dirigir. Ocultar importa
em esconder o objeto da receptação, impedindo que outras abatido ou dividido em partes.
pessoas tenham acesso a ele. Ter em depósito significa
armazenar, guardar, manter, conservar a coisa recebida em
proveito próprio ou de terceiro. Vender é entregar a outrem o
objeto material da receptação mediante remuneração.
Elemento
O dolo é o elemento subjetivo
exigido pelo tipo penal que
prevê o delito de receptação de

Subjetivo
animal, não havendo previsão
para a modalidade de
natureza culposa.
MEIOS DE
EXECUÇÃO
Quando o agente adquiri, recebe, transporta, conduz,
oculta, tem em depósito ou vende, com a finalidade de
produção ou de comercialização, semovente domesticável
de produção, ainda que abatido ou dividido em partes,
estes que são animais criados em grupos (bovinos, suínos,
caprinos etc.) que integram o patrimônio de alguém,
passíveis, portanto, de serem objetos de negócios jurídicos.
CONSUMAÇÃO
A receptação de animal é crime
material, que só se consuma com
a produção do resultado
consistente na lesão ao
patrimônio alheio. Se consuma
quando o agente, efetivamente,
adquire, recebe, transporta,
conduz, oculta, tem em depósito
ou vende semovente
domesticável de produção, ainda
que abatido ou dividido em parte.
Ação Penal
A ação penal é pública incondicionada, a competência poderá
ser da Justiça comum estadual ou federal, dependendo de
quem seja o proprietário do semovente domesticável de
produção, ainda que abatido ou dividido em partes.
CAPÍTULO VIII
DISPOSIÇÕES GERAIS

Artigo 181
Art. 181. É isento de pena quem comete qualquer dos crimes
previstos neste título, em prejuízo: I – do cônjuge, na
constância da sociedade conjugal; II – de ascendente ou
descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil
ou natural.
CAPÍTULO VIII
DISPOSIÇÕES GERAIS

Artigo 182
Art. 182. Somente se procede mediante representação, se o
crime previsto neste título é cometido em prejuízo: I – do
cônjuge desquitado ou judicialmente separado; II – de irmão,
legítimo ou ilegítimo; III – de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita.
CAPÍTULO VIII
DISPOSIÇÕES GERAIS

Artigo 183
Art. 183. Não se aplica o disposto nos dois artigos anteriores:
I – se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral, quando
haja emprego de grave ameaça ou violência à pessoa;
II – ao estranho que participa do crime;
III – se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou
superior a 60 (sessenta) anos.
O Capítulo VIII do Título II do Código Penal cuida das chamadas imunidades
penais de caráter pessoal. Essas imunidades podem ser absolutas ou relativas.
Quando absolutas, isentam o agente de pena, sendo, nesse caso, reconhecidas
como escusas absolutórias; se relativas, fazem a ação penal depender de
representação do ofendido ou de seu representante legal.

A primeira observação a ser feita diz respeito à expressão utilizada no inciso I do


IMUNIDADES PENAIS art. 181 do Código Penal, que exige que o fato seja praticado contra o cônjuge,
durante a constância da sociedade conjugal. O status de cônjuge é adquirido
ABSOLUTAS OU depois da celebração do casamento, e este se realiza, nos termos do art. 1.514
do Código Civil, no momento em que o homem e a mulher manifestam, perante
ESCUSAS o juiz, a sua vontade de estabelecer vínculo conjugal, e o juiz os
ABSOLUTÓRIAS declara casados. Depois da declaração formal de casados, tem-se por iniciada a
sociedade conjugal, persistindo até o momento em que se considera terminada,
nos termos do art. 1.571 do Código Civil.
Dessa forma, podemos entender como constância da sociedade conjugal o
período que vai da realização do casamento até a sua efetiva dissolução, não
importando, para efeito de aplicação da escusa absolutória em estudo, se o
casal estava separado de fato no momento em que ocorreu o delito
patrimonial. Portanto, para efeito de reconhecimento de aplicação da
imunidade penal de caráter absoluto deverá ser levado em consideração o
tempo do crime. Assim, se quando da prática da infração penal patrimonial
havia ainda o vínculo conjugal, aplica-se à escusa absolutória, não importando
se os cônjuges coabitavam ou não, haja vista à inexistência de qualquer
ressalva legal nesse sentido.

Merece atenção se mencionada escusa absolutória poderá ser aplicada, via


IMUNIDADES PENAIS analogia, àqueles que se encontram numa situação de união estável. A
maioria de nossa doutrina se inclina pela impossibilidade, a exemplo de
ABSOLUTAS OU Guilherme de Souza Nucci, quando diz: “O fato de o Estado reconhecer na
união estável a existência de uma família, para efeito de lhe conferir proteção
ESCUSAS civil, não pode ser estendido ao direito penal. Fosse assim, o companheiro ou
a companheira poderia praticar o crime de bigamia, o que não é admissível.
ABSOLUTÓRIAS Se não é possível alargar o conteúdo de norma penal incriminadora que
protege a família e o casamento, também não o é para
aplicação da imunidade.
A única dificuldade que vemos no caso de ser aplicada à união estável a escusa
absolutória constante do inciso I do art. 181 do Código Penal é que deverá ser
demonstrado nos autos que, quando da prática da infração penal patrimonial,
ainda existia essa união, ou seja, que o casal ainda vivia junto, nos termos
preconizados pelo citado art. 1.723 da Lei Civil, pois, se por um motivo qualquer
havia ocorrido a ruptura no relacionamento, não poderá ser aplicado o
benefício, ao contrário do que ocorre com a situação do casamento, pois a lei
penal somente determinou, neste último caso, a constância da sociedade
conjugal, ou seja, a existência do vínculo do casamento entre os cônjuges.

IMUNIDADES PENAIS
ABSOLUTAS OU Também será aplicada a imunidade penal absoluta quando a infração
patrimonial for cometida em prejuízo de ascendente ou descendente,
ESCUSAS conforme determina o inciso II do art. 181 do Código Penal, seja o parentesco
legítimo ou ilegítimo, seja civil ou natural.
ABSOLUTÓRIAS
As imunidades penais reconhecidas como relativas encontram-se arroladas nos
incisos I, II e III do art. 182 do Código Penal, que diz, verbis: Art. 182. Somente
se procede mediante representação, se o crime previsto neste título é cometido
em prejuízo: I – do cônjuge desquitado ou judicialmente separado; II – de
irmão, legítimo ou ilegítimo; III – de tio ou sobrinho, com quem
o agente coabita.

Embora denominadas imunidades relativas, trata-se de situações que não


conduzem sequer ao afastamento da punibilidade, como ocorre com o art. 181
IMUNIDADES PENAIS do Código Penal, podendo as pessoas arroladas nos incisos do referido art. 182,
no prazo decadencial de 6 (seis) meses, oferecer sua representação, permitindo,
RELATIVAS assim, a abertura de inquérito policial, bem como o início da ação penal de
iniciativa pública que estava a ela condicionada.
A primeira das situações elencadas diz respeito ao fato de a infração patrimonial
ter sido cometida em prejuízo do cônjuge separado judicialmente, haja vista que
não mais encontra abrigo em nossa legislação civil a expressão desquitado. O
marco inicial para aplicação do inciso I do art. 182 do Código Penal será o
trânsito em julgado da sentença que decretar a separação judicial. A segunda
hipótese refere-se ao fato de ter o delito patrimonial sido praticado em prejuízo
de irmão, não se podendo levar a efeito, depois da edição da nossa Lei Maior,
qualquer designação discriminatória, tal como a constante do inciso II do art.
182 do diploma repressivo, mesmo que de natureza positiva, isto é, para exigir,
nas situações por ela mencionadas, a necessária representação. O inciso III do
art. 182 do Código Penal ainda condiciona a persecutio criminis à representação
quando o delito patrimonial é cometido em prejuízo de tio ou sobrinho com
IMUNIDADES PENAIS quem o agente coabita. Nesse caso, não basta comprovar a relação de
RELATIVAS parentesco colateral, haja vista que o mencionado inciso somente se aplica se
houver a coabitação, isto é, devem residir juntos quando da prática do crime
contra o patrimônio.
O art. 183 do Código Penal nas primeiras das exceções afasta a aplicação dos
arts. 181 e 182 do Código Penal se o crime for de roubo ou de extorsão, ou
sempre que houver o emprego de violência ou grave ameaça como elemento do
tipo. Tratando-se de crimes pluriofensivos, embora o legislador penal tenha
agido motivado por questões de política criminal, com o objetivo de preservar a
família quando a infração penal dissesse respeito ao patrimônio de um de seus
membros, não ignorou a utilização da violência ou da grave ameaça, o que
aumenta, sensivelmente, o juízo de reprovação que recai sobre o agente, não se
RESSALVAS ÀS podendo, agora, fechar os olhos para essa situação. Assim, resumindo, as
IMUNIDADES PENAIS imunidades (absolutas ou relativas) somente terão aplicação quando estivermos
diante de infrações patrimoniais que não forem cometidas com o emprego de
ABSOLUTAS violência ou grave ameaça.

E RELATIVAS
TÍTULO III DOS CRIMES CONTRA A
PROPRIEDADE IMATERIAL
CAPÍTULO I DOS CRIMES CONTRA A
PROPRIEDADE INTELECTUAL

Artigo 184 Art. 184. Violar direitos de autor e


os que lhe são conexos:

Pena – detenção, de 3 (três) meses


a 1 (um) ano, ou multa.
§ 2º Na mesma pena do § 1º incorre quem, com o intuito de lucro direto
ou indireto, distribui, vende, expõe à venda, aluga, introduz no País,
adquire, oculta, tem em depósito, original ou cópia de obra intelectual ou
fonograma reproduzido com violação do direito de autor, do direito de
§ 1º Se a violação consistir artista intérprete ou executante ou do direito do produtor de fonograma,
em reprodução total ou ou, ainda, aluga original ou cópia de obra intelectual ou fonograma, sem a
parcial, com intuito de lucro expressa autorização dos titulares dos direitos ou de quem os represente.
direto ou indireto, por
qualquer meio ou processo,
§ 3º Se a violação consistir no oferecimento ao público, mediante cabo,
e obra intelectual,
fibra ótica, satélite, ondas ou qualquer outro sistema que permita ao
interpretação, execução ou
usuário realizar a seleção da obra ou produção para recebê-la em um
fonograma, sem autorização
tempo e lugar previamente determinados por quem formula a demanda,
expressa do autor, do artista
com intuito de lucro, direto ou indireto, sem autorização expressa,
intérprete ou executante, do
conforme o caso, do autor, do artista intérprete ou executante, do
produtor, conforme o caso,
produtor de fonograma, ou de quem os represente:Pena – reclusão, de 2
ou de quem os represente:
(dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
Pena – reclusão, de 2 (dois)
a 4 (quatro) anos, e multa.
§ 4º O disposto nos §§ 1º, 2º e 3º não se aplica quando se tratar de
exceção ou limitação ao direito de autor ou os que lhe são conexos, em
conformidade com o previsto na Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998,
nem a cópia de obra intelectual ou fonograma, em um só exemplar, para
uso privado do copista, sem intuito de lucro direto ou indireto.
SUJEITOS DO CRIME

S U J E I T O AT I V O :
Q UALQUER PESSOA
Crime comum no que diz respeito
S U J E I T O PA S S I V O :
ao sujeito ativo e próprio quanto
O AUTOR DA OBRA ao sujeito passivo, pois só o autor
LITERÁRIA, ARTÍSTICA OU
CIENTÍFICA, SEUS
da obra literária, artística ou
HERDEIROS E SUCESSORES, científica, seus herdeiros e
OU Q UALQUER OUT RA
sucessores ou o titular do direito
PESSOA QUE SEJA TITULAR
DOS DIREITOS SOBRE ESSA sobre a produção de
PRODUÇÃO INTELECTUAL.
outrem podem
figurar nessa condição
CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA
Crime comum no que diz respeito ao sujeito
ativo e próprio quanto ao sujeito passivo, pois
só o autor da obra literária, artística ou
científica, seus herdeiros e sucessores ou o
titular do direito sobre a produção de outrem
podem figurar nessa condição; doloso;
comissivo porém podendo ser praticado via
omissão imprópria na hipótese de o agente
gozar do status de garantidor; material;
instantâneo ou permanente dependendo de
como o delito for praticado, podendo se
prolongar no tempo; de forma livre;
monossubjetivo; plurissubsistente; não
transeunte, como regra.
Verbo e Objeto jurídico
... Verbo: Violar. Objeto Jurídico e Objeto Material

O núcleo violar é utilizado pelo texto legal no sentido Objeto jurídico: Propriedade Intelectual.
de transgredir, infringir.
Objeto Material: A obra literária, artística
ou científica.
Elemento
O delito de violação de direito
autoral somente pode ser
praticado dolosamente, não

Subjetivo
havendo previsão para a
modalidade de
natureza culposa.
CONSUMAÇÃO
O momento consumativo acontece
no ato da transgressão do direito
autoral, cabendo ao intérprete
observar em que consiste
exatamente a violação, socorrendo-
se da legislação civil, para definir o
exato instante da violação, que
ocorre, por exemplo, com a
publicação de obra inédita ou
reproduzida, com a exposição
pública de uma pintura ou com a
execução ou representação de uma
obra musical ou teatral.
MODALIDADES
QUALIFICADAS
Os §§ 1º, 2º e 3º do art. 184 preveem as modalidades
qualificadas de violação de direito autoral. Conforme determina
o § 1º do art. 184, o agente deverá atuar com a finalidade de
obtenção de lucro direto ou indireto. Pode a reprodução, ainda,
recair sobre interpretação ou execução ou fonograma, sem
autorização expressa do autor, do artista intérprete ou
executante, do produtor, conforme o caso, ou de
quem os represente.
PENA, AÇÃO PENAL, COMPETÊNCIA PARA
JULGAMENTO E SUSPENSÃO CONDICIONAL DO
PROCESSO
A pena é de detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou
multa, para a violação de direito autoral prevista no caput do
art. 184 do Código Penal. Para as modalidades qualificadas,
constantes dos §§ 1º, 2º e 3º, a pena é de reclusão, de 2
(dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
Nos termos do art. 186 do diploma repressivo, com a redação que lhe Para a hipótese constante do caput
foi dada pela Lei nº 10.695, de 1º de julho de 2003, procede-se do art. 184 do Código Penal, será
mediante: I – queixa, nos crimes previstos no caput do art. 184; II – competente, inicialmente, o Juizado
ação penal pública incondicionada, nos crimes previstos nos §§ 1º e Especial Criminal, haja vista tratar-
2º do art. 184; III – ação penal pública incondicionada, nos crimes se, in casu, de infração penal de
cometidos em desfavor de entidades de direito público, autarquia, menor potencial ofensivo,
empresa pública, sociedade de economia mista ou fundação instituída podendo-se levar a efeito, ainda,
pelo Poder Público; IV – ação penal pública condicionada à proposta de suspensão
representação, nos crimes previstos no § 3º do art. 184. condicional do processo.
EXCLUSÃO DA
TIPICIDADE
O § 4º do art. 184 assevera, verbis: § 4º O disposto nos §§ 1º, 2º e
3º não se aplica quando se tratar de exceção ou limitação ao direito
de autor ou os que lhe são conexos, em conformidade com o previsto
na Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, nem a cópia de obra
intelectual ou fonograma, em um só exemplar, para uso privado do
copista, sem intuito de lucro direto ou indireto. Deste modo são duas
as hipóteses constantes do parágrafo sub examen. Na primeira, a lei
penal faz menção expressa às causas que excepcionam ou limitam os
direitos autorais. Na segunda parte observa-se que o legislador
pretendeu autorizar a cópia de obra intelectual ou fonograma, quando
feita em um só exemplar, para uso privado do copista, desde que não
haja intuito de lucro.
PROGRAMAS DE
COMPUTADOR
Os programas de computador foram objeto de
regulamentação específica por intermédio da Lei nº
9.609, de 19 de fevereiro de 1998, que, mediante
seu art. 2º, esclareceu que o regime de proteção à
propriedade intelectual de programa de computador
é o conferido às obras literárias pela legislação de
direitos autorais e conexos vigentes no País,
observado o disposto nesta Lei.
É importante destacarmos que no art. 12 da Lei nº
9.609/98, inserido no Capítulo V, relativo às infrações
e penalidades, foi criado um delito específico, cujo
tem por finalidade proteger os direitos do autor de
programa de computador.
O processo e o julgamento dos crimes contra a propriedade
EFEITOS DA imaterial são expostos através do Capítulo IV, inserido no Título II
SENTENÇA do livro II do Código de Processo Penal.
Os arts. 530-A a 530-I foram nele inseridos pela Lei nº 10.695, de
CONDENATÓRIA 1º de julho de 2003.
Vale ressaltar, nesta oportunidade, somente o efeito da sentença
penal condenatória, constante do art. 530-G, que cita: Art. 530-G.
O juiz, ao prolatar a sentença condenatória, poderá determinar a
destruição dos bens ilicitamente produzidos ou reproduzidos e o
perdimento dos equipamentos apreendidos, desde que
precipuamente destinados à produção e reprodução dos bens, em
favor da Fazenda Nacional, que deverá destruí-los ou doá-los aos
Estados, Municípios e Distrito Federal, a instituições públicas de
ensino e pesquisa ou de assistência social, bem como incorporá-
los, por economia ou interesse público, ao patrimônio da União,
que não poderão retorná-los aos canais de comércio.
COMPROVAÇÃO DO DELITO DE VIOLAÇÃO DE
DIREITO AUTORAL, BEM COMO SUA MATERIALIDADE

Versando sobre à comprovação do delito de violação de direito


autoral, bem como sua materialidade, o Superior Tribunal de
Justiça publicou, no DJe de 27 de junho de 2016, a Súmula nº
574, que expõe:
Súmula nº 574. Para a configuração do delito de violação de
direito autoral e a comprovação de sua materialidade, é
suficiente a perícia realizada por amostragem do produto
apreendido, nos aspectos externos do material, e é
desnecessária a identificação dos titulares dos direitos autorais
violados ou daqueles que os representem.
CAPÍTULO II
DOS CRIMES CONTRA O RESPEITO
AOS MORTOS

Artigo 210 Art. 210. Violar ou profanar sepultura


ou urna funerária:

Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três)


anos, e multa.
SUJEITOS DO CRIME

S U J E I T O AT I V O :
Q UALQUER PESSOA

Crime comum com


relação ao sujeito ativo,
bem como quanto ao
S U J E I T O PA S S I V O : sujeito
É A COLETIVIDADE E, passivo.
PA R T I C U L A R M E N T E , A
FA M I L I A D O M O R T O,
T R ATA N D O - S E , O U T R O S S I M ,
D E C R I M E V A G O.
CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA
Crime comum com relação ao sujeito ativo, bem
como quanto ao sujeito passivo, posto que a
coletividade, de forma geral, é que sofre com a
conduta praticada pelo agente, tratando-se,
outrossim, de um crime vago; doloso; comissivo
podendo, ser praticado via omissão imprópria,
na hipótese de o agente gozar do status de
garantidor; de forma livre; instantâneo;
material; monossubjetivo; plurissubsistente; não
transeunte (como regra).
Verbo e Objeto jurídico
... Verbo: Violar e Profanar. Objeto Jurídico e Objeto Material

Violar, aqui, significa o ato de abrir ou devassar arbitrariamente.


Profanar é tratar com irreverência, conspurcar, degradar. Objeto jurídico: Sentimento de respeito
aos mortos.

Objeto Material: A sepultura ou a urna


funeraria.
O delito de violação de sepultura somente
pode ser praticado dolosamente, não

Elemento havendo previsão para a modalidade de


natureza culposa. A conduta, portanto, deve
ser dirigida finalisticamente ao ato de violar

Subjetivo
ou profanar sepultura ou urna funerária,
quer dizer, levar a efeito comportamentos
que denotam desrespeito pelo lugar de
descanso de partes do corpo ou mesmo das
cinzas do morto.
CONSUMAÇÃO
O delito de violação de sepultura se
consuma no instante em que a
sepultura ou a urna funerária é
violada ou profanada pelo agente
com a efetivação das ações físicas.
Consuma-se com qualquer ato de
devassamento arbitrário do sepulcro
ou da urna, ou qualquer ato de
ultraje ou vandalismo contra eles,
qualquer alteração de aviltamento
ou grosseira irreverência.
MODALIDADES
COMISSIVA E OMISSIVA
As condutas de violar e profanar pressupõem um comportamento comissivo por
parte do agente. O delito pode ser cometido via omissão imprópria, na hipótese
em que o agente, por exemplo, gozando do status de garantidor, dolosamente,
não impedir que alguém viole ou profane sepultura ou urna funerária. Podemos
imaginar a hipótese em que o vigia de um cemitério, percebendo que algumas
pessoas violariam a sepultura de seu antigo inimigo, nutrindo, ainda, um
sentimento de rancor por tudo aquilo que o morto lhe fizera no passado, nada
faça para impedir o sucesso da infração penal. Deste modo ele pode ser
responsabilizado pela violação de sepultura, por meio de sua omissão imprópria.
AGENTE QUE VIOLA SEPULTURA COM O
FIM DE SUBTRAIR PERTENCES
ENTERRADOS COM O MORTO
A violação de sepultura pressupõe que o agente atue no sentido de invadir ou macular o local
onde estão enterrados ou guardados os restos mortais do defunto. Portanto, esse deverá ser o
seu dolo, o seu elemento subjetivo, que terá o condão de atingir a memória do morto.

Porém pode o agente ter atuado impelido por outro sentimento, a exemplo daquele que viola a
sepultura de um morto à procura de bens de valor que com ele foram enterrados. Não é
incomum a hipótese de pessoas que violam os túmulos em busca de extrair dentes de ouro, ou
objetos que foram enterrados com o de cujus. Se tratando disso, qual seria a infração penal
cometida? Entende-se que o agente deverá ser responsabilizado tão somente pelo delito de
violação de sepultura, haja vista que os objetos que foram ali deixados pela família do morto
não pertencem mais a ninguém tratando-se, pois, de res derelicta.

Guilherme de Souza Nucci entende que furto ocorrido em túmulos ou sepultura: cremos haver,
via deregra, apenas o crime de violação de sepultura ou, conforme o caso, destruição,
subtração ou ocultação de cadáver, pois os objetos materiais que estão dentro da cova não
pertencem a ninguém. Foram ali abandonados pela família. Porém, se o agente subtrai adornos
ou bens que guarnecem o próprio túmulo, como castiçais ou estátuas de bronze,
naturalmente há furto.
SEPULTURA OU URNA
FUNERÁRIA SEM CADÁVER OU
RESTOS MORTAIS
Se vim a ocorrer a hipótese em que o agente viole, por exemplo, uma sepultura
ou urna funerária sem que contenha qualquer cadáver ou mesmo seus restos
mortais, nesse caso, poderia o agente responder pelo delito tipificado no art. 210
do Código Penal? A resposta, aqui, só pode ser negativa, se, no caso a sepultura
estiver vazia ou a urna sem quaisquer restos mortais, deverá ser reconhecido o
crime impossível, nos termos do art. 17 do Código Penal, no que diz respeito à
infração penal de violação de sepultura. Nesse sentido, afirma Noronha: “Uma
sepultura vazia não está servindo a sua destinação, e, portanto, acha-se fora da
tutela do artigo.”
Dependendo da forma como o fato é praticado, poderá o agente ser
responsabilizado pelo delito de dano.
INUMAÇÃO OU EXUMAÇÃO
DE CADÁVER
A inumação ou a exumação de cadáver, com infração das
disposições legais, vai se configurar na contravenção penal
tipificada no art. 67 do Decreto-Lei nº 3.688/41. Inumar tem o
sentido de enterrar, sepultar, colocar cadáver, isto é, o corpo morto
na sepultura; exumar, ao contrário, significa tirar o corpo da
sepultura. Trata-se de norma penal em branco, uma vez que, para
que se reconheça a contravenção penal sub examen, faz-se
necessário recorrer a outro diploma legal que, in casu, é a Lei nº
6.015, de 31 de dezembro de 1973, que dispõe sobre os
registros públicos.
Ação Penal
A ação penal é de iniciativa pública incondicionada. Será
possível a proposta de suspensão condicional do processo,
nos termos preconizados pelo art. 89 da Lei nº 9.099/95,
tendo em vista a pena mínima cominada ao elito em estudo.
CAPÍTULO II
DOS CRIMES CONTRA O RESPEITO
AOS MORTOS

Artigo 211 Art. 211. Destruir, subtrair ou ocultar


cadáver ou parte dele:

Pena – reclusão, de 1 (um) a 3


(três) anos, e multa.
SUJEITOS DO CRIME

S U J E I T O AT I V O :
Q UALQUER PESSOA

Crime comum com


relação ao sujeito ativo,
bem como quanto ao
S U J E I T O PA S S I V O : sujeito
É A COLETIVIDADE E,
PA R T I C U L A R M E N T E , A passivo, pois se cuida
FA M I L I A D O M O R T O,
de um crime vago.
T R ATA N D O - S E , O U T R O S S I M ,
D E C R I M E V A G O.
CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA
Crime comum com relação ao sujeito ativo, bem
como quanto ao sujeito passivo, pois se cuida
de um crime vago, onde não somente a família
do morto figurará como sujeito passivo, mas
também toda a coletividade; doloso; comissivo
podendo, entretanto, ser praticado via omissão
imprópria, na hipótese de o agente gozar do
status de garantidor; de forma livre;
instantâneo, como regra, haja vista que na
modalidade ocultar o delito será de natureza
permanente; material; monossubjetivo;
plurissubsistente; transeunte ou não transeunte
dependendo da hipótese concreta.
Verbo e Objeto jurídico
... Verbo: Destruir, Subtrair e Ocultar. Objeto Jurídico e Objeto Material

O núcleo destruir é utilizado no sentido de aniquilar, fazer


perder a forma original, suprimir. Subtrair significa retirar do Objeto jurídico: Sentimento de respeito
local de onde originalmente se encontrava. Não importa, aqui, o aos mortos.
animus de ter o cadáver para si ou para outrem. A subtração
está ligada à remoção do cadáver, mesmo que seja para se
Objeto Material: O cadáver ou parte dele.
desfazer do corpo. Ocultar deve ser compreendido no sentido
de esconder o cadáver, ou mesmo parte dele, fazendo-o
desaparecer, sem, contudo, destruí-lo.
O delito de destruição,

Elemento subtração ou ocultação de


cadáver somente pode ser
praticado dolosamente, não

Subjetivo havendo previsão para a


modalidade de natureza
culposa.
CONSUMAÇÃO
Consuma-se o delito com a efetiva
destruição, seja parcial ou total do
cadáver ou, ainda, quando é
subtraído (também total ou
parcialmente), isto é, quando é
retirado, conforme as lições de
Hungria, “da esfera de proteção
jurídica ou da custódia de seus
legítimos detentores (cônjuge
supérstite, parentes do morto, vigia
do necrotério, guarda do cemitério
etc.)”, 4 ou deles é ocultado.
MODALIDADES
COMISSIVA E OMISSIVA
As condutas de destruir, subtrair e ocultar pressupõem um
comportamento comissivo por parte do agente. No entanto, o delito
poderá ser cometido via omissão imprópria, na hipótese em que o
agente, por exemplo, gozando do status de garantidor, dolosamente, não
impedir que alguém subtraia o cadáver que estava sendo
preparado para o funeral.
FETO NATIMORTO
Existe controvérsia a respeito de existir possibilidade de o natimorto gozar do
conceito de cadáver, podendo, consequentemente, ser entendido como
objeto material da ação do agente para efeitos de reconhecimento do delito
tipificado no art. 211 do Código Penal.
José Henrique Pierangeli acredita que “Três são as soluções preconizadas
primeiramente, a de que os natimortos e os fetos não são cadáveres porque
estes pressupõem vida extrauterina, ou seja, vida autônoma. Por cadáver
entende-se os restos exânimes de um homem que tenha vivido. Um segundo
posicionamento admite a existência do delito, ainda quando se trate de
natimorto e de feto com mais de seis meses de gestação, desprezando, pois,
o requisito de vida extrauterina. Florian despreza tais exigências e aponta a
existência do delito não só na hipótese do natirmorto, como na do feticídio.
A terceira corrente, que prepondera na doutrina nacional, admite o delito
quando se trata de natimorto, sob o fundamento de que esta hipótese
‘inspira o mesmo sentimento de respeito, de coisa sagrada; porque é
tratado, na vida social, como defunto.
LEI N°9.434/97
( TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS)
A Lei nº 9.434, de 4 de fevereiro de 1997, dispôs sobre a remoção de órgãos, tecidos
e partes do corpo humano para fins de transplante e tratamento.O art. 14 da Lei
criou uma infração penal específica para aquele que remover tecidos, órgãos ou
partes do corpo de pessoa ou cadáver, em desacordo com as disposições contidas na
Lei nº 9.434/97, cominando uma pena de reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e
multa, de 100 (cem) a 360 (trezentos e sessenta) dias-multa para quem praticar o
comportamento típico.
A diferença entre o art. 14 da Lei de Transplantes e o art. 211 do Código Penal, deve
ser levada a efeito considerando-se a finalidade com que atuava o agente. Assim, se a
conduta foi dirigida a subtrair cadáver ou parte dele com a finalidade de utilizá-lo para
transplante, tratamento ou mesmo com finalidade lucrativa, o delito deverá se
amoldar a uma das figuras típicas constantes da Lei nº 9.434/97.
Não tendo o agente atuado com nenhum desses fins, ele pode ser responsabilizado
pelo art. 211 do Código Penal, na modalidade subtrair cadáver ou parte dele.
FURTO DE CADÁVER
Diz respeito à possibilidade de ocorrer o delito de furto tendo o cadáver como seu
objeto material. O cadáver, enquanto sepultado, por exemplo, não goza do conceito
de coisa alheia móvel, exigido pelo art. 155 do Código Penal, razão pela qual não
poderá ser objeto do delito de furto.Imagine-se a hipótese de um cadáver que esteja
sendo utilizado para fins de estudo ou pesquisa científica, nos termos preconizados
pela Lei nº 8.501, de 30 de novembro de 1992, que, por meio do seu art. 2º,
determina:
Art. 2º O cadáver não reclamado junto às autoridades públicas, no prazo de 30
(trinta) dias, poderá ser destinado às escolas de medicina, para fins de ensino e de
pesquisa de caráter científico.
Nesse caso, passará a ser tratado como coisa, de propriedade, inclusive, por exemplo,
da escola de medicina que o recebeu, razão pela qual já se poderá levar a efeito o
raciocínio correspondente ao delito de furto.
PENA, AÇÃO PENAL E SUSPENSÃO
CONDICIONAL DO PROCESSO

A pena cominada pelo preceito secundário do art. 211 do


Código Penal é de reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e
multa. A ação penal é de iniciativa pública incondicionada.
Será possível a proposta de suspensão condicional do
processo, nos termos preconizados pelo art. 89 da Lei nº
9.099/95, tendo em vista a pena mínima cominada ao
delito em estudo.
CAPÍTULO II
DOS CRIMES CONTRA O RESPEITO
AOS MORTOS

Artigo 212 Art. 212. Vilipendiar cadáver ou suas


cinzas:

Pena – detenção, de 1 (um) a 3


(três) anos, e multa.
SUJEITOS DO CRIME

S U J E I T O AT I V O :
Q UALQUER PESSOA

Crime comum com


relação ao sujeito ativo,
bem como ao
sujeito passivo
S U J E I T O PA S S I V O :
É A COL ET IVIDAD E, BEM
C O M O A FA M Í L I A D O M O R T O,
Q UE T EV E O SEU CA DÁV ER
OU SUAS CINZAS
VILIPENDIADOS.
CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA
Crime comum com relação ao sujeito ativo, bem
como ao sujeito passivo, pois se cuida de um
crime vago, no qual não somente a família do
morto figurará como sujeito passivo, mas
também a coletividade como um todo; doloso;
comissivo podendo, entretanto, ser praticado via
omissão imprópria, na hipótese de o agente
gozar do status de garantidor; de forma livre;
instantâneo; material; monossubjetivo;
plurissubsistente; transeunte ou não transeunte
dependendo da hipótese concreta.
Verbo e Objeto jurídico
... Verbo: Vilipendiar. Objeto Jurídico e Objeto Material

Vilipendiar deve ser entendido no sentido de menoscabar,


aviltar, ultrajar, tratar com desprezo, sem o devido respeito Objeto jurídico: Sentimento de respeito
exigido ao cadáver ou a suas cinzas. Por exemplo, “tirar as aos mortos.
vestes do cadáver, escarrar ou jogar detritos ou impurezas
sobre ele, cortar algum membro (com o propósito de
Objeto Material: O cadáver ou suas
escarnecer), defecar sobre ele, derramar líquidos imundos ou
espalhar acintosamente as cinzas. cinzas.
Elemento Subjetivo
Existe discussão doutrinária no sentido de se exigir um elemento subjetivo
específico para efeitos de reconhecimento do delito de vilipêndio a cadáver. Nesse
sentido, Guilherme de Souza Nucci assevera que, “em se tratando de vilipêndio, é
de se exigir o elemento subjetivo do tipo específico, consistente na vontade de
humilhar ou desonrar a memória do morto.” Noronha, a seu turno, diz ser mister
que “o agente tenha o fim ou escopo de aviltar cadáver.” No entanto, apesar das
posições doutrinárias expostas, entendemos que tal elemento subjetivo específico
não se faz necessário, bastando que o comportamento do agente, objetivamente
considerado, se configure em ato de vilipêndio. Assim, imagine-se que membros
de determinada seita sejam obrigados a se relacionar sexualmente com
cadáveres, sob o argumento de que aumentariam o seu poder sexual. Antes da
prática da necrofilia, homenageiam o morto, de quem, em tese, supõem estar
extraindo energia sexual. Nesse caso, o simples fato de se relacionarem com o
cadáver, objetivamente, já se configura vilipêndio, independentemente se tinham
ou não essa finalidade.
MODALIDADES
COMISSIVA E OMISSIVA
A conduta de vilipendiar pressupõe um comportamento comissivo por
parte do agente. No entanto, o delito poderá ser cometido via omissão
imprópria, na hipótese em que o agente, por exemplo, gozando do status
de garantidor, dolosamente, não impedir que alguém pratique atos que
aviltem o cadáver ou suas cinzas.
CONSUMAÇÃO
Consuma-se o delito no
momento em que os atos que se
configuram em vilipêndio a
cadáver são praticados.
PENA, AÇÃO PENAL E SUSPENSÃO
CONDICIONAL DO PROCESSO

A pena cominada pelo preceito secundário do art. 212 do


Código Penal é de reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e
multa. A ação penal é de iniciativa pública incondicionada.
Será possível a proposta de suspensão condicional do
processo, nos termos preconizados pelo art. 89 da Lei nº
9.099/95, tendo em vista a pena mínima cominada ao
delito em estudo.
“A força do direito deve superar o direito da força.”
Rui Barbosa
GRUPO V
Mayra Silveira
Idailton Júnior
Karen Layse
Pedro Augusto

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