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CARACTERÍSTICAS FÍSICAS E INFLUÊNCIA DO TAMANHO DA SEMENTE NA

GERMINAÇÃO E DESENVOLVIMENTO INICIAL DE MUDAS DE TINGUI


(Magonia pubescens)

Héria de Freitas Teles1; Paulo Victor Alvarenga Tavares1; Renata Apolinário S. Gomes Santos1;
Nathália Caetano Fernandes1; Idália Arruda de Abreu1; Jordana Gabriel Sara1; João Victor Silva
Nogueira1; Larissa Leandro Pires1
(1 Universidade Federal de Goiás, Escola de Agronomia e Engenharia de Alimentos, Caixa
Postal 131, Campus II, 74.001-970 Goiânia, GO. email: heriafreitas@hotmail.com)

Palavras-chave: peso da semente, germinação, comprimento da plântula, Cerrado

Introdução
A espécie Magonia pubescens A.St.-Hil., família Sapindaceae, natural e comum nos
Estados de Goiás e Mato Grosso, é conhecida popularmente como tingui. Segundo Lorenzi
(1992), é uma planta decídua, heliófita, com altura de 5m a 9m e tronco com 20cm a 30cm de
diâmetro, ocorrendo também nos cerrados do Ceará até Minas Gerais. Rizzini & Mors (1976)
afirmaram que esta espécie é muito abundante em matas secas e nos altos cerrados.
Esta espécie possui madeira seca, com densidade de 840kg.m-3, escura, cerne pouco
distinto do alburno, sem brilho na superfície polida, fácil de ser trabalhada. Apesar de ser pouco
utilizada, é indicada para carvão, moirões e tábuas (Paula & Alves, 1997). Suas sementes são
usadas para a fabricação de sabão caseiro, considerado medicinal para tratamento da pele, e as
folhas e cascas, quando amassadas em água, fornecem material ictiotóxico (Caldeira &
Tokashiki, 2000). Segundo informações da Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira, fornece o
melhor carvão vegetal para siderurgia dentre as plantas da flora dos cerrados mineiros (Salgado-
Labouriau, 1973).
Para a obtenção de sementes, os frutos devem ser colhidos diretamente da árvore, quando
iniciarem a abertura e queda espontânea, ou recolherem-se as sementes no chão, logo após a
queda (Lorenzi, 1992). A germinação de sementes intactas ocorre entre 14ºC e 40ºC, sendo de
29ºC a temperatura ótima e de 41ºC a temperatura letal (Salgado-Labouriau, 1973).
Quando a semente é embebida em água, verifica-se a formação de um gel com
propriedades fungistáticas, o qual, segundo Salgado-Labouriau (1973), apresenta substâncias
promotoras de crescimento; contudo, tal hipótese não foi confirmada por Joly et al. (1980).
As sementes diferem-se individualmente em termos de viabilidade e vigor (Souza, 1979).
Assim, a identificação de características físicas, correlacionadas com a qualidade fisiológica,
permite a eliminação de sementes indesejáveis, com o conseqüente aprimoramento da qualidade
do lote.
A classificação das sementes por densidade é uma estratégia que pode ser adotada para
uniformizar a emergência das plântulas, obtendo-se mudas de tamanho semelhante e/ou de maior
vigor. Sementes de maior densidade, em uma mesma espécie, são potencialmente mais vigorosas
do que aquelas menores e de menor densidade, resultando em plântulas mais desenvolvidas
(Carvalho & Nakagawa, 2000).
Trabalhando com cacau (Theobroma cacao), Frazão et al. (1984) mostraram que a
utilização de sementes pesadas (1,9g a 2,3g) possibilitou a obtenção de mudas mais vigorosas do
que as originadas de sementes leves (0,9g a 1,3g) e médias (1,4g a 1,8g). Por outro lado, Passos
et al. (1976) não encontraram efeito significativo para o peso das sementes de quiabo
(Abelmoschus esculentus) nos testes de vigor realizados.
Este trabalho objetivou caracterizar fisicamente as sementes de tingui (Magonia
pubescens) e avaliar a influência do tamanho da semente na viabilidade e desenvolvimento inicial
de mudas.

Material e Métodos
As sementes de tingui, coletadas diretamente da planta no mês de agosto de 2007, na
região de Ivolândia, Goiás, foram encaminhadas para a Escola de Agronomia e Engenharia de
Alimentos da Universidade Federal de Goiás, em Goiânia, Goiás.
Em um primeiro momento, foram determinadas as características físicas, a taxa de
embebição e o grau de umidade de sementes dessa espécie. Outro ensaio foi conduzido para a
avaliação do desenvolvimento inicial de mudas em função do tamanho das sementes.
Para a caracterização física, determinou-se o peso e os diâmetros transversal e
longitudinal de sementes intactas e dessas após a retirada do tegumento, totalizando 300
sementes. Com base nesses dados, classificou-se as sementes em três grupos: sementes pequenas,
médias e grandes (Tabela 1).

Tabela 1 - Características físicas de sementes intactas e sem tegumento de tingui (Magonia


pubescens). Goiânia, 2007.
Sementes intactas Sementes sem tegumento
Classes de Diâmetro Diâmetro Diâmetro Diâmetro
sementes Massa (g) longitudinal transversal Massa (g) longitudinal transversal
(cm) (cm) (cm) (cm)
Pequena 0,511 – 1,799 4,5 – 8,2 3,3 – 4,6 0,060 – 1,039 2,6 – 4,2 1,5 – 2,5
Média 1,809 – 2,366 8,2 – 9,1 4,6 – 5,1 1,041 – 1,419 4,2 – 4,8 2,5 – 2,8
Grande 2,367 – 3,641 9,1 – 10,8 5,1 – 7,0 1,422 – 2,297 4,8 – 5,8 2,8 – 3,4

Para a taxa de embebição, as sementes foram inicialmente pesadas (zero hora) e, em


seguida, colocadas para embeber em 100 mL de água destilada, determinando-se seus pesos a 1h,
2h, 4h, 8h, 16h, 24h, 36h, 48h, 60h e 72h após o início da embebição. Esta avaliação foi realizada
com cinco amostras de quatro sementes cada.
Para a determinação do grau de umidade, as sementes foram colocadas em estufa à
temperatura de 105ºC (± 3°C), segundo Brasil (1992).
Para a avaliação da viabilidade e do desenvolvimento inicial das mudas em função do
tamanho das sementes, semeou-se vinte sementes sem tegumento para cada classe (pequena,
média e grande), em quatro repetições, em bandejas plásticas contendo substrato Plantmax. Esse
ensaio foi conduzido em ambiente protegido do tipo telado, no período de agosto a novembro de
2007. A viabilidade das sementes foi avaliada pela emergência, ao trigésimo dia após a
semeadura e, aos 45 dias, avaliou-se o desenvolvimento inicial das mudas, determinando-se o
comprimento da parte aérea das plântulas. Os resultados foram submetidos à análise de variância
e as médias comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

Resultados e Discussão
As características físicas das sementes, classificadas em pequenas, médias e grandes,
estão descritas na Tabela 1 e Figuras de 1 a 6. As sementes intactas apresentaram pesos com
variação de 0,511g a 3,641g; diâmetro longitudinal de 4,5cm a 10,8cm e diâmetro transversal de
3,3cm a 7,0cm. Já, após a retirada do tegumento, as sementes mostraram pesos com variação de
0,060g a 2,297g; diâmetro longitudinal de 2,6cm a 5,8cm e diâmetro transversal de 1,5cm a
3,4cm. Isto mostra que o tegumento representa, em média, 56% do peso, sendo responsável por
cerca de 47% e 54% dos diâmetros transversal e longitudinal, respectivamente. A principal
função do tegumento é de proteção, porém em algumas espécies como o tingui, também atua na
dispersão, através de expansões alares que permitem sua dispersão pelo vento, sendo seus
tamanhos aspectos importantes para a melhor eficiência desse processo.
As sementes apresentaram grau de umidade médio de 8,0%. A curva de absorção de água
pelas sementes está representada na Figura 7. Observa-se que a fase I do processo germinativo,
referente à rápida absorção de água, ocorreu em até 24 horas de embebição. Posteriormente, o
conteúdo de água da semente, aumentou pouco e muito lentamente, caracterizando o período
conhecido como fase de preparação e ativação do metabolismo, ou apenas fase II da embebição
(Ferreira & Borghetti, 2004).
24 24
21
Porcentagem

20

Porcentagem
18
16 15
12 12
8
9
6
4
3
0 0
0,507- 0,821- 1,135- 1,449- 1,763- 2,076- 2,390- 2,704- 3,018- 3,332- 0,054- 0,279- 0,504- 0,729- 0,954- 1,179- 1,404- 1,629- 1,854- 2,079-
0,820 1,134 1,448 1762 2,075 2,389 2,703 3,017 3,331 3,645 0,278 0,503 0,728 0,953 1,178 1,403 1,628 1,853 2,078 2,303

Faixas de peso (g) das sementes Faixas de m assa (g) das sem entes

Figura 1 – Peso de sementes intactas de Figura 2 - Peso de sementes sem


Magonia pubescens. tegumento de Magonia
pubescens.

70 60
60 50
Porcentagem

50 40
40 30
30 20
20
10
10
0
0
1,5-1,9 2,0-2,4 2,5-2,9 3,0-3,4
3,1-4,0 4,1-5,0 5,1-6,0 6,1-7,0
F a i x a s d e d i â m e t r o s t r a n sv e r sa i s ( c m ) Faixas de diâm etros transversais (cm )

Figura 3 – Diâmetros transversais de Figura 4 - Diâmetros transversais de


sementes intactas de Magonia sementes sem tegumento de
pubescens. Magonia pubescens.
60
60
50

P orc e nta ge m
P orc e nta ge m

50
40 40
30 30
20 20
10 10
0 0
4,0-5,7 5,8-7,5 7,6-9,3 9,4-11,3 2,2-3,1 3,2-4,1 4,2-5,1 5,2-6,1
Faixas de diâmetros longitudinais (cm) Faixas de diâmetros longitudinais (cm)

Figura 5 – Diâmetros longitudinais das Figura 6 - Diâmetros longitudinais de


sementes intactas de Magonia sementes sem tegumento de
pubescens. Magonia pubescens.

16

14

12
peso das sementes (g)

10

0
0h 1h 2h 4h 8h 16h 24h 36h 48h 60h 72h

tempo (h)

Figura 7 - Absorção de água, indicada pelo peso de sementes de tingui (Magonia pubescens)
sem tegumento.

As sementes médias e grandes sem tegumento obtiveram maior percentagem de


emergência (90% e 81%, respectivamente) e maior vigor, demonstrado pelo comprimento da
parte aérea das plântulas normais (Tabelas 2 e 3). Isto pode ser explicado pela relação direta
da maior densidade (peso) das sementes com o maior acúmulo de tecidos de reserva destas
sementes e/ou pelo grau de maturidade fisiológica das mesmas.

Tabela 2 – Emergência média (%) de sementes de Magonia pubescens segundo o tamanho da


semente. Goiânia-GO, novembro/2007.
Classe de sementes por tamanho Emergência média (%)
Pequena 61 b
Média 90 a
Grande 81 a
Teste F 31,24
C.V.(%) 6,85
1
Valores seguidos por letras iguais, na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey (p>0,05).

Tabela 3 – Efeito do tamanho da semente na altura média de plantas de tingui (Magonia


pubescens). Goiânia-GO, novembro/2007.
Classe de sementes por tamanho Comprimento da parte aérea da plântula (cm)
Pequena 14,36 b
Média 20,78 a
Grande 23,46 a
Teste F 45,60
C.V.(%) 7,09
1
Valores seguidos por letras iguais, na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey (p>0,05).

Conclusões
As sementes de tingui (Magonia pubescens) mostram variação entre si em termos de
peso e diâmetros. O peso de sementes influi positivamente na percentagem de emergência e
no desenvolvimento inicial de mudas, sendo que, quanto maior o peso, melhor é o
desenvolvimento inicial de mudas.

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