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PAGINA_CAPA_PROCESSO_PJE_1000932-81.2017.5.02.

0005

Poder Judiciário
Justiça do Trabalho
Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região

AÇÃO TRABALHISTA - RITO ORDINÁRIO


ATOrd 1000932-81.2017.5.02.0005
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Processo Judicial Eletrônico

Data da Autuação: 05/06/2017


Valor da causa: R$ 50.000,00
Associados: 1001319-15.2016.5.02.0205 ; 1000802-03.2017.5.02.0002

Partes:
RECLAMANTE: SINDICATO DOS EMPREGADOS NO COMERCIO HOTELEIRO E
SIMILARES DE SAO PAULO - CNPJ: 62.657.168/0001-21
ADVOGADO: FELIPE AUGUSTO MANCUSO ZUCHINI - OAB: SP252831
ADVOGADO: ALAN DE CARVALHO - OAB: SP296645
ADVOGADO: MARCOS COSTA CAMPOS - OAB: SP311248
ADVOGADO: ETHEL MARCHIORI REMORINI PANTUZO - OAB: SP149404
RECLAMANTE: SINDICATO DOS GARCONS COZINHEIROS SOMMELIERS E DEMAIS
EMPREGADOS EM REST E EMP DO COM E SERV DE ALIM PREP E BEB A VAREJO DE
SAO PAULO E REGIAO - CNPJ: 26.554.970/0001-22
ADVOGADO: FELIPE AUGUSTO MANCUSO ZUCHINI - OAB: SP252831
ADVOGADO: ETHEL MARCHIORI REMORINI PANTUZO - OAB: SP149404
RECLAMADO: ARCOS DOURADOS COMERCIO DE ALIMENTOS SA
- CNPJ: 42.591.651/0001-43
ADVOGADO: CARLA TERESA MARTINS ROMAR - OAB: SP106565
CUSTOS LEGIS: MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO - CNPJ: 26.989.715/0001-02
Documento assinado pelo Shodo

MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO


PROCURADORIA REGIONAL DO TRABALHO DA 2ª REGIÃO
RUA CUBATÃO, 322, PARAÍSO, SÃO PAULO/SP - CEP 04013-001 - TELEFONE: (11) 3246-7000

EXCELENTÍSSIMA SENHORA DOUTORA JUÍZA DO TRABALHO DA 2ª VARA DO


TRABALHO DE SÃO PAULO/SP

Ação Coletiva - ATOrd 1000932-81.2017.5.02.0005


Autores: SINDICATO DOS EMPREGADOS NO COMERCIO HOTELEIRO E SIMILARES
DE SAO PAULO e SINDICATO DOS GARCONS COZINHEIROS SOMMELIERS E DE-
MAIS EMPREGADOS EM REST E EMP DO COM E SERV DE ALIM PREP E BEB A VA-
REJO DE SAO PAULO E REGIAO SEGURANÇA E SIMILARES DE SÃO PAULO
Ré: ARCOS DOURADOS COMERCIO DE ALIMENTOS S.A.

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO – PROCURADORIA


REGIONAL DO TRABALHO DA 2ª REGIÃO, por sua Procuradora do
Trabalho infra-assinada, nos auto s da ação trabalh ista em epígrafe, vem,
respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, expor e requerer o que
se segue.

I - SÍNTESE FÁTICA.

Trata-se de ação coletiva propo sta pelo SINTHORESP (SINDICATO


DOS TRABALHADORES EM HOTÉIS, APART HOTÉIS, FLATS,
RESTAURANTES, BARES, LANCHONETES E SIMILARES DE SÃO PAULO
E REGIÃO) e pelo SINTRARESP (SINDICATO DOS EMPREGADOS EM
RESTAURANTES E EMPRESAS DO COMÉRCIO E SERVIÇOS DE
ALIMENTAÇÃO PREPARADA E BEBIDAS A VAREJO DE SÃO PAULO E
REGIÃO) em face de ARCOS DOURADOS COMERCIO DE ALIMENTOS
S.A. Alegam que a ré pratica ria abuso de direito com a utilização indevida
do instituto da dispensa, se ja ela com ou sem justa. Ademais, a ré fo rçaria
os seus empregad os a pedirem demissão ao praticar más condições de
trabalho, como ambiente insalubre e assédio moral. Desse modo,
pleiteiam: (i) a imposição da obrigação de motivar as ra zões pelas quais
os empregados são dispensados da empresa, bem como justificar os fatos
que vierem a acarretar pedido de de missão de empregado, inserindo-se a

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justificação na re scisão contratual; (ii) a condenação da ré ao pagamento


de indenização pelo dano em virtude da perda de uma chance a cada um
dos traba lhadores desligados; (iii) a condenação da ré ao pagamento de
indenização pelo dano moral existencial por violação ao direito à
felicidade por cada trabalhador prejudicado com o tipo de rescisão
contratual e; (iv) condenação da ré ao pagamento de indenização por
dano moral coletivo. Foi formulado também pedido para concessão de
liminar.

Os autores juntam cópia de decisões judiciais proferidas no âmbito


do TRT-2ª Região em que foram julga dos procedentes pedidos de rescisão
indireta em virtude das más condições de trabalho (agressão física e
verbal, impedimento ao trabalho, assédio moral, excesso de jornada); em
que houve pleito de reversão do pedido de demissão para convertê-lo em
dispensa sem justa causa; e em que houve a reversão judicial da
dispensa por ju sta causa para dispensa sem justa causa.

Em 23.11.2017 foi indeferido o pedido liminar (Id. 8670c5e, fls.


632/633). Na audiência de 03.10.2018 (Id. 652e536, fls.1005/1006), o MM.
Juízo não recebeu a contestação in icialmente ap resentada (Id. 6aec160,
fls. 679/777) por entender necessário que a ré se manifestasse acerca do
lit isconsórcio necessário e do chamamento ao processo dos demais
sindicatos do estado de São Paulo, tendo em vista a abrangência dos
pedidos. Houve manifestação da ré (Id. 7844129, fls.1007/1023) pugnando
pela desnecessidade de litisconsórcio necessá rio.

Foi apresentada nova contestação pela ré em 14.11.2019 (Id.


4c1987f, fls. 1109/1210), sendo recebida na audiência de 18.11.2019 (Id.
0091078, fls. 1436/1437). Argu iu a ré em sede de preliminar que não
seria cabível ação coletiva para a tutela de direitos individuais
heterogêneos, pois seria necessária a prova individual de cada
irregularidade apontada, não havendo prova de uma conduta coletiva da
ré. Prossegue afirmando que em caso de eventual provimento do pedido,
a sentença seria genérica, transferindo-se para o momento de seu
cumprimento a obrigação de hab ilita ção dos trabalhadores substituídos
para a comprovação, individualizada e específica, de que a dispensa ou o
pedido de demissão foi inválido ou nulo e, ainda, fosse apresentada prova
da alegada prática abusiva por parte do empregador.

Aduziu em preliminar também que a ação não poderia a branger os


empregados já desligados da empresa, pois o sindicato autor não teria
legitimidade para representá-los em juízo. Ademais, por não possuir
autorização da assembleia de empregados, o sindicato não teria
legitimidade para o ajuizamento da ação.

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Como objeção de mérito, requereu que fossem declarados


prescritos eventuais dire itos dos trabalhadores desligados pela ré há mais
de 2 (dois) anos da propositura da presente ação coletiva.

No mérito, sustentou que a Convenção 158 da OIT não integra o


ordenamento jurídico e, ademais, não impede a sua adaptação ao sistema
brasileiro, com a previsão, por exemplo, de multa pela dispensa a rbitrária.
Aduz que a Constituição Federal de 1988 (CF/88), no art. 7º, I, adota o
modelo indenizató rio atrelado ao FGTS, consistindo em proteção genérica
a todos os trabalhadores.

Também alega que, se até mesmo as dispensas coletivas e


plúrimas são autorizadas pela nova lei trabalhista e pela jurisp rudência
atual do TST, não haveria dano no presente caso, com base na suposta
alta rotatividade. Afirmou não haver nos autos prova de que a reclamada
praticaria atos que atingem a felicidade de seus empregados ou que lhes
imponha perda de uma chance.

Afirmou que é uma boa empregadora juntando dive rsos


comprovantes de programas que realiza para melho rar o bem-estar dos
empregados e prêmios que ganhou atestando que fo rneceria um bom
ambiente laboral. Alega que seus e mpregados são jovens, grande parte
deles tendo na ré o seu primeiro emprego. Assim, a rotatividade se
justificaria pelo fato de que eles buscariam novas oportunidades de
trabalho após adquirirem experiência na ré e em virtude de que a
estrutura de cargos da empresa possui 71% de profissionais na base e
que as promoções realizadas não são capazes de dar vazão a cargos
mais bem remunerados a todos aqueles que se encontram em posições
hierárquicas mais baixas.

Quanto à rotatividade, afirmou que não é verdadeira a afirmação


de que haveria uma troca de 100% dos empregados no período de 1 ano.
Aduziu que o seu turn over foi de 28% (no pe ríodo de 09/2017-08/2018) e
que o turn o ver da região sudeste, apurado pe lo Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) em
2014, foi de 42%. Sustentou que gastronomia e fast food são segmentos
distintos e que os estudos do DIEESE se referiam ao setor de
gastronomia. Também asseverou que não há economia ou lucro com o
turn over elevado. Pelo contrário, haveria dive rsos custos com a
rotatividade (treinamentos, perda de produtividade, queda na qualidade,
entre outro s).

Foi apresentada réplica pelo SINTHORESP em 03.12.2019 (Id.


9efba03, fls. 1438/1464).

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Em 21.02.2020 houve manifestação inicial do MPT (Id. de911ce,


fls. 1478/1479), passando a atuar como fiscal da ordem jurídica.

Foi realizada audiência telepresencial em 22.02.2021 (Id. b4492b9,


fls. 1514/1516) em que foi ouvida a preposta da reclamada, bem como
uma de suas testemunhas. Ao final, determinou-se que a ré juntasse: a )
documentação que comprovasse o índice de rotatividade da empresa dos
últimos 3 anos, bem como o motivo das rescisões; b) cópias das CATs
emitidas a partir de 2019. Restou consignado, ainda, que, após a juntada
de tal documentação, seria concedid o às partes o p razo de 10 dias para
razões finais e em seguida, de 30 dia s para que o MPT ofertasse pa rece r.

A ré apre sentou manifestação em 15.03.2021 (Id. 02f6166, fls.


1521/1523) em que informou os índices de rotatividade e as quantidades
de acidentes típ icos de 2016-2021. Em 05.04.2021, apresentou suas
alegações finais (Id. 7e65327, fls. 1524/1542).

Em 01.06.2021, os autos foram remetidos ao MPT (Id. e ba624d, fl.


1543) para pa recer no prazo de 30 (trinta) dia s. Todavia, em manifestação
de 03.06.2021 (Id. 21ecc69, fls. 1546/1547), o Parquet constatou que não
haviam sido apresentados todos os documentos necessários pela ré,
requerendo a sua intimação para: i) especifica r o motivo das rescisõe s do
contrato de trabalho dos empregados desligados da empresa desde 2016;
ii) juntar cópia das CATs emit idas a partir de 201 9 até o presente
momento ou que incluísse nos dados anteriormente apresentados as
doenças ocupacionais, as quais também podem ensejar a emissão de
CATs, nos termos dos artigos 19, 20 e 22 da Lei n. 8213/91.

Assim, em 23.07.2 021, a ré juntou manifestação (Id. 332c9c6, fls.


1552/1554) informando os motivos das rescisões contratuais no período
de 01.01.2016 até 30.06.2021 e que, de 2019 até o momento do
peticionamento, não havia emissão de CAT por doença ocupacional nos
restaurantes que estão na base de representação do SINTHORESP.

Por meio do despa cho de 06.10.2021(Id. ec4113a, fl. 15 56), houve


redesignação da audiência de julgamento para o d ia 19.11.2021. Em
06.10.2021, os autos foram remetidos ao MPT para que ofertasse parece r
final.

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II – PRELIMINARES

II. 1 – DA TEMPESTIVIDADE

Na audiência de 22.02.2021 (Id. b 4492b9, fls. 1514/1516) foi


consignado em ata que o MPT disporia do prazo de 30 dias para oferta r
parece r. No despacho de 01.06.2021 (Id. eba624d, fl. 1543), ao serem
remetidos o s autos ao Parquet após a primeira man ifestação da ré ,
novamente se constou o prazo de 30 (trinta) d ias.

Em se tratando do Ministério Público, a intimação deve ser pessoal


(art.180 do CPC), o que, nos termos do art. 5º, §6º da Lei n. 11.419/2006,
se dá por meio do PJe, dispondo o Parquet de até 10 (dez) dia s corridos
para a realização da consulta (§3º do art. 5º da Le i n. 11.419/2006).
Ademais, tal prazo deve ser contado em dias úteis nos termos do art. 775
da CLT.

Desse modo, tendo a intimação sido enviada ao Parquet por meio


do PJe em 06.10.2021, teria até o dia 16.10.2021 para tomar ciência pelo
PJe, iniciando-se a contagem do prazo de 30 (trinta) dias úteis em
18.10.2021.

Consigna-se que nos dias 29.10.20 21 (sexta -fe ira), 01.11.2021


(segunda-feira), 02.11.2021 (terça-feira) e 15.11.2021 (segunda-feira) não
houve expediente no TRT da 2ª Reg ião, com a conseq uente suspensão
dos prazos processuais, confo rme a Portaria GP n. 36/2020.

Portanto, o p razo de que dispõe e ste Órgão Ministe rial para se


manifestar encerra-se no dia 02.12.2021. Desta feita, é inconteste a
tempestividade deste parecer.

II. 2 – DA DELIMITAÇÃO TERRITORIAL E GEOGRÁFICA. BASE DO


SINDICATO AUTOR. DA AUSÊNCIA DE LITISCONSÓRCIO. DA AUSÊNCIA
DE NECESSIDADE DE CHAMAMENTO AO PROCESSO.

O SINHTORESP na exordia l (Id. f6f26b0, fls. 03/29 ) informou que a


sua base territorial no Município de São Paulo é con trove rtida. Assim,
requereu que fosse excluído da presente lide o Município de São Paulo,
devendo a decisão proferida ser aplicada às demais bases territoriais

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apresentadas pelo sindicato.

Sustentou, todavia a necessidade de a distribuição da ação


coletiva ocorrer em São Paulo, em observância à OJ – 130, III, da SDI II
do C.TST, que prevê que: “em caso de dano de abrangência supraregional
ou nacional, há competência concorrente para a Ação Civil Pública das
varas do trabalho das sedes dos Tribunais Regionais do Trabalho.”

Na contestação (Id. 4c1987f, fls. 1109/1210), a ré também


requereu a delimitação dos efeitos da decisão à base territo rial do
SINHTORESP, com exceção do Município de São Paulo.

O MM. Juízo no despacho de 23.11.2017 (Id. abd7354, fls.


630/631) reconheceu a competência de uma das Varas do Trabalho da
sede do TRT da 2ª Região.

Entende o MPT que o Municíp io de São Paulo deve ser retirado da


abrangência territoria l dos efeitos da sentença, tendo em vista a disputa
de representatividade entre o SINDFAST e o SINTHORESP. Desse modo,
os efeitos da decisão devem abranger os seguintes municípios da base
territorial do SINTHORESP: Arujá, Atibaia, Barueri, Birita-Mirim, Bom
Jesus dos Perdões, Cabreú va, Ca ieiras, Cajamar, Ca rapicuiba, Cotia,
Embu das Artes, Embu-Guaçu, Ferraz de Vasconcelos, Francisco Morato,
Franco da Rocha, Guarulhos, Itapecerica da Serra, Itapevi,
Itaquaquecetuba, Jandira, Juquitiba, Mairiporã, Mogi das Cruzes, Nazaré
Paulista, Osasco, Pirapora do Bom Jesus, Poá, Salesópolis, Santana de
Parnaíba, Suzano, Taboão da Serra e Vargem Grande Paulista.

Quanto ao litiscon sórcio e chamamento ao processo dos demais


sindicatos do Estado de São Paulo, aventados pelo MM. Juízo na
audiência de 03.10.2018 (Id. 652e536, fls. 1 005/1006), houve
manifestação contrária da ré (Id. 7844129, fls.1007-1023) e do sindicato -
autor (Id. 40ae7f8, fls. 1027/1032).

O Parquet também entende que não se trata de hipótese de


lit isconsórcio necessário ativo (artigo 114 do CPC), nem tampouco de
chamamento ao processo (artigo 130 do CPC), vez que os sindicatos da
categoria gastronômica e de hotelaria, tanto do Estado de São Paulo,
quanto dos demais Estado s, podem ind ividualmente ajuizar ação com o
mesmo objeto para obter decisão afeta aos trabalhadores que laboram
nos município s que compõem as suas respectivas bases.

É dizer: o resultado desta a ção não afeta os trabalhadores


representado s pelos demais sindicatos do Estado de São Paulo. São

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interesses que nã o atingem represe ntações co letivas de outras bases


territo riais. Portanto, não há que se falar em litisco nsórcio, nem em
chamamento ao processo.

II. 3 – DO CABIMENTO DE AÇÃO COLETIVA. DIREITO INDIVIDUAIS


HOMOGÊNEOS. AMPLA LEGITIMIDADE SINDICAL. DA SENTENÇA
GENÉRICA E DA EXECUÇÃO COLETIVA

A ré sustenta que os direitos postula dos nesta ação são individuais


heterogêneos, pois deveria ser averiguada cada u ma das rescisões
contratuais para a análise dos pedidos formulados na inicial. Alega que
não houve a participação do s substituídos, os quais poderiam discordar
do ajuizamento desta ação. Assevera que a existência de decisões
judiciais com conclusões distintas em relação às alegações de invalidade
de dispensas e de pedidos de demissão demonstraria a impossibilidade
de se tratar o tema coletivamente, sem se levar em consideração as
peculiaridades de cada caso individualmente. Pontu ou que para os
dire itos serem considerados coletivos, é necessária não apenas a origem
comum (art. 81, III, do CDC), mas também o predomínio de questões
comuns sobre as matérias individuais.

Em caso de procedência do pedido, a ré requereu que a liquidação


e a execução sejam ind ividualizadas, com a habilitação de cada
interessado. Afirma que as provas produzidas caso a caso na fase de
instrução se riam transferidas para a fase de execução, tornando-a
inexequível.

Pois bem; o auto r alega que a ré submete os seus emp regados a


condições de trabalho inadequadas – com sobrejornad a, assédio moral,
ambiente labora l insalubre –, para ensejar a rescisão contratual. Ademais,
imporia rigor excessivo pa ra posteriormente poder embasar as dispensas
por justa causa (abandono de emprego) ou forçar os empregados a
pedirem demissão.

Quando o CDC utilizou, em seu Cap ítulo III, a expressão "ações


coletivas" para qualificar as demandas que objetivam a tutela de direitos
individuais homogêneos, possibilitou a sua defesa pelo s sindicatos. Veja -
se:

Art. 81. A defesa dos interesse s e direitos dos consumidor es e


das vítimas p oder á ser exer cida em juí zo indivi dua lmente, ou a
título coletivo.

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Parágraf o único. A d efesa coletiva será exercida quan do se tr atar


de:
I - interesses ou di reitos difusos, ass im entendidos, para efei-
tos deste códi go, os transind ividu ais, de natureza in div isível, de
que sejam titulares pesso as indeterminadas e ligadas po r cir-
cunstâncias de fat o;
II - interesses o u direitos coletiv os, assim entendid os, para
efeit os d este código, os transind ividuais , de natureza indiv isível
de que sej a titu lar g rupo, cate goria o u c lasse de pessoas lig adas
entre si ou com a pa rte contrária por um a relaç ão jurídica b ase;
III - interesses ou direitos individ uais homogê neos, assim en-
tendidos o s decorr entes de ori gem comum.

Art. 82. Para fins do artigo 81, parágra fo únic o, são legit imados
concorrentement e:
(...)
IV - as a ssoc iações lega lmente const ituí das há pelo menos um
ano e que incluam entre seus fin s inst itucio nais a defesa dos in-
teresses e direitos protegi dos por este códi go, d ispensa da a au-
torização ass emblea r.

Interesses difusos são aqueles que abrangem número


indeterminado de pessoas unidas pelas mesmas circunstâncias de fato e
coletivos aqueles pertencentes a grupos, categoria s ou classes de
pessoas determiná veis, ligadas entre si ou com a parte contrária por uma
relação ju rídica base. A indeterm inid ade é a característica fundamental
dos interesses difusos e a dete rminidade a dos interesses co letivos.
Direitos ou interesses homogêneos são os que têm a mesma origem
comum, constituindo-se em subespécie de dire itos coletivos.

Tanto os interesses coletivos, qua nto os homogêneos, estão


cingidos a uma mesma base jurídica, sendo coletivos po rque se
destinam à proteção de grupos, categorias ou classes de pessoas, e não
de indivíduos singularme nte considerados.

A tutela requerida pelo sindicato é de caráte r difuso e coletivo: o


dire ito a que a ré proveja um ambiente de trabalho adequado que não
conduza a re scisões forçadas do con trato de trabalho –, seja por meio da
dispensa por justa causa, sem que estejam presentes os requisitos legais,
seja pelo abuso de direito da dispensa sem justa causa, seja pela piora
das condições de trabalho até que os empregados pe çam demissão –, é
indivisível, pois não depende da vontade individua l e pessoal de cada um
dos empregados da ré, mas sim das idênticas circun stâncias de fato que
os ligam.

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A hipótese dos autos refere-se ao d ireito de uma coletividade de


trabalhadores a condições de trabalho adequadas que não conduzam à
rescisão contratual.

Ademais, além da coletividade de empregados com interesse em


laborar em um ambiente de trabalho saudável, sem rotatividade
demasiada, há também um interesse de toda a sociedade na obtenção da
tutela judicial.

A rescisão imotivada e abusiva do contrato de trabalho pelo


empregador tem como vítima não apenas o empregado , mas o Estado e
toda a coletividade, por violar regra s de ordem pública e inte resse geral
que ultrapassam as fronteiras da relação individual de emprego.

A rotatividade de mão-de-obra é p rejudicial à economia , pois afeta


o consumo, e ao intere sse público, pois gera o pagamento do segu ro-
desemprego com déficit aos cofres públicos. Também é mecanismo de
redução sala rial, pois basta ao empregador dispensar imotivadamente o
empregado e contratar outro com menor salário.

Proteger o trabalhador das dispensas imotivadas é proteger o


trabalho, valor fundamental tutelado amplamente pela Constituição da
República. E mais, é proteger o direito de ação do trabalhador. É fato
notório que o empregado só pleiteia seus haveres judicialmente após o
término da relação de emprego, por temer a sua dispensa. Com a
necessidade de motivação para a d isp ensa, essa situaçã o tende a mudar. 1

Todavia, ainda que se pretendesse discutir o direito de cada


trabalhador, seria hipótese de direito individual homogêneo, pois advindo
de uma origem comum.

O fato de terem ocorrido diferentes tipos de re scisões para cada


trabalhador substituído não confere natureza heterogênea aos interesses
defendidos pelo sindicato-autor. O aspecto quantitativo do direito
vindicado na ação coletiva não interfere na sua natureza, segundo o art.
81 da Lei n. 8.078/90. Nesse sentido, é jurisprudência do C. TST:

AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RE CURSO DE REVI STA. RE-


CURSO DE REVI STA INTERPOSTO NA VI GÊNCIA DA LEI Nº
13.015/ 2014. L EGITIMIDADE ATI VA AD CAUSAM DO SINDI CATO
PROFISSIONAL PARA ATUAR COMO SUBSTITUTO PROCESSU-

1SABINO, João Filipe Moreira Lacerda. Convenção n. 158 da OIT: aspectos polêmicos e atuais. Revista
do Ministério Público do Trabalho, v. 1, p. 161-182, 2013.

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AL DA CATEGORIA PROFISSIONAL. DE FESA DE DIREITOS IN-


DIVI DUAIS HOMOGÊNEO S. PEDIDOS DE INT EGRAÇÃO DE
GRATIFI CAÇÃO SEMEST RAL E DO 13º SALÁ RIO NA BASE DE
CÁL CULO DA PLR, DE INTEGRA ÇÃO DA GRATIFICAÇÃO SE-
MEST RAL NA BAS E DE CÁLCULO DO 13º SALÁRIO, DO PA GA-
MENTO EM DOBRO DA SUPRESSÃO DE DEZ DIAS DE FÉRIAS
ENT RE OUTROS. Nos termos do or denamento juríd ico brasil eir o
e na esteira da juris prudência iterat iva desta Corte e do Supr emo
Tribunal Fed eral, a s ubstituiç ão processual pe lo s in dicato tem lu-
gar em razão de def esa de d ireitos ou interesses ind iv iduais ho-
mogêneos da categoria profis si ona l rep resentada, de forma am-
pla (art . 8º, inciso III, da CF/88). Desse modo, o que legit ima a
substit uiç ão processual pelo sindicat o é a defesa coletiva de di-
reitos indiv iduais homogên eos, ass im entendidos aqu eles que
decorrem de uma o rigem comum relativ amente a um grup o de-
terminado de empregados. Esse r equ is ito foi d evida e int e gral-
mente cumprid o na hip ótese em julgament o. Res sal ta-se que a
homogeneidade que cara cteriza o direito não está nas co nse-
quências i ndividua is no patrimônio de cada trabalhador ad-
vindas do reconhecimento desse direit o, mas sim no ato pra-
ticado pelo empr egador de descumpri mento de normas r egu-
lamentares e de l ei s e no prejuízo oca sionad o à categoria dos
empregados com o um todo, independentement e de quem ve-
nha a ser benefici ado em virtude do recon hecime nto da i lici-
tude da c onduta do empreg ador. F ica caracterizada a origem
comum do dir eito, d e modo que legitime a atu ação do sind ic ato,
não a desc aracter izando o fato de ser n ecessár ia a indiv idu aliza-
ção para a puraç ão do va lor dev ido a cada empregado, um a vez
que a homogeneidade diz r esp eito ao direito, e n ão à sua
quanti ficação, até porqu e os direi tos i ndivi duai s homogêneos
não são dir eitos indi viduais i dêntic os , nece ssitand o-se ape-
nas q ue decorram de um fato lesi vo comum. (...) a neces sida-
de de quant ificaçã o dos valores devid os, reforce-se, não des na-
tura a homogeneidade dos dire itos e, portanto, não afast a a legi-
timidade at iva do s ubstitut o processual. Agravo de instrumento
desprov id o. (AIRR - 100- 93.20 15. 5.04.0841, Rel ator Ministro:
José Roberto Fre ire Pimenta, Data de Julgamento: 24/08/2016,
2ª Turma, Dat a de Publicaçã o: DEJT 02/09/2016 – or iginal sem
grifos)

Ademais, a CF/88 (art. 8º, III) prevê a defesa d os dire itos


“coletivos ou individuais da categoria”, não existindo re strição da atuação
do sindicato à defe sa de direitos individuais homogêneos.
O STF reconhece a ampla legitimidade dos sindicatos para
defender em juízo os direitos e interesses coletivos ou individuais dos
integrantes da categoria que representam (Repe rcussão Geral: Tema
823). Como bem pontuou o Ministro Celso de Mello no julgamento do RE

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210.029, “A Constituição não quis fala r de direitos ou interesses


individuais homogêneos para não suscita r esse tipo de discussão. Ela foi
simples, direta, clara: ‘direitos e interesse s individuais e coletivos’.” No
mesmo sentido é o entendimento do C. TST:

I - AGRAVO DE INSTRUM ENTO EM RE CURSO DE REVISTA I N-


TERPOSTO NA VI GÊNCIA DA L EI Nº 13.467/1 7. SINDICATO.
SUB STITUIÇÃO PROCESSUAL. LEGITI MI DADE ATI VA. Ver ifica-
da a possível afront a ao art. 8º, III, da CF, deve ser adm iti do o
processamento do recurso d e revista. A gravo de instrume nt o co-
nhec ido e provido. II - RECURSO DE REVISTA I NTERPO STO NA
VIGÊNCI A DA LEI Nº 13. 467/17. SINDICATO. SUBSTITUI ÇÃO
PROCES SUAL. LEG ITIMIDADE ATIVA. A par da discus são r ela-
tiva à naturez a dos direitos postulado s na presente re cla ma-
ção, o posicionamento pacifica do no TST, na linha do Supre-
mo Tribunal Feder al, é o de que as entidades si ndicais pro-
fissionais detêm amplo espectro d e a tuação na d efesa dos in-
teresses das respectivas categori as, poss uindo legiti midade
para atuar como substitutas em processo s cuja s co ntrovér-
sias recai am sobr e direitos coletivo s, individuais h om ogê-
neos ou, ainda, subjetivos esp ecíficos. Precedentes. Recurso
de rev ista c onhecido por v iolaçã o d o art. 8º, III, da CF e provido .
(TST - RR: 100 09929520175020 444, Rel ator: Alexan dre De Sou-
za Agra B elmonte, Data de Ju lgament o: 05/05/202 1, 3ª Turma,
Data de Publicação: 07/05/2021)

AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RE CURSO DE REVI STA. RE-


CURSO DE RE VISTA REGIDO PELO CPC/201 5 E PELA I NSTRU-
ÇÃO NORM ATI VA Nº 40/2016 DO TST. LEGI TIMIDADE ATIVA AD
CAUS AM DO SINDI CATO PA RA AT UAR COMO SUB STITUTO
PROCES SUAL DA CATEGORI A PROFISSIONAL. DEFESA DE DI-
REITO S INDIVI DUAIS HOMOGÊNEOS. PRÁTI CA DE ATOS DA
RECLAM ADA VI SA NDO I MPEDI R OU DI FICULTAR O EXERCÍCIO
DO DIREI TO DE GREVE. Trat a-se a dis cussão acerca da le git i-
midade ativ a ad causam do sindicato pr ofiss ional para o aj uiza-
mento de ação co let iva em substit uição process ua l, em razão da
suposta pr átic a de atos il ega is e de as sédio, visando imped ir ou
dif icult ar o exercíc io do dire ito de gre ve pe los t ra ba lha do res,
ocorrida no ano d e 2013. Nos termos do ordenamento jurí dico
brasileiro e na est eira da jurisprudênc ia iterativa desta Corte
e do Suprem o Tribunal Federal, a s ubs ti tuição proces sual pe-
lo sindicato tem lugar em razão de defesa de direitos ou inte-
resse s indivi duais homogê neo s da c ategoria profissi ona l re-
prese ntada, de for ma ampla (artigo 8º, inciso III, da Consti-
tui ção F ederal). Desse modo, o que l egitima a substitui ção
processu al pelo sindicato é a defes a col etiva de direitos in-
dividuais homogêneos, as sim ente ndi dos a queles que d ecor-

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rem de uma origem comum relativamente a um grupo deter-


minado de empr egados. Ess e requisito foi devi do e int egral-
mente cum prido na hipóte se em j ulgamento, na m edida em
que a origem dos pedidos em questão é a mesma para todos
os empr egados substituídos. Com efeito, neste c aso, o titu lar é
perfeitamente identif icáv el e o objet o é divisível e c indível, ca-
racterizando- se, por ém, pela sua or igem comum (decorrênci a de
um mesmo fato). Busca-se, portant o, a reparação de dire itos de
diversos empregados em razão d e uma condut a única e un if orme
da empresa ora recl amada. Por f im, não se há falar em vio lação
do art igo 5º, inciso XXI, da Const itui çã o Fe dera l , tampo uc o na
necessid ade de autoriza ção prévia dos substituídos, pois o Su-
premo Tribunal Federa l, em julgamen to do leadi ng case RE
8836 42 RG, firmou o Tema nº 823, com repercussão geral, com o
seguinte teor: "Os sind icatos poss uem ampla le git imi dade extra-
ordinária par a defe nder em juí zo o s direitos e i nteresses co leti-
vos ou ind ividuais dos integrantes da cat egoria que representam,
inclus ive na s liq ui dações e exe cuçõ es de sentença, indep enden-
temente de autori zação dos su bstit uí dos". (TST - AI RR:
8494 420135080106, Relator: J ose Roberto Freir e Pimenta, Data
de Julgamento: 30 /06/2021, 2ª Turma, Data de Pub lic ação:
02/08/2 021)

O tratamento molecularizado da controvérsia por meio d a presente


ação coletiva não só é autoriza do pela ordem jurídica, como é
recomendável, pois apenas o olhar conjunto das rescisões contratuais
realizadas pela ré permite ave rigua r se houve ou não abuso de direito.

Portanto, deve ser afastada a preliminar de impossibilidade do


ajuizamento de ação cole tiva.

Por outro lado, co nsoante o Tema 823 de Repercussão Geral do


STF, os sindicatos têm legitimidade inclusive para defender os interesses
dos substituídos nas liquidaçõ es e exe cuções de sentença,
independentemente de sua autorização. Veja-se:

Ementa: RE CURSO EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCI ONAL.


ART. 8º, III , DA LEI MAIOR. SINDI CATO. LEGITIMIDADE. SUBS-
TITUTO PROCESSUAL. EXECUÇÃO DE SENT ENÇA. DESNE-
CES SIDADE DE AUTORIZAÇÃO. EXISTÊNCIA DE REPERCUS-
SÃO GERAL. REAFI RMAÇÃO DE J URI SPRUDÊNCI A.
I – Repercussão geral reconhecida e reafirmada a jurisprud ência
do Supremo Tr ibunal Feder al no sentido da ampla l egitim idade
extraordinár ia dos si ndi catos para defen der em juízo os direitos e
interesses col etiv os ou indiv iduais dos integr ant es da cat egoria
que represent am, i nclusive nas liqui dações e exec uçõ es de

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sentença, in dep endenteme nte de autorizaçã o dos substituí-


dos.
(RE 8 83642 RG, Rel ator(a): Min. MINIST RO PRESI DENT E, ju lga-
do em 1 8/06/2015, ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO
GERAL - MÉRITO DJe-124 DI VULG 25-06- 2015 P UBLIC 26-06-
2015)

Não se pode ad mitir que o sind icato tenha leg itimidade para
postular os direitos trabalhistas em nome dos representados, mas que
isso implique um entrave à execução da sentença da maneira mais
producente e efetiva para os trabalhadores.

A análise das circunstâncias relativas a cada trabalhado r


substituído na execução não afasta a origem comum da lesão ao direito e
não impede que o próprio substituto processual proceda à liquidação e
execução da sentença coletiva. Não é necessária a habilitação de
milhares de trabalhadores, conforme alega a ré, bastando que apresente
os documentos requeridos na fase de liquidação para se apu rar o
quantum debeatur.

II. 4 – DA LEGITIMIDADE SINDICAL. REPRESENTAÇÃO DE EX-


EMPREGADOS. DESNECESSIDADE DE AUTORIZAÇÃO ASSEMBLEAR.

A ré também argumenta que a decisão não poderia abranger os


empregados já desligados, os qu ais não seriam mais membros da
categoria e, assim, não poderiam ser substituídos pelo sindicato.

Alega, ainda, que seria necessária a utorização assemblear para o


sindicato ajuizar ação coletiva como substituto pro cessual de integrantes
da categoria .

Pois bem; a legitimidade ativa dos sindicatos na defesa das


coletividades que representam decorre do a rt. 8º, III, da CF/88: "ao
sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais
da categoria , inclusive em questõe s judiciais ou administrativas".

Os Tribunais Superio res já pacificaram o entendimento de que a


legitimidade ativa dos sindicatos é ampla e, no caso de interesses
trabalhistas individuais homogêneos e coletivos, abrange todos os
trabalhadores da categoria. Não há qualquer excludente no Texto
Constitucional de que a representa ção sindical se limita ria ao período em
que o trabalhador mantém o vínculo de emprego. É esse o entendimento
do TST:

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RECURSO DE REVI STA. LEGI TIMIDADE ATIVA DO SI NDICATO.


ABRANGÊNCIA DA SUBSTITUIÇÃO PROCE SSUAL. EX-
EMPREGADOS. I . Nos termos da jurispr udência desta Corte Su-
perior, o art. 8.º, III, da Constit uiç ão Federal assegura ao Sindi-
cato a po ssibilid ade de substitu içã o proc essual amp la e irres trita
para agir no int eresse de toda a categ oria, bem como le git imida-
de processual para atuar na defesa de t odos e quaisquer d ir eitos
subjeti vos ind ividua is e co letivos dos integrantes da categ oria
por ele repr esent ada, aí incluídos ex- empregados. II. Re curso
de rev ista de qu e se conhece, por d ivergênc ia j ur ispru dencial, e
a que se dá provimento. (TST -RR: 2013269201350 40751, Rela-
tor: Alexandre Luiz Ramos, Data de Julgamento: 12/09/ 2018, 4ª
Turma, Data de Publ icação: DEJT 14/09/ 2018).

Com o cancelamento do Enunciado n. 310 do TST e o


reconhecimento da legitim idade ampla do sindicato como substituto
processual dos trabalhadores da cate goria, é desnecessária a juntada da
lista dos substituídos com a petição inicial ou de comprovação de
autorização de assembleia de trabalhadores. Esse é o entendimento do
STF e do TST:

RECURSO EXT RAO RDINÁRIO. CONSTITUCIONAL. ART. 8º, III,


DA LEI MAIOR. SI NDI CATO. LEGIT IMIDADE. SUBSTI TUTO
PROCES SUAL. EXE CUÇÃO DE SENTENÇA. DESNECESSIDADE
DE AUTORIZAÇÃO. EXISTÊNCIA DE REPERCUS SÃO GERAL.
REA FIRMAÇÃO DE JURI SPRUDÊNCIA. I - Repercu ssão geral
reconhecida e reafi rmada a jurisprudência do Supremo Tribu-
nal Federal no sentido da ampla legit imidade extraordi nária
dos sindic atos par a defend er em juízo os direitos e interes-
ses coletivos ou individuais d os integrantes da c ategori a que
representam, inclusive nas liquida ções e exec uçõ es de sen-
tença, in dep end ent emente de autorização dos substituí dos.
(RE 88364 2 RG/AL , Rel. Min. Ricardo Lewandowsk i, Tri bunal
Pleno do Su premo Tribuna l Federal, Julgamento: 18/06/2015,
Publicaçã o: 26/0 6/2015 DJe) (gr ifos acr escid os).

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. SI NDI-


CATO. LEGITIMIDADE. AUTORIZAÇÃO EXPRESSA. DES NE-
CES SIDADE. PRECEDENTES.
1. A j urispru dência da Corte reconhece aos sindicatos amp la legi-
timidade para f igurar como substit utos processuais nas ações em
que at uam na defes a dos dir eitos e interesses c ol etiv os ou indi-
viduais dos trabalha dores integrant es da categoria, send o certo
que, atuando os si ndicatos ness a qualidade, não se faz ne-
cess ária express a autorização dos associados para o ajuiza-

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mento de ações em seu benefí cio. 2. Agrav o regiment al não


provido.
(STF, AI 85582 2 Ag R/RJ, 1ª Turma, Relator: Min. DIAS TOFFOLI ,
Julgamento: 05/08/2014 , Public ação: DJe-198, DIVULG 09 -10-
2014, PUBLIC 10- 10 -2014)

O sindi cat o, como substit uto processual, tem leg itim idade para
defender judicialme nte int eres ses co let ivos de toda a categor ia, e
não apenas de se us f iliados, sendo di spensável a j untada de
rel ação nominal do s filiados e de autorização expressa. ( STJ,
AgRg no Res p 119 5607/ RJ, Re l. Min. Castro Meira, Segunda
Turma, j ulgado em 1 0/04/2012, publica do em DJe 23/04/2012).

A j urisprudên ci a do STJ é f irme no s ent ido de que a s entid ades


sindic ais po derão at uar como s ubst ituta s processua is da catego-
ria que representam, sendo desnecessári a a autoriz aç ão ex-
press a do ti tular do direito subjetivo, bem como a apres enta-
ção de rel ação nominal dos ass oci ados e a indi caçã o de seus
respect ivos endereç os. A Lei 9.494/19 97, ao fix ar requis ito s ao
ajuizamento de demandas colet ivas, não poderia se sobrepor à
norma estabelecida nos arts. 5º, LXX, e 8º, III, da Constituição
Federal." (STJ, AgRg no AREs p 108. 779/MG, Rel. Min. Herman
Benjam in, Segu nda Turma, julga do em 1 7/04/2012, pu blicado em
DJe 24/ 04/2012)

Novamente se destaca o Tema de Repercussão Geral n.º 823 do


STF acerca da desnecessidade de autorização dos substituídos:

RECURSO EXT RAO RDINÁRIO. CONSTITUCI ONAL. ART. 8º, III,


DA LEI MAIOR. SI NDI CATO. LEGIT IMIDADE. SUBSTI TUTO
PROCES SUAL. EXE CUÇÃO DE SENTENÇA. DESNECESSIDADE
DE AUTORIZAÇÃO. EXISTÊNCIA DE REPERCUS SÃO GERAL.
REA FIRMAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA. I – Repercussão geral
reconheci da e r eafir mada a jurisprud ência d o Supremo Tribunal
Federal no sent ido da amp la legitimida de extra ord inár ia dos sin-
dicatos par a defender em j uízo os direit os e interesses cole tivos
ou indiv idu ai s dos integrantes da cate goria que representam, in-
clus iv e nas liq uidaç ões e exec uçõe s de sentença, indepen den-
temente de autorização dos su bstituí dos. (RE 883642 RG, Re-
lator(a): Min. MINIS TRO PRESIDENTE, julgado em 18/06/2015,
ACÓRDÃO ELETRÔ NICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO
DJe-1 24 DIVULG 25- 06- 2015 PUBLI C 26-06-2015)

Portanto, na ordem jurídica brasileira, o sindicato representa todos


os trabalhadore s da categoria, incluindo os que atualmente não mais a
integram. Po ssui legitimidade ampla para ajuizar a ação coletiva como
substituto proce ssual, independentemente de qualquer autorização.

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Devem, portanto, ser afastadas as preliminares arguidas pela ré.

III – PREJUDICIAL DE MÉRITO: PRESCRIÇÃO

A ré argui também que, para os trabalhadores desligados há mais


de dois anos da propositura da presente ação, sejam declarados
prescritos os direitos pleiteados (a rt. 7º, XXIX, da CF/88).

A Lei n. 7.347/85 não estabelece n enhum prazo deca dencial ou


prescricional para o exercício da ação civil pública, as quais não sofrem
os efeito s do decu rso do tempo, esp ecialmente quando o direito tute lado
estiver imantado pela absoluta indisponibilidade, pois se refere, em última
análise, à proteção à saúde e à vida.

Sobre os efeito s do decurso do tempo e a tutela d e direitos


coletivos, a doutrina assim se man ifesta:

A Açã o Civ il Públ ica não conta com uma disc ipl ina específ ica em
matéria pre scric ional. Tudo con duz, ent retanto, à con clusã o de
que se ins ere ela no rol das ações imprescritíve is 2.

A aplicação da le i, no Direito do Trabalho, deve se nortear pelo


princípio da proteção, em ra zão d a hipossuficiência do trabalhado r.
Também a aplicação da prescrição de ve conside rar tal aspecto, isto é, da
norma mais favorável ao obreiro.

Como ensina Raimundo Simão de Melo, “cabe lembrar que na


aplicação das regras prescricionais a interpretação deve ser restritiva e,
na dúvida, contra a p rescrição, pois se trata o instituto do meio mais
antipático de extin guir ob rigações, a lém do que o tema em discussão, o
objetivo maior é a proteção da vítima, e não do dever do inadimp lente”
(Direito ambiental do trabalho e a saúde do tra balhador. 5ª ed. São
Paulo: LTr, 2013. p . 561-562).

É fato público e notório que só após a realização de dive rsos


desligamentos ou pedidos de demissão pelas más condições de trabalho
se pode apurar que a prática da ré se consubstancia em abuso de direito.

A favor da imprescritibilidade dos direitos difusos e coletivos, cita -


se o RO nº 025890 0-71.2007.5.08.010 7, oriundo do TRT da 8ª Região:

2 MILARÉ, Edis. A Ação Civil Pública na Nova Ordem Constitucional. São Paulo: Saraiva, 1990. p. 15.

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AÇÃO CIVIL PÚBLI CA. OBRIGAÇÕES DE FAZER E NÃO FAZE R


E INDE NIZAÇÃO POR DANO MORAL CO LETIVO. DIREI TOS ME-
TAINDIVI DUAI S. IMPRESCRITIBI LIDADE. Não há como se reco-
nhecer a prescr itibilidade dos dir eit os coletiv os, uma vez que,
não sen do possív el a sua tutela ind ividual, os seus tit ulares fi-
cam a depend er da atuação dos legit ima dos extraordin ários, não
pode ndo arcar com o ônus da in érci a ou mesmo da atuaç ão re-
tardada desses. Em face das part icu lar i dades e especif icid ades
dos dire itos metaindividuais, a pretensã o relativa a dire itos e in-
teresses difusos e colet ivo s (sejam e sses dispo níveis e in dispo-
níveis) é impres crit í vel O dano ao meio ambie nte de trabal ho é
permanent e, contínuo, renovand o-se d iar iamente. Emb ora seja
passível de valoração, para efeito indenizatório, o direito de to-
dos a um meio ambiente sa dio não é patrimonial, trat and o-se de
direito fundamenta l, indisponível, comum a todos os t rabalhado-
res, não se submete ndo à prescr ição, segund o a j urispru dência e
a doutri na mais abal iza da. Precedentes do co len do TST e da
egrég ia Turma.

Ainda que se entenda aplicável a pre scrição, o presente caso atrai


a aplicação do princípio da actio nata. O marco da contagem da
prescrição só pode se iniciar quando o trabalhado r, de forma inequívoca,
toma ciência de que o desligamento ou pedido de demissão ocorreu como
prática re iterada da ré, desbordando dos limites do contrato individual de
trabalho, com abuso de direito.

A sentença, em ação coletiva, é genérica, devendo ser observados


os comandos da LACP (Lei 7347/85) e do CDC (Lei 8078/90), que
compõem o microssistema aplicável à s ações coletiva s, e não a CLT, que
rege contratos individuais de trabalho.

Em demanda que se busca decisão genérica, não é possível a


aplicação da prescrição, pois demandaria a verificação individual da data
da ciência inequívoca do abuso de dire ito. Isso impediria a análise dos
pedidos re lativos a diversos trabalhadores que foram desligado s e só
posteriormente souberam que se tratou de desligamento abusivo, o que os
exclu iria da apreciação do Pode r Judiciá rio, em violaçã o à CF/88 (art. 5º,
XXXV) e à amplitude das ações coletivas.
Portanto, não é juridicamente possível reconhecer prescrição
bienal ou quinquenal no processo coletivo, pois tal m atéria deverá se r
decidida em liquidação de sentença. Poderão ocorrer caso s de
interrupção ou suspensão da prescrição, o que deverá ser analisado no
momento apropriado para ser aferida eventual prescriçã o e seus efeitos.

Portanto, deve ser reje itada a prescrição quanto aos trabalhadores

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desligado s há mais de dois anos da data do ajuizamento da ação.

IV – DO MÉRITO

IV.1 – DO INQUÉRITO CIVIL N.º 000672.2013.02.000/0

A ré alega que o MPT já havia investigado o abu so do direito na


dispensa por justa causa no Inquérito Civil n.º 000672.2013.02.000/0.
Todavia, o arqu ivamento não ocorreu pela ausência d a prática abusiva
das dispensas por justa causa, mas sim porque o SINTHORESP possui
legitimidade concorrente para o a juizamento de ação civil pública para
essa questão e po r ter efetivamente ajuizado esta a ção em 05.06.2017.

Considerando que a questão foi judicializada e o MPT passou a


acompanhá-la como custos legis, com a devida tutela do interesse
público, não era necessária a manutenção de procedimento investigatório ,
pois a questão seria reso lvida na presente ação.

A Câmara de Coo rdenação e Revisão (CCR) do MPT já decidiu


que, estando a matéria sub judice, inexiste justificativa para a atuação
extrajudicial do Parquet Laboral:

Matéria Judicia lizad a. Estando a matéria ‘s ub judice’, ine xist e


just ific ativ a para pr osseguimento da at uação do ‘ Parq uet ’, que
não detém atribu ição revisio na l das decis ões jud iciais, salvo,
após o trâns ito em julgad o, nas hipót eses de aç ão resc isória.
(Process o PGT/ CCR/PP/11141/ 200 9, julg ado em 23.04. 2010 pelo
SubProcurador-Geral do Trabalho Dr. Ro géri o Rodr iguez Fer nan-
des Filho).

No mesmo sentido é a decisão da C. CCR em caso semelhante


(PROCESSO PGT/CCR/12581/2013):

“EMENTA: RECURSO ADMINI STRATIVO. SUPOSTA IRREG ULA-


RIDADE NO PROCESSO ELEI TORAL SI NDICAL. QUESTÃO JU-
DICIALI ZA DA. Acert ada a dec isão de d ecis ão de i ndefer imento
de insta uraçã o de inquér ito civ il, pois a questão já está submeti-
da à apreciaç ão da 1ª Vara do Trab alho de Três Lagoas. Recurso
conhecido, mas não provido. Arq uiv amento que se homologa.
Trata-se de recurs o admin istrativo (fl. 39/40) contra decisão de
indeferime nto d e Pedido de Instauração de Inquér ito Ci vil
000110.2013.24.002/ 2, em que o Órgão oficiante considerou não
se tratar de hipótese de at uaçã o do Ministér io Público d o Traba-

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lho, t endo em vista que a mat ér ia, objet o da representação inic ial
já foi submet ida à apreciação da 1ª Vara do Traba lho de Três La-
goas. Ad uz também a inc idênc ia do Precedente nº 16 do CSMPT
, em face de exi stir procedimento inv estigativ o repet ido. (...) Em
sua anális e, o órgão ofic iante consignou que as açõ es j udi cia is
ajuizadas outrora pelas cha pas 01 e 03 quest ionam também a li-
sura do proce sso e leit oral d o s ind icato, destacando que no pro-
cesso aju izado pe la chapa 03 o MPT j á está atuand o na figura de
custus legis e no processo aju izado pe la chapa 01, resta penden-
te a int imação do Parquet. (. ..) Consid ero corr eto o indeferi-
mento da representação, tendo em vista que a questã o con-
trovertida já está s ubmetida ao criv o do Poder Judiciári o, em
ação proposta pelos intere ssados, res tando compr ovado que
o MPT intervém o u intervirá como fis cal da l ei nest es fe itos,
oportuni dad e em que promov erá a tutela do interesse públ i-
co, como pretende o rec orrente. Correto o entendimento im-
pugnado, nego pr ovimento ao recurso. À vista do exp osto,
conheço do recurso administrativo e nego-lhe provimento.
Em consequência, homologo a promo ção de arquivamen to”.
(grifos no ssos)

Portanto, o arquivamento do Inquérito Civil n.º


000672.2013.02.000/0 não faz prova de que não há abuso do direito de
desligamento pela ré, pois ocorreu pelo fato de o SINTHORESP te r
ajuizado a presente ação, na qual o MPT atua como custos legis.

IV.2 – DO ABUSO DO DIREITO DE DISPENSA. DA CONVENÇÃO 158 DA OIT.

O sind icato-autor alega que o direito de dispensa não é absoluto .


O princíp io insculpido no art. 7º, I, da CF/88, embora não tenha sido
regulamentado por lei complementar, veda a desp edida arbitrária .
Conquanto o STF tenha entendido, no julgamento da ADI n. 1.480/DF, que
a Convenção 158 da OIT não supre a necessidade de lei complementa r,
não se pode negar a aplicabilidade desse tratado intern acional, pois está
em consonância com o art. 7º, I, da CF/88, complementa ndo-o.

A ré su stenta que a Convenção 158 da OIT não integra o


ordenamento jurídico e, mesmo que o fizesse, não impe de a adaptação da
convenção ao sistema brasile iro, com a previsão, por exemplo, de apenas
multa pela dispensa arbitrária. Aduz que o Direito brasile iro adota o
modelo indenizató rio do FGTS.

Pois bem; em 22.06.1982, a Conferência Internacional do Trabalho, reunida em


sua 68ª Sessão, aprovou a Convenção 158 relativa ao “Término da Relação de Traba-

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lho por Iniciativa do Empregador”. Tal tratado entrou em vigor, no plano internacional,
em 23.06.1985, doze meses após o registro de sua ratificação, junto ao Diretor-Geral da
OIT, por dois países-membros, em obediência ao parágrafo segundo de seu art. 16.

O Brasil, país integrante da OIT, com fundamento no art. 49, I, da CF/88, subme-
teu a referida Convenção à apreciação do Congresso Nacional, que a aprovou por meio
do Decreto Legislativo n. 68, de 16 de setembro de 1992. A Carta de Ratificação foi de-
positada junto ao Diretor-Geral da OIT em 05.01.1995, passando a Convenção, por for-
ça de seu art. 16, a viger, no plano interno, doze meses após essa data, isto é, em
05.06.1996. Em 10.04.1996, veio à luz o Decreto n. 1.855, que cuidou de promulgar a
Convenção, dando a ela publicidade no território nacional.

Entretanto, em 20.12.1996, o então Presidente da República editou o Decreto n.


2.100, para tornar público o registro da denúncia da Convenção n. 158, efetuado pelo
Brasil, junto ao Diretor-Geral da OIT, em 20.11.1996. O referido diploma mencionava
que, a partir de 20.11.1997, isto é, um ano após registrada a denúncia, a Convenção
158 não estaria mais em vigor no país, consoante previsto pelo art. 17, parágrafo 1,
desse tratado.

Em 19.06.1997, a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura


(CONTAG) e a Central Única dos Trabalhadores (CUT) ajuizaram a ADI n. 1.625, vi-
sando à declaração da inconstitucionalidade do Decreto n. 2.100/96. Por maioria de vo-
tos, o plenário do STF julgou a CUT parte ilegítima, excluindo-a do polo ativo da ação.
No julgamento do mérito, o Ministro Relator Maurício Corrêa e o Ministro Carlos Britto
proferiram seus votos no sentido da procedência parcial da ação, por entenderem ser
necessário o referendo do Congresso Nacional, por força do art. 49, I, da Carta Magna,
para que a denúncia fosse eficaz.

O Ministro Nélson Jobim, no entanto, pediu vista dos autos em 09.10.2003, re-
querendo a renovação da mesma em 28.04.2004, o que foi acatado pelo presidente da
Corte à época, Ministro Maurício Corrêa. Finalmente, em março de 2006, o então presi-
dente do Tribunal, Ministro Nélson Jobim, na iminência de se aposentar do cargo, profe-
riu sua decisão no sentido da improcedência da ação.

O Ministro Joaquim Barbosa, por sua vez, em 29.03.2006, requereu vista dos au-
tos e, na sessão plenária de 03.06.2009, proferiu o seu voto no sentido da procedência
total da ação. Na oportunidade, pediu vista dos autos a Ministra Ellen Gracie, a qual foi
substituída, em razão de sua aposentadoria, pela Ministra Rosa Maria Weber, que, na
sessão de 11.11.2015, proferiu voto também no sentido da procedência total da ação.
Na oportunidade, pediu vista dos autos o Ministro Teori Zavascki, o qual, em
14.09.2016, votou pela improcedência da ação. Na mesma ocasião pediu vista dos au-
tos o Ministro Dias Toffoli, sendo esta a situação existente no presente momento, de
modo que há mais de 24 anos se aguarda o julgamento definitivo da ADI n. 1.625.

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O cerne da Convenção 158 da OIT encontra-se em seu art. 4º3, o qual condicio-
na a validade da dispensa do empregado à existência de um motivo juridicamente rele-
vante. Este pode estar relacionado à capacidade do trabalhador, isto é, à sua aptidão,
habilidade ou qualificação técnica necessária ao exercício de sua função. Pode também
se referir ao seu comportamento, o que nos remete ao conceito de justa causa, isto é,
às condutas culposas ou dolosas, tipificadas em lei, que autorizam a resolução do con-
trato de trabalho pelo empregador. Os motivos relacionados às necessidades empresa-
riais são referenciados pelos arts. 13 e 14 da Convenção, podendo ser econômicos,
tecnológicos, estruturais ou análogos.

Sendo o motivo da dispensa relacionado ao comportamento ou ao desempenho


do trabalhador, o empregador deve conceder-lhe o direito de se defender previamente,
conforme determinado pelo art. 7º da Convenção n. 158. O trabalhador que considere a
sua dispensa injustificada, mesmo após ter se defendido perante o patrão, poderá ques-
tioná-la perante um organismo neutro, como um tribunal (art. 8º da Convenção).

A Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) da ONU de 1948, em seu


artigo XXIII, parágrafo 1, assegura o direito ao trabalho4. O Pacto Internacional dos Di-
reitos Econômicos Sociais e Culturais (PIDESC) de 1966, promulgado, no Brasil, pelo
Decreto n. 531/1992, em seu artigo 6º, também garante o direito ao trabalho5. A propó-
sito, o Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, do Conselho Econômico e
Social da ONU (ECOSOC), em seu 35º período de sessões realizado em Genebra de
07 a 25 de novembro de 2005, aprovou a Observação Geral n. 18, intitulada “O Direito
ao Trabalho”, a qual confere interpretação autêntica ao artigo 6º do PIDESC, de obser-
vância obrigatória, portanto, aos países que o ratificaram, entre eles o Brasil.

Na Observação Geral n. 18, consta que o direito ao trabalho é um direito funda-


mental reconhecido em diversos instrumentos de direito internacional, e que o PIDESC,
em seu artigo 6º, trata desse direito de forma mais extensa do que qualquer outro ins-
trumento. É ressaltado que “O direito ao trabalho é essencial para a realização de ou-

3 Artigo 4. Não se dará término à relação de trabalho de um trabalhador a menos que exista para isso
uma causa justificada relacionada com sua capacidade ou seu comportamento ou baseada nas necessi-
dades de funcionamento da empresa, estabelecimento ou serviço.
4 Artigo XXIII. 1. Todo ser humano tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas

e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego. (...)


5 ARTIGO 6º. 1. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem o direito ao trabalho, que compreen-

de o direito de toda pessoa de ter a possibilidade de ganhar a vida mediante um trabalho livremente es-
colhido ou aceito, e tomarão medidas apropriadas para salvaguardar esse direito. 2. As medidas que ca-
da Estado Parte do presente Pacto tomará a fim de assegurar o pleno exercício desse direito deverão
incluir a orientação e a formação técnica e profissional, a elaboração de programas, normas e técnicas
apropriadas para assegurar um desenvolvimento econômico, social e cultural constante e o pleno empre-
go produtivo em condições que salvaguardem aos indivíduos o gozo das liberdades políticas e econômi-
cas fundamentais.

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tros direitos humanos e constitui uma parte inseparável e inerente da dignidade huma-
na”6.

Em nível internacional, o direito ao trabalho é assegurado na alínea “a” do pará-


grafo 3 do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos; no inciso “i” do parágrafo “e”
do artigo 5º da Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as Formas de
Discriminação Racial; na alínea “a” do parágrafo 1 do artigo 11 da Convenção sobre a
Eliminação de todas as formas de Discriminação contra a Mulher; no artigo 32 da Con-
venção sobre os Direitos da Criança; nos artigos 11, 25, 26, 40, 52 e 54 da Convenção
Internacional sobre a Proteção dos Direitos de todos os Trabalhadores Migrantes e
seus Familiares. Ademais, diversos instrumentos regionais consagram o direito ao tra-
balho em sua dimensão geral, entre eles o Protocolo Adicional à Convenção Americana
sobre Direitos Humanos em matéria de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, de
1988 (“Protocolo de San Salvador”) (art. 6º), a Carta Social Europeia de 1961 e a Carta
Social Europeia Revisada de 1996 (parte II, art. 1) e a Carta Africana de Direitos Huma-
nos e dos Povos (art. 15). O direito ao trabalho foi proclamado também pela Assembleia
Geral das Nações Unidas na Declaração sobre o Progresso e o Desenvolvimento Soci-
al, aprovada por meio da Resolução 2542 (XXIV), de 11 de dezembro de 1969 (art. 6).

O “Protocolo de San Salvador”, inclusive, assegura expressamente o direito dos


trabalhadores à estabilidade em seus empregos (art. 7º, “d”)7. Esse tratado foi ratificado
pelo Brasil, tendo sido aprovado pelo Decreto Legislativo n. 56/1995 e promulgado pelo
Decreto n. 3.321/1999.

Consta expressamente na Observação Geral n. 18 que “O direito ao trabalho,


protegido no Pacto Internacional dos Direitos Econômicos Sociais e Culturais, afirma a
obrigação dos Estados Partes de garantir às pessoas seu direito ao trabalho livremente
escolhido ou aceito, em especial o direito a não ser privado do trabalho de forma
injusta”. O direito ao trabalho, portanto, “implica o direito a não ser privado injusta-
mente do emprego”. Ademais, menciona expressamente a Convenção n. 158 da OIT
como standard mínimo de proteção8.

6 ECOSOC. Aplicación del Pacto Internacional de los Derechos Económicos, Sociales y Culturales,

Observación general 18, El derecho al Trabajo (35º período de sesiones, 1999), U.N. Doc.
E/C.12/GC/18 (2006).
7 Artigo 7. Condições justas, equitativas e satisfatórias de trabalho. Os Estados Partes neste Protocolo

reconhecem que o direito ao trabalho, a que se refere o artigo anterior, pressupõe que toda pessoa goze
do mesmo em condições justas, equitativas e satisfatórias, para o que esses Estados garantirão em suas
legislações, de maneira particular: (...) d. Estabilidade dos trabalhadores em seus empregos, de acordo
com as características das indústrias e profissões e com as causas de justa separação. Nos casos de
demissão injustificada, o trabalhador terá direito a uma indenização ou à readmissão no emprego ou a
quaisquer outras prestações previstas pela legislação nacional”.
8 “A Convenção n. 158 da OIT, sobre o término da relação de trabalho (1982), estabelece a legalidade da

dispensa em seu artigo 4 e impõe, em particular, a necessidade de oferecer motivos válidos para a dis-
pensa, bem como o direito a recursos jurídicos e de outro tipo em caso de dispensa improcedente”. In
ECOSOC. Aplicación del Pacto Internacional de los Derechos Económicos, Sociales y Culturales,

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Na Observação Geral n. 18, salienta-se que “assim como todos os direitos hu-
manos, o direito ao trabalho impõe três tipos ou níveis de obrigações aos Estados Par-
tes: as obrigações de respeitar, proteger e aplicar”. A obrigação de proteger exige que
os Estados Partes adotem medidas que impeçam a interferência de terceiros no exercí-
cio do direito ao trabalho. A obrigação de aplicar inclui as obrigações de proporcionar,
facilitar e promover tal direito, de modo que os Estados Partes devem adotar medidas
legislativas, administrativas, orçamentárias, judiciais e de qualquer tipo adequadas para
garantir a sua plena realização. A obrigação de proteger o direito ao trabalho abrange,
entre outros, os deveres dos Estados Partes de “garantir que as medidas de privatiza-
ção não comprometam os direitos dos trabalhadores”. O descumprimento da obrigação
de proteger ocorre quando os Estados Partes adotam posturas omissivas, como “o fato
de não proteger os trabalhadores frente à dispensa improcedente”9.

Na Observação Geral n. 18 também se destaca que “a negociação coletiva é um


instrumento de fundamental importância na formulação de políticas de emprego”. Ade-
mais, “A promoção do emprego também exige a participação efetiva (...) dos sindicatos
na definição de prioridades, na adoção de decisões, no planejamento, na aplicação e
na avaliação da estratégia para promover o emprego”. Por outro lado, “toda pessoa ou
grupo que seja vítima de uma violação do direito ao trabalho deve ter acesso a recursos
judiciais adequados ou de outra natureza no plano nacional”, sendo que “todas as víti-
mas dessas violações têm direito a uma reparação adequada que pode adotar a forma
de uma restituição, uma indenização, uma compensação ou garantias de não repeti-
ção”. Nesse sentido, “os juízes e outros membros das autoridades encarregadas de fa-
zer cumprir a lei” devem prestar “maior atenção às violações do direito ao trabalho no
exercício de suas funções”10.

É destacado, ainda, na Observação Geral n. 18, que “a integração no ordena-


mento jurídico interno dos instrumentos internacionais que amparam o direito ao traba-
lho, em especial das Convenções pertinentes da OIT, deve reforçar a eficácia das me-
didas adotadas para garantir tal direito”. Ademais, “todos os elementos da sociedade”,
inclusive o “setor privado – têm responsabilidades quanto à realização do direito ao tra-
balho”, de modo que “as empresas privadas – nacionais e transnacionais – embora não
estejam obrigadas pelo Pacto, têm uma função particular a desempenhar na criação de

Observación general 18, El derecho al Trabajo (35º período de sesiones, 1999), U.N. Doc.
E/C.12/GC/18 (2006).
9 ECOSOC. Aplicación del Pacto Internacional de los Derechos Económicos, Sociales y Culturales,

Observación general 18, El derecho al Trabajo (35º período de sesiones, 1999), U.N. Doc.
E/C.12/GC/18 (2006).
10 ECOSOC. Aplicación del Pacto Internacional de los Derechos Económicos, Sociales y Cultura-

les, Observación general 18, El derecho al Trabajo (35º período de sesiones, 1999), U.N. Doc.
E/C.12/GC/18 (2006).

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emprego, nas políticas de contratação, no término da relação de trabalho e no acesso


não discriminatório ao trabalho” 11.

Por fim, evidencia-se na Observação Geral n. 18 que “Os sindicatos desempe-


nham uma função primordial em garantir o respeito do direito ao trabalho nos planos
local e nacional e ajudar os Estados a cumprirem suas obrigações derivadas do artigo
6. A função dos sindicatos é fundamental e continuará sendo considerada pelo Comitê
quando examine os relatórios dos Estados Partes” 12.

No âmbito do sistema interamericano, a estabilidade laboral e o direito à prote-


ção contra a dispensa injustificada são tutelados pelo artigo 26 da Convenção America-
na sobre Direitos Humanos13, conforme a interpretação adotada pela Corte Interameri-
cana de Direitos Humanos, em especial na sentença proferida em 31 de agosto de
2017 no Caso Lagos del Campo vs. Peru. Nessa decisão, a Corte destacou que “a dis-
pensa consiste na máxima sanção na relação de trabalho”, devendo tal sanção estar
“devidamente justificada (‘dispensa justificada’)”, tendo citado expressamente a Obser-
vação Geral n. 18 do Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, do ECOSOC,
segundo a qual “os Estados têm o dever de garantir a toda pessoa seu direito ao traba-
lho e a não ser privada deste de forma injusta” (parágrafo 125 e nota de rodapé 165)14.

Nessa sentença, a Corte afirmou que o direito à estabilidade laboral está protegi-
do pelo artigo 26 da CADH (parágrafo 140), tendo afirmado que não houve uma neces-
sidade imperativa que justificasse a dispensa da vítima (Senhor Lagos del Campo) (pa-
rágrafo 132). A Corte asseverou que os direitos trabalhistas específicos protegidos pelo
artigo 26 da CADH são aqueles que derivam das normas econômicas, sociais e sobre
educação, ciência e cultura contidas na Carta da OEA, a qual, em seus artigos 45 “b” e
34, prevê que o “trabalho é um direito e um dever social” e que deve ser prestado com
“salários justos, oportunidades de emprego e condições de trabalho aceitáveis para to-
dos”. A Carta da OEA assegura, ainda, o direito dos trabalhadores de “se associarem
livremente para a defesa e promoção de seus interesses” (art. 45, “c”). Ademais, indica

11 ECOSOC. Aplicación del Pacto Internacional de los Derechos Económicos, Sociales y Cultura-
les, Observación general 18, El derecho al Trabajo (35º período de sesiones, 1999), U.N. Doc.
E/C.12/GC/18 (2006).
12 ECOSOC. Aplicación del Pacto Internacional de los Derechos Económicos, Sociales y Cultura-

les, Observación general 18, El derecho al Trabajo (35º período de sesiones, 1999), U.N. Doc.
E/C.12/GC/18 (2006).
13 Artigo 26. Desenvolvimento progressivo. Os Estados Partes comprometem-se a adotar providências,

tanto no âmbito interno como mediante cooperação internacional, especialmente econômica e técnica, a
fim de conseguir progressivamente a plena efetividade dos direitos que decorrem das normas econômi-
cas, sociais e sobre educação, ciência e cultura, constantes da Carta da Organização dos Estados Ame-
ricanos, reformada pelo Protocolo de Buenos Aires, na medida dos recursos disponíveis, por via legislati-
va ou por outros meios apropriados.
14 CORTE IDH. Caso Lagos del Campo Vs. Perú. Excepciones Preliminares, Fondo, Reparaciones y

Costas. Sentencia de 31 de agosto de 2017. Serie C No. 340.

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que os Estados devem “harmonizar a legislação social” para a proteção de tais direitos
(art. 46).

Por outro lado, o artigo XIV da Declaração Americana dispõe que “toda pessoa
tem direito ao trabalho em condições dignas e a seguir livremente sua vocação”. Tal
dispositivo é relevante para definir o alcance do artigo 26 da CADH, pois “a Declaração
Americana constitui, no que é pertinente e em relação à Carta da Organização, uma
fonte de obrigações internacionais”. Ademais, o artigo 29 “d” da CADH dispõe expres-
samente que “nenhuma disposição da presente Convenção pode ser interpretada no
sentido de (...) d) excluir ou limitar o efeito que possa produzir a Declaração Americana
de Direitos e Deveres do Homem e outros atos internacionais da mesma natureza” (pa-
rágrafos 143 e 144).

A Corte Interamericna afirma, assim, que o direito ao trabalho resulta de uma in-
terpretação do artigo 26 da CADH em conjunto com a Carta da OEA e a Declaração
Americana, estando reconhecido explicitamente em diversas leis internas dos Estados
americanos, bem como em um vasto corpus iuris internacional, a saber: artigo 6º do
PIDESC; artigo 23 da DUDH; artigos 7 e 8 da Carta Social das Américas; artigos 6 e 7
do “Protocolo de San Salvador”; artigo 11 da Convenção sobre a Eliminação de Todas
as Formas de Discriminação contra a Mulher, artigo 32.1 da Convenção sobre os Direi-
tos da Criança; artigo 1º da Carta Social Europeia; e artigo 15 da Carta Africana sobre
os Direitos Humanos e dos Povos (parágrafo 145).

Desse modo, ao analisar o conteúdo e o alcance do artigo 26 da CADH, a Corte


afirmou, à luz das regras gerais de interpretação estabelecidas no artigo 29 “b”, “c” e “d”
da mesma Convenção, a proteção da estabilidade do trabalho (parágrafo 146). Nesse
ponto, citou novamente a Observação Geral n. 18 do Comitê de Direitos Econômicos,
Sociais e Culturais, do ECOSOC, na qual consta que o direito ao trabalho “implica o di-
reito a não ser privado injustamente do emprego” (parágrafos 146 e 147). A Corte cita
também expressamente a Convenção n. 158 da OIT, o qual dispõe que “o direito ao
trabalho inclui a legalidade da dispensa em seu artigo 4º e impõe, em especial, a ne-
cessidade de oferecer motivos válidos para a dispensa, assim como o direito a recursos
jurídicos efetivos no caso de dispensa improcedente” (parágrafo 148).

Como consequência, a Corte conclui que as obrigações do Estado quanto à pro-


teção do direito à estabilidade laboral, no âmbito privado, traduzem-se nos seguintes
deveres: a) adotar as medidas adequadas para a devida regulamentação e fiscalização
desse direito; b) proteger o trabalhador, através de seus órgãos competentes, contra a
dispensa injustificada; c) no caso de dispensa injustificada, remediar a situação (por
meio de reintegração ou, quando apropriado, por meio de indenização e outras presta-
ções previstas na legislação nacional). Portanto, d) o Estado deve ter mecanismos efe-
tivos para reclamar contra uma situação de dispensa injustificada, a fim de garantir o
acesso à justiça e a proteção judicial efetiva de tais direitos (parágrafo 149).

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Cumpre destacar também a sentença prolatada pela Corte Interamericana em 02


de fevereiro de 2001, no Caso Baena Ricardo e outros vs. Panamá, na qual destacou
que “as dispensas efetuadas sem as garantias do artigo 8º da Convenção geraram gra-
ves consequências socioeconômicas para as pessoas despedidas e seus familiares e
dependentes, tais como a perda de renda e a diminuição do padrão de vida”. Destacou-
se, ainda, que para a aplicação de uma sanção com consequências tão graves deve ser
assegurado ao trabalhador um devido processo com as garantias contempladas na
Convenção Americana (parágrafo 134)15.

Ainda na sentença proferida no Caso Lagos del Campo vs. Peru, a Corte preci-
sou, ainda, que a estabilidade laboral não consiste em uma permanência irrestrita no
emprego, mas no respeito a esse direito, entre outras medidas, concedendo-se garanti-
as devidas de proteção ao trabalhador, para que, em caso de dispensa, seja realizada
por causas justificadas, o que implica que o empregador comprove os motivos suficien-
tes para impor essa sanção com as devidas garantias e, frente a isso, o trabalhador
possa recorrer dessa decisão junto às autoridades internas, que verificam se as causas
alegadas não são arbitrárias ou contrárias ao direito (parágrafo 150).

A Corte destacou, ainda, que, em razão da dispensa injustificada, a vítima per-


deu seu emprego, a possibilidade de obter os proventos de aposentadoria, entre outros
direitos, o que teve como consequência repercussões em sua vida profissional, pessoal
e familiar (parágrafo 152). A Corte concluiu, portanto, com a interpretação do artigo 26
da CADH em conjunto com os artigos 1.1, 13, 8 y 16 da mesma Convenção, que o Es-
tado, devido à dispensa injustificada da vítima, não protegeu o seu direito à estabilidade
laboral, o que teve como consequência um impacto em seu desenvolvimento profissio-
nal, pessoal e familiar (parágrafos 153 e 166). Nas palavras da Corte, a dispensa do
trabalhador “faz cessar a própria condição do trabalhador, ou seja, ele é expulso de
uma categoria e privado de um direito fundamental e às vezes indispensável para a so-
brevivência e a realização de outros direitos. O dano arbitrário à estabilidade no empre-
go provavelmente afetará até a própria identidade subjetiva da pessoa e até transcen-
derá, afetando terceiros relacionados” (parágrafo 189).

A interpretação do artigo 26 da Convenção Americana consagrada no Caso La-


gos del Campo vs. Peru, acima exposta, foi reafirmada pela Corte na sentença prolata-
da em 23 de novembro de 2017 no Caso Trabajadores Cesados de Petroperú y otros
vs. Peru. O objeto desse caso foi a dispensa coletiva de 84 trabalhadores de Petroperú,
39 trabalhadores do Ministério da Educação, 15 trabalhadores do Ministério da Econo-
mia e Finanças e 25 trabalhadores da Empresa Nacional de Portos. A Corte afirmou o
seguinte: “este Tribunal considera que, tal como foi estabelecido no precedente de La-
gos del Campo vs. Peru, o direito ao trabalho inclui o direito a garantir o direito de aces-

15 CORTE IDH. Caso Baena Ricardo y otros Vs. Panamá. Fondo, Reparaciones y Costas. Sentencia de

2 de febrero de 2001. Serie C No. 72.

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so à justiça e a tutela judicial efetiva, tanto no âmbito público, como no âmbito privado
das relações de trabalho” (parágrafo 193)16.

Na sentença proferida em 08 de fevereiro de 2018, no Caso San Miguel Sosa y


otras vs. Venezuela, a Corte também reafirmou o entendimento expresso no Caso La-
gos del Campo vs. Peru acerca da violação ao direito ao trabalho e à estabilidade labo-
ral nos termos do artigo 26 da Convenção Americana17.

Desse modo, a Corte Interamericana de Direitos Humanos, em interpretação


harmônica e sistemática da Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de São
José da Costa Rica) -, da qual o Brasil é signatário, tendo-a promulgado por meio do
Decreto n. 678, de 1992 -, considerou que os seus artigos 26 e 29 resguardam, tanto o
direito à progressividade social, quanto a proteção do emprego contra a despedida arbi-
trária. Não há que se falar, portanto, em direito potestativo do empregador em proceder
à dispensa injustificada do trabalhador.

Nesse cenário, é imprescindível a utilização, pelos operadores do Direito do


Trabalho, do instrumento do controle de convencionalidade, tendo como parâmetro os
tratados internacionais de direitos humanos ratificados pelo Brasil, firmados no âmbito
da OIT, OEA e ONU. Tais tratados, no entendimento do próprio STF (HC 87.585/TO e
RE 466.343/SP), caso não aprovados pelo rito do art. 5º, §3º, da CF/88, têm hierarquia
no mínimo supralegal.

O Poder Judiciário nacional, inclusive os juízes de primeira instância -, sob pena


de responsabilização internacional do Estado brasileiro -, tem a obrigação jurídica de
realizar o controle de convencionalidade das leis internas ex officio, por serem agentes
estatais vinculados às normas de Direito Internacional dos Direitos Humanos. Essa
obrigação jurídica decorre do artigo 5º, §2º, da CF/88, bem como de tratados
internacionais de direitos humanos ratificados pelo Brasil (artigo 2.2 do Pacto
Internacional de Direitos Civis e Políticos de 1966, da ONU, aprovado pelo Decreto
Legislativo n. 226/1991 e promulgado pelo Decreto n. 592/1992; artigos 1º e 2º da
Convenção Americana sobre Direitos Humanos de 1969, da OEA, promulgada por meio
do Decreto n. 678/1992; e artigo 2º do Protocolo Adicional à Convenção Americana
sobre Direitos Humanos em matéria de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, de
1988, da OEA, aprovado pelo Decreto Legislativo n. 56/1995 e promulgado pelo
Decreto n. 3.321/1999).

16 CORTE IDH. Caso Trabajadores Cesados de Petroperú y otros Vs. Perú. Excepciones Prelimina-
res, Fondo, Reparaciones y Costas. Sentencia de 23 de noviembre 2017. Serie C No. 344.
17 CORTE IDH. Caso San Miguel Sosa y otras vs. Venezuela. Excepciones Preliminares, Fondo, Repa-

raciones y Costas. Sentencia de 8 de febrero 2018. Serie C No. 348.

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Tal entendimento, inclusive, já foi consagrado pelo STF e pela Corte


Interamericana de Direitos Humanos, cuja jurisdição foi reconhecida pelo Brasil por
meio do Decreto Legislativo n. 89/1998. Nesse sentido, podem ser citadas,
ilustrativamente, a decisão do STF no RE 466.343 (data de julgamento: 03.12.2008),
bem como as seguintes decisões da Corte Interamericana de Direitos Humanos: Caso
Tribunal Constitucional vs. Peru. Mérito, Reparações e Custas. Sentença de 31 de
janeiro de 2001. Série C. Nº 71; Caso Bámaca Velásquez vs. Guatemala. Mérito.
Sentença de 25 de novembro de 2000. Série C. Nº 70; Caso Paniagua Morales e outros
vs Guatemala. Mérito. Sentença de 8 de março de 1998. Série C. Nº 37; Caso Albán
Cornejo e outros. vs. Equador. Mérito, Reparações e Custas. Sentença de 22 de
novembro de 2007. Série C. Nº 171; e Opinião Consultiva OC-14/94, sobre a
responsabilidade internacional por promulgação e aplicação de leis violadoras da
Convenção (arts. 1 e 2 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos)18.

Na Opinião Consultiva OC-27/21, de 05 de maio de 2021, solicitada pela


Comissão Interamericana de Direitos Humanos, sobre direitos à liberdade sindical,
negociação coletiva e greve, e sua relação com outros direitos, com perspectiva de
gênero, a Corte Interamericana reafirmou a obrigação do Poder Judiciário nacional de
realizar o controle de convencionalidade, sob pena de responsabilização internacional
do Estado:

36. La Corte estima necesario, además, recordar que, conforme al derecho


internacional, cuando un Estado es parte de un tratado internacional, como la
Convención Americana, dicho tratado obliga a todos sus órganos, incluidos los
poderes judicial y legislativo, por lo que la violación por parte de alguno de
dichos órganos genera responsabilidad internacional para aquél. Es por tal
razón que estima necesario que los diversos órganos del Estado realicen el
correspondiente control de convencionalidad, también sobre la base de lo que
señale en ejercicio de su competencia no contenciosa o consultiva (...)19

Desse modo, no âmbito da Justiça do Trabalho, exsurge o dever de realizar o


controle de convencionalidade, conferindo às leis e atos normativos interpretação
conforme os tratados internacionais de direitos humanos ratificados pelo Brasil, sob
pena de responsabilização internacional do Estado brasileiro. Nesse sentido, vejam-se
as seguintes sentenças da Corte Interamericana de Direitos Humanos:

18Vide NETO, Silvio Beltramelli. Direitos humanos. 4ª ed. Salvador: Juspodivm, 2017.
19CORTE IDH. Opinión Consultiva OC-27/21 de 5 de mayo de 2021 solicitada por la Comisión Inte-
ramericana de Derechos Humanos. Derechos a la Libertad Sindical, Negociación Colectiva y Huelga, y
su relación con otros Derechos, con perspectiva de Género. Disponível em:
<https://www.corteidh.or.cr/docs/opiniones/seriea_27_esp.pdf>. Acesso em 09 nov. 2021.

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Com fundamento no artigo 1.1 CADH [Convenção Americana sobre Direitos


Humanos], o Estado é obrigado a respeitar os direitos e liberdades
reconhecidos na Convenção e a organizar o poder público para garantir às
pessoas sob sua jurisdição o livre e pleno exercício dos direitos humanos. De
acordo com as regras do direito da responsabilidade internacional do Estado,
aplicáveis ao Direito Internacional dos Direitos Humanos, a ação ou omissão
de qualquer autoridade pública, independentemente de sua hierarquia,
constitui um fato imputável ao Estado. (Caso Tribunal Constitucional vs. Perú.
Mérito, Reparações e Custas. Sentença de 31 de janeiro de 2001. Série C. Nº
71; Caso Bámaca Velásquez vs. Guatemala. Mérito. Sentença de 25 de
novembro de 2000. Série C. Nº 70)20.

A responsabilidade do Estado pode surgir quando um órgão ou funcionário do


Estado ou de uma instituição de caráter público afete, indevidamente, por
ação ou omissão, alguns dos bens protegidos pela Convenção Americana.
Também pode decorrer de atos praticados por particulares, como ocorre
quando o Estado é omisso ao prevenir ou impedir condutas de terceiros que
violem esses bens jurídicos”. (Caso Albán Cornejo e outros vs. Equador.
Mérito, Reparações e Custas. Sentença de 22 de novembro de 2007. Série C.
Nº 171)21.

Valério de Oliveira Mazzuoli observa que os tratados internacionais de direitos


humanos, inclusive as convenções da OIT, devem ser aplicados no plano doméstico
com base no princípio pro homine ou pro persona, com a primazia da norma que, “no
caso concreto, mais proteja o trabalhador sujeito de direitos”. O magistrado trabalhista
deve declarar a invalidade das leis internas incompatíveis com as convenções da OIT,
por meio do “controle de convencionalidade das leis na modalidade difusa”22. A Corte
IDH também afirma que “la Convención Americana prevé expresamente determinadas

20GARCÍA, Fernando Silva. Jurisprudencia interamericana sobre derechos humanos: criterios es-
senciales. México: Dirección General de Comunicación del Consejo de la Judicatura, 2011, p. 13-14.
Tradução livre do original. In PORTO, Lorena Vasconcelos; NETO, Silvio Beltramelli; RIBEIRO, Thiago
Gurjão Alves. Manual do Grupo de Trabalho de Controle de Convencionalidade do Ministério Públi-
co do Trabalho: “Temas da Lei n. 13.467/2017 (“reforma trabalhista”) à luz das normas internacionais.
Brasília: Procuradoria-Geral do Trabalho, 2018.
21GARCÍA, Fernando Silva. Jurisprudencia interamericana sobre derechos humanos: criterios es-
senciales. México: Dirección General de Comunicación del Consejo de la Judicatura, 2011, p. 13-14.
Tradução livre do original. In PORTO, Lorena Vasconcelos; NETO, Silvio Beltramelli; RIBEIRO, Thiago
Gurjão Alves. Manual do Grupo de Trabalho de Controle de Convencionalidade do Ministério Públi-
co do Trabalho: “Temas da Lei n. 13.467/2017 (“reforma trabalhista”) à luz das normas internacionais.
Brasília: Procuradoria-Geral do Trabalho, 2018.
22MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Integração das Convenções e Recomendações Internacionais da OIT
no Brasil e sua aplicação sob a perspectiva do princípio pro homine. Revista do Tribunal Regional do
Trabalho da 15ª Região, n. 43, p. 71-94, 2013, p. 92 e 93.

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pautas de interpretación en su artículo 29, entre las que alberga el principio pro perso-
na” (parágrafo 44)23.

Desse modo, deve ser aferida a compatibilidade das normas de Direito interno -,
que possibilitam a dispensa imotivada do trabalhador, sendo necessário apenas o pa-
gamento de uma indenização correspondente a 40% (quarenta por cento) incidente so-
bre os depósitos do FGTS -, com os tratados internacionais de direitos humanos ratifi-
cados pelo Brasil e a jurisprudência internacional.

Primeiramente, tem-se que a denúncia unilateral da Convenção 158 da OIT é in-


constitucional, não sendo, portanto, válida, de modo que esse tratado internacional
permanece em vigor na ordem jurídica brasileira24, podendo ser utilizado como parâme-
tro para o controle de convencionalidade. Como visto, a Convenção n. 158 da OIT, em
seu art. 4º, condiciona a validade da dispensa do empregado à existência de um motivo
juridicamente relevante, que pode estar relacionado à capacidade do trabalhador, ao
seu comportamento ou às necessidades empresariais de natureza econômica, tecnoló-
gica, estrutural ou análoga.

Ademais, a Convenção Americana de Direitos Humanos, ratificada pelo Brasil,


em seus artigos 26 e 29, resguarda tanto o direito à progressividade social, quanto a
proteção do emprego contra a despedida arbitrária, conforme a jurisprudência da Corte
Interamericana de Direitos Humanos. Não se admite, portanto, um direito potestativo do
empregador em proceder à dispensa injustificada do trabalhador.

Por outro lado, o PIDESC, também ratificado pelo Brasil, em seu artigo 6º, garan-
te o direito ao trabalho, o qual, conforme a interpretação autêntica do Comitê de Direitos
Econômicos, Sociais e Culturais, do Conselho Econômico e Social da ONU (ECOSOC),
consubstanciada na Observação Geral n. 18, assegura o direito a não ser privado injus-
tamente do emprego, mencionando expressamente a Convenção n. 158 da OIT como
standard mínimo de proteção.

Desse modo, as normas de Direito interno, ao possibilitarem a dispensa arbitrária


do trabalhador, exigindo tão somente o pagamento de uma indenização, estão em
desconformidade com as determinações contidas nos tratados internacionais de direitos
humanos ratificados pelo Brasil, acima mencionados. Em sede de controle de

23 CORTE IDH. Opinión Consultiva OC-27/21 de 5 de mayo de 2021 solicitada por la Comisión Inte-
ramericana de Derechos Humanos. Derechos a la Libertad Sindical, Negociación Colectiva y Huelga, y
su relación con otros Derechos, con perspectiva de Género. Disponível em:
<https://www.corteidh.or.cr/docs/opiniones/seriea_27_esp.pdf>. Acesso em 09 nov. 2021.
24 O entendimento de que a Convenção 158 da OIT não foi validamente retirada da ordem jurídica brasi-

leira foi adotado pelo Procurador-Geral da República no parecer no Recurso Extraordinário com Agravo
647.651 (caso Embraer), o qual se encontra pendente de julgamento pelo STF.

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convencionalidade, portanto, deve-se afastar a aplicação das normas de Direito interno


e assegurar a observância das normas internacionais.

Com efeito, toda a legislação interna -, nela incluídas as normas que


possibilitam a dispensa arbitrária do trabalhador -, deve ser interpretada em
conformidade com as normas internacionais -, inclusive com os tratados firmados no
âmbito da OEA e ratificados pelo Brasil -, pois estas possuem, no mínimo, hierarquia
supralegal. Como ressalta Eduardo Ferrer Mac-Gregor, Magistrado da Corte IDH, “Os
juízes nacionais passam a ser os primeiros juízes interamericanos. São eles que têm a
maior responsabilidade de harmonizar a legislação nacional com os parâmetros
interamericanos” 25.

Todavia, a inda é possível ir mais adiante com a questão.

O sindicato a lega que a ré p raticaria abuso de direito com a


utilização indevida do instituto da dispensa, se ja com ou sem justa,
somando-se a isso a imposição de más condições de trabalho que geram
o pedido de demissão pelos empregados. Ou seja: a ré vale-se de
artifício s indevidos para promove r a rescisão do contra to de trabalho de
seus empregados.

O abuso de direito é previsto no a rt. 187 do Código Civil:

Art. 187. Também comete ato ilícito o titu lar d e um d ire ito q ue , ao
exercê- lo, excede m anife stamente os limit es impost os pelo seu
fim econômico ou so cia l, pela boa-fé ou pel os bo ns costume s

É inadmissíve l a condução de um direito po r seu titular até o ponto


de transformá-lo em dano para terceiros. Todo exercício de direito que
vise causar mal a outrem deve ser firm emente reprovado, sujeitando o seu
agente, no mínimo, à repara ção civil em favor daquele qu e prejudicou.

Ainda que se ente nda que o empregador pode dispensar os seus


empregados sem justa causa, com o mero pagamento de uma
indenização, não pode se valer de sse direito para promover reduzir
salários e dire itos trabalh istas e bara tear os custos da mão-de-obra, sob
pena de violação a o artigo 187 do Código Civil.

O exercício de dispensa do empregado está adstrito a os limites


inegociáveis da boa fé contratual. Se o exercício do direito tiver uma

25 MAC-GREGOR, Eduardo Ferrer Reflexiones sobre el control difuso de convencionalidad. In Opus

Magna: Constitucional Guatemalteco, 2011. Disponível em: <http://www.corteidh.or.cr/tablas/27751.pdf>.


Acesso em 09 nov. 2021. Tradução livre do original.

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finalidade imora l, haverá conduta ilícita ense jadora de reparação dos


danos causados.

Assim, constatada a abusividade do ato de dispensa, é possível a


obtenção de tutela jurisdicional para cessar a prática, com a imposição do
dever de motivar as razões pelas quais os empregados são dispensados
pela ré, bem como de justifica r o s fatos que vierem a acarretar o pedido
de demissão de empregado.

Portanto, é plenamente possível a tutela jurisdicional pretendida


pelo sindicato, por estar amparada na proteção constitucional e supralegal
que – indiscutivelm ente – se deu a relação de emprego contra a dispensa
arbitrária e pe las limitações que devem ser observadas pelo empregado r
para que o exercício do direito não ocorra com abusivida de.

IV.3 – DA POSSIBILIDADE DE DANO NAS DISPENSAS COLETIVAS E


PLÚRIMAS

A ré a lega que não há dano pela alta rotatividade, po is, com a


alteração promovida pela Lei n. 13.467/2017 (refo rma trabalhista), o
legislador afastou a ideia da abusividade das dispensas coletiva s ou
plúrimas, de modo que não haveria m ais dano so cial ou coletivo.

Assim, se mesmo no caso de uma dispensa co letiva nã o haveria a


possibilidade de indenização por dano socia l, menos ainda será possível
no caso de alta rotatividade decorrente de dispensas individuais.

O argumento da ré baseia-se no art. a rt. 447-A da CLT:

Art. 477-A. As dispensas imot iva das individ uais, plúr imas ou co-
let ivas equipar am-se para todos os fin s, não haven do necess ida-
de de autor iza ção prévia de ent idad e si ndica l ou de ce lebr ação
de convenção colet iva ou acordo colet ivo de trabalho para sua
efetivação.

Tal dispositivo legal apenas prevê que não é necessária a


autorização do sindicato para a d ispensa coletiva o u plúrima, o que
jamais foi exigido, não mencionando e m mome nto algum que não é
necessária a negociação c oletiva prévia e que a ausência desta não
possa ensejar dano. A nova regra não se incompatibiliza, em absoluto,
com a jurisprudência do TST, que restou eviden ciada no julgamento do
RODC-309/2009-000-15-00.4 e constitui verdadeiro lea ding case acerca
do assunto:

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RECURSO ORDINÁRIO EM DI SSÍDIO COLETI VO. DISPENSAS


TRABALHI STAS CO LETI VA S. MATÉRIA DE DIREITO COLETIVO.
IMPERATIVA INTERVENI ÊNCIA SINDI CAL. RESTRIÇÕ ES J URÍ-
DICAS ÀS DISPENSAS COLETIVAS. ORDEM CONSTITUCIONAL
E INFRACO NSTI TUCIONAL DEMOCRÁ TICA EXISTENTE DESDE
1988.
A sociedade produzida pe lo sistema capital ista é, e ssen cialm en-
te, uma sociedad e de massas. A lógica de f unc ionamento do sis-
tema econômic o-soc ial induz a concentr ação e centra liz ação não
apen as de riqueza s, mas também de comun idades, dinâmicas
socioeco nômicas e de probl emas d estas resu ltantes. A massif i-
cação das din âmicas e dos problemas das pessoa s e grupos so-
ciais n as comu nidad es humanas, hoje, impacta de mo do front al a
estrutura e o f uncio namento operac ional do própri o Dir eito. Parte
signif icat iva dos danos mais r elevant es na presente s ociedade e
das corre spondentes pretensões j uríd ica s têm naturez a mas siva.
O caráter mass ivo de tais da nos e prete nsões obr iga o Dire ito a
se adequ ar, deslocando-se da matriz in div idualist a de enfoque,
compreensão e enfr entamento dos pro blemas a que tra dicional-
mente perfilou-se. A construção de uma matriz jurídic a ade quada
à massividade dos danos e pretensões característicos de uma
sociedade cont emporânea - sem prej uíz o da preserv ação da ma-
triz indiv id ualist a, apta a tratar os danos e pretensõe s de nature-
za estr itamente atomizad a - é, ta lvez, o des afio mai s moderno
propost o ao universo j urídico, e é sob esse as pecto que a ques-
tão aqui prop osta será ana lis ada. As dispensas coletivas reali za-
das de maneira mac iça e avas saladora, soment e ser iam juridica-
mente possíveis em um campo normativo hiper indiv idualist a, sem
qualqu er regulament ação soc ial, instigad or da existência de mer-
cado hobb esiano na vida econ ômic a, in clus ive entre empre sas e
trabalhadores, t al como, por exemp lo, respaldad o por Carta
Const ituc iona l como a de 1 891, já há mais um s éculo super ada
no país. Na v igê nc ia da Constitu içã o de 1988, da s conv en ções
intern ac ionais da OIT ratif icadas p elo B rasil relativas a dir eitos
humanos e, por cons eqüê ncia, dir eitos trabalh ist as, e em face da
le itura at ual iza da da leg islaç ão i nfracons titucional do país, é ine-
vitável c oncluir-se pela prese nça de um Estado Democr átic o de
Dire ito n o Brasil, de um regime de império da norma jurídica (e
não do p oder incont rastável privado), de uma sociedade civ iliza-
da, de uma cultura de bem-estar soc ial e respe ito à dign idade
dos seres humano s, tudo repe lindo, imp erativamente, dispe nsas
massivas de pessoa s, abalan do empr es a, cidade e tod a uma im-
portante regiã o. Em conseqüência, fica fixada, por inter preta-
ção d a ord em jurídi ca, a pr emissa de que "a negociação c ole-
tiva é imprescindível para a dis pen sa em massa de tr aba lha-
dores". DISPENSAS COLETIVAS TRABALHIS TAS. EF EITO S JU-
RÍDICOS. A ord em constitu ciona l e infraconstit ucional democráti-
ca bras ileira, desde a Constituiç ão de 1 988 e diplomas internaci-

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onais ratif icados (Convenções OIT n. 11, 87, 98, 135, 141 e 151,
il ustrativamente), n ão permite o m anej o merament e unilat eral
e potestativista das di spensas trabal histas coletivas, por de
tratar de ato/fato coletivo, iner ente ao Direito Col etivo do
Trabalho, e não Direito Indivi dual, exigindo, por con seq üên-
cia, a partici pação do(s) respectivo(s) sindicat o(s) profis sio-
nal(is) obreiro(s). Regras e princípios constituciona is que de-
terminam o respeito à dignid ade da pes soa human a (art. 1º, III,
CF), a valor iz ação d o trabalho e especial mente do emprego (arts.
1º, I V, 6º e 170, VIII, CF), a subord ina ção da propr ied ade à sua
função socio ambi ent al (arts. 5º, XXIII e 170, II I, CF) e a inter ven-
ção sindical nas questões colet ivas traba lh istas (art. 8o, III e VI ,
CF), tudo impõe que se reconhe ça d istinção normativa ent re as
dispensas merament e t ópicas e individuais e a s dispen sas mas-
sivas, co leti vas, a s qua is são so ci al, econômi ca, familiar e comu-
nitar iamente impact antes. Nesta l inha, seria i nválida a disp ensa
coletiv a enqu anto não negociada com o sindicato de t raba lhado-
res, espontaneamen te ou no plano do processo judic ia l co letivo.
A d. Maioria, contudo, decidiu ape nas fixar a premissa, para ca-
sos futuros, de que "a negociação colet iva é imprescindív el para
a dispensa em massa de trabalh ador es ", observados os funda-
mentos supra. Recur so ordinár io a q ue se dá provimento par cia l.

Nesse julgamento o TST sinalizou, de forma expressa, que o


entendimento exposto no acórdão iria balizar as decisões futura s do
Tribunal com relação ao tema:

Em síntese: as dispensas coletivas de trabalhadores, subs tan-


tiva e pro porcionalm ent e dist intas das d ispensas individua is, não
podem ser exer citadas de modo unilat eral e potest ativo pelo
empregador, sendo matéria de Direito Coletivo do Traba lho,
deve ndo ser submetidas à prévia ne gociação coletiv a traba-
lhista ou, sen do inv iáv el, ao proces so j udici al d e dissídio colet i-
vo, que irá lhe regular os termos e efeitos pert inentes. Neste
ponto, para os casos futuros, a d. Maioria da SDC fixou tal
premissa (embora a d. Maiori a, para o caso verte nte nestes au-
tos, não rec onh eça abus ividade ou falt a de b oa-f é obj et iv a na
dispensa massiva perpetrada - até mesmo porqu e a pr emissa
aqui fixada não era ainda acolhi da na Jurisprudênc ia até então
dominante).

Portanto, a jurisprudência do TST não afastou a possibilidade de


danos decorrentes das dispensas coletivas. Pelo contrário, reconhece que
em virtude de sua gravidade o dano independe de comprovação, conforme
se vê no segu inte acórdão de 12.04.2019:

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“"I - AGRAVO DE I NSTRUM ENTO DA JBS S.A. RECURSO DE


REVI STA INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DAS LEIS Nos
13.015/ 2014 E 13.1 05/2015 E ANTE S DA VIGÊNCIA DA L EI Nº
13.467/ 2017 - DESCABIMENTO.
(...)
4 . I NDENIZAÇÃO POR DANO MORAL COLETIVO. DISPENSA
COLETI VA. ENCERRAMENTO DAS ATI VIDADES. NECESSI DADE
DE PRÉ VIA NEGOCI AÇÃO COM O SI NDICATO. 4 . 1. O Eg. Re-
gional, conforme o quadro fát ico-pro bat ório delineado, ent endeu
incontroversa a dispensa colet iva de tod os os empregados, para
encerrame nto da at ividade empr esar ia l, por inter esses próprios
da empregadora, sem prévia negociaç ão colet iva. Evid enciou que
a ré, percebendo a iminência do término das ativ idade s, dev eria
ter buscad o alternat ivas, por meio de ne goc iaçã o pre lim inar, para
reduz ir o impacto d a medida, o que nã o fez. Assim, conc luiu
demonstrada a les ão de interesses tra nsi ndividuais, ense jan-
do a reparação do dano moral col etivo. 4.2. A jurisprudência
da Seção de Dissídios Col eti vos desta Corte firmou entendi-
mento de que a negociação coletiva é imprescindív el à dis-
pens a em massa, pois tal cenári o exige a estipul ação de
normas e condições para a proteç ão dos trabalhador es con-
tra o desem prego, além da redução dos impact os sociais e
econ ômicos causados. Ausente tal procedime nto, é devida a
indeniza ção comp ensatória, pelo cará ter coletivo da l es ão.
Precedentes. 4.3. As empresas que se lançam no merc ado , as-
sumindo o ônus financeiro de cum prir a legislaçã o trabal his-
ta, perdem competi tividade em r elaç ão àquelas que r eduzem
seus custos de pr oduçã o à custa dos direitos mínimos asse-
gurados aos empregados. 4.4. Tratando-se de lesã o que viola
bens jurídic os indis cutivelmente car os a toda a sociedade, surge
o dev er de indenizar, sendo cabí vel a r eparação por dano m oral
coletiv o (arts. 186 e 927 do CC e 3° e 13 da LACP). 4.5. Frise-se
que, na l inha da teoria do "d anum in re ipsa", não s e ex ige
que o dano mor al sej a demonstrado. Ele dec orre, ine xora vel-
mente, da gravidade do fato ofensi v o que, no cas o, re stou
materi alizado pelo descumpri mento de norm as que vis am à
dignidade e à prot eção d os trabalhadores c ontra o desem-
prego i nvolu ntário e a dispensa arbitrária, ocasionados pela
demissã o em massa, sem pr évia n ego ciação com o sindi cato.
Sob tal cont exto, nã o há dúvidas quanto à caracterização do da-
no moral coletivo. Óbice do art. 896, § 7º, da CLT e da Sú mula
333/ TST. Agravo de instrumento co nhec ido e despr ovido.
(...)
(TST, AIRR-940- 70. 2015.5. 23.0002, 3ª Turma, Relat or Mini stro
Albert o Lu iz Br esciani de Fontan Pere ira, DEJT 12/04/2019).

No mesmo sentido são as decisões do E. TRT da 2ª Região:

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“Ainda que a litera lidade do refer ido arti go 477-A fal e em dispen-
sa de autorização prévia do sin dicat o ou ce lebração de no rma
coletiv a, o caráter colet ivo d a dis pens a não pode s er afastado,
por se trat ar de fato da ordem instit ucio nal e do car áter suprapo-
sitivist a do ordenam ento juríd ico. Tendo caráter coletivo a dis-
pens a, deverá ela ser procedida dentro dos limi tes da função
social da empresa e com participação do sindi cato, como
bem salie ntou a r. decisão de ori gem, pois a ssim o exige a
Constituição Feder al em seu art. 8º, VI. Porém, sequer as re-
gras b asilar es que r egem as d ispensa s - mesmo as indivi du ais -
foram seguidas pela empresa, que s implesme nte recus ou-se a
pagar as verbas rescisór ias dos empregados por ela dis pens ados
na forma prevista pela CLT. Vej o, portanto, que a dispens a co-
letiva levada a cabo pel a ré, por qualquer ângulo que se a en-
foque, é clarament e ilegal e contrári a aos ditam es c onstit uci-
onais. (TRT- 2, processo n. 100044 6-88 .2018.5.0 2.0061 SP, Re-
lator: WILSON RI CARDO BUQUETTI PIROTTA, 6ª Turma - Cadei-
ra 2, Data de Publ icação: 21/0 8/2019)

Portanto, não merece guarida o argumento de que os


desligamentos individuais – que ensejam a alta rotatividade de
empregados na ré – não seriam aptos a gerar dano. Tal interpretação não
tem respaldo nem na literalidade da lei, nem na interpretação adotada
pelo TST e pelo próprio TRT-2ª Região.

IV.4 – DA ROTATIVIDADE

Quanto à rotatividade, a ré apresentou em 15.03.2021 (Id.


02f6166, fls. 1521/1523) os seguintes índices do pe ríodo de 2016-2020:

Negou que haveria uma troca de 100% dos empregados no período


de um ano. Com base no relatório do DIEESE publicado em 2016 e
referente a 2014 26, sustentou que o seu turn over se aproxima daquele
apurado pelo DIEESE para a região sudeste, onde se localiza a base
territo rial do SINTHORESP, o qual correspondia a 42%.
26Rotatividade no mercado de trabalho brasileiro: 2002 a 2014. Departamento Intersindical de Estatística
e Estudos Socioeconômicos. São Paulo, SP: DIEESE, 2016, p. 34. Online. Disponível em:
<https://www.dieese.org.br/livro/2016/rotatividade2016.pdf>. Acesso em 17.11.2021.

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A ré também pontuou que o setor de fast food possui


características peculiares que não permitiriam a sua comparação com as
demais empresas do setor de gastronomia. Sustentou que a média de
idade de seus empregados é de 18 a 24 ano (81,2%) e que na
gastronomia a maior parte dos trabalhadores po ssui entre 30 a 39 anos
(27,5%), sendo que os empregados e ntre 18 e 24 anos são 25,5%. Adu ziu
que enquanto 50% dos estabe lecimentos do ramo de gastronomia
possuem até 4 em pregados, a ré tem em média tem 50 empregados por
restaurante.

A partir da Rela ção Anual de Info rmações Sociais (RAIS) de 2019,


o MPT obteve dados sobre a rotatividade e a quantidade de
desligamentos efetuados pela ré. A taxa de rotatividade foi de 57,53% 27 e
a taxa de desligamento de 55,07% 28. Quando se analisa somente o Estado
de São Paulo, não há diferença significativa nos números: desligamento
de 52,89% e rotatividade de 57,05%. Veja-se a tabela a seguir (DOC. 01
em anexo):

27 Média desligados e admitidos/total de empregados ativos.


28 Desligados/total de empregados ativos.

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A partir das informações da RAIS de 2019, também se realizou


comparação com outras empresas do setor para se ter um parâmetro mais
adequado da rota tividade especifica mente no segmento de fast food.
Foram utilizados como elementos de comparação a taxa de rota tividade
apurada com base na média de desligados e a dmitidos/tota l de
empregados ativo s. Para a taxa de desligamento, utilizou-se a relação
desligado s/total de empregados ativos.

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Tais dados, ainda que não correspondam ao turn over descontado


– aquele feito pelo DIEESE que não conside ra os ped idos de demissão ,
as aposentadorias, os falecimentos e as transfe rências –, são um
parâmetro de análise que permite aferir se as taxas de rotatividade e
desligamentos praticados pela ré destoam das demais empresas do ramo.

Nesse sentido, o “Burgue r King” (BK BRASIL OPERAÇÃO E


ASSESSORIA A RESTAURANTES S.A., CNPJ: 13.574.594/0001-96) tem
taxa de rotativida de de 45,83% e taxa de desligam ento de 43,70%.
Portanto, são 10% inferiore s às taxas da ré. Mesmo quando se restringe a
análise ao Estado de São Paulo, a taxa de rotatividade é de 46,92% e a
taxa de desligamento de 43,59% (DOC. 02 em anexo):

Quando se compara com o “Starbucks” (STARBUCKS BRASIL


COMERCIO DE CAFES LTDA., CNPJ: 07.984.267/0001-00), as taxas são
próximas àquelas do Burguer King. Assim, a taxa de rotatividade é de
44,19% e a taxa de desligamento de 40,60%. Quando se considera

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somente o estado de São Paulo, a taxa de rotatividade é de 42,84% e a


taxa de desligamento é 39,64% (DOC. 03 em anexo):

Por fim, a “Pizza Hut” (INTERNACIONAL RESTAURANTES DO


BRASIL S.A., CNPJ: 01.937.526/0001-65) tem a taxa de rotatividade
próxima a da ré, sendo de 53,65%, e a taxa de desligamento de 54,20%.
Não houve alteração desses números quando se restringiu a pesquisa ao
Estado de São Paulo (DOC. 04 em anexo):

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Pois bem; o cotejo das taxas de rotatividade e de desligamento da


ré e das outras 3 empresas do seg mento de fast food (Burgue r King,
Starbucks e Pizza Hut) demonstra que o turn over da reclamada é
superior ao das demais empresas do ramo:

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Empresa Taxa de Rota tividade Taxa de Desligamento


Mc Donald’s 57,53% 55,07%
Pizza Hut 53,65% 54,20%
Burguer King 45,83% 43,70%
Starbucks 44,19% 40,60%.

Ressalta-se que, para o deslinde do presente caso, devemos usar


o mesmo parâmetro estatístico, isto é, a mesma base de cálculo e o
mesmo período. Veja-se: a partir dos dados da RAIS de 2019 foi possíve l
comparar os desligamentos da ré com empresas do mesmo ramo, isto é,
com as mesmas características e tipo de negócio. Ta l análise é mais útil e
realista do que aquela apresentada pela ré, que considerou somente o
turn ove r descontado, sem os ped idos de demissão, as aposentadorias, os
falecimentos e as transferências.

Os valo res informados pela ré em 15.03.2021 (Id. 02f6166, fls.


1521/1523) não permitem compará -la com as demais empresas do ramo,
cujos dados não foram trazidos aos autos. Ademais, a indicação de valor
de referência feita pela ré com base no estudo do DIEESE para os
trabalhadores celetistas na região sudeste (42%) padece de duas falhas:
a taxa corresponde ao ano de 2014, isto é, 7 anos atrás, tendo ocorrido
grandes alterações no mercado de trabalho desde então; ademais, a taxa
de turn over considerou todas as atividades econômicas. E, como
destacou a ré po r diversas ve zes nestes autos, o setor d e fast food possui
peculiaridades específicas que devem ser consideradas para a aná lise
pretendida.

Portanto, os dados da RAIS de 2019 demonstram haver uma


rotatividade elevada na ré, mesmo quando se compara com as demais
empresas do me smo ramo (fast food). Isso corrobora a tese do
sindicato autor de que a ré praticaria abuso de direito, valendo-se de
artifícios para promover a rescisão do contrato de trabalho de seus
empregados, seja por meio da dis pensa pelo empregador, seja pelo
pedido de demissão do empre gado.

IV.5 – DOS TIPOS DE RESCISÃO CONTRATUAL PRATICADA PELA RÉ

O MPT solicitou q ue a ré apresentasse as motivo das rescisões


dos contratos de trabalho dos empregados desligados desde 2016 até o
presente momento, para verificar se havia um abu so nas dispensas sem

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justa causa, por justa causa e nos pedidos de demissão dos empregados.
Em 23.07.2021 (Id. 332c9c6, fls. 1552/1554), a ré apresentou os motivos
das rescisões contratuais no pe ríodo de 01.01.2016 até 30.06.2021.

Em estudo do DIEESE de 2017 29, são apontadas as ca usas dos


desligamentos no Brasil no período de 2002 a 2015.

Os pedidos de demissão pe los empregados da ré evoluíram de


53,25% em 2016 para 80,83% em 2021, sinalizando expressivo aumento.
No período de 2014 a 2015, segundo os dados do DIEESE, esse índice
passou de 24,3% para 20,4%, demonstrando queda. Por outro lado, as
dispensas com justa causa da ré mantiveram-se no mesmo patamar,
passando de 3,20% em 2016 para 4,53% em 2021. Todavia, nos dados do
DIEESE a dispensa por justa causa está inserida com outros tipos de
desligamento na categoria “outros” e, mesmo assim, as taxas são
inferiore s às da ré, alcançando 1,9% em 2014 e 1,8% em 2015:

Movimentação no mercado de trabalho: rotatividade, intermediação e proteção ao emprego. Departa-


29

mento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos - São Paulo, SP: DIEESE, 2017. p. 85.
Online. Disponível em: <https://www.dieese.org.br/livro/2017/rotatividade.html>. Acesso em 18.11.2021.

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Portanto, os pa tamares de dispensa por justa causa e


demissão a pedido da ré são expressivamente superiores àqueles
verificados na pesquisa do DIEESE.

Novamente com o intuito de obter parâmetros que permitam uma


comparação mais fidedigna, é necessário utilizar os dados da RAIS de
2019. Em relação à ré, considerando-se a base territorial do Estado de
São Paulo, tem-se o seguinte (DOC. 0 1):

Portanto, as dispe nsas sem justa causa são de 12,38 %, aquelas


por justa causa são de 4,32% e os pedidos de demissão (73,38%-12,38%)
são de 61%.

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No “Burguer King” (BK BRASIL OPERACAO E ASSESSORIA A


RESTAURANTES S.A., CNPJ: 13.574.594/0001-96) n o Estado de São
Paulo, as dispensas sem justa causa são de 21,25%, aquelas por justa
causa são 11,38% e os pedidos de demissão (65,64% - 21,25%) são de
44,39% (DOC. 02 ).

No “Starbucks” (STARBUCKS BRASIL COMERCIO DE CAFES


LTDA., CNPJ: 07.9 84.267/0001-00) no Estado de São Paulo, as dispensas
sem justa causa são de 27%, aqueles por justa cau sa são de 5,59% e os
pedidos de demissão (58,46% - 27,64%) são de 30,82 % (DOC. 03).

Na “Pizza Hut” (INTERNACIONAL RESTAURANTES DO BRASIL


AS, CNPJ: 01.937.526/0001-65) no estado de São Paulo, as dispensas
sem justa causa são de 30%, aquelas por justa causa são de 12,34% e os
pedidos de demissão (55,33% - 30,09%)são de 25,24% (DOC. 04).

Comparando-se a ré com as outra s 3 empresas do mesmo ramo,


os pedidos de de missão dos empregados da re clama da são muito mais
elevados do que nas demais empresas:

Empresa Demissão sem Demissão por Pedido de


Justa Causa Justa Causa Demissão
Mc Donald’s 12,38% 4,32% 61%
Burguer King 21,25% 11,38% 44,39%
Starbucks 27% 5,59% 30,82%
Pizza Hut 30% 12,34%; 25,24%

Ademais a ré, em comparação com as outras 3 empresa s do ramo,


somente no estado de São Paulo, foi a que mais teve rescisões de
contrato de trabalho no período de um ano. Quando analisado o período
de 2 anos, constata-se, a inda, que 55,73% de sua mão-de-obra é trocada:

Empresa Tempo de Emprego

até 1 ano +1 a 2 anos Total


Mc Donald’s 41,07% 14,66% 55,73%
Burguer King 37,44% 24,99% 62,43%
Starbucks 34,97% 22,40% 57,37%
Pizza Hut 35,97% 14,69% 50,66%

Isso reforça a tese do sindicato autor de que a ré im poria más


condições de trabalho, como, por exemplo, ambiente insalub re, assédio
moral e jornadas de trabalho inad equadas, para forçar o pedido de

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demissão de seus empregados. As diversas ações trabalhista s juntadas


aos autos pelo sindicato autor demonstram as péssimas condições de
trabalho. Tanto os índices apurados p ela ré (Id. 332c9c6, fls. 1552/1554)
de 80,83% em 2021, quanto aqueles obtidos na RAIS de 2019 pelo MPT
(61% em 2019), são bem superiores aos das demais empresas do mesmo
ramo (44,39%, 30,82% e 25,24%), e exorbitam em muito a última média
nacional d isponibilizada pelo DIEESE (20,4% em 2015). Ademais, mais da
metade dos empregados da ré não ch egam a ficar 2 anos no emprego.

IV.6 – DOS AUTOS DE INFRAÇÃO. DAS CATS. DOS AFASTAMENTOS


PREVIDENCIÁRIOS

Para averiguar as condições de trabalho da ré e corroborar a tese


do sindicato autor, o MPT analisou os autos de infração e as
Comunicações de Acidente de Trabalho (CATs) emitidas pela ré e pe las
outras 3 empresas do setor de fast food. A ré possui um número muito
maior de autos de infra ção que a s demais empresa s. Mesmo levando em
consideração que a ré possui um número maior de empregados do que as
demais empresas analisadas, a quantidade de autos de infração é
bastante elevada:

Empresa Quantidade de Quantidade de


empregados Autos de
(CAGED Infraçã o (2012-
09.2021) 2021)
Mc Donald’s 30.617 2.273
Burguer King 15.278 1.806
Starbucks 1.682 188
Pizza Hut 444 94

Dos autos de infração da ré, 30,35% são de irregularidades na


jornada de trabalho (prorrogação de jornada, descanso semanal,
trabalhos em domingos e feriados, intervalo interjo rnada e intervalo
intrajornada) (DOC. 01). Isso demonstra que g rande parte das autuações
na ré são de imposição de jorn adas de trabalho extenuantes aos
empregados. O descumprimento do art. 157, I, da CLT (cumprir e fazer
cumprir as normas de seguran ça e m edicina do trabalho), genericamente
considerado, ensejou 32% das autuações da ré, o que demonstra que não
há na ré um meio ambiente do trabalho hígido e seguro.

Ademais, 10,82% dos autos de infração da ré são po r embaraços à

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fisca lização do trabalho. Assim, a grande maioria das autuações sofridas


pela ré são refe rentes a condições de trabalho inadequadas e ao excesso
de trabalho, o que corrobora a tese de que o ambiente laboral leva os
empregados da ré a pedire m demiss ão.

No “Burgue r King”, os auto s de infração referentes a jornada de


trabalho são cerca 22% e o descumprimento das normas de saúde e
segurança no trab alho (art. 157, I CLT) alcançou 16,6 % (DOC. 02). No
“Starbucks”, as infrações referentes à jornada de traba lho são de 23,4% e
por descumprimento genérico ao art. 157, I, da CLT são de apenas 0,53%
(DOC. 03 ). Por fim , na “Pizza Hut”, cerca de 61% das infrações são por
desrespeito à jornada de trabalho e somente 1,06% por descumprimento
das normas de medicina e segurança do trabalho (DOC. 04).

Portanto, a ré, além de possuir em números abs olutos mais


autos de infração, também é majoritariamente autuada por violações
trabal histas que impactam diretamente na permanência dos
empregados na empresa (desrespeito à jornada de trabalho e
condições ambientais inadequadas), o que reforça a tese do sindicato
autor de que as condições de trabalho levam os empregados da ré a
pedirem demissão.

As condições de trabalho na ré também podem ser aferidas a partir


da quantidade de acidentes de traba lho. Por isso, o MPT solicitou que a
ré apresentasse informações sobre as CATs. Em 15.03.2021 (Id. 02f6166,
fls. 1521/1523), a reclamada apresentou as seguintes informações acerca
dos acidentes típicos (excluindo -se o s acidentes de trajeto) ocorridos nos
restaurantes da base de representação do SINTHORESP:

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Após nova solicitação do MPT (Id. 21ecc69, fls. 1546/1547), a ré


informou (Id. 332c9c6, fls. 1552/1554) que, de 2019 até 23.07.2021, não
houve emissão de CAT por doença ocupacional nos re staurantes da base
de representação do SINTHORESP. Relatou que as CATs emitidas no
período são de acidentes de trabalho típicos e de trajeto, tendo ocorrido
poucos acidentes de trabalho típicos, os quais em sua maioria decorreram
de queda em mesmo nível, contato com superfícies ou impacto contra
objeto.

O MPT consultou os dados do Instituto Nacional do Seguro Social


(INSS) (sistema CATWEB) quanto às CATs emitidas em 2021 pela ré e
pelas outras 3 empresas do ramo. Considerando o CNPJ raiz da ré, foram
encontradas 408 CATs, das quais 299 se refere a acidentes típicos (DOC.
01):

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PROCURADORIA REGIONAL DO TRABALHO DA 2ª REGIÃO
RUA CUBATÃO, 322, PARAÍSO, SÃO PAULO/SP - CEP 04013-001 - TELEFONE: (11) 3246-7000

A quantidade de CATs da ré é bastante superior à da s outras 3


empresas do ramo. Ademais, quase 80% dos casos da ré são acidentes
com atendentes de lanchonete. No “Burguer King”, por exemplo, é de
43%. Isso demonstra que ocorrem mais acidentes p roporcionalmente com
os empregados representados pe lo sindicato autor, que exercem em sua
maioria a função de atendente de lanchonete (DOC. 01, 02, 03 e 04):

Empresa CATs 2021 Percentual de


(CATWEB) CAT emitidas
para o cargo de
Atendente
Mc Donald’s 408 78,68%
Burguer King 90 43,33%
Starbucks 1 100%
Pizza Hut 4 50%

A quantidade de afastamentos previdenciários com a percepção do


auxílio-doença acidentário (B-91), comparada com as CATs emitidas,
demonstra se estão ocorrendo acidentes de trabalho sem emissão de CAT
pelo empregado r. Veja-se o quadro (DOC. 01, 02, 03 e 04):

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Empresa Afastamentos 91-Auxílio- 31-Auxílio-


Previdenciários doença por doença
acidente do previde nciário
trabalho
Mc Donald’s 1.076 32 2,97% 654 60,78%
Burguer King 454 1 0,22% 301 66,30%
Starbucks 52 1 1,92% 36 69,23%
Pizza Hut 33 1 3,03% 9 42,42%

Observa-se que a ré teve muito mais afastamentos previdenciários


do que as outras 3 empresas. Adem ais, possui em números absolutos
mais concessões d e auxílio-doença a cidentário (B-91) e m 2021. Por fim, a
ré possui a maior ocorrência de acidentes de trabalho, pois a concessão
do benefício B-91 alcança quase 3 %. 30

Tal análise também demonstra que as condições do ambiente de


trabalho na ré são piores do que nas demais empresas do setor. Isso vai
ao encontro das diversas ações individuais juntadas aos autos que
comprovam que o ambiente laboral da ré é propício à ocorrência de
acidentes de trabalho e, portanto, a veracidade dos fatos relatados na
exordial.

IV.7– DAS CONSIDERAÇÕES FINAIS ACERCA DOS DADOS.

A análise de todos os dados apresentados pelo MPT demonstra


que há uma alta rotatividade na ré, mesmo para os padrões de uma
empresa de fast food. Não apenas o seu turn over é maior do que das
demais empresas, como igualmente o é a sua taxa de desligamento. A ré
é a empresa que mais dispensa empregados no período de 1 ano e,
quando considerado o período de 2 anos, há a troca de mais da metade
de seu quadro de funcionários.

Ademais, os pedidos de demissão e as dispen sas por justa causa


são expressivamente maiores na ré em relação ao s dados do DIEESE.
Mesmo quando se compara com as demais empresas do setor de fast
food, os pedidos de demissão na ré são significativamente maiores.

Tais dados demostram a veracidade dos fatos narrados pelo


sindicato autos e vão ao encontro das ações ind ivid uais juntadas aos

30Quanto à “Pizza Hut”, o seu índice de B-91 (3,03%) não a coloca em pé de igualdade com a ré, pois,
considerando os baixos números absolutos de concessão de benefícios previdenciários, a existência de
apenas um auxílio B-91 já a colocou nesse percentual.

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autos, ratificando que as diversas notícias de agressões físicas e ve rbais,


impedimento ao trabalho, assédio moral, excesso de jornada e
desrespeito às normas de saúde e segurança do trabalho, de fato, têm
acarretado um maior número de pedidos de demissão na ré, que
exorbitam os patamares da normalidade.

Os autos de infração também corroboram que há um elevado


descumprimento da legislação trabalhista pela ré, pois possui maio r
número de autuações, o que – a de speito de sua maior quantidade de
filais e de empregados – demonstra que o desrespeito à s normas laborais
ocorre com frequência. Não se pode olvidar que as infrações pelas quais
a ré foi mais autuada são aquelas que impactam diretamente na
permanência dos empregados na empresa, quais sejam, o desrespeito à
jornada de traba lho regular – ocasionando uma maior estafa do
trabalhador – e às normas de saúd e e segurança do trabalho, o que
enseja um ambiente laboral inadequado, desgastante e causador de
acidentes de trabalho.

As emissões de CAT e as concessões de benefícios


previdenciários também demonstram que o ambiente laboral da ré é
inadequado e te m gerado mais acidentes de trabalho. Tais dados
comprovam que as condições de trabalho na ré ensejam o pedido de
demissão de seus empregados, os quais são submetidos a condições
inadequadas.

Ademais, a ré não conseguiu demonstrar satisfato riamente que as


condições de trab alho de seus empregados não os conduzem a pedir
demissão. Também não demonstrou que utiliza co rretamente a dispensa
(com ou sem justa causa). Isto é, a ré não comprovou que não se vale de
artifício s pa ra promover a rescisão do contrato de trabalho de seus
empregados, seja por meio da dispen sa, seja pelo pedido de demissão.

Deve-se considerar, ainda, o p rincípio do in dubio p ro operário,


pelo qual deve ser adotada a interpretação que melhor proteja os
trabalhadores, assegurando a manutenção de seus direitos. Na já citada
Opinião Consultiva OC-27/21, de 05 de ma io d e 2021, a Corte
Interamericana de Direitos Humanos destacou que “el acceso a la just icia
en materia laboral requiere de un sistema de administ ración de justicia
que reúna las sig uientes características: (...) 5) la distribución de las
cargas probatorias, el análisis probatorio y la motivación de las
providencias judiciales confo rme a principios que compensen las
desigualdades propias del mundo del trabajo, tales como el principio in

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dubio pro operario y el principio de fa vorabilidad” (parágrafo 116) 31.

Há elementos suficientes nos autos para fundamentar a


procedência do pedido sindical de que a ré passe a motivar as razões
pelas quais os seus empregados sã o dispensados ou pedem demissão,
apresentando as causas e os fatos que acarretaram a dispensa ou o
pedido de demissão do empregado.

A p rocedência de tal pedido, em última análise, ga rantirá aos


trabalhadores uma efetiva proteção à relação de empreg o, nos termos das
normas constitu cionais e supralegais (con trole de convencionalidade)
supracitadas. Inclusive contra eventual abusividade por parte da ré do
dire ito de rescisão contratual (art. 187 do Cócigo Civil c/c art. 8º, §1º, da
CLT), seja pela dispensa por justa causa, sem que estejam presentes os
requisitos legais, seja pelo abuso da dispensa sem justa causa, seja pelas
más condições d e trabalho que levam os empregados a ped irem
demissão.

IV.8– DOS DANOS AOS TRABALHADORES E À COLETIVIDADE

O sindica to autor sustenta que, em virtude do abuso de dire ito de


rescisão contratual, a ré gerou dano sob dois aspectos. O p rimeiro é a
perda de uma chance, pois o empregado deixa de auferir vantagens caso
o seu contrato de trabalho p rosseguisse. O segundo é o dano existencial
pela violação ao direito à felicidade, pois o emprego p ertence ao rol de
dire itos fundamentais, sendo essencial não apenas à sobrevivência, mas
também como conexão do trabalhador à sociedade. Ao violar o dire ito ao
trabalho, a ré te ria causado uma alteração danosa ao empregado afetando
o seu projeto de vida pessoal. Ademais, o sindicato aponta o dano moral
coletivo, uma vez que a ré violou direitos traba lhistas, causando danos à
coletividade.

A ré negou que tenha causado dano e aduziu que os


desligamentos não atingem o direito à felicidade ou impõem a perda de
uma chance aos empregados. Afirmou que realiza diversas ações para
melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores.

Pois bem; o trabalho e, em especial, o emprego é um direito social


constituciona lmente protegido (a rt. 6 º da CF/88). Como visto, as normas

31CORTE IDH. Opinión Consultiva OC-27/21 de 5 de mayo de 2021 solicitada por la Comisión Inte-
ramericana de Derechos Humanos. Derechos a la Libertad Sindical, Negociación Colectiva y Huelga, y
su relación con otros Derechos, con perspectiva de Género. Disponível em:
<https://www.corteidh.or.cr/docs/opiniones/seriea_27_esp.pdf>. Acesso em 09 nov. 2021.

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constituciona is e supralegais vigente s no Brasil protegem a relação de


emprego contra as dispensas arb itrárias. Ademais, o exercício da rescisão
do contrato de trabalho com abusividade – seja pela imposição de
condições inadequadas para que o empregado peça demissão, seja pelo
desvirtuamento dos fins sociais do direito de dispensar – é conduta ilícita
ensejadora da reparação de danos aos traba lhadores.

Assim, uma vez constatada nos autos a prática de tais condutas


ilí citas pela ré, há o dever de indenizar. A conduta antijurídica da ré
causou danos individualmente aos trabalhadores, bem como de natureza
coletiva, que merecem a adequada reparação, nos termos dos artigos
186, 187, 927 e 942 do Código Civil c/c art. 8º, §1º, da CLT. Trata -se de
lesão a bens jurídicos indiscutivelme nte caros a toda a sociedade, sendo
cabíveis as reparações ple iteadas. Na linha da teoria do "danum in re
ipsa", não se exige que o dano moral seja demonstrado. Ele decorre,
inexoravelmente, da gravidade do fato ofensivo que, no caso, restou
materializado pelo descumprimento de normas que visam à proteção da
dignidade dos trabalhadores e da relação de emprego contra a despedida
arbitrária. Não há dúvidas, portanto, quanto à cara cterização do dano
moral coletivo e da correlata obrigação da ré de indenizá-lo.

IV – CONCLUSÃO
Pelo exposto, opina o Ministério Público do Trabalho pelo
afastamento das preliminares suscitadas pela ré e, no mérito, pela
procedência dos pedidos formulados pelo sindicato autor, com a
condenação da ré na obrigação de motivar as dispensas de seus
empregados, apre sentando as causas e os fatos que ensejaram a
dispensa ou o pedido de demissão, bem como no pagamento de
indenização pelos danos causados n os âmbitos individual e coletivo. Po r
fim, requer-se a intimação pessoal do Ministério Púb lico do Traba lho de
todos os atos processuais, com fundamento nos arts. 18, II, “h”, e 84, IV,
da Lei Complementar n. 75/93, e nos arts. 179 e 180, do CPC.

Termos em que, pede deferimento.

São Paulo/SP, 22 de novembro de 2021.

LORENA VASCONCELOS PORTO


Procuradora do Trabalho

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SUMÁRIO

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Id. Data de Documento Tipo
Juntada
7887161 22/11/2021 Parecer do Ministério Público do Trabalho (MPT) Parecer do Ministério Público do
10:13 Trabalho (MPT)

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