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DESENVOLVIMENTO INICIAL DE PLÂNTULAS DE Ziziphus joazeiro MART.

(RHAMNACEAE).
Vanessa Batista Amaral1, Franciellen Morais1, Giovana Rodrigues da Luz1, Gisele Cristina de
Oliveira Menino1, Suely de Cássia Antunes de Souza1, Maria das Dores Magalhães Veloso1 &
Yule Roberta Ferreira Nunes1 (1Laboratório de Ecologia e Propagação Vegetal, Universidade
Estadual de Montes Claros - UNIMONTES, Campus Universitário Prof. Darcy Ribeiro - Vila
Mauricéia - Montes Claros /MG - CP 126 - CEP 39401. e-mail: vbamaral@yahoo.com.br).

Termos para indexação: Juá, estabelecimento, medidas alométricas.

Introdução
O recrutamento de plantas exige condições específicas (Grubb, 1977), que
freqüentemente está mais associado às condições ambientais e a competição do que ao
estabelecimento de plantas (Krenová e Leps, 1996). Sendo assim, a sobrevivência de plântulas
envolve fatores ecológicos, como luz, temperatura e umidade (Sork, 1987; Kotorová e Leps,
1999; Gustafsson e Ehrlén, 2003), e a forma, o tamanho e os tipos de quebra de dormência
das sementes (Harper, 1977). Além disso, o solo atua como importante regulador da
distribuição populacional dos estágios iniciais, desde o estabelecimento da semente até a
disponibilidade nutricional após a abscisão cotiledonar (Dzwonko e Gawroński, 2002).
Assim, O desenvolvimento de plântulas é considerado um dos estágios mais críticos do ciclo
de vida das plantas após a dispersão (Fenner, 1985), uma vez que, é nesse estágio que um
indivíduo se revela apto ou não ao ambiente, podendo manifestar sua sensibilidade através de
taxas extremas de mortalidade em condições ambientais adversas (Rousteau, 1986).
O conhecimento sobre o processo de desenvolvimento inicial de espécies nativas
florestais é importante para subsidiar trabalhos de regeneração, silvicultura, conservação,
fenologia e/ou utilização de recursos genéticos (Zamith e Scarano, 2004). Entretanto, a atual
forma de expansão agrícola do Brasil tem desprezado o potencial de uso das espécies nativas,
ainda que este apresente um enorme grupo de espécies que podem ser aproveitadas na
indústria alimentícia e farmacêutica, ou ainda, na ornamentação (Ribeiro et al., 1994).
Neste sentido, Ziziphus joazeiro, popularmente conhecida como juá, juá-fruta e
laranja-de-vaqueiro, é uma espécie com grande potencial econômico, ocorrendo desde o
nordeste até o norte de Minas Gerais, sendo utilizada na ornamentação (Lorenzi, 1998), na
medicina popular, na fabricação de sabão e dentifrício e na indústria madeireira (Braga,
1976), além de sua importância na proteção das margens dos cursos d’água, integrando as
matas ciliares (Meunir, 2008). Destaca-se particularmente nas fisionomias de Mata Seca
(Floresta Estacional Decidual), do norte de Minas Gerais, pela presença de copa globosa, cor
verde-escuro e sempre perene (Ribeiro e Walter, 1998; Maia, 2004). Assim, este estudo teve
como objetivo avaliar o desenvolvimento inicial de plântulas de Z. joazeiro em diferentes
tratamentos de escarificação, visando a produção de mudas para utilização em programas de
revegetação de ambientes degradados ou perturbados.

Material e Métodos
Foram coletados 100 frutos maduros de 11 indivíduos arbóreos de juá, em
março/2007, na estrada vicinal entre Januária e o Povoado de Campos, inserida na Área de
Preservação Ambiental do Rio Pandeiros, no município de Januária (15º 36’ 19” S e 44º 42’
17” W a 15º 60’ 53” S e 44º 58’ 22” W). Os frutos foram conduzidos ao Laboratório de
Ecologia e Propagação Vegetal/UNIMONTES, para serem despolpados e as sementes
separadas em lotes homogêneos, conforme a cor e o tamanho. A seguir, estas foram
submetidas a cinco métodos de escarificação: sementes intactas (C = controle); escarificação
mecânica, utilizando-se esmeril elétrico (L = lixa); térmica, imersão em água quente a 100°C
durante 5 minutos (HQ = água quente); química, imersão em ácido sulfúrico 98% por 5
minutos (AS = ácido sulfúrico), mecânica e térmica (HL = água quente + lixa), conforme
Morais et al. (2007).
A semeadura ocorreu em abril/2007, sendo as sementes enterradas a 1,5 cm de
profundidade, em sacos plásticos pretos para mudas (30 cm x 20 cm) contendo terra vegetal,
que foram posteriormente alocados em casa de vegetação. O delineamento experimental foi
de onze blocos contendo dez sacos plásticos com uma semente/saco, com espaçamento de 10
x 10 cm entre os blocos, sendo considerado cada bloco como uma unidade amostral. A
irrigação ocorreu duas vezes ao dia, sendo considerada germinada a sementes que
apresentasse os cotilédones abertos com coloração verde e emergência da parte aérea acima
da superfície do solo (Barradas e Handro, 1974).
As avaliações foram feitas mensalmente, no período de agosto a janeiro/2008, tomando-se as
medidas de DAS (diâmetro à altura do solo), com uso de paquímetro digital; altura total da
plântula, após 2 cm de emergência, desde o colo até a última gema apical do ramo principal,
com o auxílio de régua milimetrada (Paiva e Poggiani, 2000); e contagem do número de
folhas. Os efeitos entre os diferentes tratamentos sobre o desenvolvimento das plântulas foram
avaliados através de análise de variância (ANOVA), de acordo com Zar (1996).

Resultados e Discussão
Em plântulas de Z. joazeiro o diâmetro total (gl = 4, F = 3,8381, n = 238, p < 0.05)
(Figura 1); e a altura (gl = 4, F = 2,3622, n = 238, p < 0.05) (Figura 2) variaram
significativamente entre ao tratamentos, sendo que, o tratamento ( C= controle) apresentou
maior DAS (2,96 cm) e altura (24,76 cm). Por outro lado, o número de folhas não apresentou
variação entre os tratamentos (gl = 4, F = 1,4914, n = 238, p > 0.05).

3,5
3
Diâmetro (cm)

2,5
2
1,5
1
0,5
0
C L HQ HL AS

Tratamentos
Figura 1: Diâmetro médio das plântulas de Ziziphus joazeiro entre os diferentes tratamentos
de escarificação de sementes, após seis meses de semeadura. C = controle; L = lixa; HQ =
água quente; HL = água quente + lixa; AS = ácido sulfúrico.

30

25

20
Altura (cm)

15

10

0
C L HQ HL AS
Tratamentos

Figura 2: Altura média das plântulas de Ziziphus joazeiro entre os diferentes tratamentos de
escarificação de sementes, após seis meses de semeadura. C = controle; L = lixa; HQ = água
quente; HL = água quente + lixa; AS = ácido sulfúrico.

O experimento demonstrou que o vigor e o crescimento foram mais significativos no


grupo controle do que nos tratamentos de escarificação; não seguindo os resultados esperados
por Alves et al. (2006), que encontraram maior porcentagem de germinação e vigor em
sementes de Z. joazeiro submetidas a tratamentos com ácido sulfúrico.
Por outro lado, o número de folhas não apresentou diferença entre os tratamentos, uma
vez que esta espécie pode ser considerada pioneira, tendo como principal estratégia de
sobrevivência maior investimento em crescimento (Grime, 1983), o que foi verificado através
dos valores obtidos no DAS e altura.

Conclusões
Ziziphus joazeiro não apresentou dormência, sendo observado que o vigor e
crescimento foram mais significativos no grupo controle do que nos tratamentos de
escarificação realizados.

Agradecimentos
À FAPEMIG pela concessão das Bolsas de Incentivo a Pesquisa e ao
Desenvolvimento Tecnológico (BICDT) de Y. R. F. Nunes e de Doutorado (PCRH-
UNIMONTES/FAPEMIG) de M. D. M. Veloso. Ao Sr. Marcelo de Araújo Souto, gerente da
fazenda AGROPOP por autorizar a coleta de sementes na área e aos funcionários do
Laboratório de Ecologia e Propagação Vegetal Ivanilde Guimarães, Waldimar Ruas e Osmar
Alcântara pelo apoio na realização do experimento.

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