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AVALIAÇÃO DE TENDÊNCIAS CONTENPORÂNEAS DE ADMINISTRAÇÃO

PROF.º JULIO DONADONE

JONATA SANTOS RICCI / MARLOM BARROS / TÚLIO HARATI

Artigo: Difusão da lógica financeira e internacionalização da indústria


sucroalcooleira brasileira Martin Mundo Neto (PPGEP-UFSCar/NESEFI)

O trabalho acima citado de Martin Mundo Neto, inspirado em estudos teóricos da


sociologia econômica e da análise institucional das organizações através do estudo de
amostras de grandes grupos da indústria sucroalcooleira brasileira descreve e apresenta
as mudanças e transformações sofridas no setor em questão, tal como a construção de
um processo social, com o objetivo de beneficiar o entendimento da dinâmica, do que
podemos dizer, novo capitalismo brasileiro.
Através do artigo de Martin Mundo Neto é possível relacionar tópicos, transformações e
acontecimentos com os conteúdos teóricos e processos que foram estudados durante as
aulas da disciplina de Tendências Contemporâneas de Administração do curso de
especialização em Gestão de Produção do DEP (Ufscar).

Aula 1. Governança e Propriedade


Logo no início do trabalho onde são citadas as principais referências teóricas é
perceptível a relação das referências citadas no trabalho com os conteúdos visto na aula
1 que dizem respeito a governança e propriedade. Neste trecho o autor deixa claro que
conforme o setor sucroalcooleiro foi ganhando destaque dentro da economia brasileira,
proporcionalmente cresceu a sua visibilidade para as indústrias de capitais de risco,
sendo alvo de investimentos e ganhando cada vez mais forma aparente do capitalismo
financeiro.
Os primeiros parágrafos da referência teórica também citam como característica do
processo de financeirização do capitalismo brasileiro o fato de ser apenas aparente a
omissão do Estado junto à economia, uma vez que o governo passou a atuar através dos
fundos de pensão e na realização da privatização de empresas estatais, implicando na
redefinição dos direitos de propriedade destas empresas e colaborando para a ascensão
da governança corporativa como modelo de gestão. O Estado passou a participar no
mercado industrial não apenas em forma de grandes estatais, mais como acionário
minoritário, por meio do BNDESPar. No setor sucroalcooleiro o BNDESPar está
presente em 44% do grupo amostral estudado pelo trabalho.
Ao decorrer do trabalho o autor vai citar como este processo de financeirização do
capitalismo brasileiro pode ser percebido através das transformações do setor
sucroalcooleiro no país, indicando até que o simples fato da renomeação deste setor
industrial para sucroenergético já indica a construção desta “nova indústria” cada vez
mais baseada no ponto de vista financeiro.
A relação do artigo de Martin Mundo Neto com os conceitos estudados durante a Aula 1
aumenta ainda mais quando observamos os tópicos do trabalho onde são apresentadas as
histórias e transformações dos grupos da indústria sucroalcooleira. Pode-se observar ao
longo da história destes grupos a presença do modelo de gestão dos barões da indústria,
uma vez que grande parte dos grupos deste setor tiveram seu início através de famílias
tradicionais, donas de grandes extensões de terra. A presença da escola clássica de
gestão defendida por Sloan (criação de valor) e a chegada da “indústria financeira”
através cada vez mais da presença desses grupos na bolsa de valores, e na posição de
recebedores de altos investimentos das private equity.
Esta relação fica ainda mais nítida quando analisamos o tópico da empresa COSAN, que
ingressou nas bolsas de valores e ao longo do tempo se rendeu ao processo de
ficanceirização através de aquisições e fusões, e viu a família Ometto passar de donos
usineiros para membros acionários. Atualmente o grupo se tornou uma corporação
multidivisional atuando nas áreas de logística, aquisição de terras e no mercado de
distribuição de combustíveis e lubrificantes do Brasil.
Esta mesma relação com o processo de financeirização pode ser notada na história dos
grupos LDC-SEV, INFINITY BIO-ENERGY, ETHBIOENERGIA e na criação da
COPERSUCAR S/A.
Em todos esses grupos o quadro de executivos surge como responsável pela boa
governança e afirmar o compromisso com a sustentabilidade empresarial, social e
ambiental.

Aula 2. Consultoria e Intermediários


Na aula 2 da disciplina de tendências contemporâneas de administração estudamos
como as organizações de consultoria organizacional influenciaram nas reestruturações
socioeconômicas em diversas esferas da sociedade.
No trabalho de Martin Mundo Neto também é possível notar a presença da influência
das empresas de consultoria no setor sucroalcooleiro do Brasil. O próprio texto do autor
relata que a partir do ano de 2007 a indústria sucroalcooleira brasileira bateu todos os
recordes de operações de fusões e aquisições, e todo este processo foi acompanhado e
muitas vezes inclusive dirigido por empresas de consultoria, tanto que nesta mesma
época os estudos da KPMG, uma organização de consultoria, passaram a considerar o
setor de açúcar e álcool como uma categoria independente, desvinculando da categoria
de produtos químicos e petroquímicos. Tal ação já registra a influência das empresas de
consultoria na formação socioeconômica.
Outro trecho do trabalho de Neto que podemos relacionar com os conceitos e
referências estudadas durante a aula 2 é o processo de adoção de ferramentas de gestão
nas indústrias do setor sucroalcooleiro como uma espécie de “selo”, indicando que a
empresa estaria em sintonia com “boas práticas” de governança corporativa, assim
como a “gestão baseada o valor”. O uso de tais ferramentas como um “rótulo de boa
gestão é fruto da influência das consultorias que divulgavam a “filosofia da qualidade” e
vendia a inspiração da gestão japonesa além de impulsionarem o incremento da
informatização nos aspectos administrativos com a utilização de softwares, como
aconteceu no caso da COPERSUCAR S.A que foi umas das primeiras empresaram
brasileiras a implantar o SAP como sistema ERP se convertendo a tendências
dominantes das empresas de consultoria da época.
Também podemos relacionar o trabalho de Neto com a aula 2 quando observamos a
formação da ÚNICA (União da Indústria de Cana-de-Açúcar, que se tornou uma
intermediária representando a sustentabilidade do setor, que investiu fortemente na
“certificação socioambiental de biocombustíveis” de suas associadas através de uma
consultoria interna de sustentabilidade, além de realizar eventos e fórum de debates
internacional sobre etanol e outras fontes de energias renováveis, característica forte da
influencia das empresas de consultoria por meio das business schools.
Também não podemos deixar de citar o fato de a indústria sucroalcooleira sempre estar
ligada a presença de lideranças políticas, onde grande maioria dos executivos membros
da governança corporativa são profissionais oriundos da esfera governamental ou
acadêmica.
Aula 3. Mudança Organizacional
Durante a aula 3 estudamos como acontece as mudanças organizacionais e ficou
marcada pelo registro de como tais mudanças nas organizações industriais tem sido cada
vez mais de forma mais rápida. Também podemos notar como as mudanças
organizacionais têm acompanhado as tendências e mudanças sociais, econômicas,
políticas e tecnológicas. E fica nítido que a sobrevivência destas organizações esta
diretamente ligada a sua capacidade de adaptação a estas mudanças.
Atualmente as organizações da “nova indústria” está mais voltada para os clientes,
colocando no plano central a questão da qualidade de seus produtos e serviços, e ao
mesmo tempo mantendo uma relação próxima com a comunidade, assumindo cada vez
mais uma postura de responsabilidade social.
As afirmações acima se confirmam através do trabalho de Martin quando observamos
que na indústria sucroalcooleira do Brasil existe a preocupação e empenho para vincular
o etanol com as fontes renováveis de energia. Além disso em certos trechos de seu
trabalho Martin mostra que que o Grupo COSAN durante sua trajetória de crescimento,
passou a se preocupar cada vez mais com a questão de sustentabilidade, representando-a
a partir de quatro pilares: social, meio ambiente, captura de carbono e qualidade.
Aderindo aos Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL) e ao mercado de crédito
de carbono como alternativa para tratamento da questão ambiental.

O texto de Martin reforça essa ideia apontando que tanto nos grupos da amostra
como nos do grupo de controle, a preocupação com a retórica da responsabilidade social
e da gestão ambiental é marcante. Para atrair investidores ou para se manter nos
negócios as empresas precisam demonstrar viabilidade econômica, mas também são
cada vez mais questionadas quanto à compatibilidade de suas ações em relação às
dimensões ambientais e sociais. A Responsabilidade Social Corporativa e a Gestão
Ambiental que, segundo Grün (2005), tornaram-se pilares da Governança Corporativa
brasileira, estão presentes nos comunicados institucionais da maioria das empresas do
espaço sucroalcooleiro, mesmo aquelas que não participam diretamente do mercado de
capitais. A “sustentabilidade” passa a ser uma forma de manter ou ampliar a
legitimidade no campo. Este aspecto estaria relacionado com o trabalho realizado pela
UNICA e demais organização de representação de interesses dos industriais, como
indicado a seguir.
A UNICA tem atuado no sentido de reverter a imagem negativa da indústria
sucroalcooleira acumulada nas décadas anteriores. Apostando nas “boas práticas”
agrícolas e de gestão ela tem ocupado uma posição de liderança, procurando mudar o
“espírito do capitalismo” das atividades sucroalcooleiras. Mas mesmo o esforço das
lideranças sucroalcooleiras em termos de demonstrar a sustentabilidade das atividades,
nenhuma dos grupos que operam na BM&FBOVESPA obteve o selo de
sustentabilidade do mercado de capitais – Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE).
E, apesar da atuação da UNICA em termos de consultoria sobre sustentabilidade para o
sucroalcooleiro, a Companhia Tecnológica de Saneamento Ambiental – CETESB –
divulgou uma relação das autuações ambientais aplicadas aos diversos setores
industriais em que o sucroalcooleiro lidera o ranking (Credendio & Balazina,
01/06/2008), explicitando a diferença entre a retórica e a prática da sustentabilidade.

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