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Aula 28 - Como Executar e receber a Multa Diária fixada

para o cumprimento de uma tutela provisória


1. O que são as ASTREINTES?
1.1. Às vezes, para tornar concreta uma obrigação de fazer, de
não fazer ou de dar, estabelecida em uma tutela provisória, é
necessário que o juiz utilize algumas medidas de coerção,
algumas medidas que vão "estimular" o devedor a cumprir uma
obrigação.

1.1.1. Exemplo 1

1.1.1.1. Em decisão antecipatória de tutela o juiz


determinou que a operadora de plano de saúde realize uma
cirurgia em seu cliente, mas a operadora, mesmo após
intimada da decisão, não cumpriu a obrigação

1.1.1.1.1. Neste caso, para estimular que a operadora


cumpra a obrigação que o juiz determinou, pode ser
fixada uma multa pecuniária, que irá incidir caso a
obrigação não seja cumprida.

1.1.1.1.1.1. Lembre-se do art. 297 do CPC

1.1.1.1.1.1.1. Art. 297. O juiz poderá determinar as


medidas que considerar adequadas para efetivação
da tutela provisória.

1.1.1.1.1.1.1.1. Essa multa que o juiz pode fixar


para estimular o cumprimento de uma obrigação
é conhecida como "astreintes".

2. Qual é o amparo legal para a fixação das


Astreintes?
2.1. Art. 536 do CPC regulamenta o cumprimento de
sentença/decisão que contenha obrigação de fazer ou de não
fazer.

2.1.1. E no § 1º do art. 536, estabelece que o juiz pode


determinar a imposição de multa para ver cumprida a tutela
concedida

2.1.1.1. Art. 536. No cumprimento de sentença que


reconheça a exigibilidade de obrigação de fazer ou de não
fazer, o juiz poderá, de ofício ou a requerimento, para a
efetivação da tutela específica ou a obtenção de tutela pelo
resultado prático equivalente, determinar as medidas
necessárias à satisfação do exequente.

2.1.1.1.1. § 1º Para atender ao disposto no caput , o juiz


poderá determinar, entre outras medidas, a imposição de
multa, a busca e apreensão, a remoção de pessoas e
coisas, o desfazimento de obras e o impedimento de
atividade nociva, podendo, caso necessário, requisitar o
auxílio de força policial.

2.2. Art. 537 do CPC

2.2.1. Art. 537. A multa independe de requerimento da parte e


poderá ser aplicada na fase de conhecimento, em tutela
provisória ou na sentença, ou na fase de execução, desde que
seja suficiente e compatível com a obrigação e que se
determine prazo razoável para cumprimento do preceito.

3. A multa é penalidade? A multa é indenização por


danos? A multa substitui a obrigação que deveria ser
cumprida?
3.1. A multa não é uma penalidade.

3.1.1. Ela é um mecanismo de apoio, de incentivo ao


cumprimento da decisão. O seu objetivo é influenciar na
vontade de quem deva cumprir algo para que, com medo da
multa, acabe cumprindo

3.1.1.1. Alguns a chamam de multa processual

3.2. A multa não tem caráter indenizatório

3.2.1. Por isso, a sua incidência independe da existência de


qualquer dano
3.2.1.1. Não se confunde com cláusula penal ou com
indenização por perdas e danos

3.2.1.1.1. Art. 500 do CPC

3.2.1.1.1.1. Art. 500. A indenização por perdas e danos


dar-se-á sem prejuízo da multa fixada periodicamente
para compelir o réu ao cumprimento específico da
obrigação.

3.2.1.1.1.1.1. Exemplo:

3.2.1.1.1.1.1.1. O réu foi condenado a reformar as


pastagens da fazenda do autor, no prazo de 30
dias. O prazo se esgotou, mas o requerido não
reformou. O juiz o intima para reformar em 20
dias, sob pena de multa diária de Mil reais. Mas o
requerido não cumpre a obrigação.

3.2.1.1.1.1.1.1.1. Neste caso, a multa está


incidindo e o requerente também poderá
cobrar do requerido todas as perdas e todos os
danos que acabou sofrendo, pelo não
cumprimento da obrigação

3.2.1.1.1.1.1.1.1.1. Um exemplo de dano


pode ser o fato de o requerente ter tido
sofrido com a morte de alguns animais, pela
ausência de pasto, porque o requerido não
cumpriu a obrigação de reformar as
pastagens

3.2.1.1.1.1.1.1.1.1.1. Neste caso, além de


ter que pagar a multa diária, o requerido
terá que indenizar pelos prejuízos
gerados.

4. Quando o juiz fixa a multa? O Advogado deve


pedir? O Juiz deve fixar de ofício?
4.1. No momento em que determina a intimação do requerido
para cumprir uma obrigação de fazer ou de não fazer, deve o juiz
estabelecer a multa, o seu valor e a sua periodicidade.

4.1.1. Mas e se o juiz não fixar?

4.1.1.1. Embargos de declaração. Se não resolver, agravo de


instrumento.

4.1.1.1.1. O que você deve ponderar na prática?

4.1.1.1.1.1. Que sem multa o cumprimento da


obrigação ficará enfraquecido...

4.1.1.1.1.1.1. Não há norma sem sanção

4.2. O advogado, em sua petição, deve sempre pedir a fixação da


multa, de forma expressa. Deve sugerir valor e periodicidade.

4.3. Se o juiz não fixou a multa e você deixou passar, peticione


postulando a fixação e nova intimação do executado.

5. Qual deve ser o valor da multa? Pode haver um


teto?
5.1. A lei não diz expressamente.

5.1.1. Ela dá apenas alguns indicativos, quando diz que a


multa deve ser "suficiente e compatível com a obrigação".

5.1.1.1. Então, se a obrigação é de entregar uma bicicleta


de mil reais, não há sentido compatibilidade alguma na
fixação de uma multa diária de Dez mil reais.

5.1.1.1.1. Por outro lado, se a obrigação de é entregar um


veículo de 100 mil reais, não há compatibilidade alguma
em se fixar uma multa diária de 100 reais> Mais vale ao
requerido não entregar, alugar o carro por 200 reais por
dia e pagar a multa.
5.1.1.1.1.1. O valor total das astreintes não deve se
distanciar muito do valor da obrigação principal, sob
pena de proporcionar enriquecimento sem causa do
credor da multa.

5.1.1.1.1.1.1. Por sinal, o Superior Tribunal de Justiça


já decidiu que “o total devido a esse título não deve
distanciar-se do valor da obrigação principal” (AgRg
no Ag 1220010/DF, Rel. Ministro Luis Felipe
Salomão, Quarta Turma, julgado em 15-12-2011, DJe
01-02-2012).

5.1.1.1.1.1.1.1. Embora a lei silencie a respeito, a


jurisprudência tem admitido que o Julgador, ao
fixar o valor da multa, desde logo estabeleça um
teto para o valor total da incidência daquela.
Assim, estabelece-se, por exemplo, uma multa de
cem reais por dia, limitada ao valor total de dez
mil reais.

5.1.1.1.1.1.1.1.1. Sobre a matéria, o Superior


Tribunal de Justiça já decidiu que “cabe fixar
um teto máximo para a cobrança da multa,
pois o total devido a esse título não deve se
distanciar do valor da obrigação principal”
(AgInt no AREsp 976.921/SC, Rel. Ministro Luis
Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 09-
03-2017, DJe 16/03/2017),

5.1.1.1.1.1.1.1.1.1. Sendo também


assentado que “Ao limitar o valor máximo do
somatório das astreintes, o magistrado
intenta evitar o enriquecimento sem causa
ou um abuso em seu descumprimento”
(AgRg no AREsp 587.760/DF, Rel. Ministro
Moura Ribeiro, Terceira Turma, julgado em
18-06-2015, DJe 30-06-2015).

6. Qual deve ser o prazo para o cumprimento da


obrigação, sob pena de incidir a multa?
6.1. Primeiro você deve olhar para a sentença/decisão

6.1.1. Mas se não tiver prazo, cabe ao juiz assinalar.

6.1.1.1. E a lei não estabelece prazo. Fala apenas que o


prazo deve ser RAZOÁVEL (Art. 537, CPC)

7. Vamos falar sobre detalhes práticos da execução


da MULTA DIÁRIA
7.1. A intimação para cumprimento da obrigação deve ser
pessoal. Não pode ser feita através do advogado.

7.1.1. Súmula 410 do STJ

7.1.1.1. A prévia intimação pessoal do devedor constitui


condição necessária para a cobrança de multa pelo
descumprimento de obrigação de fazer ou não fazer.

7.1.2. Art. 231, § 3º, CPC

7.1.2.1. Art. 231. Salvo disposição em sentido diverso,


considera-se dia do começo do prazo:

7.1.2.1.1. § 3º Quando o ato tiver de ser praticado


diretamente pela parte ou por quem, de qualquer forma,
participe do processo, sem a intermediação de
representante judicial, o dia do começo do prazo para
cumprimento da determinação judicial corresponderá à
data em que se der a comunicação.

7.2. Se o juiz fixou multa diária, o requerido foi intimado


pessoalmente, mas não cumpriu a obrigação no prazo assinalado,
começa a ter incidência prática a multa.

7.2.1. Como o valor da multa não foi suficiente para fazer o réu
agir, você já pode pugnar a majoração da multa

7.2.1.1. O Juiz pode fixar e modificar o valor da multa de


ofício
7.2.1.1.1. Art. 537 do CPC: § 1º O juiz poderá, de ofício ou
a requerimento, modificar o valor ou a periodicidade da
multa vincenda ou excluí-la, caso verifique que:

7.2.1.1.1.1. I - se tornou insuficiente ou excessiva;

7.2.1.1.1.2. II - o obrigado demonstrou cumprimento


parcial superveniente da obrigação ou justa causa para
o descumprimento.

7.2.1.1.2. Mas qual é o efeito dessa modificação? Pode


retroagir? Ou só vale da decisão para frente?

7.2.1.1.2.1. O CPC dá a entender que só é possível a


revisão e modificação da multa " vincenda", ou seja,
apenas da decisão em diante.

7.2.1.1.2.2. Mas o entendimento do STJ, antes do Novo


CPC, era no “sentido de que a decisão que comina a
multa diária não preclui nem faz coisa julgada
material”, sendo possível “a modificação do valor
dessa sanção até mesmo de ofício, a qualquer tempo,
inclusive na fase de execução, quando irrisório ou
exorbitante” (AgInt nos EDcl no AgInt no REsp
1589503/SC, Rel. Ministro Marco Aurélio Bellize,
Terceira Turma, julgado em 06-06-2017, DJe 23-06-
2017)

7.2.1.1.2.2.1. Todavia, o próprio CPC admite a


exclusão da multa, conforme a redação do § 1º, do
art. 537, do CPC, de sorte que se o juiz pode excluir,
ou seja, fazer com que a multa deixe de existir
desde a sua origem, patente que pode fazer o
menos, que é reduzir o valor da multa desde a sua
origem.

7.2.1.1.2.2.1.1. Na prática, brigue sempre pela


não redução ou exclusão.
7.2.1.1.3. E é possível ao juiz excluir a multa antes
fixada?

7.2.1.2. O Superior Tribunal de Justiça já decidiu que “O


arbitramento da multa coercitiva e a definição de sua
exigibilidade, bem como eventuais alterações do seu valor
e/ou periodicidade, exige do magistrado, sempre
dependendo das circunstâncias do caso concreto, ter como
norte alguns parâmetros:

7.2.1.2.1. i) valor da obrigação e importância do bem


jurídico tutelado;

7.2.1.2.2. ii) tempo para cumprimento (prazo razoável e


periodicidade);

7.2.1.2.3. iii) capacidade econômica e de resistência do


devedor;

7.2.1.2.4. iv) possibilidade de adoção de outros meios


pelo magistrado e dever do credor de mitigar o próprio
prejuízo

7.2.1.2.5. (AgInt no AgRg no AREsp 738.682/RJ, Rel.


Ministra Maria Isabel Gallotti, Rel. p/ Acórdão Ministro Luis
Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 17-11-2016,
DJe 14-12-2016).

7.2.2. O valor da multa é revertido ao exequente

7.2.2.1. DICA PRÁTICA

7.2.2.1.1. Não deixe acumular muitos dias para pedir a


execução ou para se manifestar. Mostre a sua boa-fé. É
importante que o juiz veja que você quer o cumprimento
da obrigação e não a multa.

7.2.2.2. Em se tratando de multa estabelecida em ação civil


pública
7.2.2.2.1. O valor dela deverá ser destinado ao fundo
mencionado no art. 13, da Lei n. 7.347/85. Por sinal, o
Superior Tribunal de Justiça já decidiu que “A multa
cominatória, em caso de descumprimento da obrigação
de não fazer, deverá ser destinada ao Fundo indicado
pelo Ministério Público, nos termos do art. 13 da Lei n.
7.347/85” (REsp 794.752/MA, Rel. Ministro Luis Felipe
Salomão, Quarta Turma, julgado em 16-03-2010, DJe 12-
04-2010).

7.2.3. Quando você pode executar a multa?

7.2.3.1. A partir do primeiro dia vencido e não pago

7.2.3.1.1. Art. 537. § 3º, do CPC

7.2.3.1.1.1. § 3º A decisão que fixa a multa é passível


de cumprimento provisório, devendo ser depositada
em juízo, permitido o levantamento do valor após o
trânsito em julgado da sentença favorável à parte.

7.2.3.1.1.1.1. Se a decisão que fixou a multa não foi


objeto de agravo ou se não houve impugnação ao
pedido de cumprimento de sentença para receber a
multa, pode o autor pedir o levantamento

7.2.3.1.1.1.1.1. Atenção para essa questão:


7.2.3.1.1.1.1.1.1. O Superior Tribunal de Justiça
ao julgar recurso especial repetitivo sob a
égide do CPC, anterior assentou o
entendimento de “A multa diária prevista no §
4º do art. 461 do CPC [de 1973], devida desde
o dia em que configurado o descumprimento,
quando fixada em antecipação de tutela,
somente poderá ser objeto de execução
provisória após a sua confirmação pela
sentença de mérito e desde que o recurso
eventualmente interposto não seja recebido
com efeito suspensivo” (REsp 1200856/RS, Rel.
Ministro Sidnei Beneti, Corte Especial, julgado
em 01-07-2014, DJe 17-09-2014).

7.2.3.1.1.1.1.1.1.1. Porém, o novo Código de


Processo Civil trouxe uma superação desse
precedente ao dispor, no art. 537, §3º, que:
“A decisão que fixa a multa é passível de
cumprimento provisório, devendo ser
depositada em juízo, permitido o
levantamento do valor após o trânsito em
julgado da sentença favorável à parte”.

7.2.3.1.1.1.1.1.1.1.1. Assim, tenho que


não se afigura necessário nenhuma
confirmação em sentença da multa fixada
em liminar para viabilizar a execução das
astreintes, devendo ser superado o
precedente vinculante construído pelo
Superior Tribunal de Justiça, mediante o
emprego da técnica do overruling.

7.2.3.2. A multa se executa em autos apartados. Um pedido


de cumprimento de sentença (obrigação de pagar). O réu é
intimado para pagar o valor acumulado da multa

7.2.4. Art. 536, § 4º, CPC: A multa será devida desde o dia em
que se configurar o descumprimento da decisão e incidirá
enquanto não for cumprida a decisão que a tiver cominado.

8. Quando NÃO TEM CABIMENTO a imposição de


multa diária?
8.1. Nas obrigações de pagar quantia

8.1.1. Porque nesse caso o Estado pode entrar no patrimônio


do executado e retirar a quantia necessária ao pagamento

8.1.1.1. E também porque existe mecanismo próprio de


coerção - a multa de 10% caso não haja o cumprimento

8.2. Nas obrigações de emitir declaração de vontade

8.2.1. Porque, neste caso, a sentença/decisão prolatada já


substitui a vontade do requerido

8.2.1.1. Exemplo:

8.2.1.1.1. Decisão que declarou que o requerido é o pai


de um menor.

8.2.1.1.1.1. Não é necessário obrigar o requerido a


realizar o registro civil. A declaração feita na sentença
já pode ser registrada em cartório. A declaração
judicial supre a necessidade de agir do requerido.

9. É possível impor multa diária contra a Fazenda


Pública?
9.1. O entendimento dominante no STJ é de que sim, é possível.

9.1.1. (REsp 1664327/PB, Rel. Ministro Herman Benjamin,


Segunda Turma, julgado em 08-08-2017, DJe 12-09-2017).

9.2. Mas porque não seria?

9.2.1. Pela razão de que a multa teria que ser arcada com
recursos públicos, prejudicando ainda mais a sociedade
9.2.1.1. Por isso surgiu corrente no sentido de que a multa
deveria ser paga pelo agente público que não cumpriu a
decisão, e não pelo ente público

9.2.1.1.1. Já foi decidido pelo Superior Tribunal de Justiça


que “Inexiste óbice, por outro lado, a que as astreintes
possam também recair sobre a autoridade coatora
recalcitrante que, sem justo motivo, cause embaraço ou
deixe de dar cumprimento a decisão judicial proferida no
curso da ação mandamental” (REsp 1399842/ES, Rel.
Ministro Sérgio Kukina, Primeira Turma, julgado em 25-11-
2014, DJe 03-02-2015).

9.2.1.1.1.1. Mas a orientação preponderante naquela


Corte milita no sentido contrário, ou seja, é a de que
“determinar a cominação de astreintes aos gestores
públicos sem lhes oferecer oportunidade para se
manifestarem em juízo acabaria por violar os princípios
do contraditório e da ampla defesa” (REsp
1657795/PB, Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda
Turma, julgado em 17-08-2017, DJe 13-09-2017).

10. É possível a imposição de multa diária no Juizado


Especial
10.1. Absolutamente SIM

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