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Ginástica Laboral
Autor: Prof. Sérgio Hiroshi Furuya de Carvalho
Colaboradores: Profa. Vanessa Santhiago
Prof. Marcel da Rocha Chehuen
Professor conteudista: Sérgio Hiroshi Furuya de Carvalho
Graduado em Educação Física pela Universidade de São Paulo (1990) e especialista em Educação a Distância pela
UNIP (2014). Possui mestrado em Administração de Empresas pela Fundação Getulio Vargas (1995).
Estuda ginástica laboral desde 1990. De início, como assunto de sua dissertação de mestrado, depois trabalhando
na área e escrevendo artigos e livros sobre o tema. Atualmente, é o responsável pela disciplina Ergonomia e Ginástica
Laboral na UNIP. Empreende projetos de ginástica laboral em empresas privadas e em convênios da UNIP com o TJSP
(Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo) e OMS/Opas (Organização Mundial/Pan-Americana da Saúde).
CDU 331.827
W500.62 –19
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
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permissão escrita da Universidade Paulista.
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)
Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto
Revisão:
Vitor Andrade
Ricardo Duarte
Sumário
Ergonomia e Ginástica Laboral
APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................9
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................9
Unidade I
1 HISTÓRIA E EVOLUÇÃO DO TRABALHO, DAS ORGANIZAÇÕES EMPRESARIAIS E DA
GINÁSTICA LABORAL.......................................................................................................................................... 11
1.1 História e evolução do trabalho e das organizações empresariais .................................. 11
1.2 Evolução da administração moderna........................................................................................... 15
1.3 História da ginástica laboral............................................................................................................. 18
1.4 Definições e benefícios da ginástica laboral.............................................................................. 19
1.4.1 Benefícios da ginástica laboral para os colaboradores............................................................ 20
1.4.2 Benefícios da ginástica laboral para as empresas...................................................................... 24
2 CARACTERÍSTICAS E EXIGÊNCIAS TÍPICAS DO TRABALHO.............................................................. 27
2.1 Tipificação do trabalho braçal, suas características e demandas...................................... 27
2.1.1 Atividades que requerem grande aplicação de força............................................................... 28
2.1.2 Movimentos repetitivos no trabalho braçal.................................................................................. 29
2.1.3 Desproporção entre exigências unilaterais................................................................................... 30
2.1.4 Muito tempo na posição em pé......................................................................................................... 31
2.1.5 Trabalho em posições forçadas.......................................................................................................... 32
2.1.6 Outras características do trabalho braçal...................................................................................... 33
2.2 Tipificação do trabalho administrativo, suas características e demandas..................... 33
2.2.1 Trabalho sentado e sedentarismo..................................................................................................... 34
2.2.2 Movimentos repetitivos........................................................................................................................ 35
2.2.3 Estresse e sobrecargas diversas.......................................................................................................... 36
3 ERGONOMIA....................................................................................................................................................... 36
3.1 Ergonomia do trabalho sentado..................................................................................................... 43
3.1.1 Posição de trabalho em terminais de computadores................................................................ 45
3.2 Ergonomia do trabalho em pé......................................................................................................... 47
3.3 Trabalho muscular estático e dinâmico....................................................................................... 48
3.4 Trabalho pesado e manuseio de cargas........................................................................................ 49
3.5 Norma Regulamentadora 17 (NR 17)........................................................................................... 51
3.6 Verificação ergonômica...................................................................................................................... 60
4 LER/DORT: LESÕES POR ESFORÇOS REPETITIVOS/DISTÚRBIOS OSTEOMUSCULARES
RELACIONADOS AO TRABALHO...................................................................................................................... 63
4.1 Definições................................................................................................................................................. 63
4.2 Prejuízos para as empresas................................................................................................................ 66
4.3 Principais quadros de LER/Dort....................................................................................................... 67
4.3.1 Tendinites.................................................................................................................................................... 69
4.3.2 Tenossinovites........................................................................................................................................... 69
4.3.3 Estrangulamento ou compressão de nervos................................................................................ 69
4.3.4 Bursites........................................................................................................................................................ 70
4.3.5 Lombalgias e cervicalgias..................................................................................................................... 70
4.4 Fatores contribuintes para desenvolvimento de LER/Dort................................................... 71
4.4.1 Presença de vibração nas atividades realizadas.......................................................................... 72
4.4.2 Alta repetitividade de movimentos.................................................................................................. 73
4.4.3 Postura incorreta ou forçada.............................................................................................................. 74
4.4.4 Necessidade de emprego de força para realizar as tarefas.................................................... 75
4.4.5 Fatores coadjuvantes.............................................................................................................................. 76
Unidade II
5 PROGRAMA DE GINÁSTICA LABORAL...................................................................................................... 80
5.1 Definição dos objetivos do programa........................................................................................... 80
5.2 Avaliação inicial..................................................................................................................................... 82
5.2.1 Reunião com os gestores...................................................................................................................... 82
5.2.2 Reunião com o médico do trabalho/departamento médico.................................................. 82
5.2.3 Reunião com os membros da Cipa................................................................................................... 82
5.2.4 Reunião com o setor de RH ............................................................................................................... 83
5.2.5 Contatos com os departamentos interessados........................................................................... 83
5.2.6 Aplicação de questionários ou entrevistas.................................................................................... 84
5.2.7 Observação in loco.................................................................................................................................. 86
5.3 Duração das sessões de ginástica laboral.................................................................................... 86
5.4 Locais para realização da ginástica laboral................................................................................ 88
5.5 Possibilidades de integração da ginástica laboral com outros programas
de incentivo à saúde e qualidade de vida do trabalhador........................................................... 89
5.5.1 Programas de ergonomia..................................................................................................................... 90
5.5.2 Academia in loco..................................................................................................................................... 91
5.5.3 Grupos de caminhada, ginástica ou corrida................................................................................. 92
5.5.4 Programa de nutrição ou combate à obesidade......................................................................... 92
5.5.5 Possibilidades de integração com outros programas de qualidade de vida
e saúde no trabalho........................................................................................................................................... 92
5.6 Planejamento do programa de ginástica laboral..................................................................... 94
6 PLANEJAMENTO DAS SESSÕES DE GINÁSTICA LABORAL................................................................ 97
6.1 Característica dos clientes................................................................................................................. 97
6.2 Planejamento do conteúdo da sessão de ginástica laboral...............................................100
6.3 Classificações da ginástica laboral...............................................................................................103
6.3.1 Ginástica de aquecimento ou preparatória................................................................................103
6.3.2 Ginástica de pausa................................................................................................................................104
6.3.3 Ginástica de fim de expediente.......................................................................................................104
Unidade III
7 IMPLANTAÇÃO DO PROGRAMA DE GINÁSTICA LABORAL.............................................................108
7.1 Sensibilização........................................................................................................................................108
7.2 Condução das sessões de ginástica laboral..............................................................................108
7.2.1 Organização pré-sessão......................................................................................................................108
7.2.2 Durante a sessão ................................................................................................................................... 110
7.3 Avaliação e controle das atividades............................................................................................113
7.3.1 Controle de frequência........................................................................................................................ 113
7.3.2 Adesão ao programa ........................................................................................................................... 114
7.3.3 Questionário de adequação das atividades................................................................................116
7.3.4 Verificações periódicas de resultados............................................................................................ 118
8 PROJETOS DE GINÁSTICA LABORAL E EMPREENDEDORISMO.....................................................120
8.1 Projetos de ginástica laboral..........................................................................................................120
8.2 Empreendedorismo.............................................................................................................................123
8.2.1 Características do empreendedor.................................................................................................. 125
8.2.2 Intraempreendedorismo.................................................................................................................... 129
8.2.3 Plano de negócio.................................................................................................................................. 130
APRESENTAÇÃO
As empresas modernas precisam otimizar seus recursos e produzir com mais eficiência.
Desde a Revolução Industrial até hoje, a situação modifica-se, impondo cada vez mais sobrecargas ao
trabalhador e gerando uma necessidade de cuidado com o fator humano na empresa, que é primordial
para as operações. Assim, a saúde dos trabalhadores torna-se uma preocupação constante.
A ergonomia e a ginástica laboral passam a ser ferramentas para amenizar tais sobrecargas, e cabe
ao profissional habilitado a atuar nessas áreas abrir portas para o exercício e o crescimento profissional
por meio do domínio técnico e do comportamento empreendedor.
INTRODUÇÃO
Como resposta a tal premência, inúmeras ações estão sendo tomadas, entre elas a aplicação
dos conceitos da ergonomia e da ginástica laboral. Essas iniciativas tornam mais aceitáveis as
exigências provenientes do trabalho, uma vez que buscam equilibrá-las e amenizá-las. Para Silva e
De Marchi (1997, p. 11):
Os profissionais da área da saúde habilitados para trabalhar com esses clientes têm a responsabilidade
de preparar-se para cumprir esse papel.
Serão estudados nesta disciplina os principais pontos que vão permitir o desenvolvimento
profissional: o conhecimento sobre as características das diversas condições de trabalho, os processos
deletérios advindos dessa necessidade humana e as possíveis intervenções profissionais para beneficiar
os trabalhadores.
Ao fim da disciplina, além do conhecimento adquirido, o aluno será confrontado com um desafio
maior: o desenvolvimento de projetos e de uma visão empreendedora, características desejadas pelo
mercado de trabalho, com as quais poderá aprender a diferenciar-se.
10
ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL
Unidade I
1 HISTÓRIA E EVOLUÇÃO DO TRABALHO, DAS ORGANIZAÇÕES EMPRESARIAIS
E DA GINÁSTICA LABORAL
A história revela as necessidades do passado que moldaram o panorama atual do trabalho e de suas
repercussões na saúde. É importante conhecer a evolução desse processo para entender a realidade do
presente e as carências e possibilidades do futuro.
O trabalho é uma necessidade humana. Mas a organização do trabalho nem sempre foi da forma
como é conhecida hoje. Pessoa, Cárdia e Santos, citados por Candotti, Stroschein e Noll (2011, p. 700),
enfatizam que as “mudanças e atualizações exigidas aos trabalhadores ocorrem em um ritmo muito
elevado, geralmente maior que a própria capacidade humana pode suportar”.
Com a evolução da espécie humana e de seus relacionamentos sociais, suas técnicas de cultivo
e criação de animais, foi possível assentar comunidades em locais férteis, e o aumento populacional
gerou novas demandas.
11
Unidade I
Aquele indivíduo, que antes era responsável por todo o longo processo, agora precisará produzir
diversas canoas para a população aumentada. Ele não terá mais o ano inteiro para fazer apenas
uma canoa em todas as suas etapas, mas vai se aperfeiçoar no conhecimento que apenas ele detém,
e deverá então designar a outras pessoas a tarefa de procurar árvores apropriadas, cortá-las e
carregá-las pela mata. Assim, o indivíduo qualificado vai receber vários troncos ao longo do ano
e poderá fazer várias canoas.
Portanto, apesar de não precisar mais fazer todo o trabalho sozinho (deixando de executar boa parte
do trabalho pesado), um indivíduo especializado vai realizar mais vezes a mesma tarefa (no exemplo
anterior, escavar o tronco para virar uma canoa). Ao fazer apenas o que domina melhor, vai repetir
os mesmos gestos com uma frequência elevada. O uso de ferramentas apropriadas à tarefa também
direciona o gesto (e suas repetições) de forma a buscar a eficiência, gerando, por sua vez, desgaste
muscular, articular e fisiológico repetidos.
12
ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL
Figura 3 – Cada função a ser executada possui uma característica que exigirá do corpo determinada força,
resistência, flexibilidade, potência etc. A chave da ginástica laboral é identificar as solicitações mais
importantes e agir para preparar o organismo e amenizar as sobrecargas
O uso de inovações tecnológicas também faz parte desse processo de especialização e evolução do
trabalho. Por exemplo, se um escravo precisava moer cana-de-açúcar em um engenho manual, que usava
força humana para prensar a cana, ao passar a utilizar uma moenda com tração animal, será possível
moer a cana em um tempo menor. Entretanto, certamente não será permitido que descanse durante
o tempo economizado. Ele irá, sim, moer uma quantidade de cana muitas vezes maior, multiplicando
o carregamento de fardos pesados em busca de uma maior produtividade.
Figura 4 – Nessa máquina de moer cana com tração animal, espera-se maior produtividade
do que no engenho manual, pois o ser humano não precisará fazer força para rodar a máquina,
mas passará a carregar muitos fardos de cana por dia, mais tonéis com o caldo da cana,
e haverá maior quantidade de bagaço a ser descartada etc.
A escravatura termina com a Lei Áurea (1888) e a industrialização prospera, com o advento da
máquina a vapor. Surgem as grandes indústrias, necessitando de mais mão de obra, porque a velocidade
de produção aumenta cada vez mais. A Revolução Industrial mudou para sempre a organização do
trabalho, tornando a produção em larga escala uma forma predominante de beneficiamento.
era alto e não disponível a pequenos produtores. Essa concentração gerou o adensamento das vilas
urbanas, caracterizando a mudança do modo de produção artesanal para o trabalho assalariado, inclusive
nos demais países da Europa e depois no Brasil. Ainda hoje é possível reconhecer algumas indústrias que
nasceram nessa época em diversas regiões de nosso país.
14
ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL
Saiba mais
15
Unidade I
Na evolução da administração, podemos citar autores importantes, como: Jules Henri Fayol (teoria
clássica da administração), Frederick Winslow Taylor (administração científica), Henry Ford (fordismo) e
Elton Mayo (relações humanas no trabalho).
Fayol (1841-1925), um engenheiro francês, foi um dos pioneiros em definir a administração como
forma de condução dos processos na empresa. Ele formulou os 14 princípios conhecidos como a base
da administração clássica:
• Centralização.
• Hierarquia: uma sequência determinada de autoridades, do primeiro nível até o nível mais inferior.
• Princípio da ordem.
• Equidade: tratar pessoas com benevolência e justiça no trabalho, mas usar o rigor e a disciplina
quando necessários.
• Estabilidade pessoal.
• Princípio de iniciativa.
Para Couto et al. (1998), o fordismo, implementado na década de 1920 e persistindo como
modo característico de trabalho por cerca de seis décadas, reuniu fatores que caracterizam
sobrecarga ao trabalhador:
(ii) ritmo do trabalho ditado pelo ritmo da esteira, com o tempo para
realização da tarefa alocado pelo engenheiro de tempos e métodos;
16
ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL
Quadro 1
Hierarquia de necessidades
Abraham Maslow
Década de 1940 Sentido do trabalho relacionado à
(teoria das necessidades)
satisfação das necessidades pessoais
Qualidade como percepção do cliente
Dr. Armand V. Feigenbaum
Década de 1950 Atingir padrões de qualidade é
(controle de qualidade total)
responsabilidade de todos
Consideração com pessoas e
equipamentos
Década de 1990 Administração participativa
Satisfação e necessidades dos
envolvidos no trabalho
17
Unidade I
Lembrete
A ginástica laboral tem seu início relacionado às alterações das condições de trabalho advindas
da Revolução Industrial. Uma de suas referências mais antigas é sua realização na Polônia em 1925
(CARVALHO, 2007), como uma pausa no trabalho para a execução de exercícios.
Há relatos da ginástica laboral no Japão em 1928 (SAMPAIO; OLIVEIRA, 2008), como forma de
ginástica preparatória para diminuir o estresse dos trabalhadores dos correios e promover qualidade
de vida a eles (RIMOLI apud FERREIRA; SANTOS, 2013). Após alguns anos, há registros na Rússia e na
Holanda, que usam exercícios diferenciados para cada necessidade dos trabalhadores (LIMA, 2008 apud
FERREIRA; SANTOS, 2013).
A Rádio Taissô foi uma das manifestações de ginástica coletiva praticada desde o início
do século passado no Japão, não só nas empresas, mas também nas escolas e pela população.
Havia música tocada em alto-falantes enquanto se repetiam exercícios básicos,
movimentando-se todos os segmentos corporais. Pode-se observar em algumas sequências
gravadas que há um crescente de mobilização corporal até culminar em algumas repetições de
polichinelos, e em seguida exercícios mais calmos para relaxar.
No Brasil, a prática foi trazida pelos imigrantes japoneses (LIMA, 2008 apud FERREIRA; SANTOS
2013). Na cidade e no estado de São Paulo, instituiu-se o dia 18 de junho como o Dia da Rádio Taissô
para preservar essa cultura.
Observação
No Brasil, os primeiros relatos de prática da ginástica laboral são em indústrias e no Banco do Brasil,
e registra-se no ano de 1969 a realização da ginástica laboral na indústria japonesa Ishikawajima,
de construção naval, no Rio de Janeiro (DEUTSCH apud FERREIRA, SANTOS, 2013). A primeira publicação
acadêmica do tema no Brasil foi realizada pela Feevale, em 1978 (CARVALHO, 2007).
18
ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL
Figura 8 – Além da ginástica laboral, as empresas buscam outras estratégias para melhorar a condição física
do trabalhador em favor da produtividade – por exemplo, montar uma academia dentro da própria empresa
Para Lima (2008 apud FIGUEIREDO; MONT’ALVÃO, 2008), a ginástica laboral é um conjunto de
práticas físicas elaboradas a partir da atividade profissional, visando compensar as estruturas mais
usadas durante o trabalho e ativar as que não são requeridas.
19
Unidade I
Para realizar uma sessão, pode-se utilizar o próprio espaço de trabalho dos funcionários quando
possível, ou fazer um deslocamento pequeno para usar uma área mais apropriada à prática, sem,
contudo, necessitar de instalação especializada, como uma quadra ou uma sala de ginástica.
Ginástica laboral não é o mesmo que ginástica em academia ou sessão de fisioterapia. Os objetivos
são mais específicos, voltados aos trabalhadores e a aspectos de prevenção, e a estratégia deve preservar
a possibilidade de retornar à rotina do trabalho logo após a sessão.
Para Dishman, O’Neal e Shephard (apud GRANDE; SILVA; PARRA, 2014, p. 55), a ginástica laboral
é uma
Normalmente, a procura e a oferta da ginástica laboral visam suprir alguma necessidade identificada
pela empresa, que seja alcançável através da diminuição de problemas relacionados às sobrecargas
impostas ao trabalhador.
A ginástica laboral não pode ter caráter obrigatório. Portanto, os colaboradores da empresa devem
ser constantemente conscientizados sobre os benefícios que pode trazer a eles individualmente, para
que tenham sua percepção e sua participação incentivadas. Não pode ser oferecida fora do horário de
trabalho, para que não configure legalmente que o funcionário está à disposição da empresa, tampouco
subtrair o tempo de suas pausas estabelecidas.
Pode-se dividir os benefícios da prática da ginástica laboral em dois grupos: os benefícios aos
colaboradores (trabalhadores) e à empresa.
Lembrete
A ginástica laboral tem sido utilizada para atingir objetivos diversos, em geral atuando em processos
fisiológicos ou psicossociais, que beneficiem a saúde do trabalhador. Pode-se compor um quadro com
os benefícios mais procurados:
20
ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL
Pode-se agrupar os benefícios aos trabalhadores listados como benefícios físicos gerais,
específicos (ligados ao trabalho) e benefícios psicológicos e sociais. Geralmente, cada um
deles está relacionado a condições que acabarão por auxiliar o rendimento do trabalhador e,
consequentemente, trazer vantagens às empresas.
Os benefícios físicos gerais estão associados à condição de saúde do trabalhador. Entre eles,
pode-se citar a sensação de melhor saúde geral e a possibilidade de melhor condicionamento
físico, muitas vezes aliada à mudança do comportamento sedentário para uma preocupação maior
com atividade física regular e aspectos de saúde.
O combate ao sedentarismo não é o foco da ginástica laboral na maioria dos programas, pois
não depende de exercícios específicos relacionados ao trabalho, mas sim de uma mudança no
comportamento também no tempo fora do trabalho e da empresa, e uma simples sessão de ginástica
laboral não é capaz de alterar esse quadro. Dependendo do programa, parte da comunicação
pode ser dedicada à sensibilização, orientação e compreensão das mudanças de comportamento
benéficas à saúde geral.
Observação
A diminuição de dores nas costas em trabalhadores que possuem
sobrecarga notável na região dorsal será buscada através de exercícios de
relaxamento, alongamento e às vezes até massageamento. Dessa forma,
o efeito da sobrecarga será combatido ou amenizado e haverá menor
chance de desconforto, dor, falta ao trabalho ou até afastamento por
esse motivo.
21
Unidade I
Pescoço 50%
47%
Ombros 60%
47%
Cotovelos 7%
7%
Joelhos 10%
10%
Pernas 57%
41%
22
ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL
Por outro lado, poder-se-ia presumir que a ginástica laboral contribui para aumento de força em
um operário que precisa carregar sacos de 50 kg de cimento em sua jornada de trabalho, mas devido
ao grande volume (intensidade e duração) já suportado, o trabalhador terá melhor aproveitamento
do tempo de pausa com exercícios de alongamento, compensação e relaxamento. Adicionar mais
sobrecarga é indesejável, pois a ginástica laboral não conseguirá produzir aumento de força devido à
sua curta duração.
Deve-se notar que os benefícios não são automáticos nem estão sempre todos presentes.
Dependendo da característica do programa, dos objetivos, das estratégias de trabalho e do
comportamento e comprometimento dos próprios participantes, o programa pode apresentar
variações nos resultados.
Os benefícios psicossociais advindos da prática da ginástica laboral podem ser associados aos
benefícios da prática de uma atividade física em grupo e à diminuição do desconforto provocado por
dores. Muito citados na literatura e ligados à prática de atividade física regular, podem estar presentes
em maior ou menor grau dependendo dos objetivos, da configuração do programa de ginástica laboral,
da interação do grupo e de outros fatores. Assim, podemos mencionar: melhor disposição, diminuição
do estresse, mais ânimo, maior satisfação, melhora do humor, aumento da autoestima, felicidade,
bem-estar e motivação e diminuição da ansiedade.
Os agentes estressores nas empresas podem ser externos (pressões conjunturais ou diretamente
relacionadas ao exercício da função) ou internos (como cobranças internas, competições ou frustrações
relacionadas ao trabalho ou colegas etc.), resultando no estresse ocupacional, como insatisfação,
desajuste ao trabalho e problemas de relacionamento (com colegas, clientes, chefias e subordinados).
Parte dessa carga estressora pode ser aliviada através de atividades do programa de ginástica laboral
planejadas para esse objetivo.
23
Unidade I
Todas as implicações da prática de ginástica laboral relatadas podem ter impacto positivo na
produtividade e lucratividade.
Os benefícios às empresas podem ser analisados sob alguns parâmetros. O primeiro poderia
ser a produtividade gerada por diminuição do absenteísmo (faltas ao trabalho), diminuição nos
afastamentos do trabalho e na duração dos afastamentos, menos acidentes de trabalho, diminuição
de ocorrência de LER/Dort (lesões por esforços repetitivos/distúrbios osteomusculares relacionados
ao trabalho).
O próximo fator que se pode analisar é um grupo de benefícios que tem a característica
comportamental de melhorar a produtividade e a qualidade, como diminuição do presenteísmo
(quando o trabalhador está presente, mas não se concentra no trabalho por estar com algo tirando
sua atenção – baixa concentração), melhoria do trabalho em equipe (melhor entrosamento,
promovendo melhor resultado), maior satisfação no trabalho, diminuição do turnover (taxa de
saída e reposição de funcionários e custos associados de treinamento) por estarem mais satisfeitos
no trabalho. A taxa de turnover alta significa altos custos de reposição de mão de obra, assim
como uma diminuição do tempo médio de experiência profissional do grupo, repercutindo na
qualidade de atendimento ou realização do serviço. Segundo Silva e De Marchi (1997), a instituição
de programas de promoção de saúde nas empresas contribui para que os indivíduos passem “a
gostar do trabalho [...] e a vestir a camisa da empresa”.
24
ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL
clientes, público externo em geral (população), profissionais da área, entre outros, irão enxergar
a empresa que investe na saúde dos trabalhadores como uma organização diferenciada do ponto
de vista social e de qualidade. Assim, essa visão externa torna-se um capital intangível de boas
práticas adotadas no mercado.
Ryan et al. (2018) estudaram a economia gerada por um programa de cuidado com a saúde realizado
em um hospital com 1.400 trabalhadores na Austrália. Nele, a ação principal era uma sessão diária de
6 minutos no início do turno de trabalho, permitindo que cada trabalhador tivesse um tempo para
si, realizando exercícios de alongamento, equilíbrio, fortalecimento, relaxamento, trabalho postural e
educação para a saúde, em um ambiente de interação social com outros trabalhadores.
Prevenção
Trabalhadores
sentem-se
valorizados pela
organização e
melhoram sua
saúde e sua aptidão
física
Suporte à saúde
na empresa
Atividades diárias
em grupo durante o
Intervenção período do trabalho Reabilitação
precoce
No local de trabalho,
Alterações
mantém relações pessoais
identificadas e
manejo proativo e identifica funções
adequadas
Figura 11 – Plano conceitual do programa estudado por Ryan et al. (2018). Em torno do triângulo central, representando o programa
diário de exercícios e educação, acoplam-se a prevenção e a valorização da saúde, as melhoras no reconhecimento precoce e no
manejo do problema e um trabalho de reabilitação mantendo as relações no próprio ambiente
Os principais resultados do estudo foram a diminuição de 30% em reivindicações por lesões, 57,5%
de diminuição em gastos e tratamentos médicos e 68% de redução nos dias perdidos até o retorno ao
trabalho, sendo o tratamento realizado com equipe e em ambiente conhecido um fator adicional de
acolhimento e manutenção das relações sociais durante esse período.
25
Unidade I
50
45
Número de reivindicações
40
35
30
25
20
15
10
0
Pré 3 Pré 2 Pré 1 Pós 1 Pós 2 Pós 3
Período
Ainda no estudo de Ryan et al. (2018), notou-se que o desenvolvimento do conhecimento corporal,
a sensibilização dos trabalhadores e a identificação precoce de problemas possibilitada por esses fatores
fizeram crescer 45% o número de incidentes reportados ou indicadores de problemas de saúde, mas foi
totalizada uma queda real de 46% nos custos de gastos com saúde considerados.
1800
1600
Dias de trabalho perdidos
1400
1200
1000
800
600
400
200
0
Pré 3 Pré 2 Pré 1 Pós 1 Pós 2
Período
Figura 13 – Total anual de dias de trabalho perdidos por problemas de saúde no período
pré e pós-implantação do programa de cuidado com a saúde
26
ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL
A ginástica laboral torna-se, como parte do esforço para a saúde no trabalho e quando bem
implementada, um investimento, e não apenas um gasto. De fato, pode reverter o capital investido
em ganhos para as empresas, em um círculo virtuoso, através da geração de benefícios de saúde
a seus trabalhadores.
Conforme Figueiredo e Mont’Alvão (2008), um programa de qualidade de vida instituído por uma empresa
de Washington (EUA) forneceu prêmios a 52% dos 2.700 trabalhadores participantes, de US$ 250 a US$ 300
por ano. Então, obteve o retorno de US$ 3.00 para cada US$ 1.00 investido nos nove anos do levantamento.
Alguns estudos mostram que o impacto financeiro da ginástica laboral pode ser medido, como o que destacamos,
no qual a empresa verificou uma economia de US$ 6.00 para cada dólar investido, em redução de gastos com
saúde e de afastamentos por doenças e em aumento de produtividade (CARVALHO, 2007).
Para Kallas e Batista (2009), as sessões de ginástica laboral podem ser uma ferramenta para propagar
importantes conceitos sobre saúde, assumindo um papel não só compensatório, mas de contribuição
para mudança de comportamentos e melhoria da qualidade de vida.
O processo de evolução pelo qual passou (e passa) a relação homem versus trabalho gera novas
situações, exigindo adaptações e soluções. No entanto, muitas das antigas solicitações do trabalho não
deixaram de existir, apenas se tornaram menos frequentes.
Para analisar as exigências típicas envolvidas nesses casos, faz-se uma divisão didática, categorizando-se
os sujeitos como trabalhadores típicos de produção, por um lado, e, no outro extremo, típicos administrativos.
Deve-se lembrar que as diferentes funções exercidas pelos indivíduos não estão necessariamente nos
dois extremos distintos, mas sim em uma gradual mescla entre esses extremos, que são os funcionários
administrativos e os da produção.
O profissional de ginástica laboral deve ter essa visão clara e, a partir dela, assimilar as reais
solicitações encontradas em cada ambiente para entender as sobrecargas sofridas e programar as
atividades a serem propostas.
O trabalhador braçal também é conhecido como trabalhador de chão de fábrica, ou seja, geralmente
envolvido em situação de produção, manejo, transporte e beneficiamento físico.
São amplas as possibilidades de qualificação dessa realidade. Serão discutidas a seguir algumas das
situações de trabalho do ponto de vista das exigências físicas e cognitivas/psicológicas.
27
Unidade I
A função de um pedreiro pode ser muito ilustrativa nessa análise. É grande o envolvimento físico
nas tarefas a serem cumpridas: carregar sacos de areia e cimento, preparar a massa, transportar a massa
até o local etc.
A maior parte dessas ações motoras exige alta mobilização muscular, o que fisiologicamente irá
requerer compensações, que poderão ser atendidas por pausas e pelo programa de ginástica laboral.
Funções típicas com essa característica podem ser citadas, como carregadores, estivadores,
trabalhadores em indústrias etc.
Uma subdivisão dessa análise pode ser feita quando, além de grande intensidade, a força é aplicada
subitamente, muitas vezes em situações de necessidade imediata. Por exemplo, uma peça grande de
construção sendo içada por um guindaste, ao ser colocada no solo, sofre uma movimentação pendular,
que precisa ser desacelerada pelos homens encarregados de auxiliar a colocação da carga no chão, sob
o risco de lesões caso haja problemas na operação.
Segundo Dul e Weerdmeester (2012), movimentos bruscos geram picos de tensão, que podem produzir dores,
e pausas são necessárias para recuperação quando a tarefa exceder 250 W de energia gasta (o metabolismo
basal equivale a cerca de 80 W (1 W = 0,06 Kj/min = 0,0143 kcal/min). Para os autores, o peso máximo para
alguém levantar deveria ser de 23 kg, em condições ideais, que seriam a carga próxima do corpo, com as duas
mãos por meio de alças ou furos laterais, sem torcer o tronco, permitindo escolher uma boa postura e sem
exceder um levantamento por minuto e no máximo uma hora de duração, ofertando em seguida 120% de
tempo de repouso em relação ao tempo gasto no levantamento.
Figura 14 – Movimentos pendulares da carga no guindaste exigem dos trabalhadores não apenas a aplicação de força, mas que tais
ações sejam realizadas em um curto espaço de tempo (alta potência) para estabilizar a colocação da carga no solo. Essa característica
é importante para o andamento da tarefa do trabalhador braçal e até para a segurança dele
28
ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL
Utilizando-se novamente o ofício de um pedreiro, o trabalho braçal pode ser caracterizado quando
este profissional lida com cargas menores, mas repetidamente, executando movimentos. Assentar a
massa em uma parede pode ser um bom exemplo de repetição e força. Vejamos a tarefa de um dos
braços: pegar a massa com a colher, elevando-a sempre com o mesmo braço, e fazendo movimentos de
vaivém na parede, com ajustes no ombro, cotovelo e punho, além da força de preensão da mão, para
que o peso não seja derrubado.
Essa tarefa requer certos movimentos repetidos de flexão e abdução do ombro, flexão e extensão do
cotovelo, pronação e supinação do antebraço, flexão e extensão do punho, sempre exercendo força na
musculatura flexora dos dedos para manter o peso da massa em sua mão.
Outro caso típico nessa categoria de solicitação é o de um montador de móveis. Em uma conta
simples, se um armário a ser montado utilizar 50 parafusos, entre a montagem das suas paredes,
prateleiras, gavetas, portas etc., e se cada parafuso exigir cerca de 15 movimentos de supinação e
pronação do antebraço, enquanto o montador ainda realiza força de preensão na mão, para que a chave
de fendas não “escorregue” entre seus dedos, são necessários cerca de 750 movimentos repetidos de
supinação e pronação do antebraço para montá-lo, sem contar as demais solicitações, como carregar as
partes, encaixá-las e parafusá-las.
Ao longo de muitas horas de trabalho, essas solicitações de repetição de movimentos com alguma
aplicação de força vão causar desgaste muscular e articular significativo. Muitos outros exemplos podem
ser citados, como trabalhadores em linha de produção, auxiliares de limpeza e padeiros.
Figura 15 – Muitas profissões exigem o emprego de força moderada em repetições durante muitas
horas de trabalho. Essa disposição é um dos alvos de programas de ginástica laboral
29
Unidade I
Essa característica do trabalho braçal diz respeito ao desequilíbrio entre os lados do corpo.
Muitas funções são executadas predominantemente apenas de um lado, devido à posição assumida,
tipo de ferramenta, destreza do trabalhador, segurança etc.
Não se deve abordar nessa análise apenas o uso de um dos lados do corpo, que ficará mais forte ou
mais fatigado, fato já tratado nos itens anteriores, mas também o desequilíbrio que pode ser gerado no
corpo humano.
Quando o desequilíbrio de utilização é grande, poderá causar dores que a médio prazo irão
comprometer o rendimento no trabalho e a vida social. Com essa solicitação permanente, ao usar sempre
os mesmos grupos musculares unilateralmente, estes serão exigidos desproporcionalmente, afetando
muitas vezes o alinhamento da coluna vertebral.
Figura 16 – Quando o esforço físico é repetidamente muito maior de um lado do que do outro,
gera um desequilíbrio muscular com o passar do tempo de trabalho, que pode ocasionar
comprometimento muscular e até desvios posturais
Analisando novamente o trabalhador braçal comum, pode-se citar outras funções que possuem a
característica de força unilateral importante, como um caixa de supermercado, que transpõe os produtos
30
ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL
de um lado para o outro, um trabalhador de limpeza, ao limpar as janelas ou varrer o piso, e um repositor
de estoques, que usa uma das mãos para retirar o produto da caixa e a outra mão para erguer o produto
até a prateleira.
A) B)
Figura 17 – Muitos equipamentos são utilizados forçando um lado do corpo, seja pelo posicionamento
mais favorável (painel lateral), seja pelo manuseio unilateral (materiais de limpeza)
Essa necessidade pode ter desdobramentos diversos: no caso de se trabalhar em pé parado, haverá
uma sobrecarga na musculatura dorsal, especialmente lombar, e uma possível diminuição de retorno
venoso dos membros inferiores, pela falta de ação muscular na posição parada. Se o trabalho for
realizado em pé e em movimento, haverá grande demanda energética e fadiga na musculatura de
membros inferiores devido à grande distância percorrida.
Para Dul e Weerdmeester (2012), é essencial intercalar a posição em pé com a posição sentada ou
andando para aliviar a sobrecarga.
31
Unidade I
Figura 18 – O trabalho em posição forçada, mesmo aquele em que não seja necessário executar
força, causará uma demanda estática importante para ser compensada por um programa de ginástica laboral
Certas tarefas obrigam o trabalhador a assumir uma posição forçada, muitas vezes necessária para
conseguir alcançar uma peça, ou encontrar uma posição em que seja possível aplicar força etc.
Quando se necessita assumir uma posição pouco natural, a musculatura precisa sustentar o peso
corporal, ao contrário de uma postura equilibrada. Dessa forma, haverá um desgaste por conta da força
empregada para assumir essa posição e, se for preciso manter tal postura por muito tempo, haverá uma
fadiga por causa dessa solicitação.
O programa de ginástica laboral deve considerar esse aspecto e providenciar a devida compensação
ou relaxamento das estruturas envolvidas.
Figura 19 – Parece cômodo trabalhar deitado, mas essa posição de abdução dos braços
forçará o mecânico a realizar trabalho muscular para adução dos braços por tempo prolongado,
fatigando a musculatura peitoral, tríceps e deltoides. Se houver necessidade de elevar a cabeça do chão,
para poder enxergar o acesso às peças, ainda mais desgastante será a posição
32
ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL
Além das características citadas, é possível identificar outros fatores típicos de trabalhadores
braçais. Assim, o profissional de ginástica laboral deve estar atento a quais aspectos são os mais
importantes para aquele grupo para o qual pretende montar o programa, e então será possível
atender às suas necessidades.
Deve-se, ainda, estar preparado para verificar as exceções. Alguns trabalhos, apesar de serem
realizados na linha de produção, em vez de requererem força, podem se assemelhar a trabalhos de
controle, portanto, em muito se aproximando das características do trabalho administrativo, que serão
analisadas a seguir.
No outro extremo dos aspectos típicos de trabalho está o chamado trabalho administrativo.
Também há uma série de fatores que o destacam para poder identificar quais solicitações são as mais
comuns nesse tipo de função.
O trabalhador administrativo é definido como aquele que cumpre tarefas ligadas a decisões ou
procedimentos diversos com mais atuação cognitiva do que uso de grandes grupos musculares.
Logicamente, ele utilizará movimentos sempre que necessário, pois muitas tarefas exigem algum
tipo de interação, como falar ao telefone, escrever, digitar, bem como pequenos deslocamentos,
às vezes apresentações em reuniões ou atividades em grupo. Entretanto, esses movimentos
são pouco significativos em relação ao dispêndio energético, sendo que muitos trabalhadores
administrativos passam a maior parte do tempo sentados.
33
Unidade I
Muitas das funções do trabalho administrativo podem ser realizadas na posição sentada, o que,
de certo modo, é interessante para evitar o cansaço provocado pela posição em pé, típica do grupo de
trabalhadores anteriormente estudado.
Todavia, muitas horas por dia de jornada de trabalho na posição sentada também não trazem
benefícios ao organismo, podendo gerar, além da condição sistêmica de sedentarismo, problemas
relacionados à posição assumida. Um traço importante do trabalho sentado é a diminuição da circulação
sanguínea nos membros inferiores.
Adicionalmente aos prejuízos à saúde causados por muito tempo na posição sentada, não se pode
deixar de considerar que muitos trabalhadores não se sentam corretamente, acarretando problemas
ainda maiores. Assim, a integração da ginástica laboral com a ergonomia poderá trazer resultados
favoráveis para os trabalhadores.
34
ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL
O sedentarismo não pode ser totalmente combatido em uma sessão de ginástica laboral do
ponto de vista fisiológico, pois, pela duração curta que a sessão possui, não será capaz de reverter
o quadro. Por isso, será visto mais adiante que um dos componentes do programa pode ser
educacional, complementando o pouco tempo de sessão com o incentivo à mudança de hábitos
em outros horários do dia.
Movimentos repetitivos diversos, como escrita manual, uso constante de carimbos, mouse,
calculadora, manuseio de botões ou painéis, são a demonstração da presença de repetições na
rotina. Sem dúvida, são pontos de atenção no estudo das funções executadas pelo trabalhador,
mesmo com baixa força envolvida. A repetição deve ser considerada, e o profissional de ginástica
laboral deve observar em quais condições o trabalhador realiza os movimentos, bem como sua
intensidade e frequência. Assim, terá a informação da relevância do movimento em relação ao
desgaste do trabalhador, bem como das necessidades a serem consideradas para o planejamento
do programa de ginástica laboral.
A digitação, em especial, tornou-se uma grande preocupação das empresas, pela sobrecarga na
musculatura flexora e extensora dos dedos e estruturas anatômicas envolvidas. Trata-se de uma
demanda muito importante, típica de trabalhadores administrativos, e sua relevância será verificada na
Norma Regulamentadora 17 (NR 17), que dispõe especificamente sobre este tópico.
35
Unidade I
O setor administrativo possui uma dinâmica que, muitas vezes, pode ser considerada demasiadamente
estressora. Realização de muitas atividades ao mesmo tempo, cobrança por prazos, hierarquia rígida,
relações interpessoais não favoráveis, entre outras causas, podem fazer com que o indivíduo trabalhe
em condição de estresse emocional constante.
O estresse ocasional faz parte de diversas funções administrativas, mas quando os agentes estressores
são permanentes os prejuízos aos trabalhadores são consideráveis. Em geral, as empresas reconhecem
tal carga negativa e adotam a ginástica laboral como forma de combater parte das causas de estresse.
3 ERGONOMIA
A ergonomia é uma valiosa ferramenta para o profissional de ginástica laboral. A palavra vem do
grego ergon (trabalho) e nomia (normatização, regras). Segundo a International Ergonomics Association
(IEA), a ergonomia (fatores humanos) pode ser definida como
36
ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL
Para Gonçalves (2008, p. 466 apud CALASANS, 2014), ergonomia é “a ciência que estuda a
adaptação do trabalho ao homem, visando propiciar uma solicitação adequada do trabalho, evitando
desgaste prematuro de suas potencialidades profissionais e objetivando alcançar a otimização do
sistema de trabalho”.
A origem da ergonomia, do ponto de vista moderno, voltado à produtividade, vem da área militar
em razão da Segunda Guerra Mundial, quando se verificou que uma maior adaptação do homem e de
suas ferramentas/ambiente de trabalho pode otimizar a eficiência. Acesso aos comandos das armas e
posição de trabalho em aviões, por exemplo, foram sendo estudados e gradualmente adaptados para
uma melhor interação homem-máquina.
A partir dessa origem mais moderna, a ergonomia foi sendo utilizada nas mais diversas áreas.
Hoje em dia, desde a culinária e a escrita, até os painéis de instrumentos dos carros e os cabos dos
secadores de cabelo são desenhados pensando em seu uso facilitado. Produtos tão diferentes como
teclados e mouses de computador e canetas ganham benefícios na usabilidade quando levam em conta
as questões ergonômicas em seu design. A questão se mostra sedimentada em parte da população,
pois as áreas de marketing das empresas fazem menção à questão ergonômica para comprovar a
superioridade de seu produto. Até mesmo a área de software vai usar os recursos da ergonomia para
adequar programas de computador e aplicativos de celulares para uma melhor utilização.
Saiba mais
O trabalho da ergonomia deve iniciar-se conhecendo o ser humano, que, além de não ser
completamente entendido, apresenta variações pessoais muito importantes. Vejamos algumas
características psicofisiológicas do ser humano que devem ser consideradas no enfoque da ergonomia:
37
Unidade I
A)
B)
Figura 24 – A evolução das máquinas com enfoque na ergonomia visa uma maior
produtividade do trabalho, partindo da colheita manual para máquinas rudimentares
e, como mostrado nas duas imagens, uma condição de trabalho melhorada, desde
uma colheitadeira mais simples e mecânica (A) até sua evolução, computadorizada (B)
38
ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL
Moraes e Soares (apud FIGUEIREDO; MONT´ALVÃO, 2008) afirmam que a ergonomia possibilita:
Garantir a segurança.
• Ergonomia cognitiva: trata dos processos mentais e de como estes afetam a relação do homem
com os outros elementos do sistema. Percepção, memória, julgamento, tomada de decisão,
estresse e interação com o computador são alguns dos temas desta área.
• Ergonomia organizacional: a otimização dos processos sociotécnicos faz parte desta área.
Estrutura, políticas, processos, comunicação, organização do trabalho, horários, equipes, trabalho
a distância e administração da qualidade são tarefas tipicamente desenvolvidas, entre outras.
39
Unidade I
Quando um posto de trabalho ou a organização da execução da tarefa já tiver passado por análise
de um ergonomista ou indivíduo designado para tal, o profissional de ginástica laboral não deverá fazer
intervenções, para não afetar o planejamento que foi realizado.
O profissional de ginástica laboral deve ser cauteloso, pois mesmo pequenas intervenções,
como a sugestão de usar o mouse na mão menos habilidosa para dividir a carga de trabalho, podem
causar interferências negativas, apesar da boa intenção da mudança. Para um trabalho que requer
precisão na interação com o sistema através do mouse, por exemplo, sofrer alteração não planejada
através de uma sugestão descompromissada pode ocasionar erros no processamento dos pedidos
de compras, ou de despacho de mercadorias. Pode haver prejuízos financeiros e de imagem da
empresa, que são indesejáveis. Qualquer alteração que possa causar interferência no trabalho deve
ser autorizada pela gestão da empresa e fazer parte de um planejamento cuidadoso.
41
Unidade I
Nos demais aspectos ambientais, como temperatura, ventilação, iluminação etc., a ginástica laboral
poderá colaborar do ponto de vista fisiológico, tanto pelo planejamento, para que ocorra em um local
com menor incidência desses fatores, como também por atividades que combatam esses agentes com
relaxamento, consciência corporal, trabalhos de respiração etc.
Figura 29 – Trabalhos em ambientes aquecidos demais geram uma sobrecarga no sistema fisiológico do trabalhador.
O mesmo ocorre em sentido inverso, quando se trabalha em ambientes frios ou expostos ao vento ou à chuva
Utilizando essas primeiras noções, o profissional de ginástica laboral poderá entender os caminhos
para estudos mais aprofundados e buscar uma maior compreensão dos inúmeros panoramas que possam
se apresentar, para identificar as principais sobrecargas sofridas pelos trabalhadores que irá atender.
Apesar de cada função ter exigências diferentes na sua relação com o equipamento e com as tarefas
sendo executadas, exigindo análises específicas, pode-se começar a entender o problema a partir
da análise de duas interações gerais, que envolvem grandes grupos musculares, que são as posições de
trabalho em pé e sentado, e também interações que utilizem o trabalho muscular estático e o trabalho
muscular dinâmico.
42
ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL
O trabalho sentado diminui parte da solicitação muscular estática do corpo, que é a necessidade de
contração para manter-se em pé. A própria NR 17, que será analisada mais adiante, prevê que “sempre
que o trabalho puder ser executado na posição sentada, o posto de trabalho deve ser planejado ou
adaptado para esta posição” (BRASIL, 2002).
De acordo com Marano (2007), a posição sentada divide a carga transmitindo cerca de 50% do peso
corporal para as tuberosidades isquiáticas, 34% para a face posterior das coxas e 16% para as plantas
dos pés.
A posição sentada, entretanto, também impõe exigências físicas. Assim, é importante estudar a
postura e as funções desempenhadas na posição sentada. Algumas considerações podem ser feitas
sobre a frequente constatação de se assumir uma postura errada ao sentar-se.
A altura do assento deve permitir o acesso à mesa de trabalho sem necessitar de contração muscular
estática para elevação dos ombros ou abdução dos braços. Os pés devem estar apoiados e com espaço
para ajustes de posição. Pode ser necessário e recomendável a utilização de apoio para os pés para
garantir que estes não fiquem sem contato com o solo, o que iria provocar um aumento da pressão da
parte posterior da coxa contra o assento.
Também é essencial verificar o que ocorre com a sobrecarga na coluna vertebral durante o trabalho
na posição sentada. Na figura seguinte, pode-se comparar a pressão de disco intervertebral (entre L3
e L4), considerando como referência de 100% a pressão na posição em pé. Nota-se que na posição
sentada com o tronco reto a 90º da coxa a pressão chega a 140%, e com curvatura do tronco à frente
pode atingir 190% da pressão existente na posição em pé.
100%
24%
140% 190%
Se for comparada a postura sentada com o tronco na vertical com a postura inclinada à frente,
pode-se verificar que há uma menor pressão dos discos na postura reta. Porém, para manter as costas
eretas, é necessária uma maior ativação muscular, sobrecarregando os músculos ao aliviar os discos.
43
Unidade I
Assim, a ergonomia no desenho de cadeiras e poltronas precisou evoluir para diminuir essa
sobrecarga. O trabalho dos profissionais envolvidos, como ergonomistas e profissionais de ginástica
laboral, torna-se um importante fator de manutenção da consciência e das condições de correta
utilização da posição sentada.
A) B)
As conclusões dos estudos existentes sobre cadeiras são muito variadas, pois tratam de situações
e realidades diferentes. Em pesquisa específica sobre o desenho de uma cadeira ideal, Kroemer e
Grandjean (2005) detectaram a preferência de usuários por cadeira com assento reclinado a cerca de
20º da horizontal para trás, e encosto de 20º a 30º da vertical para trás, proporcionando apoio das costas
e coxas de maneira a diminuir as sobrecargas musculares e discais. A existência de um apoio lombar
também é desejável.
• A constatação das sobrecargas existentes e de qual é o desvio da posição ideal, para poder planejar
as atividades compensatórias.
• O auxílio na orientação das regulagens e nas orientações posturais, quando previsto no planejamento.
44
ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL
a) 48-50 cm
b) 38-54 cm
c) mín. 17 cm a
d) 10-25º c
b
d
Além das características das solicitações por permanecer na posição sentada, deve-se considerar
ainda as funções executadas, como digitação, leitura, telefonia, controle de máquinas etc.
Uma das funções executadas na posição sentada que merecerá destaque pela grande abrangência
em nossa sociedade de serviços é o trabalho em computadores, também presente, faça-se menção,
em ambientes de produção automatizada.
O trabalho em computadores exige uma integração, a partir da posição sentada, com elementos da
postura, como posição da cabeça, posicionamento de membros superiores para acesso ao teclado e ao
mouse, e movimentos repetitivos no uso desses equipamentos. Também envolve a questão ambiental,
como a iluminação e os reflexos na tela.
Figura 33 – Pode-se notar que a tela de um notebook fica muito baixa em relação à linha
da visão horizontal. Olhar para baixo gera uma sobrecarga estática na região cervical, sendo
importante considerá-la para planejamento da ginástica laboral. Existem suportes para elevar
o notebook e deixar a tela mais próxima à linha da visão, devendo ser acoplado um teclado à parte
45
Unidade I
Observação
Na tabela a seguir, pode-se comparar o número de estudos avaliados por Couto et al. (1998), que
relacionaram alguns parâmetros ergonômicos com o acometimento por LER/Dort de trabalhadores em
terminais de computadores. Muitos dos problemas ligados ao aparecimento de LER/Dort estão associados
com o posicionamento de cabeça e membros superiores.
É interessante notar ainda que a percepção de desconforto parece ser um indicador relevante em
três estudos em que houve o aparecimento de LER/Dort, mostrando que o indivíduo pode ter alguma
capacidade de detecção através de seu conhecimento corporal e sensibilidade para um problema
presente, para que possa ser prevenido.
Alguns teclados de computadores possuem um ângulo interno entre as teclas utilizadas pela mão
direita e as que são usadas pela mão esquerda, diminuindo o desvio ulnar necessário para assumir a
posição de trabalho. Dessa forma, buscam diminuir a quebra de neutralidade da articulação do punho,
melhorando a ergonomia.
46
ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL
47
Unidade I
Segundo Kroemer e Grandjean (2005), a pressão nas veias é aumentada em 80 mmHg nos pés e
40 mmHg nas coxas, quando se fica parado em pé.
Já o trabalho em pé com movimentação (andar, subir escadas, acionar pedais) gera um acionamento
muscular relevante e desgastante, necessitando também da intervenção do profissional de ginástica
laboral para contrapor tais solicitações. O trabalho de garçom, carteiro, lixeiro ou entregador de pizzas
ilustra que, além do trabalho na posição em pé, pode ser significativo o número de passos realizados
durante a jornada.
48
ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL
Deve-se notar que em algumas situações é possível existir uma região corporal executando trabalho
estático (segurar uma caixa pesada com os braços, por exemplo), enquanto outra região executa
trabalho dinâmico (caminhar). Em outras situações pode ocorrer repouso em uma região (posição sentada),
enquanto os membros superiores trabalham intensamente na montagem de uma peça, por exemplo.
Atualmente, grande parte do trabalho nos países industrializados é realizado na posição sentada
e em muitas indústrias há uma diminuição na necessidade de trabalho pesado devido à mecanização e
automação, mas ainda é uma frequente solicitação nas mais variadas funções.
O trabalho pesado também é um grande desafio para o organismo. Mesmo sendo dinâmico,
a requisição de grande parte da musculatura, em alta tensão, gera uma necessidade de pausas de
recuperação, que podem ser maximizadas com o trabalho de ginástica laboral. Portanto, o profissional
deve estar atento às solicitações existentes na rotina do trabalhador. A alta exigência muscular local
ainda pode refletir na sobrecarga cardiopulmonar.
O trabalho não deveria exigir de forma contínua ou repetitiva mais de 30% da capacidade de
um grupo muscular, evitando utilização aguda, mesmo ocasional, de mais de 50% da capacidade
(COUTO et al., 1998). A redução da força necessária pode ser alcançada com diversas ações, como reduzir
o peso de objetos ou caixas, melhorar a “pega” de ferramentas para ter atrito adequado, e evitar o uso
de força além do necessário.
A tabela a seguir indica o dispêndio de energia considerando um homem e uma mulher médios,
em várias funções laborativas:
49
Unidade I
Comparando com a demanda energética basal, os trabalhos pesados são considerados muito
significativos no que diz respeito à saúde do trabalhador.
Estudos avaliam que uma média diária para trabalho pesado na Europa e nos Estados Unidos é de
cerca de 20.000 kJ/dia, sendo aceitável ultrapassar este valor em alguns períodos, desde que a média se
mantenha ao longo do ano (KROEMER; GRANDJEAN, 2005).
O carregamento de peso é uma das formas mais comuns de trabalho pesado, devendo se considerar
tanto o gasto energético quanto as estruturas solicitadas.
Sempre que possível, deve-se utilizar equipamentos e acessórios que diminuam a carga
carregada, dividindo-a em partes ou ainda a transportando em carrinhos. O profissional de
ginástica laboral deve observar qual a disponibilidade desses equipamentos na rotina de trabalho
e verificar a sobrecarga sofrida pelo colaborador, para equacionar seu programa de acordo com
as necessidades verificadas.
50
ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL
Figura 39 – Quando a carga a ser carregada for muito pesada, devem ser usados carrinhos para diminuir a sobrecarga no corpo.
O profissional de ginástica laboral deve considerar que a sobrecarga que incide sobre o trabalhador é muito significativa
Saiba mais
<http://www.trabalho.gov.br/seguranca-e-saude-no-trabalho/
normatizacao/normas-regulamentadoras>.
A primeira parte da NR 17 trata de disposições gerais, seguidas por considerações específicas para
diversas tarefas. O profissional de ginástica laboral deve conhecer as normas, não para fiscalizar sua
aplicação ou gerar conflitos entre trabalhadores e a empresa, mas para ter argumentação teórica
51
Unidade I
quando fizer proposições de programas que visam diminuir as sobrecargas sofridas, ou participação de
seu parecer ao contratante quando solicitado.
Em caso de observação de desvios da norma que possam causar problemas físicos aos trabalhadores,
o agente deve entrar em contato com o responsável por sua contratação, passando as informações
necessárias para que seja possível tomar as providências.
Pode-se verificar que a NR 17 é definida como norteadora para decisões de adaptação das condições
de trabalho em favor da característica dos trabalhadores para seu conforto, segurança e desempenho
eficiente de suas funções. No item 17.1.2, dispõe que cabe ao empregador a responsabilidade de realizar
a análise ergonômica do trabalho.
17.2.2. Não deverá ser exigido nem admitido o transporte manual de cargas,
por um trabalhador cujo peso seja suscetível de comprometer sua saúde ou
sua segurança.
52
ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL
17.3.2. Para trabalho manual sentado ou que tenha de ser feito em pé,
as bancadas, mesas, escrivaninhas e os painéis devem proporcionar ao
trabalhador condições de boa postura, visualização e operação e devem
atender aos seguintes requisitos mínimos:
Pode-se notar que a condição de boa postura não é especificada quanto a altura, distância e
proporções, mas sim nos termos “boa postura”, “fácil visualização”, “compatíveis” etc., de certa forma
necessitando referência externa.
Ainda sobre o trabalho sentado, a NR 17 dispõe um padrão para ser seguido para os assentos de
cadeiras de trabalho:
53
Unidade I
Além da preocupação com o assento e o apoio da região dorsal, é fixada a necessidade de suporte
para trabalhar com os pés apoiados.
O item 17.3.4 acentua: “Para as atividades em que os trabalhos devam ser realizados sentados,
a partir da análise ergonômica do trabalho, poderá ser exigido suporte para os pés, que se adapte ao
comprimento da perna do trabalhador” (BRASIL, 2007).
54
ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL
pé, devem ser colocados assentos para descanso em locais em que possam ser utilizados por todos os
trabalhadores durante as pausas” (BRASIL, 2007).
a) ser fornecido suporte adequado para documentos que possa ser ajustado
proporcionando boa postura, visualização e operação, evitando
movimentação frequente do pescoço e fadiga visual; [...] (BRASIL, 2007).
a) as normas de produção;
b) o modo operatório;
c) a exigência de tempo;
e) o ritmo de trabalho;
Ou seja, o trabalho a ser executado deve ser adequado às características do trabalhador, e os subitens
“a” a “f” do item 17.6.2 devem ser observados para essa adequação.
Ainda sobre a execução das tarefas no trabalho, pode-se destacar que a NR 17 estipula que,
se houver a presença de algumas sobrecargas musculares, os sistemas de avaliação de desempenho
visando recompensas deverão considerar as consequências no trabalhador e a necessidade de pausas:
Sobre tarefas realizadas no contexto de entrada de dados em computadores, a Norma deixa explícito
que há uma abordagem específica para evitar sobrecargas dessa natureza:
Após esses itens, a Norma prossegue com a inclusão do Anexo I, que trata do trabalho de operadores
de checkout, como são conhecidos os serviços de caixa (supermercados, lojas de conveniência, lojas
de departamentos etc.). Na análise, cabe ressaltar as seguintes informações constantes do item 2.1 do
Anexo I da NR 17, que trata do posto de trabalho do operador de checkout:
56
ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL
Se o profissional de ginástica laboral constata que alguns dos aspectos não são atendidos na empresa
em que irá atuar, deve verificar qual a sobrecarga adicional imposta ao trabalhador, para poder amenizar
a influência em sua saúde e prevenir as lesões decorrentes da não observação completa da NR 17, que
pode estar presente no trabalho.
Vale ainda destacar o item 2.2 do Anexo I da NR 17, que fixa os equipamentos do posto de checkout,
visando diminuir as solicitações físicas decorrentes da função:
a) posto de trabalho;
b) manipulação de mercadorias;
c) organização do trabalho;
A última seção da NR 17 é o Anexo II, que estuda a função de operador de telemarketing ou central
de atendimento, nos chamados call centers. Esses profissionais, pela natureza de seu trabalho, precisam
de considerações especiais, das quais algumas são destacadas a seguir. No seu primeiro item, define-se
o escopo do que trata o Anexo II:
Algumas necessidades específicas sobre o posto de trabalho são tratadas no item 2 do Anexo II da
NR 17, podendo-se dar destaque ao item 2.1:
Saiba mais
59
Unidade I
Uma verificação ergonômica deve ser realizada para avaliação inicial das necessidades,
conforme acentuamos.
A verificação ergonômica, dentro da abrangência dos programas de ginástica laboral, não visa
necessariamente elaborar um laudo ergonômico ou destacar a obrigatoriedade da contratação de
um ergonomista. Caso não haja esses recursos de pessoal qualificado estritamente para a ergonomia,
o profissional de ginástica laboral deve fazer as suas observações in loco, considerando as queixas
relatadas pelos trabalhadores e as observações dos gestores ou responsáveis para poder traçar um perfil
da exigência de cada posto de trabalho.
Com experiência, o profissional poderá perceber e deve anotar posições forçadas, repetições,
ângulos excessivos, tensões presentes nas ações e, principalmente, encontrar soluções para os
problemas constatados.
Para iniciar o contato prático do profissional de ginástica laboral com a avaliação da ergonomia no
trabalho, pode-se utilizar a proposta da Organização Internacional do Trabalho (OIT) em colaboração
com a International Ergonomics Association (IEA), que resultou na publicação Pontos de Verificação
Ergonômica (OIT, 2018).
Esse manual tem 132 questões para as situações de trabalho mais diversas, e propõe que a
implementação de melhorias siga uma filosofia, incluindo:
60
ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL
Uma lista de pontos de verificação é então proposta e pode ser seguida de modo bastante didático,
nas seguintes áreas de atenção:
• ferramentas manuais;
• segurança do maquinário;
• iluminação e ventilação;
• instalações de bem-estar;
• organização do trabalho.
Para o profissional de ginástica laboral sem especialização em ergonomia, propostas simples devem
ser consideradas para entender as situações de exigências em que os trabalhadores se encontram em
comparação a um quadro ideal, e assim poder implementar ações para tornar as atividades do programa
em soluções para as necessidades dos trabalhadores.
61
Unidade I
modificação do ambiente, das tarefas ou dos procedimentos da empresa sem que tenham sido
discutidos os parâmetros para tais decisões.
Para ilustração dos questionamentos referentes aos pontos de verificação ergonômica, veja o quadro
a seguir:
Quadro 5
106. Resolver os problemas do trabalho envolvendo os trabalhadores em grupos. Propõe alguma ação?
NÃO SIM PRIORITÁRIO
Observações___________________________________________________
107. Consultar os trabalhadores sobre como melhorar a organização do tempo de trabalho. Propõe
alguma ação?
NÃO SIM PRIORITÁRIO
Observações___________________________________________________
108. Envolver os trabalhadores no design melhorado dos seus próprios postos de trabalho. Propõe
alguma ação?
NÃO SIM PRIORITÁRIO
Observações___________________________________________________
109. Consultar os trabalhadores sobre as mudanças a serem feitas na produção e sobre as melhorias
necessárias para tornar o trabalho mais seguro, fácil e eficiente. Propõe alguma ação?
NÃO SIM PRIORITÁRIO
Observações___________________________________________________
110. Informar e premiar os trabalhadores sobre os resultados de seu trabalho. Propõe alguma ação?
NÃO SIM PRIORITÁRIO
Observações___________________________________________________
111. Dar treinamento aos trabalhadores para que assumam responsabilidades e fornecer-lhes os meios
para que tragam melhorias nas suas tarefas. Propõe alguma ação?
NÃO SIM PRIORITÁRIO
Observações___________________________________________________
112. Dar treinamento aos trabalhadores para operação segura e eficiente. Propõe alguma ação?
NÃO SIM PRIORITÁRIO
Observações___________________________________________________
62
ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL
Com as imagens a seguir, é possível analisar as orientações para a aplicação da verificação ergonômica.
A) B)
Uma cábrea móvel é confiável, segura Um dispositivo mecânico acionado
e fácil de manejar para o transporte de manualmente para levantar peças de
carga pesada a uma distância curta com fundição até a altura de trabalho
mínima elevação
C) D)
Uma grua hidráulica de solo com
braço telescópico Certifique-se de que a máxima carga
segura esteja claramente marcada
Figura 42
4.1 Definições
63
Unidade I
Historicamente, o primeiro termo usado no Brasil para designar os problemas ocasionados pelo
acúmulo de repetições foi LER (lesões por esforços repetitivos), sendo uma tradução de repetition strain
injuries, definida por Couto et al. (1998, p. 17) como:
Entretanto, esse conceito evoluiu em diversas vertentes. Em primeiro lugar, apesar de a maioria dos
quadros existentes e estudos realizados serem nos membros superiores, a repetição de movimentos
também pode desencadear processos semelhantes nos membros inferiores, como em motoristas
profissionais, por exemplo.
Pode-se, ainda, citar quadros importantes que não acometem diretamente um grupo muscular,
como as bursites, os desgastes de discos intervertebrais etc.
Outra análise pode ser realizada, pois o prejuízo não é apenas o declínio profissional, mas também o da
vida familiar e social do trabalhador. Ademais, nem sempre a configuração como doença será apropriada.
A origem de quadros semelhantes nem sempre é de natureza profissional. Uma criança jogando
video game ou uma pessoa fazendo tricô também podem apresentar sintomas devido aos movimentos
repetitivos, não ligados a qualquer atuação profissional.
Há referência na literatura internacional como CTD (cumulative trauma disorders), havendo tradução
para o português como lesões por traumas cumulativos. Note que se usou uma tradução inapropriada
de disorders, “lesões” em vez de “desordens”, que não têm o mesmo significado. Outros termos utilizados
são síndrome ocupacional por overuse, síndrome da sobrecarga ocupacional e distúrbios cervicobraquiais
ocupacionais (um quadro mais específico). Assim, a terminologia foi evoluindo com o tempo e com a
realidade encontrada em pesquisas sobre o assunto.
De qualquer modo, o nome LER (lesões por esforços repetitivos) tornou-se insuficiente para abranger
o problema, sendo hoje unido ao termo Dort (distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho), como
LER/Dort. Essa denominação é mais apropriada, pois nem sempre um quadro apresenta uma lesão clara –
às vezes, pode ser uma dor, ou incapacitação. Assim, um quadro incapacitante sem lesão que ocorra com
um trabalhador não deixa de ser considerado em um processo trabalhista, por exemplo, por não ter como
comprovar uma lesão. Ao declarar um quadro de LER/Dort e o respectivo CID do acometimento específico,
o médico atestará o nexo com a função exercida, caso tenha como definir essa comprovação.
Os termos LER e Dort não são considerados o quadro clínico em si, mas a ocorrência específica
identificada como adquirida nessas condições. As LER/Dort têm sido as mais frequentes entre as doenças
ocupacionais na população trabalhadora segurada. Em 2013, 3.568.095 trabalhadores disseram ter sido
diagnosticados com LER/Dort, cerca de 2,29% da população pesquisada pelo IBGE na PNS – Pesquisa
Nacional da Saúde (FUNDACENTRO, 2013).
64
ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL
Dos indivíduos afetados pelas LER/Dort, ainda segundo a PNS, cerca de 25% realizavam
exercícios/fisioterapia para minimizar os efeitos delas, e 35% recorriam a recursos medicamentosos.
Segundo Barbosa et al. (2014), em 2006 foram registrados 26.645 casos de doenças ocupacionais na
Previdência Social, com uma estimativa de 45% de ocorrência de LER/Dort, o que mostra quanto é
grande seu potencial de prejuízo econômico e social.
Em dados do INSS de 2003 (BARBOSA et al., 2014), as LER/Dort são consideradas como um dos
principais problemas de saúde pública, responsável por quase 90% dos afastamentos de trabalho.
As limitações sofridas pelos trabalhadores afetados por LER/Dort podem ser discretas ou muito
significativas, não só nas tarefas do trabalho, mas também na vida diária, como destacado a seguir:
Respostas Pessoas %
Como ilustração dos quadros de LER/Dort devidos a alguns agentes ou fatores de risco de natureza
ocupacional, é esclarecedora a análise do quadro a seguir, que destaca os acometimentos específicos e
seus prováveis agentes.
Quadro 6
65
Unidade I
XII – Outros transtornos especificados dos tecidos Posições forçadas e gestos repetitivos (Z57.8)
moles (M79.8) Vibrações localizadas (W43.-; Z57.7) (Quadro XXII)
XVIII – Doença de Kienböck do adulto (osteocondrose
do adulto do semilunar do carpo) (M93.1) e outras Vibrações localizadas (W43.-; Z57.7) (Quadro XXII)
osteocondropatias especificadas (M93.8)
Muitos estudos tentam relatar os prejuízos gerados pelos afastamentos médicos para as empresas.
Um deles especifica os quadros de LER/Dort (COUTO et al., 1998) e estipula que em apenas uma
instituição bancária à época do estudo (1995) houve 152 trabalhadores afastados por LER/Dort
em todo o Brasil, gerando um gasto de cerca de R$ 621.952,53 (correspondentes a mais de R$ 3,5
milhões corrigidos pelo IGP-M para julho/2018), o que significa cerca de R$ 23.200,00 por trabalhador
afastado, em valores corrigidos.
66
ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL
Além desse montante, apenas na região de Contagem e Belo Horizonte, em Minas Gerais, foram
levantados 650 processos trabalhistas de indenização por dano físico em diversas instituições.
Cada processo, na época do estudo, foi estimado em média de R$ 70.000,00 (mais de R$ 396.000,00,
corrigidos pelo IGP-M para julho/2018). Esse valor mostra o potencial passivo de prejuízo para empresas
que não administram e não implantam prevenção dos casos de LER/Dort. Certamente, nem todos os
casos serão julgados favoráveis ao autor da reclamação, mas é possível estimar o montante envolvido
na disputa (COUTO et al., 1998).
Por fim, deve-se considerar um impacto não menos importante, que é a perda de produtividade.
Mesmo que um trabalhador não se afaste, quando trabalha sujeito a dor ou desconforto, vai diminuir
sua produtividade, ou mesmo faltar ao trabalho para atendimento médico, afetando o custo de
produção e a competitividade, ficando a empresa atrás de outras que administram melhor esse fator de
custo. “Em algumas empresas, estimou-se que a prevalência de LER atinge cerca de 25% da população
trabalhadora”, podendo calcular qual proporção de perda de produção e consequente impacto financeiro
devem ser esperados (BRASIL, 2000).
O profissional de ginástica laboral deve ter conhecimento dos principais quadros para entender seus
mecanismos de instalação, identificar problemas e elaborar programas que visam prevenir ou amenizar
as cargas presentes, uma vez que seu papel não é trabalhar no tratamento das afecções. A análise não
tem a intenção de indicar tratamento ou acompanhamento da evolução.
De maneira geral, alguns quadros são mais frequentes ou típicos, e serão expostos a seguir.
Couto et al. (1998) enumeram os principais distúrbios dos membros superiores, dos quais pode-se destacar:
68
ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL
4.3.1 Tendinites
Sob solicitação intensa ou repetitiva, os tendões podem se inflamar devido ao seu tracionamento.
Couto et al. (1998) consideram que as principais fontes de sobrecarga tendínea são: tensão abrupta,
tensão oblíqua, tensão contínua, movimentação repetitiva, falta de pausa, atrito e instabilidade articular.
4.3.2 Tenossinovites
Couto et al. (1998) citam o estudo de Hammer (1934), que notou que as funções de empacotar
cigarros, repetições de movimentos de dedos com mais de 30 a 40 movimentos por minuto, eram
acompanhadas de casos de tenossinovites. Trata-se de inflamações não dos tendões em si, mas
das bainhas sinoviais, que os recobrem. Os principais sintomas são: dor, edema, crepitação e
perda funcional.
De acordo com Mendes (1995), quando há esforços repetitivos, o tendão ou a própria bainha sinovial
pode sofrer espessamento, e o líquido sinovial adquire aspecto inflamatório. Outra hipótese é que esse
espessamento possa causar uma má nutrição tecidual, a depender da intensidade, frequência ou duração
do movimento realizado localmente (ARMSTRONG et al. apud MENDES, 1995).
Os nervos distribuem-se pelo corpo passando por entre músculos, polias, sulcos ósseos e articulações,
podendo ser comprimidos e ter diminuída ou alterada a capacidade de transmissão de impulsos.
Uma compressão contínua pode levar a edema e alterações locais ou periféricas. Dependendo do local
afetado, o nervo atingido irá causar efeitos em regiões diversas, como dor, formigamento, perda de
força e dormência.
69
Unidade I
Na estrutura da coluna cervical, é possível ocorrer a epicondilose, por exemplo, devido ao transporte
de cargas na cabeça, podendo causar degeneração local e lesão de uma ou várias raízes nervosas
(WARIS apud MENDES, 1995).
Como exemplo, pode-se citar a compressão do nervo ulnar, na região do cotovelo, causada pelo
apoio do cotovelo em superfícies duras (COUTO et al., 1998). Chamada de “doença das telefonistas”,
acarreta formigamentos como manifestação inicial, podendo ser prevenida por uso de almofada sob
o cotovelo. Se a compressão do nervo ulnar ocorrer no canal de Guyon (punho), gerando a síndrome
do canal de Guyon, haverá queixas de alteração de sensibilidade no 4º e no 5º dedo, perda de força de
preensão e dificuldades de movimentação da mão.
Outro caso é a compressão do nervo mediano, que pode ocorrer na base da mão (por uso de
ferramentas e vibração) ou no túnel do carpo (devido ao trabalho em extensão ou flexão de punho,
ou ainda tenossinovite dos tendões dos flexores). Nessa afecção, o nervo mediano é pressionado pelo
engrossamento de algum dos tendões e bainhas sinoviais que passam pela estreita região do túnel do
carpo, causando dor, parestesia, adormecimento, fadiga muscular, alterações sensitivas ou motoras,
podendo evoluir para fibrose neural, degeneração e atrofia muscular. A dor em queimação na região,
geralmente no período noturno, é típica deste quadro (COUTO et al., 1998).
Também pode ser citada a compressão nos dedos por objetos como cabos de ferramentas, tesouras
e alicates.
4.3.4 Bursites
As bolsas sinoviais são submetidas a maior tensão na elevação dos braços acima do nível dos ombros
(90º), e a inflamação devido a esta sobrecarga, se reincidente, pode gerar calcificação e perpetuação do
quadro (COUTO et al., 1998).
Além dos membros superiores, são citadas a bursite isquiática, adquirida em posição sentada
por longos períodos (popularmente chamada de “nádega do tecelão”), e a bursite infra ou
pré-patelar, em trabalhadores que assumem a posição ajoelhada com frequência (“joelho da
empregada doméstica”) (ZILLI, 2002).
Os problemas de coluna são mais frequentes em trabalhadores que exercem muita atividade física
do que em sedentários. Em geral, é o desgaste da coluna o responsável pelas faltas ao trabalho, e não a
carga muscular em ofícios pesados (KROEMER; GRANDJEAN, 2005).
Na lombalgia aguda os sintomas podem desaparecer em trinta dias mesmo sem tratamento,
em 90% dos casos. Mas a recidiva é de cerca de 60% no mesmo ano ou no máximo em dois anos
se não houver uma educação preventiva (KESLEY; GOLDEN apud MENDES, 1995). São fatores que
aumentam a recidiva: idade, posturas não adequadas e fadiga (BERGQUIST-ULMANN; LARSSON
apud MENDES, 1995).
70
ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL
É considerada lombalgia crônica a dor persistente durante três meses no mínimo, o que
corresponde a 10% dos pacientes com lombalgia aguda ou recidivante (MENDES, 1995). Este mesmo
autor cita que Nachemson (1982) enumerou como fatores de cronicidade das dores de coluna o
trabalho pesado e o levantamento de pesos, o baixo nível de escolaridade, a falta de exercícios,
o trabalho sentado e fatores psicológicos.
A) B)
Quadro 7
Movimentos repetitivos
Movimentos manuais com uso da força
Fatores biomecânicos
Postura inadequada
Uso de ferramentas manuais
Ineficácia da empresa em eliminar riscos potenciais
Fatores administrativos Método de trabalho inadequado, uso de ferramentas e
equipamentos impróprios
Pressões no trabalho
Inexistência de autonomia e controle sobre o trabalho
Fatores psicossociais
Inexistência de ajuda ou apoio de colegas de trabalho
Pouca variabilidade no conteúdo da atividade
71
Unidade I
Para Couto et al. (1998), os principais fatores biomecânicos contribuintes para LER/Dort são:
utilização de força, postura incorreta, repetitividade e vibração. Para Santos et al. (2007), acrescenta-se
ainda a possibilidade de existência de compressão mecânica nas estruturas musculares. A compressão
de estruturas musculotendíneas ocorre quando, por exemplo, executam-se movimentos de digitação
com o antebraço apoiado na quina da mesa, provocando restrição adicional a cada movimento de
contração muscular.
Pode-se notar na tabela seguinte, analisando estudos sobre a relação de fatores biomecânicos
com a incidência de LER/Dort, que, dependendo da região corporal, maior evidência da causa já foi
estabelecida, e em outras regiões a relação parece ter menor significância. Por exemplo, constata-se um
alto número de trabalhos com evidências para a postura como causa relacionada a problemas na região
de pescoço e cintura escapular, razoável evidência de que repetitividade está ligada a problemas em
todas as regiões, exceto cotovelos, e que a força está associada a disfunções em todas as regiões, exceto
ombros. A vibração foi associada a índice razoável de evidência somente para a síndrome do túnel do
carpo, e para as regiões de cotovelo e punho/mão são fortes as evidências de que é a combinação entre
os fatores que desencadeia os problemas.
Tabela 5
Pescoço e Punho/mão
Fator de risco Ombro Cotovelo
cintura escapular S. túnel carpo Tendinite
Repetitividade ++ ++ +/- ++ ++
Força ++ +/- ++ ++ ++
Postura +++ ++ +/- +/- ++
Vibração +/- +/- ++
Combinação +++ +++ +++
+++ evidência forte ++ evidência razoável + / - evidência suficiente
Para Mendes (2012), a hipótese biomecânica é que há reações graves do organismo às exigências do
trabalho quando estas são maiores que as capacidades funcionais individuais.
72
ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL
A repetitividade é um dos fatores mais citados entre os desencadeadores de LER/Dort, fazendo parte
inclusive da nomenclatura LER (lesões por esforços repetitivos). Couto et al. (1998) acentuam que mais
de 25 a 33 movimentos por minuto devem ser evitados para proteger tendões, fixando um limite de
12 mil movimentos de digitação por hora, e que, se o trabalho fosse desenvolvido em parte do dia, não
traria lesões, apenas se ocorresse durante todo o dia de trabalho. Vale lembrar que a NR 17 estabelece o
limite de 8 mil toques por hora como permitido para trabalho em digitação.
Estudos mostram que há uma grande relação entre os fatores de realização da tarefa de digitação e
a ocorrência de LER/Dort, como podemos observar na tabela a seguir:
Como se pode verificar nos resultados, a grande maioria dos trabalhos relacionou positivamente
a falta de variedade, o uso do teclado, o tempo prolongado de trabalho, a velocidade e a ausência de
pausas como fatores predisponentes a LER/Dort.
73
Unidade I
Figura 48 – Posições forçadas mantidas por muito tempo ou assumidas repetidamente ao longo
da jornada de trabalho causam solicitações importantes ao sistema musculoesquelético e articular
O fator força como determinante para ocorrência de LER/Dort também é bastante difundido na
literatura. Nos movimentos da mão, por exemplo, Couto et al. (1998) propõem que baixa aplicação
de força manual equivale a menos de 4 kg, e alta força significa valores maiores que 6 kg, aplicados
em média ao longo do ciclo de trabalho. Ainda segundo os autores, valores de 10 a 15 kg, se em baixa
frequência e por pouco tempo, não precisam ser considerados preocupantes, pois sua incidência dentro
do valor médio da jornada não é relevante (considere-se que há variações entre os indivíduos e esses
valores não são uma referência única).
O trabalho pesado pode ser caracterizado como moderado ou severo. Mendes (1995) considera na
primeira categoria critérios como postura fixa por mais de 20% do tempo de trabalho, coluna cervical para
cima ou para os lados (menos de 45º), ou em rotação por mais de 2h/dia, trabalho com braços acima do
ombro por até 40% do tempo ou acima de 30º por mais de 10% do tempo, e ainda uso de ferramentas
pesadas, ou uso de ferramentas com cabo em más condições ou com peso de cerca de 0,6 kg por mão.
Já o trabalho pesado considerado como severo por Mendes (1995) envolve elementos
de carga como postura fixa por mais de 40% do tempo, coluna cervical em posição de mais de
45º de desvio, braços elevados acima do ombro por mais de 40% do tempo, ou mais de 1/3 do
período de trabalho com braços acima de 30º, ou ainda peso de ferramentas de mais de 1,5 kg
por mão.
Também são sobrecarregadas as estruturas articulares, uma vez que a maior aplicação de força
requer esforço de toda a estrutura. A sobrecarga de força também é transferida aos tendões e às bainhas
sinoviais, por exemplo, no punho, para manter uma ferramenta sob controle, podendo desencadear
processos inflamatórios não apenas na porção contrátil do músculo.
75
Unidade I
Há fatores que podem ser considerados deletérios à condição de saúde no trabalho e com potencial
para contribuir para a ocorrência de LER/Dort.
Alguns desses fatores são de ordem individual, como disfunções hormonais e psíquicas, problemas
já instalados e maior sensibilidade à dor. Outros estão presentes no local de trabalho, como ambiente
estressante e más relações com chefia e colegas de trabalho.
76
ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL
Resumo
77
Unidade I
Exercícios
Questão 1. (Enade 2010, adaptada) A postura, ou alinhamento corporal, refere-se à posição do corpo,
parado ou em movimento, e envolve o estado de equilíbrio das diversas partes corporais sob a ação da
gravidade. [...] Bons hábitos posturais conduzem a boa aparência, eficiência mecânica nos movimentos e menor
risco de lesões, sendo dependentes da força e da flexibilidade, aliadas à prática consciente e inconsciente que
produzem esses hábitos.
NAHAS, M. V. Atividade física, saúde e qualidade de vida: conceitos e sugestões para um estilo de vida ativo.
Londrina: Midiograf, 2001. p. 68-69. Adaptado.
Diversos estudos demonstram que o avanço tecnológico decorrente do uso de computadores tem
contribuído para o aumento de lombalgias, seja no ambiente de trabalho, seja no ambiente doméstico.
Nessa perspectiva, entre as orientações que devem ser transmitidas por profissionais de educação física
aos usuários de computador, incluem-se:
III – Sustentar a cabeça e o pescoço em posição reta e manter ombros e braços relaxados.
A) I e II.
B) I e III.
C) II e IV.
D) I, III e IV.
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ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL
I – Afirmativa correta.
Justificativa: manter a região lombar apoiada no encosto da cadeira para aliviar a força de compressão
sobre essa região.
II – Afirmativa incorreta.
Justificativa: posicionar os joelhos e o quadril mantendo ângulo de 90° a fim de não prejudicar o
retorno venoso e manter as articulações em posição neutra.
Justificativa: sustentar a cabeça e o pescoço em posição reta para não aumentar a pressão intradiscal
na cervical e manter ombros e braços relaxados a fim de não tensionar os músculos elevadores dos ombros.
IV – Afirmativa correta.
Justificativa: ajustar o topo da tela ao nível dos olhos e posicionar-se a um comprimento de braço de distância
do teclado do computador, a fim de manter a postura da região cervical e ombros sem tensão exagerada.
PORQUE
A) As duas asserções são proposições verdadeiras, e a segunda é uma justificativa correta da primeira.
B) As duas asserções são proposições verdadeiras, mas a segunda não é uma justificativa correta da primeira.
79