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CDU 796.012
U505.51 – 20
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quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem
permissão escrita da Universidade Paulista.
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto
Revisão:
Talita Lo Ré
Elaine Pires
Ricardo Duarte
Sumário
Fisiologia do Exercício
APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................9
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................9
Unidade I
1 RECUPERAÇÃO APÓS O EXERCÍCIO FÍSICO............................................................................................ 11
1.1 Débito de oxigênio................................................................................................................................ 11
1.1.1 Componentes alático e lático do débito de oxigênio............................................................... 12
1.1.2 Efeito do consumo excessivo de oxigênio após o exercício físico e taxa
metabólica de repouso no gasto energético........................................................................................... 13
1.1.3 Efeito do Epoc no aumento do gasto energético diário total com o
exercício resistido................................................................................................................................................ 15
1.1.4 Epoc e treinamento................................................................................................................................. 15
1.1.5 Efeitos agudo e crônico do exercício............................................................................................... 16
2 REPOSIÇÃO DAS RESERVAS ENERGÉTICAS DURANTE A RECUPERAÇÃO.................................. 16
2.1 Restauração de ATP + CP e débito alático de oxigênio......................................................... 17
2.2 Energética da restauração do fosfagênio.................................................................................... 18
2.3 Ressíntese do glicogênio muscular................................................................................................ 20
2.3.1 Depleção e reposição do glicogênio muscular: exercício contínuo de
longa duração...................................................................................................................................................... 20
2.3.2 Depleção e reposição do glicogênio muscular: exercício intermitente e de
curta duração....................................................................................................................................................... 21
2.3.3 Fatores fisiológicos relacionados com as diferenças na ressíntese do
glicogênio muscular.......................................................................................................................................... 21
2.3.4 Energética da ressíntese do glicogênio muscular...................................................................... 22
2.3.5 Supercompensação do glicogênio muscular................................................................................ 23
3 REMOÇÃO DO ÁCIDO LÁTICO DO SANGUE E DOS MÚSCULOS..................................................... 24
3.1 Velocidade de remoção do ácido lático....................................................................................... 25
3.2 Efeitos do exercício durante a recuperação sobre a velocidade de remoção
do ácido lático................................................................................................................................................ 25
3.3 Destino do ácido lático: fisiologia da remoção do ácido lático......................................... 26
4 RESTAURAÇÃO DAS RESERVAS DE OXIGÊNIO..................................................................................... 28
4.1 Reservas de O2‑mioglobina............................................................................................................... 28
4.2 Dimensão e importância das reservas de O2‑mioglobina..................................................... 28
Unidade II
5 EFEITOS FISIOLÓGICOS DO TREINAMENTO FÍSICO.............................................................................. 31
5.1 Alterações bioquímicas....................................................................................................................... 31
5.1.1 Alterações aeróbias................................................................................................................................. 31
5.1.2 Alterações anaeróbias............................................................................................................................ 33
5.2 Alterações relativas nas fibras de contração rápida e lenta................................................ 34
6 ALTERAÇÕES CARDIORRESPIRATÓRIAS (SISTÊMICAS)...................................................................... 35
6.1 Alterações cardiorrespiratórias em repouso............................................................................... 35
6.1.1 Alterações na hipertrofia cardíaca.................................................................................................... 35
6.1.2 Menor FC..................................................................................................................................................... 38
6.1.3 Maior volume de ejeção ou sistólico............................................................................................... 40
6.1.4 Alterações no volume sanguíneo e na hemoglobina................................................................ 42
6.1.5 Alterações na densidade capilar e hipertrofia do músculo cardíaco.................................. 47
6.2 Alterações durante o exercício submáximo................................................................................ 47
6.2.1 Nenhuma modificação ou ligeira redução no consumo de oxigênio................................ 47
6.2.2 Redução na utilização do glicogênio muscular.......................................................................... 48
6.2.3 Redução na produção de ácido lático (aumento no limiar aeróbio).................................. 49
6.2.4 Nenhuma alteração ou ligeira redução no débito cardíaco................................................... 50
6.2.5 Maior volume de ejeção........................................................................................................................ 50
6.2.6 Redução da FC.......................................................................................................................................... 52
6.2.7 Alterações no fluxo sanguíneo muscular....................................................................................... 54
6.3 Alterações durante o exercício máximo....................................................................................... 54
6.3.1 Aumento na potência aeróbia máxima (VO2máx.)......................................................................... 55
6.3.2 Maior débito cardíaco............................................................................................................................ 56
6.3.3 Maior volume de ejeção........................................................................................................................ 56
6.3.4 Nenhuma alteração ou ligeira redução na FC............................................................................. 56
6.3.5 Maior produção do ácido lático......................................................................................................... 56
6.3.6 Nenhuma modificação no fluxo sanguíneo muscular............................................................. 57
Unidade III
7 EXERCÍCIO E SISTEMA ENDÓCRINO.......................................................................................................... 60
7.1 Características da ação hormonal.................................................................................................. 60
7.2 Especificidade da ação hormonal................................................................................................... 60
7.3 Mecanismos da ação hormonal...................................................................................................... 61
7.4 Controle da secreção hormonal...................................................................................................... 62
7.5 Hormônios e suas glândulas............................................................................................................. 63
7.5.1 Glândula pituitária ou hipófise.......................................................................................................... 63
7.5.2 Glândulas suprarrenais.......................................................................................................................... 64
7.5.3 Pâncreas....................................................................................................................................................... 67
7.5.4 Glândula tireoide..................................................................................................................................... 68
7.5.5 Glândulas paratireoides......................................................................................................................... 68
7.5.6 Ovários e testículos................................................................................................................................. 68
8 RESPOSTAS HORMONAIS AO EXERCÍCIO E TREINAMENTO............................................................ 69
8.1 Hormônio do crescimento (GH)...................................................................................................... 69
8.1.1 Mecanismos de ação do GH................................................................................................................ 70
8.1.2 Metabolismo lipídico.............................................................................................................................. 74
8.1.3 Efeitos do exercício físico sobre o GH............................................................................................. 75
8.2 Hormônios tireoidianos e paratireoidianos................................................................................ 79
8.3 Hormônio antidiurético (ADH) e aldosterona............................................................................ 80
8.4 Eritropoietina.......................................................................................................................................... 82
8.5 Hormônios insulina e glucagon...................................................................................................... 83
8.6 Catecolaminas: adrenalina e noradrenalina............................................................................... 86
8.7 Adrenocorticotropina (ACTH) e glicocorticoides (cortisol)................................................... 88
8.8 Gonadotropinas..................................................................................................................................... 90
8.9 Prolactina.................................................................................................................................................. 91
8.10 Oxitocina................................................................................................................................................ 91
8.11 Testosterona.......................................................................................................................................... 92
8.12 Estrogênios............................................................................................................................................ 92
APRESENTAÇÃO
Esta disciplina tem como objetivo geral fornecer conhecimentos sobre as respostas fisiológicas a um
estresse (atividade física ou exercício físico), dando subsídios e ampliando as habilidades dos futuros
profissionais de Educação Física e Esporte para a elaboração e prescrição do exercício físico.
Assim, neste livro‑texto serão abordados os seguintes temas: (1) a recuperação após o exercício
físico; (2) os efeitos fisiológicos do treinamento físico nas adaptações cardiorrespiratórias em repouso e
durante o exercício submáximo e máximo; e (3) o exercício físico e o sistema endócrino.
Ao término deste curso, o aluno terá uma ampla visão dos mecanismos de recuperação e das
adaptações, morfológicas e funcionais, responsáveis pela evolução do treinamento físico.
Todos esses assuntos são de extrema importância para a vida profissional do educador físico,
permitindo não apenas melhores resultados em equipes e programas de atividades, mas também a
proteção da saúde da população e dos atletas.
INTRODUÇÃO
Se lhes pedissem para escolher um termo que pudesse ser considerado um denominador comum
para todas as fases da Educação Física e do Esporte, qual seria ele? Energia é o termo mais apropriado.
Por essa razão, aliás, é que se considera a bioenergética um dos conceitos mais importantes da área a
ser dominado. Vejamos por que essa afirmação pode ser verdadeira.
É por meio da liberação de energia que um músculo é capaz de se contrair e gerar movimento.
A maneira pela qual os depósitos de energia são depletados (consumidos) depende essencialmente
da aptidão física da pessoa e do tipo de atividade física que está sendo realizada. Você pode
aprimorar o desempenho mediante programas de treinamento, modificando ou aumentando os
depósitos de energia. O tipo de programa elaborado exigirá conhecimento acerca da depleção e da
reposição desses depósitos de energia em relação à atividade específica a ser realizada.
O alimento constitui nossa fonte indireta de energia. Dentro do corpo, ele sofre uma profunda
série de reações químicas (denominadas, coletivamente, de vias metabólicas) . Esse processo
resulta na formação de um composto denominado adenosina trifosfato (ATP), que constitui
a fonte direta de energia para o corpo (durante a atividade física, os depósitos de energia se
esgotam, resultando em fadiga).
9
FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO
Unidade I
1 RECUPERAÇÃO APÓS O EXERCÍCIO FÍSICO
Sabemos todos que, durante a recuperação após um exercício físico, nossa demanda (necessidade)
energética é consideravelmente menor, pois não estamos mais nos exercitando. Entretanto, nosso
consumo de oxigênio continua num nível relativamente alto por um certo período de tempo, cuja
duração depende da intensidade do exercício praticado.
A quantidade de oxigênio consumido (VO2) durante a recuperação (acima da quantidade que teria
sido consumida normalmente em repouso no mesmo espaço de tempo) é denominada débito de oxigênio.
O termo débito de oxigênio foi usado pela primeira vez em 1922, pelo fisiologista inglês Archibald Vivian
Hill, mesmo ano em que ele recebeu o Prêmio Nobel de Fisiologia (Medicina).
Demanda de O2
Déficit de O2
Epoc
Consumo de O2
Estado estável
Consumo de O2
Consumo de O2
em repouso
Figura 1 – Crescimento exponencial do VO2 durante o exercício e redução após o exercício físico
O conceito de débito de oxigênio, conforme emitido originalmente por Hill, significa que o
oxigênio consumido acima do nível de repouso pela musculatura esquelética durante a recuperação
é utilizado principalmente para proporcionar a energia destinada a restaurar o corpo (músculos) a
11
Unidade I
sua condição de pré‑exercício, incluindo o reabastecimento (reposição) das reservas energéticas que
foram depletadas (consumidas na musculatura) e a remoção de qualquer ácido lático acumulado
durante o exercício.
Muitos interpretam erroneamente o débito de oxigênio como o oxigênio extra consumido durante
a recuperação que está sendo usado para repor o oxigênio que foi emprestado de algum outro lugar
dentro do corpo durante o exercício. Na verdade, durante um exercício máximo, a depleção do oxigênio
armazenado no próprio músculo (em combinação com a mioglobina) e no sangue venoso mal chega a
perfazer 0,6 litro.
Por outro lado, já se observam débitos de oxigênio quase 30 vezes maiores que esse em atletas
durante um exercício máximo.
Sabe‑se que o consumo de oxigênio, após um exercício exaustivo, cai exponencialmente com o
tempo. Isso equivale a dizer que a velocidade com que o oxigênio é consumido não é constante durante
todo o transcorrer do período de recuperação. Nos primeiros dois ou três minutos de recuperação,
o consumo de oxigênio diminui muito rapidamente e, a seguir, mais lentamente, até alcançar uma
velocidade constante. A porção inicial rápida do débito de oxigênio foi denominada componente alático
do débito de oxigênio e pode ocorrer dentro de uma hora, enquanto a fase mais lenta recebeu o nome
de componente lático do débito de oxigênio.
O componente lático foi assim denominado pelo fato de, naquele tempo, admitir‑se que o
oxigênio consumido durante essa fase do débito estivesse quantitativamente relacionado com a
remoção do ácido lático acumulado no sangue e nos músculos durante o exercício. O termo alático
(em que o prefixo “a” significa “não”) foi usado por se ter constatado que o oxigênio consumido
durante a porção rápida do débito era independente da remoção de ácido lático durante a
recuperação.
Antigamente admitia‑se que todo o débito de oxigênio era de natureza lática, isto é, que resultava
da remoção do ácido lático acumulado durante o exercício, então, em 1933, foi demonstrado pela
primeira vez que se podia contrair um débito de oxigênio na ausência de acúmulo de ácido lático.
Observação
12
FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO
Saiba mais
1.1.2 Efeito do consumo excessivo de oxigênio após o exercício físico e taxa metabólica
de repouso no gasto energético
O gasto energético diário pode ser dividido em três componentes: taxa metabólica de repouso (TMR),
efeito térmico do alimento e gasto energético associado com a atividade física.
A atividade física promove aumento do gasto energético total, tanto de forma aguda
quanto de forma crônica. A primeira condição refere‑se ao próprio gasto energético durante
a realização do exercício físico e durante a fase de recuperação, já a segunda refere‑se às
alterações da TMR.
No que diz respeito ao efeito agudo, está bem estabelecido que, após o término do exercício, o
consumo de oxigênio não retorna aos valores de repouso imediatamente. Como vimos, essa demanda
energética durante o período de recuperação após o exercício é o que chamamos de Epoc.
Vários trabalhos têm analisado a contribuição do Epoc para programas de emagrecimento, visto
que esse é o resultado de um balanço energético diário negativo entre consumo e gasto energético.
Experimentos já haviam considerado o Epoc um importante fator no controle do peso, uma vez que
o exercício demanda uma energia extra além da prevista na atividade física. Em corroboração, outros
estudos relataram que a magnitude do metabolismo elevado durante a recuperação tem implicação
importante na prescrição de programas de redução ponderal.
A redução ponderal também está relacionada às alterações crônicas da atividade física, ou seja, da
TMR. A TMR é definida como o gasto energético necessário à manutenção dos processos fisiológicos no
estado pós‑absortivo, chegando a compreender de 60% a 70% do gasto energético total, dependendo
do nível do exercício físico.
13
Unidade I
O Epoc aumenta linearmente com a duração do exercício físico, porém, a intensidade do exercício
físico parece afetar tanto a magnitude quanto a duração do Epoc; já a duração do exercício físico afeta
apenas a duração do Epoc (GORE; WITHERS, 1990).
Dessa forma, os estudos têm sugerido que o exercício físico de maior intensidade produz uma
elevação mais prolongada no Epoc do que exercícios físicos de intensidades menores em razão de
estes causarem maior estresse metabólico, sendo necessário, então, um maior dispêndio de energia
para retornar à condição de homeostase. Além disso, um maior nível de atividade do sistema nervoso
simpático estimulado pelas catecolaminas também pode contribuir para elevar a taxa metabólica
pós‑exercício, visto que os hormônios epinefrina e norepinefrina estimulam a respiração mitocondrial e
a função celular, facilitando a passagem de sódio e potássio através da membrana celular, aumentando
a produção de ATP e o uso de oxigênio.
Após o exercício físico, existe um aumento de 20% a 35% na responsividade lipolítica no adipócito.
Contudo, a taxa de oxidação de lipídios ainda é maior após um exercício de alta intensidade, uma vez que
a síntese de glicogênio é aumentada para repor o glicogênio utilizado. A oxidação de lipídios também
está associada com o aumento de turnover dos ácidos graxos livres; concomitantemente, o aumento do
turnover de proteína também pode contribuir para um maior Epoc. Além desses fatores, o exercício de
maior intensidade está associado com uma maior ressíntese de hemoglobina e mioglobina e parece estar
associado também, só que de forma inversa, com as taxas de obesidade.
Porém, deve‑se ressaltar que o Epoc é relativamente curto após exercícios de intensidades e duração
moderada (inferior a 70% do volume máximo de oxigênio, VO2máx., e/ou inferior a 60 minutos), visto que
a magnitude do Epoc após o exercício aeróbio depende de ambos os fatores (intensidade e duração do
exercício físico). Por outro lado, exercícios com duração superior a 60 minutos e/ou com intensidades
superiores a 70% do VO2máx. parecem estar relacionados a um Epoc prolongado.
14
FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO
Tem sido proposto ainda que, para as pessoas que querem emagrecer, a magnitude do Epoc (custo
energético) é mais importante que a duração da atividade em si.
Lembrete
1.1.3 Efeito do Epoc no aumento do gasto energético diário total com o exercício resistido
Dois fatores têm sido atribuídos ao fato de o exercício resistido produzir mais Epoc. O primeiro
refere‑se às respostas hormonais que podem alterar o metabolismo, especificamente catecolaminas,
cortisol e GH. O segundo refere‑se ao dano tecidual acompanhado do estímulo para a hipertrofia
tecidual, pois a síntese proteica é diminuída durante o exercício em si, mas, após o exercício,
existe um fenômeno compensatório, em que o turnover de proteína parece ser estimulado. Além
disso, o processo de síntese de proteína exige alta demanda energética (seis ATPs por mol de
peptídio formado). Esse mecanismo pode também contribuir para uma longa estimulação do gasto
energético após o exercício físico.
Existem muitos mecanismos potentes pelos quais o exercício regular poderia facilitar a manutenção
ou a redução do peso corporal, como o aumento do gasto energético (GE) diário total, a redução
do apetite, o aumento da TMR, o aumento da massa livre de gordura, o aumento do efeito térmico
da refeição, o aumento do consumo excessivo de oxigênio após o exercício e o aumento da taxa de
mobilização e oxidação de gordura.
15
Unidade I
A TMR é o maior componente do gasto energético diário, sendo modificada por diversos fatores,
como hora do dia, temperatura, ingestão de alimentos, ingestão de cafeína, tipo de exercício e estresse.
A TMR diminui com a idade e com a redução da massa corporal, o que se deve, em parte, à diminuição
na massa magra e da atividade do sistema nervoso simpático.
Com relação aos efeitos agudos do exercício, Osterberg e Melby (2000) verificaram que o exercício
resistido aumenta a TMR por 16 horas (após o exercício) em aproximadamente 4,2%, sugerindo um
aumento de cerca de 50 Kcal/dia na TMR com o exercício físico. Outro estudo, de Melby et al. (1993),
verificou que a TMR na manhã seguinte após um exercício resistido foi 4,7% maior que o mensurado na
manhã antes do exercício.
É fácil responder à primeira pergunta. Lembre‑se que existem duas fontes de energia que são
depletadas, em graus variáveis, durante o exercício: (1) os fosfagênios ATP e CP armazenados
nas células musculares e (2) o glicogênio estocado em grandes quantidades nos músculos,
assim como no fígado, que funciona como importante fonte de combustível durante a maioria
das atividades que consistem em exercício. Se você ficar surpreso por não termos incluído as
gorduras em nossa lista, a razão está no fato de elas não serem reconstituídas diretamente
durante a recuperação, mas refeitas apenas indiretamente, graças à reposição dos carboidratos
(glicose e glicogênio).
Não nos preocupemos em excesso com esse último ponto. Iremos, ao responder à segunda pergunta,
concentrar‑nos na reposição das outras duas fontes energéticas: ATP‑CP e glicogênio.
16
FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO
Déficit
de O2 Componente
rápido
VO2 do
exercício VO2 da recuperação
Déficit
de O2
Componente lento
Componente rápido
VO2 do
exercício VO2 da
recuperação
VO2máx
Déficit
de O2 Componente rápido
Componente lento
Consumo de
oxigênio
VO2 do
exercício VO2 da
recuperação
A medição direta das reservas de fosfagênio no músculo esquelético é bastante complexa, entretanto,
vários estudos envolvendo tal processo mostraram que a maior parte de ATP e CP depletada no músculo
durante o exercício é restaurada muito rapidamente, isto é, dentro de poucos minutos após o término
do exercício.
17
Unidade I
Os resultados de um dos primeiros estudos feitos por Hultman, Bergstrom e Anderson (1967)
envolveram indivíduos que pedalavam em uma bicicleta ergométrica por 10 minutos. Amostras de
tecido muscular eram retiradas do vasto lateral por meio de biopsia por agulha, antes do exercício
e em vários momentos durante a recuperação e, a seguir, analisadas para as concentrações de ATP
e CP. O estudo mostrou que a restauração de fosfagênio é muito rápida, de dois a quatro minutos,
e torna‑se mais lenta, alcançando 70% do total, dentro de 30 segundos, ficando completa (ou seja,
100%) entre três e cinco minutos.
Em outro estudo feito foi examinada apenas a restauração da fosfocreatina muscular (CP),
novamente no vasto lateral, durante a recuperação após um exercício exaustivo na bicicleta
ergométrica. Nessas experiências, a restauração da CP foi examinada sob duas condições diferentes
de recuperação: (1) quando o músculo em estudo recebia um fluxo sanguíneo normal e (2) quando o
fluxo sanguíneo para os músculos era ocluído. Os resultados mostraram que, com a circulação normal
de sangue aos músculos, a restauração da CP é muito rápida no início da recuperação e, a seguir, muito
mais lenta. Por exemplo, após dois minutos de recuperação, 84% da CP depletada durante o exercício
se apresentava restaurada, com uma restauração de 89% após 4 minutos. Após 8 minutos, 97% da
CP muscular estava restaurada. Apesar de a restauração completa da CP ter sido ligeiramente mais
demorada na última experiência, os achados confirmam essencialmente os estudos anteriores, pois a
maior parte dos depósitos musculares de ATP e CP depletados durante o exercício é restaurada dentro
de poucos minutos de recuperação. Além disso, os resultados dos estudos nos quais os fosfagênios
musculares foram medidos diretamente concordam com os outros estudos relacionados, indireta ou
teoricamente, com a restauração dos fosfagênios.
A energia ATP necessária para a restauração dos fosfagênios é fornecida principalmente pelo sistema
aeróbio, graças ao oxigênio consumido durante o componente alático do débito de oxigênio. Vamos
lembrar que, quando o fluxo sanguíneo e, consequentemente, o fornecimento de oxigênio era ocluído
durante a recuperação, não ocorria nenhuma ressíntese da CP. Não obstante, recentemente foi sugerido
que uma pequena parte da energia necessária para a restauração do fosfagênio pode ser conseguida
também sem oxigênio, por meio da glicólise anaeróbia.
De qualquer forma, a energia aeróbia de que se passa a dispor graças à reposição do fosfagênio
provém da desintegração de carboidratos e gorduras em CO2 e H2O no ciclo de Krebs e no sistema de
transporte de elétrons. Parte do ATP assim ressintetizado é armazenada diretamente nos músculos,
enquanto outra parte é desintegrada imediatamente, com a energia liberada sendo utilizada para a
ressíntese da CP. A seguir ocorre também o armazenamento da CP no músculo.
É importante enfatizar que a CP só pode ser ressintetizada em reações acopladas por meio da
energia liberada quando o ATP é desintegrado. Em outros termos, o ATP, porém não a CP, é ressintetizado
diretamente com base na energia liberada pela desintegração dos alimentos.
Já que a maior parte da energia para a restauração do fosfagênio provém do débito alático de
oxigênio, é também refeita muito rapidamente, e isso leva, no máximo, cerca de três minutos para se
18
FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO
processar completamente. A velocidade dessa reposição pode ser calculada com base na análise da
curva de consumo de oxigênio durante os primeiros poucos minutos de recuperação. Quando calculado
dessa forma, o tempo de meia‑reação dessa reposição é de aproximadamente 30 segundos. Isso significa
que, em 30 segundos, metade do débito alático total é pago; em um minuto, 3/4; em um minuto e
meio minuto, 7/8; e, em três minutos, 63/64. Entretanto, como acabamos de assinalar, a verdadeira
velocidade com a qual as reservas de ATP e CP são reabastecidas é ligeiramente maior, isto é, com 70%
(e não apenas 50%), sendo restaurados em 30 segundos. A razão dessa discrepância está no fato de que
a quantidade de oxigênio consumido durante a recuperação inclui não apenas aquela necessária para
refazer as reservas de ATP e CP, mas também (1) uma certa quantidade de oxigênio extra necessária
para repor as reservas depletadas (cerca de 0,6 litro de oxigênio num exercício máximo), (2) cerca de
50 ml de oxigênio extra exigido pelos músculos respiratórios e pelo coração ainda ativados e (3) uma
certa quantidade de oxigênio extra exigido pelo corpo em geral, em virtude do aumento da temperatura
tecidual. Com essas correções, o tempo de meia‑reação fica ao redor de 20 segundos, o que concorda
plenamente com a verdadeira velocidade de restauração do fosfagênio, determinada pela análise de
amostras musculares.
Quanto maior tiver sido a depleção de fosfagênio durante o exercício, maior será a quantidade
de oxigênio exigida para a restauração durante a recuperação. Por causa disso, essas duas
quantidades, referentes à restauração do fosfagênio e ao débito alático de oxigênio, devem ser
relacionadas. Tal relação se baseia no fato de serem necessários 3,45 litros de oxigênio para a
produção de um mol de ATP, dado que foi utilizado para avaliar indiretamente a capacidade
máxima do fosfagênio em homens e mulheres.
O valor máximo do débito alático de oxigênio oscila entre dois e três litros de oxigênio em homens
destreinados, com valores mais altos associados a atletas bem treinados. Por exemplo, débitos aláticos
de oxigênio superiores a seis litros já foram registrados em remadores competitivos do sexo masculino.
Observação
19
Unidade I
Por cerca de cinquenta anos, acreditou‑se que os depósitos musculares de glicogênio depletados
durante o exercício eram ressintetizados com base no ácido lático, durante o período de recuperação
imediata (de uma a duas horas) após o exercício. Atualmente, sabe‑se que isso não é verdade.
A reposição plena das reservas musculares de glicogênio após o exercício leva várias horas, até dias,
de acordo com dois fatores: (1) o tipo de exercício realizado (e que causou a depleção do glicogênio) e
(2) a quantidade de carboidratos dietéticos consumida durante o período de recuperação.
Existem dois tipos de exercícios que foram utilizados para estudar a depleção e a reposição do
glicogênio muscular: (1) atividades contínuas (longa duração e intensidade moderada) e (2) atividades
intermitentes (curta duração e alta intensidade). Nossa discussão será concentrada nesses dois tipos de
exercícios e incluirá, em cada um deles, uma análise da influência da ingestão dietética de carboidratos.
• a ressíntese completa do glicogênio muscular após um exercício de resistência requer uma alta
ingestão dietética de carboidratos por um período de recuperação de dois dias (46 horas);
• sem uma alta ingestão de carboidratos, apenas uma pequena quantidade de glicogênio é
ressintetizada até mesmo num período de cinco dias;
• a reposição de glicogênio muscular após uma dieta rica em carboidratos é mais rápida durante
as primeiras horas de recuperação depois de um exercício de resistência, alcançando um total
de 60% em 10 horas.
Observação
Foram realizados vários estudos nos quais a reposição do glicogênio muscular foi examinada após exercício
intermitente (intenso) e de curta duração. Em um dos estudos, o exercício consistia em pedalar uma bicicleta
ergométrica com cargas muito altas por intervalos de um minuto, com três minutos de repouso entre as séries.
Esse padrão era continuado até que os indivíduos chegassem à exaustão e fossem incapazes de suportar até
mesmo 30 segundos de movimento durante uma das séries de exercícios. Durante o período de recuperação,
consumia‑se uma dieta mista normal ou uma dieta rica em carboidratos. Em outro estudo, os indivíduos
realizavam três séries de exercícios exaustivos de um minuto, novamente numa bicicleta ergométrica, com
quatro minutos de repouso entre as séries. A recuperação era acompanhada apenas por 30 minutos, tempo
durante o qual nenhum alimento era consumido pelos indivíduos. Chegou‑se às seguintes conclusões acerca
da ressíntese do glicogênio muscular após um exercício intermitente:
• uma quantidade significativa de glicogênio muscular pode ser ressintetizada entre 30 minutos e
duas horas de recuperação e na ausência de ingestão alimentar (carboidratos);
• a ressíntese completa do glicogênio muscular não requer uma ingestão de carboidratos superior
à normal;
• com uma dieta quer normal ou rica em carboidratos, a ressíntese completa do glicogênio muscular
requer um período de 24 horas;
O fato de quantidades significativas de glicogênio muscular poderem ser ressintetizadas em até duas
horas de recuperação após a realização de exercícios intensos e de curta duração, sem a necessidade de
suplementação de carboidratos, também é importante para o conhecimento do técnico e comporta uma
aplicação para o atleta de modalidades esportivas de velocidade, os quais, com frequência, competem
várias vezes num só dia (por exemplo, provas de pista e natação ou torneios de ginástica, lutas e basquete).
Por que a ressíntese do glicogênio muscular é diferente dependendo do tipo de exercício realizado
(exercício contínuo e intensidade moderada versus exercício intermitente e alta intensidade)? Não conhecemos
inteiramente a resposta para essa pergunta, entretanto, existem vários fatores que podem estar implicados.
21
Unidade I
Um deles pode estar relacionado com a quantidade global de glicogênio depletado durante o
exercício físico: por exemplo, com o exercício contínuo foi depletada uma quantidade de glicogênio
quase duas vezes maior que com o exercício intermitente. Assim, com menos glicogênio global a ser
ressintetizado, será necessário menos tempo. Essa ideia é apoiada pelo fato de que, nas primeiras 24
horas de recuperação, foi ressintetizada aproximadamente a mesma quantidade total de glicogênio,
independentemente de o exercício precedente ter sido contínuo ou intermitente.
Outro fator que pode ser importante diz respeito à disponibilidade de precursores do glicogênio.
Para sintetizar glicogênio (assim como qualquer composto), deve‑se dispor também de quantidades
adequadas de seus constituintes (precursores). Os precursores comuns do glicogênio são o ácido lático,
o ácido pirúvico e a glicose (para citarmos apenas alguns). O fígado e os músculos, onde começa a
maior parte da ressíntese, terão que dispor dessas substâncias. Após um exercício contínuo (longa
duração), a maioria desses precursores é encontrada em quantidades limitadas, enquanto após um
exercício intermitente (alta intensidade), em geral, existem em quantidades normais ou até superiores
às normais. Portanto, após um exercício intermitente, a síntese do glicogênio começa mais cedo. Além
disso, essa ideia ajuda a explicar por que a ingestão dietética de carboidratos é necessária após um
exercício contínuo (longa duração), mas não após um exercício intermitente (alta intensidade), assim
como por que uma ingestão de carboidratos superior à normal não acelera a ressíntese do glicogênio
após um exercício intermitente.
Um fator final que pode ajudar a explicar as diferenças na ressíntese do glicogênio após
várias espécies de exercícios poderia estar relacionado com os diferentes tipos de fibras
musculares. A maioria dos músculos humanos contém dois tipos básicos de fibras: a fibra de
contração rápida (CR), que é recrutada preferencialmente durante a realização de trabalhos
de curta duração e alta intensidade (como os exercícios intermitentes que estão sendo aqui
discutidos), e uma fibra de contração lenta (CL), que é utilizada preferencialmente durante
os exercícios contínuos e prolongados. Existem evidências sugerindo que a ressíntese de
glicogênio nas fibras CR é mais rápida que nas fibras CL. Consequentemente, é de se esperar
que a ressíntese do glicogênio seja mais rápida após os exercícios intermitentes, pois as fibras
CR são usadas em maior proporção nesse tipo de atividade que no exercício de resistência.
A ressíntese do glicogênio implica uma série de complexas reações químicas, cada qual exigindo
enzimas específicas. Nesse momento, não precisamos discutir detalhadamente essas reações, porém,
convém esclarecer que esse processo requer energia que, em sua maior parte, chega na forma
de ATP gerado pelo sistema aeróbio. Parte dessa demanda energética poderia ser recebida por
meio do oxigênio consumido durante o componente lático do débito de oxigênio, entretanto, isso
seria verdade apenas para o glicogênio ressintetizado durante o período imediato de recuperação
pós‑exercício (de uma a duas horas), pois o débito lático, em geral, é pago nessa oportunidade.
Além disso, convém mencionar que ainda não foi determinada, experimentalmente, uma relação
quantitativa entre a ressíntese do glicogênio durante a recuperação e a energia ATP fornecida pelo
componente lático do débito de oxigênio.
22
FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO
Deve‑se manter um certo grau de cautela sempre que se tenta a sobrecarga de glicogênio. Dos
procedimentos descritos anteriormente, o terceiro é mais difícil de ser adotado, particularmente numa base
semanal. Além disso, esse procedimento, no qual a depleção de glicogênio induzida por exercício é seguida por
uma dieta rica em proteína e gordura, produz uma certa sensação de fadiga. Portanto, para as competições
semanais, é sugerido qualquer um dos outros dois procedimentos; o método mais difícil para a sobrecarga
com glicogênio deve ficar reservado para as competições mais importantes, como as partidas de campeonato.
23
Unidade I
Outra preocupação a ser adotada na sobrecarga com glicogênio e que foi enfatizada em alguns
estudos anteriores é a possibilidade de uma ingestão reduzida de niacina durante a dieta rica em
carboidratos. Niacina é uma vitamina que funciona no corpo como coenzima para o sistema do oxigênio.
Observação
Em um estudo, observou‑se uma redução no VO2máx. (cerca de 8% a 10%) após a dieta rica em
carboidratos. Concluiu‑se que a menor ingestão de niacina durante o procedimento para sobrecarga
com glicogênio pode deteriorar a potência aeróbia máxima. Embora isso seja possível, sua verificação
ainda requer mais pesquisas.
Seja qual for o procedimento utilizado, a sobrecarga com glicogênio resulta num maior
armazenamento muscular de água. Assim, essa sobrecarga do músculo costuma estar associada a
uma sensação de rigidez e peso. Por exemplo, um aumento nos depósitos de glicogênio de 15 g/kg
para 40 g/kg em 20 quilogramas de músculo equivale a um aumento no glicogênio de 450 gramas
e a um aumento na água de 1.350 gramas, totalizando um aumento no peso de 1.800 gramas. Para
alguns atletas isso pode ser suficiente para criar uma sensação de peso extra ou rigidez, sensação
essa que, em vez de aprimorar, pode deteriorar o desempenho, causando cãibras musculares e
fadiga precoce. Essa é uma das razões pelas quais a sobrecarga com glicogênio não é recomendada
para velocistas e outros atletas de não resistência. A outra razão, evidentemente, relaciona‑se ao
fato de que os depósitos musculares de glicogênio normalmente não limitam as atividades de alta
intensidade e curta duração.
Inicialmente, lembramos que quando o ácido lático, que é um coproduto da glicólise anaeróbia,
se acumula nos músculos e no sangue, surge a fadiga. Portanto, a recuperação plena após exercícios
nos quais se acumularam grandes quantidades de ácido lático implica a remoção desse ácido tanto do
sangue quanto dos músculos que estiveram ativos durante o período precedente de exercício.
A seguir, temos algumas perguntas importantes relacionadas a esse processo e que precisam
ser respondidas:
• Quanto tempo terá que transcorrer para a remoção do ácido lático acumulado?
24
FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO
• Qual a relação entre a remoção de ácido lático durante a recuperação e o componente lático do
débito de oxigênio?
A evolução temporal da remoção do ácido lático do sangue e dos músculos é tratada em diversas
pesquisas. Em determinado estudo, o exercício consistiu em cinco séries de um minuto em uma bicicleta
ergométrica, concedendo‑se períodos de repouso de cinco minutos entre as séries de exercício. Durante
o período de recuperação, os indivíduos descansavam sentados na bicicleta (recuperação passiva).
Convém observar que era necessário transcorrer pelo menos uma hora de recuperação para remover a
maior parte do ácido lático acumulado.
O mesmo intervalo de tempo é também necessário após correr até a exaustão sobre uma esteira. Em
geral, pode‑se dizer que são necessários 25 minutos de recuperação passiva, após um exercício máximo,
para remover metade do ácido lático acumulado. Isso quer dizer que, após um exercício máximo, cerca
de 95% do ácido lático será removido em uma hora e 15 minutos de recuperação passiva.
Desse modo, no caso de exercícios físicos com intensidades submáximas, porém árduos, no qual
o acúmulo de ácido lático não é tão elevado, necessita‑se menos tempo para a remoção desse ácido
durante a recuperação.
Você provavelmente terá notado que, na discussão precedente, foi usada a expressão recuperação
passiva. Isso significa que os indivíduos descansavam durante toda a duração do período de
recuperação. Foi demonstrado que o ácido lático pode ser removido do sangue e dos músculos mais
rapidamente após um exercício de intenso a máximo recorrendo à realização de um exercício leve, em
vez de ficar apenas repousando durante todo o período de recuperação. Esse tipo de recuperação é
denominado recuperação ativa e se assemelha aos procedimentos de esfriamento que a maioria dos
atletas vinha praticando por muitos anos.
Em um estudo de Bonen e Belcastro (1976), indivíduos correram uma milha (1.600 metros) em
três dias separados. Foram utilizados três períodos de recuperação diferentes: (1) repouso, (2) exercício
contínuo constituído de um trote num ritmo autosselecionado e (3) exercício intermitente do tipo
praticado normalmente por atletas. Ambos os exercícios‑recuperações resultaram em aumentos
substanciais na velocidade de remoção do ácido lático do sangue, porém, a velocidade de remoção era
mais rápida durante a recuperação com trote contínuo. Com base nessa informação, parece sensato
aconselhar os atletas a se exercitarem continuamente durante todo o período de recuperação e não
apenas intermitentemente, como é sua prática normal.
Ainda em relação à remoção do ácido lático no período de recuperação, pode‑se fazer a seguinte
questão: com que intensidade o exercício deve ser realizado durante a recuperação a fim de promover
uma remoção ótima de ácido lático?
25
Unidade I
Falta mencionar mais um ponto: se a intensidade do exercício de recuperação for inferior ou superior
ao limite ótimo, o ácido lático é removido mais lentamente. De fato, convém destacar que, quando a
intensidade do exercício de recuperação é superior a 60% do VO2máx., a velocidade com que o ácido
lático é removido acaba sendo menor que durante a recuperação passiva. A razão disso é que, durante
o próprio exercício de recuperação, passa a ser produzido mais ácido lático.
Até aqui aprendemos que o ácido lático é removido do sangue e dos músculos durante a
recuperação após um exercício e que sua remoção é mais rápida durante a recuperação ativa do que
na recuperação passiva. Nossa próxima tarefa consiste em aprender o que acontece ao ácido lático e
por que sua remoção é mais rápida durante a recuperação ativa.
26
FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO
• Oxidação/conversão em CO2 e H2O: o ácido lático pode ser utilizado como combustível metabólico
para o sistema do oxigênio, predominantemente pelo músculo esquelético, porém o músculo
cardíaco, o cérebro, o fígado e o rim também são capazes de realizar essa função. Na presença de
oxigênio, o ácido lático é convertido primeiro em ácido pirúvico e, a seguir, em CO2 e H2O no ciclo
de Krebs e no sistema de transporte de elétrons, respectivamente. Evidentemente, no sistema de
transporte de elétrons, ocorre também a ressíntese de ATP por meio de reações acopladas.
Lembrete
Saiba mais
Para mais explicações sobre a remoção do ácido lático, você pode ler o
artigo indicado a seguir:
O uso do ácido lático como combustível metabólico para o sistema aeróbio é responsável pela maior
parte de sua remoção durante a recuperação após um exercício físico. Apesar de isso ser verdadeiro
tanto para a recuperação passiva quanto para a ativa, a oxidação é responsável por mais remoção do
ácido lático na forma da recuperação ativa.
Como acabamos de mencionar, sabe‑se que vários órgãos são capazes de oxidar o ácido lático,
entretanto, existe uma concordância bastante generalizada de que o músculo esquelético é o principal
órgão implicado nesse processo.
De fato, admite‑se que a maior parte do ácido lático oxidado pelo músculo o é dentro das fibras
de contração lenta e não naquelas de contração rápida. Essas são as principais razões de a remoção do
ácido lático ser mais rápida durante a recuperação ativa do que na recuperação passiva. Por exemplo, no
primeiro, tanto o fluxo sanguíneo que carreia ácido lático para os músculos quanto a taxa metabólica
dos músculos ativos estão grandemente aumentados. Além disso, o tipo de exercício utilizado durante
a maioria das recuperações ativas recruta preferencialmente fibras de contração lenta para a realização
desse tipo de trabalho.
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Unidade I
Sabe‑se que o oxigênio é armazenado dentro do corpo. Apesar de essas reservas serem pequenas,
elas se mostram importantes durante o exercício, particularmente o intervalado, pois são utilizadas
durante os períodos de trabalho e, a seguir, são repostas durante os períodos de repouso.
Como acabamos de mencionar, as reservas de O2‑mioglobina são pequenas. Por exemplo, calculou‑se
que apenas 11,2 mililitros (ml) de oxigênio são armazenados com a mioglobina por quilograma (kg) de
massa muscular. Admitindo‑se um total de 30 kg de massa muscular numa pessoa com 70 kg de peso
corporal, chega a perfazer cerca de 336 ml de oxigênio. Em atletas, que costumam possuir valores maiores
de massa muscular, os depósitos totais de O2‑mioglobina, apesar de mais volumosos, ainda assim podem
ser de apenas 500 ml. Entretanto, as reservas de O2‑mioglobina são importantes durante o exercício
intervalado, não em virtude de seu tamanho, mas por causa de sua rápida restauração durante os períodos
de recuperação. Isso permite sua utilização por diversas vezes durante os períodos de trabalho do exercício.
Para nossas finalidades atuais a respeito dos programas de treinamento físico, particularmente o
exercício físico de alta intensidade, por exemplo, os intervalados, a disponibilidade do oxigênio para
os músculos ativos é baixa. Consequentemente, o oxigênio que estava combinado com a mioglobina é
liberado para o músculo e acaba sendo entregue às mitocôndrias. Ocorre exatamente o contrário durante
a recuperação após um exercício. Aqui a disponibilidade de oxigênio aumenta muito, acarretando um
reabastecimento da mioglobina com oxigênio, processo esse que se admite levar apenas alguns poucos
segundos para se completar.
Resumo
Exercícios
D) Oxidação.
E) Conversão em proteínas.
Análise da questão
Os destinos possíveis para o ácido lático durante o período de recuperação são: 1) excreção
na urina e no suor; 2) conversão em glicose (fígado) e/ou glicogênio (fígado ou músculo);
3) conversão em proteína. A conversão em glicose e glicogênio acontece no fígado ou no
músculo, não no pâncreas.
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Unidade I
O ácido lático pode ser removido do sangue e dos músculos com maior ou menor rapidez após o
exercício físico.
PORQUE
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