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FISIOLOGIA DO
EXERCÍCIO
Prof. Me. Luiz Fernando Santos Tross
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FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO
PROF. ME. LUIZ FERNANDO SANTOS TROSS
3

Diretor Geral: Prof. Esp. Valdir Henrique Valério

Diretor Executivo: Prof. Dr. William José Ferreira

Ger. do Núcleo de Educação a Distância: Profa Esp. Cristiane Lelis dos Santos

Coord. Pedag. da Equipe Multidisciplinar: Profa. Esp. Gilvânia Barcelos Dias Teixeira

Revisão Gramatical e Ortográfica: Profa. Dra. Fabiana Miraz de F. Grecco

Revisão técnica: Prof. Me. Bruno Ferreira Mendes

Revisão/Diagramação/Estruturação: Bruna Luíza Mendes Leite


Fernanda Cristine Barbosa
Prof. Esp. Guilherme Prado

Design: Bárbara Carla Amorim O. Silva
Élen Cristina Teixeira Oliveira
Maria Eliza P. Campos

© 2021, Faculdade Única.

Este livro ou parte dele não podem ser reproduzidos por qualquer meio sem Autoriza-
ção escrita do Editor.

Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Melina Lacerda Vaz CRB – 6/2920.
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FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO
1° edição

Ipatinga, MG
Faculdade Única
2021
5

LUIZ FERNANDO SANTOS


Mestre em Educação Física pela USJT,
2018. Pós-graduação em Fisiologia do Exercício
e Treinamento Resistido: na saúde, na doença
e no envelhecimento pelo IBEP-CECAFI-USP,
2008. Graduação em Educação Física pela UNI-
TAU, 2006. Coordenador de academia por 3 anos
e, atualmente, Professor concursado pelo SESI
Taubaté e docente na Faculdade de Educação
Física da Anhanguera Taubaté (grupo Kroton).
Preparador físico da ADC -GM por 10 anos e
Professor da Faculdade de Educação Física na
UNITAU, 2010. Experiência atuando em clubes
e academias e ministra cursos na área fitness.
Ministrante de cursos e palestras nas Univer-
sidades de Taubaté (UNITAU), Cruzeiro (ESC),
Lorena (UNISAL), São José dos Campos (UNIP),
Campos do Jordão (SENAC), em prefeituras e
outras instituições, além de banca em traba-
lhos de conclusão na graduação. Apresenta tra-
balhos em congressos e simpósios, entrevistas
em rádios, publicações em revistas regionais e
autor principal em 3 capítulos de livros na área
de Educação Física. Atualmente, no mundo di-
gital como mentor e consultor dos profissionais
da saúde.

Para saber mais sobre a autora desta obra e suas quali-


ficações, acesse seu Curriculo Lattes pelo link :
http://lattes.cnpq.br/6372389336647179
Ou aponte uma câmera para o QRCODE ao lado.
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LEGENDA DE

Ícones
Com o intuito de facilitar o seu estudo e uma melhor compreensão do
conteúdo aplicado ao longo do livro didático, você irá encontrar ícones
ao lado dos textos. Eles são para chamar a sua atenção para determinado
trecho do conteúdo, cada um com uma função específica, mostradas a
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FIQUE ATENTO
Trata-se dos conceitos, definições e informações importantes nas
quais você precisa ficar atento.

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VAMOS PENSAR?
Espaço para reflexão sobre questões citadas em cada unidade,
associando-os a suas ações.

FIXANDO O CONTEÚDO
Atividades de multipla escolha para ajudar na fixação dos
conteúdos abordados no livro.

GLOSSÁRIO
Apresentação dos significados de um determinado termo ou
palavras mostradas no decorrer do livro.
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SUMÁRIO
UNIDADE 1
BIOENERGÉTICA E ATIVIDADE FÍSICA

1.1 Introdução à Bioenergética ....................................................................................................................................................................................................................................................10


1.2 Fontes Energéticas e Metabolismo: Carboidratos, Proteínas e Gorduras ..............................................................................................................................................13
1.3 ATP e Energia para a Atividade Física .............................................................................................................................................................................................................................16
FIXANDO O CONTEÚDO .................................................................................................................................................................................................................................................................18

UNIDADE 2
SISTEMAS ENERGÉTICOS
2.1 Sistema Anaeróbio Alático .................................................................................................................................................................................................................................................... 22
2.2 Sistema Anaeróbio Lático ..................................................................................................................................................................................................................................................... 23
2.3 Sistema Aeróbio ...........................................................................................................................................................................................................................................................................26
2.4 Abordagem Sistêmica das Vias Metabólicas ............................................................................................................................................................................................................31
FIXANDO O CONTEÚDO ................................................................................................................................................................................................................................................................34

UNIDADE 3
MECANISMOS FISIOLÓGICOS RELACIONADOS À ATIVIDADE FÍSICA
3.1 Sistema Respiratório e Atividade Física ........................................................................................................................................................................................................................38
3.2 Sistema Cardiovascular e Atividade Física ..................................................................................................................................................................................................................41
3.3 Processo de Contração Muscular e Atividade Física ..........................................................................................................................................................................................43
FIXANDO O CONTEÚDO ................................................................................................................................................................................................................................................................47

UNIDADE 4
ADAPTAÇÕES METABÓLICAS AO EXERCÍCIO
4.1 Adaptações Metabólicas Agudas e Crônicas ao Exercício ................................................................................................................................................................................51
4.2 Resposta endócrina ao Exercício .....................................................................................................................................................................................................................................53
4.3 Obesidade, Fatores de Risco e Doenças Relacionadas ....................................................................................................................................................................................58
FIXANDO O CONTEÚDO ................................................................................................................................................................................................................................................................60

UNIDADE 5
EXERCÍCIOS E APLICAÇÕES ESPECÍFICAS
5.1 Adaptações da Criança ao Exercício ...............................................................................................................................................................................................................................64
5.2 Adaptações do Idoso ao Exercício ...................................................................................................................................................................................................................................66
5.3 Diferenças Sexuais no Exercício Físico .........................................................................................................................................................................................................................68
FIXANDO O CONTEÚDO ................................................................................................................................................................................................................................................................72

UNIDADE 6
FATORES AMBIENTAIS E SUAS IMPLICAÇÕES FISIOLÓGICAS
6.1 Exercício e Adaptações Fisiológicas ao Calor ...........................................................................................................................................................................................................76
6.2 Exercício e Adaptações Fisiológicas ao Frio .............................................................................................................................................................................................................79
6.3 Exercício e Adaptações Fisiológicas à Altitude ......................................................................................................................................................................................................80
FIXANDO O CONTEÚDO.................................................................................................................................................................................................................................................................83

RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO........................................................................................................................................................................................................................86


REFERÊNCIAS ......................................................................................................................................................................................................................................................................................87
8
UNIDADE 1
A Unidade 1 introduz ao aluno um conhecimento básico e necessário relacionado
à bioenergética e atividade física, incorporando o entendimento sobre as fontes
energéticas e metabolismo dos diferentes substratos, além de apresentar o conceito
C ONFIRA NO LI VRO

fundamental da energia para a atividade física, o ATP.

UNIDADE 2
A Unidade 2, após o entendimento alicerçado na Unidade 1, apresenta os diferentes
sistemas energéticos existentes durante a prática de exercícios físicos, formas em que
o nosso corpo utiliza a energia, conhecimento essencial para qualquer profissional
de educação física.

UNIDADE 3
A Unidade 3 aborda os diferentes mecanismos fisiológicos relacionados à atividade
física, como os sistemas respiratório, cardiovascular e o processo de contração
muscular, conteúdo indispensável no repertório de conhecimento de todo
profissional da área.

UNIDADE 4
A Unidade 4 aprimora o entendimento sobre as adaptações metabólicas, tanto
agudas como crônicas, ao exercício, assim como introduz às diferentes respostas
endócrinas causados pelo exercício e apresenta as mudanças fisiológicas causadas
pela obesidade e doenças relacionadas.

UNIDADE 5
A Unidade 5 especifica as diferentes aplicações que o exercício causa nos diversos
públicos, direcionando como as respostas fisiológicas mudam de acordo com a
idade e o sexo das pessoas e o quanto isto é relevante no momento da prescrição de
exercício específico.

UNIDADE 6
A Unidade 6 reflete sobre como os fatores externos e ambientais afetam o
desempenho durante os exercícios, buscando deixar claro como as adaptações
fisiológicas divergem na presença de calor, frio e/ou altitude.
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BIOENERGÉTICA E
ATIVIDADE FÍSICA
10
1.1 INTRODUÇÃO À BIOENERGÉTICA
O conhecimento acerca das reações químicas é essencial para o entendimento do
organismo humano, inclusive por profissionais de educação física, os quais devem ter,
entre seus muitos saberes, o profundo conhecimento do movimento humano, já que
não há movimento humano sem reações bioquímicas.
Reações bioquímicas acontecem aos milhares a cada minuto, geralmente dentro
das células em nosso corpo, sendo que a este conjunto de reações celulares denominamos
metabolismo. Tais reações resultam na degradação ou quebra de moléculas, chamadas
de reações catabólicas, assim como podem resultar na síntese ou produção de moléculas,
ou seja, reações anabólicas (ALBERTS et al., 2017).
Mesmo quando se está dormindo ou em repouso, nosso corpo demanda energia
para manter suas funções (KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2016). Além disso, ao se
praticar alguma atividade física, nosso corpo necessita de energia contínua para
se manter em movimento. Como as células precisam de energia, as reações (vias)
bioquímicas transformam/convertem os alimentos que ingerimos em energia utilizável
biologicamente (POWERS; HOWLEY, 2017).
O processo metabólico de conversão destes alimentos (proteínas, carboidratos
e gorduras, por exemplo) em energia denominamos bioenergética. Quando a energia
não é disponível prontamente em nosso organismo, a contração muscular necessária
para se manter o movimento não consegue ocorrer, sendo a compreensão abrangente
da bioenergética um alicerce fundamental para todos que estudam e promovem o
movimento humano.
Para se aprimorar o entendimento da bioenergética, é importante analisar a
estrutura e a função celular. A estrutura celular é composta por três partes básicas: a
membrana celular, o citoplasma e o núcleo. Nos músculos, a membrana celular é
denominada sarcolema e o citoplasma recebe o nome de sarcoplasma. A membrana
celular tem a função de atuar como barreira protetora das células, diferenciando o
ambiente extracelular e o interior da célula, assim como regulam a entrada e saída
de diversos elementos para o meio intracelular (citoplasma), composto por diversas
organelas, cada qual com uma função específica. No núcleo, encontram-se os genes, os
quais regulam a síntese de proteínas dentro das células.
Seja na questão estrutural ou no funcionamento dos diversos elementos que
compõem a célula, a energia geralmente estará presente, ou no resultado de uma
reação que a produza ou utilizando-a para que alguma função ocorra (ALBERTS et al.,
2017). As diversas formas de energia, seja ela mecânica, térmica, química ou elétrica, são
intercambiáveis, ou seja, permutam funções, sendo que um tipo de energia pode gerar
ou se utilizar de outra, caso haja necessidade. Um exemplo didático, para entendimento,
é a conversão de energia química (adquirida nos alimentos) em energia mecânica pelas
fibras musculares, através de inúmeras reações bioquímicas, as quais geram contração
muscular e movimentação articular.
As transferências de energia em nosso organismo ocorrem através da liberação
da energia adquirida nas ligações químicas de várias moléculas, ligações estas que,
em grandes quantidades de energia, são denominadas “ligações de alta energia”. Essa
transferência de energia a partir dos alimentos, para ser utilizada no corpo, promove
uma série de reações bioquímicas celulares. Quando há a necessidade de se adicionar
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energia aos reagentes antes de se prosseguir uma determinada reação, ou até mesmo
adicionar diretamente à reação, denominamos de “reações endergônicas”. Entretanto,
quando as reações emitem/geram energia a partir dos resultados de seus processos
químicos, são conhecidas como “reações exergônicas” (POWERS; HOWLEY, 2017).

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O livro “Introdução à Bioquímica” de Conn e Stumpf (1980, 4ªed), traduzido por
Magalhães e Mennucci (2017), traz um entendimento básico sobre reações bio-
químicas e metabolismo. Disponível em: https://bit.ly/3eKp5M7. Acesso em: 23
ago. 2021.

Há, ainda, as reações bioquímicas que são acopladas, ou seja, são reações com
conexões entre si, em que a liberação de energia livre em uma reação é utilizada para
iniciar ou potencializar uma outra reação. Em outras palavras, é uma reação exergônica
liberando energia para ativar uma reação endergônica, estando as duas acopladas entre
si. Um exemplo é a importante reação de oxidação-redução (ALBERTS et al., 2017).
Entende-se por oxidação, segundo Alberts et al. (2017), o processo de remoção de
um elétron de uma molécula ou átomo (não necessariamente o oxigênio), e por redução
o processo de adição de um elétron a uma molécula ou átomo. A redução e a oxidação
são reações consideradas constantemente acopladas, já que uma molécula/átomo só é
oxidada ao doar elétrons (agente redutor) a outra molécula/átomo, sendo a que recebe
denomina-se agente oxidante.
O oxigênio tem esta propriedade de receber elétrons, produzindo energia utilizável
(que será discutido na Unidade 2 ao abordarmos a “cadeia de transporte de elétrons”).
Há, ainda, a possibilidade de uma molécula agir tanto como agente redutor como agente
oxidante, recebendo elétrons em uma reação e, posteriormente, transfere estes elétrons
em uma outra reação para produzir a então reação de oxidação-redução. Estas reações
geralmente envolvem a transferência de átomos de hidrogênio e seus elétrons, ao invés
de elétrons livres isolados.
Assim, uma molécula que doa um átomo de hidrogênio, consequentemente, doa
um elétron, sendo, então, oxidada. Duas moléculas são importantes na transferência
de elétrons: a nicotinamida adenina dinucleotídeo (NAD), derivada da vitamina B3, e a
flavina adenina dinucleotídeo (FAD), derivada da B2. NAD+ é considerada a forma oxidada
de NAD e NADH a sua forma reduzida, sendo que com FAD ocorre similarmente, em que
FAD é a forma oxidada e FADH a sua forma reduzida.
A velocidade com que ocorrem as reações bioquímicas celulares é controlada
por moléculas catalisadoras conhecidas como enzimas. As enzimas são proteínas que
simplesmente regulam a velocidade em que as reações ocorrem, mas não fazem com
que aconteçam e não modificam o tipo ou resultado de uma reação. Uma reação
química só ocorre quando os reagentes têm energia necessária para sua ação (energia
de ativação), sendo o papel das enzimas reduzir a energia de ativação, para se aumentar
a velocidade das reações e, consequentemente, elevar a taxa de formação de um
determinado produto (ALBERTS et al., 2017).
As características estruturais de uma enzima se diferem de outras, sendo que cada
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uma possui cristas e sulcos específicos, denominados “sítios ativos”. Estas características
fazem com que uma determinada enzima possa se juntar a uma dada molécula
reativa em particular (substrato) que se encaixa nas cristas e/ou sulcos. Este conceito
de adaptação específica de uma enzima a um determinado substrato tem a mesma
relação analógica da “chave e fechadura” (Figura 1).
A conformação do sítio ativo da enzima específica para o formato do substrato
específico forma o complexo enzima-substrato. Depois de formar o complexo enzima-
substrato, a energia de ativação diminui e a reação se conclui mais facilmente, ocorrendo
a dissociação da enzima e do produto posteriormente.

Figura 1: Formação do complexo enzima-substrato, resultando da reação os produtos distintos C e D


Fonte: Powers e Howley (2017, p. 45)

As enzimas classificam-se em quinases, desidrogenases, isomerases, oxidases e


algumas mantêm os termos mais antigos a elas associadas, como a pepsina, renina e
tripsina. O sufixo “ase” característico nos nomes das enzimas dizem respeito à função
da enzima e à reação por ela catalisada, como, por exemplo, as quinases, que fosforilam
(acrescentam um grupo fosfato) uma molécula específica; as desidrogenases, que
retiram átomos de hidrogênio de seus substratos; as oxidases, catalisadoras das reações
de oxidação-redução que envolvem oxigênio; e as isomerases, que reorganizam os
átomos nas moléculas de substrato para constituir isômeros estruturais (moléculas com
fórmulas estruturais diferentes mas com a mesma fórmula molecular).
Alguns fatores podem alterar a atividade enzimática, como a temperatura e o pH.
Uma temperatura ideal faz com que as enzimas sejam mais ativas, ou seja, uma pequena
elevação da temperatura corporal acima dos 37º C (normal) eleva a atividade da maioria
das enzimas (Gráfico 1 - a). Isto é essencial e útil durante o exercício físico, pois intensifica
a produção de ATP, através das reações bioenergéticas. O pH também exerce um amplo
efeito sobre a atividade enzimática, pois ocorre similarmente à temperatura, isto é, as
enzimas têm um pH ideal para otimização de suas funções, caso contrário, sua atividade
enzimática diminui, o que pode acarretar implicações importantes durante o exercício
(Gráfico 1 - b).
Note que a atividade enzimática não é máxima à 37º C (temperatura corporal
normal), e que o aumento da temperatura induzido pelo exercício físico provoca uma
elevação da atividade enzimática.
13

Gráfico 1: a) Efeito da temperatura corporal sobre a atividade enzimática; b) Efeito do pH sobre a atividade enzimática
Fonte: Powers e Howley (2017, p. 46)

Observe que um aumento ou diminuição do pH (acidez ou alcalinidade da solução),


além da faixa ideal, provoca queda da atividade enzimática, e é o que acontece durante
o exercício intenso, pois os músculos esqueléticos podem produzir grandes quantidades
de íons hidrogênio (H+). O acúmulo em grandes quantidades de H+ provoca a queda do
pH dos líquidos corporais (acidez) em índices menores do que a faixa ideal de enzimas
bioenergéticas, resultando na diminuição da capacidade de fornecer a energia (ATP)
necessária para a contração muscular eficiente. Isto será discutido novamente na
Unidade 4.

VAMOS PENSAR?
Como visto, tanto o pH como a temperatura interferem positiva ou negativamente na
atividade enzimática. Será este um dos motivos que nós, profissionais de educação física,
devemos sempre buscar controlar volume-intensidade-descanso dos exercícios e, se pos-
sível, a temperatura ambiente? Caso não controlemos estas variáveis, o que pode aconte-
cer no decorrer da prática de exercício para nossos alunos?

1.2 FONTES ENERGÉTICAS E METABOLISMO: CARBOIDRATOS,


PROTEÍNAS E GORDURAS

O corpo humano é composto basicamente por quatro substâncias químicas


básicas (elementos): oxigênio com 65%, carbono, hidrogênio e nitrogênio, sendo 18%,
10% e 3%, respectivamente (FOX, 2013). Outros elementos, importantíssimos também
no processo que resulta em movimento humano, porém em menor proporção, incluem
o cálcio, potássio, sódio, ferro, cloreto, magnésio e zinco. As conexões destes elementos,
através das ligações químicas, formam compostos ou moléculas. Compostos podem ser
orgânicos ou inorgânicos, sendo que os orgânicos (exemplo: proteínas, carboidratos e
gorduras) contêm carbono em sua estrutura e os inorgânicos, como a água (H²O), não.
Conforme mencionado na seção 1 desta unidade, o corpo humano utiliza-se dos
nutrientes adquiridos através da alimentação para a transformação em energia a ser
utilizável de diversas maneiras no nosso organismo, seja para que ocorra uma determinada
reação, para que entre uma partícula no meio intracelular, para a própria manutenção
14
das atividades celulares ou para que haja movimento humano. Os combustíveis que mais
geram energia para o ser humano, principalmente para a prática de exercício físico, são
os carboidratos, as gorduras e as proteínas. Quando se pensa em exercício, os primeiros
nutrientes utilizados para a obtenção de energia são os carboidratos e as gorduras. Já
as proteínas contribuem com um percentual baixo da energia total utilizada (BROOKS,
2012).
Carboidratos (CHO) são estruturalmente formados por átomos de carbono,
hidrogênio e oxigênio, conhecidos antigamente por glicídios. Ao serem armazenados
no organismo humano, fornecem uma forma de energia disponibilizada rápida e
prontamente, se necessário, sendo que 1 grama (g) fornece cerca de 4 kcal de energia
(TYMOCZKO; BERG; STRYER, 2009). Segundo Tymoczko, Berg e Stryer (2009), há três
formas conhecidas de CHO: monossacarídeos, dissacarídeos e polissacarídeos.
Monossacarídeos são açúcares simples, como a frutose, a glicose e a galactose
(açúcar do leite). A frutose é encontrada nas frutas ou no mel e é o carboidrato
simples mais adocicado (REED, 2010). A glicose é encontrada nos alimentos e trato
digestivo, através da degradação de carboidratos mais complexos. É mais conhecida e
popularmente referenciada como “açúcar do sangue” e é a única forma de carboidrato
que pode ser metabolizada de maneira direta para obtenção de energia (KRAEMER;
FLECK; DESCHENES, 2016).
Dissacarídeos são constituídos pela união de dois monossacarídeos. A sacarose
(açúcar que normalmente utilizamos no dia a dia, também encontrada na cana-de-açúcar,
beterraba e mel), por exemplo, é composta por glicose e frutose, assim como a maltose,
composta por duas moléculas de glicose. Segundo Kraemer, Fleck e Deschenes (2016),
mesmo sendo consumidos na alimentação, os dissacarídeos precisam ser degradados
em monossacarídeos no trato digestivo antes de estarem na corrente sanguínea.
Já os polissacarídeos são considerados carboidratos mais complexos, com, pelo
menos, três monossacarídeos (moléculas pequenas) ou centenas deles combinados
(moléculas grandes). Nas plantas, as duas formas mais encontradas são o amido e a
celulose, mas os seres humanos não digerem a celulose, descartando-a como resíduo
fecal. Em contrapartida, o amido (encontrado em grãos, feijão, milho, ervilha e batata)
é digerido facilmente no organismo humano, o que contribui para uma fonte de
carboidratos importante na dieta (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2018). Após sua ingestão,
o amido é degradado (quebrado) formando monossacarídeos que podem ser utilizados
rapidamente pelas células como energia ou armazenados para futuras necessidades
energéticas.
No tecido animal, armazena-se um polissacarídeo conhecido como glicogênio,
importantíssimo provedor de energia para o corpo humano e responsável por uma das
vias energéticas durante os exercícios. O glicogênio é sintetizado pela ação da enzima
glicogênio sintase, ocasionando na união de centenas a milhares de moléculas de glicose.
Como forma de suprir as demandas de carboidrato como fonte de energia, as células
armazenam glicogênio, que é degradado em glicose pelo processo de glicogenólise para
ser usado como energia nas contrações musculares durante o exercício, por exemplo.
Esta degradação de glicogênio também acontece no fígado, liberando glicose livre
na corrente sanguínea, sendo então levada para todo o organismo (KRAEMER; FLECK;
DESCHENES, 2016; POWERS; HOWLEY, 2017).
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FIQUE ATENTO
Tanto o glicogênio armazenado no fígado quanto na musculatura esquelética
são enzimaticamente degradados (glicogenólise) durante a atividade física (alta
demanda energética), mas não com o mesmo objetivo. A glicogenólise do fíga-
do busca restaurar os níveis normais de glicose sanguíneo reduzidos durante a
atividade física, no entanto, quando o músculo esquelético realiza a glicogenó-
lise intracelular, a glicose-6-fosfato resultante é utilizada como substrato para a
glicólise, fornecendo ATP para o próprio músculo utilizar. Portanto, a quebra do
glicogênio intramuscular não restabelece níveis de glicose sanguíneo.

As moléculas de glicose também se combinam, tanto no tecido muscular como


no fígado, para formar glicogênio através de um processo denominado glicogênese,
abordada mais profundamente na Unidade 2. No entanto, a reserva de glicogênio total
não é relativamente grande e pode ser reduzida drasticamente após sua constante
degradação durante exercícios prolongados, principalmente. Por tal motivo, deve-se
analisar e controlar individualmente tanto a ingestão de carboidratos nas dietas como a
relação volume-intensidade-duração dos exercícios físicos.
Gorduras contêm elementos químicos idênticos aos carboidratos, mas a relação
proporcional de carbono-oxigênio é consideravelmente maior nas gorduras. As
gorduras também são conhecidas popularmente por lipídios e são combustíveis ideais
para exercício prolongado (ver mais na Unidade 2), pois suas moléculas contêm mais
que o dobro de energia (9 Kcal/g) do que proteínas e carboidratos (4 Kcal/g) (DEVLIN,
2010; REED, 2010). São insolúveis em água (basta analisar como gotas de gordura ou
óleo não se misturam com água) e podem ser classificadas em esteroides, fosfolipídios,
triglicerídeos e ácidos graxos.
Esteroides são lipídios que não possuem ácidos graxos em sua estrutura, estando
no corpo humano na forma de hormônios sexuais, vitamina D ou esteróis, como o
colesterol. Colesterol é o esteroide mais comum, encontrado em todas as membranas
celulares e nos alimentos, é sintetizado em cada célula do nosso corpo e necessário para
a síntese de hormônios sexuais, como a testosterona, estrogênio e progesterona (FOX,
2013). Entretanto, mesmo com inúmeras funcionalidades importantes, nível elevado de
colesterol sanguíneo é considerado um fator de risco para cardiopatias (MASSON et al.,
2017), e será mais abordado na Unidade 4.
Os fosfolipídios (lipídios associados ao ácido fosfórico) também são sintetizados
em quase todas as células e tem entre suas funções biológicas a manutenção integral
das membranas celulares e o revestimento das fibras nervosas, formando uma bainha
isolante (FOX, 2013). Porém, esteroides e fosfolipídios não são usados como substratos
energéticos durante o exercício (TIIDUS; TIPLING; HOUSTON, 2012).
Ácidos graxos são constituídos por um grupo carboxila (grupo de carbono,
oxigênio e hidrogênio) ligado a cadeias longas de átomos de carbono. Os ácidos graxos
podem ser classificados como saturados e insaturados, sendo estes ainda categorizados
em monoinsaturados ou polinsaturados. Ácidos graxos são a forma de gordura primária
utilizado pelo miócito (células musculares) para obtenção de energia e são armazenados
na forma de triglicerídeos, no organismo humano.
Os triglicerídeos compõem-se por três moléculas de ácidos graxos e uma de glicerol
16
(tipo de álcool e que não é gordura), armazenados, em sua maioria, nos adipócitos (células
gordurosas), mas também em diversos tipos celulares, inclusive o músculo esquelético.
Quando há necessidade, os triglicerídeos são degradados (processo conhecido por
lipólise, realizado pelas enzimas lipases), liberando ácidos graxos, que podem ser usados
como fonte energética pelos músculos ou outros tecidos, e liberando glicerol, que não
é uma fonte energética para o músculo, mas pode ser reaproveitado para sintetizar
glicose, pelo fígado.
Assim, uma molécula de triglicerídeo é inteiramente aproveitada como fonte
de energia para o corpo, inclusive durante a prática de exercícios físicos, através dos
ácidos graxos. Os estoques de gordura são abundantes no organismo, mesmo em
indivíduos magros. Assim, não ocorre a depleção de energia oriunda da gordura durante
a atividade física, mesmo que de longa duração, o que elimina a depleção de gordura
como precursora de fadiga (KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2016).
Proteínas são compostas pela união de diversos aminoácidos, que se ligam por
meio das chamadas ligações peptídicas. São necessários algumas dezenas de tipos de
aminoácidos para formar enzimas, tecidos e proteínas sanguíneas, por exemplo. De
maneira geral, uma pequena quantidade de proteína/aminoácidos é metabolizada com
a função de fornecer energia. Para servir como substrato energético, as proteínas devem
ser degradadas nos aminoácidos que compõem sua fórmula. No fígado, o aminoácido
alanina pode ser converter em glicose, a qual pode ser usada como fonte energética
após a sua síntese em glicogênio.
Este glicogênio hepático pode ser quebrado em glicose e ser transportado ao
músculo pela corrente sanguínea, também usado em forma de energia (ver unidade
2). Outros aminoácidos, como a leucina, isoleucina e valina, podem ser convertidos em
intermediários metabólicos nos miócitos e colaborar diretamente nas vias bioenergéticas,
como combustível (GIBALA, 2007). Portanto, o corpo usa os macronutrientes ingeridos
diariamente para obter a energia necessária e manter as atividades celulares, seja em
repouso ou em exercício.

1.3 ATP E ENERGIA PARA A ATIVIDADE FÍSICA

Muito falamos de substrato energético, fontes bioenergéticas e obtenção de


energia, mas agora vamos aprofundar nosso conhecimento sobre o que é esta energia
que mantém nosso organismo funcionando, sendo a molécula mais importante que
transporta energia nas células conhecida como ATP e, na sua ausência, a maioria das
células tende a morrer rapidamente.
Quando se pensa em contração muscular, compostos de fosfatos de alta energia
são solicitados como fonte de energia imediata para que haja recrutamento destas
fibras musculares e possa haver movimento, fosfatos estes denominados trifosfato de
adenosina ou adenosina trifosfato – o ATP (REED, 2010). Independentemente da forma
como a energia útil é produzida (aeróbia ou anaeróbia), o produto resultante é a molécula
de ATP (KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2016).
O ATP tem, por sua estrutura, uma constituição de ligação entre adenina e ribose
(estas duas moléculas combinadas formam a molécula de adenosina), e três fosfatos
e é conhecido como doador de energia universal. O ATP pode ser formado a partir do
difosfato de adenosina ou adenosina difosfato (ADP), fosfato inorgânico (Pi) e íon de
hidrogênio (H+). Posteriormente, o ATP é degradado em ADP e Pi, liberando energia que
17
pode ser usada nos processos celulares, como várias ações musculares. As moléculas de
ADP, ATP e Pi não são destruídas durante as reações, mas sim as ligações químicas que
mantêm os grupos de fosfato unidos, as quais são degradadas a fim de liberar energia; ou
então é adicionada energia para refazer a ligação que une o Pi à molécula de adenosina,
formando novamente o ATP.
O aumento da produção do H+ quando o ATP é decomposto pode levar ao processo
de acidose intramuscular, o que interfere negativamente durante os exercícios físicos;
em contrapartida, a necessidade de H+ quando ADP e Pi se combinam para produção
do ATP promove a redução desta acidose. A energia que é necessária para que haja
a ligação do ADP com o Pi pode ser obtida da reação aeróbia ou anaeróbia, que será
discutido no capítulo 2.
Após a degradação de alimentos no nosso trato digestivo, libera-se a energia
para se tornar útil para todas as células. As células utilizam as quebras destes alimentos
(reações exergônicas) para formar ATP via reações endergônicas, o qual pode ser
utilizado para impulsionar os metabolismos celulares que necessitam de energia. Assim,
há quase sempre associação das reações liberadoras de energia com as que necessitam
de energia (POWERS; HOWLEY, 2017).

BUSQUE POR MAIS


Para entender mais sobre fontes de ATP e exercício, consulte o capítulo 5 do livro
de Fisiologia do Exercício disponível na Minha Biblioteca Única. Disponível em:
https://bit.ly/3qKYnc0. Acesso em: 24 ago. 2021.
18
FIXANDO O CONTEÚDO

1. (IBADE- 2018). O metabolismo é o conjunto de processos de obtenção e utilização de


energia para a realização das funções biológicas que mantêm as pessoas vivas. Esses
processos abrangem diferentes vias metabólicas, que trabalham de maneira coordenada
e envolvem a aquisição de energia química do ambiente e a conversão dos nutrientes
em moléculas funcionais. Os principais nutrientes dos quais as células extraem energia
são o oxigênio e, um ou mais tipos de alimentos (glicose, ácidos graxos e aminoácidos).
No interior da célula, dentro das mitocôndrias, essas substâncias alimentares reagem
quimicamente com o oxigênio sob a influência de várias enzimas, que controlam a
intensidade e a velocidade dessas reações, canalizando a energia liberada para um fim
adequado. Este metabolismo de produção de energia é:

a) anaeróbico.
b) alático.
c) lático.
d) aeróbico.
e) misto.

2. Sobre o glicogênio, julgue como verdadeiras (V) ou falsas (F) as afirmações abaixo:

( ) É um açúcar de reserva energética para os animais (encontrado no fígado e nos


músculos)
( ) O glicogênio é sintetizado após a degradação da glicose
( ) Após degradado, origina moléculas de glicose, podendo ser usadas como energia

Assinale a sequência correta obtida no sentido de cima para baixo.

a) V – V – V.
b) V – F – V.
c) F – V – F.
d) F – F – V.
e) V – F – F.

3. Sobre metabolismo, analise se as afirmativas são verdadeiras (V) ou falsas (F).

( ) É o conjunto de transformações e reações químicas através das quais se realizam os


processos de síntese e degradação (ou decomposição) das células.
( ) O metabolismo acontece com a ajuda de enzimas através de uma cadeia de produtos
neurais e armazenados sob a forma de oxigênio.
( ) Está relacionado com três funções vitais: nutrição (inclusão de elementos essenciais),
respiração (oxidação desses elementos essenciais para produção de energia química) e
síntese de moléculas estruturais (utilizando a energia produzida).
( ) O processo metabólico se divide em dois grupos denominados anabolismo (reações
19
de síntese) e catabolismo (reações de degradação).

A alternativa que contém a sequência correta, de cima para baixo, é a

a) V – F – V – V.
b) V – F – F – V.
c) V – V – F – F.
d) F – V – F – V.
e) F – F – V – V.

4. As principais funções dos lipídios no organismo são:

I. Fonte e reserva de energia.


II. Proteção dos órgãos vitais.
III. Restauração da composição óssea.
IV. Isolamento térmico.
V. Carreador de vitaminas e supressor de fome.

a) Somente as assertivas II, IV e V estão CORRETAS.


b) Somente as assertivas I, II, III e IV estão CORRETAS.
c) Somente as assertivas I, II, IV e V estão CORRETAS.
d) Somente as assertivas II, III e V estão CORRETAS.
e) Somente as assertivas I, III, IV e V estão CORRETAS.

5. As células do corpo humano necessitam de energia de reações químicas que ocorrem


em diferentes sistemas do metabolismo celular (resultado de todas as reações da célula).
Neste caso, como se chamam as reações que armazenam e liberam a energia das células
do corpo?

Escolha a alternativa correta.

a) Reações agonistas (anabólicas) e antagonistas (catabólicas).


b) Reações anaeróbias (anabólicas) e aeróbias (catabólicas).
c) Reações intrínsecas (anabólicas) e extrínsecas (catabólicas).
d) Reações simples (anabólicas) e complexas (catabólicas).
e) Reações endergônicas (anabólicas) e exergônicas (catabólicas).

6. Para ter energia, precisamos ingerir ________, que são os carboidratos, gorduras e
proteínas. Dos três elementos, o(a) ________ é o que fornece mais energia (9 Kcal/g).
Porém, outros elementos são essenciais na dieta alimentar de todos os humanos, como
os minerais e vitaminas, conhecidos por ___________.

Assinale a alternativa que completa corretamente as lacunas do texto.

a) Macronutrientes; carboidrato; energéticos.


b) Micronutrientes; carboidrato; macronutrientes.
c) Macronutrientes; proteína; micronutrientes.
20
d) Micronutrientes; gordura; energéticos.
e) Macronutrientes; gordura; micronutrientes.

7. Tanto o fígado como o músculo armazenam o glicogênio, porém com objetivos


diferentes. Quando há a necessidade, ambos realizam um processo em que se auxiliam
mutuamente. Que nome se dá ao processo de cooperação metabólica entre músculo e
fígado, por meio da qual se dá a conversão do lactato em glicose?

a) Ciclo de Bari.
b) Ciclo de Gorsky.
c) Ciclo de Cori.
d) Ciclo de Osman.
e) Ciclo de Krebs.

8. As enzimas são moléculas catalisadores que regulam velocidade com que ocorrem
as reações bioquímicas celulares. As enzimas se ligam aos _____________, através dos
_________________, formando o que conhecemos pelo complexo __________________,
analogia ao modelo “chave-fechadura”.

Assinale a alternativa que completa corretamente as lacunas do texto.

a) Substratos; Filamentos; Enzima-substrato.


b) Sítios ativos; Substratos; Enzimático.
c) Substratos; Sulcos de ligação; Enzimático.
d) Sítios ativos; Substratos; Enzima-substrato.
e) Substratos; Sítios ativos; Enzima-substrato.
21

SISTEMAS
ENERGÉTICOS
22
2.1 SISTEMA ANAERÓBIO ALÁTICO

Os miócitos devem ter vias metabólicas que tenham a capacidade de produzir


e fornecer energia rapidamente, ou seja, ATP. Quando nos exercitamos, os músculos
necessitam constantemente de suprimento de ATP para que haja contração, porém, os
miócitos armazenam quantidades restritas de ATP (POWERS; HOWLEY, 2017).
A produção de ATP acontece por meio de uma via metabólica ou a combinação
de três vias. No entanto, o que é mais aceito pela literatura científica, já que o termo
certo em se referir a uma via metabólica é que ela está predominante, e que uma via
metabólica atua em maior proporção que outras dependendo da intensidade e duração
do esforço. Isso fará mais sentido após estudarmos as três vias metabólicas (anaeróbia
alática, anaeróbia lática e aeróbia), e a abordagem sistêmica entre estas vias na sessão
1.4 desta unidade.
Para o metabolismo anaeróbio alático, temos o fator/método mais rápido de
produção de ATP entre todas as vias metabólicas, pois envolve a doação de um grupo
fosfato e a energia de ligação da creatina fosfato ou fosfocreatina (CP ou PC) para o ADP,
formando assim o ATP, sendo esta reação regulada pela atividade da enzima creatina
quinase (REED, 2010; TYMOCZKO; BERG; STRYER, 2009), como mostra a Figura 2. No
entanto, essa via é capaz de manter o exercício por apenas cerca de 30 segundos, sendo
que se o exercício continuar, uma próxima via metabólica passa a ser a responsável por
reabastecer o ATP para os músculos em funcionamento por até aproximadamente três
minutos (KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2016).
A creatina quinase é ativada devida ao aumento das concentrações sarcoplasmáticas
de ADP e é inibida por altos níveis de ATP. Ao começar o exercício, o ATP é degradado
em ADP + Pi para fornecer energia para contração muscular e, com o aumento imediato
das concentrações de ADP, a creatina quinase é estimulada a decompor a PC em Pi e
creatina, resultando em doação de Pi para o ADP, para que ocorra a ressíntese do ATP.
Inclusive, já se começa a estudar o quanto o Pi existente no corpo pode se unir ao ADP
circulante para já produzir rapidamente ATP nos primeiros 3-5 segundos de exercício.

Figura 2: A energia liberada da degradação da fosfocreatina é usada para produzir ATP


Fonte: Kraemer, Fleck e Deschenes (2016, p. 33)

O conteúdo intracelular de ATP também é relativamente pequeno nos miócitos,


ou seja, durante a atividade física estas concentrações de ATP reduzem rapidamente
e, se os níveis de ATP não forem repostos proveniente dos ciclos metabólicos, pode-
se resultar no declínio da produção de força muscular. Porém, a elevação da acidose
intramuscular, decorrente do aumento da concentração de H+ causada pela atividade
anaeróbia (a degradação do ATP resulta na liberação de 1 íon de hidrogênio, liberando
23
energia útil), também pode ser um fator que limita a produção de força. Outra hipótese
é a compartimentalização do ATP, o que significa que mesmo em níveis altos de ATP
intramusculares, há ausência de ATP nos miócitos para fornecer energia para a produção
de força. Um estudo de Meyers e Wiseman (2006) propõe que o acúmulo de Pi resultante
da degradação rápida do ATP desempenha um papel na fadiga muscular.
Esta relação do ATP armazenado e a CP denomina-se sistema ATP-CP ou sistema
fosfagênico, sendo considerada uma via metabólica anaeróbia alática, por não usar o
oxigênio para transformar em energia e por não produzir lactato resultante de suas reações.
Para a formação de PC necessita-se de ATP, o que ocorre somente na recuperação do
exercício, e este um dos motivos importantes do controle da recuperação em atividades
como a musculação, por exemplo. Por isso, após um período de treinamento, melhora-
se a capacidade de realizar exercícios de alta intensidade e curta duração decorrente
da capacidade do músculo de restabelecer os níveis de fosfagênio (KRAEMER; FLECK;
DESCHENES, 2016).
O sistema ATP-CP é essencial e a principal fonte de ATP para praticantes de
exercícios de pouca duração e atletas que disputam provas intensas e de curta duração,
como um levantamento de peso olímpico, um sprint curto em uma partida de futebol,
um saque ou uma cortada no voleibol, uma corrida de 50 metros do atletismo ou um
salto em altura. Todos estes esportes ou movimentos específicos acontecem em apenas
alguns segundos, o que explica a necessidade de um suprimento rápido de ATP. O
sistema ATP-CP, através de uma reação simples, com uma única enzima, produz o ATP
necessário para a realização destas atividades e outras que tenham o mesmo princípio,
curta duração e alta intensidade. Assim, a depleção de PC pode limitar este tipo exercício,
o que sugere a ingestão de creatina para melhorar o desempenho no exercício pois
aumentaria a taxa de produção de ATP pelo sistema ATP-CP (GUALANO et al., 2012;
MOON et al., 2013).

BUSQUE POR MAIS


Acesse o capítulo 11 do livro “Nutrição, Metabolismo e Suplementação na Ativi-
dade Física - 2ª Edição” para melhor entendimento sobre creatina e atividade
física. Disponível em: https://bit.ly/3sT6TYU. Acesso em: 28 ago. 2021.

2.2 SISTEMA ANAERÓBIO LÁTICO

Quando se continua o exercício, após alguns segundos, outras vias metabólicas


aumentam sua predominância, atuando cada vez mais para produzir a energia para
a contração muscular, mesmo porque o sistema ATP-CP já não consegue gerar o ATP
com eficiência. A glicólise (quebra da glicose) ou glicogenólise (quebra do glicogênio),
é o próximo processo metabólico a atuar de forma mais prioritária que outras vias,
produzindo ATP rapidamente e sem a utilização do oxigênio em suas reações. Esta
glicólise forma duas moléculas de piruvato ou lactato, transferindo sua energia de
ligação para unir o fosfato inorgânico (Pi) ao ADP. O processo envolve diversas reações
acopladas e catalisadas por enzimas, gerando, ao final do processo de quebra de uma
24
molécula de glicose, duas moléculas de ATP e duas de lactato (GUYTON; HALL, 2006).
A glicose provém tanto das reservas sanguíneas quanto dos estoques
intramusculares de glicogênio, mas existe uma diferença entre a produção de ATP
decorrente da quebra da glicose e da quebra do glicogênio. Caso a glicose seja utilizada,
1 ATP é necessário na reação que fornece 1 fosfato (fosforilação) para produzir glicose-
6-fosfato. Quando se inicia com o glicogênio, a ligação química entre as moléculas de
glicose e glicogênio é degradada durante o processo denominado glicogenólise. Neste
caso, a glicose é fosforilada pelo Pi já existente, resultando na formação de glicose-6-
fosfato e poupando a utilização de 1 molécula de ATP, o que não acontece quando a
glicose provém do sangue. Após a formação de glicose-6-fosfato, as etapas subsequentes
da glicólise são exatamente iguais, independentemente se foi a glicose ou glicogênio
que iniciou o processo, como mostra a Figura 4 (KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2016;
POWERS; HOWLEY, 2017).

Figura 3: Interação da glicose sanguínea e glicogênio muscular no processo de glicólise


Fonte: Powers e Howley (2017, p. 51)

Para explicar a glicólise, primeiramente devemos esclarecer que há duas fases


distintas, ou seja, uma fase de utilização de energia (uso do ATP) e uma fase de geração
de energia (produz o ATP). As cinco reações iniciais constituem a fase de utilização de
energia, em que fosfatos de açúcar são formados com a utilização do ATP armazenado.
Apesar do resultado desta reação seja a produção de energia, há a utilização de ATP
em dois momentos nesta primeira fase, sendo que o propósito é acrescentar grupos
fosfato (fosforilação) à glicose e à frutose-6-fosfato. Já quando a glicólise usa o glicogênio
como substrato, é necessário adicionar apenas um ATP, pois o glicogênio dispensa a
fosforilação por ATP, já que é fosforilado pelo Pi. A partir de então, as últimas etapas
da glicólise são propriamente para gerar energia, já que duas moléculas de ATP são
produzidas em duas das reações na via glicolítica, finalizando com um saldo de dois ATP
ao se usar a glicose e três ATP com o glicogênio

VAMOS PENSAR?
Ácido láctico ou lactato?
Estes termos são usados frequentemente para definir uma molécula apenas, mas, na ver-
dade, são diferentes, apesar de terem relações muito próximas. O lactato é o sal do ácido
25
láctico pois, após a dissociação e liberação de íons hidrogênio pelos ácidos, a molécula
resultante é denominada base conjugada do ácido. Resumindo, o lactato é a base conju-
gada do ácido lático após a ionização.

Como substrato da glicólise, levando em consideração os ATP utilizados na primeira


fase, como mostra resumidamente o fluxograma da glicólise na Figura a seguir.

Figura 4: Resumo do metabolismo anaeróbio da glicose


Fonte: Powers e Howley (2017, p.52)

Duas moléculas transportadoras (NAD+ e FAD) carregam os hidrogênios (H+) e


seus elétrons removidos dos substratos após as reações nas vias bioenergéticas. Estes
H+ são usados posteriormente na geração de ATP na mitocôndria via processos aeróbios
(próxima via metabólica, explicada na seção 3 desta unidade). Para que a glicólise
aconteça, dois H+ precisam ser removidos do gliceraldeído 3-fosfato, que se une ao Pi
e forma 1,3-difosfoglicerato. O NAD+ é o aceptor de apenas um dos H+ nessa reação
(NADH é a forma reduzida de NAD+ ao aceitar o H+), sendo que os restantes ficam livres
em solução. Os H+ removidos do gliceraldeído 3-fosfato devem ter a sua disposição uma
26
quantidade significativa de NAD+ para que haja a ligação e a glicólise possa continuar
(PRATT; CORNELY, 2011; BROOKS, 2012). O NADH forma novamente o NAD+ de duas
formas: com a presença de oxigênio (O2) em quantidade suficiente, se une ao H+ na
mitocôndria celular e assim contribui para a produção aeróbia de ATP; na ausência de O2,
o piruvato aceita o H+ para formar lactato, catalisada pela enzima lactato desidrogenase
(LDH). Este é o motivo de haver a formação de lactato, para que se prossiga o processo
de glicólise.
A glicose tem seis átomos de carbono, enquanto o piruvato e o lactato possuem
três, e por isso há a produção de duas moléculas de piruvato ou lactato a partir de uma
de glicose. Sem o envolvimento direto de O2 na glicólise e com a produção do lactato,
denomina-se via metabólica anaeróbia lática. Caso haja presença de O2 na mitocôndria, o
piruvato pode contribuir para a produção aeróbia de ATP, sendo a glicólise uma via capaz
de produzir ATP de maneira anaeróbia e considerada a primeira etapa da degradação
aeróbia de carboidratos.

2.3 SISTEMA AERÓBIO

Após o entendimento das duas primeiras vias metabólicas (anaeróbia alática e


lática), caso se mantenha o exercício associado a uma intensidade em que a glicólise
já não consiga suprir a demanda de ATP, a predominância da via metabólica aeróbia
passa a ser maior para a produção de energia. É dentro da mitocôndria que acontece a
produção de ATP, a partir da interação de duas vias metabólicas cooperativas: o ciclo de
Krebs e a cadeia de transporte de elétrons (CTE) (ALBERTS et al., 2017).
O ciclo de Krebs, também conhecido como ciclo do ácido cítrico ou ciclo do ácido
tricarboxílico, tem a função primária de remover o hidrogênio (oxidação) dos carboidratos,
gorduras ou proteínas usando NAD+ e FAD como transportadores deste H+. Os H+, em
decorrência dos elétrons que possuem, contém a energia em potencial, que pode ser
usada na CTE para unir ADP + Pi e assim sintetizar novamente o ATP (KRAEMER; FLECK;
DESCHENES, 2016).
Segundo os autores, o O2 não atua nas reações do ciclo de Krebs, porém é o
último aceptor de H+ ao final da CTE (cadeia respiratória), formando água (H2 + O →
H2O). O processo de produção aeróbia de ATP ocorre em três estágios e é denominado
fosforilação oxidativa: o primeiro estágio consiste na geração da acetil-CoA (molécula
central com dois carbonos); no segundo estágio acontece a oxidação da acetil-CoA no
ciclo de Krebs; no terceiro estágio ocorre o processo de fosforilação oxidativa na CTE.
A entrada no ciclo de Krebs requer preparo da acetil-CoA, formada a partir da
quebra de carboidratos, gorduras ou proteínas. A transformação da acetil-CoA a partir do
piruvato (produto final da glicólise), libera um carbono na forma de CO2, para que a acetil-
CoA combine-se com o oxaloacetato (quatro carbonos) para formar citrato (molécula
com seis carbonos). Assim, iniciam-se reações para regeneração de oxaloacetato e duas
moléculas de CO2, recomeçando a via (GUYTON; HALL, 2006).
Lembrando que, na glicólise, cada molécula de glicose degradada gera duas
moléculas de piruvato que, na presença de O2, são convertidas em duas moléculas
de acetil-CoA, ou seja, que cada molécula de glicose ocasiona duas rodadas do ciclo
de Krebs. Para entender melhor o ciclo de Krebs, observe que cada acetil-CoA resulta
na produção de 1 ATP, CO2 e H+, os quais são carreados pelas moléculas carreadoras
27
de elétrons para a CTE, onde o metabolismo aeróbio produz a maioria dos ATP, como
demonstrado na Figura 5 (KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2016).
A função primária do ciclo de ácido cítrico é remover H+ e sua energia a partir de
vários substratos envolvidos neste ciclo. Conforme ilustrado, a cada rodada do ciclo de
Krebs, são formadas três moléculas de NADH e uma molécula de FADH, os quais podem
retornar para sua forma oxidada (NAD e FAD, respectivamente) ao liberar elétrons para
as moléculas carreadores dentro da CTE. Além da formação do NADH e FADH, o ciclo
de Krebs forma outro composto rico em energia, o trifosfato de guanosina (GTP), que
é capaz de transferir seu grupo fosfato terminal ao ADP, formando ATP. Esta formação,
denominada fosforilação de nível de substrato, contribui apenas com uma pequena
quantidade da conversão de energia total no ciclo de Krebs, pois a maior formação de
energia provém da CTE (GUYTON; HALL, 2006).
A produção de acetil-CoA, no entanto, não provém somente da glicólise (quebra
do carboidrato), mas também da degradação das gorduras e proteínas (Figura 6). As
gorduras (triglicerídeos) são degradadas formando ácidos graxos e glicerol, sendo que
os ácidos graxos podem, após diversas reações, formar acetil-CoA (processo denominado
betaoxidação) e assim adentrar no ciclo de Krebs (DEVLIN, 2010). Já o glicerol não é
relevante como fonte de combustível muscular direta durante o exercício. A proteína,
durante o exercício, não é considerada uma fonte de combustível relevante, pois contribui
somente com 2-15% do combustível. A degradação da proteína gera diversos tipos
de aminoácidos e, para eventos posteriores, depende-se de que tipo de aminoácidos
resultou da quebra da proteína. Alguns são convertidos em glicose ou piruvato, outros
em acetil-CoA, e alguns são intermediários do ciclo de Krebs. De forma resumida, o ciclo
de Krebs completa a oxidação dos carboidratos, gorduras ou proteínas; produz CO2 e
fornece elétrons para a CTE, para que se tenha energia para a produção aeróbia de ATP
(KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2016).
28

Figura 5: Acetil-CoA obtida do catabolismo do piruvato entra no ciclo de Krebs


Fonte: Kraemer, Fleck e Deschenes (2016, p. 49)
29

Figura 6: Relações entre o metabolismo de proteínas, carboidratos e gorduras


Fonte: POWERS, HOWLEY (2017, p. 56)

É na CTE, também denominada cadeia respiratória ou cadeia de citocromo, que


ocorre a produção aeróbia de ATP (fosforilação oxidativa), no interior das mitocôndrias.
A produção aeróbia de ATP usa a energia potencial disponível nos transportadores de
hidrogênio reduzido (NADH e FADH) para refosforilar ADP em ATP, mas o NADH e FADH
não reagem diretamente com o O2. Em vez disso, os elétrons removidos H+ transportados
por NADH e FADH passam por uma série de transportadores de elétrons conhecidos
como citocromos, que liberam energia suficiente para refosforilar ADP e formar ATP
(DEVLIN, 2010).
A formação de duas moléculas de NADH pela glicólise estão fora da mitocôndria,
e seus H+ devem ser transportados através da membrana mitocondrial por meio de
mecanismos de “transporte” especiais. Pares de elétrons de NADH e FADH passam
sucessivamente por uma série de compostos que sofrem oxidação e redução, com
liberação de energia suficiente para sintetizar ATP (POWERS; HOWLEY, 2017). O FADH
entra na via do citocromo em um ponto logo abaixo do nível de entrada para NADH e
cada molécula de FADH que entra na CTE tem energia suficiente para formar apenas
1,5 molécula de ATP. Em contrapartida, a cada 2 elétrons que passa pela CTE do NADH
ao oxigênio, existe energia suficiente para produzir 2,5 moléculas de ATP (FOX, 2013). Ao
final da CTE, o O2 aceita os elétrons que passam adiante e se combina com o H+ para
formar água (H2O). Quando não há oxigênio disponível para aceitar esses elétrons, a
fosforilação oxidativa não ocorre, sendo que a formação de ATP somente acontecerá via
metabolismo anaeróbio.

FIQUE ATENTO
Vamos entender melhor a betaoxidação?
As gorduras são armazenadas no organismo na forma de triglicerídeos, nos adipó-
citos ou nas próprias fibras musculares. A liberação de gordura ocorre via degra-
dação dos triglicerídeos, liberando ácidos graxos que serão usados como combus-
tível durante o metabolismo aeróbio, mas primeiramente devem ser convertidos
em acetil-CoA.
30
A betaoxidação é, portanto, o processo de oxidação de ácidos graxos para forma-
ção de acetil-CoA, que ocorre na mitocôndria e envolve uma série de etapas ca-
talisadas por enzimas, começando com a “ativação” do ácido graxo. Logo após, o
ácido graxo ativado é transportado para dentro da mitocôndria, onde o processo
de betaoxidação começa, em uma sequência de quatro reações que quebra os
ácidos graxos formando a acetil-CoA, que se transformará em fonte de combustí-
vel para o ciclo de Krebs e leva à produção de ATP via CTE.

O processo de formação aeróbia de ATP é conhecido como hipótese quimiosmótica.


Conforme os elétrons são transferidos ao longo da cadeia de citocromos, a energia
liberada é utilizada para bombear H+ liberados de NADH e FADH, de dentro para fora da
mitocôndria, através da membrana mitocondrial interna, acarretando acúmulo de íons
H+ no espaço intermembrana (entre as membranas interna e externa da mitocôndria).
Este acúmulo de H+ é uma fonte de energia em potencial, que pode ser utilizada
para recombinar Pi ao ADP e formar ATP (TIIDUS; TIPLING; HOUSTON, 2012). Existem
três bombas que movem H+ da matriz mitocondrial para o espaço intermembrana: a
primeira bomba usa NADH para mover quatro H+; a segunda também transporta quatro
H+; a terceira bomba move apenas dois H+. Assim, a concentração de H+ no espaço
intermembrana acaba se tornando maior do que na matriz mitocondrial, gerando a
necessidade de difusão de H+ de volta para a matriz, pela diferença de gradiente.
Entretanto, a membrana mitocondrial interna é impermeável ao H+, sendo
que esses íons somente conseguem transpor a membrana via canais especializados
(unidades respiratórias). O movimento de H+ através da membrana mitocondrial interna
ativa a enzima ATP sintase, fosforilando ATP a partir da adição de Pi ao ADP.
Mas por que se chama produção aeróbia de ATP se o oxigênio não parece ser
relevante nestas reações? Observa-se que o objetivo da CTE é fazer os elétrons passarem
por uma série de citocromos, o que fornece energia que impulsionará a produção de
ATP na mitocôndria. Esse processo necessita que cada elemento da CTE passe por
diversas reações de oxidação-redução. Caso o último citocromo (a3) não fosse oxidado
pelo oxigênio adquirido do ar que respiramos, permaneceria em reduzido, o que o
tornaria incapaz de aceitar mais elétrons, parando a CTE, ou seja, o oxigênio permite a
continuidade das reações ao atuar como aceptor de elétrons final da cadeia de transporte
de elétrons e a fosforilação oxidativa. Nesta etapa final, o oxigênio aceita dois elétrons de
NADH ou FADH para formar H2O (Figura abaixo).
31

Figura 7: Visão simplificada da formação de ATP em 3 locais na cadeia transportadora de elétrons


Fonte: Kraemer, Fleck e Deschenes (2016, p. 50)

Portanto, de forma resumida, a produção aeróbia de ATP ocorre na mitocôndria,


como resultado de uma interação complexa entre o ciclo de Krebs (função de completar
a oxidação de substratos e formar NADH e FADH para entrar na CTE) e a cadeia
de transporte de elétrons (formação de ATP e água). A água é formada por elétrons
aceptores de oxigênio e, desta maneira, é o motivo pelo qual respiramos oxigênio usado
como aceptor final de elétrons no metabolismo aeróbio. O metabolismo aeróbio de
uma molécula de glicose acarreta a produção de 32 moléculas de ATP, enquanto o
saldo aeróbio de ATP por quebra de glicogênio é 33 ATP. A eficiência geral da respiração
aeróbia é de cerca de 34%, com os 66% de energia restantes sendo liberados como calor.

BUSQUE POR MAIS


Para se aprofundar no metabolismo aeróbio durante o exercício, acesse o capí-
tulo 5 do livro “Fisiologia do Exercício - Para Saúde, Aptidão e Desempenho, 2ª
edição” disponível na Minha Biblioteca Única. Disponível em: https://bit.ly/32W-
qIDK. Acesso em: 26 ago. 2021.

2.4 ABORDAGEM SISTÊMICA DAS VIAS METABÓLICAS

As vias metabólicas, responsáveis pela produção de ATP, são reguladas por sistemas
de controle bioquímicos extremamente precisos. Cada uma dessas vias (anaeróbia alática,
anaeróbia lática e aeróbia) contém reações catalisadas por enzimas específicas as quais,
32
em grande número, provocam o aumento da velocidade das reações bioquímicas. Assim,
a regulação de uma ou mais enzimas de uma determinada via metabólica controla a
taxa/velocidade dessa via em particular, ou seja, o metabolismo é regulado pelo controle
da atividade enzimática, enzimas estas conhecidas como “limitadoras da velocidade”
(POWERS; HOWLEY, 2017).
No controle do metabolismo energético, o ATP é o exemplo clássico de um inibidor,
enquanto ADP e Pi exemplificam substâncias estimuladoras da atividade enzimática
(PRATT; CORNELY, 2011). Grandes quantidades de ATP celular inibem a produção
metabólica de ATP, pois indicam baixo uso de ATP na célula. Entretanto, aumento dos
níveis celulares de ADP e Pi (ATP baixo) indicam utilização elevada de ATP. Portanto,
o ADP e Pi estimulam a produção de ATP para atender às necessidades energéticas
aumentadas (KAVAZIS et al., 2009). Todas as enzimas atuantes nas vias metabólicas são
apresentadas no quadro a seguir:

Quadro 1: Fatores que afetam a atividade de enzimas limitadoras da velocidade das vias metabólicas
Fonte: Powers e Howley (2017, p. 62)

Ao se analisar a prática de exercícios físicos diversos ou os vários tipos de esportes,


percebemos que se diferem amplamente com relação à intensidade e à duração, e por
isso a fonte de produção de energia também se difere em cada modalidade ou prática,
havendo a predominância em porcentagem de cada via metabólica de produção de
energia (anaeróbia versus aeróbia) decorrente destes fatores. Este entendimento sobre
a interação entre produção anaeróbia e produção aeróbia de energia durante o exercício
é extremamente necessária para técnicos, preparadores físicos, instrutores e professores
planejarem e prescreverem exercícios físicos para pessoas e atletas. No Gráfico 2, podemos
visualizar a porcentagens das contribuições da energia anaeróbia e aeróbia para a corrida
de 1.500 metros do atletismo, por exemplo, e entender a interdependência dos sistemas
energéticos. Percebe-se, no início, uma dependência maior das fontes anaeróbias de
ATP e, com a continuidade da corrida, a dependência maior do metabolismo aeróbio se
desenvolve para gerar o ATP necessário.

Gráfico 2: Contribuição de energia anaeróbia e aeróbia em uma corrida de 1500 metros


Fonte: Adaptado de Kraemer, Fleck e Deschenes (2016, p. 70)
33
Embora seja comum as pessoas falarem de exercício aeróbio versus exercício
anaeróbio, na verdade a energia necessária para realização da maior parte dos tipos de
exercício é oriunda de uma combinação destas fontes. É fato que a produção de energia
pelo sistema ATP-PC, glicólise e fosforilação oxidativa ocorre simultaneamente nos
músculos esqueléticos ativos, porém, o que ocorre, por exemplo, em sessões de exercícios
muito rápidas (de 1 a 3 segundos), é que a contribuição da produção de energia por via
aeróbia é extremamente pequena, devido ao tempo necessário para que aconteçam
todas as reações envolvidas no ciclo de Krebs e na CTE. Por isso, a contribuição da produção
anaeróbia de ATP é maior durante as atividades de curta duração e alta intensidade,
enquanto a via aeróbia predomina nas atividades mais longas e de moderada/baixa
intensidade (TORTORA; DERRICKSON, 2017).
Um exemplo é a corrida de 100 metros no atletismo, em que cerca de 90% do ATP
necessário é fornecido anaerobicamente, proveniente do sistema ATP-CP. Já em uma
corrida de 400 metros (em torno de 55 segundos), cerca de 70 a 75% é decorrente da
via anaeróbia lática, pois a glicólise supre a maior parte do ATP. Em modalidades como
maratonas contam com a produção predominantemente aeróbia de ATP para suprir à
quantidade de energia necessária.
Em uma abordagem sistêmica, observe o Gráfico 3 e como as contribuições
das diferentes vias metabólicas acontecem durante os exercícios de curta, média e
perspectiva de longa duração. O que muitos pensam é que uma via metabólica só inicia
suas reações e aumenta sua demanda quando outra via metabólica anterior cessa, o
que não é verdade. Nosso organismo funciona de maneira muito equilibrada e, quando
entende que uma via metabólica começa a decair sua capacidade, outra via posterior
começa a aumentar a velocidade de suas reações, para suprir a demanda de ATP, ou
seja, as vias energéticas atuam de maneira concomitante.

Gráfico 3: Contribuição das diferentes fontes energéticas no decorrer dos exercícios físicos
Fonte: Adaptado de Marzzoco e Torres (2011, p. 322)
34
FIXANDO O CONTEÚDO

1. Em rotinas de prescrição de exercício, o controle das variáveis de treinamento é


fundamental, pois está diretamente relacionado aos objetivos do praticante. Nesse
sentido, para a potencialização das vias energéticas serão imprescindíveis dois fatores.

Assinale alternativa correta:

a) Intensidade e tempo de duração do exercício.


b) Frequência cardíaca até 50% FCmax e descanso.
c) Treinamento resistido e treinamento aeróbio.
d) Treinamento físico em intensidades intensas e pausa ativa.
e) Intensidade e frequência cardíaca.

2. (FAUEL- 2018). A bioenergética refere-se às fontes energéticas para a atividade muscular.


Essas fontes de energia provêm dos nutrientes ingeridos através da alimentação. Assim,
a energia necessita ser convertida em Adenosina Trifosfato (ATP) antes que possa ser
aproveitada pelo organismo na ação muscular. Nesse sentido, assinale a alternativa que
apresenta os três principais sistemas de transferência de energia do organismo humano,
respectivamente:

a) Sistema glicolítico, ATP-CP e sistema oxidativo


b) Sistema aeróbio, sistema anaeróbio e sistema integrativo
c) ATP-CP, sistema lático e sistema alático
d) Sistema glicolítico, sistema integrativo e sistema aeróbio
e) ATP-CP, sistema glicolítico e sistema oxidativo

3. (SEDUC- 2012). As produções anaeróbica e aeróbica de energia são processos


fisiológicos centrais da bioenergética e temas importantes para equacionar corretamente
a atividade física, o esporte e a nutrição com a saúde de seus praticantes. Sobre os
referidos processos, assinale a alternativa correta.

a) O método mais rápido de produção de ATP envolve a doação de um grupo fosfato da


CP para o ADP, formando o ATP, reação conhecida como sistema ATP-CP.
b) Uma via metabólica capaz de produzir ATP rapidamente, com o envolvimento do
Oxigênio, é a Glicólise, que envolve a degradação da glicose ou do glicogênio.
c) A função do Ciclo de Krebs (ou ciclo do ácido pirúvico) é a inclusão do hidrogênio nos
carboidratos, proteínas e gorduras, importante reação para a formação de ATP.
d) O processo da produção anaeróbica de ATP é denominado fosforilação oxidativa, que
possui vários estágios, e se inicia com a criação do acetil-CoA (primeiro estágio).
e) Diversos estudos científicos demonstraram que não há formação de ácido lático
durante o metabolismo anaeróbico da glicose, reação que gera produção de ATP.

4. Associe a segunda coluna de acordo com a primeira:


Primeira coluna Segunda coluna
35
1- Sistema ATP-CP
2- Sistema Anaeróbio

( ) Corridas com estafetas.


( ) Brincadeiras que apresentam intervalos (intermitentes).
( ) Lançamento da bola numa queimada.

Assinale a alternativa com a sequência correta:

a) 2 – 1 – 2.
b) 2 – 2 – 1.
c) 1 – 1 – 2.
d) 1 – 2 – 2.
e) 2 – 1 – 1.

5. (CONPASS- 2018). Examinar o gasto energético apenas durante o exercício físico não
nos fornece o quadro completo sobre o consumo, isto porque o metabolismo permanece
temporariamente elevado após o termino da atividade (MARRA E MARQUES, 2005). Esse
fenômeno é denominado de:

a) consumo excessivo de oxigênio pós-exercícios.


b) hipoglicemia.
c) hipotensão.
d) hiperplasia.
e) sarcopenia.

6. (UPENET- 2014). A partir do exposto abaixo, sobre vias energéticas predominantes e


o tempo (duração) de uma atividade determinação da via energética predominante de
uma atividade física, assinale a alternativa que reflete adequadamente a relação entre
via energética predominante e ação técnica respectivamente proposta.

• Sistema a longo prazo (oxidativo) > 3 min


• Sistema a curto prazo (ATP - CP + ácido lático) 1,5 min
• Sistema imediato (ATP - CP) 10 seg
• Sistema imediato (ATP) 4 seg

a) Salto triplo = sistema aeróbio: alta intensidade e curta duração.


b) Lançamento de dardo = ATP - CP + ácido lático: alta intensidade e longa duração.
c) Saque do vôlei = ATP: alta intensidade e curta duração.
d) Corridas de fundo e meio fundo = ATP: baixa intensidade e longa duração.
e) Maratona = ATP- CP: baixa intensidade e curta duração.

7. (FUNCAB- 2012). Analise as afirmativas abaixo sobre os processos celulares para


obtenção de energia.

I. O principal processo de oxidação dos açúcares é a sequência de reações conhecida


como glicólise; ela ocorre no citosol da célula e depende da presença de oxigênio
36
molecular para produção final de ATP.
II. A formação das moléculas de CO2 ocorre durante ciclo do ácido cítrico, como produto
final da oxidação completa da molécula de acetil-CoA.
III. Os átomos de oxigênio necessários para produzir a molécula de CO2, a partir da
oxidação completa da molécula de acetil-CoA durante o ciclo do ácido cítrico, são obtidos
da quebra do oxigênio molecular.
IV. O oxigênio molecular é o aceptor final dos íons de H+, formando as moléculas de
água durante a fosforização oxidativa.
Estão corretas apenas as afirmativas:

a) I e II
b) II e IV
c) III e IV
d) I e III
e) II e III

8. (INSTITUTO EXCELÊNCIA- 2019). Os mecanismos envolvidos na ressíntese de ATP para


a realização da contração muscular que ocorre exclusivamente dentro das mitocôndrias
na presença de oxigênio é:

a) ATP-CP.
b) Glicólise.
c) Fosforilação oxidativa
d) Fosforilação dioxidativa.
e) Glicogenólise.
37

MECANISMOS
FISIOLÓGICOS
RELACIONADOS À
ATIVIDADE FÍSICA
38
3.1 SISTEMA RESPIRATÓRIO E ATIVIDADE FÍSICA

O processo de movimento e troca do ar dos pulmões com o ar do ambiente


denomina-se ventilação pulmonar. O O2 é transferido do ar alveolar para o sangue dos
capilares alveolares, sendo que, ao mesmo tempo, o CO2 no sangue vai para as câmaras
alveolares para ser expelido para o ambiente (GUYTON; HALL 2006).
No entendimento da mecânica da respiração, durante a inspiração, a cavidade
torácica aumenta de tamanho, pois o diafragma desce quando as costelas sobem,
ocasionando fluxo de ar para os pulmões. Durante a inspiração, além da ação diafragmática,
os músculos intercostais externos, levantador da escápula, esternocleidomastóideos,
escalenos anteriores, serráteis anteriores e eretores da espinha compõem os músculos
que elevam e ampliam o tórax (TORTORA; DERRICKSON, 2017).
Já na expiração, as costelas oscilam para baixo, e o diafragma retorna para a
posição relaxada, reduzindo o volume da cavidade torácica, expelindo, então, o ar. Os
músculos responsáveis pela expiração são o reto do abdome, intercostais internos,
serráteis posteriores e inferiores, os quais deprimem o tórax e reduzem sua dimensão.
A expiração, durante o repouso ou uma atividade física leve, considera-se um processo
passivo do movimento do ar para fora dos pulmões. A expiração cessa quando a força
compressiva da musculatura respiratória termina e a pressão intrapulmonar cai e se
iguala à pressão atmosférica.

FIQUE ATENTO
Respiração pulmonar e respiração celular são a mesma coisa?
Embora estejam inexoravelmente ligados, a respiração celular define processos metabó-
licos que ocorrem no interior da célula e geram energia por meio da utilização de O2 e da
produção de CO2; já a respiração pulmonar define a ventilação pulmonar, com resultan-
tes captação de O2 e eliminação de CO2, a fim de manter a homeostase.

Durante a prática de atividade física, os movimentos altamente eficientes


do diafragma, das costelas e esterno e dos músculos abdominais são totalmente
sincronizados de forma a contribuir para o processo de inspiração e expiração. E você já
percebeu que, com frequência, os atletas inclinam-se para a frente no nível da cintura
quando estão cansados e precisam recuperar o fôlego? Pois é, esta posição do corpo
facilita a respiração após um esforço físico prolongado, pois promove fluxo sanguíneo
de volta ao coração e minimiza os efeitos antagonistas da gravidade sobre o sentido
ascendente habitual dos movimentos inspiratórios. Inclusive, a posição da cabeça
(pescoço em flexão e cabeça estendida anteriormente com a mandíbula paralela ao
chão) e do dorso favorecem a ventilação pulmonar durante atividade física intensa
(MCARDLE; KATCH; KATCH, 2018).
A frequência respiratória normal durante o repouso em um ambiente termoneutro
é, em média, de 12 incursões por minuto, e o volume corrente médio é de 0,5 ℓ de ar por
incursão respiratória, resultando em um volume de ar respirado a cada minuto igual a 6 ℓ,
o que se denomina ventilação minuto. Caso haja o aumento tanto da frequência quanto
da profundidade da respiração, ou ambas, resultará em um aumento da ventilação
minuto. Durante a atividade física extenuante, adultos sadios aumentam sua frequência
39
respiratória cerca de 40 incursões por minuto, em média (GUYTON; HALL, 2006). Atletas
de endurance respiram até 70 vezes por minuto durante esforços máximos, elevando
a ventilação minuto para 100 ℓ ou mais (cerca de 17 a 20 vezes o valor de repouso). Os
padrões respiratórios durante a atividade física normalmente progridem de maneira
efetiva e altamente econômica, mas algumas respostas pulmonares podem afetar
negativamente o equilíbrio fisiológico e/ou o desempenho, como: hiperventilação,
dispneia, manobra de Valsalva.
Chama-se por hiperventilação o aumento da ventilação pulmonar que ultrapassa
as necessidades de consumo de O2 e de eliminação de CO2 do metabolismo. Este
excesso de respiração reduz velozmente a concentração alveolar normal do CO2,
expelindo o excesso desse gás dos líquidos corporais pela expiração, reduzindo também
as concentrações de H+, elevando o pH plasmático. Se persistir por vários segundos,
geralmente causa vertigem ou até inconsciência devido a liberação excessiva de CO2,
caso seja uma hiperventilação prolongada (WARD; WARD; LEACH, 2012; TORTORA;
DERRICKSON, 2017).
Já, segundo os mesmos autores, a dispneia remete-se à falta de ar excessiva ou à
angústia subjetiva ao respirar. A sensação de dificuldade em respirar durante a atividade
física, principalmente em iniciantes, acompanha habitualmente o CO2 e H+ arteriais
elevados, condições as quais excitam o centro respiratório, aumentando a frequência e
a profundidade da respiração. A incapacidade de regular adequadamente o CO2 e H+
arteriais provavelmente está relacionada com baixos níveis de aptidão cardiorrespiratória
e o baixo condicionamento da musculatura ventilatória.
Com relação à manobra de Valsalva, acontece quando se realiza uma expiração
forçada contra a glote fechada (glote é a porção mais estreita da laringe que leva o
ar para a traqueia). Os músculos expiratórios participam nas manobras ventilatórias
para espirra e tossir, além de contribuir para estabilizar as cavidades abdominal e
torácica durante o levantamento de objetos pesados. O fechamento da glote após
uma inspiração completa, com ativação máxima dos músculos expiratórios, produzirá
forças compressivas que elevarão a pressão intratorácica durante expiração máxima
contra esta glote fechada. Esta manobra normalmente acontece em levantamento de
pesos submáximos e máximos, além de outras atividades que necessitam aplicação de
força máxima em um curto período, pois estabiliza as cavidades abdominal e torácica e
aprimora a ação muscular, gerando mais torque de força (HAYHOWSKY et al., 2003).
Fisiologicamente, a manobra de Valsalva prolongada provoca queda brusca na
pressão arterial (PA) durante sua execução, pois a pressão intratorácica é transmitida
através das finas paredes das veias da região torácica e, já que o sangue venoso
permanece sob pressão relativamente baixa, as veias torácicas sofrem colapso, reduzindo
o retorno venoso para o coração. Esta redução diminui acentuadamente o volume de
ejeção sistólica do coração, desencadeando queda na PA até abaixo do nível de repouso.
Sua realização prolongada durante o exercício estático diminui o suprimento de sangue
ao cérebro, geralmente causando vertigens, visões turvas ou desmaios. Quando a glote
é reaberta e a pressão intratorácica é normalizada, o fluxo sanguíneo é restabelecido,
porém com um pico excessivo na PA.
Esta manobra pode acarretar os aumentos significativos da PA durante os exercícios
de resistência pesados, pois elevam acentuadamente a resistência ao fluxo sanguíneo
nos músculos ativos, com uma elevação correspondente na pressão arterial sistólica
(HAYHOWSKY et al., 2003). A resistência vascular periférica aumentada eleva a PA e a
40
carga de trabalho do coração durante todo o tempo em que se exercita, representando
um perigo potencial para os indivíduos com doença cardiovascular (como cardiopatas
e hipertensos), inclusive é o motivo dos cardiologistas contraindicarem exercícios com
cargas excessivas. Em contrapartida, a realização de exercícios contínuos e fluidos,
incluindo o levantamento de pesos moderados, promove apenas elevação fisiológica da
PA e da sobrecarga cardíaca.
Duas moléculas importantes no processo de respiração, transporte, fornecimento
e armazenamento de nutrientes para as células são a hemoglobina e a mioglobina.
Ambas têm uma combinação reversível com o O2, apesar da mioglobina conter apenas
um átomo de ferro, enquanto a hemoglobina contém quatro. Particularmente, a
mioglobina, existente nos músculos esqueléticos e miocárdio, tem afinidade cerca de
240 vezes maior para o O2 do que a hemoglobina circulante na corrente sanguínea,
tornando possível o armazenamento intramuscular de O2 (WARD; WARD; LEACH, 2012).
Já o controle ventilatório decorre de complexos mecanismos neural, humoral e
quimiorreceptores, os quais se ajustam às necessidades metabólicas do corpo. Sinais
inibitórios e excitatórios provenientes de todas as partes do corpo influenciam o ritmo
normal dos neurônios bulbares, como o demonstrado na Figura 8. Durante a atividade
física, os ajustes ventilatórios ocorrem em virtude de alterações mecânicas e/ou químicas
nos músculos ativos e na vasos sanguíneos, para proporcionar um controle periférico de
feedback do cerebelo para o centro respiratório (GUYTON; HALL, 2006).

Figura 8: Esquema dos fatores que afetam o controle bulbar da ventilação pulmonar
Fonte: McArdle, Katch e Katch (2018, p.290), modificado de Moore, Dalley e Agur (2013)

A atividade física afeta o consumo de O2 e a produção de CO2 mais do que qualquer


outro estresse fisiológico. Durante o exercício leve a moderado, a ventilação aumenta
linearmente com o consumo de O2 e com a produção de CO2. Em linhas geral, o consumo
de O2 em repouso é de 300 mL/min, podendo aumentar para cerca de 3.000 mL/min em
uma pessoa com condicionamento físico moderado e até́ 6.000 mL/min em um atleta
de elite. Com relação à eliminação de CO2 ocorre de maneira similar, ou seja, em repouso
são 240 mL/min e em atividade cerca de 3.000 mL/min. A taxa de troca respiratória cresce
refletindo a grande dependência do carboidrato em lugar da gordura para a produção
de ATP necessária, atingindo níveis ainda mais altos durante o estado de desequilíbrio
41
do exercício intenso, já que o ácido lático é produzido pela glicólise anaeróbica, e mais
CO2 é eliminado do bicarbonato, uma vez que a elevada concentração de H+ estimula os
quimiorreceptores periféricos, aumentando a necessidade de ventilação (WEST, 2013).
Durante o exercício, à medida que a taxa de trabalho/força se eleva, aumenta-se o
consumo de O2 de maneira linear. Porém, quando se atinge uma determinada taxa de
trabalho, a VO2 se torna constante (VO2 máx), sendo que o aumento da taxa de trabalho
acima desse nível ocorrerá somente pela glicólise anaeróbica. A ventilação também
se comporta de forma semelhante e linear quando comparada à taxa de trabalho ou
VO2. Entretanto, em valores elevados da VO2, a ventilação se eleva com mais rapidez
em função do ácido láctico liberado, o que incrementa o estimulo ventilatório. Isso tem
sido chamado de limiar anaeróbico ou limiar de ventilação ou limiar de lactato, embora
ainda não haja concordância na literatura sobre o termo correto. Pessoas destreinadas
produzem lactato em níveis de trabalho mais baixos, enquanto pessoas bem treinadas
alcançam níveis elevados de trabalho antes que a glicólise anaeróbica se desenvolva.

3.2 SISTEMA CARDIOVASCULAR E ATIVIDADE FÍSICA


O sistema cardiovascular tem a finalidade de fornecer O e substratos energéticos
para todos os órgãos e tecidos do corpo. Para que isso aconteça, o coração bombeia o
sangue oxigenado vindo dos pulmões pelo sistema arterial para chegar até́ os capilares
teciduais, nos quais ocorrem a transferência de nutrientes e metabólitos. O sangue
retorna para o coração pelo sistema venoso e é bombeado aos pulmões para nova
oxigenação, denominando-se circulação sanguínea.

Figura 9: Esquema da circulação pulmonar e sistêmica


Fonte: Pithon-Curi (2013, p. 104)

Já o ciclo contração-relaxamento do miocárdio (ciclo cardíaco), tem duas fases


distintas, a sístole e a diástole. Na sístole, ocorre a contração dos ventrículos e o sangue é
ejetado para fora do coração, com as válvulas atrioventriculares fechadas e as semilunares,
42
abertas. Durante a diástole, o sangue chega ao coração preenchendo os átrios e parte
dos ventrículos, com as válvulas atrioventriculares abertas e as semilunares fechadas. Já
o débito cardíaco (DC) é o volume de sangue bombeado pelo coração, determinado pela
multiplicação da FC e o volume sistólico (VS), que é o volume de sangue bombeado a
cada contração ventricular. O aumento da FC ou do VS provoca elevação do DC (PITHON-
CURI, 2013).
A PA, medida em mmHg, é a força que o sangue exerce sobre as paredes dos
vasos sanguíneos, resultado do DC e da resistência vascular periférica (RVP). Os valores
de PA são dados pela pressão arterial sistólica (PAS) e pela pressão arterial diastólica
(PAD). Uma PA com valores adequados e normais mantém a PAS em 120 mmHg e a PAD
em 80 mmHg. A medida da PA também ajuda no diagnóstico da hipertensão arterial
sistêmica (HAS), que é uma doença crônico-degenerativa de origem multifatorial e
poligênica. A compreensão dos mecanismos que controlam a PA é de suma importância
para o profissional de Educação Física, uma vez que o exercício físico é indicado tanto na
prevenção como no tratamento da HAS.
O sistema nervoso autônomo simpático (SNS) e parassimpático (SNP), associado
aos pressorreceptores, quimiorreceptores e mecanorreceptores, são importantes na
regulação de curto e longo prazo da PA. Já que o SNS e o SNP têm papel fundamental
no controle da PA, é de grande relevância avaliar a influência da atividade física sobre os
dois sistemas em pessoas normotensas ou hipertensas. A vasodilatação e a bradicardia
induzidas pela acetilcolina são mecanismos importantes no controle da PA. A atividade
física aumenta a atividade parassimpática e o aumento do tônus vagal está envolvido
nos efeitos benéficos em indivíduos hipertensos. Já os barorreceptores (terminações
nervosas que respondem à deformação ou ao estiramento das paredes dos vasos)
são mediadores primários do sistema nervoso autônomo no controle da PA e da FC
(TORTORA; DERRICKSON, 2017).
A estimulação dos barorreceptores aórticos e carotídeos, por exemplo, em
decorrência de um aumento da PA, desencadeia reflexamente uma inibição da
descarga simpática, enquanto uma queda da PA produz o efeito contrário. Um dos
efeitos da atividade física no controle da PA é o aumento do limiar de excitabilidade
dos barorreceptores, promovendo maior inibição dos núcleos hipotalâmicos, reduzindo
a atividade simpática e levando o coração a bradicardia e hipotensão pós-exercício, o
que é um efeito muito benéfico, principalmente para hipertensos. Porém, este público
deve evitar exercício físico estático e manobra de Valsava (vide seção 1 desta unidade),
pois aumenta a PA.
Durante a atividade física, alguns ajustes hemodinâmicos são necessários para
a manutenção da PA em limiares normais. As primeiras alterações na FC ocorrem logo
antes do iniciar o exercício físico (resposta antecipatória), sendo que a elevação da FC em
aproximadamente 70% durante o exercício ocorre em resposta a estímulos pré-exercício,
mesmo o simples fato de se preparar para o início do exercício, em decorrência da redução
do tônus parassimpático. Aumentos adicionais da FC dependem da intensidade da
atividade física, e são induzidos por estimulação simpática progressiva. Outra alteração
importante é o aumento do VS e do DC, pois o VS é fortemente influenciado pelo retorno
venoso, que durante a atividade física dinâmica é aumentado pela ação da atividade
muscular, ritmo respiratório e venoconstrição. A contração muscular comprime as veias e
impulsiona o sangue em direção ao coração. Um terceiro mecanismo que contribui para
43
o aumento do retorno venoso durante as atividades físicas é a constrição das veias que
drenam o músculo em atividade, induzido por uma resposta reflexa simpática, fazendo
a constrição da musculatura lisa das veias, reduzindo sua capacidade de estocar sangue
(KENNEY; WILMORE; COSTILL, 2013).
Durante o exercício, o aumento do DC contribui para o aumento do fluxo
sanguíneo muscular. Entretanto, para atender a maior demanda de O2 e nutrientes para
os músculos em atividade, o organismo reajusta os volumes de sangue para as regiões
em que são mais solicitadas, principalmente durante exercícios de maior intensidade,
denominando-se redistribuição do fluxo sanguíneo. Além disso, ocorre a redução da
RVP proporcional ao aumento do DC, e consequente elevação da PAS.
Outra adaptação do sistema cardiovascular em decorrência ao treinamento físico
regular é a hipertrofia cardíaca, ou seja, um aumento do tamanho das câmaras cardíacas
ou da espessura da parede muscular, especialmente do ventrículo esquerdo, sem perda
de funcionalidade. A hipertrofia cardíaca, diferentemente da hipertrofia patológica,
tem relação com o tipo de treinamento executado, pois exercícios aeróbios tendem a
provocar hipertrofia ventricular relacionada com a sobrecarga volêmica, e o treinamento
resistido provoca hipertrofia cardíaca na musculatura da parede do ventrículo esquerdo
(MCARDLE; KATCH; KATCH, 2018).
Os mecanismos de redução da FC ou bradicardia de repouso em resposta ao
exercício submáximo não estão ainda completamente esclarecidos. Acredita-se numa
interação complexa entre mecanismos neurais, humorais e hemodinâmicos parece estar
envolvida nesse fenômeno. Os mecanismos neurais que provocam redução da FC estão
relacionados com o aumento da atividade parassimpática e/ou redução da atividade
simpática sobre o nodo sinoatrial. Os mecanismos hemodinâmicos envolvem aumento
do VS, menor RVP e redução do retorno venoso, tornando o coração mais eficiente.
Assim, a FC pode ser reduzida visto que a cada batimento o coração “adaptado” ejeta
volume de sangue suficiente para perfusão adequada de órgãos e tecidos, o que explica
a bradicardia em repouso de pessoas treinadas.

FIQUE ATENTO
Acesse o capítulo 5 do livro “Fisiologia Prática” para entender melhor o processo
de regulação da pressão arterial. Disponível em: https://bit.ly/3mRQT5O. Acesso
em: 27 ago. 2021.

3.3 PROCESSO DE CONTRAÇÃO MUSCULAR E ATIVIDADE FÍSICA

Para entender do processo de contração muscular durante um exercício ou alguma


atividade física, primeiro devemos ter uma certa clareza das estruturas que compõem
o sistema musculoesquelético, para depois analisarmos sua fisiologia durante uma
contração muscular. A figura 10 mostra a maioria das estruturas responsáveis direta ou
indiretamente por uma contração muscular.
44

Figura 10: Organização de uma fibra muscular


Fonte: Plowman e Smith (2009, p. 478)

As proteínas contráteis dos miofilamentos (proteínas contráteis) deslizam umas


sobre as outras fazendo com que os músculos se contraiam, o que se denomina teoria
do filamento deslizante (teoria do deslizamento dos filamentos) da contração muscular.
Os filamentos grossos (espessos) são constituídos principalmente por moléculas de
miosina, sendo que cada uma possui uma cauda semelhante a uma haste e duas
cabeças globulares, as quais se estendem para fora e formam pontes cruzadas quando
interagem com os filamentos finos (constituídos principalmente por actina – proteína
contrátil). As cabeças de miosina possuem dois sítios (locais) reativos, permitindo, ao
mesmo tempo, unir-se ao filamento de actina e ao ATP. É somente quando as cabeças
de miosina se unem aos sítios ativos sobre a actina, formando uma ponte cruzada, que
pode ocorrer a contração (TORTORA; DERRICKSON, 2017).
As moléculas de actina contêm também tropomiosina e troponina, proteínas
que regulam a interação entre actina e miosina. A tropomiosina é uma longa proteína
helicoidal formada por dois cordões que se enrolam ao redor do eixo longitudinal do
suporte principal da actina, e atua bloqueando o local ativo sobre a actina, inibindo
a ligação de actina e miosina em condições de repouso. A troponina é um pequeno
complexo de proteínas globulares que controlam a posição da tropomiosina. Quando
o cálcio se fixa na troponina, esta proteína sofre uma mudança de configuração,
removendo a tropomiosina de sua posição bloqueadora, expondo dessa forma os sítios
ativos existentes na actina. Uma vez expostos os sítios ativos, as cabeças de miosina
tornam-se capazes de se fixar na actina, formando as pontes cruzadas. Sendo assim, o
cálcio é o elemento essencial para controlar a contração muscular.
Segundo Tortora e Derrickson (2017), para que haja contração de um músculo, é
preciso que seja gerado um potencial de ação no neurônio motor que inerva as fibras
musculares do músculo em questão, até chegar à junção neuromuscular. Finalmente, o
potencial de ação é conduzido ao longo do sarcolema e para o interior da fibra muscular, a
fim de estimular os miofilamentos a se movimentarem, processo denominado acoplagem
excitação-contração (potencial de ação que inicia o deslizamento dos miofilamentos,
45
resultando em contração). Durante a contração, três fatores são essenciais: a posição dos
miofilamentos, a localização dos Ca+ e o papel do ATP.
Com relação à Teoria do Filamento Deslizante da Contração Muscular, temos
como princípios básicos: a força da contração é gerada pelo processo que faz deslizar
o filamento de actina sobre o filamento de miosina; os comprimentos dos filamentos
grossos e finos não se modificam durante a contração muscular; o comprimento do
sarcômero diminui quando os filamentos de actina deslizam sobre os filamentos de
miosina e tracionam o disco Z na direção do centro do sarcômero.
Quando o Ca+ é liberado pelo retículo sarcoplásmico, une-se a troponina sobre
o filamento fino, induzindo uma mudança de configuração na troponina, removendo
dessa forma a tropomiosina de sua posição bloqueadora no filamento de actina. Assim,
inicia-se o ciclo das pontes cruzadas, onde a geração de tensão dentro dos elementos
contráteis resulta da ligação das cabeças de miosina com os sítios de ligação da actina e
consequente liberação da energia armazenada nas cabeças de miosina. A próxima etapa
envolve a ligação do ATP nas cabeças de miosina e a consequente separação entre as
pontes cruzadas de miosina e a actina.
O relaxamento muscular é a fase final da contração muscular e acontece
porque cessa o impulso nervoso e o Ca+ é bombeado de volta para dentro do retículo
sarcoplásmico através do transporte ativo. Na ausência de Ca+, a tropomiosina retorna
para sua posição bloqueadora na actina e as cabeças de miosina não serão mais capazes
de se fixar na actina.
Entender sobre este processo de contração muscular é essencial na Educação
Física, haja visto que todo movimento no esporte, atividade física ou exercício não ocorre
sem contração muscular, inclusive atividades isométricas, que tem contração muscular
mesmo sem movimentação articular. Outro fator importante para o profissional de
Educação Física, inclusive na sua atuação na intervenção, é conhecer sobre os tipos
de fibras musculares, suas diferenças e propriedades. As classificações podem seguir
a análise das propriedades contráteis ou propriedades metabólicas. Com relação às
propriedades contráteis, as fibras musculares podem ser divididas em fibras de contração
lenta (CL) ou tipo I, e de contração rápida (CR) ou tipo II. Já com relação às propriedades
metabólicas, as fibras musculares podem ser divididas em glicolíticas, oxidativas, ou
uma combinação de ambos (IIA e IIB).
Os atletas que participam em esportes de endurance possuem tipicamente um
percentual maior de fibras de contração lenta e atletas que participam em esportes de
força/potência possuem tipicamente um percentual mais alto de fibras musculares de
contração rápida. Porém, o sucesso atlético não é determinado exclusivamente pelo tipo
de fibras.

VAMOS PENSAR?
É a participação em um determinado esporte que influencia o tipo de fibra, ou o tipo de
fibra que influencia a participação em um esporte?
46
BUSQUE POR MAIS
Para esclarecer o entendimento da estrutura e funcionamento do músculo em
exercício, acesse os capítulos 1, 2 e 3 do link a seguir. Disponível em: https://bit.
ly/3EO7ldy. Acesso em: 27 ago. 2021.
47
FIXANDO O CONTEÚDO

1. O débito cardíaco é um importante parâmetro hemodinâmico que avalia a capacidade


funcional do sistema cardiovascular, que representa a quantidade de sangue bombeada
pelo coração em 1 minuto.

Assim, escolha a alternativa correta que diz respeito a determinação do débito cardíaco.

a) É produto da pressão arterial sistólica e volume sistólico.


b) É produto da frequência cardíaca e volume diastólico final.
c) É produto da frequência cardíaca e volume sistólico.
d) É produto da pressão arterial sistólica e frequência cardíaca.
e) É produto da pressão arterial diastólica e volume diastólico final.

2. A fibra muscular também apresenta uma microestrutura de organização que forma


o sarcômero, permitindo que o músculo realize as contrações musculares mediante a
ligação de proteínas que formam os filamentos fino e grosso. Quais são as proteínas que
são classificadas como proteínas contráteis?

Escolha a alternativa que contenha a informação correta de forma completa.

a) Proteínas contráteis formadas pelos filamentos de actina e miosina.


b) Proteínas contráteis formadas pelos filamentos de tropomiosina e troponina.
c) Proteínas contráteis formadas pelos filamentos de nebulina e titina.
d) Proteínas contráteis formadas pelos filamentos de actina e tropomiosina.
e) Proteínas contráteis formadas pelos filamentos de miosina e troponina.

3. (FCC- 2010). A despolarização da membrana plasmática da terminação do axônio


abre, transitoriamente, os canais dependentes de:

a) Zinco.
b) Sódio.
c) Potássio.
d) Cloreto.
e) Cálcio.

4. Na junção neuromuscular, o estímulo elétrico causa um potencial de placa terminal


e na fibra muscular (unidade motora), gerando uma onda de propagação do estímulo
elétrico, desencadeando na despolarização de estruturas tubulares, permitindo a saída
de cálcio do retículo sarcoplasmático. Assim, o que acontece dentro da célula muscular
para que aconteça a contração muscular mediante o acoplamento entre os filamentos
de actina e miosina que resulta na teoria dos filamentos deslizantes?

Escolha a alternativa que contenha a informação correta de forma completa.


48
a) Acoplamento de íons de sódio nos filamentos de miosina, causando interação actino-
miosina e a quebra de ATP pela ação da enzima ATPase.
b) Liberação de acetilcolina pela fenda sináptica e a identificação de seus receptores de
adrenalina.
c) Acoplamento de íons de cálcio nos filamentos de troponina, causando interação
actino-miosina e quebra de ATP pela ação da enzima ATPase.
d) Acoplamento de íons de potássio nos filamentos de miosina, causando interação
actina-miosina e o consumo de ATP pela ação da enzima ATPase (hidrólise).
e) Lei do tudo ou nada.

5. (ENADE- 2004). Embora o exercício aeróbio seja importante para a prevenção de


doenças cardiovasculares, o treinamento de força também pode contribuir para esta
prevenção
PORQUE
existem estudos que mostram que o exercício de força pode ajudar na redução dos níveis
de pressão arterial em repouso, bem como na redução da gordura corporal.

A esse respeito, pode-se concluir que:

a) as duas afirmações são verdadeiras e a segunda justifica a primeira.


b) as duas afirmações são verdadeiras e a segunda não justifica a primeira.
c) as duas afirmações são falsas.
d) a primeira afirmação é verdadeira e a segunda é falsa.
e) a primeira afirmação é falsa e a segunda é verdadeira.

6. (FCC- 2011). A quantidade máxima de oxigênio que o sistema cardiovascular pode


transportar para o músculo denomina-se:

a) Potência anaeróbio.
b) Capacidade vital.
c) VO2máximo.
d) Resistência muscular localizada.
e) Resistência máxima.

7. (FCC- 2011). Com relação às modificações fisiológicas decorrentes do treinamento


aeróbio, três alterações cardiológicas normais podem ser identificadas. São elas:
frequência cardíaca menor em repouso, consumo máximo de oxigênio maior e ...

a) Débito cardíaco menos elevado.


b) Volume sistólico menos elevado.
c) Débito cardíaco mais elevado.
d) Retorno à frequência cardíaca basal mais lento.
e) Maior elevação da frequência cardíaca em qualquer exercício.

8. O consumo máximo de oxigênio (VO2max) é definido como a maior taxa de captação,


transporte e utilização de oxigênio fornecido por gás atmosférico em situações de
49
esforço máximo e exaustivo. Existem testes diretos e indiretos de obtenção da medida de
VO2max. Desta forma, qual é a finalidade de utilizar o VO2max em avaliações fisiológicas?

Assinale a alternativa correta.

a) A medida do VO2max é importante, pois é um bom indicativo do desempenho aeróbio


para atletas, mas também oferece parâmetros do estado de saúde como um preditor de
mortalidade em indivíduos saudáveis e doentes.
b) O VO2max é importante, pois é um bom indicativo do desempenho aeróbio para
atletas. Porém pouco oferece como parâmetro do estado de saúde e como um preditor
de mortalidade em indivíduos saudáveis e doentes.
c) A medida do VO2max é pouco importante como indicativo do desempenho aeróbio
para atletas. Contudo mostra-se um bom parâmetro do estado de saúde como um
preditor de mortalidade em indivíduos saudáveis e doentes.
d) O VO2max é um pobre indicativo do desempenho aeróbio para atletas e também não
oferece parâmetro para avaliar o estado de saúde como um preditor de mortalidade em
indivíduos saudáveis e doentes.
e) A medida do VO2max é o parâmetro mais importante do desempenho aeróbio para
atletas. Porém nada tem a oferecer como parâmetro do estado de saúde e como um
preditor de mortalidade em indivíduos saudáveis e doentes.
50

ADAPTAÇÕES
METABÓLICAS
AO EXERCÍCIO
51
4.1 ADAPTAÇÕES METABÓLICAS AGUDAS E CRÔNICAS AO EXERCÍCIO

Quando realizamos exercícios físicos, ocorrem inúmeras adaptações com relação


à produção e utilização de energia, conforme visto na unidade 1 e 2. O grau em que as
adaptações ocorrem depende do nível inicial de aptidão do indivíduo e do fator genético.
Os exercícios elevam o potencial para a produção de maiores quantidades de ATP pela
fosforilação oxidativa, mas ainda são produzidos 36 ATP a partir da glicose no músculo
esquelético. Entretanto, a quantidade de ATP e PC armazenada no músculo em repouso
é maior em pessoas treinadas, especialmente quando há hipertrofia muscular. Além
destas, ocorrem alterações agudas e crônicas no sistema endócrino, atividade enzimática,
sistema cardiorrespiratório, sistema neuromuscular e outras que, em uma unidade não
seria possível descrevê-los.
Uma das principais e mais importantes adaptações metabólicas a um programa
de treinamento são as alterações nos hormônios responsáveis pela regulação
do metabolismo, dentre eles os fatores de liberação hipotalâmica e o hormônio
adrenocorticotrópico (ACTH); menor elevação do glucagon e menor supressão da
insulina; menor elevação na norepinefrina e epinefrina; menor elevação do GH; menor
elevação do cortisol (PLOWMAN; SMITH, 2009). As respostas agudas e crônicas do sistema
endócrino serão mais exploradas na seção 2 desta unidade.
Com relação às adaptações no sistema energético (combustível), temos, no
metabolismo do carboidrato, aumentos no número e na concentração dos transportadores
GLUT-4 no músculo esquelético, responsáveis pela velocidade e transporte da glicose
nos músculos. Isso promove uma maior captação de glicose sob a influência da insulina.
Apesar do aumento do GLUT-4, exercícios de endurance reduzem a utilização de glicose
durante o exercício moderado. Tanto o treinamento de endurance quanto de alta
velocidade acarreta um aumento nas reservas musculares e hepáticas de glicogênio. O
maior aporte de glicogênio usado com menor rapidez permite as pessoas participar de
atividades razoavelmente intensas com níveis submáximos por períodos mais longos
antes de fadigar. Em contrapartida, o treinamento de alta velocidade também pode
acelerar a glicogenólise, fornecendo um suprimento rápido de ATP quando necessária
para atividade de potência máxima ou supramáxima.
No metabolismo da gordura, a velocidade de oxidação dos ácidos graxos livres
(AGL) não é determinada pela quantidade armazenada, e sim pela concentração de AGL
na corrente sanguínea e pela capacidade dos tecidos em oxidar a gordura. O treinamento
induz várias adaptações neste metabolismo, como: maior mobilização ou liberação de
AGL pelo tecido adiposo; um nível aumentado de AGL no plasma durante o exercício
submáximo; aumento no armazenamento de gordura adjacente às mitocôndrias dentro
dos músculos; e maior capacidade de utilizar a gordura para qualquer concentração
plasmática em particular.
Já no metabolismo das proteínas, mesmo sendo um substrato energético menos
importante, ocorrem mudanças com treinamento de endurance que realçam seu
papel. Essas adaptações incluem: maior capacidade de utilizar o aminoácido de cadeia
ramificada leucina; e maior capacidade de formar e liberar alanina a partir dos miócitos,
provavelmente para uma remoção acelerada para a gliconeogênese. Nas provas de
ultra-endurance, um maior efeito da gliconeogênese pode ser benéfico na manutenção
dos níveis sanguíneos de glicose (PLOWMAN; SMITH, 2009).
52
Um elemento fundamental para se elevar a produção de ATP é a atividade enzimática,
como visto na unidade 1. Sendo cada fase em cada via metabólica catalisada por uma
enzima específica, a adaptação ao treinamento para influenciar a produção de energia
é extremamente importante, porém, nem todas as enzimas respondem ao mesmo
estímulo do treinamento. Três enzimas essenciais evidenciaram alterações significativas
ao treinamento: glicogênio fosforilase, fosfofrutocinase (PFK) e desidrogenase láctica
(LDH).
A glicogênio fosforilase catalisa o fracionamento do glicogênio armazenado nos
miócitos, para que possa ser utilizado como combustível na glicólise, ação importante
em exercícios quase-máximo, máximo e supramáximo. A PFK é a principal enzima
limitante de velocidade para a glicólise e a LDH catalisa a conversão de piruvato para
lactato, pois o treinamento de endurance tende a produzir efeitos sobre a LDH, como a
redução da atividade global da LDH.
As mudanças nas enzimas mitocondriais do ciclo de Krebs, da CTE e da fosforilação
oxidativa estão acopladas às mudanças nas próprias mitocôndrias e, tanto o tamanho
quanto o número de mitocôndrias aumentam com o treinamento. As mitocôndrias
interfibrilares são afetadas em menor grau que as mitocôndrias sarcolêmicas. A atividade
contrátil parece ser o estímulo para que estas alterações aconteçam, pois apenas os
músculos envolvidos diretamente nos exercícios sofrem essas mudanças (PLOWMAN,
SMITH, 2009).
Outra alteração importante e extremamente essencial que acontece com o
treinamento é a captação máxima de oxigênio (VO2máx), o que pode deixar as atividades
da vida e prática de esportes relativamente mais fácil e melhorar o desempenho de
endurance. A concentração de mioglobina nos músculos também aumenta com
o treinamento de endurance nos músculos envolvidos diretamente na atividade e,
consigo, aumenta-se a velocidade de difusão do O2 através do citoplasma até o interior
das mitocôndrias, tornando o O2 mais rapidamente disponível.
O transporte do lactato é acelerado por uma combinação de maior afinidade do
substrato, maior atividade intrínseca e maior densidade dos transportadores do lactato
MCT1 da membrana mitocondrial e da membrana celular, ao mesmo tempo que o
tamanho, o número e as concentrações enzimáticas das mitocôndrias estão elevados.
Em conjunto, esses mecanismos permitem que os miócitos aumentem a captação
global de lactato pelos músculos e, consequentemente, mais lactato poderá ser oxidado
com maior rapidez durante o exercício. Conjuntamente, o fluxo sanguíneo para o fígado
é acelerado, o que ajuda na remoção global do lactato, resultando menor concentração
de lactato nos músculos e no sangue para uma mesma carga de trabalho após o
treinamento, retardando a fadiga (PLOWMAN; SMITH, 2009).
A capacidade de produção de trabalho mostra aprimoramentos induzidos pelo
exercício, sendo que atletas de potência e velocistas apresentam valores maiores e
melhores adaptações que atletas de resistência ou fundistas. Contudo, aerobicamente,
um indivíduo treinado resiste a qualquer carga de trabalho submáxima específica por
um tempo mais longo que alguém destreinado. Em síntese, uma pessoa treinada possui
um sistema metabólico capaz de proporcionar um desempenho mais vigoroso, para
níveis tanto submáximos quanto máximos.
Inúmeras outras alterações acontecem como resposta tanto aguda como crônica
ao exercício físico, porém são limitadas ao conteúdo deste livro e devem ser exploradas
mais afundo em outras obras.
53
4.2 RESPOSTA ENDÓCRINA AO EXERCÍCIO

Nesta unidade, aprenderemos sobre o papel do sistema endócrino na regulação


de vários processos fisiológicos que acontecem ao nos exercitarmos. Durante a prática
de exercícios, nosso organismo enfrenta demandas extremas que requerem diversos
ajustes fisiológicos, seja na produção de energia, remoção dos subprodutos metabólicos,
ajustes nas funções cardiovascular e respiratória. Muitas destas regulações fisiológicas
necessárias durante o exercício ocorrem por meio do sistema nervoso.
Porém, outro sistema fisiológico afeta também as células, tecidos e órgãos,
monitorando constantemente o organismo, regulando todas as alterações que ocorrem
para garantir que a homeostase não seja dramaticamente quebrada, conhecido como
sistema endócrino. Por ser um sistema muito complexo, nosso foco será a importância
dos hormônios em realizar ajustes e manter a homeostase estável em alguns processos
internos atuantes durante o exercício.
Ao sair do repouso e iniciar um exercício, é necessário que a taxa de metabolismo
aumente, para fornecimento da energia necessária, havendo necessidade da integração
coordenada de diversos sistemas fisiológicos e bioquímicos, com responsabilidade em
grande parte do sistema nervoso, mas o ajuste fino é responsabilidade principalmente
do sistema endócrino, chamados coletivamente de sistema neuroendócrino. O sistema
nervoso funciona mais prontamente (efeitos rápidos), ao passo que o sistema endócrino
funciona de forma mais lenta (efeitos prolongados) (KENNEY; WILMORE; COSTILL, 2013).
O sistema endócrino compõe todos os tecidos ou glândulas que secretam
hormônios. Ao serem secretados por células endócrinas especializadas, os hormônios
são transportados pela corrente sanguínea até as células-alvo específicas, as quais
possuem receptores hormonais específicos, tendo como função controlar e regular as
atividades do órgão, célula ou tecido-alvo. Alguns hormônios podem afetar diversos
tecidos, enquanto outros atuam apenas em células muito específicas no corpo.
As principais glândulas endócrinas que agem durante o exercício são a hipófise
anterior, tireoide, suprarrenais e pâncreas. Como já mencionado, os hormônios têm
um papel importante na regulação de inúmeras variáveis fisiológicas durante a prático
do exercício, dentre os quais os mais importantes são descritos a seguir, conforme
apresentado por Guyton e Hall (2006), e Molina (2021):
Hipófise anterior – O exercício parece ser um forte estimulante do hipotálamo,
por aumentar a velocidade de liberação de todos os hormônios da hipófise anterior. Dos
seis hormônios secretados pela hipófise anterior, as respostas agudas ao exercício fazem
aumentar a produção de quatro destes hormônios (Hormônio de Crescimento – GH;
Tirotropina – TSH; Adrenocorticotropina – ACTH; e Prolactina) e outros dois sofrem pouco
ou nenhuma alteração (Hormônio Folículo-estimulante – FSH; e Hormônio Luteinizante
- LH). Porém, somente os hormônios GH e ACTH mudam seu padrão de atuação em
resposta ao efeito do treinamento físico constante. O GH é um hormônio com ação
anabólica, ou seja, promove crescimento e hipertrofia dos músculos, ao facilitar o
transporte dos aminoácidos para o interior das células, além de estimular a lipólise, por
aumentar a síntese de enzimas envolvidas na glicólise. As concentrações GH são altas
no exercício aeróbio, proporcional com a intensidade e, em geral, permanecem elevadas
por um tempo após o fim do exercício.
Hipófise posterior – secreta os hormônios antidiurético (ADH ou vasopressina) e
54
Ocitocina. Somente o ADH tem respostas ao exercício agudo, assim como tem efeito com
o treinamento físico. Os hormônios secretados por esta glândula auxiliam no controle
da excreção de H2O pelos rins e eleva a PA, ao promover vasoconstrição. O ADH entra
no sangue, desloca-se até os rins e promove retenção de H2O, em um esforço de diluir a
concentração dos eletrólitos de volta à normalidade no plasma, ou seja, o ADH minimiza a
extensão da perda de água e, consequentemente, o risco de grave desidratação durante
períodos de sudorese intensa e exercício extenuante.
Tireoide – Secreta dois hormônios não esteroides importantes, a triiodotironina
(T3) e a tiroxina (T4), que regulam o metabolismo em geral, e o hormônio calcitonina,
que ajuda na regulação do metabolismo do cálcio. T3 e T4 partilham de funções
similares, pois aumentam a taxa metabólica de praticamente todos os tecidos, assim
como aumentam a síntese proteica, o número de mitocôndrias na maioria das células,
a glicólise e gliconeogênese, a rápida absorção celular de glicose, além de melhorar a
mobilização dos lipídios, aumentando a disponibilidade dos ácidos graxos livres (AGL)
para a oxidação. A liberação de TSH pela hipófise anterior aumentada durante o exercício
estimula a liberação de T3 e T4 pela tireoide, os quais aumentam a FC e a contratilidade
do coração.
Paratireoide – esta glândula secreta o paratormônio (PTH) que tem sua
liberação aumentada como resposta aguda ao exercício. Tem como objetivo controlar
a concentração de Ca+ no líquido extracelular por meio de sua influência nos ossos,
intestinos e rins.
Glândulas suprarrenais – são divididas em duas partes, sendo a parte interna
composta pela medula suprarrenal que produz a epinefrina (adrenalina) e a norepinefrina
(noradrenalina), coletivamente chamados de catecolaminas. Esses dois hormônios nos
deixam preparados para a ação imediata, conhecida como ação de “luta ou fuga”. Seus
efeitos combinados resultam no aumento da FC, força de contração tanto do miocárdio
quanto das arteríolas e vênulas, taxa metabólica, glicogenólise e lipólise no fígado e
músculo, aumenta fluxo sanguíneo para os músculos esqueléticos, aumento da liberação
de glicose e AGL para o sangue, elevação da PA e do consumo de O2. A secreção destas
catecolaminas recebe influência de fatores como posição do corpo, estresse psicológico
e intensidade de exercício. Nas cargas de trabalho acima de 50% do VO2máx, há aumento
da secreção de noradrenalina, já a adrenalina não se eleva significativamente até que se
exceda de 60 a 70% do VO2máx na intensidade de exercício. Após atividades de longa
duração e intensidade moderada, os níveis de adrenalina retornam a seus valores de
repouso em poucos minutos, o que pode demorar horas em relação a noradrenalina. Na
parte externa está o córtex suprarrenal, que secretam mais de 30 hormônios esteroides
diferentes, denominados corticosteroides e geralmente classificados em três tipos:
mineralocorticoides, glicocorticoides e gonadocorticoides (hormônios sexuais). Os
mineralocorticoides mantêm o equilíbrio dos eletrólitos nos líquidos extracelulares,
especialmente do sódio (Na+) e do potássio (K+). A aldosterona é o principal destes tipos
de hormônios, responsável por cerca de 95% de toda a atividade dos mineralocorticoides,
promovendo reabsorção renal de Na+ e retendo-o no corpo, forçando a H2O também
a ficar retida e que ocorra a excreção do K+. Assim, tanto a aldosterona como o ADH
resultam em retenção de água. Já os glicocorticoides adaptam facilmente ao exercício
e a outras formas de estresse, além de ajudar a manter concentrações plasmáticas
de glicose razoavelmente consistentes, mesmo durante um longo tempo sem ingerir
alimento. O cortisol (hidrocortisona) é o principal corticosteroide, responsável em torno
55
de 95% por toda atividade glicocorticoide no organismo. Este hormônio estimula a
gliconeogênese (aporte de energia), mobilização dos AGL (ATP disponível), diminui a
utilização da glicose (poupa combustível para o cérebro), estimula a degradação das
proteínas em aminoácidos para reparos teciduais, síntese de enzimas e produção de
ATP, ação anti-inflamatória, e aumenta a vasoconstrição causada pela adrenalina.
Pâncreas – secreta principalmente insulina e glucagon, hormônios com ações
antagônicas de controle da concentração plasmática de glicose. Quando ocorre a
hiperglicemia (concentração elevada), o pâncreas libera insulina no sangue, pois a
insulina facilita o transporte da glicose para o interior das células, especialmente no
tecido muscular, promove a glicogênese e inibir a gliconeogênese, além de facilitar a
síntese de proteínas e gorduras. Para que o glucagon seja secretado, é necessário que a
concentração plasmática de glicose cai abaixo dos níveis de normalidade (hipoglicemia),
pois promove a glicogenólise hepática e o aumento da gliconeogênese. Durante um
exercício com média-longa duração, o organismo busca manter os níveis de glicose
sanguíneo, mas os níveis de insulina tendem a declinar. A capacidade de ligação da
insulina com seus receptores nos miócitos se eleva durante o exercício, aumentando
a sensibilidade à insulina e diminuindo a necessidade de manter os níveis de insulina
sanguíneo elevadas para o transporte da glicose até os miócitos. Em contrapartida, o
glucagon plasmático aumenta gradualmente durante todo o exercício, para manter
os níveis de glicose sanguíneo circulante em decorrência da glicogenólise hepática,
para possíveis demandas metabólicas aumentadas. Pessoas bem treinadas têm
maior capacidade de manter as concentrações plasmáticas de glicose. Há, também a
somatostatina, hormônio que diminui a secreção de insulina e glucagon.
Rins – produzem a renina e a eritropoetina (EPO). A renina ajuda no controle da
PA (pelos níveis de concentração do Na+) e a EPO estimulam a produção de eritrócitos
(glóbulos vermelhos) com a estimulação das células da medula óssea. Os eritrócitos
são importantes no transporte de O2 até os tecidos e remoção do CO2, sendo a EPO
extremamente importante na adaptação ao treinamento e à altitude. Os rins também
podem atuar como órgãos endócrinos, embora não sejam tipicamente considerados.
Determinam a concentração de aldosterona no sangue e, junto com os reguladores
primários (Na+ e K+) contribuem para a regulação do equilíbrio hídrico corporal. Em
resposta a uma queda na PA ou no volume plasmático, o fluxo sanguíneo para os
rins é diminuído. Os rins liberam renina, uma enzima liberada na circulação para
converter o angiotensinogênio em angiotensina I, para depois chegar a sua forma ativa,
angiotensina II. Já nos pulmões, com a ajuda da enzima conversora de angiotensina
(ECA), a angiotensina II estimula a liberação de aldosterona pelo córtex suprarrenal para
a reabsorção de Na+ e H2O nos rins, mecanismo denominado renina-angiotensina-
aldosterona.
Testículos – secretam a testosterona, hormônio responsável pelas características
sexuais masculinas e pela promoção do crescimento muscular. Há pequenos aumentos
na produção deste hormônio como resposta aguda ao exercício.
Ovários – produzem os estrogênios e a progesterona, os quais promovem as
características sexuais femininas, além de aumentar as reservas de gordura e ajudar na
regulação do ciclo menstrual.
Para que haja regulação do metabolismo dos carboidratos durante o exercício,
precisamos lembrar que a glicose é a fonte de energia para os músculos, armazenada em
56
forma de glicogênio, principalmente nos músculos e no fígado. Quatro são hormônios
atuam para aumentar a quantidade de glicose circulante na corrente sanguínea:
glucagon; adrenalina; noradrenalina e cortisol. Durante o repouso, a liberação de glicose
pelo fígado é facilitada pelo glucagon, o qual degrada o glicogênio hepático para
formação de glicose a partir de aminoácidos, sendo que durante o exercício, aumenta-
se a secreção de glucagon.
O exercício também acelera a liberação de epinefrina e norepinefrina pela medula
suprarrenal, os quais somatizam com a ação do glucagon para se elevar ainda mais a
taxa de degradação do glicogênio. Já o cortisol tende a aumentar sua concentração
após alguns minutos de exercício, aumentando o catabolismo das proteínas para
liberar aminoácidos para a gliconeogênese no fígado. Sendo assim, todos estes quatro
hormônios podem aumentar a glicose plasmática ao promoverem os processos de
glicogenólise e/ou gliconeogênese.
O GH também atua no processo de aumento da glicose circulante, pois aumenta
a mobilização de AGL e diminuição da absorção de glicose pelas células. Já T3 e T4
promovem o catabolismo da glicose e a metabolização das gorduras. A quantidade de
glicose liberada pelo fígado depende da duração e da intensidade do exercício, pois o
aumento da intensidade leva a uma maior liberação das catecolaminas, fazendo com
que o fígado libere mais glicose do que os músculos ativos podem absorver, já que o
músculo tem seu próprio estoque de glicose armazenado na forma de glicogênio.
Por isso é que, durante ou logo após uma corrida de velocidade e curta duração, as
concentrações sanguíneas de glicose podem estar até 50% acima do nível em repouso.
Entretanto, em exercícios que se prolongam por horas, a velocidade de liberação hepática
de glicose fica em convergência com as necessidades musculares. Neste caso, os níveis
de glucagon aumentam significativamente, e, juntamente com o cortisol, melhoram a
gliconeogênese, proporcionando mais combustível (KENNEY, WILMORE, COSTILL, 2013).
No entanto, a liberação de níveis suficientes de glicose no sangue não garante a
sua utilização como fonte energética pelos miócitos, já que o transporte da glicose para o
interior das fibras e membranas celulares é controlado pela insulina. O que surpreende é
a contradição entre a concentração plasmática de insulina e a necessidade dos músculos
quanto à glicose, já que os níveis de insulina tendem a diminuir durante o exercício
submáximo prolongado, mesmo com o ligeiro aumento na concentração plasmática de
glicose e absorção pelos músculos.
Assim, é importante lembrar que a atividade de um hormônio é determinada
também pela sensibilidade celular a este hormônio, e não só pela sua concentração na
corrente sanguínea. É desta forma que dizemos que o exercício melhora a sensibilidade
insulínica, ao melhorar a ligação da insulina aos receptores existentes na fibra muscular,
implicando menor necessidade de níveis elevados de insulina plasmática para o
transporte da glicose através da membrana para o interior da célula. Entenda que, durante
o exercício, quatro hormônios buscam formar e/ou liberar glicose, e concentrações
elevadas de insulina se oporiam à sua ação, o que impediria o aumento necessário ao
suprimento de glicose plasmática para os músculos (MOLINA, 2021).
57

VAMOS PENSAR?
As concentrações plasmáticas de glicose são aumentadas pelas ações do glucagon, da
adrenalina, da noradrenalina e do cortisol. Isso é importante durante o exercício, parti-
cularmente o de longa duração ou de alta intensidade; de outra forma, poderia ocorrer
declínio nas concentrações sanguíneas de glicose durante esse tipo de exercício.

Já com relação à regulação do metabolismo das gorduras durante o exercício,


contribuem menos que o carboidrato para as necessidades energéticas, sendo essenciais
principalmente para exercícios de resistência. Durante exercícios prolongados, são
depletadas as reservas de carboidrato e o corpo precisa depender intensamente da
lipólise para de ATP, como visto na unidade 2. A velocidade desta lipólise é controlada por
cinco hormônios, pelo menos: insulina (diminuída); adrenalina; noradrenalina; cortisol;
GH. A queda dos níveis circulantes de insulina é o principal fator responsável pela lipólise
durante exercício, assim como há aumento da lipólise, também, com elevação dos níveis
de adrenalina e noradrenalina.
O cortisol, além de atuar na gliconeogênese, também acelera a lipólise para
obtenção de energia durante o exercício, atingindo seu pico depois de 30 a 45 minutos de
prática, declinando logo em seguida. Mesmo assim, a concentração plasmática de AGL
continua a aumentar ao decorrer da atividade, demonstrando que a lipase continuou
ativada por outros hormônios, como as catecolaminas e o GH.

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Uma visão geral das principais glândulas endócrinas e seus hormônios foi
apresentada neste livro, porém, por não ser possível cobrir todos os aspectos do
sistema regulatório endócrino durante o exercício. Para aprimorar seus conhe-
cimentos sobre o assunto, deve-se incluir a leitura de artigos e capítulos de livro,
como o sugerido capítulo 3 do livro “Fisiologia Humana”. Disponível em: https://
bit.ly/3Pz0LNc. Acesso em: 02 abr. 2021.

Outra função importante da regulação hormonal durante o exercício é o equilíbrio


hidroeletrolítico que é fundamental para um funcionamento metabólico, cardiovascular
e termorregulador satisfatório. As glândulas endócrinas envolvidas na homeostase de
líquidos e eletrólitos são a hipófise posterior e o córtex suprarrenal. Os rins, além de
também servirem como glândulas por si só, são o alvo primário dos hormônios liberados
por essas glândulas. Além de estimular a liberação de aldosterona pelo córtex suprarrenal,
a angiotensina II também causa a vasoconstrição. Importante citar que, pelo fato de
catalisar a conversão de angiotensina I em angiotensina II, inibidores da ECA podem ser
algumas vezes prescritos para indivíduos hipertensos, já que a vasodilatação reduz a PA.
Lembre-se de que a principal ação da aldosterona é promover a reabsorção do Na+
nos rins, fazendo com que a água também se retenha. As influências hormonais do ADH
e da aldosterona persistem por 12 a 48 horas após o exercício, reduzindo a produção de
urina e protegendo o organismo contra uma maior desidratação. A maioria dos atletas
58
que praticam treinamentos intensos exibem aumento do volume plasmático, diluindo
os vários constituintes do sangue, fenômeno conhecido como hemodiluição (KENNEY,
WILMORE, COSTILL, 2013).

4.3 OBESIDADE, FATORES DE RISCO E DOENÇAS RELACIONADAS

A quantidade total de energia consumida diariamente pode ser dada como


a somatória de três componentes: taxa metabólica em repouso (TMR), efeito térmico
de uma refeição (ETR) e efeito térmico da atividade (ETA). A TMR é tida como a taxa
metabólica do nosso organismo no início da manhã, após um jejum noturno e cerca de
8h de sono, representando a quantidade mínima de gasto energético necessária para
a manutenção dos processos fisiológicos básicos, ou seja, cerca de 60 a 75% da energia
total que nós consumimos diariamente.
O ETR representa o aumento na taxa metabólica associado à digestão, absorção,
transporte, metabolismo e armazenamento dos alimentos ingeridos, responsável
por aproximadamente 10% de nosso gasto energético diário total. Por fim, o ETA é
simplesmente a energia despendida além da TMR, na realização de uma determinada
tarefa ou atividade, responsável de 15 a 30% do gasto energético diário total.

VAMOS PENSAR?
Utilizamos, no dia a dia do professional de educação física, a expressão “taxa metabólica
basal” (TMB), o que muitas vezes é confundida e usada erroneamente para designar a
TMR. Porém, é necessário que a pessoa jejue de 12 a 18 horas e durma no hospital para que
seja determinada a TMB.

O sobrepeso e a obesidade estão associados a um aumento da taxa de mortalidade


geral ligada com diversas doenças crônicas (CDC, 2011). Dentre as principais temos:
doença coronariana, hipertensão arterial, acidente vascular encefálico (AVE), diabetes
tipo 2, alguns tipos de câncer (endométrio, mama e cólon), doença da vesícula biliar,
esteatose hepática, síndrome metabólica, osteoartrite, apneia do sono e problemas
respiratórios (KENNEY, WILMORE E COSTILL, 2013).
Problemas respiratórios são bastante comuns entre os obesos, inclusive apneia do
sono, o que pode levar a letargia (preguiça, lentidão), por causa dos níveis elevados de
CO2 no sangue e policitemia (aumento da produção dos eritrócitos) em resposta à menor
oxigenação do sangue arterial. Isto pode acarretar uma coagulação anormal do sangue
(trombose), dilatação do coração e insuficiência cardíaca congestiva. Indivíduos obesos
geralmente tem tolerância reduzida ao exercício devido aos problemas respiratórios,
além da maior massa corporal que deve ser movimentada durante um movimento ou
exercício.
A obesidade também eleva o risco de ocorrência de certas doenças crônico-
degenerativas, como a hipertensão e a aterosclerose, além de vários distúrbios
metabólicos e endócrinos, como comprometimento do metabolismo dos carboidratos
e diabetes melito tipo 2. A forma como se acumula a gordura e local também interferem
como fator de risco para muitas doenças, principalmente doenças cardiovasculares, as
59
quais são as que mais matam no mundo.
Homens tendem a armazenar gordura no tronco, mais especificamente na região
abdominal (androide - formato de maçã), enquanto as mulheres tendem a acumular
mais na parte dos quadris, nádegas e coxas (genoide - formato de pera). Já se sabe que
a gordura, especialmente a gordura visceral, é o fator de risco mais importante para
muitas destas doenças e mortalidade.
A inatividade é a principal causa de obesidade em muitos países. Sendo assim,
a prática de exercícios e atividades físicas é componente essencial para qualquer
programa de redução ou controle do peso. No entanto, a consideração do consumo
energético somente durante o exercício não mostra uma visão geral do problema, já
que o metabolismo permanecerá temporariamente elevado, mesmo após o término
do exercício, o que conhecemos atualmente como consumo elevado de oxigênio pós-
exercício ou simplesmente EPOC (elevated post-exercise oxygen consumption).
O retorno da taxa metabólica ao seu nível basal anterior ao início da prática do
exercício poderá necessitar de alguns minutos (após andar, por exemplo), algumas
horas (após treinamento exaustivo como o HIIT – high intensity interval training, ou seja,
treinamento intervalado de alta intensidade), ou até dias (após exercício exaustivo e
prolongado – correr uma maratona no calor e com umidade alta).
Ao levar em consideração o período total necessário para recuperação, em
decorrência do EPOC pode-se implicar na necessidade aumentada de gasto energético.
Como exemplo, imaginemos que o EPOC permaneça elevado em apenas 0,05 L/min
em média, o que representaria cerca de 15 kcal/h por cinco horas, e isso adicionaria um
gasto de 75 kcal, gasto este ignorado na maioria dos cálculos dos custos energéticos das
atividades. Se o mesmo indivíduo se exercitar cinco dias na semana, consumiria 375 kcal
(cerca de 0,05 kg de gordura) em uma semana, apenas com o gasto calórico adicional
durante o período de recuperação.
Assim, evidências revelam que o exercício constante é parte importante de
qualquer programa de perda de peso, mas a combinação com a redução/controle da
ingestão calórica é essencial para que sejam maximizados os resultados. Com isso, uma
boa notícia surge no horizonte para os que parecem destinados a permanecer obesos ou
com sobrepeso: uma vida ativa, com níveis de moderados a elevados de condicionamento
físico podem reduzir drasticamente a mortalidade por doenças crônico-degenerativas,
como a doença arterial coronariana e o diabetes.

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Para se aprofundar na temática obesidade e exercício, convido a acessar a
seção 6 do livro “Fisiologia do Exercício - nutrição, energia e desempenho hu-
mano” 8ª ed. em Minha Biblioteca Única. Disponível em: https://bit.ly/3HvqEKq.
Acesso em: 29 ago. 2021.
60
FIXANDO O CONTEÚDO

1. (INSTITUTO PRÓ-MUNICÍPIO, 2018). A homeostase é uma condição no qual o meio


interno do corpo permanece estável, dentro de certos limites. Desta forma, a homeostase
é regulada pelo _______ e pelas _______.

a) Sistema linfático, artérias.


b) Sistema muscular, conexões fibrosas.
c) Sistema nervoso, glândulas endócrinas.
d) Sistema circulatório, câmaras do coração.
e) Sistema musculoesquelético, veias.

2. Uma das principais adaptações fisiológicas e celulares relacionadas a um longo período


de treinamento aeróbio (endurance) é o tamanho e número de mitocôndrias na célula,
aumentando a capacidade de consumo de oxigênio para produção de ATP. Assim, há
sinais fisiológicos que estimularão a célula a gerar biogênese mitocondrial.

Assim, qual alternativa contempla os sinais que podem induzir uma biogênese
mitocondrial com a prática regular do treinamento aeróbio.

a) Processos de destruição celular (autofagia, apoptose ou necrose) aumentando assim


os sinais inflamatórios excessivos e persistentes.
b) Aumento na quantidade de núcleo da célula.
c) Aumento dos íons Ca+ intramuscular e participação das espécies reativas de O2.
d) Aumento no volume de sangue ofertado em repouso.
e) Maior liberação de agentes anti-inflamatórios intracelular.

3. Os hormônios são substâncias endócrinas e podem afetar células distintas que se


ligam aos seus receptores, sendo classificados de três diferentes tipos.

Assinale a alternativa correta sobre a classificação dos tipos de hormônios.

a) Proteolíticos, esteroides e derivados do carboidrato tirosina ou grupo aminas.


b) Peptídeos, esteroides e derivados do aminoácido tirosina ou grupo aminas.
c) Peptídeos, esteroides e derivados do carboidrato tirosina ou grupo ácido graxo.
d) Proteicos, estiloides e derivados do aminoácido tirosina ou grupo aminas.
e) Proteolíticos, esteroides e derivados do aminoácido tirosina ou grupo ácido graxo.

4. O hormônio do crescimento (GH), ou somatotrofina, é sintetizado na hipófise


anterior, em repouso pela influência da secreção de hormônio liberador do hormônio do
crescimento (GHRH) pelo hipotálamo, promovendo a função anabólica no organismo.
Porém, a secreção do GH pode ser controlada e inibida com a liberação de somatostatina.
Assim, analise as seguintes assertivas.
61
I) Promover o crescimento linear estimulando as cartilagens das epífises ósseas nos
ossos longos, promover a liberação de proteínas nos tecidos.
II) Promover o aumento da massa muscular.
III) Desencadear fatores de crescimento semelhantes à insulina, liberados pelo fígado.

Assinale a alternativa correta ao analisar as assertivas.

a) As assertivas I, II e III estão corretas.


b) Somente a assertiva I está correta.
c) Somente a assertiva II está correta.
d) Somente a assertiva III está correta.
e) Somente as assertivas I e II estão corretas.

5. A relação dose-resposta de um exercício físico pode ser observada em termos de curto


(efeitos agudos) e longo prazo (efeitos crônicos). Isso porque as respostas ou ajustes
fisiológicos decorrentes da prática são, geralmente, dependentes do tempo de prática
de um determinado programa de exercícios.

Nesse sentido, como podemos definir “respostas crônicas” do exercício físico?

a) Treinamento no qual a frequência cardíaca não ultrapassa o limiar de lactato.


b) Respostas fisiológicas após um programa contínuo, que apresente uma frequência
de treinamento.
c) Respostas de uma única sessão de treinamento.
d) Respostas de um treinamento periodizado de 24 horas.
e) Respostas em que são ativadas as vias metabólicas.

6. (AMEOSC- 2019). Os hormônios são substâncias químicas específicas fabricadas pelo


nosso sistema endócrino, com grande importância para o funcionamento adequado
do nosso organismo. O exercício físico provoca respostas hormonais com influência
fisiológica e psicológica. Das alternativas abaixo qual hormônio não tem relação direta
com exercícios:

a) Endorfina.
b) Glucagon.
c) Insulina.
d) Tireoide.
e) GH.

7. (INSTITUTO EXCELÊNCIA, 2019). As adaptações metabólicas ao treinamento, os


exercícios de força e a hipertrofia, dentre outros com características anaeróbicas
aumentam:

a) A atividade enzimática glicolítica e os estoques de ATP- PCr intramuscular.


b) A densidade capilar e mitocondrial.
c) A quantidade de mioglobina muscular.
d) A quantidade de enzimas do ciclo de Krebs e cadeia transportadora de elétrons.
62
e) O número de vasos sanguíneos nos músculos.

8. (FUNDEP - 2017). O sistema endócrino integra e regula as funções corporais,


proporcionando estabilidade ao organismo em estados de repouso e de exercício. A
integração dos sistemas nervoso e hormonal auxilia para que o controle neural regule o
controle hormonal em respostas aos estímulos externos e internos, fazendo com que os
hormônios atuem nos órgãos-alvo e em seus respectivos receptores.

Então, o hormônio:

a) insulina estimula o crescimento tecidual e mobiliza os ácidos graxos para obtenção


de energia.
b) adrenalina facilita a atividade simpática, eleva o débito cardíaco, regula os vasos
sanguíneos e aumenta o catabolismo do glicogênio e a liberação de ácidos graxos.
c) GH controla o aumento do volume muscular, provoca aumento do número de
hemácias, reduz a gordura corporal e acentua as características sexuais masculinas.
d) testosterona promove o transporte dos carboidratos, aminoácidos e ácidos graxos
para dentro das células, aumenta o catabolismo dos carboidratos e reduz a glicose
sanguínea.
e) tirosina controla a temperatura corporal, assim como regula a ação da insulina.
63

EXERCÍCIOS E
APLICAÇÕES
ESPECÍFICAS
64
5.1 ADAPTAÇÕES DA CRIANÇA AO EXERCÍCIO

A compreensão do processo de crescimento e desenvolvimento infantil é essencial,


já que os determinantes da fisiologia do exercício e desempenho surgem em conjunto
com o crescimento somático, sendo que a própria atividade física pode influenciar
não somente o processo de crescimento, como muitas outras variáveis fisiológicas no
organismo da criança.
Uma questão de grande preocupação dos pais, treinadores e professores de
educação física é com relação a prática de atividade física e sua possível interferência
negativa no crescimento da criança. Alguns estudos já sugeriram que o treinamento
intenso poderia retardar o crescimento, porém outros aceitam que o aumento da atividade
física e o estresse musculoesquelético são importantes para promover o crescimento
nas crianças, inclusive com benefícios específicos em longo prazo para a saúde, ou seja,
uma possível estimulação do crescimento e densidade óssea pode amenizar o risco de
uma futura osteoporose (ROWLAND, 2008; KLENTROU, 2016).
A prática de atividade física poderia influenciar o crescimento das crianças
por meio de três possíveis mecanismos: a atividade física atuando sobre os estoques
calóricos compete com a demanda energética do crescimento normal pelos nutrientes
disponíveis; o exercício serve como estímulo potencial para a produção de fatores de
crescimento; e a atividade muscular gera estresse mecânico local, ativando o crescimento
musculoesquelético. A revisão de Klentrou (2016) mostra o que se sabe e o que ainda
não está esclarecido em termos de crescimento, desenvolvimento e adaptação óssea
relacionados à atividade física na infância. A carga mecânica e exercícios de alto impacto
promovem a resistência óssea, como já se sabe na literatura, entretanto, o treinamento
intenso antes da puberdade pode afetar negativamente o desenvolvimento ósseo.
O final da infância é uma fase propícia para desenvolvimento ósseo, inclusive com
exercícios de alto impacto para benefícios na estrutura e mineralização óssea (GUNTER;
ALMSTEDT; JANZ, 2012). Não apenas o momento da atividade é importante para manter/
melhorar a massa óssea, mas também o tipo de exercício, pois os ossos parecem ter uma
resposta adaptativa a certos estímulos de carga, tornando o osso mais receptivo a novos
níveis de demanda mecânica.
Já Fazeli et al. (2013) mostra evidências de que atividade física excessiva ou
supertreinamento podem estar ligados a problemas ósseos em atletas jovens de alto
rendimento, principalmente mulheres. Em contrapartida, um estudo mostrou que
exercícios de salto associados à suplementação de cálcio durante os períodos pré-
púberes são considerados eficazes na estimulação do crescimento ósseo e no aumento
do conteúdo mineral ósseo, mas as meninas devem ser iniciadas durante o período pré-
menarca para maximizar efetivamente o pico de massa óssea (IWAMOTO, 2011).
O desenvolvimento da resistência óssea em crianças ocorre por meio da aplicação
de adequadas cargas mecânicas sobre o osso, por exemplo, contrações musculares. As
contrações musculares e as forças de reação do solo fornecem carga mecânica suficiente
para influenciar o desenvolvimento ósseo quando diverge do ponto de ajuste fisiológico
(SCOTT; KHAN; DURONIO, 2008).
No entanto, o limite no qual a atividade física benéfica progride para o exercício
excessivo e seu impacto no nível ideal o desenvolvimento ósseo ainda é mal compreendido.
Assim, o efeito das modificações induzidas pelo exercício na estrutura óssea pode ser
65
benéfico ou prejudicial, dependendo do tipo de exercício, intensidade, duração, idade /
maturidade, sexo e ingestão alimentar (KLENTROU, 2016).
A utilização do treinamento resistido (TR) para crianças merece atenção no que
diz respeito a aplicação de cargas absolutas e relativas sobre o crescimento ósseo,
procurando se evitar cargas de treinamento próximas a capacidade contrátil máxima
(cerca de 1 repetição máxima – RM), pois podem acelerar o fechamento das epífises
ósseas, influenciando negativamente no crescimento físico.
Contudo, a prática e orientação do TR para crianças deve ser apropriado para
cada faixa etária e obedecendo a escolha de exercícios adequados e dando atenção aos
fatores maturacionais. A periodização deve ser gradual e progressiva e sempre orientada
e acompanhada de supervisão profissional para promover os benefícios esperados
(BEHM et al., 2008).
A prática de TR é efetivo no aprimoramento da força em indivíduos de idade pré-
púbere porém, estudos em crianças raramente detectam evidências de hipertrofia
muscular, provavelmente pela ausência do efeito da testosterona em crianças. Ao
contrário, o aprimoramento da força com exercícios resistidos em crianças parece ocorrer,
supostamente, por modificações de origem neural. Acredita-se que essas adaptações
neurais ao TR sejam as mesmas responsáveis pelos ganhos de força em adultos, nas
primeiras fases dos programas de treinamento (KLENTROU, 2016).
Na literatura, é consenso o nível diminuído da treinabilidade fisiológica aeróbia
em crianças. Com um período de TR, os aumentos no VO2máx observados nos estudos
pediátricos são, geralmente, no máximo um terço daqueles esperados nos adultos.
Algumas explicações têm sido propostas, mas parece mais provável que um mecanismo
biológico seja responsável pelo aprimoramento no VO2máx com o TR, como aumentos
do volume plasmático e da capacidade aeróbia celular, duas das prováveis explicações
para diferenças relativas à maturidade (ROWLAND, 2008).
Considerando que o crescimento e maturação óssea estão sob o controle de
diversos hormônios e esteroides sexuais, o IGF-I pode ser considerado o principal
determinante do desenvolvimento cortical ósseo (WU et al., 2011). Breen et al. (2011)
demonstrou prospectivamente uma forte influência de IGF-I no aumento da massa
óssea dos adolescentes. Embora resultados ósseos não foram relatados no estudo por
Dalskov et al. (2015), associações positivas significativas entre IGF-I e índice de massa
livre de gordura foram observados em meninas de 8-11 anos.
Os benefícios musculoesqueléticos da atividade física e da participação em
práticas esportivas são numerosos, e como sugerido por Warden et al. (2014) persistem
na idade adulta. A participação ao longo da vida em atividades com carga e de maior
impacto está associada a uma maior resistência óssea. Detter et al. (2014) mostraram
que uma intervenção de exercício escolar de 6 anos teve um benefício substancial para
a área óssea total da tíbia diafisária (38% local), sem aumentar risco de fratura. Atividades
físicas realizada durante a infância também pode beneficiar adiposidade muscular
(FARR et al., 2012).
Componentes específicos da dieta também foram propostos para desenvolvimento
muscular e ósseo, particularmente no contexto das interações nutriente-exercício (DALY;
DUCKHAM; GIANOUDIS, 2014; LEWIS; LAING, 2015). Estudos tem buscado entender a
relação de pelo menos três fatores relacionados à ingestão e seus efeitos na fisiologia
musculoesquelética associados aos exercícios: cálcio, vitamina D e proteínas.
As principais respostas fisiológicas ao exercício em crianças são muito semelhantes
66
em adultos, porém existem algumas particularidades, como:
• Existe um aumento do VO2máx, em termos absolutos ao longo da idade, intimamente
ligado ao aumento da força, ou seja, o VO2máx/kg de peso corporal permanece
constante com a idade para os meninos, mas há um declínio progressivo em meninas.
• No treinamento aeróbico, não se deve utilizar o VO2máx como um parâmetro para
avaliar a performance de crianças, já que representa apenas 1/3 dos valores esperados
em adultos.
• Não existe diferença da potência anaeróbica entre meninos e meninas antes da
puberdade, porém aumenta proporcionalmente nos meninos após a puberdade
decorrente das diferenças hormonais (principalmente testosterona).
• Crianças apresentam uma menor produção de ácido lático, tendo sua recuperação
mais rápida que adultos, após um exercício.
• Crianças durante o exercício físico apresentam menos sede durante o exercício devido
às características diferenciadas de termorregulação, portanto estão mais propensas à
desidratação, diferentemente de adultos.
A intensidade dos exercícios deve estar entre 60 a 90% da FCmáx para que realmente
ocorra um aumento da performance nas crianças, podendo também utilizado o MET
(equivalente metabólico) para quantificar a intensidade do exercício, ou seja, a quantidade
de oxigênio consumida proporcional ao gasto energético utilizado durante a prática
desta atividade física (OMS, 2018). O que nunca devemos esquecer, como profissionais
de educação física, é que, para crianças, devemos priorizar atividades recreacionais e
lúdicas, despertando nas crianças um grande interesse, prazer e motivação.

5.2 ADAPTAÇÕES DO IDOSO AO EXERCÍCIO

O processo completo de envelhecimento tem início no momento da concepção


da vida, ainda no útero da mãe e continua por toda a vida, até a morte. O envelhecimento
promove, dentre outras centenas de alterações no organismo humano, declínio da
capacidade funcional e a atividade física, apesar de não ser necessariamente uma “fonte
da juventude”, promove retardo deste declínio e muitos outros benefícios (MCARDLE;
KATCH; KATCH, 2018).
Da mesma forma, observa-se que as perdas funcionais que acompanham o processo
de envelhecimento podem ser atribuídas a três fatores associados: envelhecimento
propriamente dito; doenças; fenômeno do desuso. Justamente as perdas decorrentes
da inatividade, e doenças a ela associadas, podem ser diminuídas ou eliminadas pela
adoção de hábitos mais ativos, afinal, as evidências são claras de que ter uma vida física
e mentalmente ativa pode retardar o processo de envelhecimento e dar mais qualidade
de vida a todas as pessoas (NAHAS, 2017).
Taylor e Johnson (2015), descrevem algumas alterações fisiológicas e bioquímicas
comuns no processo de envelhecimento, as quais estão descritas a seguir: diminuição
----------------------------------
----------------------------------
da função renal; aparecimento de artrite; aparecimento de osteoporose; diminuição do
----------------------------------
índice cardíaco; diminuição da velocidade de condução nervosa; diminuição da acuidade
----------------------------------
----------------------------------
dos sentidos; diminuição da imunidade. ----------------------------------
Demonstram, também, alterações a nível neuromuscular: diminuição----------------------------------
da massa
---------------
muscular, força e contratilidade (sarcopenia); encurtamento das fibras musculares;
alterações enzimáticas; diminuição do número de fibras de contração rápida; atrofia
muscular; declínio do condicionamento físico; aumento do tempo de reação; aumento
67
do tempo de movimento; diminuição da atividade da ATPase; diminuição do número de
neurônios motores; diminuição do limiar de excitação muscular; aumento da tensão de
distensão; novos ramos nervosos axonais; diminuição da condução nervosa. No sistema
cardiorrespiratório, temos: diminuição da captação do O2; diminuição da frequência
cardíaca máxima; intensificação da doença cardiovascular; aumento da incidência de
hipertensão.

FIQUE ATENTO
No livro intitulado “Fisiologia do exercício na terceira idade” de Albert W. Taylor e Michel J.
Johnson, de 2015, cita-se dois tipos de envelhecimento: o eugérico e o patogérico.
• Eugérico: envelhecimento verdadeiro; alterações relacionadas à idade, que acontecem
em qualquer indivíduo e inevitavelmente.
• Patogérico: envelhecimento patológico, que não é uma parte predestinada do enve-
lhecimento.

O TR é uma excelente forma de combater os efeitos sobre a função muscular


e óssea que debilitam os idosos. Uma prescrição de exercícios adequada pode
ocasionar alterações positivas e consideráveis tanto na força como na saúde óssea e,
consequentemente, na qualidade de vida dos idosos. A atividade física com carga, em
especial, está associada a uma estrutura óssea mais forte e ao risco reduzido de fraturas
de quadril em idosos. A prevenção da osteoporose é muito importante, já que se trata de
uma condição incurável e multifatorial, inclusive com componente genético.
A atividade física é vital para a saúde dos ossos e constitui uma parte importante
do programa de prevenção e tratamento da osteoporose, pois melhora também a força
muscular, a coordenação e o equilíbrio, além de promover uma condição geral de saúde
melhor. O melhor exercício para os ossos é o TR (exercícios com peso/sobrecarga e/ou
sustentação do peso do próprio corpo contra a ação da gravidade).
Alguns exemplos são a caminhada, corrida, subir escadas, tênis, boliche, badminton,
natação basquete, futebol, dança, musculação, ginástica localizada, hidroginástica,
treinamento funcional e outros. Entretanto, algumas doenças relacionadas ao
envelhecimento acabam por limitar o exercício: doença de Parkinson: distrofia muscular
oftalmoplégica; tremor essencial; doença de Huntington; distonia; mioclônus; osteoartrite,
por exemplo (TAYLOR, JOHNSON, 2015).
Os benefícios da atividade física a partir da meia-idade podem ser analisados na
perspectiva individual (aspectos fisiológicos, psicológicos e sociais) ou da sociedade
como um todo. Os benefícios fisiológicos agudos mais relevantes para pessoas acima
de 60 anos são: controle dos níveis de glicose; estímulo para ativação de catecolaminas
(adrenalina e noradrenalina); melhor qualidade do sono.
Já os benefícios a médio prazo contam com: maior eficiência e capacidade aeróbica
(cardiorrespiratória) conferindo menor risco de doenças cardiovasculares; manutenção
ou menor perda na massa muscular, força e resistência, proporcionando a capacidade
de realizar atividades diárias com mais eficiência e menor risco de lesões; melhoria ou
manutenção da flexibilidade para se atingir movimentos com maior amplitude e menores
riscos de lesões; e manutenção ou menor perda nos níveis de equilíbrio, coordenação e
velocidade de movimento (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2018).
Estas são variáveis muito importantes para a segurança e prevenção de acidentes
68
dos idosos, principalmente quedas que podem levar a fraturas pélvicas e de fêmur,
complicações, acamamento e até morte. Portanto, diversos aspectos funcionais e de
saúde podem ser melhorados com atividades físicas regulares: Equilíbrio, Postura,
Locomoção, Mobilidade, Tempo de reação, Osteoporose, Dificuldade respiratória,
Dores lombares, Ansiedade e depressão, Circulação Periférica. Além disso, McArdle,
Katch e Katch (2018 – tabela p. 894) descrevem as tendências gerais para os efeitos da
atividade física regular e/ou aptidão física aumentada e risco para condições patológicas
crônicas, como: mortalidade devido todas as causas, doenças coronarianas, hipertensão,
obesidade, diabetes e osteoporose, dentre outras.
Todos os esforços acadêmicos e intervenções relacionados à promoção de estilos
de vida ativos e saudáveis desta população são direcionados à seguinte questão principal:
Como as pessoas podem permanecer independentes e produtivas à medida que
envelhecem? O objetivo é aumentar a expectativa de vida saudável e a qualidade de vida
para todas as pessoas que estão envelhecendo, inclusive as mais frágeis e fisicamente
incapacitadas (NAHAS, 2017).

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Em uma leitura diferenciada, aprenda mais sobre os idosos e a atividade física
lendo o capítulo 2, a partir da página 51 do livro proposto. Disponível em: https://
bit.ly/3qMyXdU. Acesso em: 30 ago. 2021.

Há evidências epidemiológicas na literatura que mostram a força da associação


entre ausência de exercício e risco de cardiopatia, transformando o sedentarismo no
maior fator de risco para cardiopatia, já que mais pessoas apresentam estilos de vida
sedentários que aquelas com um ou mais dos outros fatores de risco primários para
doenças cardiovasculares e mortalidade decorrente. Os benefícios da atividade física
regular estão associados muito mais à prevenção da mortalidade prematura do que
ao prolongamento da expectativa de vida (TAYLOR, JOHNSON, 2015; MCARDLE; KATCH;
KATCH, 2018).

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Para entender melhor todas as centenas de alterações fisiológicas que acom-
panham o envelhecimento, assim como as respostas ao treinamento físico,
acesse a seção 7 do livro “Fisiologia do Exercício - nutrição, energia e desem-
penho humano” 8ª ed. em Minha Biblioteca Única. Disponível em: https://bit.
ly/3FPDZww. Acesso em: 30 ago. 2021.

5.3 DIFERENÇAS SEXUAIS NO EXERCÍCIO FÍSICO

Quando abordamos diferenças sexuais na atividade física, logo fica claro que um
contexto histórico influencia bastante, já que era comum meninas serem consideradas
69
mais frágeis e menos adequadas para participar de atividades físicas vigorosas, enquanto
garotos eram considerados mais aptos, subiam em árvores, corriam uns atrás dos outros
e praticavam diversos esportes. Porém, percebe-se que o porte físico e composição
corporal são parecidos em meninos e meninas no início da infância. (KENNEY; WILMORE;
COSTILL, 2013).
As diferenças de composição corporal entre gêneros ocorrem principalmente
decorrente das mudanças endócrinas. Na puberdade, a hipófise anterior começa a
secretar maiores quantidades dos hormônios gonadotrópicos, o hormônio folículo--
estimulante (FSH) e o hormônio luteinizante (LH), hormônios estes que estimulam as
gônadas (ovários e testículos).
Nas meninas, ocorre o desenvolvimento dos ovários e início a secreção de estrogênio
e, nos meninos, o desenvolvimento dos testículos que iniciam a secreção de testosterona.
A testosterona tem como, em algumas de suas funções, aumentar a formação dos ossos
e acelerar a síntese proteica (aumento de massa muscular), resultando em rapazes
adolescentes com maior estatura e mais musculosos do que o sexo oposto. Ao final
da maturidade, a distribuição da MLG também é diferenciada, já que, nos homens, o
porcentual de massa muscular é maior na parte superior do corpo (42,9 versus 39,7% nas
mulheres) (JANSSEN et al., 2000).
O estrogênio também influencia significativamente o crescimento do corpo,
pois alarga a pelve, estimula o desenvolvimento das mamas e aumenta a deposição de
gordura, especialmente em coxas e quadris. Por causa dessas diferenças, as mulheres
são, em média, 13 cm mais baixas; 14 a 18 kg mais leves; 3 a 6 kg mais pesadas em massa
de gordura que os homens, o que interfere fisiologicamente tanto na escolha como
na prática de muitos esportes. Quando mulheres e homens praticam uma sessão de
exercícios, de forma aguda, as respostas diferem entre gêneros, tanto em relação à
capacidade de força como em respostas cardiovasculares, respiratórias e metabólicas.
Com relação à função cardiovascular e respiratória, as mulheres, em geral, apresentam
resposta mais alta de FC em qualquer nível absoluto de exercício submáximo, mas a FC
máxima é a mesma para ambos os gêneros. O VS é mais baixo em mulheres, porém o
débito cardíaco (Q) é praticamente similar em mulheres e homens, pois a resposta mais
alta da FC submáxima em mulheres parece compensar um VS mais baixo. Um VS mais
baixo é resultante das mulheres possuírem corações menores (ventrículos esquerdos
menores) e das baixas concentrações de testosterona. No entanto, estudos mais recentes
demonstraram que mulheres jovens na pré-menopausa foram capazes de aumentar
seu volume sistólico com um treinamento idêntico aos homens (KENNEY; WILMORE;
COSTILL, 2013).
Em termos aeróbios e de consumo máximo de oxigênio (VO2máx), as frequências
cardíacas das mulheres, em média, ficam ligeiramente elevadas em comparação com os
homens, provavelmente pelo menor conteúdo de hemoglobina, diminuindo o conteúdo
de oxigênio arterial e reduzindo o potencial oxidativo muscular. Este conteúdo mais
baixo de hemoglobina contribui para as diferenças específicas de gênero em relação
ao VO2máx, pois uma menor quantidade de oxigênio por volume sanguíneo é liberada
para o músculo ativo, interferindo na capacidade aeróbia em práticas físico esportivas.
Contudo, as diferenças entre respostas respiratórias ao exercício pouco diferem entre
os gêneros, mas os volumes corrente e ventilatório são menores em mulheres em uma
mesma produção de potência relativa e absoluta.
Embora os gêneros respondam similarmente ao exercício tanto em respostas
70
fisiológicas agudas como crônicas, deve-se levar em conta diversos outros aspectos
pertinentes as diferenças de gênero. Um exemplo é que homens superam as mulheres
no desempenho esportivo como o arremesso de peso, em que níveis elevados de força
na parte superior do corpo são fundamentais para que o atleta tenha performance.
Alterações específicas do organismo feminino, como as diversas fases do ciclo menstrual,
podem influenciar o desempenho esportivo, mas estão sujeitas a uma considerável
variação individual. Não existem dados confiáveis que demonstrem qualquer mudança
significativa no desempenho atlético em nenhum momento do ciclo menstrual, mesmo
porque diversos resultados expressivos nos esportes têm sido atingidos por atletas do
sexo feminino durante todas as fases do ciclo menstrual (KENNEY; WILMORE; COSTILL,
2013).

VAMOS PENSAR?
Uma questão acerca da relação entre menarca e treinamento de rendimento é formu-
lada: “Meninas com menarca naturalmente mais tardia têm certa vantagem em alguns
esportes e, por isso, iniciam sua prática, ou seu envolvimento precoce no esporte é o que
causa o atraso da menarca?”

Mulheres atletas podem vivenciar disfunções em seu ciclo menstrual normal,


dentre eles a amenorreia (ausência de menstruação), independente da intensidade do
treinamento (DE SOUZA et al., 2010). Algumas causas possíveis são: histórico de disfunção
menstrual; efeitos agudos do estresse; grande volume ou intensidade de treinamento;
pouco peso ou baixo nível de gordura corporal; alterações hormonais; déficit energético
decorrente de nutrição inadequada e/ou distúrbios alimentares (REDMAN; LOUCKS,
2005).
Outro diferencial de gênero que todo profissional de educação física deve se
atentar é a prescrição do treino para gestantes. Segundo Kenney, Wilmore e Costill (2013),
quatro fatores fisiológicos importantes estão associados ao exercício durante a gravidez:
• Risco agudo associado à redução do fluxo sanguíneo uterino (sangue é desviado para
os músculos ativos da mãe), levando à hipóxia fetal.
• Hipertermia fetal associada ao aumento da temperatura corporal interna da mãe
durante a prática de exercício aeróbio durante longos períodos ou exercício em altas
temperaturas.
• Redução da disponibilidade de carboidrato para o feto, pois o corpo da mãe utiliza
mais glicogênio como substrato energético.
• Possibilidade de aborto e de finalização da gestação.
Uma das grandes preocupações para a saúde das mulheres associadas ao
envelhecimento é a osteoporose, fator que pode ser acelerado pela deficiência de
estrogênio, ingestão inadequada de cálcio e atividade física inadequada. Embora o
primeiro desses fatores seja inevitável (menopausa), os dois últimos refletem hábitos
mutáveis que deveriam ser saudáveis. Em geral, o exercício é um fator positivo para a
saúde óssea por estar associado a um aumento da massa óssea, ou pelo menos à sua
manutenção em mulheres jovens, de meia idade e idosas, principalmente a prática de
exercícios resistidos e com contrações musculares vigorosas.
Um último fator a ser abordado, mas de extrema importância no âmbito esportivo,
71
é a tríade da mulher atleta. É uma síndrome de condições correlacionadas que envolve
distúrbios alimentares (não necessariamente) ou baixa disponibilidade de energia (ou
ambos), baixa massa óssea e amenorreia em mulheres fisicamente ativas e atletas.
Durante um período, uma atleta que possui baixa disponibilidade de energia pode
apresentar alterações anormais na menstruação, que. com o passar do tempo, pode
ocasionar redução da massa óssea. Estes distúrbios alimentares geralmente estão
associados com pressões internas e externas para que as atletas mantenham um baixo
peso corporal (KENNEY; WILMORE; COSTILL, 2013).
72
FIXANDO O CONTEÚDO

1. (ENADE - 2004). O exercício físico é essencial para o crescimento ósseo em comprimento


e, consequentemente, para o aumento da estatura da criança
PORQUE
a compressão intermitente das placas de crescimento decorrente do peso corporal e o
exercício podem provocar maior mineralização e densidade óssea.

A esse respeito, pode-se concluir que

a) As duas afirmações são verdadeiras e a segunda justifica a primeira.


b) As duas afirmações são verdadeiras e a segunda não justifica a primeira.
c) As duas afirmações são falsas.
d) A primeira afirmação é verdadeira e a segunda é falsa.
e) A primeira afirmação é falsa e a segunda é verdadeira.

2. O envelhecimento é relacionado diretamente aos fatores psicológicos, biológicos,


situação socioeconômica, hábitos de vida, entre outros fatores que influenciam a
vida. Entre esses fatores, a atividade física possui uma influência relevante para um
envelhecimento saudável. A esse respeito, é correto afirmar que:

a) Sarcopenia proveniente do envelhecimento é um processo dependente da prática


regular de atividade física.
b) A atividade física para o idoso deve se privar da presença de outros praticantes por
pertencer a um grupo de risco.
c) O processo do envelhecimento pouco afeta a capacidade termorregulatória do
organismo do idoso.
d) A ganho de massa magra decorrente do processo envelhecimento reduz a função
motora do idoso.
e) A prática sistematizada de atividade física viabiliza a manutenção e melhoria da
mobilidade do idoso que diminui com o envelhecimento.

3. (ENADE - 2004). O Sr. João tem 67 anos e é sedentário, aposentado e obeso. Por
recomendação médica decidiu iniciar um programa de exercícios físicos. Assim, o
profissional de Educação Física que ele procurar deve indicar exercício(s):

a) Anaeróbio láctico, em uma pista de atletismo, para provocar maior resistência nas
tarefas do dia a dia.
b) Anaeróbio alático, em uma piscina de 25 metros, para aumentar sua resistência sem
provocar impacto nas articulações.
c) Aeróbio de alta intensidade, na esteira rolante, para provocar adaptações
neuromusculares capazes de prevenir o câncer.
d) De velocidade de deslocamento, numa pista de atletismo, para aumentar sua
velocidade de locomoção.
73
e) De força dinâmica, na musculação, para prevenção da osteopenia e da sarcopenia.

4. A Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte apresenta um posicionamento da


atividade física e saúde da mulher, em que são destacadas diferenças fisiológicas entre
homem e mulher. No que se refere a diferenças fisiológicas normativas entre os sexos,
assinale a alternativa correta.

a) Nas mulheres, a doença arterial coronariana ocorre cerca de 10 anos antes que nos
homens, devido ao papel protetor do estrogênio mantido até a menopausa.
b) Devido a maior massa muscular estar presente nos homens que nas mulheres, os
homens apresentam menor eficiência termorreguladora em exercícios no frio.
c) Mulheres apresentam menor consumo de oxigênio máximo em comparação aos
homens durante exercícios aeróbicos.
d) Mulheres apresentam maior massa adiposa e menor massa muscular em comparação
aos homens, e assim possuem maior atividade catabólica que homens.
e) O homem apresenta menor volume de fibras do tipo I ou II em comparação a mulher
e essa característica confere ao homem maior potência e resistência muscular.

5. O sedentarismo na adolescência aumenta a incidência de doenças cardiovasculares


na vida adulta, sendo a prática de exercícios físicos aeróbios indicada para o combate
das doenças hipocinéticas, desde que orientadas por profissionais da área de Educação
Física.

Caracteriza-se como efeito do treinamento aeróbio em adolescentes:

a) Elevação da frequência cardíaca de repouso.


b) Aumento da diferença entre a frequência cardíaca máxima e a de repouso.
c) Redução da velocidade de corrida no início do acúmulo de lactato.
d) Aumento do recrutamento das fibras musculares tipo II, o que pode causar hiperplasia
ou hipertrofia mitocondrial.
e) Redução do consumo de oxigênio máximo (VO2 máximo).

6. (IBADE- 2017). O crescimento físico se refere a mudanças no tamanho ou massa, por


isso, é correto dizer que uma criança cresce em estatura (altura) e/ou massa corporal
(peso). Este fenômeno do aumento no tamanho do corpo de um indivíduo durante o
processo de amadurecimento é causado pela multiplicação ou aumento das células.
O aumento do número de células durante o período de crescimento das crianças é
denominado:

a) Estirão.
b) Acreção.
c) Hipertrofia.
d) Hiperplasia.
e) Maturação.

7. O sistema endócrino é complexo e regula diversas ações no organismo tanto masculino


como o feminino. Porém, alguns hormônios são secretados por um gênero não são
74
secretados pelo outro gênero. Sendo assim, dentre os principais hormônios sexuais
femininos, temos:

a) Testosterona e estrógeno.
b) Estrógeno e adrenalina.
c) Estrógeno e progesterona.
d) Testosterona e progesterona.
e) Adrenalina e noradrenalina.

8. (SEGPLAN- 2018). Uma das consequências inevitáveis do processo de envelhecimento


diz respeito ao enfraquecimento do organismo, especialmente, do sistema esquelético.
O aumento do número de fratura óssea entre idosos é causado pela Osteoporose.
Qual o fator que responde pela redução do aparecimento de casos de osteoporose entre
idosos ativos?

a) A atividade física regular diminui o índice de fraturas.


b) O esforço físico nos exercícios modifica a massa cardíaca
c) A atividade física regular contribui para a manutenção da massa óssea.
d) A atividade física proporciona o aumento da massa muscular e esquelética.
e) O esforço físico nos exercícios não interfere no fortalecimento dos ossos.
75

FATORES AMBIENTAIS
E SUAS IMPLICAÇÕES
FISIOLÓGICAS
76
6.1 EXERCÍCIO E ADAPTAÇÕES FISIOLÓGICAS AO CALOR

O controle da temperatura corpórea em decorrência das alterações de temperatura


ambiente tem fundamental importância para a sobrevivência e manutenção das
respostas fisiológicas normais do corpo humano. Para que houvesse a evolução humana,
foi necessário que o ser humano desenvolvesse um sistema termorregulador eficiente,
o que lhe permitiu habitar regiões com condições climáticas extremas. A temperatura
exerce influência direta em diversos fatores do organismo, como nas reações químicas, já
que afeta a velocidade em que ocorrem (vide Unidade 1). O eficaz sistema termorregulador
humano permite não somente a sobrevivência em temperaturas extremas, mas também
a prática de exercícios nestas condições (ANDRADE, LIRA, 2016).
Existem três processos físicos que nos fazem trocar de calor com o ambiente/objeto:
por condução, por convecção e por irradiação. A transferência de calor por condução
se dá de molécula para molécula, sempre no sentido da molécula de maior energia
térmica para a de menor energia térmica, já que as de maior temperatura vibram com
maior intensidade, transferindo parte desta energia ao entrar em contato com outras de
menor temperatura, agitando-as.
A transferência de calor por convecção ocorre pelo transporte de matéria entre as
regiões. Durante a prática de exercícios, a camada de ar adjacente à pele adquire, por
condução, energia térmica e passa a ocupar maior volume, tornando-se menos densa e
subindo, transferindo parte do calor armazenado na pele para o ambiente. No seu lugar,
é reposta uma camada de ar mais fria que receberá calor da pele, recomeçando o ciclo
e formando as correntes de convecção.
Este processo ocorre somente em líquidos e gases, e a presença de vento favorece
a troca de calor por convecção, pois permite a remoção mais rápida das moléculas mais
próximas da pele em direção ao ambiente. Para a transferência de calor por irradiação,
não é necessário nem a proximidade molecular nem o transporte de matéria, pois a
irradiação consegue se propagar mesmo no vácuo. Quanto maior a temperatura
ambiente, maior a emissão de radiação em direção ao organismo, sendo parte dessa
radiação refletida de volta para o ambiente e parte absorvida pela superfície do corpo.
Quanto maior a absorção, maior será a temperatura da região, e cores escuras absorvem
mais esta radiação, o que nos faz ter a sensação de que uma roupa mais escura esquenta
mais do que uma mais clara (GUYTON; HALL, 2006).
Durante a prática de atividade física, a maior parte da energia utilizada é na forma
de calor. Quanto maior a intensidade do exercício, maior a produção de energia térmica,
elevando a temperatura da pele e favorecendo a velocidade de troca de calor da pele
com o ambiente, situação positiva em ambiente com temperaturas inferiores à do corpo
humano. Assim, o exercício aumenta a transferência de calor por condução, convecção e
irradiação.
Porém, em ambientes cuja temperatura está próxima à do organismo, há prejuízo
da dissipação de calor. Em locais com temperaturas próximas de 40°C, o sentido de
troca se inverte, fazendo com que o corpo passe a receber calor do ambiente ao invés
de liberá-lo, prejudicando todos os processos descritos anteriormente e dificultando a
manutenção da temperatura central. Se houvesse dependência somente dos processos
físicos de troca de calor, seria impossível a regulação da temperatura corporal em
ambientes quentes. Por isso, o organismo humano tem um mecanismo adicional: a
77
produção de suor (POWERS; HOWLEY, 2017).
Quando se aumenta a temperatura central corporal acima de determinado limiar,
estimula-se a produção de suor pelas glândulas sudoríparas. O suor carrega parte da
energia térmica armazenada no interior do organismo em direção à superfície do
organismo, para que seja evaporado (transferência desta energia térmica ao ambiente)
e o organismo seja resfriado. Entretanto, o processo de evaporação do suor depende da
saturação de vapor de água no ambiente externo.
Para que este mecanismo ocorra, é necessário que a pressão do suor supere a
pressão de vapor do ambiente, caso contrário, o suor permanecerá na pele e a energia
térmica não será dissipada. Ambientes com umidade relativa do ar elevada (alta
saturação de vapor de água) e alta temperatura propõem uma grande sobrecarga ao
sistema termorregulador, ou seja, nessa situação, a manutenção da temperatura fica
prejudicada, o que favorece um quadro de hipertermia (GUYTON; HALL, 2006).
O principal centro termorregulador do nosso organismo localiza-se na área
pré-óptica anterior ao hipotálamo, mas também existem sensores espalhados tanto
na superfície corporal quanto nas regiões mais internas do corpo, permitindo o
reconhecimento instantâneo de variações de temperatura interna e externa. Todas estas
informações são enviadas ao hipotálamo, o qual decide se o organismo deve aumentar
a dissipação ou a conservação de calor para manter a temperatura central mais próxima
dos 37°C. Todo momento em que a temperatura corporal se elevar acima do valor
normal, alguns neurônios da área pré-óptica aumentam sua taxa de disparo para que
haja respostas fisiológicas com o objetivo de transferir calor para o ambiente, entre as
quais temas: a vasodilatação, o estímulo para a sudorese e o aumento na ventilação
pulmonar (ANDRADE; LIRA, 2016).
A primeira destas respostas fisiológicas ao calor é a vasodilatação, que consiste
em redirecionar fluxo sanguíneo às regiões mais periféricas do organismo., o que faz
com que a temperatura aumente e, consequentemente, aumente o gradiente de
temperatura entre pele e ambiente, permitindo maior velocidade de transferência de
calor para o meio externo e resfriando mais rápido do organismo (transferências de
calor por condução, convecção e irradiação aumentam com o aumento de temperatura
cutânea) (POWERS, HOWLEY, 2017).
O estímulo para a sudorese e consequente produção de suor também são
facilitados, uma vez que circula maior quantidade de sangue próximo às glândulas
sudoríparas. O estímulo da produção de suor tem como objetivo a transferência de parte
da temperatura armazenada no organismo em direção ao meio externo (ambiente),
após a evaporação deste suor e resfriamento da pele. Caso o suor não evapore, essa
energia térmica permanece na pele, prejudicando o resfriamento do corpo. A produção
deste suor depende de fatores genéticos (pessoas diferem na quantidade de produção
de suor), intensidade do exercício, temperatura ambiente, umidade relativa do ar, estado
de aclimatização e tipo de vestimenta utilizada (PLOWMAN; SMITH, 2009).
Segundo os autores, são alterações metabólicas resultantes da exposição e da
prática de atividade física em ambientes de temperatura elevada: maior degradação
do glicogênio muscular, maior produção de lactato e menor utilização de lipídios como
substrato energético. O fluxo de sangue para os músculos poderá ser prejudicado,
dependendo da intensidade do exercício e das condições ambientais e, para se
manter ativa, a musculatura dependerá cada vez mais do metabolismo anaeróbio
78
para suporte energético (maior utilização de carboidrato e maior produção de lactato).
Ademais, o estresse térmico promove maior liberação de catecolaminas (aumento nos
níveis circulantes de adrenalina), que promovem alterações no metabolismo como a
substituição dos lipídios pelos carboidratos como substrato energético preferencial.
A queda de desempenho na prática de atividades físicas é algo que ocorre em
ambientes com temperaturas extremas (calor ou frio). No calor, dois fatores parecem
estar relacionados diretamente à queda de desempenho esportivo: o aumento da
temperatura central e o aumento do estresse cardiovascular. Para demonstrar um valor
limite de temperatura central na qual um ser humano consegue realizar exercício físico,
um estudo observou que, atingidos os valores superiores a 40°C, o organismo entra em
estado de exaustão precoce, inclusive com redução dos estímulos elétricos do córtex
motor para a musculatura em atividade, ocasionando fadiga antecipada. Poderíamos
analisar como uma tentativa do SNC de minimizar a produção de calor e manter a
integridade física do organismo, diante de alto risco de hipertermia (ACSM, 2007). O
aumento de temperatura central promove, ainda, outras alterações que promoverão
maior exaustão, como:
• Maior liberação de serotonina e redução de dopamina, associadas, individualmente,
ao surgimento de fadiga.
• Maior atividade de enzimas-chave na degradação do glicogênio muscular.
• Menor recrutamento de fibras musculares, afetando a geração de força.
• Maior recrutamento de fibras tipo II, com maior consumo de glicogênio muscular e
produção de lactato.
Por tal motivo, é tão importante se atentar ao tipo de exercício, intensidade, local,
temperatura e umidade, além da vestimenta, para praticar exercícios de uma maneira
segura e sem risco à saúde, principalmente em ambientes abertos e externos.
Algumas enfermidades podem ocorrer quando se pratica atividade física associada
à altas temperaturas, como cãibras, que são espasmos musculares dolorosos comuns
quando o exercício tem duração prolongada e é em ambiente quente, decorrente da
perda excessiva de Na+ pelo suor (alteração no potencial de repouso da membrana da
fibra muscular). Trata-se com repouso e reposição hídrica com Na+ ou na alimentação.
Já a exaustão pelo calor ocorre pela incapacidade de continuar o exercício pelo prejuízo
na dissipação de calor pelo organismo em ambientes quentes, associadas a profundos
distúrbios eletrolíticos e insuficiência cardíaca, sendo normalmente tratada com elevação
das pernas e reposição de fluidos.
Entretanto, a enfermidade mais grave relacionada ao calor é a intermação, que
pode ser de esforço, ou seja, soma da carga de calor recebida do ambiente (temperatura
externa) e da carga de calor endógena produzida (esforço físico). Além de manifestar
distúrbios do SNC, é caracterizada por temperatura central elevada rapidamente
podendo chegar acima de 40°C, nível crítico para o desenvolvimento de lesão de fibras
musculares, falência renal e arritmias cardíacas (ACSM, 2007; NYBO; RASMUSSEN;
SAWKA, 2014).

FIQUE ATENTO
Entre os objetivos da ingestão de líquidos durante a prática de atividade física,
79
principalmente em dias quentes, estão: a prevenção da desidratação excessi-
va (> 2% de perda do peso corporal em virtude de déficit de água); e as altera-
ções excessivas no equilíbrio eletrolítico a fim de evitar o comprometimento do
desempenho e a morte.

6.2 EXERCÍCIO E ADAPTAÇÕES FISIOLÓGICAS AO FRIO

A temperatura central do corpo humano é próxima dos 37°C, provido assim


de energia térmica ou energia vibração molecular, o que não acontece somente se
atingirmos a temperatura do zero absoluto (-273°C). Quando entramos em contato
com outro corpo/objeto ou região de diferente energia térmica, ocorre a transferência
espontânea de energia na forma de calor, sempre da superfície ou região de maior
temperatura para o de menor temperatura.
Quanto maior o diferencial da temperatura dos corpos/regiões, maior a velocidade
de troca de calor entre corpos/regiões. Assim, toda vez que formos expostos a um ambiente
de temperatura inferior à nossa temperatura central normal, haverá transferência de
calor do nosso corpo para o ambiente, proporcionalmente ao gradiente de temperatura,
ou seja, a velocidade da perda de calor pelo nosso organismo é maior a uma temperatura
de 5°C do em um ambiente a 25°C, o que favorece um quadro de hipotermia.
Quando a temperatura corpórea central é reduzida para valores abaixo do normal,
outros neurônios da área pré-óptica aumentam suas taxas de disparo para que haja
respostas fisiológicas com o objetivo de maior retenção e produção de calor. Os limiares de
temperatura variam de pessoa para pessoa, sendo que estas respostas termorregulatórias
acontecem quando são ultrapassados estes limiares. Um exemplo ocorre em idosos,
que possuem limiares de vasoconstrição mais reduzidos, ou seja, precisam de maior
redução de temperatura central para se iniciarem as respostas de termorregulação ao
frio, tornando-os menos tolerantes a esse tipo de ambiente (ANDRADE; LIRA, 2016).
A diminuição da temperatura central abaixo do limiar de vasoconstrição muda a
circulação periférica, redirecionando parte do fluxo sanguíneo das regiões periféricas
(ponta dos dedos, nariz e orelhas), para a região centrais (proteção dos órgãos essenciais),
reduzindo a temperatura da pele. Dependendo da intensidade do frio ambiente, o fluxo
sanguíneo destas extremidades pode ser reduzido a valores tão críticos que podem
promover lesão tecidual.
Esta redistribuição do sangue melhora o retorno venoso e colabora com melhorias
no volume de ejeção e no Q, aumentando a PA nos meses mais frios do ano. Caso a
diminuição da transferência de calor para o ambiente por meio da vasoconstrição não
seja suficiente para a manutenção da temperatura central em níveis normais, há estímulo
adicional conhecido como tremor, que ocorre com aumento do tônus muscular para
aumentar a liberação de calor, aumentando a produção de calor endógena (GUYTON;
HALL, 2006).
Assim, segundo Guyton e Hall (2006), o organismo aumenta seu metabolismo para
regular a temperatura central em ambientes frios, sempre que o valor de temperatura
crítica (cerca de 25°C no ar e de 35°C na água) é diminuído abaixo dos limiares para cada
ambiente. No meio líquido, o valor é maior porque a água é 25 vezes mais condutora
que o ar, resultando em maior taxa de transferência de calor com menor tolerância
80
à exposição, justificando a ocorrência mais frequente de hipotermia em indivíduos
molhados ou que permanecem por longos períodos submersos.
Portanto, é fator importante para os profissionais de educação física se atentar
quanto à intensidade, tipo de exercício, temperatura ambiente (ar e água) e vestimenta
de seus alunos/clientes, para evitar a perda da temperatura para o ambiente e outras
respostas fisiológicas termorregulatórias que podem, inclusive, prejudicar o desempenho
e colocar em risco a saúde das pessoas.
A queda de desempenho em ambientes frios está associada à maior liberação de
catecolaminas com maior utilização de carboidratos, ou seja, para manter o equilíbrio
térmico corporal, exercícios no frio envolvem maior gasto energético. Com isso, devemos
nos atentar quanto a necessidade de ingestão de carboidratos. Adicionalmente, o frio
influencia o padrão de recrutamento neuromuscular, diminuindo a capacidade de
exercer força máxima e acarretando movimentos descoordenados por alteração dos
estímulos nervosos junto às fibras musculares (CASTELLANI; YOUNG, 2012).
Uma das enfermidades relacionadas ao frio é o broncoespasmo induzido pelo exercício,
que se dá pelo estreitamento temporário de vias aéreas com o aparecimento de sintomas
semelhantes aos da asma, após uma resposta inflamatória à contínua exposição e inalação
de ar seco e frio, principalmente durante a prática de exercícios de alta intensidade.

VAMOS PENSAR?
Quanto a exposição prolongada ao frio pode ser prejudicial em esportes de inverno?
A vasoconstrição periférica prolongada durante a exposição ao frio intenso em esportes
que exigem a permanência nestas condições, produz temperaturas da pele e das extre-
midades perigosamente baixas, particularmente quando isso é agravado por grandes
aumentos na perda de calor por convecção e condução, como em exercícios. A superex-
posição que ocorre quando não se presta a devida atenção aos sinais de alerta resulta
em enregelamento; nos casos extremos, ocorre dano irreversível que torna necessária a
remoção cirúrgica do tecido lesionado.

6.3 EXERCÍCIO E ADAPTAÇÕES FISIOLÓGICAS À ALTITUDE

Diversos atletas têm realizado treinamentos em altitude com objetivo de melhorar


a performance aeróbia. Existem evidências de que estes treinamentos em altitude,
também conhecidos como treinamento hipóxico, resultaram em desempenhos positivos
à nível do mar, geralmente onde acontece a maior parte das competições. Inclusive,
quando competições acontecem em locais com grandes atitudes, o treinamento
hipóxico também tem sido utilizado, mas com objetivo de aclimatação dos atletas, que
poderão sofrer queda no desempenho decorrente de um ambiente de menor pressão
atmosférica e menor disponibilidade de oxigênio.
Quando um atleta se desloca de um ambiente ao nível do mar para um ambiente
com ar rarefeito (elevadas altitudes), a menor pressão parcial de oxigênio (PO2) prejudica
a performance aeróbia inicialmente, situação denominada hipóxia hipobárica, pois há
redução da PO2 decorrência da diminuição da pressão barométrica (PB). A Figura 11
mostra esta relação.
81

Figura 11: Relação entre diferentes altitudes, valores de pressão barométrica e porcentagem dos valores de pressão
atmosférica e pressão de O2
Fonte: Andrade e Lira (2016, p.806)

Ao decorrer de algumas semanas permanecendo em altitude, o organismo tende


a se adapta às novas condições de hipóxia e a capacidade de treinamento/desempenho
começam a ser recuperados. Alguns fatores podem estar relacionados à melhora da
performance aeróbia após um período de treinamento em altitude, como: alterações da
capacidade de tamponamento muscular, ajustes ventilatórios, neurais e hemodinâmicos,
aumento dos níveis de EPO, do hematrócito (HT), de hemoglobina (Hb) e do consumo
máximo de oxigênio (VO2máx).
A exposição a baixas PO2 em altitude gera menor gradiente de pressão na unidade
alveolocapilar, dificultando as trocas gasosas, comprometendo, também, a pressão
arterial de O2 e a oferta de O2 aos tecidos. Este método supõe que o organismo humano,
como resposta, aumenta a produção de eritrócitos buscando aumentar o transporte e a
disponibilidades de O2 aos tecidos-alvo, melhorando o VO2máx e a performance aeróbia
ao nível do mar.
No entanto, resultados inconclusivos de alguns estudos formularam a hipótese
de que os benefícios adquiridos com o treinamento hipóxico eram compensados pela
perda do condicionamento aeróbio, como consequência da redução da intensidade de
treinamento, em provas ao nível do mar. Em outras palavras, se um atleta não consegue
treinar em altitude na mesma intensidade/carga em que treinaria ao nível do mar, seu
desempenho ao nível do mar provavelmente não será superior, apesar das adaptações
fisiológicas proporcionadas pelo treinamento hipóxico (ANDRADE; LIRA, 2016).
A diminuição no custo da ventilação e aumento na utilização de carboidratos para
fosforilação oxidativa junto com o aumento da eficiência mitocondrial, são os prováveis
mecanismos que levariam à melhoria do desempenho. Apesar de muitos estudos
apontarem para esses resultados positivos, outros não obtiveram sucesso buscar
demonstrar melhoria adicional com o treinamento hipóxico (ROBACH et al., 2006).
É possível que o estresse gerado pelo treinamento, nível da altitude, duração do
treinamento e recuperação sejam os fatores mais determinantes para as adaptações
fisiológicas, ao invés do estímulo hipóxico isoladamente. Para se obter resultados
positivos com o treinamento hipóxico, 4 semanas de exposição com pelo menos 12 horas
diárias parecem ser suficientes para induzir a alterações hematológicas significativas e
82
melhora do desempenho aeróbio (WILBUR, 2007; CLARK et al., 2009).

BUSQUE POR MAIS


Para os apaixonados por corrida, segue a sugestão de leitura da seção 7.3 do
livro “Treinamento de corrida de rua – uma abordagem fisiológica e metodoló-
gica”, em que se explora a corrida e a altitude. Disponível em: https://bit.ly/3eI-
4VTb. Acesso em: 30 ago. 2021.

Caso não seja feita uma pré-aclimatação dos atletas antes da subida para altitudes
severas (maiores do que 4.000 metros), podem ocorrer sintomas do que se denomina
mal agudo da montanha (MAM), caracterizado por uma manifestação de cansaço,
dores de cabeça, anorexia, náusea e vômito. Sem aclimatação, os momentos iniciais
em ambientes com altitude são caracterizados por ajustes cardiovasculares, ou seja,
aumentos da frequência respiratória, FC e PA, ajustes os quais podem colaborar para
uma queda no rendimento físico em qualquer atividade física desenvolvida nessas
condições (ANDRADE; LIRA, 2016).

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Para saber mais sobre as respostas fisiológicas no calor, frio e altitude, segue a
sugestão de leitura da seção 5 do livro “Fisiologia do Exercício - Nutrição, Ener-
gia e Desempenho Humano” em sua 8ª edição, que aborda o desempenho
do exercício e o estresse ambiental. Disponível em: https://bit.ly/3sTRDv1. Acesso
em: 30 ago. 2021.
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FIXANDO O CONTEÚDO

1. (CONSESP - 2017). Quando uma pessoa é exposta a temperaturas baixas, precisa de


prevenção às doenças do frio. Assinale a alternativa correta:

a) O atleta pode usar roupas leves, pois durante o treino ele irá se aquecer.
b) Não há motivos para se preocupar porque o corpo tenta ganhar / conservar o calor.
c) Os atletas devem estar bem agasalhados, sem se preocupar com a evaporação do
suor. O importante é se proteger do frio.
d) Manter os atletas em atividade para conservar o calor do corpo.
e) Os atletas devem treinar com muita roupa, principalmente nas mãos e pés, onde é
mais importante manter aquecido pela perda de calor para o ambiente.

2. Jogadores de futebol que vivem em altitudes próximas ao nível do mar sofrem


adaptações quando jogam em cidades de grande altitude. Algumas adaptações são
imediatas, outras só ocorrem após uma permanência de pelo menos 3 semanas.

Qual são as adaptações imediatas e as que podem ocorrer em longo prazo?

a) Imediatas: aumento somente da frequência respiratória e da pressão arterial. Longo


prazo: aumento do número de hemácias.
b) Imediatas: diminuição somente da frequência respiratória e da frequência cardíaca.
Longo prazo: manutenção do número de hemácias.
c) Imediatas: aumento somente da frequência cardíaca e diminuição da pressão arterial.
Longo prazo: diminuição do número de hemácias.
d) Imediatas: aumento da frequência respiratória, da frequência cardíaca e da pressão
arterial. Longo prazo: aumento do número de hemácias.
e) Imediatas: diminuição da frequência respiratória e da frequência cardíaca, e aumento
da pressão arterial. Longo prazo: diminuição do número de hemácias.

3. Um atleta morador de uma cidade a nível do mar irá participar de uma competição a
3.650 metros de altitude. Sugeriram que ele viajasse semanas antes para a cidade.
Escolha a alternativa que melhor justifica essa sugestão:

a) O treinamento em altitude nessas semanas anteriores garantiria sua vitória.


b) É necessário um período de aclimatação, para que o organismo se adapte às novas
condições de pressão atmosférica e de pressão parcial de O2.
c) Somente depois dessas semanas ocorreriam adaptações cardiovasculares.
d) Esse período de adaptação anterior denomina-se aclimatação, caracterizado pelo
treinamento hipóxico intenso nas semanas anteriores à competição.
e) Em La Paz, existe menos O2 e o atleta deve viajar algumas semanas antes para se
adaptar à falta de O2.

4. (IBADE, 2019) A atividade física em um clima frio, pode ressecar a garganta e


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desencadear tosse durante o período de recuperação. A tosse pós-exercício no clima frio
torna-se prevalente e está relacionado à:

a) perda de água pelo sistema respiratório.


b) perda de calor pelo sistema respiratório.
c) umidade relativa do ar aumentada.
d) desidratação global.
e) pressão barométrica total.

5. Analise as assertivas em relação às influências da altitude no desempenho físico em


atividades anaeróbias e aeróbias em homens e mulheres em provas do atletismo.

I. As corridas de características anaeróbias (provas de 60 m, 100 m e 200 m) sofrem


benefício quando realizadas na altitude, principalmente acima de 2.000 m de altitude.
II. As corridas de predominância aeróbias (de 800 m a maratona) sofrem prejuízo
quando realizadas na altitude, principalmente acima de 2.000 m de altitude.
III. A corrida de 400 m no atletismo sofre benefício quando realizada na altitude,
principalmente acima de 2.500 m de altitude.

Assinale a alternativa correta.

a) Somente a assertiva I está correta.


b) Somente as assertivas I e II estão corretas.
c) Somente as assertivas II e III estão corretas.
d) Somente as assertivas I e III estão corretas.
e) Todas as assertivas estão corretas.

6. O corpo humano apresenta mecanismos fisiológicos de produção e perda de calor


que são sempre acionados para manutenção da temperatura corporal em repouso
próximo a 37 °C, suportando uma maior variação de perda de calor (~10 °C) em regiões
mais periféricas, com impacto maior do que a tolerância à elevação de temperatura (~5
°C). Neste caso, qual é o efeito esperado se o indivíduo atingir a temperatura corporal
próxima ou acima de 42 °C em exercício físico?

Assinale a alternativa correta:

a) Isto não causará qualquer risco de intermação ao indivíduo.


b) Isto poderá aumentar o desempenho físico anaeróbio.
c) Isto poderá aumentar o desempenho físico aeróbio.
d) Isto poderá facilitar a atividade das enzimas do metabolismo energético.
e) Isto poderá levar o indivíduo à óbito por intermação.

7. Os calafrios geram calor metabólico, porém a atividade física faz a maior contribuição
na defesa contra o frio. O metabolismo energético durante o movimento mantém
uma temperatura central constante em um ambiente com até menos 30°C (–22°F)
sem depender de uma roupa restritiva e pesada que funcione como barreira. Os dois
hormônios da medula suprarrenal, elevam a produção de calor durante a exposição ao
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frio são, e são:

a) Insulina e glucagon.
b) Cortisol e GH.
c) Epinefrina e norepinefrina.
d) Testosterona e estrogênio.
e) Leptina e adiponectina.

8. (AMEOSC, 2021) Em relação aos mecanismos autonômicos termorregulatórios


durante a prática esportiva, a temperatura central aumentará, principalmente devido à
maior produção metabólica de calor (Edwards e Clark, 2006). Assim:

a) A evaporação do suor, a partir da pele, será o principal mecanismo de dissipação,


principalmente, durante as práticas esportivas em ambientes quentes.
b) A temperatura corporal durante a prática esportiva será uma resultante entre o ganho
e a perda de calor e sua regulação se dará por meio de mecanismos comportamentais.
c) O estresse térmico ambiental, comprovadamente, não interferirá nessa variável e,
consequentemente, no desempenho esportivo.
d) A desidratação devido à perda hídrica, via urinária, representará a maior preocupação
para o jogo em ambiente quente.
e) Todas as assertivas estão corretas.
86
RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO

UNIDADE 1 UNIDADE 2
QUESTÃO 1 D QUESTÃO 1 A
QUESTÃO 2 B QUESTÃO 2 E
QUESTÃO 3 A QUESTÃO 3 A
QUESTÃO 4 C QUESTÃO 4 E
QUESTÃO 5 E QUESTÃO 5 A
QUESTÃO 6 E QUESTÃO 6 C
QUESTÃO 7 C QUESTÃO 7 B
QUESTÃO 8 E QUESTÃO 8 C

UNIDADE 3 UNIDADE 4
QUESTÃO 1 C QUESTÃO 1 C
QUESTÃO 2 A QUESTÃO 2 C
QUESTÃO 3 E QUESTÃO 3 B
QUESTÃO 4 C QUESTÃO 4 C
QUESTÃO 5 E QUESTÃO 5 B
QUESTÃO 6 C QUESTÃO 6 D
QUESTÃO 7 C QUESTÃO 7 A
QUESTÃO 8 A QUESTÃO 8 B

UNIDADE 5 UNIDADE 6
QUESTÃO 1 E QUESTÃO 1 D
QUESTÃO 2 E QUESTÃO 2 D
QUESTÃO 3 E QUESTÃO 3 B
QUESTÃO 4 C QUESTÃO 4 A
QUESTÃO 5 B QUESTÃO 5 E
QUESTÃO 6 D QUESTÃO 6 E
QUESTÃO 7 C QUESTÃO 7 C
QUESTÃO 8 C QUESTÃO 8 A
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