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Poder Judiciário
Justiça do Trabalho
Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região

Ação Trabalhista - Rito Sumaríssimo


0011425-94.2023.5.15.0092

Processo Judicial Eletrônico

Data da Autuação: 22/08/2023


Valor da causa: R$ 37.353,93

Partes:
AUTOR: REGIANE DA SILVA CATARINO
ADVOGADO: ADILSON SANTANA DOS SANTOS
RÉU: HOTEL POUSADA JAGUARIUNA LTDA
PAGINA_CAPA_PROCESSO_PJE
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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DO TRABALHO DA____VARA DO


TRABALHO DE CAMPINAS/SP.

RECLAMAÇÃO TRABALHISTA

REGIANE DA SILVA CATARINO, brasileira, em união estável, recepcionista em geral,


Carteira de Identidade RG nº 41.029.302-X SSP/SP, inscrito no CPF sob o n° 221.691.258-17, residente e
domiciliado na Rua Geraldo Annibal, 43 CA4 – Bananal – Campinas/SP – CEP 13099-007, E-mail:
regianecatarino2019@outlook.com , por seu advogado que assina digitalmente, com escritório profissional na
rua General Osorio, 1031, sala 64 - Centro, Campinas-SP, CEP 13010-111, onde recebe as notificações e
intimações, vem, perante Vossa Excelência com fulcro nos artigos, 769, e 840 §1º da CLT c/c 319 do CPC,
propor:

RECLAMAÇÃO TRABALHISTA

em face de HOTEL POUSADA JAGUARIUNA LTDA, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ
nº10.828.354/0001-82 localizado na Rod. Adhemar Pereira de Barros S/n Km 127 Area Rural, pelas razões
de fato e de direito que seguem.

1. PRELIMINAR

1.1 Prescrição Quinquenal

Primeiramente, informa que todos os pedidos dessa exordial se referem ao período


imprescrito, ou seja, ao período de 5 anos da data da sua distribuição.

1.2 Da Indicação de Valores na Inicial

In casu, a reclamante apenas indica os valores dos pedidos pleiteados, posto que a CLT já
com as alterações feitas pela reforma, apenas determina sejam apontados os valores na peça inaugural, não
exigindo sua liquidação neste ponto.

1.3 Da justiça gratuita

A Reclamante afirma, para os devidos fins de direito e sob as penas da Lei, que não possui
condições técnicas ou financeiras para demandar em Juízo, sendo que neste último caso, declara-se pobre na
acepção jurídica do termo.

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Nestas condições, requer a concessão das benesses da justiça gratuita, nos termos das Leis
nº 7.115/83, 1.060/50, e artigo 98 do CPC, ante a declaração de hipossuficiência (art. 14, Lei 5.584/70) com
requerimento da isenção estabelecida no art. 3º da Lei 1.060/50.

2. DOS FATOS

A reclamante foi contratada em 19/04/2022 e dispensado em 20/07/2023.

Exercia a função de recepcionista em geral, e percebia um salário de R$ 1.803,36 (mil e


oitocentos e três reais e trinta e seis centavos). Contudo, no desenvolvimento diário da função de
recepcionista em geral, acumulava outras funções alheias a que fora contratada.

Laborava das 15hs:00 às 23hs:00 de segunda a segunda com folga as quintas e um


domingo por mês. Devido a grande demanda de serviços, não usufruia do intervalo para descanso e
refeição, comia rapidamente e voltava ao trabalho.

Conforme relata a reclamante, o desenvolvimento diário de suas funções era resumido da


seguinte forma:
Recepcionava os clientes que chegavam, com atendimento detalhado de todas suas
necessidades, esclarecimento de dúvidas, identificação correta para cada tipo de reserva, conferencia das malas,
direcionamento para os quartos, atendia telefonemas, etc.

Além de desempenhar a função de recepcionista, atuava como faxineira, com regular


limpeza de todas as dependências da pousada, qual seja: limpeza de 17 quartos e pisos, trocava os forros das
camas. Os banheiros continham alta circulação de pessoas com necessidade de higienização constante, e ainda
recolhia os lixos dos quartos periodicamente.

Exercia a atividade de piscineiro, mantinha higienização da piscina com produtos


químicos; aplicando cloro, algicida e clarificantes. Embora esses produtos químicos fossem diluídos na água, a
reclamante fazia o manuseio dos produtos em alta concentração, o que obrigatoriamente inalava as substâncias
nocivas destes produtos.

A localização do Hotel (Reclamada) se dá em local ermo, e não há na Reclamada


profissional de segurança, por esta razão a Reclamante tinha que ficar atenta à segurança, com controle de
acesso, abria e fechava o portão principal de entrada. Atuava também como cozinheira; preparação do café da
manhã, bolos, pizzas, lasanhas, lanches, batatas fritas conforme os pedidos dos hospedes.

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O exercicio das muitas atividades, sem a devidos adicionais peculiários, foram aos poucos
desgastando a reclamante e prejudicando sua integridade física, por esse motivo foi compelida pedir a rescisão
contratual.

Sendo certo que jamais recebeu qualquer “Plus” pelas funções desempenhadas
cumulativamente, e tão pouco qualquer valor monetário a título de insalubridade.

A reclamante relata que, nunca se fez substituir, cumprindo com rigor a jornada de trabalho
por todo o período contratual, com percepção de um salário fixo mensal e subordinado diretamente ao
comando da reclamada.

Tendo em vista os argumentos jurídicos a seguir apresentados, interpõe-se a presente


Reclamação Trabalhista no intuito de serem satisfeitos todos os direitos da reclamante.

3. DO MÉRITO

3.1 Do Princípio da Primazia da Realidade

Neste momento, passaremos expor os pensamentos do ilustre doutrinador Mauricio


Godinho Delgado:

“O princípio da primazia da realidade sobre a forma constitui-se em


poderoso instrumento para a pesquisa e encontro da verdade real em uma
situação de litígio trabalhista.” (Delgado. 13ª ed. 2014 – pg.206)

O princípio da primazia da realidade é o instrumento capaz de viabilizar o confronto entre


aquilo que se encontra disposto no contrato e aquilo que de fato ocorre no dia a dia laboral.

Em suma, a verdade dos fatos impera sobre qualquer contrato formal, em havendo conflito
entre o que está escrito e o que ocorre de fato.

O trabalhador acaba se sujeitado a determinadas condições fraudulentas por ser a parte fraca
na relação, sendo obrigado aceitar a imposição do empregador para obter os meios necessários à sua
sobrevivência e de sua família.

3.2 Do acúmulo/desvio de função

Como já adiantado nos tópicos anteriores, a reclamante fora contratada na função de


recepcionista em geral, mas que por decisão unilateral por parte do empregador, exercia cumulativamente a
função de faxineira, com regular limpeza de todas as dependências da pousada; limpeza de 17 quartos e pisos,
trocava os forros das camas. Os banheiros continham alta circulação de pessoas com necessidade de

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higienização constante, e os quartos recolhia lixo periodicamente.

Controlava o acesso nas dependências do hotel, garantindo a segurança, abrindo e


fechando o portão principal. Atuava como cozinheira, na preparação de café da manhã, bolos, pizzas, lasanhas,
lanches, batatas fritas conforme os pedidos dos hospedes, e também exercia a atividade de piscineiro,
higienização da piscina com aplicação de cloro, algicida e clarificantes.

Toda essa diversidade de funções, causaram considerável desgaste físico e emocional que se
estendeu por toda vigência do contrato, sendo que jamais recebeu qualquer “Plus” pelas funções cumuladas.

É possível observar, que ao deixar de contratar novos funcionários, a reclamada se


beneficiou durante a vigência de todo contrato de trabalho da reclamante, pois não teve nenhum custo
adicional, o que evidencia o enriquecimento ilícito, portanto, muito justo pagar um “Plus” a reclamante pelo
excedente de função.

A esse respeito podemos destacar a lei de Radialista por Analogia, onde está previsto um rol
taxativo de regras em caso de acumulo de funções:

“Lei nº 6.615 de 16 de dezembro de 1978.


Dispõe sobre a regulamentação da profissão de radialista e dá outras
providências.
Art. 13 - Na hipótese de exercício de funções acumuladas dentro de um
mesmo setor em que se desdobram as atividades mencionadas no art. 4º,
será assegurado ao Radialista um adicional mínimo de:
I - 40% (quarenta por cento), pela função acumulada, tomando-se por
base a função melhor remunerada, nas emissoras de potência igual ou
superior a 10 (dez) quilowatts e, nas empresas equiparadas segundo o
parágrafo único do art. 3º;
II - 20% (vinte por cento), pela função acumulada, tomando-se por base a
função melhor remunerada, nas emissoras de potência inferior a 10 (dez)
quilowatts e, superior a 1 (um) quilowatt;
III - 10% (dez por cento), pela função acumulada, tomando-se por base a
função melhor remunerada, nas emissoras de potência igual ou inferior a
1 (um) quilowatt.”

Importante destacar, nestes casos de acúmulo de função, a observância do aplicado no


Código Civil para inibir esta abusividade por parte do empregador, que aduz:

“Art. 422 Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do


contrato como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.”

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E neste mesmo diapasão o artigo 884 do Código Civil prevê:

“Art.884 Aquele que, sem justa causa, se enriquecer à custa de outrem,


será obrigado a restituir o indevidamente auferido, feita a atualização dos
valores monetários."

No entanto, é de ressaltar o enriquecimento ilícito patronal, ao invés de contratar


profissionais para cada função, optou por sobrecarregar a reclamante, e sem nenhuma remuneração
compensatória.

Neste sentido, houve julgamento do TRT-5 concernente ao acúmulo/desvio de


função:

“Acordão - 0012203-39.2017.5.15.0039 (RORSum)


Data publicação: 12/12/2018
Ano do processo: 2017
Órgão Julgador: 10ª Câmara
Relator: EDISON DOS SANTOS PELEGRINI

O entendimento jurisprudencial surgido no que diz respeito ao


acúmulo/desvio de função, parte de condições peculiares de verdadeira
exploração da mão de obra, normalmente enxuta ou enxugada, impondo
ao trabalhador sobrecarga incompatível, prejudicial, ilícita, com a
finalidade de ampliação dos lucros.”

Diante de fartos argumentos jurídicos que dão guaridas ao adicional por acúmulo/desvio de
função, o órgão judicante não pode deixar de praticar justiça, e restaurar a equidade sob o frágil e equivocado
argumento de que não há amparo legal para o pedido. Ora, o fundamento jurídico é evidente e decorre de uma
exegese sistêmica e adequada dos artigos 422, 884 e 927 do Código Civil, bem como dos arts. 8°, 460 e 468 da
CLT.

Pelo exposto, requer que a reclamada seja condenada ao pagamento do adicional por
acúmulo/desvio de função no percentual de 40% sobre a remuneração do obreiro, com pagamento dos
respectivos reflexos deste adicional em: férias + 1/3, DSR, feriados, horas extras, 13º salário, FGTS + 40%.

3.3 Do Adicional de Insalubridade

Durante todo o período contratual a reclamante laborou em condições insalubres sendo que
nada foi pago nesse sentido. Nesse sentido, houve afronta Constituição Federal art. 7º, inc. XXIII, do mesmo a
CLT, art. 189 c/c art. 192.

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Constituição Federal

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que
visem à melhoria de sua condição social:

(...)

XXIII - adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou


perigosas, na forma da lei;

As leis trabalhistas também mencionam sobre as operações insalubres, que põem em risco a
saúde do trabalhador, como podemos observar a baixo:

CLT

Art.189 - Serão consideradas atividades ou operações insalubres aquelas que,


por sua natureza, condições ou métodos de trabalho, exponham os empregados
a agentes nocivos à saúde, acima dos limites de tolerância fixados em razão da
natureza e da intensidade do agente e do tempo de exposição aos seus efeitos.

Art. 192 - O exercício de trabalho em condições insalubres, acima dos limites


de tolerância estabelecidos pelo Ministério do Trabalho, assegura a percepção
de adicional respectivamente de 40% (quarenta por cento), 20% (vinte por
cento) e 10% (dez por cento) do salário-mínimo da região, segundo se
classifiquem nos graus máximo, médio e mínimo.

As atividades desenvolvidas pela reclamante exigiam contato direto com agentes


biológicos e agentes químicos nocivos à saúde, muito além do limite de tolerância.

Como já mencionado, os banheiros continham alta circulação de pessoas com necessidade


de higienização constante, e os quartos recolhia lixo periodicamente.

Com a alta demanda de hospedagens, para manter quartos e banheiros limpos, a reclamante
era exposta ao contato direto com lixo nocivo a sua saúde, contaminado com agentes biológicos capazes de
provocar várias doenças infecto-contagiosas, tendo assim direito nos termos do Anexo 14 da NR-15 do
Ministério do Trabalho e Emprego, à insalubridade em grau máximo.

Súmula 448/TST - 21/05/2014 - Insalubridade. Adicional de insalubridade.


Sanitários. Atividade insalubre. Caracterização. Previsão na Norma
Regulamentadora 15 da Portaria do Ministério do Trabalho 3.214/1978.
Instalações sanitárias. (Conversão da Orientação Jurisprudencial 4/TST-SDI-I,
com nova redação do item II). CLT, art. 189 e CLT, art. 190.

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(...)

II – A higienização de instalações sanitárias de uso público ou coletivo de


grande circulação, e a respectiva coleta de lixo, por não se equiparar à limpeza
em residências e escritórios, enseja o pagamento de adicional de insalubridade
em grau máximo, incidindo o disposto no Anexo 14 da NR-15 da Portaria do
MTE 3.214/78 quanto à coleta e industrialização de lixo urbano.

Veja que, a jurisprudência abaixo está na mesma consonância:

EMENTA:

AGRAVO. AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA.


REGIDO PELA LEI 13.467/2017. ADICIONAL DE INSALUBRIDADE.
GRAU MÁXIMO. HIGIENIZAÇÃO E COLETA DE LIXO EM
BANHEIRO DE ACESSO PÚBLICO E DE GRANDE CIRCULAÇÃO.
HOTEL. ITEM II DA SÚMULA 448 DO TST. Esta Corte Superior
sedimentou o entendimento de que a limpeza de banheiro e coleta do
respectivo lixo somente autoriza o pagamento do adicional de insalubridade
em grau máximo, conforme o disposto no Anexo 14 da NR-15 da Portaria do
MTE 3.214/78, quando desenvolvidas em instalações sanitárias de uso público
ou coletivo de grande circulação, não se equiparando, assim, à limpeza em
residências e escritórios. No caso, foi deferido o adicional de insalubridade, em
virtude da Reclamante desenvolver a atividade de higienização de banheiros e
respectiva coleta de lixo das áreas comuns de um hotel, destinados a hóspedes
e visitantes, bem como dos banheiros destinados à utilização dos funcionários.
Assim, a decisão está em consonância com a Súmula 448, II, do TST. Agravo
não provido, com acréscimo de fundamentação. (TST, Ag-AIRR - 503-
41.2019.5.21.0003, Relator Ministro: Douglas Alencar Rodrigues, Data de
Julgamento: 17/08/2022, 5ª Turma, Data de Publicação: DEJT 19/08/2022)

(grifamos)

Assim, permaneceu em contato direto com agentes biológicos, o risco de contagio é


iminente, onde, é fato incontroverso, nem mesmo o uso de EPI’S, como luvas descartáveis e uniforme, é capaz
de elidir completa e eficazmente, fazendo jus ao adicional de insalubridade.

Ainda no tema Insalubridade, destacamos dentre as atividades da reclamante, a higienização


da piscina com produtos químicos; aplicando cloro, algicida e clarificantes. Embora esses produtos químicos
fossem diluídos em água, a reclamante realizava o manuseio desses produtos em alta concentração, o que era

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inevitável a inalação.

Assim, fica caracterizada a insalubridade conforme NR 15 - atividades e operações


insalubres anexo n.º 11 agentes químicos cuja insalubridade é caracterizada por limite de tolerância e inspeção
no local de trabalho.

Os trabalhadores que tenham contato habitual com produtos de limpeza, cuja composição
contenha compostos de hipoclorito (água sanitária, cloro, desengordurante e outros), devem receber o adicional
de insalubridade.

Neste sentido passemos conferir o acordão:

Acórdão – 0000971-62.2013.5.15.0106(RO)
Data publicação: 22/04/2015
Ano do processo: 2013
Órgão Julgador: Segunda Turma
Relator: DAGOBERTO NISHINA DE AZEVEDO
A presença de cloro no ar inalado no ambiente de trabalho em que se ativava a
reclamante no momento que fazia essa transferência. Segue parecer técnico
qualitativo. Conclui-se que a reclamante EXERCEU ATIVIDADE
INSALUBRE DEVIDO AO AGENTE CLORO quando exerceu
atividade de Ajudar Encarregado de acordo com os ditames do Anexo 11 - NR
– 15 – ATIVIDADES DE OPERAÇÕES INSALUBRES – PORTARIA
3.214 DE 1.978. (grifamos)

Pela natureza de suas atividades laborais, no trato diário para manutenção da piscina, a
reclamante era exposta ao contato com agentes químicos, tendo assim direito, nos termos do Anexo 11 -
Agentes Químicos da NR-15 - Atividades e Operações Insalubres, do Ministério do Trabalho e Emprego, à
Insalubridade em grau máximo.

3.4 Da supressão do intervalo intrajornada

A reclamante trabalhava das 15hs:00 às 23hs:00, sem intervalo para descanso e refeição
por toda vigência contratual, de segunda a segunda com folga as quintas e um domingo por mês, por toda
vigência do contrato.

Neste sentido a CLT estabelece que:

“Art. 71 - Em qualquer trabalho contínuo, cuja duração exceda de 6 (seis)


horas, é obrigatória a concessão de um intervalo para repouso ou alimentação,
o qual será, no mínimo, de 1 (uma) hora e, salvo acordo escrito ou contrato
coletivo em contrário, não poderá exceder de 2 (duas) horas.

(...)

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§ 4o A não concessão ou a concessão parcial do intervalo intrajornada mínimo,


para repouso e alimentação, a empregados urbanos e rurais, implica o
pagamento, de natureza indenizatória, apenas do período suprimido, com
acréscimo de 50% (cinquenta por cento) sobre o valor da remuneração da hora
normal de trabalho.”

Para tanto, algumas considerações devem ser feitas em virtude da entrada em vigor da
Reforma Trabalhista e de particularidades do caso concreto.

A Súmula nº 437 do C. TST, observa que a não concessão ou a concessão parcial do


intervalo intrajornada para repouso e alimentação, implica o pagamento total do período correspondente, e não
apenas daquele suprimido, com acréscimo de, no mínimo, 50% sobre o valor da remuneração da hora normal
de trabalho.

Desta forma, no que tange ao tempo a ser pago, há de ser considerado o período integral,
ante a natureza salarial da verba.

Em suma, a previsão constitucional se destina à punição pelo não cumprimento da


concessão de intervalo regular, já a previsão do art. 71, §4º da CLT se destina ao pagamento do intervalo
ilicitamente suprimido, ou seja, do tempo efetivamente trabalhado em período que o Obreiro deveria estar
descansando.

Assim, diante do fato de que a reclamante se ativava por mais de 6 horas por dia e não
usufruía de forma regular de seu horário para descanso e refeição, requer a condenação da reclamada ao
pagamento de 01h00 com adicional de 50% com base na Súmula 437 do TST e art. 7º, inc. XVI, da CF/1988,
em razão do efetivo labor em horas extraordinárias com fundamento no §4º do art. 71 da CLT.

3.5 Das verbas rescisórias

Conforme se observa no TRCT acostado, no momento da rescisão contratual (pedido de


demissão), a reclamante não percebeu de forma correta as verbas rescisórias referentes ao período de
19/04/2022 à 20/07/2023, fazendo jus, portanto, ao pagamento das diferenças do Aviso Prévio, Férias
vencidas e proporcionais acrescidas de um 1/3 Constitucional, 13º Salário, horas extras diária, bem como
não lhe foi depositado o FGTS do mesmo período e multa de 40% (quarenta por cento).

Requer por tanto, a condenação da reclamada ao pagamento de todas as verbas rescisórias


em complemento provenientes desta dissolução de contrato de trabalho, desde a data de sua efetiva contratação
até a rescisão.

3.6 Fundo de Garantia do Tempo de Serviço + Multa de 40%

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Diz o art. 15 da lei 8.036/90 que todo empregador deverá depositar até o dia 20 de cada mês
na conta vinculada do empregado a importância correspondente a 8% de sua remuneração devida no mês
anterior.

Sendo assim, requer a condenação da reclamada a efetuar os depósitos fundiários


correspondentes ao período contratual de 19/04/2022 à 20/07/2023.

Diante do exposto, por conta da rescisão sem justa causa do contrato de trabalho, requer o
depósito do FGTS de todo período contratual mais a multa de 40% sobre o valor total, nos termos do § 1º do
art. 18 da lei 8.036/90 c/c art. 7º, I, CF/88 e Súmula 362 do TST.

4. MULTA ART. 477 DA CLT

E ainda, caberá multa do artigo 477, §8º da CLT quando houver atraso no pagamento das
verbas rescisórias (saldo de salário, férias proporcionais + 1/3, 13º proporcional, aviso prévio, multa do FGTS,
férias integrais e/ou vencidas se houver, etc.). Esse atraso pode ser de um dia, trinta dias, ou até hoje. O valor é
sempre correspondente a um salário da reclamante.

“Art. 477. Na extinção do contrato de trabalho, o empregador deverá proceder


à anotação na Carteira de Trabalho e Previdência Social, comunicar a dispensa
aos órgãos competentes e realizar o pagamento das verbas rescisórias no prazo
e na forma estabelecidos neste artigo. (Redação dada pela Lei nº 13.467, de
2017)

§ 8º - A inobservância do disposto no § 6º deste artigo sujeitará o infrator à


multa de 160 BTN, por trabalhador, bem assim ao pagamento da multa a favor
do empregado, em valor equivalente ao seu salário, devidamente corrigido pelo
índice de variação do BTN, salvo quando, comprovadamente, o trabalhador der
causa à mora. (Incluído pela Lei nº 7.855, de 24.10.1989).”

Dessa forma, protesta a reclamante pelo pagamento de todas as parcelas incontroversas na


primeira audiência.

5. DO IPCA

O C. STF, em quatro ações diretas de inconstitucionalidade (ADIs 4357, 4372, 4400 e


4425), julgou inconstitucional a expressão “índice oficial da remuneração básica da caderneta de poupança”, do
parágrafo 12 do artigo 100 da Constituição Federal, e afastou a aplicação da Taxa Referencial (TR).

Na mesma esteira, o C. TST, em sessão plenária de 4/8/2015, decidiu que os créditos


trabalhistas devem ser atualizados com base na variação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo Especial

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(IPCA-E), do instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). E, em março de 2017, apreciou embargos
de declaração no mesmo processo, vindo a sedimentar a seguinte entendimento:

“EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM INCIDENTE DE ARGUIÇÃO


DE INCONSTITUCIONALIDADE. ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA
DOS DÉBITOS TRABALHISTAS. ART. 39 DA LEI Nº 8.177/91.
DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE DA EXPRESSÃO
"EQUIVALENTES À TRD". APLICAÇÃO DO ÍNDICE IPCA-E.
EFEITO MODIFICATIVO. MODULAÇÃO DE EFEITOS.O Tribunal
Pleno, em sede de embargos de declaração em incidente de arguição de
inconstitucionalidade, decidiu, por maioria, conferir efeito modificativo ao
julgado para modular os efeitos da decisão que declarou inconstitucional,
por arrastamento, a expressão "equivalentes à TRD", contida no
art. 39 da Lei nº 8.177/91, e acolheu o IPCA-E como índice de atualização
monetária dos débitos trabalhistas, para que produza efeitos somente a
partir de 25.3.2015, data coincidente com aquela adotada pelo Supremo
Tribunal Federal no acórdão prolatado na ADI 4.357. De outra sorte, por
unanimidade, em cumprimento à decisão liminar concedida no processo
STF-Rcl-22.012, rel. Min. Dias Toffoli, o Pleno excluiu a determinação
contida na decisão embargada de reedição da Tabela Única de cálculo de
débitos trabalhistas, a fim de que fosse adotado o índice IPCA-E, visto que
tal comando poderia significar a concessão de efeito "erga omnes", o que
não é o caso. Vencidos, totalmente, os Ministros Maria de Assis Calsing,
Antonio José de Barros Levenhagen, Maria Cristina Irigoyen Peduzzi,
Dora Maria da Costa e Ives Gandra Martins Filho, que julgavam
prejudicados os embargos de declaração em razão da liminar deferida
pelo STF e, parcialmente, o Ministro Brito Pereira, que acolhia os
embargos declaratórios para prestar esclarecimentos, sem modular os
efeitos da decisão. (TST-EDArgInc-479-60.2011.5.04.0231, Tribunal Pleno,
rel. Min. Cláudio Mascarenhas Brandão, 20.3.2017)”

Ademais, em 5/12/2017, como última decisão, o STF julgou improcedente o pedido


formulado na Reclamação (RCL) 22.012, que determinava a suspensão dos efeitos da decisão proferida na
Arguição de Inconstitucionalidade 0000479-60.2011.5.04.0231, bem como da tabela única editada pelo CSJT.

Destarte, nos termos da decisão proferida pelo Pleno do TST, no julgamento do processo
Arglnc-479-60.2011.5.04.0231, a qual subsiste em razão da improcedência da Reclamação 22.012, a correção
deve ser realizada pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo Especial (IPCA-E).

É o que se requer.

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6. DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS DE SUCUMBÊNCIA

A lei nº 13.467, de 13 de julho de 2017, que altera dispositivo do CLT, trouxe em seu bojo
modificação severas no tocante ao direito processual do trabalho, e ainda, profundas alterações nas regras dos
honorários de sucumbência.

A reforma trabalhista introduziu o artigo 791-A na CLT permitindo a concessão de


honorários de sucumbência, vejamos:

“Art. 791-A. Ao advogado, ainda que atue em causa própria, serão


devidos honorários de sucumbência, fixados entre o mínimo de 5% (cinco
por cento) e o máximo de 15% (quinze por cento) sobre o valor que
resultar da liquidação da sentença, do proveito econômico obtido ou, não
sendo possível mensurá-lo, sobre o valor atualizado da causa.”

A inovação da reforma trabalhista representa o tratamento isonômico aos advogados que


militam na seara trabalhista e outros advogados.

Diante do exposto, requer a condenação da reclamada ao pagamento dos honorários de


sucumbência, no valor a ser fixado por Vossa Excelência, por ser medida da mais lídima justiça!

7. DA EXIBIÇÃO DOS DOCUMENTOS

A reclamante protesta pela exibição de documentos pela reclamada, como guias de


recolhimento de FGTS, comprovantes previdenciários, recibo de pagamento de salários, férias, 13º sal., sob
pena de aplicação subsidiária do art. 396 e 400 do CPC, por tratar-se de documentos que a lei exige que tenham
os empregadores, não podendo a reclamado furtar-se de exibi-lo sob pena de confissão.

8. DOS PEDIDOS

Ante ao exposto, ressalta-se que todos os pedidos dessa exordial se referem ao período
imprescrito, ou seja, ao período de 5 anos da data da sua distribuição. Devendo esta ação ser julgada totalmente
procedente, nos seguintes termos:

a) Tendo em vista a incorporação de direitos trabalhistas, requer a aplicação da reforma da CLT apenas quando
esta produzir vantagens ao contrato de emprego, respeitando assim o princípio da progressividade social
insculpido no caput do art. 7º da CF/88; ...............................................Sem valor correspondente;

b) Caso seja a reclamante sucumbente, requer que seja respeitado o princípio constitucional de acesso dos
cidadãos ao Poder Judiciário e o dever do Estado de prestar assistência judiciária integral e gratuita as pessoas
carentes, conforme disposto nos incisos XXXV, LV e LXXIV do artigo 5º da CF/88. Requer também, que seja

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respeitado o direito social do trabalhador à redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de
saúde, higiene e segurança (inciso XXII, art. 7º da Constituição Federal). .............................................Sem
valor correspondente;

c) Seja condenada ao pagamento de 40% de Adicional de Insalubridade.........R$ 10.098,81;

d) Requer a procedência do pedido de acúmulo/desvio de função, condenando a reclamada ao pagamento do


adicional de 40% sob sua remuneração: ...............................................................R$ 10.098,81;

e) a designação de perito para apuração das irregularidades destacadas;

f) A condenação da reclamada ao pagamento de todas as verbas rescisórias provenientes desta dissolução do


contrato de trabalho, quais sejam:

- Saldo de salário (20/30): R$1.202,24;


- Décimo terceiro proporcional (7/12): R$1.051,96;
- Férias vencidas: R$1.803,36;
- 1/3 sobre Férias vencidas: R$601,12;
- Férias proporcionais (3/12): R$450,84;
- 1/3 sobre férias proporcionais: R$150,28.

g) Pagamento FGTS durante vigência do contrato:................................................R$3.029,64;

h) Multa 40% sobre FGTS:.....................................................................................R$ 1.211,85;

A condenação da Reclamada ao pagamento de 01h00 (uma hora), com adicional de 50% com base na Súmula
437 do TST e art. 7º, inc. XVI, da CF/1988 pelo não cumprimento da concessão regular de intervalo
intrajornada de 01h:00, com adicional de 50% em razão do efetivo labor em horas extraordinárias com
fundamento no §4º do art. 71 da CLT em valor não inferior a.................................R$ 921,98;

i) A condenação da reclamada ao pagamento de multa no valor equivalente ao seu salário, conforme o § 8º do


artigo 477 da CLT, no valor de:................................................................................R$1803,70;

j) A condenação da reclamada ao pagamento de 15% dos honorários de sucumbência, no valor a ser fixado por
Vossa Excelência:.....................................................................................................R$4.872,25;

l) Requer que a correção deve ser realizada pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo Especial (IPCA-E).

m) Desde já querer a reclamante a devida compensação de todos os valores eventualmente já pagos pela
reclamada.

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8.1 Dos Requerimentos Finais

Diante do exposto, requer digne-se Vossa Excelência, em mandar notificar a reclamada, no


endereço descrito no preâmbulo da Exordial, de todos os termos da presente Reclamatória, para que compareça
à audiência que for designada, nela apresentando, querendo, a defesa que tiver, sob pena de revelia e de serem
presumidos como verdadeiros os fatos articulados pela reclamante.

Requer, para tanto, digne-se Vossa Excelência, em determinar à reclamada a


juntada/exibição na primeira oportunidade, de documentos, como guias de recolhimento de FGTS,
comprovantes previdenciários, livro de empregados, recibo de pagamento de salários, 13º sal., e demais
relacionados ao contrato de trabalho com a reclamante, sob pena de aplicação das sanções dos art. 9º da
Consolidação das Leis do Trabalho e subsidiariamente os artigos 369, 396 e 400 do NCPC, por tratar-se de
documentos que a lei exige que tenham os empregadores, não podendo a Reclamada furtar-se de exibi-lo sob
pena de confissão.

Pretende provar o alegado por todos os meios de provas em direito admitidos,


especialmente, pelo depoimento pessoal da reclamada, sob pena, de confesso, oitiva de testemunhas,
documentos ora anexados, juntada de novos documentos, que ficam desde já requeridos.

Requer que, ao final, seja à presente Reclamatória julgada totalmente procedente,


condenando-se a reclamada ao pagamento de todas as verbas pleiteadas, com a devida atualização monetária,
juros, honorários advocatícios, custas processuais e demais cominações legais.

Requer ainda, com fulcro na Lei 1060/50, e artigo 98 do CPC a concessão do benefício da
Assistência Judiciária gratuita, por ser a Reclamante pessoa pobre na acepção jurídica do termo (declaração de
situação econômica em anexo).

Valor da causa R$ 37.353,93 (trinta e sete mil e trezentos e cinquenta e três reais e
noventa e três centavos), para efeitos de alçada, devendo todas as verbas ser apuradas em liquidação de
sentença.

Termos em que,
Pede e espera deferimento.

Campinas/SP, 21 de agosto de 2023.

ADILSON SANTANA DOS SANTOS


OAB/SP 403.288
(Assinado Digitalmente)

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https://pje.trt15.jus.br/pjekz/validacao/23082123102493500000209543898?instancia=1
Número do documento: 23082123102493500000209543898

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