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INTRODUÇÃO
Foi visto acima que, conforme a lei de colisão proposta por Alexy,
sob circunstâncias determinadas, um princípio específico precede
outro e suas consequências são aplicadas. No entanto, a lei de
colisão, por si só, ao formular um enunciado de preferência, não
garante racionalidade à ponderação. Com efeito, este seria um
modelo de mera decisão, entregue exclusivamente a concepções
subjetivas. A este modelo, Alexy pretende opor um modelo de
fundamentação, que asseguraria sua segurança, ou seja, sua
racionalidade.
Alexy não ficou inerte à crítica formulada por Habermas. Para ele, a
melhor resposta a ser adotada é aquela que demonstra que a
ponderação pode ser empregada de forma racional. O ponto de
partida de Alexy é defender que a lei da ponderação expressa os
graus de afetação dos direitos que estão em discussão, através da
exigência de que as razões que justificam uma intervenção devem
ser tanto maior, quanto mais forte seja a intervenção[41]. Esta
fundamentação da ponderação, para Alexy, é visualizada em três
aspectos e serve para conduzir a sustentação da racionalidade da
ponderação, que foi criticada por Habermas. Os três momentos são
descritos por Alexy da seguinte forma:
La objeción de Habermas en contra la teoría de los
principios estaría esencialmente justificada, si no fuera
posible emitir juicios racionales, en primer lugar, sobre las
intensidades de las intervenciones en los derechos
fundamentales; en segundo lugar, sobre los grados de
importancia de la satisfacción de los principios; y, en tercer
lugar, sobre la relación que existe entre lo uno y lo otro.[42]
Uma crítica pode ser formulada à visão dos pesos abstratos, pois é
bastante complicada uma tentativa de organização destes pesos
abstratos e, na maioria dos casos, jamais haverá consenso sobre
superioridades abstratas. Apesar disso, como Alexy entende que os
pesos abstratos dos princípios são iguais em grande parte das
situações, pode-se descartá-los, porque tal igualdade não influencia
a decisão final.
IPiC
Gi,j = __________
IPjC
Como foi dito, quando os pesos abstratos são iguais, eles não devem
ser considerados, porque sua igualdade não interfere na decisão
final. O mesmo vale para as outras duas variáveis. A terceira
variável – grau de segurança das suposições empíricas sobre a
realização e a não realização dos princípios – corresponde à
possibilidade de certeza referente às hipóteses teórico-empíricas
proferidas pelo tribunal acerca da realização de cada princípio. Esta
variável tem a função de esclarecer qual o grau de confiabilidade
que possuem as suposições que o tribunal faz para determinar a
intensidade de intervenção de um princípio quando entra em
colisão com outro. Pode ser, por isso, representada por “SPiC” e
“SPjC”. A ela também podem ser relacionados os valores numéricos
1, 2 e 4, correspondentes respectivamente ao grau “não-
evidentemente falso”, “plausível” e “certo”[50].
Luis Fernando Schuartz entende que o grande vazio que Alexy deixa
na resposta à crítica de Habermas está em outro aspecto: a
ponderação deixa margem para o crescimento perigoso de juízos
irracionais, já que os argumentos funcionalistas podem prevalecer
sobre os argumentos normativos[59]. É que Habermas entende que
princípios possuem maior força de justificação do que valores, pois
possuem obrigatoriedade geral, devido ao seu sentido deontológico,
ao passo em que os valores, por causa do sentido axiológico, devem
ser inseridos numa ordem transitiva de valores, caso a caso. Então,
como não existem critérios racionais para esta inserção, a
interpretação de princípios como valores – de modo transitório e
conforme ordens de precedência – permite decisões arbitrárias. [60]
NOTAS
[1] BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional.
19. ed. São Paulo: Malheiros, 2006. p. 398.
[2] Cf. BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito
Constitucional. 19. ed. São Paulo: Malheiros, 2006. pp.434-436.
[3]
Cf. GUERRA FILHO, Willis Santiago. Processo
Constitucional e Direitos Fundamentais. 4.ed. São Paulo:
RCS Editora, 2005. pp. 114-115.