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Amor Nas Alturas

Os Walsh 3

R. Schirmer
Direitos autorais do texto original
R. Schirmer
2019 Todos os direitos reservados
Índice
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Epílogo
Prólogo
KEVIN

Existia uma coisa que eu adorava fazer.


Viajar.
Embora o fuso horário fosse louco e eu sofresse constantemente de jet
lag[1], estar pulando de um país para o outro, era algo que eu não pretendia
deixar de fazer tão cedo. Minha mãe ficou maluca quando descobriu que eu
queria ser piloto de avião. “É uma profissão muito perigosa, meu amor.”, ela
disse.
Será que as pessoas não entendiam que aviões eram o segundo meio
de transporte mais seguro? O primeiro, é claro, era o elevador. Com esse é
difícil competir. De qualquer forma, eu adorava estar a milhares de pés de
altura, vendo o mundo lá de cima, as vezes por entre nuvens. A sensação de
liberdade era inexplicável. Sempre gostei de adrenalina e ser piloto de avião
tinha se tornado parte da minha essência.
Porém agora, eu estava em terra firme e dirigindo meu carro até o
meu segundo lugar favorito.
O apartamento da minha noiva.
Susan e eu estávamos juntos há três anos e para ser sincero, eu sabia
que minha irmã não gostava muito da mulher que escolhi para me casar. Mas
o que eu podia fazer? Era eu quem tinha de decidir isso, não Alicia.
Ainda era sábado, um dia antes do aniversário do meu pai. Eu só iria
chegar a Nova York no domingo, mas consegui uma troca de voo e cheguei
no dia anterior. Agora, eu estava indo para o apartamento de Susan, algumas
horas depois de ter aterrissado e queria lhe fazer uma surpresa.
Minha noiva costumava reclamar demais da minha falta de tempo.
Eu, por outro lado, não poderia culpá-la. Era verdade. Algumas vezes eu
chegava a ficar duas semanas longe, ou até quase três. Susan reclamava que
tinha de cuidar dos preparativos para o casamento sozinha, que eu não estava
perto para irmos ao cinema, fazer um jantar romântico ou apenas nos
enroscar na cama.
Infelizmente, a vida que eu escolhi era cheia de horários loucos e
tempos fora da cidade. Quem quer que se envolvesse comigo, tinha de
entender.
Olhei para o relógio do painel do carro. Marcava duas horas da tarde.
Susan teria uma surpresa ao me ver. Eu tinha a chave do apartamento dela,
tinha livre acesso e muitas vezes eu chegava de madrugada e me metia
debaixo dos lençóis ao lado dela. Dessa vez, eu chegaria cedo, um dia antes
do planejado e sei que ela ficaria feliz.
Por sorte não era horário de rush e eu consegui chegar rápido ao
apartamento de Susan. Estacionei meu carro e olhei para o grande edifício
antes de descer do veículo. Assim que coloquei os pés na calçada, senti a
lufada de ar de final de verão em Nova York. Passei a mão pela minha calça
jeans, ajeitando-a nas coxas e arregacei as mangas da minha camisa cinza até
quase os cotovelos. Tateei o bolso para verificar se as chaves estavam mesmo
ali por puro hábito e subi.
Era um edifício moderno e não muito alto. Susan morava no terceiro
andar e o corredor estava bem tranquilo quando eu saí do elevador. Tirei as
chaves do bolso e enfiei na fechadura. Quando abri a porta, encontrei a luz da
sala completamente acesa, um sinal de que Susan estava no apartamento.
Fechei a porta atrás de mim e me senti em casa. Eu passava mais tempo ali do
que no meu próprio apartamento.
Algo chamou minha atenção. Caída perto do sofá estava algo que
parecia uma camiseta. Franzi o cenho e cheguei perto. Abaixei e peguei
aquele pedaço de pano. De fato, era o que eu suspeitava. Uma camiseta
masculina que eu não reconheci.
Não pertencia a mim.
Será que era uma peça de roupa velha que eu já não me lembrava
mais?
Larguei a camiseta no mesmo lugar e me levantei. Caminhei pelo
apartamento em direção ao quarto de Susan, um cômodo que eu já
considerava meu. Subi as escadas do duplex e caminhei pelo corredor até o
quarto. A luz estava acesa, a porta entreaberta e eu pude sentir que havia
alguém ali.
Eu estava louco para encontrar com Susan. Afastei a porta e quando
dei o primeiro passo para dentro do quarto, a sensação que tive foi a de um
soco no estômago. Um daqueles que eu tinha levado de Ryan Beaumont,
pouco tempo atrás.
Susan estava na cama com outro cara.
Esse cara era meu amigo. Travis Reed.
Eu estava tão em choque que demorei a reagir, demorei até mesmo a
pensar. Aquele filme que dizem que passa em sua cabeça quando algo do tipo
acontece, na verdade não passou pela minha. Não pensei em casamento, não
pensei nos anos que passamos juntos. Tudo que conseguia visualizar era
Susan montada em Travis, seu corpo para cima e para baixo. Do jeito que
fazia comigo.
Foi nessa hora que eu explodi.
— QUE MERDA É ESSA?
Meu grito ecoou pelo cômodo e fez Susan parar e gritar ao virar o
rosto e me ver. Seus cabelos pretos eram um emaranhado agora. Sua
maquiagem, inexistente. Seu rosto vermelho e seus olhos, completamente
arregalados. Travis, o cara que eu pensei ser meu amigo, sentou na cama no
momento em que Susan saiu de cima dele e também me olhou como se
estivesse vendo um fantasma. Bem, assim como um fantasma, ninguém
esperava me ver por ali.
— Kevin, eu posso explicar.
Susan falou saindo da cama e tentando se cobrir com o robe preto
que estava jogado de lado. A mulher que eu amava agora parecia uma
completa estranha para mim. A Susan com quem eu pretendia me casar não
era uma mentirosa.
— Não quero explicação. — falei controlando meu tom de voz,
sem sequer dar um passo à frente — Há quanto tempo essa merda está
acontecendo?
Perguntei e desviei meu olhar para Travis que estava vestindo uma
cueca. Era repugnante toda aquela cena se desenrolando bem à minha frente.
Por quanto tempo eu estava sendo enganado? Com quantos caras isso já tinha
acontecido?
Senti meu sangue ferver e olhei de novo para Susan. Ela ainda não
tinha me dado uma resposta e eu estava cada vez sentindo meu corpo
aquecer.
— EU PERGUNTEI HÁ QUANTO TEMPO ESSA MERDA
VEM ACONTECENDO, PORRA! — gritei, minha paciência indo pelo ralo.
— Foi a primeira vez. Juro. — Susan respondeu e tentou chegar
perto de mim.
— MENTIROSA!
— Kevin, meu amor, me escuta…
— NÃO QUERO OUVIR NADA, SUSAN! VOCÊ ESTAVA
TREPANDO COM OUTRO CARA! NÓS ÍAMOS NOS CASAR, PORRA!
— Kevin, presta atenção, vamos conversar.
Travis tentou se meter e eu quis partir para cima dele, mas depois
de dois passos, eu desisti. Não valia à pena. Para bem da verdade, ambos se
mereciam. Nenhum dos dois valia nada e obviamente, Susan não merecia
nada de mim além do desprezo.
Eu nunca tinha sido santo, mas nunca me rendi às inúmeras
tentações em volta de mim quando estava em outro país.
Porra, eu era um babaca!
— CALA A SUA BOCA, CARALHO! — apontei o dedo —
VOCÊ ESTAVA TRANSANDO COM MINHA NOIVA!
— Por favor, Kevin… — ouvi Susan falar perto de mim.
Senti sua mão tocar meu braço e o afastei puxando o mesmo para
longe.
— NÃO ME TOCA! NUNCA MAIS OUSE ENCOSTAR EM
MIM, ENTENDEU? VOCÊ É UMA VAGABUNDA, SUSAN! EU IA ME
CASAR COM UMA VADIA!
— NÃO FALA ASSIM! — ela rebateu.
Minha vontade era de gritar e xingar mais, quebrar todo aquele
quarto. Aquela cama onde eu tinha dormido várias vezes com ela e
provavelmente, ela tinha dormido com outros. Lembrei de todos os dias que
eu passava longe e que Susan talvez estivesse com outro. Quantas vezes isso
tinha acontecido?
— EU VOU EMBORA!
Virei as costas e saí do quarto a passos largos sentindo minha mão
formigar. Eu precisava me afastar dali antes que cometesse alguma loucura.
Eu não bateria em Susan, mas precisava bater em algo. Minha vontade era de
arrebentar a cara do Travis, mas eu tinha de me controlar. Não valia à pena.
Susan veio correndo atrás de mim, meu coração batendo rápido,
minha cabeça parecendo que ia explodir e eu podia sentir minhas mãos
suando tamanho nervosismo.
— Kevin, não vai embora. Nós podemos resolver isso!
— NÃO TEMOS O QUE RESOLVER, PORRA! — gritei assim
que cheguei no último degrau e virei para ela — CASO VOCÊ NÃO
TENHA ENTENDIDO, ACABOU! NÃO VAI MAIS ME FAZER DE
OTÁRIO, SUSAN! VOCÊ E AQUELE DESGRAÇADO SE MERECEM!
Ela correu, tentou se jogar em cima de mim e agarrar meu pescoço,
seus braços me envolvendo. Só que aquele toque que eu tanto queria, parecia
ter se transformado em ácido. Porque tudo que eu queria era distância.
Segurei-a pela cintura e a afastei de mim.
— EU DISSE PARA NÃO ENCOSTAR EM MIM! CHEGA
DESSA MERDA, SUSAN! ENCONTRE OUTRO BABACA!
Abri a porta do apartamento e a fechei com uma força
desnecessária, fazendo tudo tremer. Eu fui direto para a saída de emergência
e desci pelas escadas. Não queria esperar o elevador, eu queria me distanciar
daquele lugar o mais rápido possível. Praticamente pulei os degraus e saí do
edifício sentindo meu rosto queimar.
Entrei no carro e dei partida cantando pneu.
Tudo que eu precisava era ir para longe dali.
Dirigi pelas ruas de Manhattan até Scarsdale praticamente no piloto
automático. Meu sangue parecia fervilhar dentro das veias.
Que merda tinha acabado de acontecer?
Você foi feito de babaca, Kevin. Foi isso que aconteceu, respondi
para mim mesmo.
Susan era a mulher com quem eu tinha decidido dividir minha vida.
Nós estávamos noivos e ela já planejava o casamento como se fosse a coisa
mais fantástica do mundo. E eu acreditei. Não tinha muito tempo para
participar de todos os preparativos, mas fazia de tudo para estar o mais perto
possível. Ligava, mandava mensagens, perguntava. Como eu tinha sido
idiota!
Apertei o volante desejando que isso pudesse aliviar minha raiva,
mas obviamente não adiantou. Quando vi a mansão dos meus pais se
aproximando, eu ainda sentia meu sangue ferver. Quando o portão abriu,
acelerei o carro deslizando-o pelo caminho até a garagem e parei cantando
pneu na vaga em que estava acostumado.
Vi que Alicia e Louis já estavam em casa.
Ótimo! Mais pessoas para presenciarem minha revolta.
Saí do carro e bati a porta com força. Dei passadas largas até a
entrada enquanto eu sentia que meu coração batia acelerado. A raiva era tão
grande que eu sentia que estava perto de explodir. Assim que pisei no hall, vi
Louis e Alicia.
— Kevin? — ouvi a voz do meu irmão longe, afinal, eu estava
imerso em meus próprios pensamentos depressivos.
Eu tinha sido um idiota. Tinha sido enganado do jeito mais ridículo
possível. Por quanto tempo? Ela continuaria me traindo depois do
casamento? Com quantos homens faria aquilo enquanto eu estivesse longe?
— EU IA ME CASAR COM UMA VAGABUNDA! — gritei
tentando expulsar de mim parte daquilo.
— O que aconteceu?
Para piorar a situação, meu pai tinha acabado de aparecer junto
com minha mãe. O circo estava armado, mas eu não conseguia encontrar
forças para me acalmar. Tudo que eu precisava era gritar, expelir aquela
raiva. Eu não estava triste, estava irritado. Ser feito de babaca é a pior
sensação do mundo. Só de pensar em Susan me enganando, eu tinha vontade
de quebrar coisas.
— AQUELA PIRANHA QUE SE DIZIA MINHA NOIVA
ESTAVA ME TRAINDO!
Chutei a mesinha no canto do hall e o vaso de flores balançou até
se espatifar no chão. O som pareceu ecoar por todo o ambiente.
Sinceramente, eu nem mesmo tinha noção dos meus atos, não fazia ideia de
que estava exagerando em minhas reações. Tudo que eu precisava no
momento era me livrar dessa raiva presa em mim.
— Kevin, se acalme. — ouvi a voz da minha mãe — Não será
assim que vai resolver as coisas.
— COMO QUER QUE EU ME ACALME? EU FLAGREI
MINHA MULHER FODENDO COM OUTRO!
— KEVIN! — dessa vez meu pai levantou a voz.
— SABE O QUE ELA QUERIA DE MIM? — olhei para ele — A
PORRA DO MEU DINHEIRO! — bati no meu próprio peito com força
exagerada, mas isso não me importava — ELA QUERIA A VIDA DE
PRINCESA ÀS MINHAS CUSTAS E ENQUANTO EU FICAVA
SEMANAS FORA, ELA TREPAVA COM MEU AMIGO! DOIS
TRAIDORES!
Cuspi as palavras, eu estava no meu limite e todas as vezes que a
imagem de Susan voltava à minha cabeça, gemendo e cavalgando sobre um
cara que se dizia meu amigo, o meu sangue parecia ferver. Soltei um grito
frustrado desejando ter outro vaso ali perto para eu quebrar, talvez ajudasse a
liberar toda essa tensão.
— Kevin, vá para o seu quarto. Está assustando a sua mãe.
A voz do meu pai era rígida e aquilo era uma ordem da qual ele não
gostaria de ser contrariado. Despejei um palavrão e fui em direção as escadas
passando por todo mundo que me olhava incrédulo. Subi pulando os degraus
com uma pressa surpreendente e fui em direção ao meu quarto. Assim que
entrei, bati a porta com força, despejando parte da minha raiva.
Meu quarto parecia o lugar perfeito para descontar minha
frustração. Havia dois jarros que logo foram jogados contra a parede e o
abajur também teve o mesmo fim. Quando vi os cacos de vidro espatifados
pelo chão, eu sentei em uma poltrona, apoiei os cotovelos nos joelhos e
respirei fundo. A sensação de ter sido enganado era horrível e eu nunca tinha
experimentado nada parecido.
Não sei quanto tempo passou até minha respiração se normalizar e
minha cabeça parar de girar. Agora, deixei que as coisas clareassem para
mim. Eu tinha acabado de terminar um noivado porque a mulher que eu
amava estava com outro. Era uma dor que eu não conseguia pôr em palavras.
A sensação de ter sido enganado parecia me rasgar por dentro e fazia a raiva
aumentar de novo.
Lembrei-me da aliança em meu dedo e olhei para ela. Brilhava de
maneira inocente, chamando a atenção. Quantas vezes eu estive sozinho no
meu quarto de hotel girando a mesma distraidamente pensando em Susan e
decidindo não ligar por conta do fuso horário.
Eu tinha sido um babaca!
Nunca me imaginei nessa situação, sempre me considerei esperto
demais. Porém, a vida prega peças na gente para mostrar que nunca devemos
estar seguros de nada.
Arranquei a aliança puxando do meu dedo com força e a segurei na
palma. Respirei fundo e a arremessei contra a parede, ouvindo o baque surdo
do ouro contra a superfície dura e caindo em seguida para rolar até um lugar
qualquer.
Observei meu dedo. Tudo estava diferente. A marca do anel estava
lá, mas o metal brilhante tinha desaparecido. Fiquei satisfeito em me sentir
livre depois de alguns anos. Era uma sensação boa. Senti que não precisa dar
satisfações a ninguém, ir até onde eu quiser porque não tem ninguém
exigindo que você esteja presente.
Ouvi batidas na porta do quarto e suspirei. Pensei que seria Louis
ou Ali, certamente eles estavam doidos para me perguntar os detalhes de
como tudo aconteceu. Ao abrir, dei de cara com meus pais. Eu sabia que eles
viriam conversar comigo, eu só não fazia ideia do que exatamente falaríamos.
Eu fui traído, fim da história.
— Podemos entrar? — meu pai perguntou em uma das raras
ocasiões em que pedia permissão.
— Claro.
Afastei-me para o lado e deixei que os dois passassem. Anthony
Walsh estava sério e minha mãe com um olhar preocupado. Ela chegou perto
de mim e tocou meu rosto. Eu era uns bons centímetros mais alto que ela já
que era tão alto quanto meu pai.
— Está mais calmo, meu amor? — perguntou.
— Sim, quebrar coisas ajuda a aliviar a raiva.
— Parece que arremessar objetos na parede é uma das
características que você puxou de mim. — meu pai caminhou pelo quarto
observando a bagunça — Nós viemos para conversar sobre o que aconteceu.
— olhou para mim com as mãos nos bolsos.
— Pai, sinceramente, não tem muito o que conversar. Encontrei
minha noiva na cama com outro e tenho certeza de que aquilo já acontecia há
um bom tempo.
— Entendo. Você deixou Susan explicar alguma coisa?
Não sei onde meu pai queria chegar com esse tipo de pergunta.
Como assim explicar? Não tinha explicação nenhuma o que aconteceu, estava
mais do que claro para mim. Suspirei cansado e me joguei na poltrona.
— Eu não quis ouvir Susan, não tinha explicação. O que eu vi
naquele quarto dispensa qualquer tipo de desculpa, pai.
— Entendo que foi difícil para você, Kevin. Mas não acha que é
melhor ouvir o que ela tem a dizer? O motivo de ter feito isso.
— Pai…
— Eu não estou dizendo que você deve perdoá-la, não é meu papel
te dizer isso. — interrompeu-me — Mas acho que até mesmo para terminar
esse relacionamento sem pontas soltas é você saber tudo que aconteceu. Sei
que tem perguntas, Kevin.
— Meu amor, acho que seu pai tem razão. — minha mãe falou se
aproximando de mim e tocando meu ombro — Fale com Susan. Pelo menos
vocês resolvem isso e se você preferir, cada um segue sua vida.
— Sei que você não vai reatar esse relacionamento e esquecer tudo,
mas acredite, esclarecer é muito melhor.
— Não estou pronto para conversar com Susan, pai. — neguei com
cabeça — Eu entendo seu ponto de vista, mas não quero olhar para ela. Fui
traído com um cara que eu julgava ser meu amigo. É uma traição dupla.
— Uma traição nunca é fácil, meu amor. — pude sentir que minha
mãe me deu um beijo no alto da cabeça — Dói bastante, mas depois passa.
Sei que com o tempo, você vai parar de pensar na Susan e no que ela fez com
você e vai seguir sua vida. Você é um rapaz bonito, inteligente e tenho
certeza de que vai encontrar uma mulher especial.
— Chega disso, mãe. Não quero um relacionamento mais. Essa
merda só me trouxe problemas e eu não quero passar por isso de novo. Eu
vou continuar viajando como um louco e sem tempo para uma namorada.
Vou ser solteiro para sempre, é melhor.
— A gente sempre acha que vai ser imune aos relacionamentos,
Kevin. Acredite, não somos. Sempre acaba aparecendo a mulher certa. — vi
que meu pai desviou o olhar para minha mãe — Mais cedo ou mais tarde, não
tem como fugir.
Capítulo 1
KEVIN

1 ano e meio depois…

Eu estava curioso para saber o que minha irmã tinha para anunciar.
Alicia tinha me mandando uma mensagem três dias antes me convidando
para um jantar em sua casa enquanto eu estava na Alemanha. Por sorte, eu
tinha um voo marcado para os Estados Unidos logo no dia seguinte.
Uma das coisas que eu não gostava em relação ao meu trabalho era
que muitas vezes eu perdia momentos importantes. Como apresentações de
balé da minha sobrinha, aniversário de amigos e parentes e uma das coisas
que mais me deixara chateado nos últimos tempos: perder o nascimento do
meu sobrinho.
Estacionei meu Acura preto, um novo modelo SUV que eu tinha
acabado de comprar. Saí do veículo e ajeitei os óculos escuros sentindo o sol
de verão contra o meu rosto. O edifício que minha irmã morava era um belo
triplex em Upper East Side que ela comprara poucos meses depois de se
casar. O porteiro me cumprimentou com um boa noite e eu fui diretamente
para o elevador.
Coloquei minha digital no número do andar da minha irmã e subi até
a cobertura onde ela morava. Quando as portas de aço se abriram, pude ver a
grande porta de madeira branca. Tudo estava silencioso, mas eu sabia que
todos já tinham chegado. Eu estava atrasado, como sempre. Toquei a
campainha e poucos segundos depois, meu cunhado apareceu.
— Oi, Kevin. Finalmente! Alicia estava pensando que você tinha
esquecido. — estendeu a mão para mim.
— O fuso horário acaba comigo, vocês sabem disso. — apertei sua
mão em um cumprimento — Todos já chegaram?
— Sim, Alicia já ia dar a notícia sem você.
Ryan fechou a porta atrás de mim quando eu entrei. Havia um hall
de entrada e um arco com uma porta dupla que dava para a sala de estar. Era
um ambiente claro, com grandes janelas de vidros e portas duplas que davam
para uma varanda com a bela vista de Manhattan. Os sofás e poltronas eram
brancos e decorados com almofadas brancas e pretas intercaladas. No meio
havia duas mesas de centro quadradas e brancas, com decorações de vasos,
plantas e velas. Na parede do lado esquerdo, havia 6 quadros com imagens
em escala de cinza capturadas pelo meu irmão.
Alicia tinha escolhido toda a decoração com Ryan e eles fizeram
um belo trabalho. Aparentemente, Alicia e Ryan Beaumont trabalhavam bem
em equipe. O chão era de madeira corrida e havia um grande tapete felpudo
cor de areia sobre ele. Os grandes lustres de cristal clareavam bastante o
ambiente.
Todos os convidados já tinham chegado. Estavam todos sentados
nos sofás e poltronas aparentemente me esperando. Pude ver Louis, Maddie,
Frank, Rosa, Niall, Carly e Adrian. Minha irmã apareceu vindo da cozinha
segurando meu sobrinho no colo.
— Até que enfim, Kevin! — ela foi a primeira a falar alguma coisa.
— Desculpe o atraso. De novo. — completei.
— Eu estava prestes a servir o jantar.
Alicia sorriu e se aproximou de mim. Luca, meu sobrinho de seis
meses, estava vestido com uma bermuda azul com pequenas âncoras
estampadas, uma camiseta branca com os dizeres “Bonito igual ao pai.” e um
tênis branco da Adidas. Ele tinha cabelos escuros e grandes olhos azuis e
agitava os bracinhos bastante animado.
— Oi, Ali. — dei um beijo no rosto da minha irmã assim que ela
chegou perto de mim e olhei pra Luca — Ei, garotão. O tio mais legal acabou
de chegar.
Sorri e peguei Luca no colo. Ele se remexeu e logo agarrou meu
cabelo. Pude ouvir a risada de Ryan logo atrás de mim.
— Ele adora puxar cabelos. A minha sorte é que o meu é curto,
mas minha esposa sofre. — ele se aproximou da minha irmã e lhe deu um
selinho — Não é mesmo, gata?
— Ainda bem que Luca achou outro para castigar. — ela
respondeu e deu a volta no sofá — Vamos ao que interessa. — olhou para
Ryan — Amor, pegue a garrafa de vinho, por favor.
Eu me sentei com Luca no colo ao lado da minha sobrinha.
Cumprimentei todos com um aceno de cabeça. Ryan serviu uma taça de
vinho para cada um e Alicia tinha um dos maiores sorrisos que já vi no rosto
de alguém.
— Ei, está faltando a Daphne. Cadê ela? — perguntei sentindo falta
da minha prima mais nova.
— Daph voltou para a faculdade, as aulas começaram. — Adrian
respondeu.
— Ah, tem razão. Já estamos em setembro. E nossos pais?
— Estão na Itália. Ele está trabalhando em outro vinhedo. — dessa
vez foi Louis quem respondeu.
— Bem, eu chamei todos aqui porque como vocês sabem, estou
voltando para a empresa aos poucos agora. — Alicia era a única de pé e
começou a falar — Eu estendi minha licença maternidade, mas fiquei em
casa trabalhando. E tive uma ideia. — olhou para Ryan.
— A biblioteca comunitária foi nosso primeiro projeto juntos, ideia
da minha linda esposa também, e tem sido um grande sucesso. Foi graças à
base desse projeto que Alicia pensou no próximo passo. — ele segurou a mão
dela e fez um sinal com a cabeça para que minha irmã continuasse.
— Os professores das escolas das redondezas conversam muito
com os nossos funcionários e o índice de aproveitamento dos alunos tem
aumentado bastante depois que a biblioteca foi inaugurada. Principalmente
em Línguas e Literatura. Então andei pensando em criarmos um jornal online
voltado para os jovens.
— Essa ideia é maravilhosa, Ali! — Carly exclamou.
Minha prima tinha razão. Era uma ideia genial.
Alicia tinha um dom incrível e criatividade para criar coisas que
pudessem ajudar ao próximo e a idade de focar na juventude era excelente.
Era uma fase difícil, onde estimular determinadas coisas nos jovens era uma
tarefa bem complicada.
— Eu andei pensando. Os jovens estão conectados o tempo todo,
com computadores e celulares, então pensei que seria interessante um jornal
virtual voltado para eles, com uma linguagem mais apropriada e próxima da
realidade deles, com os temas do universo jovem e com as mesmas notícias
que encontramos, por exemplo, no New York Times. — ela explicou.
— Parece que você não dorme em serviço, Ali. — Louis falou.
— É claro que apoiei a ideia e vamos colocá-la em prática ainda
esse mês. — Ryan também se levantou — Ligamos para Lizzie, ela está
morando em Los Angeles no momento como vocês sabem, mas já topou
retornar a Nova York para participar efetivamente do projeto. Nós a
convidamos para ser nossa editora geral.
— Isso é um máximo! — Rosa exclamou batendo palmas.
— Então quer dizer que a Lizzie está voltando? — perguntei
afastando a mão do meu sobrinho do meu cabelo — Bom saber.
— Ei, Kevin! — Ryan apontou para mim — Pode ir guardando
suas garras. A Lizzie não é para o seu bico.
— Dessa vez eu concordo com o Ryan. — Louis se manifestou —
Você só quer se divertir, deixe a Lizzie fora disso.
— Todos contra mim, como sempre.
— Vamos comer! — Alicia interrompeu o assunto — Loretta fez
um jantar incrível.
Loretta tinha sido a cozinheira contratada pela minha irmã e a
ajudava com o bebê em algumas ocasiões. Ela não trabalhava todos os dias,
geralmente duas ou três vezes na semana. Foi uma das melhores coisas que
Alicia fez, afinal, ela não tinha o menor talento para cozinha.
A sala de jantar era espaçosa e a enorme mesa tinha doze lugares.
Eu escolhi o meu entre Rosa e Carly e me acomodei. Funny, a cachorrinha da
minha irmã entrou latindo e se enroscando nas pernas dos convidados. O
jantar foi servido por Loretta e o cheiro era maravilhoso. No meu prato estava
um belo medalhão de filé com cogumelos que me deu água na boca. As
comidas dos hotéis eram gostosas, mas faltava algo que somente uma comida
caseira tinha. Um toque especial que eu não sabia dizer qual era, porém
deixava tudo melhor.
Alicia colocou Luca no bebê conforto e o deixou na cadeira ao seu
lado. Meu sobrinho sacudia os braços e fazia alguns barulhinhos como se
quisesse participar da conversa. Não fiz nenhum tipo de cerimônia e coloquei
um pouco mais de comida no prato.
— Como vão as coisas com a nova oficina, Frank? — Ryan
perguntou.
— Vão bem. — respondeu se servindo mais de vinho — Agora eu
também sou garoto Manhattan.
— Quero dar uma passada por lá e ver o novo lugar. — falei.
— Claro, vai ser uma maravilha ver o novo bebê que você
comprou.
— Darla é linda! Você vai ficar impressionado. — Ryan falou.
— Quem é Darla? — minha irmã perguntou fuzilando o marido
com os olhos.
— O novo carro do seu irmão. — respondeu tranquilo apontando
para mim com o garfo — O Acura que ele acabou de comprar.
— Darla?! — Carly franziu o cenho olhando para mim.
— Sim, é o nome do meu carro. — suspirei — Qual o problema?
— Por que é um nome feminino?
— Porque sempre é um nome feminino. — respondi cortando meu
filé — Não vamos por nome de homem num lugar que costumamos sentar.
Luca começou a chorar e interrompeu o assunto. O que foi bom
porque não queria ficar discutindo sobre o nome do meu carro. Ryan tinha
um novo Tesla e tinha dado a ele o nome de Leia em homenagem a uma
personagem de Star Wars. Provavelmente minha irmã não sabia disso.
— Acho que preciso trocar a fralda desse garotinho. — Alicia
pegou Luca no colo e o aconchegou sobre o peito — A próxima vez é sua. —
falou para o marido.
— Espero que demore.
Alicia pediu licença e saiu da sala de jantar. Todos já tinham
terminado suas refeições. Peguei meu celular e vi alguns alertas de
mensagens.
Sheryl.
Vivian.
Stephanie.
Jenny.
Cindy.
Annie.
Havia uma lista de mulheres com quem eu poderia sair naquela
noite, mas eu já tinha marcado com Julia, uma estudante da Universidade de
Nova York que estava explorando o melhor lado da cidade e eu adoraria
mostrar a ela o que a Big Apple[2] tinha a oferecer.
Comemos uma torta de limão de sobremesa e aos poucos algumas
pessoas foram se despedindo. Niall foi o primeiro, seguido de Carly e Adrian,
Rosa e Frank. Louis queria ir, mas Maddie insistia dizendo que queria ficar
mais tempo com o primo.
— Eu nem tive tempo de brincar com ele, papai. — protestou.
— Já está tarde, cupcake. Você tem aula amanhã.
— Só mais um pouquinho, por favor.
Era com aqueles olhinhos azuis e brilhantes que minha sobrinha
conseguia tudo. Eu fui até Louis e passei o braço sobre seus ombros,
puxando-o para perto da grande varanda do apartamento.
— Lou, eu tenho uma proposta para você.
— Eu nunca sou muito a favor das suas propostas, Kevin.
— Essa você não tem como negar. Vamos sair hoje à noite. Vou
encontrar uma gata que tenho certeza de que tem uma amiga gostosa.
— Você sempre pensando em mulheres, Kevin. Sinceramente, eu
achei que isso fosse acabar depois que você descontasse sua frustração em
relação à Susan, mas você está cada vez pior.
— Louis, eu já te falei que não pretendo ficar vivendo essa ilusão
de que existe uma mulher certa.
Era sempre a mesma discussão por meses a fio. Louis era o eterno
romântico que mesmo depois de uma das piores decepções amorosas que já
vi, continuava com a ideia de que existia uma mulher ideal com quem se
casaria e viveria feliz para sempre. Para mim, esse final feliz só existia nos
contos de fadas, afinal, ele estava há oito anos esperando por isso.
Caí no erro há alguns anos quando me apaixonei. Quando estava
noivo, poucos meses antes de me casar, descobri que tudo era uma mentira.
Eu tinha sido enganado e fora uma das piores sensações que já senti. Não
queria correr o risco de passar por isso de novo, então decidi que sairia com
mulheres, me divertiria, mas deixaria claro que não haveria nada sério entre
nós.
Já fazia um ano e meio que eu estava levando as coisas dessa
forma. Ainda não tive nenhum problema. Por que mexer em time que está
ganhando?
— Ei, Lou, vamos lá! Há quanto tempo você não transa com
alguém?
— Não quero falar disso, Kevin. — respondeu — E não posso
largar minha filha assim do nada, amanhã ela tem aula e não posso chamar a
babá em cima da hora.
— Maddie quer ficar aqui com o Luca. Tenho certeza que se você
pedir ao Ryan e a Ali, eles não vão se importar de ficar aqui com ela.
Meu irmão adorava criar empecilhos, mas eu precisava fazer com
que Louis saísse e se divertisse como um cara de vinte e seis anos solteiro.
Ele tinha uma filha e eu entendia isso, mas também tinha suas próprias
necessidades e um cara precisa transar. A falta de sexo mexe com o humor de
um cara e Louis está precisando rir mais, nos últimos tempos ele tem andado
bem distante e mal humorado.
— Maddie, que tal passar a noite aqui na casa da tia Alicia? —
sugeri.
— Eu posso?! — seus olhinhos azuis desviaram do primo para mim
— Eu quero, tio!
— E aí, Ali? Pode ser? — perguntei no momento em que ela
voltava para a sala.
Perguntei à minha irmã que mesmo que não quisesse, não teria
como negar, afinal, eu já tinha deixado Maddie animada com a ideia.
Sinceramente, eu era um cara bastante inteligente.
— Claro que pode. Não vejo problemas. — respondeu.
— Viu? Vamos para casa, Louis. — dei um tapinha nas suas costas
e olhei para minha sobrinha — Agradeça ao tio Kevin por poder passar a
noite aqui hoje, princesa.
— Obrigada, tio!
Maddie correu em minha direção e me abraçou pela cintura. Passei
as mãos nos seus cabelos e sorri para meu irmão, que me olhava com cara de
quem tinha cedido, mas bem contrariado.
— Cupcake, preste atenção. — ele falou agachando na frente da
filha — Obedeça aos seus tios e amanhã cedo eu venho te buscar.
— Relaxe, Louis. Eu a levo até em casa quando sair para o
escritório. Vai dar tempo de a baixinha se aprontar para a escola. — Ryan
falou.
— Problema resolvido.
Encerrei a questão e nos despedidos de todos. Luca já estava quase
adormecido no bebê conforto, então preferi nem chegar perto para não
despertá-lo. Arrastei meu irmão antes que ele desistisse e disse que passaria
em seu apartamento em uma hora e meia para irmos à boate.
Desde que eu tinha terminado com Susan, eu nunca mais apareci na
Beer House. Era uma boate onde eu costumava ir com ela quando estávamos
na cidade, mas que eu evitei depois de tudo o que aconteceu. O ambiente
ainda era o mesmo, escuro, colorido, com música alta e várias pessoas
bebendo e dançando. Havia espaços reservados para a galera que quisesse
sentar e ter uma conversa um pouco mais à vontade.
Eu me dirigi para lá acompanhado do meu irmão. Louis não curtia
esses lugares, mas eu sei que fazia por mim. Agora que estávamos mais
velhos e com outras responsabilidades, passar um tempo com meu irmão
gêmeo tem sido difícil. Louis está sempre ocupado gerenciando seu tempo
entre a filha e o trabalho e eu como sempre passando boa parte dos dias fora
da cidade.
— Tenho que parar de aceitar vir com você a esses lugares. —
Louis falou assim que nos acomodamos em uma mesa.
— Há quanto tempo não fazemos isso, cara? — coloquei a mão em
seu ombro e sacudi — Deixe de agir como se fosse um velho. Você só tem
vinte e sete anos, Louis.
— Kevin, você sabe que nunca gostei de balada. Eu mal tive tempo
de aproveitar essas coisas ou você esqueceu que eu me tornei pai aos dezoito
anos?
— Eu sei. E é por isso que acho que você deve se divertir um
pouco. A Maddie está crescendo, ela pode ficar muito bem um dia sem você.
Ela já ficou várias vezes quando você saía para trabalhar. Alicia e Ryan estão
cuidando dela numa boa.
— Quando você for pai vai me entender.
— Não pretendo, acredite. Descobri que esse tipo de coisa não é
para mim.
Pedi ao barman duas cervejas para começarmos e deixar Louis um
pouco mais relaxado. Enviei uma mensagem para Julia avisando que já
estava na boate e que estava na área reservada bebendo com meu irmão. Ela
respondeu poucos minutos depois dizendo que estava chegando e que vinha
acompanhada da prima.
Eu tinha um pressentimento de que a noite terminaria muito bem
tanto para mim quanto para meu irmão.
— Julia está trazendo uma prima. Tente melhorar o seu humor
logo. — avisei.
O barman trouxe nossas bebidas e eu levantei o copo de cerveja em
um brinde. Louis entrou na minha e chocou o vidro fazendo-o tilintar. Não
demorou muito até que Julia aparecesse. Era uma morena de cabelos escuros
e latina, tinha belas curvas e eu pretendia me divertir bastante com elas
naquela noite. Ao seu lado, estava sua prima, tão fisicamente parecida que
ambas poderiam se passar por irmãs. Talvez fosse engraçado, já que eu era
idêntico ao meu irmão.
Certamente seríamos um casal que chamaria atenção.
— Julia. — eu a chamei quando me levantei para que ela me visse
e me reconhecesse, afinal, era sempre complicado quando estávamos Louis e
eu juntos.
— Kevin!
Ela deu alguns passinhos apressados batendo os saltos no assoalho
e envolveu os braços no meu pescoço.
— Quanto tempo, linda. — falei envolvendo sua cintura fina e
encostei meus lábios em seu pescoço, ela tinha um cheiro doce.
— Que bom que me ligou quando chegou à cidade.
— Como se eu fosse louco de fazer diferente.
Afastei-me dela e olhei para sua prima. A garota parecia mais
calada, menos expansiva do que Julia. Seus olhos castanhos desviaram de
mim para Louis e eu aproveitei a deixa.
— Bem, eu trouxe alguém comigo hoje. — estendi o braço em sua
direção — Esse é Louis. Acho que não preciso dizer que ele é meu irmão.
— Você não me disse que tinha um irmão gêmeo, Kevin. — Julia
me deu um tapinha no peito e olhou para Louis — Muito prazer!
Ela estendeu a mão para ele e meu irmão retribuiu o cumprimento.
Pude ver seus olhos desviarem da garota para mim e eu o conhecia, tínhamos
a ligação de gêmeos da qual Alicia tanto reclamava. Eu sabia que ele queria
dizer que ia me matar por arranjar essa situação.
— Bem, nos apresente sua prima. — falei para quebrar o clima que
pareceu pesado.
— Essa é a Estela.
— Oi, Estela. É um prazer conhecer você. — sorri e estendi a mão
— Sou Keivn.
— O prazer é meu, Kevin.
A garota apertou minha mão. Pude sentir sua pele gelada, ela estava
nervosa e seu sotaque evidenciava que ela não estava no país há muito tempo.
— Como eu já disse, esse é meu irmão.
Indiquei Louis, que a cumprimentou da mesma forma. Eu deixei
que as duas garotas se acomodassem e as analisei bem. Estela não devia ter
mais do que vinte e três anos, uma idade ótima já que meu irmão tinha que
parar de se sentir um velho.
— Nós vamos buscar umas bebidas, tudo bem? — falei.
Puxei Louis comigo, que prontamente me acompanhou até o bar.
Assim que chegamos eu pedi as quatro cervejas, ele se apoiou no balcão e
olhou para mim de maneira séria.
— Eu não deveria ter vindo com você, Kevin.
— Você está reclamando que tem uma garota linda e disponível
naquela mesa? — arqueei a sobrancelha.
— E eu tenho uma garotinha de oito anos em casa que eu deveria
estar colocando na cama.
— Permita-se viver, Lou. Pelo amor de Deus! — levantei o dedo
mostrando o número um — Pelo menos um dia quando seu irmão está na
cidade.
— Certo, Kevin.
Ele pegou as duas garrafas de cerveja e eu fiz o mesmo com as
outras duas. Nós nos sentamos com as meninas e não demorou muito até que
Julia me puxasse para um beijo. Eu gostava quando as coisas iam fáceis dessa
forma, poupava boa parte do meu trabalho.
Ela era uma garota de vinte e um anos aproveitando o que a
liberdade da idade lhe dava. As boates, as bebidas e eu estava aqui para
ajudá-la nisso. Quem precisa de amor e todas aquelas palhaçadas quando se
pode aproveitar a vida de solteiro?
Conversamos um pouco e tomamos algumas cervejas juntos. Louis
e Estela estavam indo bem, mas meu irmão ainda se mantinha muito na
defensiva.
— O que você faz, Louis?
— Sou fotógrafo.
— Uau! É uma profissão bem interessante. Eu acabei de me formar
em psicologia.
— É uma boa carreira. — ele respondeu.
— Vem dançar comigo, Kevin.
Julia me chamou e eu não poderia recusar. Uma garota bonita
rebolando e se esfregando no meu pau? Levantei e fui com ela para a pista de
dança.
Ficamos um bom tempo ali nos movendo ao ritmo da música
agitada que tocava na boate. Nossos corpos suavam, eu estava ficando
excitado e louco para sair dali e levá-la para um local mais reservado. Puxei
Julia para um beijo e enrolei meus dedos em seus cabelos. A sensação de ter
uma mulher nos braços era maravilhosa, principalmente quando essa mulher
era linda e desinibida.
Senti meu pau pulsar e afastei os lábios dos seus. Olhei em seus
olhos escuros e a puxei para o canto da boate. Encostei seu corpo em uma
parede e apoiei as mãos ao lado da sua cabeça.
— Acho que não precisamos ficar aqui por muito tempo mais.
Temos outras coisas para fazer.
— Eu concordo. Preciso avisar a minha prima que estamos indo.
Eu me afastei o suficiente para que ela fosse até nossa mesa
caminhando na minha frente. Julia tinha uma bela bunda que ficava ainda
mais perfeita naquele vestido preto. Eu não via a hora de arrancar cada
pedaço de roupa dela. Sentados à mesa, pude ver meu irmão conversando
com Estela, mas eles não pareciam muito entrosados e eu sabia que isso
acontecia porque Louis não estava confortável no lugar.
— Estela, eu já vou indo. — Julia falou segurando o braço da prima
— Você se importa?
— Hmm, não. Eu acho que não. — respondeu um pouco sem jeito.
— Não se preocupe, eu a levo em casa. — Louis interveio.
Pisquei para meu irmão e uni as mãos em uma forma de
agradecimento silencioso. Ele moveu a cabeça em sinal positivo e eu saí da
boate acompanhado de Julia. Eu sei que mais cedo ou mais tarde, Louis iria
ceder e terminar a noite com Estela, mas no momento eu estava mais
preocupado em aproveitar minha noite. Eu já tinha feito minha parte.
Capítulo 2
HANNAH

Aparte mais difícil da minha profissão era ficar longe da minha


família.
— Espero que fique bem, querida. É sua primeira viagem internacional.
Minha tia Eleonor era a pessoa mais incrível e protetora que eu conhecia.
Desde que minha irmã e eu perdemos nossa mãe, ela se tornou a responsável
por nós. Na época, eu tinha apenas quinze anos e minha irmã três. Não foi
fácil superar a saudade, não foi fácil nos mudar para outra casa, mas nossa tia
fez de tudo para nos sentirmos acolhidas e amadas. Agora eu a considerava
minha mãe.
Infelizmente, tínhamos alguns problemas e o emprego de comissária
de bordo era a melhor maneira de solucioná-los. Candidatar-me a comissária
de uma nova empresa aérea em viagens internacionais me dava a
oportunidade de ganhar um salário melhor e assim, ajudar minha família.
— Tia, não se preocupe. — dei-lhe um beijo no rosto.
— Ligue sempre que puder.
— Hannah, você promete que quando voltar nós vamos passear?
Minha irmã Cecile tinha doze anos e nós éramos muito apegadas
apesar da grande diferença de idade. Ela tinha cabelos ruivos como os meus e
olhos azuis-escuros, enquanto os meus eram mais claros. Eu sempre a ajudei
nos deveres de casa, sempre a levei para escolher roupas, para passear e até
mesmo ouvia quando ela vinha me contar sobre um menino de quem gostava
na escola. Era dela de quem eu sentia mais falta quando estava longe.
Morávamos em uma casa simples de dois andares em Hempstead, na
parte sudoeste de Long Island, o que era muito conveniente, pois não ficava
distante do Aeroporto JFK[3] que era de onde partiam os voos nos quais eu
trabalhava e era para onde eu estava me dirigindo no momento.
Um carro da companhia aérea já me esperava e dessa vez eu iria
começar uma nova vida. Eu já tinha feito diversos voos dentro do território
nacional, agora seria a primeira vez que eu voaria além do oceano. Era
possível sentir o friozinho na barriga diante dessa nova aventura.
Eu me despedi mais uma vez da minha tia e da minha irmã e lhes
prometi comprar algumas lembrancinhas das cidades que eu visitaria sempre
que possível. O motorista abriu a porta para mim depois de pegar minha mala
e guardar no porta-malas e eu me acomodei no banco de trás. Acenei para
minha pequena família até que o veículo foi levado para longe o suficiente
para que ninguém pudesse mais me ver.
Suspirei e recostei-me no banco traseiro. Alisei minha saia vinho, o
uniforme das comissárias dessa nova empresa. Eu gostava da minha
profissão, mas eu sempre tive um sonho desde que era adolescente: me tornar
maquiadora profissional. Eu adorava a magia de uma boa maquiagem, a
enorme quantidade de coisas que poderíamos fazer com ela. Mudar nossa
autoestima, nos sentir mais belas para sair de casa, ou até mesmo ver o
quanto poderia ser real uma maquiagem feita em filmes que simulavam
feridas ou hematomas.
Infelizmente, o curso de maquiadora e os produtos eram bastante
caros e o curso de comissária de bordo, por sorte, eu tinha conseguido uma
bela bolsa de estudos por conta das minhas notas impecáveis na escola. Eu
precisava de um emprego urgente e essa foi a solução mais rápida. Eu tinha
de ajudar minha tia, não podia deixá-la na mão depois de todo o esforço para
cuidar da minha irmã e de mim com o salário modesto de uma professora
infantil.
Aprender línguas tinha sido fácil e agora eu dominava o espanhol e o
francês. Sempre tive muita sorte em conhecer pessoas boas que me ajudaram.
Eu adoraria poder retribuir a todos algum dia. Senti minhas mãos úmidas de
suor pelo nervosismo da minha primeira viagem internacional com uma nova
tripulação e uma nova companhia aérea.
Assim que cheguei ao aeroporto, o motorista me ajudou com a mala e
eu respirei fundo antes de me encaminhar pelo saguão até a companhia aérea.
Todas tinham um espaço reservado na administração e eu me encaminhei
para lá. Eu já tinha conhecido os comissários de bordo, porém ainda não
conhecia o piloto e o copiloto.
Assim que entrei, fui recebida por Jack Collins, um dos gerentes da
companhia.
— Hannah Davis, que bom que chegou. — ele estendeu a mão —
Bom dia.
— Bom dia, Sr. Collins. — respondi retribuindo o cumprimento.
Entreguei minha mala a um dos funcionários da companhia para que
ela fosse despachada e notei que mais duas comissárias estavam na sala:
Sandra Adams e Jasmine Clark. Nós tínhamos sido apresentadas quando fui
selecionada para o voo.
— Olá, Hannah. — Jasmine foi quem me cumprimentou primeiro.
Ela tinha um cabelo escuro pouco abaixo dos ombros e olhos
castanhos. Era magra e um pouco maior do que eu. Sentia que poderíamos
nos dar muito bem.
— Olá, Jasmine.
— Seja bem-vinda à nossa tripulação.
— Obrigada, vai ser ótimo poder trabalhar com vocês.
— Lembra de mim, Hannah? — Sandra chamou minha atenção.
Essa era da mesma altura que eu, tinha cabelos castanho claros e
olhos azuis. Era bastante sorridente e parecia ser a mais velha de nós três.
Talvez cerca de vinte e oito anos.
— Claro que me lembro de você, Sandra. Tudo bem?
— Ótimo! É sempre bom ter uma cara nova na equipe de vez em
quando.
— Vejo que vocês estão se dando bem. — Jack se aproximou de nós
após aparentemente resolver alguns assuntos falando baixo com outro
funcionário — Os pilotos estão chegando, faremos uma apresentação oficial,
porém rápida. Vocês precisam se preparar para voar.
Todas nós assentimos e vimos Jack sair da sala. Ele era um cara com
cerca de cinquenta anos, baixinho e um pouco barrigudo. Seus olhos azuis
brilhavam por detrás das lentes dos óculos quadrados e sua gravata vinho
estava sempre amarrada de maneira torta.
— Vocês já trabalharam com os pilotos. — falei me virando para as
meninas — Eles são gente boa?
— O nome do piloto da aeronave é Kevin e o copiloto se chama
Caleb. — Sandra explicou.
— Caleb é bem simpático, você vai adorá-lo. — percebi que Jasmine
olhou para a outra antes de continuar — Já Kevin vai chamar a atenção
quando você vê-lo, mas diferentemente do Caleb, ele é fechado e não é de
fazer amizade com pessoas do trabalho. O único com quem ele conversa
frequentemente é o Caleb mesmo.
— O sonho de consumo distante de qualquer uma. — Sandra suspirou
— Então antes que você se interesse e quebre seu coração, estamos te
alertando. Acredite, eu tentei, mas ele mal me olha.
— Eu não vou me interessar por ninguém. Nem estou procurando
essa coisa de namoro e nem nada. Eu sou bem tranquila em relação a isso. —
respondi.
Achei bem estranho elas dizerem aquilo. Nós mal nos conhecíamos e
ambas já estavam me dando conselhos amorosos. Por que eu me envolveria
com alguém justamente no mesmo ambiente de trabalho? Eu tinha tantas
preocupações e prioridades na minha vida, que namorar estava bem distante.
Quem sabe em um futuro distante?
— É meu primeiro voo internacional, estou bem nervosa. — falei para
quebrar o clima.
— Não é tão diferente dos voos nacionais. Eles só demoram mais. —
Jasmine respondeu ajeitando seu lencinho — Mas a melhor parte é quando
temos tempo para visitar as cidades. Você vai adorar.
— E tem as festinhas que às vezes vamos. Tem vários comissários e
pilotos maravilhosos. Vale a pena. — Sandra deu uma risadinha
acompanhada da outra.
Pelo visto as duas eram solteiras, mas eu não me atrevi a perguntar.
Era melhor descobrir com o tempo para não parecer fofoqueira. Jack retornou
e atrás dele, vieram dois homens vestidos com o clássico uniforme de piloto.
Eu simplesmente fiquei parada observando. Os dois homens eram
bonitos. Só que embora eu não tivesse sido apresentada, poderia apostar todas
as minhas fichas em quem era Kevin. O homem que chamara minha atenção
tinha a pele levemente bronzeada, cabelos escuros e conforme se aproximava,
pude notar que seus olhos eram verdes. Ele tinha a barba por fazer e a camisa
branca de piloto marcava seus músculos sem nenhum espaço para
imaginação.
Os braços eram fortes, as mangas ficavam justas e a gravata preta
chamava a atenção para o seu pescoço bronzeado. Ele usava uma calça preta
marcando bem seus quadris com cinto da mesma cor e quando chegou mais
perto do pequeno grupo em que eu estava, pude ver no seu crachá pendurado
no bolso da camisa que eu tinha vencido minha própria aposta.
WALSH, KEVIN.
Engoli em seco sem conseguir disfarçar meu olhar embasbacado. Era
a primeira vez que eu via um homem tão bonito de perto que, com certeza,
era quase trinta centímetros mais alto que eu. Ao seu lado, estava Caleb, o
copiloto. Ele também era alto, mas diferente de Kevin, ele tinha a pele um
pouco mais branca, olhos castanhos e cabelos da mesma cor. Seu rosto tinha
apenas a sombra de uma barba e sua beleza também chamava atenção.
— Hannah, deixe-me apresentar nossos pilotos. — Jack apareceu logo
atrás, parecendo ainda mais baixo perto dos dois homens — Este é Caleb
Walters e este é Kevin Walsh.
— Muito prazer, Hannah Davis. — consegui responder da maneira
mais natural que consegui estendendo a mão que logo foi segurada por Caleb.
— Seja bem-vinda à equipe. — ele falou.
— Obrigada.
— Muito prazer, Srta. Davis.
Kevin falou, seu tom de voz mais grave e firme. Parecia um homem
bem seguro de si. Talvez a profissão exigisse isso, afinal, ele era responsável
por centenas de vidas a cada voo. Ele estendeu a mão para mim, um relógio
prateado decorando seu pulso. Eu estiquei o braço e segurei sua mão sentindo
na hora o calor da pele em contato com a minha palma fria.
Ele segurou com firmeza e seus olhos verdes se focaram nos meus no
mesmo instante. Acho que derreti porque senti minhas pernas amolecerem,
mas o toque que foi rápido, pareceu a mim durar uma eternidade. Quando
Kevin afastou a mão, seu olhar seu desviou e eu não consegui falar mais nada
porque meu silêncio o fez se virar e atender ao chamado de alguém da
equipe, deixando-me totalmente sem palavras.
Eu tinha sido uma idiota. Uma completa adolescente diante do capitão
do time de futebol. Nem mesmo Cecile agiria assim.
Depois que eu me recompus e o choque inicial passou, todos nos
encaminhamos para a aeronave no ônibus da companhia. Kevin e Caleb
estavam sentados juntos e conversavam de maneira séria, mas o que me
pareceu ser uma conversa de bons amigos. Eu sentei sozinha no banco com
Jasmine e Sandra à minha frente. Fomos levados rapidamente e assim que
desci, vi pela primeira vez a aeronave que iria me levar direto para
Copenhague, na Dinamarca.
Subimos as escadas e repassamos todos os procedimentos aos quais
eu já estava acostumada. Toda a aeronave sofreu inspeção da equipe
responsável e foi liberada para voar. Em alguns minutos, eu já estava
posicionada em meu lugar e os passageiros começaram a entrar na aeronave.
Nós cumprimentamos um a um e como sempre, havia algumas pessoas que
não nos respondiam.
Kevin e Caleb já estavam na cabine e eu me sentia agitada. Havia
feito muitos voos durante meu tempo como comissária, mas podia sentir a
excitação de voar sobre o Atlântico pela primeira vez. Quando todos os
passageiros estavam acomodados, Jasmine foi até o microfone dar as
instruções básicas. Sandra e eu gesticulamos, cada uma em uma parte da
aeronave para que todos pudessem enxergar.
Eu estava tão acostumada a esses movimentos que era uma
coreografia repetida muitas vezes. O aviso para apertar os cintos soou nos
alto-falantes. Em poucos minutos, os motores começaram a soar ao fundo.
Era um som já tão característico e conhecido por mim. Era quase como se
esse pedaço de metal que pesava toneladas fosse meu segundo lar.
Sempre que me perguntavam sobre meu emprego, as pessoas faziam
questão de me perguntar sobre a vida sem rotina que eu levava. De fato, isso
acontecia. Eu ficava vários dias longe de casa e da minha família, eu
encontrava pessoas novas todos os dias em lugares diferentes, com culturas e
hábitos diferentes. Eu adorava isso, era uma espécie de aprendizado para
mim. E sempre que me questionavam sobre eu estar namorando ou não, eu
sempre me lembrava disso.
Um homem para aceitar ter alguma relação séria comigo, precisava
compreender esse estilo de vida louco, o que era bem complicado. Essa era
uma das razões de eu não pensar em nenhum relacionamento. Viver a vida de
solteira era bem menos complicado.
A aeronave levantou voo e eu estava sentada em meu banquinho até
que ela se estabilizasse. Teríamos uma longa viagem até a Dinamarca, mas
apesar de tudo, eu gostava bastante de estar nas alturas. Era um tipo de
emprego bastante emocionante com o qual eu me acostumara.
Durante a viagem, nós servimos os lanches, vendemos alguns e as
luzes da aeronave foram baixadas para proporcionar um voo agradável para
aqueles que quisessem dormir, já que se aproximava da noite.
— A previsão de pouso é para as sete e meia da manhã na Dinamarca.
Podemos descansar no hotel e irmos à festa à noite. — Sandra sugeriu
enquanto estávamos em nosso lugar, evitando ficar no corredor da aeronave
para não atrapalhar os passageiros.
— Que festa? — perguntei.
— Sempre rolam festas com vários comissários e pilotos que estão na
cidade. — Jasmine explicou — Tem umas boates famosas onde vai bastante
dessa galera.
— Eu não sou muito de ir à festas. — falei me sentindo um pouco
deslocada.
— Quantos anos você tem, Hannah?
— Tenho vinte e quatro.
— Então, você está na melhor idade! — ela me deu um cutucão no
braço — Tem que se divertir. Você não namora, não é?
— Não. — balancei a cabeça —Não estou muito focada nisso, além
do mais, com a rotina das viagens fica complicado.
— Melhor ainda. Podemos nos divertir. — Sandra sorriu — Vá
apenas hoje, se você não gostar nós prometemos que não insistimos mais. Só
dê uma chance.
— Certo.
Acabei me dando por vencida. Sei que não ia gostar muito de estar em
uma boate com vários desconhecidos e quanto mais cedo eu fosse e provasse
que esse tipo de ambiente não faz meu estilo, as meninas iam deixar de
insistir e eu poderia ficar no hotel ou passear pela cidade para conhecer o
lugar.
As horas passaram rapidamente entre um e outro carrinho de lanche,
algumas conversas e claro, a turbulência. Logo a voz grave de Kevin soou no
alto-falante da aeronave.
— Estamos nos aproximando da cidade de Copenhague. A
temperatura no momento é de oito graus.
Eu já tinha escutado diversas vezes esse tipo de informação, mas de
alguma forma agora era diferente. Talvez porque o dono daquela voz tão
masculina e forte fosse o homem mais bonito que eu já conheci.
Sandra levantou-se e pediu para que todos os passageiros apertassem
os cintos porque estávamos perto de fazer um pouso.
A cidade de Copenhague era muito bonita pelo que diziam, então eu
estava animada para conhecê-la. O sono e o cansaço me dominavam, então
minha prioridade era pelo menos passar a manhã dormindo antes de
finalmente explorar o lugar.
Era perto das sete da manhã quando os passageiros começaram a
descer da aeronave e eu desci logo depois acompanhada de Sandra e Jasmine.
As meninas estavam animadas, já conheciam a cidade e tinham vários planos
para se divertirem.
— Você vai mesmo à festa conosco, não vai? — Sandra perguntou.
— Sim, eu vou. Primeiro quero dar uma volta e conhecer a cidade.
Nós nos vemos mais tarde no hotel.
— Eu pretendo dormir muito. — Jasmine bocejou discretamente
tapando a boca com a mão.
— Farei isso agora de manhã.
Nós paramos no portão de desembarque e esperamos por Kevin e
Caleb. Pude vê-los assim que fizeram a curva quando desceram da aeronave
em direção ao portão. Ambos caminhavam lado a lado e usavam óculos
escuros. Eu não consegui ignorar o quanto o comandante Walsh estava bonito
e ao mesmo tempo misterioso escondendo os olhos atrás daquelas lentes
escuras. Eu apreciei a maneira com que ele caminhava parecendo tão
confiante, os ombros largos, músculos perfeitos marcados pela camisa branca
do seu uniforme de piloto, com as quatro faixas douradas no ombro, um cinto
preto combinando com a calça da mesma cor. A gravata escura fazia minha
mão coçar para querer segurá-la.
Eu nunca tinha sido o tipo de garota ousada quando se tratava de
conquistar um homem e nos últimos tempos, deixei os namoros de lado, bem
como os flertes, portanto eu nem sabia como agir em uma situação dessas.
Lembrei do que as meninas disseram.
Kevin não se envolvia com mulheres do trabalho.
Isso era bom, porque minha mente poderia desistir da ideia, já que eu
deveria me preocupar em outras coisas e deixar os namoros de lado.
Principalmente o namoro com um piloto maravilhoso que devia arrastar uma
multidão de mulheres. Eu definitivamente só apreciaria Kevin de longe.
— O cara é um gato! — Jasmine sussurrou ao meu lado.
— É, ele é bonito. — respondi tentando fingir não estar abalada por
Kevin.
Caleb acelerou o passo e sorriu chegando perto de nós. Ele tinha um
sorriso tão simpático e olhos brilhantes e parecia ser o tipo de cara que todos
queriam por perto.
— Belo voo, não é mesmo, meninas? — perguntou se pondo a
caminhar do nosso lado.
— Foi ótimo! — Sandra respondeu.
— E o que você achou do seu primeiro voo com a nova tripulação,
Hannah? — ele virou o rosto em minha direção.
— Muito bom. Eu estava muito animada para meu primeiro voo
internacional.
— Em breve você acostuma, vamos fazer muito isso. — ele me deu
um tapinha no ombro e desviou a atenção para as outras meninas também —
Festinha de pé hoje?
— Claro! — Jasmine sorriu bastante animada — Estou indo para o
hotel descansar o máximo que puder para aproveitar bastante mais tarde.
— Você sempre foi das minhas, Jasmine. — ele respondeu e olhou
para trás — Kevin, hoje as meninas pretendem aproveitar bastante. Quem
será que aguenta mais?
— Sem dúvidas você não, Caleb.
Kevin respondeu de maneira séria, mas eu podia sentir que seu tom de
voz denotava um leve tom de brincadeira, como um toque que ele usava com
o amigo e o outro entendia. Caleb deu risada e nós continuamos caminhando
para buscar nossa bagagem.
Eu dividia um táxi com Jasmine e Sandra e estávamos sendo levadas
até o hotel onde nos hospedaríamos. Era praticamente ao lado do aeroporto e
se chamava Zleep Hotel Copenhagen Airport. Nós chegamos atrás do táxi
dos rapazes. Kevin e Caleb já estavam fazendo o check-in quando nos
aproximamos do balcão. Não era um hotel de muitos andares, mas sua área
era bastante espaçosa.
O chão era de tábua corrida, as paredes de uma cor clara e o teto bem
escuro, quase preto. O balcão era cinza claro e atrás havia uma parede de
ladrilhos pretos. Era bem diferente dos hotéis que eu já tinha frequentado.
Uma das recepcionistas nos atendeu e nós fizemos o check-in. Obviamente,
Kevin e Caleb terminaram antes e o segundo virou para nós antes de se
afastar.
— Nos vemos mais tarde. Bom descanso, meninas.
Eu virei o rosto para observá-los e vi Kevin arrastando sua mala pelo
saguão do hotel. Os dois foram em direção ao elevador e eu voltei a desviar
minha atenção para o balcão à minha frente. Entreguei minha identidade e
depois de ser registrada, recebi o cartão do meu quarto simples. Não era o
hotel mais luxuoso que eu tinha ficado, mas eu não ligava para essas coisas.
Desde que tivesse um chuveiro e uma cama, eu estava satisfeita.
Assim que entrei no quarto, pude ver a cama com lençóis brancos,
uma cômoda com TV e uma grande janela atrás da cortina entreaberta.
Larguei minha mala e tirei os sapatos. Era tão bom poder sentir o chão com
os pés descalços. Tomei um banho rápido, coloquei uma camisola e me meti
na cama, pegando no sono quase que instantaneamente.
Depois que acordei, já na hora do almoço, consegui me arrumar e
descer para almoçar no restaurante do hotel. Estava bastante frio na
Dinamarca, então eu coloquei uma calça jeans, botas e um suéter. Prendi
meus cabelos em um rabo de cavalo e fiz uma maquiagem leve.
Uma das minhas maiores paixões era a maquiagem. Eu adorava
demais os efeitos que os produtos eram capazes de fazer na pele de uma
pessoa quando usados da maneira correta. Meu maior sonho era conseguir
fazer um curso para me tornar profissional, mas enquanto isso não era
possível, eu fazia por hobby. Fiz o pedido do meu prato e me sentei próximo
à janela. O tempo estava nublado, mas não chovia. O que era bom para dar
um passeio.
Enquanto esperava meu almoço, verifiquei no celular lugares
interessantes que eu poderia visitar naquela tarde. Consegui encontrar um site
com dicas para quem viajava pela primeira vez para a cidade. Verifiquei os
pontos turísticos e escolhi alguns para visitar. Infelizmente eu tinha pouco
tempo, mas já seria o suficiente para aproveitar.
Quando terminei o almoço, guardei meu celular no bolso e saí do
hotel depois de perguntar como poderia ir até o Palácio de Christiansborg. O
vento frio bateu na minha pele e eu fechei meu sobretudo sobre o suéter
verde-escuro. Caminhei até um ponto de ônibus. Esperei pelo horário em que
o transporte passaria ali e assim que o vi se aproximar, me levantei do
banquinho.
Eu me sentia livre de fazer todas essas coisas sozinha pela primeira
vez em um país diferente. Eu tinha vinte e quatro anos e embora ainda fosse
jovem, já tinha passado por coisas complicadas. Agora, cada oportunidade
que eu tinha para me divertir, eu tentava aproveitar. Fiquei de olho no GPS
do meu celular para saber em que ponto deveria descer.
Não demorou muito para que meu destino chegasse. Copenhague era
uma cidade bem diferente de Nova York, sem todo o trânsito e fluxo de
pessoas, o que a tornava bastante agradável para os turistas. Pude ver a
construção de longe. O palácio era grande, com paredes de pedra escuras e
cheio de janelas. O telhado era de um verde-água que contrastava com as
paredes. Na frente dele, havia uma espécie de praça com uma fonte no meio.
Havia um grande número de turistas ali tirando fotos e eu decidi pegar
meu celular e fazer o mesmo. Capturei imagens do grande palácio e tirei
algumas selfies. Uma família passou próximo a mim e talvez tenham
percebido que eu estava sozinha, então se ofereceram para tirarem uma foto
minha de frente para a construção. Eu agradeci imensamente.
Fiquei a tarde toda passeando pela cidade, caminhando pelas ruas e
parando em uma confeitaria para tomar um chá. Eu tinha reunido uma série
de fotos no celular que eu estava louca para mostrar à minha irmã e minha tia.
Na volta para o hotel, Jasmine me mandou uma mensagem dizendo
que às nove eu deveria estar pronta para a festa e que se eu não o fizesse, ela
me arrastaria para a boate de qualquer maneira.
Capítulo 3
HANNAH

Cheguei ao hotel bastante cansada, mas me sentindo feliz. Caminhei


pelo saguão mexendo em meu celular enviando algumas fotos para minha
irmã a fim de sanar sua curiosidade quando esbarrei em algo, ou melhor,
alguém.
— Desculpe. — falei assim que notei o par de tênis à minha frente
enquanto eu ainda olhava para baixo.
— Você deveria andar olhando para a frente.
Aquela voz chamou minha atenção. Eu sabia quem era o dono dela e
comecei a ficar morta de vergonha antes mesmo de levantar a cabeça.
Kevin.
Ergui o queixo devagar percebendo aos poucos que ele estava vestido
com uma calça jeans e um moletom preto e para completar o visual, havia um
boné também preto escurecendo a cor dos seus olhos verdes. Kevin me
observava de maneira séria e eu percebi que ele talvez estivesse irritado.
Tinha sido mesmo culpa minha. Não deveria andar por aí mexendo no celular
e sim prestando atenção à minha frente.
— Eu estava mandando uma mensagem e não te vi. Desculpe. —
respondi.
— Acho que percebi. — ele desviou o olhar para o celular em minha
mão e depois focou em meus olhos — Tente não fazer isso no meio da rua ou
você pode se dar mal.
E com isso ele passou do meu lado e se afastou deixando o ar em
minha volta pesado e com o cheiro do seu perfume. Não consegui não olhá-
lo. Kevin caminhou com as mãos nos bolsos do casaco e saiu do hotel
virando para o lado oposto de onde eu vim. Ele era definitivamente um cara
sério e misterioso que não fazia a menor questão de manter amizade com
colegas de trabalho, ao contrário de Caleb.
Até agora, eu não tinha decidido se ficar longe de Kevin era algo bom
ou ruim.
Decidi deixar os devaneios de lado e procurei o cartão do meu quarto
na bolsinha lateral que eu estava usando. Quando cheguei ao meu quarto, me
livrei das botas, do sobretudo e sentei na beirada da cama para conversar com
minha irmã. Ainda era seis e meia da noite, o que significava que eu ainda
tinha um tempo até a hora de sair.
Ao final da conversa, após atualizar minha irmã sobre as novidades da
viagem, eu decidi tomar um banho. A verdade é que eu estava cansada e não
recuperara todo o meu sono, mas por outro lado, eu só tinha vinte e quatro
anos e poucas oportunidades de me divertir.
Vesti o roupão quando saí do banho e decidi revirar minha mala atrás
de algo para vestir. Eu não fazia ideia de que iria à uma festa, então as opções
eram bem limitadas. Depois de colocar tudo sobre a cama, eu definitivamente
não sabia o que vestir, então mandei uma mensagem para Jasmine vir em
meu auxílio.
— Certo, deixe-me ver o que temos aqui. — ela disse assim que
entrou no meu quarto.
— Acho que você não vai conseguir fazer nenhum milagre.
Ela pegou cada peça de roupa e checou o que poderia servir, até
separou uma calça jeans de lavagem clara com alguns rasgos na perna que eu
adorava.
— Eu trouxe uma blusa preta que acho que vai caber perfeitamente
em você. Vai ficar um arraso com essa calça. — ela se virou para mim —
Você tem algum sapato de salto?
— Só a minha bota.
— Perfeito. — Jasmine foi até a porta — Vou buscá-la.
— Obrigada. Fico te devendo uma.
— Não tem problema.
Em poucos minutos ela retornou trazendo a blusa e foi para o seu
quarto se arrumar. Vesti uma calcinha preta e pus a calça jeans. Ficava bem
no meu corpo, por isso eu a adorava. A blusa que Jasmine trouxe era bonita,
mas um tanto ousada demais. Deixava parte da barriga à mostra, havia um
decote arredondado que mostrava boa parte da curva dos seios e era brilhosa.
Sem dúvidas chamava a atenção.
Nunca tive vergonha do meu corpo e eu me considerava uma mulher
bonita, mas nunca fui do tipo que me exibia e gostava de chamar a atenção.
Sempre preferi ser mais discreta. Mesmo assim, aceitei aquela blusa porque
era a única opção. Todas as minhas não estavam de acordo com a ocasião.
Ao terminar de me arrumar e me maquiar, chequei meu visual no
espelho. Meus cabelos ruivos agora estavam soltos e caíam sobre meus
ombros e costas. A maquiagem que escolhi não era muito forte, já que eu
preferi destacar os meus lábios com um batom vinho. Coloquei meu celular
no bolso e algum dinheiro e saí do quarto para esperar as meninas no saguão.
Sandra já estava lá, mas Jasmine ainda estava se arrumando.
— Nossa, essa blusa ficou mesmo muito boa em você. — comentou
— Jasmine me disse que tinha te emprestado.
— Estou me acostumando à ela. Não é exatamente o tipo de roupa
que uso.
— Hannah, você precisa relaxar. É jovem e bonita, se solte mais.
Ponderei sobre aquilo. A verdade é que sempre passei boa parte da
vida me preocupando com várias coisas. Sempre com problemas financeiros,
pensando em como cuidar da minha irmã e tirar o peso das costas da minha
tia, que nos criou de maneira tão amável. Embora eu tivesse seu apoio,
precisei amadurecer muito mais rápido do que deveria. Agora, eu já não
conseguia relaxar e pensar apenas em mim e me divertir, era como se me
sentisse culpada por fazê-lo enquanto nossa família passava por dificuldades.
Pegamos um táxi até o tal bar na cidade que funcionava como uma
pequena balada. Era um local repleto de tripulantes, pessoas que viajavam
bastante, seja em aviões ou em navios de cruzeiro. Pelo visto bastante
conhecido por todos e agora, por mim também. Descemos do táxi depois de
dar algumas notas ao motorista e eu olhei em volta. Estava bastante frio, por
sorte eu tinha meu sobretudo.
— Vamos entrar logo, você vai adorar conhecer o lugar, Hannah. —
Sandra me puxou pelo pulso quase me arrastando.
Meus saltos foram batendo pelo chão de cimento até alcançar a
entrada do bar. Ele era até bastante comum, porém fechado. O acesso era por
uma escada de poucos degraus onde um funcionário ficava na porta
controlando a entrada de pessoas. As meninas passaram dando boa noite e eu
as segui.
Lá dentro, o ambiente tinha iluminação mediana, um grande bar e
várias mesinhas. Deixamos nossos casacos na chapelaria e Jasmine foi atrás
de uma mesa para nós. Lá dentro do bar a temperatura estava aconchegante e
pela primeira vez eu senti que deveria realmente me divertir. Era um lugar
novo, um país incrível e eu era uma garota jovem. Poucos tinham essa
oportunidade e eu tinha de aproveitar.
Jasmine pediu uma rodada de drinques que ela jurou serem deliciosos.
Como eu não conhecia muito, deixei que ela escolhesse. Enquanto
esperávamos, olhei em volta para ver as pessoas. Havia um número misto de
homens e mulheres, muitos já tomavam cervejas e conversavam sentados ou
de pé.
— Beba, esse é uma delícia. — Sandra empurrou o copo para mim.
O líquido era rosado, havia uma rodela de limão e uma cereja em
cima, além de um canudo. Eu não fazia ideia do sabor, mas pelo menos
estava bonito. Decidi experimentar um pouco e dei um pequeno gole. Senti
imediatamente um sabor diferente, um levemente adocicado e que apesar do
gelo na bebida, assim que a engoli, senti esquentar minha garganta.
— Gostou? — ela perguntou com olhar ansioso.
— É boa. — respondi com sinceridade — A sensação de queimação
na garganta é esquisita, mas acho que posso me acostumar.
— Então aproveite porque a noite está apenas começando.
Assenti e fiquei sentada saboreando meu drinque. O bar foi enchendo
aos poucos. Jasmine e Sandra me contaram como foi a primeira vez que
vieram aqui e como o local ficou tão popular entre os tripulantes. Ao que
parece, a localização dele é ótima em relação a maioria dos hotéis, então
grande parte das pessoas costumava vir relaxar aqui e acabou se tornando um
costume entre todos, até mesmo os novatos como eu.
Mesmo distraída com o movimento grande de pessoas, a música e a
luz um pouco ambiente, eu pude ver o momento em que Kevin e Caleb
entraram no bar. Eles eram altos, portanto, chamavam a atenção, inclusive
não apenas a minha, mas de outras mulheres também. Kevin estava vestido
com uma camisa escura, eu não sabia dizer exatamente a cor por conta da luz.
Caleb já usava uma que parecia branca e ambos conversavam entre si.
Pude vê-los se dirigindo direto para o bar. Kevin levantou o dedo para
fazer o pedido e eu fiquei observando suas costas largas. Fazia muito tempo
que eu não ficava com ninguém, então ele estava despertando em mim
algumas sensações com facilidade impressionante.
— Os caras chegaram! — Jasmine falou fazendo com que eu
desviasse o olhar para ela — Vou até lá falar com o Caleb, já que Kevin não
é do tipo que daria muito papo para mim.
— Kevin é mesmo assim? — perguntei a Sandra enquanto Jasmine se
afastava.
— Sim. — balançou a cabeça — Ele é bem fechado quando o assunto
são as comissárias de bordo. O único com quem ele fala é o Caleb. —
inclinou-se na mesa para falar mais perto comigo — Porém já sabemos que o
Kevin não tem nenhuma restrição quando o assunto se refere às comissárias
de outras companhias.
— Ele pelo visto não mistura o trabalho com outras coisas.
— Não mesmo. Nunca ouvi ninguém dizendo que o Kevin ficou com
alguma mulher com quem trabalhasse.
Pensei sobre isso mais uma vez. Eu já sabia dessa restrição, mas ser
relembrada disso me fazia pensar no quanto eu precisava desviar minha
atenção dele. De fato, era um homem bonito e eu tinha de saber lidar com
isso. Não era o único homem bonito do planeta, certo?
Ele estava recostado no bar tomando uma bebida que eu não podia
reconhecer de longe. Seu braço estava apoiado no balcão enquanto com a
outra mão ele segurava eu copo e varria o lugar com aqueles olhos verdes
misteriosos.
— Você sabe de onde Kevin é? — perguntei tentando manter um
diálogo simples com Sandra, sem deixar transparecer meu interesse, apenas
uma curiosidade.
— Ele é de Nova York pelo que Caleb falou.
Do mesmo lugar que eu. Que coincidência!
— E você de onde é, Sandra? — perguntei.
— Eu nasci em Minneapolis e passei minha infância lá, depois nos
mudamos para Portland e foi lá que fiquei até virar comissária. Agora divido
um apartamento no Queens com uma amiga. — deu um gole na bebida — E
você?
— Moro em Long Island com minha tia e minha irmã.
— Eu namorei um cara de lá, é um lugar legal.
Ficamos conversando por mais alguns minutos até que Sandra
também se levantou e quis dançar em uma pista no canto do bar. Eu não
estava muito animada para uma dança, ainda não tinha me acostumado aos
meus novos companheiros de trabalho, portanto me sentia um pouco tímida.
Fiquei apenas observando Sandra e Jasmine se divertindo e Caleb dançando
junto com elas. Kevin continuava no mesmo lugar, mas seus olhos agora
pareciam fixos em uma garota loira que dava risadas com um homem que
parecia ser seu amigo.
Pelo visto ele já tinha seus próprios interesses.
Levantei e decidi ir ao bar. Se tinha de ficar sozinha que, pelo menos,
fosse acompanhada de mais um desses drinques gostosos.
Kevin notou minha aproximação, porque eu percebi o momento em
que seus olhos se desviaram da loira para mim. Fiquei calma e apoiei as mãos
no balcão, sem cumprimentá-lo.
— Poderia me fazer outro drinque desse que eu estava bebendo? Não
sei o nome, mas é rosado. Tinha uma cereja também.
— Um cosmopolitan. — respondeu o barman — Já vai sair.
Ele era um cara loiro e alto, olhos azuis por trás das lentes dos óculos
de grau. Era um rapaz bonito e com uma barba por fazer. Não era exatamente
muito musculoso, mas pelo visto praticava algum esporte.
— Pelo visto você não está acostumada a beber. — percebi que Kevin
falou comigo.
Achei bem estranho e me virei franzindo o cenho. O cara era sempre
calado e distante e agora estava puxando papo comigo. A mulher que
trabalhava na mesma tripulação que ele.
— Não estou mesmo. — respondi depois do choque inicial — Mas
esse drinque até que é gostoso e como as meninas disseram, hoje é dia de se
divertir. — dei de ombros.
— Só tente não se divertir muito e acabar com a cabeça dentro de um
vaso sanitário. — ele levantou a caneca de cerveja para mim em um brinde.
— Você já se divertiu assim? — a pergunta saiu de mim antes mesmo
que eu pudesse fazer algo a respeito e segurar a língua.
Eu era de fato uma pessoa bem curiosa.
— Algumas vezes. — respondeu num tom de voz de quem dizia que
aquilo não era grande coisa e girou no banco, ficando de frente para mim —
Faz parte da experiência. Acho que todo mundo deveria passar por isso pelo
menos uma vez.
— Não deve ser agradável. — fiz uma careta.
— E não é para ser. — ele meneou a cabeça.
O barman entregou minha bebida e Kevin estendeu sua caneca de
cerveja em um sinal de quem pedia um brinde, dessa vez eu deveria
acompanhar. A situação estava ficando cada vez mais esquisita, mas eu tinha
de admitir que estava gostando dessa interação.
— Você não tem um sotaque diferente. — ele comentou — De
onde você é, Hannah?
— Sou de Long Island.
— Estado de Nova York. — apoiou-se no balcão com um braço
ficando de frente para mim — Estive lá algumas vezes. É um bom lugar.
— Sim, eu gosto de viver lá. — tomei um gole do meu drinque, a
famosa coragem líquida — Você também não tem sotaque. É de Nova York?
Ele apenas assentiu e olhou para o barman solicitando uma nova
cerveja. Fiquei calada olhando em volta. Eu já não podia ver Sandra, mas
Jasmine continuava na pista de dança sem dar sinais de cansaço.
— Pelo visto suas novas amigas estão se divertindo. — Kevin
quebrou o silêncio constrangedor entre nós.
— O seu amigo também. — rebati observando Caleb enquanto ele
também dançava.
— Ele sempre faz isso.
Kevin também se pôs a olhar para o amigo. Seus olhos verdes
agora estavam escuros por conta da luz e eu me atrevi a focar minha atenção
nele. Talvez a bebida realmente tivesse me dando a coragem necessária. Sua
barba por fazer cobria todo seu maxilar, os cabelos castanhos caíam
levemente pela testa e os músculos dos braços estavam evidentes pela camisa
justa que ele vestia. Querer se envolver com um homem bonito como ele não
era nenhum absurdo. Qualquer mulher em sã consciência se sentiria atraída.
Infelizmente, Kevin não iria se envolver comigo. Havia um limite.
O fato de trabalharmos juntos.
Talvez, embora eu soubesse que era uma garota bonita, sem
dúvidas não sabia ser tão sexy quanto as garotas que rebolavam nesse bar, tal
qual a loira que ele estava observando antes de eu me sentar ao seu lado e que
agora o observava.
Percebi logo atrás de Kevin que ela estava com uma taça de bebida
na não e falava com seu amigo sem desviar o olhar do homem bonito sentado
a uma curta distância de mim. Ela notou que eu a observava e sua expressão
mudou. Não era nem um pouco amigável.
Ela provavelmente pensava que eu estava flertando com Kevin. A
garota não poderia estar mais errada.
— Mais uma cerveja, por favor. — a voz de Kevin me chamou de
volta para o lugar onde eu estava.
Pude vê-lo pegar o celular e verificar as mensagens. Havia uma
infinidade delas pelo que pude enxergar através da minha visão periférica.
Ele deslizava o polegar pelos alertas como se estivesse avaliando se alguma
delas era digna de atenção. Até que pelo visto algo chamou sua atenção e ele
desbloqueou a tela com a digital e respondeu a pessoa eleita.
Desviei o olhar. Eu não estava interessada em saber quem era.
Voltei minha atenção para a pista e dança e decidi que era melhor ir
até lá. Dançar não faria mal e eu sempre havia gostado. Quando adolescente,
ia às festas das minhas amigas e aproveitava até meus pés cansarem. Talvez
eu pudesse relembrar aqueles tempos.
Sem pedir licença a Kevin, fui para o mesmo lugar onde até então
minhas novas colegas de trabalho e Caleb se divertiam. A batida da música
era rápida, muitos corpos na pista se moviam freneticamente. Algumas
mulheres chamavam a atenção e alguns homens também. Nunca tinha sido
exatamente tímida para isso, mas estar em um lugar sem conhecer
praticamente ninguém me deixava um pouco desconfortável.
— Hannah! — Jasmine me puxou pelo braço me assustando, mas
vê-la me aliviou.
— Decidi dançar um pouco. — falei alto perto do seu ouvido.
— Vamos aproveitar.
Ela levantou os braços e começou a dançar de um jeito que parecia
bem característico dela, além é claro, da contribuição do álcool. Comecei a
mover os quadris também. A batida da música ajudava a embalar os
movimentos e depois de pouco tempo eu já me sentia totalmente imersa. Dois
homens se aproximaram de nós, eram altos e loiros.
Notei o sorriso de Jasmine, que ficou bastante animada com a
companhia. Eles eram bonitos, eu tinha de admitir. O que parou ao meu lado
tinha um belo sorriso, com dentes retos e uma covinha do lado direito. Um
charme à parte.
— Niels. — ele falou perto do meu ouvido, suspeitei que estivesse
se apresentando.
— Hannah. — respondi e ele sorriu.
Jasmine parecia já estar se dando muito bem com o outro rapaz
porque eles dançavam e conversavam da maneira mais viável possível
naquele ambiente. Eu olhei para Niels novamente e ele apontou para o bar
com um movimento de cabeça.
— Topa sentar e beber alguma coisa? — perguntou e eu pude
perceber com clareza seu sotaque.
— Claro.
Era bem melhor me acomodar do que dançar com um desconhecido
em um país diferente. Eu não sabia muito bem como agir em uma situação
dessas e talvez no bar pudéssemos ter uma conversa que me deixasse um
pouco mais à vontade e servisse para conhecê-lo um pouco mais.
Quando voltei para onde estava sentada, Kevin já tinha sumido.
Olhei em volta e percebi que a mulher que antes o observava já não estava
mais lá. Provavelmente ele tinha tomado alguma atitude. Não era exatamente
da minha conta, então tentei não pensar muito a respeito. Talvez ele já nem
estivesse mais no bar.
— O que quer beber? — Niels me perguntou sentando ao meu lado
e me puxando para longe dos meus pensamentos.
— Um cosmopolitan. — pedi novamente o mesmo drinque de
antes, que eu deixei praticamente intocado enquanto conversava distraída
com Kevin.
— Um cosmopolitan e um Bourbon. — o barman aceitou os
pedidos e se afastou, então Niels desviou seu olhar para mim — Mas me
diga, Hannah, de onde você é?
— Sou de Nova York, Long Island. — respondi.
— Já estive em Nova York duas vezes, bela cidade. — apoiou o
braço sobre o balcão — Sou daqui mesmo, trabalho com relações
internacionais em uma empresa. O que a trouxe até a Dinamarca?
— Sou comissária de bordo. Fizemos um voo até aqui, estou indo
embora mais tarde.
— É uma pena. — ele entristeceu um pouco o semblante — Mas
que tal me dar seu número de telefone? Aí quem sabe a gente se vê quando
você retornar ou quando eu estiver em Nova York?
Ponderei por alguns segundos. Niels era um rapaz bonito, parecia
inteligente e um cara legal. Dar o número de telefone não seria tão absurdo
assim.
— Vou falar e você pode salvar no celular.
Ele enfiou a mão no bolso e tirou o aparelho. Ditei para ele os
números com o código de área e ele me mandou uma mensagem
imediatamente. O meu celular vibrou no bolso e eu o tirei de lá. Havia um
SMS.
“Agora você também sabe o meu número.”
Dei um sorriso e salvei na minha agenda. O máximo que poderia
acontecer é que descobrir com um tempo que ele era um cara chato ou talvez
um psicopata, então eu o bloquearia ou mudaria de número e continuaria
vivendo minha vida.
— Fale mais sobre você, Hannah. — ele se apoiou no balcão com
um dos cotovelos — Por que escolheu ser comissária?
— Foi um pouco das circunstâncias. Consegui um curso, acabei
entrando e decidi ficar. O dinheiro é bom e ajuda a pagar as contas. — resumi
— E por que escolheu relações internacionais?
— Sempre gostei de estudar as relações políticas e econômicas dos
países. — ele deu um discreto sorriso que fez suas covinhas aparecerem —
Soa um pouco nerd, eu sei.
— Não, eu acho interessante.
— Então acho que passei da primeira fase. Você não me acha
esquisito.
Dei risada.
Niels parecia realmente um cara legal e eu estava começando a me
sentir confortável com ele. Continuamos uma conversa tranquila. Ele me
falou um pouco mais sobre seu trabalho e sobre a família. Niels morava
sozinho em um apartamento ali mesmo em Copenhague e tinha dois irmãos
mais velhos. Eu aproveitei para falar que morava com minha tia e uma irmã
mais nova e que tinha vontade de me tornar maquiadora profissional.
— Não desista desse sonho, Hannah. — ele me incentivou.
— Eu não quero desistir, porém é um investimento que no
momento não posso fazer.
Um curso de maquiagem e os materiais custavam uma pequena
fortuna baseados no meu orçamento. Infelizmente, eu tinha que ajudar minha
tia com as despesas e ajudar a sustentar minha irmãzinha. No fim das contas,
não sobrava muito para mim. Porém, eu não reclamava. Não era a única
jovem dos Estados Unidos que tinha que deixar os sonhos de lado porque não
nascera em berço de ouro.
— Entendo sua situação, mas mesmo assim não desista. Quem sabe
não aparece uma oportunidade?
— Você é muito otimista. Isso é legal.
— Eu tento ser na maioria das vezes. — ele bebeu um pouco mais
do seu uísque e se levantou — Que tal voltarmos para a pista de dança?
Topei e dei um gole no meu drinque antes de acompanhá-lo.
Niels e eu dançamos por cerca do que me pareceu meia hora. Ele
não fora em momento nenhum mal-educado e me respeitou. No fim das
contas, gostei da sua companhia. Quando meus pés começaram a reclamar
por conta da dor, eu achei melhor parar e ir para o hotel. Já estava tarde e eu
precisava do meu merecido descanso antes de voltar para os Estados Unidos.
— Se importa que eu te acompanhe até o hotel?
— Posso pegar o táxi, não precisa se preocupar.
— Eu te acompanho no táxi então. — ele deu um sorriso, talvez
para tentar me convencer usando suas covinhas e eu acabei caindo.
— Certo.
Pagamos a conta e eu peguei meu celular para mandar uma
mensagem para as meninas avisando que eu já estava indo embora para que
não me procurassem em vão, embora eu tivesse a suspeita de que elas não
estavam muito preocupadas comigo e sim aproveitando a noite.
Niels chamou o primeiro táxi que passou e abriu a porta traseira
para mim assim que o veículo parou próximo a nós. Eu me arrastei no banco
suspirando e tentando relaxar os pés, mas o que eu precisava mesmo era tirar
aquela bota.
— Gostei de conhecer você, Hannah. Infelizmente sei que você vai
embora da cidade hoje, mas gostaria de não perder o contato.
— Também gostei de conhecer você. Podemos conversar. Acredito
que estarei de volta à cidade em breve, a vida de tripulante é assim.
— Ficarei feliz com isso. Se tiver algum tempo, talvez a gente
possa sair para almoçar.
— Vai ser ótimo.
O hotel não ficava muito longe e o motorista estacionou em frente.
Niels pediu para que ele esperasse um pouco e desceu do carro junto comigo.
Senti um frio na barriga porque essa era a hora da despedida e eu não sabia
exatamente se rolaria ou não um beijo.
O que eu deveria fazer? Talvez agir normalmente e esperar algum
tipo de atitude dele.
— Bem, acho que é a hora de nos despedirmos. — ele falou.
— Sim, mais tarde volto para Nova York.
— Que bom que achei você antes disso acontecer.
Niels foi bem discreto. Colocou a mão no meu braço e se aproximou
dos meus lábios devagar, talvez quisesse me dar tempo de recuar. Eu não fiz
isso.
Ele era bonito e legal, não havia nada de mal em um beijo.
Seus lábios eram macios e ele não foi nem um pouco desesperado. Foi
um beijo que não durou muito, mas foi o suficiente para senti-lo e perceber
que Niels beijava bem. Ele se afastou de mim e me olhou com olhos azuis
escuros. Seus lábios se curvando num sorriso.
— Obrigado pela noite, Hannah.
— Foi bastante agradável, Niels. — também sorri — A gente se fala
em breve.
— Boa viagem e bom descanso.
Ele se afastou voltando para o táxi. Acenei quando ele abaixou o
vidro traseiro e o motorista deu partida afastando o veículo até que este
sumisse após dobrar a esquina. Suspirei e me virei para entrar no hotel.
Kevin estava no saguão falando ao celular, mas seu olhar estava fixo
em mim. Um calor percorreu meu corpo no exato momento em que flagrei
aqueles olhos verdes me observando. Ele se virou de costas e colocou uma
das mãos no bolso frontal da calça e se perdeu naquela ligação. Entrei no
saguão me perguntando curiosamente com quem ele estava falando, mas pelo
que pude perceber da sua postura relaxada, era que ele gostava bastante da
pessoa que estava do outro lado.
Fui direto para o elevador. Tudo que eu precisava era de um banho e
cair na cama. O voo seria somente à noite e eu teria tempo suficiente para
descansar. Assim que as portas de aço se abriram, eu entrei no elevador e
peguei meu celular. Havia uma mensagem da minha irmã. Ela era
extremamente curiosa e eu sabia que estava em cólicas para saber sobre meu
primeiro voo internacional.
“Como estão as coisas, Hannah?”
Aproveitei para digitar algo rapidamente.
“A Dinamarca é linda! Gostaria muito de poder te trazer aqui, irmã.”
As portas do elevador se abriram e eu saí do mesmo direto para o
corredor onde ficava o meu quarto. Acabei me distraindo digitando uma
mensagem para minha irmã e caminhei para longe da porta do meu quarto.
Somente me dei conta disso quando ouvi uma voz grave atrás de mim:
— Esqueceu o número do seu quarto?
Eu lembrava daquele tom de voz nos autofalantes do avião. Era
Kevin. Desviei minha atenção do aparelho em minhas mãos e levantei a
cabeça me virando para ele. Mesmo a uma distância considerável, eu podia
ter ciência da sua altura e da sua força comparadas a mim. Os olhos verdes
fixos em mim e seu semblante não deixava transparecer se ele estava
brincando ou falando sério, portanto, achei melhor explicar.
— Me distraí digitando uma mensagem.
— Preste atenção. É a segunda vez que te digo isso pelo mesmo
motivo.
— Sim, mas acho que não serei atropelada por um carro dentro de um
hotel.
Ele deu de ombros e sacou o cartão do quarto de dentro do bolso.
Levantou o mesmo fazendo menção de que queria entrar e me virei para trás
percebendo que estava exatamente na frente da porta dele. Afastei-me dando
passagem para Kevin, que passou por mim deixando o cheiro de perfume
misturado ao de cigarro. Acabei me perguntando se ele fumava ou se o cheiro
apenas tinha grudado nele por conta da fumaça no ambiente.
Kevin abriu a porta e entrou, fechando-a em seguida sem nem mesmo
dizer “boa noite”. Que falta de educação! Balancei a cabeça e decidi ir
também para o meu quarto. Tirei as botas e na mesma hora senti um alívio.
Sentei na poltrona e continuei escrevendo uma mensagem para minha irmã
explicando o que eu tinha feito naquele dia, omitindo o fato de ter conhecido
um cara. Não era o tipo de assunto que eu queria ter com minha irmã de doze
anos.
Depois de encerrar a conversa, tomei banho e me joguei na cama. Era
tudo que eu precisava. Apenas uma boa noite de descanso.
Capítulo 4
KEVIN

Eu tinha acabado de chegar em Nova York depois da viagem à


Dinamarca. Não tinha dormido muito bem na noite anterior logo após sair
daquele bar e não fazia ideia do motivo. Cheguei ao meu apartamento pronto
para tomar um banho e dormir.
Larguei a mala logo na entrada, subi as escadas, tomei um banho e
rápido e simplesmente me joguei na cama. Quase que literalmente. Acordei
com o sol batendo no meu rosto. Meu apartamento no Upper West Side tinha
grande janelas e o quarto não era diferente. Eu havia esquecido de fechar as
cortinas, na verdade, nem mesmo tinha reparado nelas antes de dormir.
Coloquei o braço por cima do rosto e soltei um palavrão. Eu tinha chegado
em casa no início da madrugada e dormi direto até amanhecer.
Peguei meu celular tateando a mesa de cabeceira e chequei as horas.
Estava perto das onze da manhã e era a hora que o sol costumava clarear
demais o meu quarto. Louis tinha enviado algumas mensagens e acessei sua
conversa para lê-las.
“Estou indo ao clube. Sei que você já chegou à cidade, se estiver disposto
me encontre lá.”
Não seria má ideia. Fazia tempo que eu não ia ao clube jogar uma
partida de tênis. Sentia falta de me exercitar e essa era uma boa oportunidade.
Escrevi uma mensagem rápida dizendo que chegaria dentro de alguns
minutos.
Afastei os lençóis e fui direto tomar um banho para espantar a
preguiça. Minha geladeira estava praticamente vazia, como sempre. Eu
gostava muito de cozinhar, mas por ficar pouco tempo em casa, eu quase não
fazia compras, pois os produtos acabariam se estragando com o tempo sem
serem consumidos. Vesti uma bermuda, uma camiseta e um tênis. Peguei as
chaves do carro, carteira e celular e fui atrás da Starbucks mais próxima para
garantir pelo menos um café.
Foram vinte minutos até o clube e ao estacionar, percebi uma garota
ruiva a alguns metros de distância.
Não podia ser.
Os cabelos avermelhados balançavam contra o vento e eu estreitei o
olhar. Era Hannah?
Quando a garota virou de perfil, percebi que não era ela. Só que a
sensação dentro de mim não passara. Na verdade, eu nem sabia explicar.
Talvez um pouco de ansiedade e surpresa.
Que merda era essa que estava acontecendo?
Hannah era apenas uma garota bonita que eu adoraria apresentar ao
meu pau se não trabalhássemos juntos. Eu tinha uma regra muito clara em
minha cabeça. Jamais me envolver com alguém com quem estivesse
trabalhando diretamente, pois as coisas sempre acabavam mal. O momento
em que não desse mais certo, você seria obrigado a conviver com a pessoa e
agir como se nada tivesse acontecido. Portanto comissárias de bordo na
minha cama, apenas se trabalhassem em outra companhia.
Joguei meu copo de café em uma lata de lixo enquanto me dirigia
para a quadra de tênis onde provavelmente estaria o meu irmão. A ruiva tinha
sumido do meu campo de visão. Ela parecia bonita, mesmo de perfil era
possível ver alguns traços. Não seria nada mal tentar me aproximar.
Talvez em outra oportunidade.
Avistei de imediato o meu irmão na quadra jogando com outra pessoa
que eu conhecia bastante.
Caleb.
Fui até o banco e me sentei nele para esperar o término da partida.
Louis notou que eu havia chegado e levantou a raquete em um cumprimento
antes de fazer seu saque. Esperei cerca de quinze minutos até que Caleb
venceu. Dei uma boa risada do meu irmão.
— Acho que você não é mais o mesmo. — falei.
— Não tenho tido muito tempo para jogar. O trabalho anda me
consumindo e a Maddie também.
— Você precisa desacelerar, Louis. De uns tempos para cá você tem
estado num ritmo frenético de trabalho. Não sei o que deu em você, afinal,
sempre fez questão de ter seus momentos livres até mesmo para ficar com a
Maddie.
— Ela tem passado muito tempo com a Ali porque está encantada
com o bebê e eu preciso de alguma coisa para me distrair. — ele sentou ao
meu lado e passou a mão nos cabelos em um claro sinal de que estava
desconfortável — Mas deixemos de falar de mim. Como estão as coisas?
— Boas.
— Caleb me disse que tem uma garota nova na tripulação. — Louis
apoiou os cotovelos na coxa e olhou para a frente onde meu copiloto estava
pegando uma garrafa de água.
— Sim, mas não é nada demais.
Eu não queria falar de Hannah e nem da vontade que eu tive de
transar assim que pus meus olhos nela. Aquele cabelo ruivo, o corpo
modelado naquele uniforme de comissária, os lábios cheios o suficiente para
eu ter uma boa quantidade de pensamentos eróticos e os olhos azuis que
brilhavam de um jeito diferente, que transpareciam uma simplicidade que há
tempos não via em uma mulher.
Caleb, o filho da puta fofoqueiro, se aproximou de nós com um
sorriso campeão no rosto.
— Está pronto para uma partida, Kevin? — se jogou no espaço ao
meu lado.
— Melhor você aproveitar esse sorriso porque em breve ele vai sair
da sua cara.
— Caleb, Kevin me disse que a nova garota não é nada demais. —
Louis voltou ao maldito assunto.
Meu amigo riu. Uma risada de quem estava se divertindo às minhas
custas.
— Louis, eu só posso te dizer que a ruiva é um espetáculo e tenho
certeza de que seu irmão tem consciência disso.
— Como eu disse, não é nada demais. Não me interessa se ela é
gostosa, não vou me envolver.
— Ainda decidido a não ficar com ninguém do trabalho? — meu
irmão perguntou.
— É a melhor coisa, acreditem em mim. — levantei — Vamos deixar
de papinho e vamos ao que interessa. Caleb me deve uma partida.
Fui direto para a quadra onde decidi pegar uma das raquetes
disponíveis. Caleb me acompanhou e tiramos no cara e coroa quem
começaria sacando. Louis ficou apenas nos observando sem emitir nenhum
som. Talvez não quisesse apostar uma vitória. A partida demorou mais do
que o esperado, mas eu venci. Suspeitei que tenha sido pelo cansaço de
Caleb, já que eu não jogava há alguns meses.
— Acho melhor comermos alguma coisa. — Louis sugeriu.
— O restaurante do clube deve estar vazio a essa hora. — falei —
Mas antes preciso dar uma passada no vestiário para tomar um banho. Devo
ter alguma roupa lá no armário.
Depois de alguns minutos, encontrei meu irmão e Caleb no
restaurante. Ambos também tinham tomado banho e já escolhiam seus
pedidos através do cardápio. Loren, uma das garçonetes, me cumprimentou.
Eu devia confessar que dormimos juntos algumas vezes, mas eu não tinha
interesse em algo mais, porém ela ainda mantinha as esperanças de que me
faria mudar de ideia. Ela era loira, baixinha e tinha um par de seios
maravilhosos.
— Faz tempo que não te vejo por aqui, Kevin. — comentou assim que
cruzei as portas do restaurante.
— O trabalho tem sido desgastante. Passo muito tempo fora da
cidade.
— Você não me mandou mensagens mais.
— Não tenho ficado muito tempo em Nova York, mas em breve nos
encontramos.
Dei meu melhor sorriso, aquele que eu sabia que funcionava e fui até
a mesa onde estavam meu irmão e meu amigo.
— Já fizeram o pedido?
— Sim, você demora demais e ainda estava de conversinha com a
Loren. — Louis respondeu com o olhar focado no celular.
— Kevin, você já trepou com a Loren?
Ignorei a pergunta e decidi olhar o cardápio. Minha falta de resposta
fez com que Caleb tirasse suas próprias conclusões.
— Porra, Kevin! Você não perdoa uma!
— Não obrigo ninguém a transar comigo. Elas fazem porque querem.
E era realmente verdade. Por mais que soe um pouco pretencioso da
minha parte, eu nunca precisei me esforçar para conseguir transar com uma
mulher. O grande problema em sair com várias, é que muitas delas queriam
mais do que apenas algo casual e insistiam demais para que as coisas se
tornassem sérias. Era nesse momento que eu precisava “desaparecer”. Um
dos grandes motivos de eu não sair com ninguém do trabalho era que não
seria tão fácil me esconder, por isso eu tinha essa regra bem clara na minha
cabeça.
O fato de estar sempre viajando era que eu podia passar por lugares
onde ninguém me reconheceriam como o filho de um dos homens mais ricos
dos Estados Unidos. Era excelente para que as mulheres não se interessassem
pelo meu dinheiro, afinal, para todos os efeitos eu era um piloto de avião com
um salário razoável. Nenhuma mulher caçadora de fortunas iria tentar me dar
um golpe.
Eu tinha aprendido muito no meu último relacionamento. Nunca
confie em ninguém.
Fiz meu pedido e deixei o cardápio de lado. Meu irmão olhava para
mim com um ar suspeito e eu o conhecia o bastante para saber que ele tinha
várias perguntas, mas não daria a ele a oportunidade de me perguntar.
— E minha sobrinha? — perguntei.
— Está com a Ali. — respondeu e apontou o dedo para mim — Ela
faz questão que você vá na próxima apresentação de balé dela. É daqui a três
dias.
— Sim, eu irei. Não se preocupe. Ando em falta com a Maddie e me
sinto péssimo por isso.
— Ela é apaixonada por você, Kevin. Sente saudades do tio.
— Eu tenho dois sobrinhos, é horrível quando não consigo
comparecer às atividades deles. — Caleb comentou — Amanhã os levarei ao
jogo dos Yankes.
— Tenho que estar mais perto da minha sobrinha. Como não quero ter
filhos, a minha atenção é toda dela.
— Você realmente não quer ter filhos, né? — Louis balançou a
cabeça em uma negação — É a melhor coisa que pode acontecer a uma
pessoa.
— Mas nem todas nasceram para isso. Não quero me casar, não quero
ter um relacionamento, portanto, sem chances de ter filhos. Eu tomo meus
cuidados.
Mudei o rumo da conversa para outro ramo. Puxei o assunto sobre
esportes e isso foi o suficiente para distrair aos dois e tirar o foco de mim. Os
pedidos não demoraram a chegar e eu percebi que estava faminto, afinal, só
tinha tomado um café. Loren me observou durante grande parte do tempo em
que estava livre, mas eu apenas fingi que não estava percebendo.
Quando paramos no estacionamento, nos despedidos de Caleb e Louis
tocou meu ombro antes que eu pudesse entrar no meu carro.
— Nossos pais nos esperam hoje para o jantar. Nossa mãe está
reclamando que você tem aparecido pouco.
— Eles já voltaram de viagem? — perguntei completamente perdido
no tempo.
— Sim, faz quatro dias.
— Eu estarei lá mais tarde, agora tenho algumas coisas para resolver.
Entrei no carro pensando nas coisas que tinha de fazer. Uma das
mensagens no meu celular me fez mudar de ideia sobre aquela tarde. Isabella,
uma publicitária com quem eu costumava sair estava me convidando para
uma bebida. Por coincidência eu estava na cidade e a companhia de uma
mulher linda e inteligente me agradava bastante.
Fui para casa, tomei um banho e me preparei para encontrá-la no
horário marcado em seu apartamento. Não era nenhuma surpresa. Isabella era
o tipo de mulher que dava certo comigo. Ela era independente, tinha seus
próprios objetivos e não tinha a menor ilusão de um casamento depois que o
seu fracassara depois de cinco meses.
— Quanto tempo, Kevin. — foram as primeiras palavras que saíram
da sua boca quando abriu a porta.
— Eu gosto de deixar saudade. — entrei no apartamento sem nem
esperar ser convidado.
Isabella estava usando um vestido preto justo ao corpo que
combinavam perfeitamente com seus cabelos pretos e longos. Era uma
mulher impressionantemente bonita com os olhos castanhos bem escuros.
Seus lábios chamavam atenção pelo batom vermelho.
— Aceita um vinho? — fechou a porta e se aproximou de mim.
— Claro.
Ela sabia ser sedutora. Não era o tipo de mulher como muitas com
quem eu já tinha ficado que pulava em cima de mim na primeira
oportunidade. Isabella era calma e exalava confiança. Eu gostava dessa
segurança nela.
— Posso saber onde você esteve em sua última viagem? — perguntou
enquanto servia duas taças de vinho.
— Dinamarca. — respondi me aproximando da enorme janela do
apartamento, com as mãos enfiadas no bolso lateral da calça.
— Nunca tive a oportunidade de conhecer.
— É um lugar que você não se arrepende de visitar.
Isabella chegou por trás de mim e estendeu a taça na minha frente.
Aceitei a mesma e me virei de frente para ela. Seus olhos castanhos estavam
sob longos cílios que batiam um contra o outra conforme ela piscava e lhe
dava ainda mais charme. Dei um gole no vinho e o sabor me agradou. Eu não
era tão bom com vinhos quanto meu pai, porém sabia reconhecer o que era
uma boa safra.
— Me surpreende sempre o fato de você ter decidido se tornar piloto
de avião. — Isabella passou a ponta dos dedos na gola da minha camisa pólo
— Não tinha a menor necessidade.
— Gosto disso. Não faço pelo dinheiro. — dei mais um gole no vinho
— Eu não vim aqui para ficar debatendo minhas escolhas profissionais.
— Eu sei para que você veio...
Passei uma excelente tarde com Isabella. Sexo com ela nunca tinha
sido ruim, pelo contrário, me deixava bastante satisfeito. Saí do seu
apartamento perto das seis horas da noite. Eu tinha de ir correndo para casa
me aprontar para o jantar em família.
Chegar atrasado estava fora de questão, afinal, minha mãe
enlouqueceria. Ela detestava que nós nos atrasássemos para o jantar e dessa
vez, fora Diana Walsh quem preparara. Já podia sentir meu estômago roncar
apenas de pensar na comida dela.
Estacionei meu carro na vaga de sempre e agradeci mentalmente por
não ver o carro de Alicia ou do meu cunhado, o que significava que eles
ainda não haviam chegado. Dessa vez eu não estava atrasado. Fui direto para
a porta de entrada e atravessei o hall procurando por alguém. Com certeza
deveriam estar na sala de estar. Ouvi as vozes que eu já reconhecia bem e a
mais animada era da minha sobrinha, que foi a primeira a notar minha
chegada.
— Tio! — pulou do sofá e veio em minha direção.
— Ei, minha princesinha. — eu me abaixei o suficiente para que ela
me abraçasse e a peguei no colo.
Maddie crescia rápido ou talvez fosse a sensação que eu tinha por
passar tanto tempo longe da família e vê-la com menos frequência que os
outros.
— O vovô já estava dizendo que você ia chegar atrasado.
— Vai ser difícil perder essa fama, mas pelo visto cheguei antes da
Alicia. — eu a coloquei no chão depois de lhe dar um beijo na bochecha.
— Kevin, que saudades de você, meu amor.
Minha mãe, com todo aquele seu carinho, veio até mim e me deu um
abraço apertado. Dei-lhe um beijo na bochecha, porque apesar de eu não ser
muito fã das imensas demonstrações de carinho, eu adorava estar perto dela e
sentia sua falta.
— Também senti saudades.
Meu pai também me cumprimentou com um abraço e Louis, com
quem eu estive pela manhã, me deu um aperto de mão quando me aproximei
e sentei no mesmo sofá. Maddie se empoleirou ao meu lado. Ela era bastante
apegada a mim e por me ver com pouca frequência, costumava aproveitar os
momentos para ficar ao meu lado.
— Como estão as coisas na escola, Maddie? — perguntei.
— Muito boas. A professora desse ano é bem legal, ainda bem que me
livrei da Sra. Hanson.
— Aquela com a cara de Lhama?
Maddie deu uma risadinha e meu irmão balançou a cabeça em
negação. Obviamente ele detestava o jeito que eu falava e sempre me
repreendia por isso, mas eu achava bem divertido o apelido que eu criara para
a antiga professora da minha sobrinha.
— Kevin, você poderia parar de falar essas coisas, principalmente na
frente da minha filha? Não é isso que ela tem que aprender por aí.
— Ah, fala sério, Louis! Nem parece que você inventava apelidos
comigo na escola.
— Papai inventava apelidos na escola? — Maddie perguntou com os
olhinhos brilhando.
— Vamos deixar de falar disso, por favor. — ele cortou o assunto.
Louis tinha uma personalidade totalmente diferente da minha.
Enquanto eu era mais despreocupado, ele era o tipo de cara extremamente
correto e sistemático em algumas coisas, principalmente depois de ter a
responsabilidade de criar uma filha aos dezoito anos enquanto eu só pensava
em festas.
A voz animada da minha sobrinha preencheu o ambiente anunciando
a todos que Alicia e Ryan haviam chegado. O bebê agitado no braço da
minha irmã deixava claro que Luca já conhecia a voz de Maddie. O casal
cumprimentou a todos, começando pelos meus pais. Alicia logo veio em
minha direção e eu me levantei para recebê-la com um abraço.
— Oi, minha irmãzinha.
— Sempre bom te ver, Kevin. — ela me abraçou apertado — Você é
um chato, mas faz muita falta.
— Eu sei que faço falta, você não é a única a dizer isso. — falei em
seu ouvido e ela resmungou me soltando e fazendo uma careta.
Luca estava no colo de Ryan, que me cumprimentou com um aceno
de cabeça. Minha mãe nos chamou para jantar e eu percebi que estava
faminto. Estar entre meus familiares era o grande motivo de eu sempre voltar
para Nova York. Nada nessa cidade me prendia além deles, eu podia ser
muito mais feliz em outros lugares, visitando diversos países e não criando
raiz em nenhum.
Houve um tempo em que eu desejei uma esposa, filhos e um lar.
Agora, toda essa ilusão havia passado e a realidade é que eu apenas quero
viver a minha vida de uma maneira livre, não quero um relacionamento, não
quero correr o risco de encontrar outra mulher apenas interessada no meu
dinheiro. Dessa vez eu estava imune a esses desejos românticos.
Capítulo 5
HANNAH

Chegar em casa depois da minha primeira viagem internacional a


trabalho era uma sensação diferente. Apesar de passar pouco tempo longe,
parecia estar fora há dias. Assim que abri a porta, o silêncio me fez perceber
que Cecile ainda estava na escola, caso contrário o som da TV poderia ser
ouvido. Deixei minha mala ali mesmo no pequeno saguão da entrada e fechei
a porta. Olhei na cozinha, mas a mesma estava vazia.
Subi as escadas devagar indo direto para o quarto da minha tia. Ela
não trabalhava no período da tarde nesse dia, portanto provavelmente estava
em casa. Parei de frente para sua porta fechada e dei algumas batidinhas com
as costas dos dedos, como não obtive resposta abri uma fresta para saber se
ela estava dormindo ou se o cômodo estava vazio.
Pude ver minha tia sentada na beirada da cama, mas duas mãos com
os dedos entrelaçados no colo, a cabeça baixa e alguns papéis ao seu lado.
— Tia? — chamei-a num tom de voz baixo.
— Hannah, querida... — ela levantou a cabeça e secou uma lágrima
discreta — Você já chegou. Como foram as coisas?
Percebi que ela queria distrair-me com a conversa e deixar de lado
aquela situação porque ela sabia que eu iria perguntar. As despesas da casa e
principalmente a hipoteca, deixavam a nós duas tensas e preocupadas. E esse
era um dos grandes motivos de eu ter aceitado me tornar comissária de bordo.
Sentei ao seu lado para continuar com aquela conversa deixando de lado por
alguns minutos o que estava acontecendo.
— Deu tudo certo. A viagem foi ótima.
— Fiquei preocupada, orei bastante para que nada desse errado. — ela
segurou a minha mão.
— Suas orações deram certo.
— Seus novos colegas de trabalho são pessoas legais?
— Ah, sim. Eles são gente boa. Por sorte eu me dei bem com as
outras comissárias e até saímos juntas numa noite.
— Fico feliz em saber que você também se divertiu. É uma menina
bonita e jovem, Hannah. Tem que aproveitar para fazer coisas da sua idade.
— Eu tento tia, mas você sabe que não faz muito meu tipo ir para
festas e beber. Fui com as meninas, foi legal, mas não é para mim.
Na verdade, eu sempre preferi programas mais tranquilos. Alguns
passeios, idas ao cinema e restaurantes. Infelizmente, a maioria das pessoas
preferiam uma vida mais agitada, com festas rolando durante toda a
madrugada e era esse um dos motivos de eu não ter muitos amigos. As duas
pessoas mais próximas de mim eram Juliet e Peter, meus amigos desde o
ensino médio.
— Quando volta a trabalhar?
— Na próxima semana. Enquanto isso quero organizar algumas
coisas por aqui.
— Cecile me mostrou as fotos que você enviou para ela.
— A Dinamarca é um lugar lindo, tia. Gostaria tanto que Cecile e
você estivessem lá.
— Tenho certeza disso, minha querida. — ela alisou minha mão.
— Como estão as coisas por aqui? — perguntei tirando o foco de mim
nessa conversa.
Minha tia suspirou, ganhou certo tempo antes de finalmente me
responder.
— Está tudo indo, você sabe. Cecile é sempre um amor, ela me ajuda
bastante com as coisas da casa quando não está na escola. No trabalho as
coisas continuam do mesmo jeito, você sabe o quanto eu adoro lecionar e
aquilo para mim é um prazer.
— Sim, eu sei disso. — coloquei minha mão livre por cima da sua,
mantendo-a entre minhas mãos — E as contas? Eu trouxe algum dinheiro,
não sei se é suficiente.
— Você sabe que seu tio nos deixou em uma situação complicada.
Você deveria estar pensando no seu futuro e não nesses problemas.
A hipoteca da casa devia ser paga ao longo de muitos anos e desde
que meu tio falecera, a renda familiar passou a ser menor e, portanto, pagar as
contas era uma tarefa que nos preocupava dia e noite. Eu me sentia culpada
porque sabia que grande parte disso era devido ao fato de minha tia ter criado
minha irmã e eu.
— Eu jamais irei te abandonar, tia. Daremos um jeito.
Naquela tarde, saí do quarto dela pensando em algumas coisas. Tinha
de haver um jeito de conseguirmos algum dinheiro extra. Infelizmente a vida
de comissária tinha horários muito irregulares e encontrar um segundo
emprego não era uma opção viável. Pensei no meu curso de maquiagem. Se
eu tivesse conseguido fazê-lo, poderia trabalhar como maquiadora nas horas
vagas.
Tomei um banho e fui ajudar minha tia com o jantar enquanto
continua martelando sobre algumas opções. Cecile chegou da escola e nós
tagarelamos sobre a viagem quase todo o tempo me fazendo esquecer um
pouco as preocupações que martelavam em minha cabeça. Depois de
jantarmos, sentamos as três no sofá e eu peguei meu celular. Havia uma
mensagem de Juliet.
“Tenho uma novidade para te contar. Quando você volta para casa?”
Fiquei imediatamente curiosa e eu detestava isso.
“Cheguei hoje. Se você puder nos encontramos amanhã.”
A resposta dela não demorou a chegar.
“Às quatro na West End”
“Te vejo lá!”
Eu precisava mesmo comer uma pizza de pepperoni deliciosa da West
End Deli Pizza e lá era um dos meus lugares preferidos. Logo minha tia se
retirou para dormir nos dando boa noite e disse para Cecile ir se deitar
também porque no dia seguinte ela precisava acordar para ir à escola.
Quando finalmente me deitei, uma hora depois, fiquei olhando para o
teto. Embora estivesse com sono por causa do cansaço, eu não consegui
dormir. Pensava bastante sobre o que fazer para tentar ajudar minha tia e por
mais que eu não quisesse tomar uma atitude que rondava minha cabeça.
Acabei adormecendo sem perceber e acordei no dia seguinte quase ao
meio-dia. Estava mesmo muito cansada. Quando saí do quarto, a casa estava
silenciosa. Minha tia tinha ido trabalhar e Cecile estava na escola. Fui até a
cozinha preparar um café depois de ir ao banheiro lavar o rosto e escovar os
dentes. Enquanto esperava o café ficar pronto, peguei meu telefone. Havia
uma mensagem de Niels, o cara que eu tinha conhecido na Dinamarca.
“Espero que tenha chegado bem em casa.”
Sorri. Ele parecia mesmo ser uma pessoa legal. Era uma pena que
morássemos a muitos quilômetros de distância.
“Cheguei sim. Acabei de acordar, estava cansada. São pouco mais de
meio-dia aqui em Nova York.”
Deixei o telefone de lado e fui encher uma xícara de café. Tomei
alguns goles antes de ir para o banho. Lavei os cabelos e deixei a água morna
percorrer o meu corpo. Era bastante relaxante. Ao sair, sequei os cabelos com
o secador, vesti uma calça jeans e um suéter rosé e coloquei chinelos. Fiz
uma omelete para almoçar e me sentei no sofá para assistir TV.
Foi bom por um momento estar sozinha em casa com meus
pensamentos. Avaliei essa nova etapa da minha vida e sabia que essa
promoção iria ajudar bastante as coisas em casa já que meu salário
aumentaria um pouco. A imagem de Kevin acabou vindo à minha cabeça
também. Um cara lindo e também misterioso. Em pouco tempo deu para
perceber que ele não era um cara de muitas palavras, pelo menos com as
pessoas com quem ele trabalhava. Exceto, é claro, Caleb.
Perto das quatro, eu fui me arrumar para encontrar com Juliet.
Cheguei cerca de dez minutos antes do horário marcado e ela já estava em
uma das mesas me esperando. Assim que me aproximei, Juliet se levantou
para me dar um abraço apertado.
— Que saudade! — ela exclamou extremamente empolgada.
— Parece que fiquei anos longe, mas fiquei fora pelo mesmo período
de tempo de sempre.
— É que agora que você foi para fora do país, dá a impressão de que
não te vejo há muito tempo. — ela voltou a se sentar — Como foram as
coisas?
— Foi tudo bem. — também me acomodei e deixei a bolsa no lugar
vazio ao meu lado.
— Seus novos colegas de trabalho são legais?
— Sim, mas eu tenho mais contato com as meninas que são
comissárias também. Nós nos divertimos bastante. Lá na cidade tem um bar
onde muitos comissários costumam frequentar.
— E você conheceu alguém legal? — seu sorrisinho mostrava que
Juliet estava louca para perguntar isso.
— Um cara chamado Niels.
— Ele é bonito?
— É sim. — confirmei — Mas ele mora na Dinamarca, então de
qualquer forma seria bem complicado tentar manter algum tipo de
relacionamento além de amizade. Além do mais, no momento não estou com
cabeça para isso, você sabe.
— Ainda com problemas em relação a casa?
— Sim, parece que nunca vamos conseguir respirar aliviadas. — me
ajeitei na cadeira — Mas me fala, qual a novidade que você tinha para me
contar?
— Sabe aquele emprego no Mercy Hospital Center? — confirmei
balançando a cabeça — Eu consegui!
— Parabéns!
Vibrei de felicidade. Juliet há muito tempo queria esse emprego. Era
enfermeira e desejava trabalhar em um hospital de grande porte e vê-la
atingindo esse objetivo me enchia de alegria. Eu tinha conseguido a minha
promoção e agora ela conquistara um emprego melhor que o anterior. Era
bom ver que nesse sentido as coisas estavam caminhando para nós duas.
— Como está o Peter? — perguntei sobre meu amigo já que fazia
algum tempo que não o via.
— Está bem. Eu ia convidá-lo, mas a essa hora ele ainda está no
trabalho.
— Nem mandei uma mensagem para ele. — suspirei — Desde que
cheguei as coisas não tem sido fáceis e tem muita coisa na minha cabeça.
— Queria poder ajudar, amiga.
Juliet era uma pessoa incrível e eu sabia que podia contar com ela em
várias situações, mas infelizmente quando o assunto era financeiro, nenhuma
de nós estava dando pulos de alegria.
— Não se preocupe com isso. Só de ouvir minhas lamentações você
já está me ajudando. — olhei para o balcão — Vamos pedir logo? Eu não
comi direito e estou morrendo de fome.
Escolhemos a pizza e começamos a conversar sobre coisas sem
importância e isso ajudou um pouco a me distrair. Falei um pouco sobre a
Dinamarca e mostrei a ela as fotos que tirei durante meu passeio. Queria tanto
poder levar as pessoas que gosto para lugares assim, porém minha situação
financeira não permitia e eu ainda tinha a sorte de ter um emprego que me
possibilitava esse tipo de luxo.
— Cecile adorou as fotos. Seria tão bom poder levá-la para um
passeio.
— Falando nisso, como está sua irmã?
— Ela está bem. Não sabe que as coisas estão tão complicadas, minha
tia prefere não dar detalhes, apenas diz que o dinheiro não é muito.
— Espero que um dia as coisas melhorem. Você sabe que para mim
não está muito fácil também desde que Kimberly saiu do apartamento.
Juliet tinha uma colega de quarto desde que se mudara para o
apartamento onde morava agora, ambas dividiam as despesas e pagar as
contas era bem mais tranquilo. Desde que Kimberly havia saído de lá para
morar com o noivo, Juliet não conseguira encontrar alguém para dividir o
apartamento e ela tentava economizar ao máximo.
— A sorte é que eu consegui esse novo emprego e meu salário será
maior, vai ficar mais fácil lidar com meu orçamento, mas preciso encontrar
uma pessoa logo.
— Seria um máximo dividir o apartamento com você, amiga, porém
não posso deixar minha tia e minha irmã sozinhas.
— Eu sei, não precisa se preocupar com isso. Vou tentar fazer
algumas entrevistas para o próximo mês, não é tão difícil encontrar alguém.
Passei uma tarde agradável com minha amiga. Saímos da pizzaria e
ainda temos uma caminhada vendo a vitrine das lojas, mas sem entrar para
comprar nada. Nós nos despedimos na calçada e seguimos separadas cada um
para seu lado.
Ao chegar em casa, Cecile já estava no sofá com o caderno apoiado
nas pernas fazendo algum exercício, mas parou assim que me viu.
— Oi, Hannah. Onde você foi?
— Fui encontrar com Juliet. — deixei a bolsa na poltrona e me sentei
— Onde está titia?
— Tomando banho. Juliet precisa vir aqui, ela disse que ia preparar
lasanha.
— A lasanha dela é uma delícia! — me joguei no sofá — Precisamos
cobrá-la.
— O Peter também não tem aparecido.
— Eu nem falei com ele, acho que preciso mandar uma mensagem.
Estou sendo uma péssima amiga.
Saquei o celular do bolso e escrevi uma mensagem para Peter dizendo
que eu já estava em casa e que sentia saudades. Ele era um garçom aspirante
a cantor que fazia alguns shows em bares e boates à noite para ganhar um
dinheiro extra. O grande sonho de Peter era se tornar um cantor e ator da
Broadway.
Eu torcia muito para que todos nós atingíssemos nossos objetivos e a
primeira a dar um passo em direção a isso tinha sido Juliet. Talvez chegará a
hora em que eu possa fazer aquilo que eu verdadeiramente gosto, mas
enquanto esse dia não chega, continuo dando o meu melhor por mim e pela
minha pequena família.
Capítulo 6
KEVIN

Dei um pulo na cama com a respiração ofegante. Tinha acabado de ter


um pesadelo. Fazia um bom tempo que não os tinha, mas dessa vez tinha sido
diferente das outras. Eu podia sentir meu corpo úmido pelo suor e passei a
mão no rosto e no cabelo para tentar acalmar o coração acelerado.
Eu odiava quando isso acontecia.
Lembrei das imagens confusas do meu pesadelo. Era a mesma cena
que eu via nos outros, mas dessa vez a mulher no meu sonho não tinha
identidade. Ela me chamava, me pedia perdão e eu tentava correr enquanto
ela me segurava. Os gritos ecoavam no ambiente escuro e fechado, a porta
parecia distante, mas o rosto daquela mulher não era da minha ex-noiva, era
de alguém que eu não conseguia ver.
O que tinha acontecido no passado me atormentava até hoje, mas o
sentimento que tinha por Susan, tinha se dissipado como pó e tudo que ficara
era uma raiva de mim mesmo por ter permitido ser enganado. Afastei os
lençóis e levantei da cama. O sonho tinha sumido, evaporado junto com o
sonho, mas as imagens continuavam perambulando pela minha mente e eu
sabia que elas ficariam por algumas horas até que eu começasse com as
atividades do meu dia a dia e deixasse de lado os pensamentos.
Abri a porta da varanda do meu quarto e saí sentindo a brisa gelada
contra minha pele suada. Eu estava vestido com uma calça de pijama de
algodão e estava sem camisa. Não era saudável, mas eu precisava respirar.
Apoiei os braços no parapeito o olhei para o horizonte. Era possível ver as
luzes da noite nos arranha-céus e a Estátua da Liberdade iluminada ao fundo.
— Quem era aquela mulher? — perguntei para mim mesmo sem
conseguir encontrar a resposta.
Eu não podia mais ficar atormentando minha cabeça com isso, tinha
que afastar essas imagens. Susan pertencia ao passado e tudo que ela fizera
também. Tentei levar o que aconteceu como aprendizado para não passar por
aquilo novamente, mas odiava quando esses pesadelos invadiam meu sono.
Saí da varanda e fechei novamente a porta, decidi ir até a cozinha tomar um
copo de água e tentar voltar para a cama. A semana passaria rápido e logo eu
estaria de volta ao trabalho.
Foram dias agitados durante a minha folga. Tentei compensar o tempo
perdido com a família e alguns amigos, além de ir assistir à apresentação da
Maddie na escola e passar um tempo com meu sobrinho Luca. No último dia
livre que tive antes de viajar, aproveitei para ir até a empresa do meu pai. Ele
vivia reclamando que eu nunca aparecia, então decidi ceder. Não era o tipo de
ambiente que eu gostava, por mais que ser empresário fosse o desejo do meu
pai para Louis e eu, apenas Alicia nasceu com esse dom.
Estacionei meu carro na garagem do edifício e subi até o andar onde
ficava a presidência e era o lugar de onde Anthony Walsh comandava tudo.
Meu pai tinha orgulho de tudo que construíra e eu o admirava, só não queria
seguir seus passos. Eu definitivamente não tinha nascido para ficar
enclausurado entre quatro paredes atrás de uma mesa.
Subi pelo elevador até o andar da presidência e caminhei diretamente
até a recepção onde ficava a secretária, Erica. Aproximei-me e logo era notou
minha presença abrindo um enorme sorriso.
— Bom dia, Sr. Walsh. Que bom vê-lo novamente.
— Bom dia, Erica. Não costumo aparecer muito, não passo muito
tempo na cidade. Meu pai está?
— Sim, o senhor deu sorte. Ele acabou de sair de uma reunião com a
Sra. Beaumont. — ela pegou o telefone — Vou avisá-lo de que está aqui.
Erica ligou para a sala do meu pai e eu observava ao redor enquanto
esperava. Eu me sentia totalmente fora do contexto nesse lugar, embora
tivesse vindo aqui muitas vezes desde minha infância. Minha mãe sempre
dizia que meu pai acreditava que eu seria o filho que seguiria seus passos,
mas éramos parecidos somente em alguns aspectos.
— Sr. Walsh, já pode entrar. — a voz de Erica afastou meus
pensamentos.
— Obrigado.
Agradeci e em seguida caminhei em direção ao corredor que levava
até a sala do meu pai. Quando abri a porta, eu o vi recostado em sua cadeira
atrás da mesa me esperando. Era possível ver ali o presidente da empresa,
mesmo estando apenas nós dois, ele não despia totalmente a capa de
empresário.
— Kevin, que bom te ver aqui. — ele se levantou e deu a volta na
mesa para me cumprimentar.
— Sei que estou em falta com você e com a empresa, pai. — eu o
abracei sentindo seus leves tapas nas costas.
— De todos os filhos, você é o que menos aparece.
— Alicia não conta, ela trabalha com você. — dei um sorriso —
Falando nisso, ela está aqui hoje?
— Sim, tivemos uma reunião importante sobre o novo projeto dela.
— Vou convidá-la para almoçar. Vem conosco?
— Não poderei, infelizmente. Vou almoçar com dois possíveis sócios
no restaurante da sua mãe.
— Vou mandar uma mensagem para Alicia.
Peguei o celular no bolso e mandei uma mensagem avisando que
estava na sala do nosso pai e gostaria de almoçar com ela. Enquanto eu
digitava, meu pai deu a volta na mesa e voltou a se sentar. Quando me
acomodei também, veio o assunto que eu não estava esperando.
— Isabella me perguntou sobre você na semana passada.
Era por isso que ela tinha me mandando mensagem. Provavelmente
sabia que eu tinha chegado em Nova York. Isabella trabalhava pra empresa
do meu pai e foi assim que nos conhecemos, desde então, Anthony Walsh
falava que ela era uma mulher interessante para eu namorar. Ele tinha a
mania de querer sempre bancar o cupido indicando pares perfeitos para nós.
Primeiro com Alicia, dizendo que um dos advogados da empresa era o cara
ideal, mas minha irmãzinha terminou casada com o herdeiro da concorrente.
— Nós tomamos uma bebida juntos, nada demais. — omiti, é claro, a
parte em que tínhamos transado.
— Ela está interessada em você.
— Pode ser, mas eu não tenho vontade de ter um relacionamento, e
nem mesmo posso. Minha vida é instável, viagens, horários loucos e eu não
quero ter que me preocupar com uma mulher enquanto estou em outro país.
— Está sendo muito radical, filho.
— Acredite, pai, as coisas estão bem assim. Essa coisa de
relacionamento combina mais com o Louis.
— Seu irmão tem andado bem estranho nesses últimos tempos.
Aquilo me intrigou. Louis era um cara bastante transparente em tudo,
romântico e sem dúvidas, apesar do que aconteceu em seu outro
relacionamento, ele continua otimista acreditando que encontraria a mulher
da sua vida. Como eu passava muito tempo longe, não sabia ao certo o que
estava acontecendo com meu irmão e eu tinha de confessar que nem mesmo
perguntava.
— Não tenho conversado muito com Louis. Será que algo está
acontecendo?
— Se está ele prefere não falar sobre o assunto.
O telefone da sala tocou cortando o assunto. Meu pai atendeu no
segundo toque.
— Diga, Erica. — ele aguardou até que ela lhe respondesse do outro
lado — Peça para ela entrar.
Fiquei aguardando a pessoa que eu tinha quase certeza de que era
Alicia. Em poucos segundos a grande porta se abriu e eu pude ver minha irmã
caçula entrar usando um vestido vinho e os cabelos escuros soltos, como ela
sempre gostara. Seu sorriso contagiou o ambiente e eu pude notar que até o
semblante do meu pai mudara, se tornando mais ameno e menos CEO.
— Oi, Kevin. — ela me abraçou apertado e eu retribui da mesma
forma — Que bom que veio até a empresa.
— Pois é, de vez em quando preciso dar as caras por aqui.
— Oi, pai. — Alicia se aproximo e deu um beijo no rosto dele — Vim
aqui porque Kevin disse que queria almoçar comigo. Você vem?
— Não poderei. Tenho o almoço com os possíveis sócios. — ajeitou o
nó da gravata — Mas divirtam-se.
Nós nos despedimos e eu saí com Alicia que já carregava sua bolsa.
Pegamos o elevador, que estava cheio de outros funcionários saindo para o
almoço e eu esperei até estarmos no térreo para iniciar um assunto.
— Como está o meu sobrinho?
— Luca está ótimo! Cada vez maior e mais esperto. Daqui a pouco
estará andando e eu não me sinto pronta para ver meu bebê crescer. Passa
tudo tão rápido!
— É verdade, eu ainda me lembro de quando você era uma garotinha.
— dei risada.
— E você era um adolescente chato.
Ela também riu. Eu adorava conversar com Alicia, era sempre
divertido e nós parecíamos de volta a infância.
— Com quem está Luca?
— Com uma babá. — pude vê-la suspirar — Embora eu não goste de
deixá-lo enquanto ainda é muito pequeno, às vezes é necessário.
— Depois ele estará maior e você se acostuma. Igual ao Louis quando
precisa deixar a Maddie com a babá.
Fomos até um restaurante perto da empresa. Alicia costumava
almoçar lá e eu não me opus. Fomos levados até uma mesa mais ao centro do
restaurante e fizemos nossos pedidos. Ambos escolhemos massa, era uma das
nossas comidas favoritas.
— Como está Ryan? — perguntei.
— Está ótimo. No momento está em uma reunião com sócios de
Atlanta. A Beaumont Group está inaugurando um escritório lá.
— Isso é ótimo para eles.
— Enquanto isso o meu projeto vai começar a sair do papel no
próximo mês. Acertamos os últimos detalhes hoje.
— Fico muito feliz, irmãzinha. Você nasceu mesmo para isso.
— Na semana que vem a Lizzie estará de volta a Nova York e me
sinto muito feliz que ela tenha acreditado nesse projeto e vindo participar
conosco. A posição dela será de extrema importância.
— Lizzie é uma gata! Vai ser bom tê-la de volta ao time. — dei um
sorriso.
— Pare com isso, Kevin! Deixe pelo menos uma longe dos seus
encantos. — Alicia revirou os olhos num gesto típico.
— Que falta de irmandade sua e do Louis. Nenhum dos dois me
deixam chegar perto dela.
— Porque você só quer se divertir e não deixaremos fazer isso com a
Lizzie.
Não tinha jeito e eu preferi deixar para lá. Eu poderia ser apenas
amigo da Lizzie, embora fosse um desperdício muito grande de mulher
bonita. Alicia continuou contando sobre seu projeto e os planos que tinha
voltado para o público jovem. Dei algumas opiniões e debatemos até chegar
nosso almoço.
O cheiro estava delicioso e eu fui logo saboreando meu nhoque
enquanto sentia meu celular vibrar incessantemente no bolso. Alicia, por
outro lado, usava o dela para mandar algumas mensagens.
— Muito trabalho?
— Estou falando com a babá, ainda não me acostumei a ficar tanto
tempo longe do Luca. Deve ser coisa de mãe de primeira viagem. —
respondeu sem tirar os olhos da tela.
— Relaxe, Ali. Lembra de quando Louis teve que deixar a Maddie
com a babá no início?
Alicia suspirou e sorriu levantando o olhar para mim.
— Ele ficou desesperado. Para ele talvez tenha sido pior, sendo pai
solteiro e o único a se sentir responsável pela filha, a preocupação só
aumentava.
— É por isso que não pretendo ter filhos. Ainda mais com a vida
louca que eu tenho.
— Sabe, Kevin, eu ainda tenho a esperança de que vai aparecer
alguém que te fará mudar de ideia.
— O que aconteceu com Susan é a prova de que eu não sirvo para ter
um relacionamento. Não quero passar por aquilo de novo.
— Você não pode ter certeza de que acontecerá a mesma coisa.
— Com a vida que eu levo? Passando mais tempo fora do país do que
aqui? Mais cedo ou mais tarde vai acabar acontecendo, Ali, e eu prefiro
evitar. Acredite, a vida está ótima assim.
— E não se esqueça que a festa da empresa está chegando. Nosso pai
exige a sua presença, haverá uma premiação importante.
— Ah, eu detesto essas festas.
— Pois trate de ir e parecer contente. Você conhece Anthony Walsh.
Quando estava com Susan, eu costumava ir a quase todas as festas
que aconteciam, mas depois que nos separamos, comecei a enxergá-las com
outros olhos. Estavam repletas de pessoas falsas que estavam ali apenas pelo
seu dinheiro e status social.
Após o almoço, Alicia voltou para o escritório e eu voltei para o
prédio da empresa para buscar meu carro no estacionamento. Enfiei a mão no
bolso para verificar as mensagens e havia uma de Isabella.
“Soube que veio até a empresa. Por que não falou comigo?”
Pensei sobre responder, mas decidi verificar outras mensagens. Caleb
tinha me convidado para ir até sua casa onde poderíamos tomar cerveja e
jogar sinuca com alguns amigos. Poderei sobre a possibilidade e decidi
responder confirmando minha presença. Uma noite de bebidas, jogos e bate-
papo cairia bem.
“Vou falar com meu irmão e Ryan, pode ser?”
“Claro! Tragam as cervejas!”
Enviei mensagem para os dois e guardei o celular novamente no
bolso. Entrei no carro e fui direto para meu apartamento antes que Isabella
acabasse aparecendo. Eu adorava sair com ela, uma mulher bonita era
impossível de ser recusada, mas eu precisava do meu espaço e ela
ultimamente tem se feito muito presente com diversas mensagens me
procurando.
À noite, após comprar as cervejas, dirigi para a casa de Caleb que
ficava em Mapleton, no Brooklyn. Um rock clássico tocava no carro e eu
tamborilava os dedos enquanto me mantinha paciente com o trânsito da
cidade. Eu gostava de Nova York, mas não via a hora de estar novamente
dentro de um avião em direção a outro lugar.
Estacionei meu carro em alguma vaga ali na rua e peguei as cervejas
antes de me encaminhar para a casa de Caleb. Era uma aconchegante de dois
andares com uma varanda na frente. Pude ver o carro do meu irmão, o que
não era nenhuma novidade, já que Louis sempre chegava pontualmente. A
fama de atrasado era minha. Toquei a campainha e logo Caleb abriu me
saudando com um tapa no ombro e pegando as cervejas da minha mão.
— Pensei que você tivesse arrumado um encontro e fosse furar
comigo.
— Não, hoje não estou muito no clima para isso.
Desde que voltei a ter aqueles sonhos, eu me sentia incomodado.
Provavelmente isso estava contribuindo muito para minha ansiedade em
voltar ao trabalho. Assim eu me mantinha ocupado e não pensava muito
naqueles pesadelos. Fomos até o quintal dos fundos que era bem espaçoso e
tinha um deque. Louis já estava sentado em uma cadeira de jardim tomando
uma cerveja e conversando com Jensen, um dos amigos de Caleb que conheci
há alguns anos.
— Que bom que chegou! — Louis levantou sua garrafa de cerveja em
um cumprimento.
— E que bom que você aceitou o convite. Cadê o Ryan? — perguntei
enquanto aceitava uma cerveja que Caleb me oferecia.
— Ele me mandou uma mensagem, está a caminho.
— E aí, Jensen? — perguntei levantando o queixo em um
cumprimento casual — Quando vai sair o casamento?
— Nem todos são ricos como você, Kevin. — ele sorriu falando em
tom de brincadeira — Estamos juntando dinheiro para comprar uma casa.
Jensen era um cara legal e me lembrava bastante meu irmão. Ele e
Louis eram do tipo romântico, que acreditavam no amor e que passariam o
resto da vida amarrados à uma mulher. Embora eu não acreditasse nisso para
mim, torcia muito para que Jensen e a noiva tivessem um casamento feliz.
Tive contato com ela algumas vezes. Valerie era uma garota legal, trabalhava
em um escritório de contabilidade e gostava de assistir aos jogos de futebol
americano conosco.
Eu não era descrente em casamentos. Torcia muito pelos dois. Eu só
não queria saber de casamento quando o assunto era comigo.
Não demorou muito até que Ryan chegasse, ele se desculpou pela
demora porque teve que resolver uma urgência no escritório e tinha vindo
direto para cá. Logo pegou sua cerveja e decidiu se sentar. Caleb decidiu
iniciar a partida e mais dois amigos chegaram: Calvin e William.
Eu esperei pela minha vez apreciando uma cerveja direto da garrafa.
Enquanto Louis e Calvin jogavam, Caleb se aproximou de mim quase que
sorrateiramente.
— E aí, Kevin? Pronto para voltar ao trabalho?
— Sempre pronto. — cruzei um tornozelo por cima do outro
enquanto continuava recostado em uma cadeira.
— A nova comissária parece gente boa. — comentou e eu conhecia
meu amigo para saber onde ele queria chegar.
— Já conversamos sobre isso, Caleb. Esqueça.
— Sua regra de não ficar com ninguém que trabalha com você está te
fazendo perder oportunidades. Lembra da Lucille? Ele era gata demais e deu
muito mole para você.
— Tem milhares de mulheres por aí, Caleb. Não preciso dessa garota.
Por mais durão que eu pudesse parecer, devia admitir que Hannah era
espetacular e se eu a achava linda naquele uniforme da companhia, ela ficara
ainda melhor com a roupa que usou para ir até o bar. Ainda era capaz de me
lembrar perfeitamente como seus seios estavam marcados naquela blusa
preta. Por mais que eu não fosse me envolver com ela, não podia negar que
por algumas vezes naquela breve conversa me imaginei beijando aqueles
peitos que deveriam ser maravilhosos.
— Kevin! — ouvi chamarem meu nome e deixei os pensamentos de
lado.
Louis estava me chamando, tinha chegado a minha vez e eu
enfrentaria meu cunhado.
— Pronto para perder? — ele perguntou.
— Na sinuca? Jamais!
Capítulo 7
HANNAH

Mais um dia de trabalho chegara e eu já estava na sala da companhia


esperando o resto da tripulação enquanto conversava com Sandra. Ela me
contava animada sobre seus dias de folga e sobre o casamento de sua irmã em
Detroit.
— Descobri que meu cunhado tem um primo maravilhoso. O nome
dele é Bernard. Dançamos a festa toda e trocamos o número de telefone.
Agora estamos conversando.
— Fico feliz, Sandra. Será que pode ser algo sério?
— Ah, Hannah, seria legal, mas com essa correria em que vivemos é
tão complicado ter um relacionamento sério. Eu tentei várias vezes e nunca
deu certo.
— Talvez agora seja diferente.
Caleb entrou vestido com seu tradicional uniforme e segurando um
copo de café. Ele tinha uma expressão relaxada que sempre me fazia acreditar
que nada o incomodava.
— Bom dia, lindas mulheres! Como foram seus dias de folga?
— Fui ao casamento da minha irmã. — Sandra respondeu.
— E não me trouxe alguns doces, que decepção, Srta. Adams. —
Caleb fez cara de quem estava triste balançando a cabeça em sinal negativo.
— Doces fazem mal, Caleb. Estou poupando seu pâncreas.
A porta se abriu e Kevin entrou vestido naquele uniforme que o
deixava ainda mais bonito, se é que isso era possível. Seu semblante estava
sério, o que eu comecei a perceber que não era nenhuma novidade.
— E você, Hannah? Muitas drogas, sexo e rock ‘n roll?
A voz de Caleb me chamou a atenção e eu desviei meu olhar de
Kevin. Dei uma risada e fiz um sinal de “não” com a cabeça.
— Só encontrei alguns amigos, nada demais. — respondi.
— Bom, eu também encontrei alguns amigos. — informou.
Kevin se aproximou do amigo e colocou a mão no seu ombro.
— Posso falar com você? — perguntou.
Caleb assentiu e ambos se retiraram da sala deixando-me sozinha com
Sandra. Ela ficou observando, seus olhos fixos na porta fechada.
— Esses dois são unha e carne. Eu morro de curiosidade para saber o
que tanto conversam. — comentou sem desviar seu olhar do ponto fixo.
— Eles devem ter assuntos importantes. — supus.
— O assunto mulheres.
— Eles são assim?
Questionei. Minha mente se perguntando se Kevin era o tipo de
homem que saía por aí com várias mulheres. Beleza ele tinha, chamava a
atenção de várias, então bastava querer alguma e ele a teria. Provavelmente
não era nem um pouco difícil para ele.
— Hannah, Kevin e Caleb sempre arrumam mulheres onde quer que
vão. Aqueles dois juntos fazem um estrago.
Eu podia imaginar. Só a presença de Kevin já me fazia estremecer,
imagina receber dele um sorriso? Uma cantada?
Jasmine entrou fazendo com que eu parasse de divagar e nos
cumprimentou antes de começar a narrar o que tinha acontecido no seu
período de folga. Comecei a me dar conta de que as meninas tinham vidas
mais agitadas que a minha. Provavelmente, elas também não tinham as
mesmas preocupações que eu. Isso me fizera amadurecer antes do tempo e eu
nunca aproveitava como as pessoas da minha idade.
Só voltei a ver Kevin quando a tripulação se dirigia para a aeronave.
Ele estava sentado sozinho em um banco enquanto seus olhos verdes estavam
fixos no celular em suas mãos. Mesmo estando um pouco longe, pude ver que
ele digitava bastante numa quantidade impressionante de conversas, porém
era impossível saber com quem conversava.
Eu estava me tornando uma pessoa bastante curiosa quando o assunto
era Kevin Walsh.
Subimos na aeronave e fui verificar tudo com Sandra e Jasmine
enquanto Caleb e Kevin iam para a cabine do piloto. Tomei minha posição
para esperar os passageiros. Eu já estava acostumada e essa rotina em todos
os voos para mim era algo automático. Hoje voaríamos para Londres, na
Inglaterra.
Mais uma vez eu me sentia empolgada em conhecer um novo país.
Todos os passageiros subiram na aeronave e se acomodaram. Sandra
passou todas as instruções enquanto Jasmine indicava com sinais e eu
organizava os lanches na pequena cozinha. Todas nos sentamos e apertamos
o cinto para a decolagem. Quando o avião já estava estabilizado na altitude,
começamos a nos levantar e organizar tudo. Entregamos fones de ouvido para
alguns passageiros e logo a voz de Kevin soou no alto-falante. Só isso foi o
suficiente para me fazer arrepiar.
A sensação que ele era capaz de causar em mim era impressionante.
Infelizmente Kevin seria o cara que eu poderia apenas admirar de
longe.
Eu tinha outros focos, precisava ajudar minha família e ele não iria se
envolver comigo.
A viagem fora tranquila, apenas algumas turbulências, o que era
normal em uma distância grande. Nós cinco caminhamos dentro do aeroporto
para buscar nossa bagagem e ir direto para o hotel. Caleb e Kevin estavam
atrás de nós e eu pude ouvir que conversavam sobre futebol americano.
— Uma pena que essa noite não tem nenhuma festa. Os londrinos não
sabem se divertir. — Sandra comentou — Mas podemos ir a um pub, o que
acham?
— Por mim está ótimo! — Jasmine respondeu e olhou para mim —
Topa, Hannah?
— Eu não sei. — estava meio incerta, eu não costumava sair para esse
tipo de lugar.
— Deixa de desânimo! — Sandra me cutucou com o cotovelo — Vai
ser bom sairmos e fazer algo legal.
— Tudo bem.
Ainda era cedo, eu poderia descansar um pouco antes de encarar a
noite com as meninas. Londres estava um pouco fria naquele dia, por sorte eu
tinha trago roupas apropriadas.
Fomos direto para o hotel e fizemos nosso registro. Mais uma vez
ficamos todos no mesmo andar e dessa vez o quarto de Kevin era ao lado do
meu, porém eu dividia o mesmo com as meninas.
— Eu não aguentava mais esses sapatos! — Jasmine exclamou
chutando-os para fora dos pés.
— Que cama deliciosa! — Sandra se jogou na cama de casal que
tinha no quarto — Quem vai dividi-la comigo?
— Acho que eu. — Jasmine respondeu — Hannah não está
acostumada a dormir ao seu lado e não vai suportar seus chutes durante a
noite.
Dei uma risadinha e sentei na cama de solteiro que estava vazia até
então. Peguei meu celular e mandei uma mensagem para minha tia dizendo
que estava tudo bem. Noite que havia uma mensagem de Niels. Curiosa, eu
logo abri.
“Pena que você não está na Dinamarca.”
“Dessa vez estou em Londres.”
Respondi e deixei meu celular sobre a cama. Era hora de tomar um
banho. Fui direto para o banheiro e aproveitei a água quente para relaxar os
músculos. Imediatamente me questionei o que Kevin estava fazendo naquele
momento e o que pretendia fazer mais tarde. Lembrei das meninas dizendo
que ele estava sempre rodeado de mulheres. Provavelmente ele encontraria
companhia nessa noite.
Saí vestida com o roupão do hotel e Sandra e Jasmine estavam com
roupas espalhadas pela cama decidindo o que usar. Peguei meu celular e vi
que tinha uma resposta de Niels.
“Londres é uma cidade bonita, mas confesso que estou torcendo para
você vir para Copenhague de novo.”
Ele era um cara legal e sabia deixar claro para uma mulher que estava
interessado. Não poderíamos ter nada sério, mas sair com ele para dar uma
volta e me divertir não seria ruim. Como as meninas disseram, eu tinha de
aproveitar um pouco a vida também.
Vi que havia uma mensagem de Juliet.
“Uma pena que você não está na cidade, quando retornar vamos fazer
uma noite de filmes aqui em casa.”
Essa era uma boa ideia. Fazia tempo que não nos reuníamos para
assistir filmes e comer algumas bobagens.
— Hannah, o que você acha dessa saia? — Sandra perguntou
colocando uma saia preta na frente do seu corpo.
— Muito bonita.
— E qual será sua roupa? — ela me questionou jogando a saia em
cima da cama.
— Não sei, talvez um vestido.
— Trate de abrir sua mala para vermos as opções.
Jasmine pulou da cama e já foi arrastando minhas coisas para que eu
pudesse abrir a mala. Eu não tinha muitas roupas bonitas para ir aos lugares
que elas curtiam. Minha vida financeira não era das melhores, sempre sobrou
pouco para eu poder gastar comigo mesma. Não era fácil, mas eu me sentia
grata por poder ajudar minha tia e minha irmã.
Havia um vestido azul marinho simples, justo ao corpo, que parece ter
agradado as meninas porque elas o separaram. Após ver as outras opções,
decidiram que esse era o melhor e pegaram uma jaqueta de couro para
complementar o visual.
— Esse look está ótimo! — Jasmine sorriu satisfeita.
— Essas festas e bares são as únicas coisas que tem para fazer nessas
viagens?
Perguntei, afinal, era a segunda viagem que fazíamos e mais uma vez
iríamos sair para curtir a noite. Eu não gostava muito, mas acabava me
sentindo excluída se não o fizesse e eu realmente queria ser próxima das
meninas já que elas eram minhas colegas de trabalho. Mas para ser sincera,
eu era muito mais adepta de dar um passeio à tarde e conhecer o lugar. Talvez
um parque, um ponto turístico, sentar em uma cafeteria. Estava muito mais
acostumada à vida calma.
— Nem sempre, mas nós adoramos dançar e nos divertir. Então
sempre que tem alguma festa, nós estamos lá!
Já vi que se eu quisesse algum tipo de companhia durante as viagens
para não me sentir tão solitária, teria de encarar incontáveis baladas e
barzinhos.
— Chegou a minha hora de tomar um banho. — Sandra
imediatamente correu para o banheiro.
Coloquei um pijama e decidi descansar um pouco. A viagem era
longa, cansativa e o fuso-horário sempre me fazia querer deitar nos horários
em que deveria estar bem ativa. Peguei meu celular e vi que Niels tinha
enviado outra mensagem, mas preferi não responder e acabar engatando uma
conversa. Eu só queria cochilar um pouco. Coloquei para despertar daqui a
duas horas e me acomodei na cama macia e confortável que ajudava para que
eu não sentisse saudades da minha própria cama.
Um barulho conhecido me incomodava e eu resmunguei ainda meio
adormecida.
A droga do despertador.
Eu estava sonolenta, então abri apenas um olho e com o dedo
desativei o som que tanto me irritava.
Suspirei e decidi me sentar na cama afastando o cabelo do rosto e
esfregando os olhos em seguida.
— Oi, Bela Adormecida. — ouvi a voz de Sandra, que estava sentada
em uma poltrona mexendo em seu notebook.
— Você não dormiu?
— Não. Estava aqui falando com minha mãe e meus irmãos. — ela se
virou na cadeira e me observou — Animada para sairmos daqui a pouco?
— Acho que não tanto quanto vocês. — sorri — Onde está a
Jasmine?
— Foi dar uma volta com Caleb. Acho que ele estava entediado e
Kevin não devia estar muito afim de papo. — deu de ombros.
Como era de se esperar, já que Kevin era o mais calado e reservado
do grupo. Algumas vezes eu me pegava tentando imaginar o que ele pensava.
Sua expressão não demonstrava muita coisa.
Será que era assim com a família também?
Comecei a divagar sentada na cama como seria a família dele. Será
que era grande? Será que ele tinha irmãos? Será que seus pais ainda estavam
casados? Será que estavam vivos? Ele tinha um cachorro? Ou um gato? O
que fazia nas horas vagas?
De repente eu estava bastante interessada na vida de Kevin Walsh.
Uma tremenda besteira porque eu não deveria ficar pensando nisso.
Eu nunca saberia como era a vida dele nos Estados Unidos, apenas
conheceria o Kevin piloto de aeronaves.
Chegamos ao pub e por sorte ele não estava muito movimentado.
Lugares com pouco espaço e cheios de gente me deixavam um pouco
claustrofóbica. Eu estava usando meu vestido azul marinho que ia até metade
das coxas, com uma alça fica e decote reto. Nos pés, eu tinha colocado uma
sandália preta de salto, que eu já tinha usado diversas vezes, e minha jaqueta
também preta tinha sido deixada na chapelaria.
O vestido verde musgo de Sandra era muito bonito e Jasmine usava
uma calça jeans e uma blusa preta. Elas foram direto para o balcão e eu as
acompanhei. Eu não fazia ideia do que pedir, então optei pelo mesmo que
havia bebido no bar na Dinamarca.
— Caleb me contou que talvez nós tenhamos que fazer um voo para o
Caribe. — contou Jasmine assim que fizemos nossos pedidos.
— Como assim? — fiquei confusa com a informação — A América
Central não faz parte das nossas rotas.
— Eu sei, mas pelo que parece, tiveram problema com um dos pilotos
que faz o trajeto. A companhia não quis dar detalhes sobre o caso, mas Kevin
foi chamado para fazer esse voo de urgência para que não seja cancelado.
— E por que ele? — perguntei curiosa.
— Kevin ficou por algum tempo no trecho Nova York – Caribe. Ele
voava para a América Central no geral, então conhece a rota.
— Eu estou adorando isso! Sempre quis ir para o Caribe e conhecer o
lugar. Espero que a gente tenha tempo de curtir pelo menos um dia.
Sandra suspirou com olhar sonhador. Talvez estivesse se imaginando
nas praias do Caribe. Seria bom ir para um lugar ensolarado para variar.
Morando em Long Island, eu costumava ir à praia quando ainda não tinha
começado o trabalho como comissária de bordo. Depois passei a ir apenas
algumas vezes com minha irmã. Havia pouco mais de três meses que eu não
curtia o mar e poder fazer isso no Caribe era um privilégio.
Nossos drinques chegaram e eu tomei um gole. Não era muito adepta
de bebidas alcoólicas então dois drinques era o máximo que eu poderia
aguentar.
— Eu vou torcer muito para ficarmos pelo menos um dia lá. —
Jasmine estava visivelmente empolgada — Não aguento mais esse tempo frio
e chuvoso que está por aqui.
O outono era assim, tanto nos Estados Unidos quanto na Europa em
geral, tinha temperatura baixa e um pouco de chuva, o que não contribuía em
nada para curtirmos uma praia e sol. Eu podia entender a animação delas.
Enquanto saboreava minha bebida, eu me perguntei o que Kevin
estaria fazendo? Provavelmente tinha saído com Caleb e estava com alguma
mulher em um canto da cidade. Eu estava me sentindo uma boba, interessada
em um homem que trocara meia dúzia de palavras comigo desde que nos
conhecemos e claramente não iria se envolver comigo. Ele era lindo e seu
jeito calado me deixava intrigada. E lá estava eu querendo saber mais sobre
um cara com quem eu provavelmente nunca iria ter sequer uma amizade.
Era melhor deixar isso para lá.
Peguei meu celular e vi que tinha uma mensagem de Niels.
“Olá, Hannah. O que está fazendo? Aproveitando a noite de Londres?”
Aproveitando não era exatamente o termo ideal, mas eu não entraria
em detalhes.
“Vim tomar um drinque com as meninas. Que bela cidade!”
— Com quem você está de papo nesse celular enquanto estamos num
pub, Hannah? — Sandra perguntou.
— Estava conversando com um cara que eu conheci em Copenhague.
— decidi ser sincera, afinal, não estava fazendo nada de errado.
— Perdoada. — ela disse passando a mão nos cabelos — Afinal ele
era um gato. — sorriu — Sim, não pense que não vi vocês de papo no bar.
Sandra era mesmo observadora. Naquele dia em Copenhague, achei
que ela estivesse distraída demais dançando que nem mesmo tinha se dado
conta de que eu tinha ido embora. Eu ainda tinha muito que conhecer das
minhas colegas de profissão.
Ficamos conversando por mais um tempo, Jasmine contou como era
sua vida e percebi que elas não eram tão diferentes de mim. Ambas tinham
nascido em famílias que não tinham uma condição financeira tão boa, mas
conseguiam viver razoavelmente bem. Se não fosse a grande hipoteca da
casa, provavelmente minha pequena família também teria dinheiro para
sairmos de férias uma vez por ano.
— Caleb mandou uma mensagem dizendo que está vindo para cá. —
Jasmine comentou logo após pedir seu drinque.
— Que bom! — Sandra exclamou — Pelo menos ele nos diverte. Os
ingleses parecem uns chatos, ninguém puxa assunto. Somos três mulheres
maravilhosas!
Pedi mais um drinque, o segundo da noite e fiquei com as meninas
esperando por Caleb. Será que ele viria para cá porque estava sozinho já que
Kevin saíra com alguma mulher?
Droga!
Lá estava em novamente interessada no que Kevin fazia.
Não vi Caleb chegar porque alguns minutos depois eu não me lembro
de mais nada.
Capítulo 8
KEVIN

Quando Caleb e eu nos demos conta de que estávamos com duas


mulheres absurdamente chatas, decidimos que iríamos embora da boate no
minuto seguinte. Eu pensei que iríamos parar para beber no primeiro bar que
encontrássemos, não contava que meu grande amigo iria mandar uma
mensagem para Jasmine dizendo que iria encontrar com ela.
Com ela e com as meninas.
Hannah.
Certamente não era de uma dose de Hannah que eu precisava nesse
momento. Ainda estava viva em mim a imagem dela naquele uniforme de
comissária, a bunda redonda marcada pela saia e os cabelos ruivos presos no
coque impecável. Estava começando a virar um hábito caminhar atrás dela
pelo aeroporto admirando aquele traseiro lindo.
Sentado no táxi, eu deslizava o dedo pela tela do celular de maneira
involuntária porque eu não estava concentrado em nada específico.
— Perdemos nossos dias de folga por causa de uma viagem ao
Caribe, não é nada mal. — a voz de Caleb ecoou em meus ouvidos.
— Provavelmente vou perder o batizado do meu sobrinho. — eu
estava mesmo preocupado com isso, odiava ficar tanto tempo sem poder
participar da vida dos meus sobrinhos.
— Eu tinha prometido levar meu sobrinho para ver o jogo de
beisebol, mas vou ter que deixar para a próxima.
O táxi parou em frente ao pub que Jasmine havia falado na
mensagem. Desci após dar algumas notas de libras para o motorista e fui ao
lado de Caleb até a entrada.
A cena que vi não me agradou nem um pouco e me deu um frio na
espinha.
Hannah estava rindo.
Não era uma risada espontânea. De alguma maneira misteriosa para
mim, eu sentia que a conhecia o suficiente para saber que ela não ria assim.
Ao lado dela estava um homem que eu percebi que não tinha as
melhores das intenções.
Procurei por Jasmine e Sandra, mas não as vi. Não sei o que tinha
acontecido com elas, mas imediatamente fiquei em alerta.
— Tem alguma coisa errada com a Hannah. — falei com Caleb
enquanto entrava no pub — Ela não me parece normal.
— Como assim?
— Não sei se ela bebeu demais ou... coisa pior. — emendei — Onde
estão Sandra e Jasmine?
— Ainda não as vi. Acho melhor procurá-las. Pode ter alguma coisa
errada.
— Me mande uma mensagem se precisar.
Caleb se afastou de mim e eu fui em direção à Hannah. Ela
continuava ouvindo o que o cara lhe falava e ria alto. Desviei meu olhar para
o indivíduo que certamente não estava bem-intencionado.
— Oi, Hannah. Demorei, mas cheguei.
Ela olhou para mim um tanto confusa no primeiro momento, mas eu
queria deixar claro para aquele cara que tínhamos intimidade o suficiente e
que nosso encontro já estava marcado antes dele aparecer ali.
— Kevin! — ela exclamou com uma animação que eu nunca tinha
visto nela — Que bom que você... chegou! Podemos beber juntos!
Sua mão tocou meu braço e eu precisei fazer força para desviar meu
olhar dela e focar no homem que continuava ali parado sem entender. Como
eu queria lhe dar um soco, mas confusão no momento não seria bem-vinda.
— Ela está comigo. — falei — Vamos sair daqui.
Olhei para Hannah que continuava sorridente e passei meu braço em
volta da sua cintura. Ela estava sentada num dos bancos altos e eu tinha de
confessar que a sensação de estar tão próximo dela era aterradora. Eu gostei
disso, mas não queria gostar.
Tudo que eu precisava nesse momento era tirá-la dali. Nunca gostei
de me envolver nos problemas de ninguém, mas jamais deixaria uma mulher
sozinha vendo que claramente alguém iria lhe fazer algum mal. Eu ainda não
fazia ideia do que tinha acontecido com ela, mas tinha de levá-la ao hotel.
— Você tem um cheiro... bom. — ouvi a voz dela e percebi que ela
tentava aproximar seu nariz do meu pescoço e graças ao salto alto, ela
conseguiu.
Consegui guiar Hannah para fora do pub e a levei até o canto da
calçada. Ela imediatamente se encostou na parede e jogou os lindos cabelos
ruivos para o lado.
— Por que viemos... para cá? — ela falava mais lento, provavelmente
efeito de qualquer coisa que ela tenha ingerido.
— Hannah, o que você bebeu? — perguntei olhando em seus olhos,
estava preocupado.
— Dois drinques. — ela levantou os dedos mostrando o sinal do
número dois, pelo menos ela ainda conseguia contar.
Não sei se haviam colocado algo na bebida dela. Algum tipo de
droga, algo que pudesse ter lhe afetado. Hannah não parecia estar sob efeito
de nenhuma droga ilícita, talvez pudesse ser a mistura de algumas bebidas
que, para ela que não estava acostumada a beber, fora o suficiente para
embebedá-la.
Peguei o celular e liguei para Caleb.
— Oi, cara.
— Estou aqui fora com a Hannah, cadê as meninas? — perguntei.
— Jasmine e Sandra estavam no banheiro.
— Elas estão bem?
— Sim, não parecem afetadas.
Pelo visto Hannah tinha sido a única vítima. De fato, ele parecia
mesmo a mais inocente.
— Elas sabem o que aconteceu com Hannah?
— Perguntei se poderia ter acontecido algo porque ela estava um
pouco estranha. Elas disseram que Hannah tomou um shot de tequila, mas já
tinha tomado vodka em um drinque. Acho que isso é demais para ela.
— Foi o que desconfiei. Vou levá-la para o hotel.
— Qualquer coisa me ligue.
Enfiei o celular no bolso e foquei minha atenção em Hannah que
parecia alegre demais sacudindo de leve os quadris acompanhando a música
que tocava do lado de dentro. Nesse momento percebi que ela usava um
vestido escuro que deixava metade das suas coxas à mostra e que se ajustava
muito bem ao corpo.
Hannah era absurdamente gostosa. Eu não deveria me atentar para
isso, mas foi inevitável.
— Vamos voltar! — ela chamou minha atenção começando a se
afastar da parede.
— Não! — segurei seu pulso — Está na hora de irmos para o hotel.
— Mas e o pessoal? Cadê eles?
— Foram embora. — menti — Já estão todos dormindo. Falta apenas
nós dois.
— Ah, eu estava me divertindo!
Enlacei sua cintura novamente e fui até a beirada da rua na espera de
conseguir um táxi. Senti Hannah apoiar o corpo no meu e por a mão no meu
peito. Seus cabelos ruivos estavam perto do meu rosto e foi impossível não
sentir o perfume que exalava deles. Era um aroma delicado, bem parecido
com ela e isso mexeu comigo de uma forma que eu não sabia explicar, e para
ser sincero, eu preferia nem saber.
Por sorte um táxi veio e eu fiz sinal com a mão.
Assim que o veículo parou na nossa frente, eu abri a porta e ajudei
Hannah a entrar. Assim que ela se acomodou no banco de trás, eu sentei ao
seu lado.
— Boa noite. Para o Park Plaza Westminster. — falei ao motorista.
— Claro, senhor.
Enquanto éramos levados ao nosso destino, eu procurei me concentrar
no que tinha de fazer. Hannah não estava bem e eu precisava arrumar um
jeito de mantê-la segura. Lembrei do cara que estava ao seu lado. Será que ele
era responsável por ela estar assim? Será que fora ele quem a incentivou a
tomar tequila?
Senti algo no meu ombro e olhei para o lado. Hannah tinha
adormecido com a cabeça apoiada em mim. Aquele maldito cheiro
novamente próximo ao meu nariz. Afastá-la não era uma opção. Não
enquanto estivesse adormecida. Eu precisaria me concentrar em algo que não
fosse no delicioso aroma que vinha dela e estava mexendo com meus
sentidos.
Foquei nas luzes e no movimento da cidade, na chuva que começou a
cair de maneira tranquila, como um chuvisco. Não sei dizer exatamente
quanto tempo passou desde que saímos do pub, mas pareceu uma eternidade
até que chegássemos ao hotel. Puxei a carteira do bolso, tirei algumas notas e
dei ao motorista. Aproveitei para pegar o cartão do meu quarto.
Hannah continuava adormecida. Eu pensei em acordá-la, mas não
seria uma tarefa fácil. Já lidei com muitas pessoas bêbadas. Carregá-la no
colo não seria uma tarefa difícil. Ela era pequena, seu corpo magro, porém
curvilíneo e por um breve momento eu imaginei nós dois entrando no hotel,
mas em um contexto diferente. Neste, Hannah estaria acordada e bem
consciente do que estaria fazendo.
— Merda, Kevin! — xinguei a mim mesmo.
— Pois não, senhor? — o motorista olhou para trás um pouco
confuso.
Acho que praguejei em voz alta.
— Minha namorada acabou adormecendo. Não quero acordá-la.
Uma mentira simples não faria mal a ninguém.
Abri a porta do táxi e passei meu braço por baixo das coxas dela e o
outro por trás dos eu corpo. Tirar Hannah foi uma tarefa fácil, difícil mesmo
era tê-la em meu colo e controlar minha libido. Sua cabeça estava apoiada em
meu ombro, seus seios cheios subiam e desciam conforme sua respiração e
estavam próximos demais de mim e eu fiz um esforço gigantesco para não
manter meus olhos em seu decote.
Ela está adormecida, Kevin. Pare de pensar no quanto ela é gostosa.
Entrei no hotel decidido a fazer o que tinha de ser feito. Manteria
Hannah segura e torceria para que se recuperasse. Entrei no elevador e subi
até o andar onde ficavam nossos quartos e parei de frente para minha porta.
Eu não sei onde estava o cartão do quarto dela, então achei melhor mantê-la
no meu. A deixaria em minha cama e na manhã seguinte talvez pudéssemos
conversar e tentar entender o que acontecera.
Abri a porta e entrei. O quarto estava iluminado e a minha cama
coberta apenas com o lençol. Com cuidado, deitei Hannah sobre ela e
acomodei sua cabeça sobre o travesseiro. Ela continuava dormindo serena.
Tirei alguns segundos para respirar fundo e colocar meus pensamentos em
ordem, mas a imagem à minha frente era difícil de ignorar.
Uma ruiva com os lábios mais perfeitos que eu já tinha visto estava
deitada em minha cama, usando um vestido azul-marinho justo ao corpo que
me fazia ter os pensamentos mais depravados possíveis. Obviamente eu não
faria nada com ela. Primeiro, porque estava inconsciente e segundo, porque
ela trabalhava comigo e essa era uma linha que eu não poderia cruzar.
Admirá-la não seria pecado, certo?
Hannah tinha cabelos lindos. Longos, macios e avermelhados. A pele
clara do seu rosto mostrava algumas poucas sardas próximas ao nariz que
nela a deixavam ainda mais bonita. Sua boca tinha lábios cheios e contornos
perfeitos e eu imaginei como seria beijá-los. Seu corpo parecia uma obra
divina. Seios fartos, cintura fina e quadris arredondados.
Embora ela estivesse fora do meu alcance, foi inevitável me imaginar
deslizando as mãos por sua pele. Alisando-a, sentindo a textura e cada curva
debaixo das minhas palmas. Meu pau já tinha dado sinal de vida, esse era um
caminho sem volta. Eu estava definitivamente atraído por Hannah e sabia que
desse momento em diante, eu acabaria tendo muitas noites repletas de
imagens dela na minha mente e que eu precisaria me manter o mais distante
possível.
Maldito vestido curto!
Coloquei sobre seu corpo um cobertor e me sentei na poltrona. Estava
agitado demais, não conseguiria dormir. Então decidi me acalmar sem olhar
para Hannah. Era a única maneira de me manter no controle da situação.
Ouvi a porta se abrir e notei que Caleb entrou. Ele me olhou
preocupado, depois seu olhar focou em Hannah deitada sobre minha cama.
— Como ela está? — perguntou em voz baixa.
— Acho que não foi drogada, parece só que misturou bebidas demais.
— respondi fechando a porta.
— Você acha que ela bebeu assim por vontade própria?
Caleb me conhecia, pelo meu semblante ele sabia que eu desconfiava
de que algo estava errado.
— Não. — balancei a cabeça — Eu acho que aquele cara que estava
no bar com ela tem algo a ver com isso.
— Vai questioná-la?
Parei por um momento e olhei para Hannah. Ela continuava
adormecida do mesmo jeito que eu a deixara.
— Sim. — respondi cruzando os braços — Talvez ela saiba o nome
dele. Não sei se ela tinha noção do que estava acontecendo.
— Hannah parece uma garota tranquila, Kevin. Pelo que Jasmine me
disse, ela não é do tipo que costuma beber.
Eu já tinha me dado conta disso. O olhar de Hannah no bar era o de
uma pessoa que se sentia bastante deslocada. Por mais que eu tentasse,
muitas vezes me pegava observando-a, vendo seus pequenos gestos. É claro
que ela não percebia e eu não queria que isso acontecesse.
— É melhor eu ir para o quarto das meninas, posso dormir na cama da
Hannah. — Caleb disse indo pegar algumas de suas coisas — Vou avisá-las
de que ela está bem.
— Obrigado.
Caleb pegou alguns itens necessários e algumas peças de roupa e saiu
do quarto. Assim que fechei a porta, olhei para Hannah por mais algum
tempo. Não sei o que aconteceria pela manhã e nem como eu abordaria o
assunto, mas primeiro precisava saber como seria a reação dela.
Eu estava vivendo uma luta constante entre minha mente e meu
corpo. A vontade de transar com Hannah parecia crescer a cada dia, porém eu
sabia que tinha de manter o mais distante possível. A atração era inevitável,
mas ficar com Hannah estava fora de questão.
Dei um pulo na poltrona quando acordei. Minha respiração estava
ofegante, meu coração acelerado e eu precisei percorrer o quarto com os
olhos para saber onde estava.
Outro pesadelo.
Havia muito tempo que isso não me perturbava mais, porém nos
últimos tempos, eles voltaram a me visitar. E não eram bem-vindos.
Hannah continuava adormecida. Olhei para o relógio em meu pulso,
marcava três e vinte da manhã. Havia tempo até amanhecer. Eu precisava
respirar, tinha de colocar a cabeça no lugar. Levantei e fui direto para o
banheiro. Abri a torneira, juntei as mãos e as enchi de água e lavei o rosto.
Apoiei as mãos na pia e respirei fundo.
Novamente eu não conseguia ver o rosto da mulher do meu sonho.
Dessa vez foram imagens confusas. Gritos, choros e eu saía apressado.
Curiosamente, eu estava na Itália. Todos esses pesadelos tinham ficado para
trás há alguns meses e agora voltavam para me assombrar, só que dessa vez,
eu não conseguia entender.
Que merda estava acontecendo?
Voltei a sentar na poltrona, mas dessa vez o sono havia sumido e eu
fiquei o resto da noite tentando afastar aquele pesadelo da cabeça enquanto
meus olhos observavam Hannah sob a luz do abajur.
Capítulo 9
HANNAH

Abrir os olhos nunca foi tão difícil.


Eu sentia minha cabeça latejar como se estivesse uma banda de rock
dentro do meu crânio. Eu não conseguia me lembrar de muita coisa.
Forcei minhas pálpebras e abri os olhos devagar. Minha visão estava
turva e num primeiro momento eu não consegui identificar o lugar onde eu
estava. Naquele breve segundo comecei a entrar em pânico, mas logo me
lembrei de que estava em Londres e provavelmente no hotel.
Eu só não fazia ideia de como viera para cá.
Soltei um gemidinho baixo e esfreguei os olhos me virando de barriga
para cima. Lembrei que estava no mesmo quarto com Sandra e Jasmine.
Onde elas estavam? Que horas deveriam ser?
Tirei a mão do rosto para olhar em volta e prendi a respiração dando
de cara com alguém que eu não esperava. Estava sonhando?
Kevin Walsh estava sentado em uma poltrona, recostado no estofado
e as pernas cruzadas com o tornozelo apoiado no joelho. Seus olhos verdes
me observavam com atenção e eu me dei conta de que não estava no quarto
das meninas.
Esse era o quarto dele.
Como eu tinha vindo parar aqui?
Imediatamente senti um desespero. Olhei para baixo e vi que ainda
usava as roupas da noite anterior. Fiquei em parte aliviada. Seria
constrangedor e muito vergonhoso se eu tivesse dormido com ele e não me
lembrasse. O que pensaria de mim? Nunca fui esse tipo de garota.
— Bom dia. – ouvi sua voz num cumprimentou casual.
— Bom dia. – respondi, minha voz um pouco estranha – O que
aconteceu?
— Acho que você misturou algumas bebidas.
Tentei me lembrar de algumas coisas. Eu estava no pub, sentada no
bar e tomei um drinque, depois veio outra bebida e um rapaz se aproximou de
mim. Qualquer coisa que tenha acontecido após, estava totalmente apagado
da minha memória. Passei a mão no rosto e me senti extremamente
envergonhada.
Como eu tinha vindo para cá? O que eu havia feito na noite anterior?
O que falara? Em que estado Kevin me encontrou?
Imaginei meu rosto inchado pelo sono, a maquiagem borrada e os
cabelos bagunçados. Sem dúvidas a imagem não era a minha melhor.
— Que vergonha! – coloquei a mão sobre o rosto me sentindo
péssima.
— Relaxe, Hannah. Você não foi a primeira pessoa bêbada que eu vi
e certamente não será a última.
Isso não foi consolador. Eu não era o tipo de pessoa que bebia e muito
menos perdia a memória. Não era do meu feitio, sempre fui uma pessoa
tranquila.
Levantei devagar e percebi estava sem minhas sandálias. Olhei para o
lado e as vi em um canto.
— Espero que não se importe. Eu as tirei no meio da noite.
— Tudo bem. – ajeitei meu vestido – Eu vou ao banheiro.
Kevin não disse nada, apenas assentiu e eu fui o mais rápido que pude
me trancar naquele pequeno espaço que pudesse me dar privacidade. Suspirei
e me encostei na porta. Poucas vezes eu interagi com Kevin e dessa vez, eu
estava bêbada e só Deus e ele sabem o tipo de coisas que eu falei. Será que eu
confessara estar atraída por ele?
Eu espero que isso não tenha acontecido, porque eu iria enfiar a
cabeça em um buraco e nunca mais sair de lá.
Fui até a pia e me olhei no espelho. Por sorte meu rosto não estava tão
ruim, mas eu precisava tirar essa maquiagem. Usei o sabonete líquido do
hotel para tirar os resquícios da minha pele. Talvez eu tenha passado uns dez
minutos dentro do banheiro, mas ao sair, eu sentia que tinha recuperado pelo
menos um pouco da minha dignidade.
Tinha amarrado os cabelos em um coque e minha pele agora estava
clara e sem nenhuma maquiagem. Assim ela poderia respirar e eu pensar,
embora minha cabeça ainda latejasse constantemente.
— Como está se sentindo? – Kevin perguntou, dessa vez de pé ao
lado da cama.
— Péssima. Minha cabeça está doendo.
Só agora pude observá-lo com mais clareza. Kevin estava vestido com
uma calça jeans de lavagem escura, uma camiseta simples da cor vermelha
que marcava muito bem seus músculos. Era a imagem de um homem
maravilhoso e eu só podia pensar no tipo de besteiras que havia dito enquanto
estava sob efeito do álcool.
— Separei aspirina para você. Imaginei que fosse acordar com dor. —
Kevin foi até o criado mudo ao lado da cama e pegou um copo de água com
um comprimido que havia lá – Beba e vai começar a se sentir melhor em
breve.
— Obrigada.
Agradeci.
Eu precisava mesmo me livrar dessa cor de cabeça incômoda. Peguei
o copo e coloquei o comprimido na boca, tomando longos goles até engoli-lo
e aproveitei para sanar a sensação de boca seca. Queria muito saber o que
tinha acontecido nessa noite, mas a vergonha de ter feito algo impróprio
ainda me travava.
O que Kevin provavelmente estaria pensando de mim?
Eu não o que farei se eu tiver dito algo constrangedor.
— Talvez você não esteja com fome, mas eu pedi o serviço de quarto
e acho que é melhor você comer um pouco. – ele sugeriu.
Realmente eu não estava com apetite, mas poderia comer alguma
coisa. Talvez servisse para tirar essa sensação estranha no estômago.
Kevin se adiantou até uma mesinha redonda onde estava posto um
café da manhã com cereais, pães, ovos, café e suco de laranja. Fiquei parada
por alguns segundos até ter coragem de caminhar até à mesa e me sentar.
Estava tentando reunir forças para perguntar a Kevin o que acontecera. Era
vergonhoso demais não me lembrar.
— Precisamos conversar. – ele se adiantou após se sentar.
Meu coração bateu mais rápido. Certamente ele ia falar que eu fiz
algo errado, que me comportara de maneira deprimente. Era horrível não se
lembrar de nada.
— O que aconteceu ontem, Hannah? Eu suponho que você bebeu
demais. – ele começou, diante do meu silêncio.
— Não sei dizer. – respondi com sinceridade – Não me lembro de ter
bebido muito.
— Acho que você misturou as bebidas e como não está acostumada a
beber... – deixou em aberto o final porque já sabíamos o resultado – Mas
havia um cara com você.
— Um cara? – eu realmente não me recordava disso.
Poderia ter sido perigoso se Kevin não tivesse aparecido.
— Não sei quem ele era, nem mesmo o nome. Quando cheguei com
Caleb, você estava ao lado dele no bar. – Kevin se ajeitou na cadeira,
recostando o corpo musculoso – Tinha esperanças de que se lembrasse de
algo.
— Sinceramente, não me recordo de nada. Só me lembro de estar com
as meninas, sentada ao bar e de repente tudo depois disso parece ter sumido
da minha mente.
— Poderia ter sido muito perigoso, Hannah.
— Eu sei.
Kevin tinha razão. Eu já ouvira muitas histórias de mulheres que eram
drogadas e homens lhe faziam mal. Alguns as roubavam, estupravam, e só de
pensar nessa possibilidade meu corpo todo já se arrepiava. Minha tinha
sempre me alertara para tomar cuidado com minhas bebidas, mas o fato de
não estar acostumada acabou me deixando fora de órbita.
— Obrigada, Kevin. – agradeci, afinal, foi graças a ele e Caleb que
apareceram no bar que nada pior acontecera – Realmente não estou
acostumada a esse tipo de coisa.
— Eu não deixaria mulher nenhuma passar por aquilo.
Claro. Eu não tinha nada de especial. Era apenas uma mulher
precisando de ajuda e ele não fez nada além do que se sentiu obrigado a fazer.
Ajude uma mulher que no momento não pode se defender.
Eu não consegui pensar em nenhuma resposta para isso, mas por sorte
não precisei porque a conversa foi interrompida pelo toque do seu celular.
Kevin enfiou a mão no bolso e tirou de lá o aparelho.
Ele pediu licença e se levantou, afastando-se um pouco de mim, mas
como o quarto não era tão grande, ainda era possível ouvi-lo.
— Oi, Ali.
Provavelmente era uma mulher.
Segundo as meninas, Kevin era solteiro, mas isso não significava que
ele não tivesse alguma mulher com quem estivesse saindo.
— Sim, eu te liguei. Desculpe, não calculei o fuso-horário. Não
poderei ir ao batizado do Luca. – ele colocou a mão livre no bolso da calça e
ficou olhando pela janela – Fui escalado para um voo de última hora para o
Caribe porque alguns pilotos do trajeto não estão disponíveis.
Quem era Ali? Quem era Luca? Será que Kevin tinha um filho com
alguma mulher? Acho que não, Sandra e Jasmine com certeza saberiam disso
e teriam comentado caso ele fosse pai.
— Prometo que assim que estiver em Nova York vou recompensá-los
por isso. – ficou em silêncio por algum tempo – Sim, pode deixar. Mande um
abraço para o Ryan. – silêncio novamente – Obrigado, para você também.
Kevin encerrou a ligação e eu imediatamente parei de fitá-lo e me
concentrei na mesa à minha frente. Decidi pegar a primeira coisa para que
não parecesse que eu estava prestando a atenção. Desde quando havia me
tornado tão fofoqueira?
O efeito Kevin Walsh estava me transformando em outra pessoa.
Enchi uma tigela de cereais e um copo de café.
— Desculpe, era minha irmã.
A voz de Kevin fez com que eu olhasse para ele.
Então ele tinha uma irmã e provavelmente Luca era seu sobrinho.
Interessante. Mais um detalhe que eu podia adicionar à lista de coisas
que sei sobre Kevin. Era uma lista bem curta, na verdade.
— Como estão as meninas? – perguntei depois que ele sentou-se
novamente.
— No quarto. Caleb as trouxe. Acho que estão preocupadas com o
que aconteceu.
— Preciso falar com elas. – novamente eu estava me sentindo uma
idiota por ter deixado isso acontecer comigo.
— Você terá tempo. Por enquanto, tome seu café.
Kevin apenas sacou o celular e ficou distraindo provavelmente lendo
mensagens. Pelo visto ele já tinha encerrado comigo, afinal, cumprira sua
obrigação.
Eu tentei comer, mas não estava com muita fome e meu estômago não
estava cem por cento bem. Esforcei-me para comer o máximo que pude e
tomei um gole de café. Talvez ajudasse.
Por sorte a dor de cabeça estava menos intensa. Quando me dei por
satisfeita, pedi licença e me levantei da mesa, o que fez com que Kevin
tirasse os olhos do celular e focasse sua atenção em mim.
— É melhor eu ir para o meu quarto. Tenho que tomar um banho para
me sentir melhor.
— Claro. – ele também se levantou.
Peguei tudo que era meu. Minha pequena bolsa e meus sapatos e
achei que me despediria de Kevin ali mesmo na porta do seu quarto, mas ele
fez questão de me acompanhar até o meu.
Queria poder abraçá-lo, agradecê-lo por ter me ajudado, como amigos
fazem, entretanto, nós não éramos amigos. Apenas colegas de trabalho que
até então, haviam trocado uma dúzia de palavras. Ele continuava distante,
totalmente diferente de Caleb, que fazia questão de puxar assunto e era mais
extrovertido. Realmente, Kevin Walsh era um mistério.
Passei o cartão na porta e a abri.
Jasmine estava sentada na cama que dividia com Sandra, Caleb estava
sentado na minha, ainda com cara de sono e cabelo um pouco bagunçado e
Sandra, eu imaginei que estivesse no banheiro. Jasmine ao notar minha
presença, logo se levantou e veio em minha direção.
— Hannah! – ela veio até mim e me abraçou, bem diferente da atitude
de Kevin – Como você está?
— Agora estou bem.
— Desculpe por ter deixado você sozinha. Fiquei me sentindo muito
culpada.
Pude notar sinceridade nos olhos de Jasmine. Ela era uma boa pessoa
e claro, não era obrigada a ficar grudada em mim. Sou uma adulta, não
preciso de babá. Sandra e ela tem que se divertir quando quiserem, a culpada
fui eu que não tomei os devidos cuidados.
— Não se preocupe, Jasmine. Eu fui bem ingênua, deveria ter ficado
mais atenta.
— Por sorte não aconteceu nada e você está bem.
Caleb se levantou da cama e fez o mesmo que Jasmine. Ele me deu
um abraço apertado, do jeito efusivo e carinhoso que ele aparentava ter.
Parece que todos aqui agiam assim, exceto Kevin, que parecia querer se
manter o mais distante possível de mim. Não poderia culpá-lo, apenas aceitar
que nós nunca seríamos próximos o suficiente.
Eu me perguntava, o que as outras mulheres fazem que captam tanto a
sua atenção? Que fazem por merecer mais do que poucas palavras. Eu tinha
consciência de que Kevin não teria nenhum relacionamento amoroso comigo,
mas ele parecia evitar até mesmo um pouco de contato, uma simples amizade.
— Que bom que Hannah já está segura e vai ficar bem. – Kevin falou
indo em direção à porta.
— Basta eu tomar um banho que vou me sentir melhor. – falei.
— Então agora que você está aqui, vou para o meu quarto.
Caleb logo se adiantou para pegar suas coisas e enfiar dentro de uma
bolsa. Ele se despediu de nós e saiu do quarto logo depois de Kevin. Jasmine
logo pegou minha mão e me puxou para sentar na cama. Meu corpo ainda
estava cansado, mas por sorte a dor de cabeça estava cada vez melhor.
— Ficamos preocupadas quando Caleb disse que achava que tinha
algo errado com você. Infelizmente tem muita gente ruim aí fora.
— Sim, eu também fui muito ingênua.
— Por sorte eles chegaram. – ela fez uma pausa – Kevin é um cara
legal, ele se preocupa com as pessoas. Só tem esse jeito caladão mesmo.
— Eu já pude perceber. Mesmo lá no quarto ele não falou muita
coisa, só queria que eu explicasse o que eu sabia e me disse que talvez eu
tenha misturado algumas bebidas.
— Por sorte agora iremos ao Caribe e poderemos curtir a praia e a
piscina. Nada de festas.
Seria um alívio poder passar uma parte à beira da piscina, caminhar
na praia ao por do sol e ver a lua e o céu estrelado do Caribe. Um dia
tranquilo era tudo que eu precisava e mais gostava.
Sandra saiu do banho e veio direto em minha direção. Disse
praticamente o mesmo que Jasmine – que sentia muito pelo que acontecera e
que por sorte eu estava bem. Levantei e fui para o banheiro, eu tinha que ficar
alguns bons minutos debaixo da água morna relaxando meu corpo e deixando
de lado o que acontecera. Não adiantava ficar com vergonha ou me lamentar.
Era hora de usar o que acontecera como um aprendizado.
Eu não iria mais precisar ser resgatada como uma donzela indefesa.
Capítulo 10
KEVIN

Caribe era tudo que eu precisava.


Sol, mar, o vento da América Central, o clima quente bem diferente da
Europa e de Nova York.
Pousamos à noite em Punta Cana, um trecho que eu já tinha feito
algumas vezes antes de ser transferido para a rota América – Europa.
Jasmine e Sandra estavam bem animadas e caminhavam à nossa
frente quase aos pulos, embora precisassem manter a compostura. Íamos ficar
dois dias nesse paraíso e embora eu fosse perder o batizado de Luca, eu não
podia reclamar. Poucas pessoas tinham esse privilégio.
Só havia uma coisa que estava me incomodando desde Londres.
Hannah.
Desde o dia em que ela dormira no meu quarto e eu praticamente não
preguei os olhos, eu vinha sendo atormentado pelas imagens dela. Algumas
horas atrás, eu estava deitado na cama me perguntando qual seria a sensação
de vê-la adormecida ao meu lado.
Passe o resto do dia mal-humorado e até mesmo Caleb percebeu.
Estava sendo dominado por uma mulher sendo que ela não tinha feito nada
para me provocar além do fato de ser absurdamente linda.
— E aí, Kevin? Vamos ou não?
A voz de Caleb fez com que eu afastasse meus pensamentos e focasse
nele. Continuávamos caminhando pelo aeroporto, mas eu nem mesmo
prestava atenção no que acontecia a minha volta. Meu amigo me observava e
obviamente esperava uma resposta.
— Aonde?
— À praia.
— Depois que eu descansar pelo menos umas duas horas.
Eu não tinha conseguido dormir praticamente nada. Hannah me
atormentava de uma maneira que ninguém tinha conseguido, exceto Susan.
Isso era o que estava me deixando completamente irritado.
— Estamos num paraíso desses e você vai dormir?
— Caleb, eu não tenho conseguido dormir direito. Preciso descansar.
— Certo, eu vou para o bar do hotel tomar alguma coisa.
Eu não poderia falar para ele que eu não dormi por causa de Hannah.
Jamais daria essa satisfação a Caleb que vivia insistindo que ela era
gostosa e que eu ia acabar cedendo.
Não mesmo.
Só precisava de um bom descanso e depois aproveitar o que Punta
Cana tem de melhor e aí então colocaria a cabeça no lugar.
Após o meu cochilo, tomei um banho e vesti uma sunga por baixo da
bermuda estampada e uma camiseta branca simples e coloquei óculos
escuros. Mandei mensagem para Caleb e ele me dissera que estava em um
quiosque na piscina do hotel. Desci até lá e logo senti o sol no meu rosto e o
calor na pele.
A piscina era bem grande, com um formato cheio de curvas. Havia
diversos quiosques à beira dela onde os tetos pareciam ocas. Várias
espreguiçadeiras ao longo da beirada estavam ocupadas por turistas e eu
precisava dar um jeito de encontrar Caleb. Rodeei a piscina e acabei
encontrando-o deitado em uma das cadeiras e parecia estar cochilando.
Eu poderia acordá-lo com um susto, mas decidi não fazer isso.
Limitei-me a ficar de pé próximo e observando a minha volta. Muitas pessoas
aproveitavam a água, algumas tiravam um tempo para ler, outras para
cochilarem, umas para aproveitar com a família ou mexerem no celular. Um
grupo de meninas tiravam inúmeras fotos e uma delas acabou olhando para
mim.
Graças aos óculos escuros ela não sabia que eu a observava, então
pude vê-la chamar uma das amigas, cochichar algo em seu ouvido e a outra
em seguida me olhou também. Era curioso ver a reação delas, mas eu não
estava afim de ir atrás de nenhuma mulher no momento.
Decidi pedir uma cerveja no bar e sentar para relaxar.
Encontrei uma espreguiçadeira e me acomodei. Um dos garçons
anotou meu pedido e eu aproveitei para pegar o celular enquanto esperava
minha bebida. Havia uma mensagem de Isabella. Ela não desistia mesmo.
“Está em Nova York?”
Se eu estivesse talvez seria uma boa encontrar com ela e me distrair,
parar de pensar em Hannah. Sei que não era certo fazer isso, mas eu tinha que
tirar meu foco dela e tinha de apelar para qualquer coisa. Decidi responder,
para quando estivesse na cidade, tirar um tempo para encontrar com Isabella.
“Tive um trabalho extra para fazer, estou em Punta Cana. No final da
semana estarei aí, te mando uma mensagem quando estiver livre.”
Eu era um tremendo filho da puta.
Mas eu preferia acreditar que Hannah era culpada por esse meu
comportamento.
O garçom trouxe minha bebida e eu tomei um longo gole após
recostar na espreguiçadeira. Era tudo que eu precisava. Um tempo para
descansar meu corpo e minha mente e saborear minha cerveja sem ter que
ficar martelando sobre o que eu não queria.
Não sei quanto tempo se passou até que vi Sandra se aproximando.
Por sorte ela estava sozinha. Usava um biquíni azul claro, seus cabelos loiros
estavam presos num coque e nos lábios ela tinha um sorriso. Sandra era
bonita, eu não podia negar, mas nunca me senti descontroladamente atraído
por ela ou por Jasmine. Tudo caminhava bem na tripulação até Hannah
aparecer e eu passar os dias sendo atormentado. Depois da noite no hotel,
tudo parecia ter mudado.
— Boa tarde, Kevin. – ela parou próximo a mim e colocou as mãos na
cintura.
Eu tinha de confessar que dei uma olhada em seu corpo. Por mais que
não sentisse vontade de ficar com Sandra, eu não era cego. Ela já havia
tentado algumas vezes no início, dera em cima de mim em várias ocasiões,
mas eu sempre fiz questão de me manter fiel às minhas regras.
— Oi, Sandra.
— Eu estava na praia. Viu a Jasmine ou a Hannah por aqui?
Ela perguntou e uma parte de mim pensava “Graças a Deus eu não vi
a Hannah.”, e outra gritava “Que pena que eu não vi a Hannah.”. Estava cada
vez mais difícil lidar com esse conflito interno.
— Acabei de descer, eu não vi ninguém. A não ser Caleb que parece
que decidiu dormir aqui fora e não no quarto. – apontei para meu amigo que
continuava cochilando em uma cadeira.
— Estou me sentindo sozinha. – ela suspirou e acabou sentando na
espreguiçadeira ao meu lado – Vou sentar aqui e espero que não se
incomode.
— Relaxe. Sente onde quiser.
Tomei mais um gole da minha cerveja e relaxei. O clima estava
excelente, o sol brilhava e a brisa refrescava minha pele na medida certa. Eu
tinha de confessar que embora estivesse chateado por perder o batizado de
Luca, eu não sentia nenhuma saudade de Nova York no momento. Aqui
estava maravilhoso.
— JASMINE!
O grito de Sandra me alarmou. Eu imediatamente olhei para ela e logo
segui seu olhar para descobrir que Jasmine estava do outro lado da piscina.
Por sorte ela estava sozinha. Meu coração voltou a bater normalmente e eu
suspirei irritado comigo mesmo. Jasmine deu a volta e se aproximou de nós.
Ela estava usando um maiô estampado em diversas cores e usava um chapéu.
— Que bom que está aqui, Sandra. Eu estava tentando te ligar, mas
você deixou o celular no quarto.
— Eu fui à praia sozinha, então achei melhor não levar nada.
— Oi, Kevin. – Jasmine se direcionou a mim com um sorriso singelo
e logo olhou para Caleb deitado – Parece que alguém vem para o Caribe para
dormir.
— Ele estava tão preocupado em aproveitar a piscina e está aí. –
indiquei com o queixo.
— Você podia ir à praia comigo já que está aqui agora.
Sandra sugeriu para Jasmine e logo as duas me deixaram ali sozinho.
Eu estava em paz agora e poderia relaxar sem ter que manter um diálogo com
elas. É claro que eu gostava das duas, mas Sandra falava demais e eu tinha de
ser sincero, não estava muito afim de papo.
Estava no segundo copo de cerveja quando Caleb acordou. Ele se
sentou na espreguiçadeira e bocejou passando a mão no rosto em seguida.
Quando olhou para mim, apontou para a cerveja e eu levantei o copo.
— Há quanto tempo está aqui?
— Não sei, talvez meia hora. — respondi.
— Acho que preciso de uma cerveja também. – levantou o dedo para
chamar o garçom que ficava à beira da piscina – Onde estão as meninas?
— Sandra e Jasmine foram à praia faz uns dez minutos.
— E Hannah?
— Não sei.
Eu não a tinha visto e nem ouvido falar dela desde que chegamos ao
hotel. Será que estava bem? Será que estava no quarto?
— Hannah não é muito parecida com as outras duas. – Caleb
comentou assim que o garçom se afastou – Ela está sempre quieta, não curte
muito sair.
— Sim, deve ser o jeito dela.
Era interessante observar Hannah. Ela vivia quieta, não tinha a mesma
animação de Jasmine e Sandra, não fazia muita questão de baladas ou sair
para se divertir. Não sei até que ponto isso fazia parte da sua personalidade
ou se ela estava apenas envergonhada por não ter muita intimidade com a
equipe.
— O assunto chegou. – disse Caleb.
Sem nem pensar, eu olhei para meu amigo e em seguida olhei na
mesma direção que ele. Hannah tinha saído do hotel e caminhava devagar
pela beirada da piscina, parecia procurar alguém. Ela estava vestida com um
biquíni rosa e usava uma saia de pano branca. Puta que pariu! Hannah era
ainda mais gostosa do que eu imaginava.
Ainda bem que eu estava de óculos escuros, porque eu estava
descaradamente olhando para ela como se fosse a última mulher do mundo.
Hannah tinha os seios fartos, redondos e perfeitos. Sua barriga era lisa, a
cintura fina e o quadril arredondado que eu tenho certeza que se encaixaria
incrivelmente ao meu. Por mais que eu tentasse me manter impassível,
Hannah parecia não me ajudar.
E nem mesmo Caleb, que levantou a mão e fez um gesto para chamar
a atenção dela.
Hannah logo notou a movimentação e deu um sorriso um pouco
tímido e se aproximou. Os óculos escuros tinham sido a melhor coisa que eu
escolhera nesse dia, porque eu não estava conseguindo desgrudar meus olhos
do corpo maravilhoso que ia se aproximando. Ela era linda e a cada dia que
passava, eu ia me dando mais conta disso.
— Oi, Hannah! Pensei que não ia sair daquele quarto. – Caleb logo
quebrou o silêncio.
— Oi. – respondeu — Estava descansando um pouco.
— Estamos no Caribe, deixe para descansar quando chegar em Nova
York.
— Você cochilou na cadeira, Caleb. – falei.
Pude ver que Hannah deu um sorrisinho. Seus lábios perfeitos se
curvaram em um sorriso lindo deixando-a ainda mais bonita. Era difícil me
manter neutro quando cada dia que passava eu notava detalhes incríveis nessa
mulher.
— Agora eu estou acordado e cheio de energia. – ele se levantou e
tirou os óculos escuros que estavam pendurados na gola da camisa e os
colocou – Onde estão Jasmine e Sandra?
— Foram à praia. – respondi.
— Ótimo, estou indo para lá.
E sem esperar que eu dissesse algo, se afastou quase tão rápido quanto
o The Flash. Eu olhei para Hannah que continuava de pé no mesmo lugar sem
se mover e sem dizer uma palavra. O silêncio começou a ficar esquisito e
percebendo que ela era tímida demais para falar alguma coisa, eu tive que
tomar a iniciativa. Enquanto meu cérebro estivesse distraído com algo, eu não
ficaria pensando no quanto eu gostaria de levá-la para a cama.
— Sente-se, Hannah. – indiquei a cadeira onde anteriormente Caleb
estava sentado – Aproveite um pouco do sol, ficar trancada no quarto não é
muito saudável.
— Estava descansando um pouco e falando com minha irmã.
— Então você também tem uma irmã.
— Sim.
Agora eu estava conhecendo um pouco dela, Hannah era de Long
Island e tinha uma irmã. O que será que ela costumava fazer quando estava
de folga? Bem, eu costumava transar com mulheres lindas dos mais
diferentes tipos e devia confessar, nenhuma delas me atraiu tanto num
primeiro momento quanto a ruiva que estava sentada ao meu lado.
Isso não era bom. A última vez que algo assim acontecera, eu
descobri que a mulher estava me traindo. Eu tinha me sentido imediatamente
atraído por Susan, em pouco tempo estávamos namorando e quando
estávamos perto de nos casar, eu descobri que tinha entregado meu coração e
recebido em troca um par de chifres.
— Ela é mais nova que você? – continuei a conversa porque seria
muito pior cair novamente no silêncio constrangedor.
— Cecile tem doze anos.
— Vocês são muito próximas?
Hannah me olhou e eu pude notar que seu semblante mostrava
confusão. Obviamente ela não esperava que eu tentasse manter uma conversa
porque nunca fui muito receptivo.
— Somos. Eu me sinto um pouco responsável por ela.
— Também me senti assim por um bom tempo em relação à minha
irmã, ela também é mais nova que eu, mas depois que se casou, não tive mais
o que fazer.
Eu estava abrindo demais sobre minha vida para Hannah. Não
costumava falar muito sobre assuntos pessoais, ninguém conhecia muito em
relação a isso, apenas Caleb. Ele sabia que eu era Kevin Walsh, o herdeiro do
império Walsh e que trabalha como piloto apenas por gostar, e não por
necessidade. Depois do que acontecera com Susan, eu me reservava ainda
mais sobre quem eu era. Certamente eu não seria o cofre de ninguém.
— Ainda faltam alguns anos para Cecile se casar.
— É claro. – concordei e decidi mudar de assunto antes que a
conversa ficasse ainda mais pessoal – Já se recuperou totalmente do que
aconteceu em Londres?
— Sim. – assentiu – Eu nunca mais quero ir a um bar.
Se fosse outra pessoa, eu daria risada. Era a típica frase de quem
exagerava na bebida, passava mal no dia seguinte e depois se arrependia
dizendo que nunca mais voltaria a beber, mas vindo de Hannah, que
claramente não tinha o hábito de tomar bebidas alcoólicas e frequentar esses
lugares, eu realmente acreditava.
Peguei o celular e olhei a hora. Estava com fome e já era a hora do
almoço.
— Podemos ir até a praia procurar os outros e talvez almoçarmos
todos juntos. – sugeri.
Ter outras pessoas em volta seria um alívio. Ficar sozinho com
Hannah estava se provando uma tarefa complicada para mim. Primeiro em
Londres, que eu só não ultrapassei os limites da minha própria regra porque
ela estava bêbada, mas aqui no Caribe, com Hannah sóbria e consciente, ficar
ao lado dela e me manter controlado era uma missão quase impossível.
Eu tinha de dar um jeito nisso.
Descemos até a praia em completo silêncio, mas em minha mente
parecia que estava acontecendo a parada do Dia de Ação de Graças. Milhares
de pensamentos iam e vinham e todos terminavam com Hannah gemendo
debaixo de mim, meu rosto enterrado naqueles cabelos ruivos que, naquela
noite em Londres, eu pude sentir o quanto eram macios.
Nunca tinha sido um cara religioso, mas acreditava em Deus e nesse
momento, eu sabia que Ele era o único a quem eu podia recorrer e rezar para
que tudo isso saísse da minha cabeça.
— Caleb disse que eles estariam na praia. – falei para quebrar o
silêncio e tentar afastar esses pensamentos – O grande problema será
encontrá-los aqui, essa época do ano ela fica bem cheia.
— Jasmine e Sandra não me disseram para onde iriam.
— Elas nunca dizem, principalmente Sandra. Essa daí tem ideias
loucas.
— Acho que já percebi.
Caminhamos por mais alguns metros. Hannah observava tudo à nossa
volta e parecia encantada. Provavelmente ela nunca tinha vindo ao Caribe.
Enquanto estava distraída, tirei um tempo para admirá-la. Seus olhos azuis
estavam ainda mais claros por conta da iluminação, sua pele branca ficara um
pouco rosada principalmente no rosto e pude notar que ela tinha pequenas
sardas no nariz.
Nunca tinha me dado conta disso, talvez por conta da maquiagem que
ela sempre usava para trabalhar, além do mais, isso nunca me chamara a
atenção em uma mulher, parecia algo comum, mas em Hannah, esse pequeno
detalhe a deixava ainda mais bonita.
— Acho melhor eu tentar ligar para o Caleb. – falei antes que eu
perdesse totalmente o controle.
Tateei o bolso como se minha vida dependesse disso, e talvez,
dependesse mesmo. Eu precisava de companhia, precisava de mais pessoas
conosco, porque ficar sozinho com ela estava sendo muito perigoso. Hannah
nem fazia ideia do que causava em mim porque eu não deixava transparecer,
então ela agia de maneira inocente e totalmente alheia ao meu lado.
Procurei o número de Caleb e tentei ligar, mas a ligação foi direto
para a caixa postal. Praguejei e tentei mais uma vez, não tendo sucesso
novamente.
— Acho que ele não está com o celular.
— Sandra e Jasmine também não. Eu vi o telefone delas no quarto.
Merda!
Eu não podia dispensar Hannah aqui no meio da praia sem mais nem
menos. Então avistei um restaurante próximo a nós. Quando olhei para ela
novamente, sua atenção estava focada no mar e de maneira automática, baixei
meus olhos para o seu corpo. Hannah tinha peitos lindos, fartos e aquele
biquíni só fazia ressaltá-los ainda mais. Imaginei como seria vê-los
totalmente descobertos.
Já estava sem limite, meus pensamentos estavam fora de controle.
Eu tinha que lidar com isso e encontraria uma maneira para que
jamais pudesse ceder à tentação.
Voltei a me concentrar no restaurante à beira-mar que parecia ser um
bom lugar.
— Acho que não vamos encontrá-los. Vamos até aquele restaurante
ali e almoçar.
Capítulo 11
HANNAH

Tudo estava bem estranho.


Conversar com Kevin à beira da piscina não era o que eu imaginava quando
cheguei ao Caribe. Ele sempre foi muito fechado, parecia não querer muito
contato comigo. Agora tínhamos caminhado pela praia e depois de não
encontrar nossos companheiros, ele me chamara para almoçar.
Observei o restaurante no qual entramos. Era bastante sofisticado e
meu primeiro pensamento foi no valor dos pratos. Eu teria dinheiro para
pagar? Havia trago meu cartão internacional para o caso de emergências, mas
infelizmente o limite para compras não era muito alto e dependendo do valor
da conta, isso iria comprometer uma boa parte desse limite. Tentei fazer a
conversão da moeda local para o dólar, mas eu não fazia ideia da taxa de
câmbio.
Enquanto eu me preocupava, Kevin parecia agir com naturalidade
diante do restaurante chique.
— Buenas tardes, señores. – disse o anfitrião local.
— Buenas tardes. – Kevin respondeu em um espanhol que para mim
era impecável.
— São americanos? – o rapaz perguntou deixando a língua nativa de
lado, o que devia ser padrão naquele lugar ao lidar com estrangeiros.
— Sim. – respondeu e eu apenas observava ainda preocupada por
estar entrando ali.
— Mesa para dois?
Kevin só confirmou com um aceno de cabeça e fomos guiados até
uma mesa próxima aos limites do restaurante. Ele era como uma grande tenda
e aberto por todos os lados, o chão era feito de tábuas corridas e era cercado
por um parapeito todo de madeira. Nos acomodamos em uma mesa quadrada,
também de madeira, com dois jogos americanos cor de telha. A cadeiras eram
feitas de vime e combinavam com todo o ambiente. Estávamos com uma
vista toda para a praia e eu podia sentir a brisa nos cabelos.
Fiz um coque para manter os fios no lugar e não me atrapalharem e o
garçom entregou um cardápio para cada um. Kevin estava sentado à minha
frente e imediatamente começou a escolher o que queria. Ele ainda não tinha
falado nada desde que decidira vir almoçar e eu não sabia o que dizer para
quebrar o silêncio. Ficar ao lado dele era uma tarefa complicada para mim
porque eu não tinha ideia de como agir e acabava ficando envergonhada.
Kevin não era o cara que se envolvia com alguém do trabalho e pelo visto
nem uma amizade comigo ele pretendia ter visto que parecia querer se manter
o mais distante possível.
Esse almoço deve ter sido a única solução que ele encontrou, já que
não conseguimos localizar os outros e já que ele tinha me feito vir até a praia,
precisava lidar com a obrigação da minha companhia.
Abri o cardápio devagar com medo de ver os valores. Havia uma lista
com uma enorme diversidade de pratos, a maioria deles feitos de frutos do
mar. Ao lado, os preços me chocaram. Eu nunca tinha ido a um restaurante
onde a comida fosse tão cara. Levantei o olhar e Kevin continuava recostado
na cadeira bastante tranquilo percorrendo a lista de opções com o olhar.
Ele deve ter percebido que eu o observava porque levantou a cabeça e
seus olhos verdes encontraram os meus.
— Está em dúvida do que pedir? – sua voz quebrou o silêncio entre
nós – Quer que eu peça uma sugestão ao garçom?
— Ah, não... – balancei a cabeça negativamente.
— Não gostou do lugar?
— É lindo! – olhei para o lado e admirei a vista – Olha só essa
paisagem.
— Bem, então vamos pedir algo. Acho que vou escolher uma salada
para entrada, essa com folhas verdes e molho de coco balsâmico parece
interessante.
Imediatamente eu olhei para o menu e procurei a opção que Kevin
havia dito. Para uma salada aquele valor era bem fora do normal. O que eu ia
fazer?
— Você parece estar em dúvida, Hannah. Posso pedir o mesmo para
você, então?
Apenas assenti. Pelo visto pagar essa conta iria me fazer abrir mão de
algumas coisas, mas não seria o fim do mundo. Kevin continuou a olhar o
cardápio e eu decidi fazer o mesmo. Teria que pedir um prato principal, então
decidi procurar um mais barato.
— Ficarei com o camarão caribenho como prato principal.
Eu já tinha visto o valor desse prato, embora me parecesse apetitoso,
estava fora dos meus padrões. Decidi escolher o prato vegetariano que era a
escolhe do chef. Tinha um valor bem acessível já que não levava nenhum
tipo de carne.
— Eu vou escolher o prato vegetariano. – falei.
— Você é vegetariana, Hannah? – Kevin me olhou, parecia um pouco
surpreso com minha escolha.
— Não.
— É melhor escolher outra coisa, já tem folha demais no prato de
entrada, não acha? É alérgica a camarão?
— Não.
Na verdade, eu adorava camarão, mas escolher um prato desses era
algo bastante caro nesse restaurante, que provavelmente era voltado para
turistas.
Kevin chamou o garçom e antes que eu pudesse dizer alguma coisa,
ele fez os pedidos. Pediu dois pratos de salada como prato de entrada e dois
pratos de camarão caribenho como prato principal. Eu queria dizer que não,
mas estava sem graça demais. Era estranho para mim ser diferente dos outros
integrantes da tripulação. Todos saíam, se divertiam a gastavam dinheiro
quando queriam. Já no meu caso, cada dólar era precioso demais para ajudar
minha tia com todas as contas.
O garçom anotou os pedidos e Kevin aproveitou para pedir um vinho
branco para acompanhamento. Eu tinha decidido parar de beber, mas uma
taça não faria mal. Preferi nem olhar o valor dessa bebida, isso só me deixaria
mais tensa.
Kevin pegou o celular para olhar e eu fiquei observando o mar. Tudo
parecia surreal. Estar aqui acompanhada dele ainda era estranho para mim.
Sei que a intenção de Kevin não era almoçar sozinho comigo e sim com
todos os outros. Eu estava me sentindo um peso.
Era melhor não pensar nisso e focar no belo lugar em que eu estava.
O Caribe era lindo em fotos, mas me surpreendeu ainda mais porque
pessoalmente ele era deslumbrante. As águas eram claras, o sol refletia e
pareciam pequenos cristais em sua superfície. O clima era extremamente
agradável, estava quente e muito diferente de Nova York nessa época do ano.
Que privilégio poder estar aqui aproveitando e eu desejei muito que minha tia
e Cecile também tivessem essa oportunidade.
Infelizmente, não dava para fazer isso com meu salário de comissária
e com todas as contas para pagar e pelo visto me tornar uma maquiadora
profissional e de sucesso estava fora do meu alcance.
— Está gostando do Caribe, Hannah? – eu virei novamente para olhá-
lo.
— Sim, acho que é impossível não gostar.
— Já tinha conhecido?
— Não, nunca tinha saído do país antes de me tornar comissária
internacional.
O garçom interrompeu a conversa quando chegou com o vinho. Ele
abriu a garrafa e despejou o líquido dentro das taças sob o olhar avaliador de
Kevin. Nesse momento que eu pude notá-lo melhor. Seus olhos verdes
estavam mais claros, os cabelos castanhos e lisos voavam de acordo com a
brisa e estavam um pouco bagunçados, um visual bastante despojado. A
camiseta branca marcava bem seus músculos e eu pude notar o quanto seu
peitoral era largo e seus braços fortes. Os óculos escuros foram pendurados
na gola da mesma e pela primeira vez eu via Kevin vestido tão casualmente.
Ele era um homem lindo e eu me perguntei como seria um abraço
dele. Como seria estar envolta por aqueles braços?
— Obrigado. – ouvi Kevin agradecer ao rapaz e me trazer de volta
para a realidade.
— A entrada será servida em breve, senhor. Espero que apreciem o
vinho. Com licença.
O garçom se afastou e eu olhei para minha taça que estava cheia até a
metade. Eu não costumava tomar vinho, foram pouquíssimas ocasiões em
que eu tive a oportunidade de provar. Kevin pegou sua taça e cheirou o
líquido pela borda. Ele parecia entender pelo menos um pouco sobre vinhos
porque logo em seguida ele tomou um gole e pude perceber que ele estava
degustando.
— Muito bom. – disse finalmente e colocou a taça de volta na mesa –
Prove, Hannah, acho que você vai gostar.
A situação era completamente surreal. Uma hora parecíamos
desconhecidos e hoje estávamos sentados em um restaurante, tomando vinho
e esperando o almoço. Não sei o que isso significava, não sei se estávamos
um pouco mais amigos, até porque, eu percebia que Kevin não estava
confortável.
Tomei um gole do vinho e senti o líquido descer pela minha garganta.
O sabor era diferente, mas não era ruim.
— Não entendo nada de vinhos. – falei deixando a taça sobre a mesa.
— Iria me admirar se você entendesse. Já deu para perceber que você
não gosta muito de bebidas.
— Agora menos ainda, depois do que aconteceu em Londres. Não
quero passar por aquilo novamente.
A sensação no dia seguinte fora horrível e pior do que a dor de cabeça
e o mal-estar, fora o fato de não me recordar de nada. A perda da memória
era algo que eu não queria experimentar de novo. Não saber o que você falou
ou fez era terrível.
— Alguns goles de vinho não tem problema, Hannah. – ele falou
pegando sua taça novamente.
Eu assenti e tomei mais um gole enquanto apreciava a vista do mar.
Não demorou muito até que o garçom viesse com a salada. Estava com uma
cara ótima e quando provei a primeira garfada, senti um sabor diferente, que
nunca tinha experimentado. Suspeitei que fosse o molho de coco balsâmico.
— Isso está uma delícia. Nunca pensei que uma salada pudesse ser tão
saborosa. – comentei.
— Há vários tipos de salada que são bem gostosas, basta usar os
ingredientes ideais. O prato mais simples pode surpreender. – Kevin
comentou com propriedade, parecia que realmente sabia o que estava falando.
— Você cozinha?
A pergunta saiu da minha boca antes que eu pudesse fazer algo a
respeito. A curiosidade me rondava quando o assunto era Kevin Walsh e
embora eu soubesse que estávamos longe de sermos amigos, esse almoço e
essa conversa casual me fizeram criar coragem e perguntar.
— Sim, mas não tanto quanto gostaria. Passo muito tempo fora de
casa, quase nunca vou ao supermercado comprar tudo que preciso para fazer
um bom prato.
— Eu faço algumas coisas quando estou em casa. Gosto de cozinhar
com minha irmã. – falei mesmo que ela não tenha perguntado.
A conversa terminou porque ouvimos um solo de violino no meio do
restaurante. Kevin e eu imediatamente viramos para ver de onde estava vindo
o som e um rapaz vestido de smoking vinha caminhando por entre as mesas
em direção a uma que estava bem no centro. O homem que estava sentado,
começou a sorrir e levou uma das mãos ao bolso, a mulher à sua frente
olhava totalmente aturdida. Quando ele sacou uma caixinha preta e mostrou
algo que eu suspeitei que fosse um anel, a mulher levou as mãos à boca.
Estávamos presenciando um pedido de casamento. Depois de algum
tempo de música, pude perceber o que o violinista tocava Love Me Tender do
Elvis Presley. Achei um pouco estranho um cara de smoking no calor do
Caribe, em pleno almoço, mas quem era eu para questionar o pedido de
casamento dos outros? Se acontecesse comigo, eu ficaria feliz, assim como a
futura noiva que estava sorrindo e chorando ao mesmo tempo.
Voltei a comer minha salada. Kevin observava a cena, seu rosto
estava sério e parecia incomodado com alguma coisa. Provavelmente ele não
era um cara romântico e não era muito chegado a casamentos. Kevin era um
cara fechado e talvez quisesse passar a vida solteiro.
Tomei mais um gole do vinho e continuei comendo minha salada em
silêncio. Finalmente Kevin se moveu e notei que ele balançou a cabeça de
maneira negativa antes de voltar a comer. Eu não quis comentar nada sobre o
que acontecera e ele também não porque continuou em silêncio até que o
garçom chegasse com o prato principal.
Os camarões estavam muito cheirosos e eu senti meu estômago dar
pulos de alegria. Eu preferi não pensar na conta nesse momento, já que o
prato já tinha sido servido, era melhor que eu aproveitasse.
— Obrigado. – Kevin agradeceu ao garçom.
— Está com um cara ótima. – comentei para quebrar o gelo daquele
momento.
— Tenho certeza que não vamos nos arrepender de ter escolhido esse
prato.
E ele tinha razão.
O sabor do prato estava maravilhoso, os camarões tinham sido fritos
na medida certa, tinham um sabor único e estavam macios e suculentos. Eu
poderia comer essa comida todos os dias e não iria reclamar.
Como eu gostaria que Cecile e tia Eleonor estivessem aqui!
Minha vontade de me tornar uma maquiadora profissional, ter sucesso
com isso e poder ajudar minha tia e minha irmã se tornavam sonhos cada vez
mais distantes e trazê-las ao Caribe também. Algumas vezes eu me sentia
culpada por conhecer tantos lugares lindos enquanto elas continuavam em
Long Island.
Kevin serviu um pouco mais de vinho para ele e para mim. Eu só
tomei mais dois goles antes de terminar meu almoço. Eu dispensei a
sobremesa, tinha comido bastante e estava satisfeita. Kevin escolheu um
mousse de chocolate que estava com uma cara ótima.
Infelizmente, chegou a hora que estava me deixando preocupada:
pagar a conta.
Kevin chamou o garçom que logo trouxe a conta já encerrada. Eu
estava usando uma bolsinha simples onde guardava meu celular e minha
carteira e peguei meu cartão de crédito.
— Relaxe, Hannah, eu vou pagar.
— Não, Kevin. – retruquei – Nós dois comemos, é justo que eu pague
também.
— Fui eu quem decidi almoçar aqui, eu te convidei, portanto fique
tranquila que eu vou pagar.
O tom de voz dele deixava claro que não queria ser contrariado e eu
apenas me limitei a guardar novamente tudo dentro da bolsa. Kevin pegou
seu próprio celular e fez o pagamento da conta online. Eu nunca soube
exatamente quanto um piloto internacional ganhava, mas sem dúvidas ele
parecia confortável o suficiente para pagar um valor que devia ser bem alto.
Kevin não devia ter muitas despesas pessoais, devia sobrar bastante
do seu salário para ele se permitir esses luxos. Levantamos e decidimos voltar
para o hotel, onde poderíamos ver se encontrávamos os outros.
Voltarmos para a área da piscina. Viemos todo o caminho em pleno
silêncio. Kevin parecia ter voltado a ser o cara de antes, calado e distante que
não estava muito afim de conversar. Eu apenas me mantive calada também e
assim que vi uma espreguiçadeira vazia, eu me sentei. Por enquanto, nenhum
sinal de Caleb, Sandra ou Jasmine.
O sol do Caribe era maravilhoso, nem um pouco parecido com o de
Nova York. Talvez fosse loucura já que éramos iluminados pelo mesmo sol,
mas o clima em cada região era diferente. Essa brisa fresca ajudava a
equilibrar o calor e eu me recostei tranquila na cadeira e estiquei minhas
pernas. Coloquei a bolsa de lado e prendi os cabelos em um coque
novamente.
Kevin continuava em silêncio também sentado em uma das
espreguiçadeiras e com os óculos escuros que pareciam servir de um bloqueio
não só de raios solares, mas de pessoas. Ele estava fechado em si mesmo e eu
não iria interromper. Embora tivéssemos almoçados juntos, eu não me sentia
nem um pouco próxima deles.
Peguei meu celular e vi que havia uma mensagem de Niels.
“Boa tarde, Hannah. Quando seu trabalho lhe trará de volta à
Dinamarca?”
“Eu não sei. Dessa vez estou em Punta Cana. Pegamos um voo extra.”
Não demorou muito até que ele respondesse. Eu não estava
interessada em Niels, mas ele poderia ser um grande amigo.
“Só posso te invejar. Ficar nesse frio de Copenhague não é nem um
pouco agradável.”
“Devo confessar que eu não estou sentindo falta do frio da Europa.”
“Seria ótimo poder aproveitar o sol do Caribe com você.”
Fiquei sem saber o que responder e acabei deixando o celular de lado.
Eu não queria nenhum relacionamento com Niels, mas ele parecia um cara
legal e poderia ser um bom amigo. Precisava dizer a ele, mas como? Não
queria parecer grossa. Nunca fui de ter muitos relacionamentos, tive um
namorado por dois anos e só. Depois dele, vieram muitos problemas e eu
deixei minha vida amorosa de lado.
— Oi, Hannah. – ouvi a voz de Caleb atrás de mim.
Tirei as costas da cadeira e me sentei de lado dando de cara com ele
parado próximo a mim com as mãos no bolso lateral da bermuda.
— Oi, Caleb. – cumprimentei.
— Onde vocês estavam? – perguntou, mas dessa vez olhando para
Kevin.
— Fomos almoçar. – ele respondeu – A propósito, onde vocês
estavam? Procuramos por vocês na praia.
— Encontramos um restaurante legal, acabamos de voltar de lá.
— Onde estão as meninas? – perguntei.
— Jasmine foi para o quarto e Sandra foi buscar uma bebida.
Logo ela chegou com algo que eu suspeitei ser um drinque com um
guarda-chuva amarelo na borda da taça. Ela sorriu para mim e se sentou ao
meu lado na mesma cadeira que eu.
— Onde estavam? – perguntou.
— Procuramos vocês e como não achamos, fomos almoçar. –
respondi.
— Ah, que pena! Devia ter levado meu celular para avisar a vocês. –
ela se virou para Kevin – Fomos a um restaurante legal, podemos jantar lá,
que tal?
— Pode ser.
— Que ótimo! – vi Sandra dar um gole em seu drinque e colocar em
uma mesinha que tinha ao lado de todas as espreguiçadeiras – Vou entrar na
água.
Ela se levantou e caminhou até a borda. Sandra era loira, um pouco
mais alta que eu e muito bonita. Sei que Kevin recusou suas investidas, o que
só deixava mais claro que ele evitava a todo custo se envolver com pessoas
do trabalho. Acho que dificilmente algum homem diria “não” para ela.
— Você também deveria entrar na água, Hannah. Aproveite a piscina.
Caleb tinha razão. Eu deveria aproveitar. Estava sol, estávamos em
Punta Cana e seria loucura não entrar na água pelo menos uma vez. O único
problema é que eu estava envergonhada por ficar de biquíni na frente de
pessoas com quem eu trabalhava. Não que eu tivesse vergonha do meu corpo,
mas porque era estranho mostrar tanto assim. Respirei fundo e criei coragem.
Fiquei de pé e tirei a saia ficando apenas com o biquíni. Por sorte,
Caleb não comentou nada. Ele era capaz de fazer alguma piadinha, por outro
lado, Kevin jamais falaria alguma coisa. Fui para a piscina sem olhar para
nenhum dos dois e me sentei na borda colocando os pés na água. A
temperatura estava deliciosa, por sorte não estava muito gelada e seria ótimo
para aproveitar.
— Que bom que criou coragem, Hannah. – Sandra se aproximou de
mim caminhando dentro da piscina.
— Seria um desperdício não aproveitar.
— Ei, Kevin! – Sandra balançou o braço para chamar sua atenção e
respingou um pouco de água em mim – Por que não aproveita a água
também?
— Estou bem aqui, Sandra.
Kevin respondeu de maneira séria, eu olhei para trás e ele ainda
estava usando seus óculos escuros e continuava na mesma posição de antes.
Recostado na cadeira, com as pernas cruzadas com um tornozelo por cima do
outro.
Ao seu lado, Caleb parecia estar achando graça de alguma coisa, mas
eu não fazia ideia do que era. Provavelmente ambos tinham piadas que só
eles entendiam.
Capítulo 12
KEVIN

Eu poderia xingar o destino de todas as formas possíveis.


Dentre tantas mulheres no mundo, ele fizera o favor de colocar uma ruiva
espetacular para trabalhar comigo e me fazer questionar se a minha regra era
mesmo a melhor decisão.
Não fora fácil almoçar com Hannah, tê-la de frente para mim com
aqueles lindos olhos azuis, lábios perfeitos, os seios apertados naquele
biquíni rosa, seu olhar enquanto admirava o mar, tudo aquilo me perturbou,
mas nada se comprava à cena que eu estava vendo à minha frente.
Hannah tinha tirado a saia e estava apenas de biquíni sentada na borda
da piscina. Eu quase acreditei que poderia ter uma parada cardíaca e não
estava exagerando. Sandra me chamou para aproveitar a água, mas seria
impossível levantar excitado como eu estava. Caleb ria ao meu lado porque
sabia que Hannah estava me afetando.
Por sorte os óculos escuros me ajudavam e disfarçavam meu olhar
que eu não conseguia desviar. Hannah tinha a cintura fina, a bunda redonda e
do tamanho perfeito, seios grandes que eu adoraria por as mãos e até sua nuca
era bonita, que eu podia perceber já que ela tinha amarrado os cabelos ruivos
em um coque.
— Tudo bem, Kevin? – Caleb estava tirando uma com a minha cara.
— Vai se foder. – respondi sem sequer olhá-lo.
— Vamos até o bar, você está precisando.
Levantei junto com ele e fomos até um dos bares da piscina. Sentei no
banco e pedi uma cerveja ao barman. Caleb também pediu uma e assim que
as garrafas fecharam, eu tomei um gole.
— Você deveria parar com essa regra idiota de não ficar com
mulheres que trabalham com você. – ele disse.
— Quero evitar problemas, Caleb.
— Olhe para si mesmo, Kevin. Você acha que está evitando alguma
coisa?
Ele tinha razão.
Eu estava me impondo uma regra que até agora tinha funcionado, mas
quando Hannah apareceu, tudo mudou. Cada vez que ela aparecia, eu sentia
que precisava fugir, tinha de olhá-la o menos possível, não a deixava perto de
mim e agora, olhando-a de biquíni, desviar o olhar era quase uma tortura.
Queria poder tocá-la, queria poder tê-la mais perto de mim e conhecer
Hannah mais profundamente. Havia algo de especial nela, eu só não sabia o
que era porque não havia me dado a oportunidade. Será que meu interesse era
recíproco? Será que Hannah também tinha decidido não se envolver com
alguém do trabalho? Que merda eu deveria fazer a respeito dessa necessidade
que eu estava sentindo?
Tomei mais um gole da minha cerveja para tentar esfriar minha
mente.
— Acho que você já tem sua resposta. – Caleb falou diante do meu
silêncio.
— Não sei o que fazer, cara. Só preciso respirar, vou dar uma volta na
praia.
Entrei no quarto logo após o pôr-do-sol e encontrei Caleb sentado na
cama vendo um filme na TV. Ele logo deixou de prestar atenção no que
assistia e me olhou. Me joguei na poltrona e suspirei.
— De tanto que você caminhou, achei que fosse parar no Canadá.
— Para um copiloto você não sabe nada de geografia. Deveria saber
que isso seria impossível de fazer caminhando.
— Meu Deus, Kevin, isso foi uma piada! Que merda de mau humor. –
ele se ajeitou na cama e sentou colocando os pés no chão.
— Não estou afim de brincadeiras, Caleb.
— É fácil dar um jeito nisso! Vai lá, investe na Hannah. Chama ela
pra sair, quem sabe rola algo?
Eu poderia ceder à tentação, já estava quase decidindo isso quando
aconteceu aquele pedido de casamento no restaurante e veio à tona
lembranças da noite do meu aniversário de namoro com Susan onde eu
também pedi que ela se casasse comigo acreditando que era o certo e que
passaríamos a vida juntos. Mesmo depois de anos namorando, eu não a
conhecia de verdade e me deixei ser enganado.
Hannah não parecia ser esse tipo de mulher, mas eu acreditaria?
Susan no começo também era meiga, sensível e romântica, mas no fim das
contas se provou totalmente o contrário. Eu não iria fechar os olhos
novamente. Errar uma vez é humano, na segunda é burrice.
— Já vi que não vai rolar. – Caleb quebrou meu silêncio.
— Cara, eu decidi que ficaria solteiro, aproveitaria a vida e de
preferência, não deixaria novas pessoas saberem quem eu sou.
— Se Hannah ficasse com você, ela ficaria por causa do seu dinheiro?
Não! Justamente porque ela acredita que você é só um piloto de avião. – ele
se levantou e foi até o frigobar – Se permita viver, Kevin. Para de ficar à
sombra do que aconteceu entre você e Susan.
Decidi não responder e fui para o banheiro tomar um banho. Acho
que fiquei mais de meia hora trancado lá pensando no que fazer com a
imensa vontade de sentir Hannah nos meus braços. Tudo era tão mais fácil
quando ela não estava na tripulação!
Quando saí, Caleb continuava na cama vendo o filme, mas desviou
sua atenção novamente para mim.
— Sabe, Kevin, talvez você não tenha se dado conta, mas pode acabar
perdendo a oportunidade de estar com uma garota legal. – ele se levantou e
foi para o banheiro logo em seguida.
Eu não queria ficar pensando nas filosofias de Caleb, então decidi me
vestir logo e ligar para minha irmã e perguntar como tinha sido o batizado do
meu sobrinho.
— Oi, irmão desnaturado. – ouvi sua voz, mas pelo tom não era um
bronca e sim uma brincadeira.
— Eu sei que estou em falta com você. – logo me desculpei porque
sabia que Alicia não deixaria isso de lado – Liguei para saber como foram as
coisas.
— Correu tudo bem. Foi ótimo ver Niall e Lizzie como os padrinhos
do Luca, a cerimônia foi linda! – pude notar o quanto ela estava contente e eu
queria muito ter participado de tudo.
— Assim que eu chegar a Nova York, vou até seu apartamento.
Vamos combinar algo legal para fazermos juntos.
— Adoraria ficar animada, Kevin, mas só acredito quando acontecer.
— Você leva pouca fé em mim.
— Ah, a Lizzie agora veio para ficar definitivamente. Já estamos
começando o projeto. – eu podia ouvir a animação na sua voz.
— Quero que me conte tudo com detalhes depois.
— Kevin, não esqueça que neste próximo fim de semana é a festa da
empresa e nosso pai está exigindo a sua presença. Você sabe como ele é.
Detestava essas festas, mas como eu ficava muito tempo longe de
família, eu cedia para estar com eles nesses momentos e deixar meu pai
satisfeito. Era a oportunidade que eu tinha de estar junto com todos, inclusive
tios e primos.
— Tudo bem, Ali.
— Agora preciso desligar, tenho que dar um banho do Luca.
— Eu te falo quando estiver na cidade.
Havia uma série de mensagens de mulheres que perguntavam por
mim. Algumas diziam que eu estava sumido, outras já perguntavam quando
eu estaria livre e outras diziam estar com saudades. Não respondi a ninguém,
apenas uma mensagem de Jensen me chamando para uma bebida.
“Não estou em NY no momento, mas chegarei ainda essa semana e
marcamos alguma coisa.”
Coloquei o celular no bolso e fiquei olhando para o filme que Caleb
deixara passando na TV. Eu não estava prestando atenção de fato, minha
mente estava focada em outra coisa. Imagens de Hannah de biquíni
apareciam em minha mente sem permissão. Nunca me senti tão sem fôlego e
aturdido como dessa vez.
Hannah cada vez estava me surpreendendo mais. Tudo que eu
imaginara por debaixo daquele uniforme de comissária, a realidade me
provou ser ainda melhor. Podia lembrar claramente daquela cintura fina, do
quadril arredondado, do jeito que ela caminhara até a beirada da piscina.
Mesmo com todo o sol, eu sabia que meu suor tinha outro motivo.
Pela primeira vez eu torci para não ficar excitado vendo uma mulher.
Só para constar, eu falhara miseravelmente.
— Vamos procurar um lugar para jantar. – Caleb me tirara dos meus
pensamentos quando saiu do banheiro.
Era melhor mesmo eu dar umas voltas e esfriar a cabeça. Descemos e
decidimos jantar em um dos restaurantes na beira da praia. Por sorte ele não
teve a ideia de falar com as meninas porque eu não estava pronto para
encontrar com Hannah agora.
Eu sabia que estava vulnerável, que ela estava mexendo comigo muito
mais do que eu gostaria de admitir, então ficar perto dela no momento não
seria o ideal.
— Esse restaurante aqui parece legal. – Caleb apontou para um
restaurante menor do que o lugar onde eu almoçara.
Fomos recebidos pelo anfitrião que nos levou até uma mesa perto do
canto onde era possível ver a praia. Dessa vez eu me sentia muito mais à
vontade, afinal, Caleb era meu amigo. Almoçar com Hannah fora um grande
teste de resistência onde eu poderia ter perdido.
— Tem umas coisas legais para fazer aqui.
— Estava pensando em aproveitar o mar amanhã. – falei – Morar em
Manhattan me deixa longe desses prazeres da vida.
— Combinei com Jasmine e Sandra de irmos ao Cenote Hoyo Azul,
procuramos na internet.
— O que é isso? – perguntei porque nunca tinha ouvido falar.
— Uma caverna com águas cristalinas.
— Parece interessante, mas acho que terei que dispensar dessa vez.
Talvez eu procure algum lugar para mergulhar, tem tempo que não faço.
O garçom nos cumprimentou e sugeriu alguns pratos. Escolhemos
cerveja e uma salada com frutos do mar e diversas verduras. Recostei na
cadeira e cruzei os braços enquanto esperava pela cerveja. Caleb pegou o
própria celular para dar uma olhada.
Por sorte o jantar tinha sido tranquilo e eu consegui distrair minha
cabeça, mas à noite, quando me deitei, não consegui dormir. Revirei na cama
por quase uma hora até que desisti. Estava agitado, minha mente me traía
criando imagens que eu não queria.
Afastei os lençóis e troquei minha roupa colocando uma calça jeans e
uma camiseta. Eu precisava dar umas voltas, ficar trancado no quarto olhando
para o teto e me sacudindo na cama não adiantaria de nada. Calcei um
chinelo e desci para a área externa do hotel. Já era pouco mais de meia-noite
e tudo estava em silencioso, diferente de algumas horas atrás. Essa calmaria
já me dava paz.
Acabei indo parar na área da piscina e para minha surpresa eu não
estava sozinho.
Ao fundo, de pé e olhando para o horizonte, eu pude ver uma cortina
de cabelos ruivos que se moviam de acordo com o vento. Não sei que tipo de
peça o destino estava pregando em mim. Já era madrugada, grande parte das
pessoas estavam dormindo e vir até aqui fora era algo incomum.
Por mais que meu cérebro gritasse para que sair dali o mais rápido
possível, quando me dei conta, minhas pernas já estavam me levando em
direção à Hannah. Ela continuava de pé olhando para a praia que estava lá em
baixo, com o silêncio era possível ouvir as ondas do mar e o som era bastante
relaxante. Eu me aproximei devagar, não queria assustá-la, afinal, pensava
que estava sozinha.
À medida que me aproximei mais, com a brisa contra meu rosto, pude
sentir o leve perfume dela. O aroma era delicioso, suave e ao mesmo tempo
marcante. Combinava muito com ela.
— Hannah. – tentei chamar da maneira mais calma possível.
Embora eu tivesse usado um tom de voz baixo, ela se assustou e se
virou imediatamente. Pude ver seu olhar assustado mudar para aliviado e um
pouco surpreso. Sei que ela não esperava que eu estivesse ali e sinceramente,
nem eu. Havia algo de diferente nela. Seu rosto iluminado pelas luzes da área
externa mostrava que ela estava sem maquiagem. Ao contrário de muitas
mulheres, Hannah continuava com a mesma beleza que eu conheci.
— Oi. – pude notar que ela respondeu um pouco tímida.
— Desculpe te assustar. – coloquei as mãos nos bolsos dianteiros da
calça e me aproximei do parapeito onde era possível ver a praia lá embaixo –
Bela visão.
— Sim. – respondeu – Acho que nunca vi o mar desse jeito.
— O que faz aqui fora a essa hora, Hannah?
Quando o assunto era Hannah, eu deixava a curiosidade me levar e
queria saber cada detalhe da vida dela, por menor que fosse. Cada vez estava
ficando mais difícil lidar com o desejo dentro de mim que só parecia
aumentar.
— Não consegui dormir. Acho que é o fuso horário. – ela olhava para
o mar, mas em seguida virou a cabeça para me olhar – E você?
— Também não consegui dormir, mas não por conta do fuso horário.
Meu problema era muito pior do que um relógio. Ele tinha nome e
sobrenome e atendia por Hannah Davis. A proximidade com ela estava me
deixando nervoso e eu sentia que meu corpo parecia gritar. Coloquei as mãos
sobre o parapeito antes que eu as colocasse sobre ela. Pensar em Hannah
debaixo do meu corpo estava se tornando algo corriqueiro. Lutar contra isso
era doloroso, em muitos sentidos.
Será que valia a pena manter a minha regra? Será que seria ruim ficar
com Hannah?
— Já quis muito algo que não pudesse ter? – a pergunta saiu antes que
eu pudesse pensar mais a respeito.
— Muitas coisas. – ela respondeu e me surpreendeu.
— Tipo o quê? – foi inevitável perguntar.
Eu me virei para Hannah e encostei meu quadril no parapeito. Ela fez
o mesmo movimento e virou de frente para mim. Ela estava usando um
vestido simples branco com flores estampadas e uma manga curta. O decote
não era grande, mas o suficiente para captar minha atenção. Eu tinha certeza
de que ela tinha seios lindos.
— Sempre quis ser maquiadora profissional. – ela desabafou
mantendo os olhos azuis, agora mais escuros, em mim – Infelizmente nunca
pude pagar pelo curso e nem pelos produtos. A vida acabou me levando a ser
comissária e cá estou.
Seria egoísta da parte de mim estivesse agradecendo por ela ser
comissária? Foi graças a isso que Hannah apareceu.
Tínhamos vidas completamente diferentes. Enquanto ela sofria com
dificuldades de não poder realizar o sonho por conta da falta de dinheiro,
desde que nasci isso nunca fora um problema. Tudo que eu queria era
possível ter. Conheci vários países muito antes de me tornar piloto, pude
estudar nas melhores escolas do país e fazer todos os cursos que queria.
Poucas pessoas tinham essa oportunidade e eu sabia que era
privilegiado.
— Mas você gosta de ser comissária, certo?
— Sim. Gosto do trabalho e poder conhecer outros países é
maravilhoso.
Havia uma simplicidade nela. Algo que me dizia que Hannah não era
igual às muitas mulheres que eu conhecia. Seu olhar dizia tanto que me fazia
acreditar que ela era uma pessoa incrível. Uma mecha de cabelo foi soprada
para a frente do seu rosto e num movimento involuntário, eu usei meus dedos
para afastá-la. Hannah se surpreendeu com minha atitude e até mesmo eu,
porém não tinha mais como voltar atrás.
Olhei para seus lábios, os contornos perfeitos que me convidavam a
beijá-los. Hannah continuava me observando e eu esperei que ela tivesse
alguma reação contrária ou que se afastasse, mas ela permanecia ali me
observando. Dei um passo a frente, meu coração batia mais rápido como há
muito tempo eu não sentia perto de uma mulher.
Hannah também deu um passo à frente e isso foi tudo que eu
precisava para soltar o último fio que me segurava. Coloquei minha mão em
sua nuca e me aproximei devagar da sua boca. Quando toquei meus lábios
com os seus tive a certeza de que não teria mais volta. Hannah colocou as
mãos sobre meus braços e eu deixei que minha boca descobrisse a dela.
O beijo foi lento, não usei minha língua de imediato, queria aproveitar
um pouco daqueles lábios antes de me aprofundar mais. Eu podia sentir o
perfume de Hannah me envolvendo, meus sentidos ficando abalados e cada
vez mais envolvidos como o momento. Passei meu outro braço em volta da
sua cintura e a trouxe para mais perto. Hannah também foi ficando mais à
vontade, fomos nos conhecendo e o beijo se tornou um pouco mais voraz.
Deixei minha língua invadir sua boca, deslizar pela dela e sentir o
gosto do seu beijo. Hannah suspirou e eu a pressionei contra meu corpo. Seus
seios estavam contra meu peito, eu podia senti-los e cada segundo com ela
me deixava ainda mais desesperado para tê-la.
Eu precisava ir devagar para não assustá-la. Não queria parecer
afobado. Meu coração batia como se quisesse sair pela boca, mas eu precisei
me controlar. Suspirei antes de lhe dar um beijo calmo nos lábios e me
afastar.
Hannah abriu os olhos e sorriu para mim. Pela primeira vez fiquei
sem palavras.
— Eu não esperava por isso. – foi ela quem quebrou o silêncio.
— Acho que nem eu esperava também.
Olhei para a praia, apoiei as duas mãos no parapeito e respirei fundo.
O mar estava um pouco agitado e as ondas quebravam fazendo um barulho
que ajudou a me acalmar. Hannah ficou quieta. Eu deveria dizer algo.
— Não vou me desculpar por isso, sei que não deveria ter feito, mas
não ia aguentar por muito mais tempo.
— Pensei que você não ficava com pessoas com quem trabalha.
— Às vezes é preciso abrir uma exceção.
Capítulo 13
HANNAH

Quando eu vim aqui fora para pensar um pouco sobre a vida, já que
dormir estava sendo complicado, não imaginei que fosse terminar beijando
Kevin.
No momento em que ele apareceu, já foi uma surpresa. Pensei que
ficaria sozinha e curtiria o som do mar. Kevin começou a puxar assunto e eu
acabei revelando minha vontade de ser maquiadora e as dificuldades
financeiras que me impediam de realizar esse desejo. Por um momento me
senti realmente próxima dele, senti que poderia contar a ele qualquer coisa.
A maneira como Kevin me olhou provocou em mim um misto de
sensações e senti aquele arrepio gostoso pela expectativa. Ele se aproximou
de mim e eu tive a certeza de que iria me beijar. Meu coração batia tão
acelerado que parecia querer sair pela boca. Uma voz em minha mente
repetia “Ele não fica com mulheres do trabalho.”, mas meu corpo todo sabia
que o beijo era inevitável.
Senti seu beijo, seus lábios firmes contra o meu e o calor do seu
corpo. Kevin era musculoso, alto e o perfume que exalava dele me envolvia
mexendo com meus sentidos. Pela primeira vez me senti tão conectada a um
homem e tão sensível ao mesmo tempo. O beijo dele era o melhor que eu já
tinha experimentado, embora não tivesse beijado muitos homens na minha
vida.
Fiquei tão surpresa que não consegui elaborar nada, porque de todas
as pessoas que eu esperava beijar, Kevin era a última. Não por minha causa,
mas por causa do limite que ele colocara em si mesmo. Fiquei desnorteada ao
saber que Kevin me desejava.
Quando nossos lábios se afastaram, eu achei que nesse momento eu
acordaria, mas estava enganada. Era tudo bem real e Kevin ficara em
silêncio. Eu falei a primeira coisa que me veio à cabeça.
— Eu não esperava por isso.
— Acho que nem eu esperava também.
Tenho certeza de que Kevin não tinha planos de me beijar, até porque
ele nunca quis se envolver com ninguém com quem trabalhasse. Não sei o
que acontecera, mas eu tinha de admitir que gostara bastante. Ele olhou em
direção ao mar, talvez tivesse se arrependido. O mar continuava batendo,
suas ondas fazendo barulho e isso era tudo que acontecia no momento.
— Não vou me desculpar por isso, sei que não deveria ter feito, mas
não ia aguentar por muito mais tempo.
— Pensei que você não ficava com pessoas com quem trabalha.
— Às vezes é preciso abrir uma exceção.
Cada vez eu me surpreendia mais. Também olhei para a frente e
foquei no mar. Kevin abrira uma exceção por minha causa. O que isso
significava? O que aconteceria agora na nossa relação? Eu deveria fingir que
nada tinha acontecido e seguiríamos nossas vidas?
— Vamos dar uma volta na praia? – ele sugerira.
Eu apenas assenti e me virei começando a caminhar em direção à
saída do hotel. O vento estava fresco, meu vestido balançava e os cabelos de
Kevin voavam ficando encantadoramente bagunçados. Enrolei meus próprios
cabelos em um coque e comecei a caminhar na areia da praia.
— Não quero que saibam o que aconteceu entre nós. – ele quebrou o
silêncio enquanto andava ao meu lado.
— Eu não vou contar, não se preocupe. – falei – Podemos fingir que
isso não aconteceu.
— Hannah...
Kevin segurou meu pulso me fazendo parar. Virei ficando de frente
para ele. Tínhamos com certeza mais de vinte centímetros de diferença de
altura, então eu precisei levantar o rosto para olhá-lo. Aqueles olhos verdes
tinham um poder incrível, seu semblante estava sério, mas eu não queria me
sentir intimidada. Encararia qualquer coisa que viesse e não teria vergonha de
nada.
— Eu não quero fingir que não aconteceu, além do mais, isso seria
impossível.
Senti seus dedos tocarem minha bochecha. Kevin alisou-o devagar e
eu não resisti em fechar os olhos e aproveitar aquele toque. Ele estava
mexendo comigo, meu coração batia acelerado e eu podia sentir o corpo
quente. O cheiro do mar deixava o clima ainda melhor, minha vontade era de
aproveitar o momento e abraçar Kevin, sentir o calor do seu corpo contra o
meu me protegendo do vento mais forte.
— Hannah, desde que você não queira apagar isso...
— Nunca pensei que de fato fosse acontecer algo, mas não quero
esquecer. – respondi.
Senti novamente os lábios dele contra os meus. Eu me deixei levar e
dessa vez, envolvi meus braços em volta do seu pescoço. Kevin me abraçou
pela cintura, uma de suas mãos subindo pelo meio das minhas costas e
segurando minha nuca me causando um arrepio. Nossas línguas dessa vez
estavam mais familiarizadas, menos cautelosas e nosso beijo mais quente
também.
Fazia tempo que eu não sentia isso com ninguém, meus problemas e
preocupações deixaram sentimentos e desejos de lado, mas Kevin agora os
trouxera de volta com tudo. O beijo dele era maravilhoso, nossas bocas se
encaixavam perfeitamente e eu estava adorando cada segundo.
— Você é linda. – ele sussurrou assim que sua boca se afastou da
minha.
— Obrigada.
— Hannah, não quero que ninguém saiba porque isso pode te
prejudicar de alguma forma. Você acabou de chegar à equipe, ainda é um
período de experiência.
Ele tinha razão.
Minha situação como comissária de bordo em voos internacionais não
estava concretizada teoricamente. Eu estava passando por um período de
testes e tinha total confiança no meu trabalho e sabia que não teria problemas
em desempenhar minha função, porém, me envolver com Kevin poderia ser
um ponto negativo no momento.
— Não vou deixar que ninguém saiba. – falei.
— Vamos continuar sendo profissionais. – seus olhos baixaram para
meu corpo e eu pude notar que ele se demorou no decote do meu vestido –
Mas enquanto isso, vamos aproveitar.
Passamos alguns minutos na praia apenas nos beijando.
Kevin era até um pouco carinhoso, diferente do piloto de avião que eu
conhecia até então.
Em seguida, começamos a caminhar novamente até nos sentarmos na
areia.
Estiquei as pernas para frente e olhei para o mar. Ele continuava
batendo com força, mas o barulho era muito gostoso de ouvir.
— Topa fazer algo comigo de manhã? – Kevin perguntou.
— O quê? – fiquei curiosa e me sentei um pouco de frente para ele.
— Pensei em visitar alguma ilha. – ele me olhou e se aproximou
colocando os lábios nos meus e me dando um beijinho – Tem lugares lindos
aqui, Hannah.
— Tudo bem, eu topo.
— Vamos nos encontrar mais tarde. Vou esperar Caleb sair.
Fomos para o quarto logo em seguida. Ainda no corredor, Kevin me
encostou na parede e me deu um beijo de roubar o fôlego. Entrei no quarto
sorrindo como uma adolescente e dessa vez eu consegui dormir.
Durante a manhã, acordei e pensei que tudo tinha passado de um
sonho, mas quando Sandra me perguntou onde eu estava de madrugada, eu
me dei conta de que tudo realmente acontecera.
— Fui dar uma volta na praia, estava com um pouco de insônia. –
respondi.
— Caleb nos convidou para o Cenote Hoyo Azul, quer ir conosco,
Hannah? – Jasmine me perguntou enquanto secava os cabelos.
— Não, obrigada. Ficarei aqui, acordei com dor de cabeça e não
dormi o suficiente. Prefiro descansar. – dei uma desculpa.
— Não acredito que vai ficar aqui trancada estando num paraíso
desses!
Sandra colocou as mãos na cintura. Ela estava usando um biquíni
laranja e um vestido todo branco por cima. Era uma jovem muito bonita e que
sem dúvidas chamava a atenção, mas que de alguma forma não foi suficiente
para atrair Kevin. O que ele vira em mim então?
— À tarde eu vou dar umas voltas, vou tirar algumas fotos para
mandar para minha irmã.
Ela pareceu não se convencer daquilo, mas eu me mantive firme.
Kevin disse que queria sair comigo e eu estava mesmo muito curiosa para
onde iríamos. Também queria conhece-lo, saber quem era o Kevin fora da
cabine de piloto.
Eu tomei um banho e vesti um biquíni azul turquesa. Não sei
exatamente para onde iríamos, mas trajes de banho no Caribe eram
fundamentais. Coloquei uma saia branca com flores em vários tons de azul e
uma blusinha simples também azul. Não fiz nenhuma maquiagem, apenas
passei um batom clarinho para realçar os lábios. Sandra e Jasmine já tinham
saído, provavelmente Caleb também. Eu fiquei esperando por Kevin.
Os minutos se passaram e ele não dera nenhum sinal. Será que estava
arrependido? Comecei a ficar frustrada. Peguei meu celular e fiquei passando
pelas redes sociais distraída. Meu estômago começou a reclamar já que eu
não tinha tomado café da manhã. Quando eu ia desistir de esperar, ouvi a
campainha do quarto tocar. Seria ele?
Levantei e abri a porta dando de cara com um Kevin ainda mais
bonito do que eu me lembrava.
Ele estava usando uma bermuda bordô e uma camisa branca. Seus
cabelos estavam penteados, porém de um jeito despojado. Um sorriso se
curvou nos seus lábios e cheguei para o lado lhe dando passagem.
— Bom dia, Hannah.
— Bom dia. – eu retribuí seu sorriso – Entra.
Ele passou por mim e esperou que eu fechasse a porta. Logo senti
suas mãos segurando meu rosto entre elas e um beijo apertado em meus
lábios.
— Esperei Caleb sair com Jasmine e Sandra para ter certeza de que
não encontraria nenhuma das duas aqui. – ele se afastou – Já tomou café?
— Ainda não.
— Podemos pedir algo aqui, tem algum problema? Não quero correr
o risco de encontrar com eles lá embaixo.
— Claro. – fui até o tablet acessar o menu – Tem preferência por
alguma coisa?
— Vou deixar que você escolha.
Kevin se sentou na poltrona. Eu escolhi um café da manhã com frutas,
bolo, cereais e suco. Era o que eu mais gostava e acabei pedindo uma omelete
também.
— Vai demorar uns quinze minutos. – falei.
— Bem, quinze minutos é um tempo bom para fazermos algumas
coisas.
Kevin se levantou e veio até mim. Pude notar o ar de predador que ele
tinha. Senti a antecipação do momento percorrer todo o meu corpo. Ele me
puxou pela cintura e nossos corpos se chocaram. O aroma do seu perfume me
envolveu mexendo com meus sentidos. Kevin devorou meus lábios em um
beijo avassalador. Embora eu não tenha tido muitos namorados, estar com ele
era como se todo meu corpo soubesse o que fazer e correspondesse à altura.
Eu não estava envergonhada, pela primeira vez.
Achei que ele fosse me levar até a cama, mas Kevin achou primeiro
uma parede. Seu corpo pressionou o meu, sua mão percorreu a lateral do meu
corpo e eu agarrei seus cabelos arfando. Ele desceu os lábios até meu pescoço
me provocando arrepios de prazer. Suas mãos deslizavam pelo meu corpo,
contornando-o, sentindo cada pedaço e sua mão deslizou por dentro da minha
blusa.
Eu não fiz nada para pará-lo e isso deve ter encorajado Kevin ainda
mais. Ele subiu a mão pela minha barriga, alisando-a, me provocando, em
seguida levou uma das mãos até embaixo do meu seio. Era a primeira vez que
eu chegava nesse nível tão rápido com um homem, mas em relação a Kevin,
eu sentia que era o certo e que não havia problema.
Seu polegar roçou a parte inferior do meu seio, por cima do biquíni.
Eu agarrei ainda mais seus cabelos precisando aliviar aquele desejo de
alguma forma. Kevin me beijou novamente deixando sua língua invadir
minha boca. Eu estava realmente excitada e se ele me levasse para a cama
nesse momento, eu cederia. Eu podia sentir o membro rígido dele marcado na
bermuda e pressionado contra meu corpo, mas Kevin parecia ter outras ideias
porque se afastou de mim depois de morder levemente meu lábio inferior.
Estava desnorteada, abaixei as mãos deixando-as ao lado do meu
corpo e puxei o ar com força para meus pulmões. Kevin me olhava calado,
mas eu sabia que estava tão afetado quanto eu porque era indisfarçável o
volume em sua bermuda.
— Hannah... – ele quebrou o silêncio – Talvez você não tenha ideia
do que é capaz de fazer com um homem.
Eu não era hipócrita de não me achar bonita, mas Kevin era o tipo de
homem que podia sair com qualquer mulher linda, escolher a mim era o que
me surpreendia. Sandra era uma dessas mulheres lindas com quem ele
poderia ter ficado, mas Kevin resistiu durante todo esse tempo.
Mas não a mim.
— E você sabe o que pode fazer com uma mulher?
Nem acreditei que tudo isso tinha saído da minha boca, mas ao ver o
sorriso de Kevin, relaxei. Ele colocou as mãos nos bolsos e foi próximo à
janela do quarto olhando por entre a fresta da cortina. Sentei na beirada da
cama e fiquei quieta.
— Pensei em darmos um passeio de barco. – disse se virando para
mim – Vi na internet que tem um com fundo de vidro e é possível ver
tubarões e arraias. Tem comida e bebida liberada e uma parada em uma
piscina natural.
Parecia incrível e eu jamais me imaginei fazendo esse tipo de passeio.
Havia tantas coisas interessantes que eu poderia conhecer e fazer enquanto
fosse comissária. Para melhorar, Kevin ainda estaria comigo.
— Eu topo esse passeio. – falei.
— Que bom porque eu já tinha reservado nossos lugares.
Kevin deu um sorriso de quem não estava culpado e nessas poucas
horas em que estávamos juntos, eu tinha visto ele rir muito mais do que o
tempo em que o conhecia. Isso era bom. Significava que Kevin não era mal-
humorado e nem tão fechado. Haveria mais coisas que eu descobriria dele
nesse passeio?
— Alguém desconfiou de alguma coisa quando você chegou? – ele
mudou de assunto.
— Não. – respondi – Sandra me perguntou onde eu tinha ido, mas eu
apenas disse que fui dar uma volta.
— Caleb estava completamente desmaiado quando cheguei ao quarto,
nem se deu conta de que eu tinha saído.
Depois de tomarmos o café da manhã, fomos até o local onde o barco
estava ancorado esperando até que todos estivessem a bordo. Kevin comprou
ambos os ingressos, eu nem tive como discutir porque ele insistiu que eu não
precisava pagar. Era a primeira vez que eu entrava em um barco desse tipo. O
fundo dele, havia um grande círculo todo em vidro mostrando o fundo de
águas cristalinas.
Era a primeira vez que via uma água tão clara no mar.
Kevin me ajudou a subir me dando a mão e eu me sentei em um dos
bancos. Ele se sentou ao meu lado e passou o braço por trás de mim apoiando
no encosto. Tudo que estava acontecendo ainda era surreal e eu não tive
tempo de digerir esse novo relacionamento com Kevin Walsh, se é que eu
poderia chamar o que estava rolando entre nós dessa forma.
— É a primeira vez que você faz esse tipo de passeio? – perguntei.
— Com o barco assim, é. – ele respondeu, seus olhos cobertos pelos
óculos escuros que havia tirado do bolso – Sempre gostei muito de viajar e
aproveito a profissão para conhecer novos lugares.
— Qual o país que você mais gostou de conhecer?
— É difícil, tem muitos países bonitos, mas gostei bastante das Ilhas
Maldivas.
— Lá é realmente muito bonito, deve ter sido incrível. – suspirei
imaginando todas aquelas praias cristalinas.
— Principalmente para quem é de Nova York e não está acostumado
a essas praias. – olhei em volta aproveitando o visual enquanto ele falava.
— Por enquanto eu só pude conhecer a Dinamarca, Inglaterra e agora
a República Dominicana.
— Ainda terá a oportunidade de conhecer muitos outros lugares,
Hannah.
Ele se aproximou de mim e apertou seu braço em torno do meu corpo
me deixando ainda mais próxima. Coloquei minha mão sobre sua coxa e
aproveitei a brisa do mar quando o barco saiu para nosso passeio. Kevin
estava me surpreendendo em vários sentidos e parecia estar gostando da
minha companhia. Ficamos em silêncio aproveitando o visual enquanto um
funcionário nos dava algumas instruções e nos avisava que estávamos indo
em direção à piscina natural.
O rapaz magro e bastante bronzeado, usando uma camisa com a
estampa da empresa e uma bermuda cáqui, explicava sobre o mar e os
animais que possivelmente veríamos. Alguns curiosos já tinham levantado e
estavam debruçados olhando para em direção ao chão do barco que era de
vidro e permitia que se visse o mar. Algumas crianças apontavam e falavam
sobre tubarões, era possível ver a animação de cada uma delas e a maioria era
estrangeira. Havia um casal de asiáticos, outros americanos e alguns
europeus. Poucas pessoas de fato pareciam ser nativas da região.
— Levante, Hannah. – Kevin me incentivou – Vá lá dar uma olhada.
Aquilo me animou e eu tomei coragem de ir até lá e encontrar um
espacinho para ver o fundo do mar. Foi surpreendente ver a quantidade de
arraias e tubarões que passavam por baixo do barco. A água cristalina
permitia que fosse possível enxergar tudo de maneira perfeita. Fiquei muito
encantada e peguei meu celular dentro da bolsinha que eu carregava e tirei
algumas fotos para mostrar para Cecile, ela ia adorar.
Quando me virei, Kevin parecia me observar. Mesmo usando óculos
escuros eu podia sentir que sua atenção estava sobre mim. Cheguei perto
dele, mas não me sentei. Fiquei de pé na sua frente e ele deu um sorriso
retirando os óculos do rosto. Seus olhos verdes estavam ainda mais realçados
por conta da claridade e dessa vez eu pude ver que ele me olhou dos pés a
cabeça. Embora estivesse vestida, nesse momento me senti nua diante
daquele olhar. Não senti vergonha, apenas me senti mais mulher e menos
uma garota.
— É melhor você se sentar, Hannah. – ele falou.
— Por quê? – o desafiei.
— Mais tarde eu te explico. – piscou.
Eu estava me sentindo cada vez mais à vontade ao lado de Kevin. Ele
me surpreendera se mostrando totalmente diferente do cara que eu via apenas
como piloto. Agora entendia um pouco de como era sua relação com Caleb e
porque se davam tão bem. Kevin era um cara falante, portanto era fácil
entender o motivo do copiloto se dar tão bem com ele.
— Gostou do que viu lá? – ele perguntou depois que me acomodei
novamente ao seu lado.
— É lindíssimo! Jamais veríamos algo assim nos EUA. Talvez no
Havaí. – completei.
— Sem dúvidas não em Nova York.
— Vou enviar algumas fotos para Cecile.
Puxei meu celular e mandei algumas fotos para minha irmã e para
meus amigos, Peter e Juliet. Conversei um pouco com Kevin sobre o que eu
costumava fazer em Long Island e falei um pouco da minha amizade de
alguns anos com meus dois melhores amigos. Ele falou por alto sobre sua
família, disse que seus pais eram casados e que tinha dois irmãos, uma
mulher e um homem, além de dois sobrinhos, uma menina e um menino. Sua
família era tradicional e parecia muito única.
— Acabei perdendo o batizado do meu sobrinho essa semana por
conta dessa viagem.
— É uma pena. – imaginei o quanto era difícil para ele ficar longe dos
familiares porque eu sentia o mesmo – Também já perdi alguns eventos de
Cecile por conta do trabalho.
— Mas a viagem não foi ruim. – ele respondeu – Acho que Alicia vai
me perdoar se souber quem foi minha companhia aqui.
Eu me arrepiei quando senti seus lábios no meu pescoço em um beijo
bem suave. Não contive um sorriso. Parecia que ainda não tinha caído a ficha
de que Kevin e eu estávamos curtindo juntos esse paraíso e eu preferi ignorar
o fato de que isso pudesse ter um fim.
Algum tempo depois chegamos ao nosso destino. Estávamos
flutuando por sobre um mar que realmente parecia uma piscina. Não tinha
ondas e era raso, já que podíamos ver a areia pouco abaixo de nós. Fiquei
totalmente deslumbrada. O guia nos explicou como iria proceder e logo
algumas pessoas já estavam se jogando na água. Eu não sabia nadar, mas nem
era necessário nesse caso. A água batia na altura da cintura da maioria das
pessoas e eu fiquei animada para entrar logo na água.
Kevin tomou a iniciativa tirando logo a camisa e ficado apenas de
bermuda. Juro que tentei me controlar, mas foi impossível não ficar olhando
para ele embasbacada. Seu peitoral era levemente bronzeado, seus ombros
largos o deixavam ainda mais e sua barriga definida me fez ter uma vontade
surreal de tocá-la. Kevin olhou para mim e sorriu. Ele sabia que eu o estava
secando como se fosse o último copo de água do deserto.
— Tudo bem olhar, Hannah. – ele falou para mim e chegou bem perto
do meu ouvido – Em breve você poderá tocar também.
Antes que eu pudesse formular alguma resposta, ele se afastou de
mim e sentou na borda do barco para me esperar. Engoli em seco sabendo
que meu corpo ficara excitado com a possibilidade e comecei a tirar a roupa
ficando apenas com o biquíni. Kevin me olhou de maneira bem mais
descarada que eu, mas não era hora de me sentir envergonhada. Afinal, não
havia motivos para me sentir constrangida pelo meu corpo. Eu não malhava,
mas por sorte tinha uma genética boa e devia agradecer por isso.
Ele foi o primeiro a entrar na água e eu fui logo em seguida. Não
estava gelada, a temperatura estava excelente e estava coberta até a cintura.
Muitas crianças brincavam a nossa volta, casais se beijavam e alguns tiravam
fotos. Kevin logo mergulhou e por conta da água bem clara era possível vê-
lo. Acompanhei seus movimentos com o olhar até que ele emergiu na minha
frente e me deu um beijo.
Dei uma risada porque estava salgado por conta da água do mar. Ele
envolveu minha cintura e me abraçou. O sol refletia na água transformando
seus raios em pequenos cristais e eu fiquei admirando tudo. Era um privilegio
muito grande por estar aproveitando isso. Cecile gostaria tanto de estar aqui,
ela adorava o mar e aproveitava muito sempre que viajávamos em família
quando ainda era pequenininha.
Aproveitamos bastante o passeio. Kevin me surpreendeu demais com
seu jeito tranquilo e algumas vezes até brincalhão. Almoçamos em um
restaurante longe do nosso hotel quando voltamos do passeio para não
corrermos o risco de sermos vistos por algum dos nossos colegas. Tomei um
sorvete gigantesco que Kevin fez questão de pagar e em seguida nos
separamos para voltarmos aos nossos quartos no final da tarde.
Já era hora de encontrarmos com os outros para quem ninguém
desconfiasse do nosso sumiço repentino.
— Finalmente, mocinha! – Jasmine falou assim que entrei no quarto.
— Oi. – cumprimentei-a – Fui passear um pouco e acabei tirando
umas fotos para enviar para minha irmã e minha tia – Aproveitaram o
passeio?
— Nós íamos para aquele lugar, mas estava lotado e não pudemos
comprar mais ingressos, então ficamos pela praia mesmo.
— E Sandra onde está?
— Conheceu um carinha na praia e ficou por lá com ele. – sentou-se
na beirada da cama – Às vezes me preocupo com ela, sabia?
— Por quê? – aproveitei para sentar na minha cama também.
— Ela não sabe quem são essas pessoas. Sandra não está no próprio
país, é complicado demais porque alguém pode acabar fazendo alguma
maldade.
— Você tem razão. Já tentou conversar com ela?
— Não adianta, Sandra é muito cabeça dura.
Ouvimos a campainha da porta e Jasmine logo se levantou para
atender. Ela Caleb e por sorte estava sozinho. Fiquei aliviada porque não sei
se estava pronta para ficar no meio ambiente que Kevin e fingir que nada
acontecera.
— Alguém topa ir até um lugar legal para ver o pôr-do-sol?
— Vou ter que passar, preciso tomar um banho, acabei pegando muito
sol hoje à tarde. – respondi.
— Eu topo! – Jasmine sempre animada correu para pegar suas coisas.
Quando os dois saíram, eu finalmente pude respirar e tomar um
banho. Kevin não falara nada e nem mandara nenhuma mensagem, mas pelo
que ele me dissera, o que estava acontecendo entre nós não acabava aqui. Eu
só não sabia como iria reagir quando entrasse novamente naquele avião.
Será que eu seria capaz de agir como se nada tivesse acontecido? O
que seria de mim se alguém desconfiasse?
Capítulo 14
KEVIN

Não foi fácil voltar a realidade.


Voamos de volta para Nova York e eu precisei fingir que nada de
diferente acontecera em Punta Cana.
Ainda no aeroporto da República Dominicana, eu tive meu primeiro
desafio. Olhar para Hannah novamente naquele uniforme de comissária e ter
a consciência do que ela escondia debaixo dele. Eu cheguei a achar que
depois que ficasse com ela, meu desejo seria controlado, mas o efeito foi
totalmente contrário. Passei a noite desejando estar na mesma cama que
Hannah, sentindo aquele corpo perfeito.
Por sorte dentro do avião eu fui direto para a cabine de piloto e não
tive mais contato com Hannah durante o voo.
— Agora que chegamos, temos que marcar de tomar uma cerveja com
o pessoal. – Caleb falou ao meu lado enquanto caminhávamos pelo aeroporto
JFK.
— Concordo, mas essa semana estarei bem ocupado. Prometi ir à casa
da minha irmã porque perdi o batizado do Luca e terá a festa na casa dos
meus pais. – falei sem mencionar a empresa para que as meninas não me
ouvissem – Mas combinamos algo para a semana que vem.
— Dessa vez no seu apartamento.
— Certo, só não vomitem nas minhas coisas.
Fui pegar minha bagagem e olhei rapidamente para Hannah que
esperava por suas malas também. Ela deve ter notado que estava sendo
observada e levantou o olhar para mim. Sua maquiagem agora cobria as
pequenas sardas que ela tinha no rosto e que eu tinha adorado vê-las. Pude
notar que desviou o olhar ficando um pouco sem graça.
Provavelmente estava tão difícil para ela quanto estava para mim.
Peguei minhas coisas e fui em direção à sala da companhia. Organizei
tudo, aproveitei para tirar o uniforme e colocar minha roupa casual. Despedi-
me de todos que estavam lá e saí sem ver Hannah novamente. Eu daria um
jeito de vê-la em Nova York antes de voltarmos ao trabalho.
Chamei um táxi para ir direto para o meu apartamento. Era fim de
tarde na cidade e eu só queria pedir uma comida e descansar.
“Oi, Ali. Estou em NY. Amanhã passo no seu apartamento.”
Mandei a breve mensagem para minha irmã, assim Alicia poderia
parar de me xingar de todos os nomes que conhecia.
No dia seguinte, dirigi até a casa de Alicia no fim da tarde. Ela já
chegara da empresa e estava me esperando. Passei em uma loja para comprar
um presente para meu sobrinho – um tapete colorido cheio de animais com
um móbile como acessório para que ele pudesse se distrair no chão. Comprei
uns donuts para Alicia também porque sabia que ela gostava de doces.
Cheguei ao edifício e subi direto para o andar onde minha irmã
morava. Quando saí do elevador e toquei a campainha, Alicia logo atendeu
toda sorridente.
— Finalmente! – ela me deu um daqueles abraços típicos de Alicia
Walsh – Que saudades!
— Parece que fiquei um ano longe daqui.
— É como se fosse! Você está sempre fora da cidade. – ela chegou
para o lado – Entra.
O apartamento da minha irmã era grande e muito bem decorado. A
cachorrinha logo veio correndo na minha direção fazendo festa.
— Oi, Fanny. – eu a cumprimentei – Desculpe, mas hoje não trouxe
nada para você. – olhei para Alicia – Comprei algo para você e para o Luca.
— O que você trouxe?
Mostrei a ela a caixa de donuts e vi os olhos azuis da minha irmã
brilharem. Alicia tinha um fraco por doces e eu sabia que ela me perdoaria de
qualquer coisa enquanto estivesse se lambuzando com donuts.
— Isso é para o meu sobrinho. – entreguei a ela outra caixa.
Alicia adorou o presente e logo o colocou no chão para o filho estrear.
Eu a ajudei montando o brinquedo.
— Onde está o Luca?
— Dormindo, mas acredito que está quase na hora de acordar. Com
essa idade ele tira cochilos de poucos minutos.
— E o Ryan?
— Está na empresa com alguns funcionários do nosso projeto. Lizzie
está lá com a equipe jornalística e Louis com a fotográfica.
Ambos estávamos sentados sobre o tapete e Alicia encostou-se no
sofá esticando as pernas para frente no chão. Ela colocou a caixa de donuts
no colo e pegou um deles dando uma mordida satisfatória.
— Sinto muito por não ter vindo ao batizado do Luca, você sabe que
eu jamais perderia isso se estivesse por aqui.
— Eu sei, mas mesmo assim gosto de encher seu saco.
— Às vezes não acredito que minha irmãzinha casou e já é mãe.
Realmente, para mim era difícil acreditar que o tempo passou tão
rápido. Parecia que ontem Alicia ainda estava usando tranças e correndo pelo
gramado da casa dos nossos pais com seu vestido colorido. Quando eu me
desse conta novamente, seria Maddie quem estaria no altar. Eu precisava
aproveitar mais a infância dos meus sobrinhos.
— Acho que só falta você agora, Kev.
— Eu ia me casar, Ali, mas as coisas não saíram como planejado.
Susan fazia parte do meu passado, mas eu ainda me sentia um
tremendo idiota quando pensava que ela me fizera de otário por tanto tempo.
— Eu dou graças a Deus que você não se casou com Susan. Não
queria ela como cunhada. – Alicia disse fazendo careta, até porque, nunca
escondeu que não gostava da minha ex-noiva.
Um choro ecoou pela babá eletrônica e Alicia se levantou deixando a
caixa de donuts sobre o sofá. Ela correu para as escadas em direção ao quarto
do filho enquanto eu a esperava sentado no chão da sala de estar. Logo minha
irmã voltou carregando um Luca sonolento. Dei um sorriso porque sempre
ficava impressionado como ele crescia rápido.
— Oi, garotão! – falei com ele me levantando – Vem aqui com seu tio
incrível.
Peguei Luca no colo e ele resmungou um pouco antes de se acalmar.
Sua cabeça encostou no meu ombro e eu me sentei, dessa vez no sofá.
Conforme os minutos se passaram, ele foi melhorando e ficando menos mal-
humorado.
— Esse fim de semana é a festa da empresa. Nosso pai está todo
estressado. – Alicia comentou pegando novamente o seu donut.
— Pensei em ir até Scarsdale amanhã.
— Mamãe vai adorar te ver. Se prepare para uma chuva de beijos.
Diana Walsh era assim mesmo, extremamente carinhosa e saudosa em
relação a qualquer um dos filhos, principalmente eu que costumava passar
mais tempo longe. Coloquei Luca sobre o colchão que eu havia comprado e
ele pareceu adorar, puxando os bichinhos que estavam pendurados no móbile.
— Ele já está engatinhando e acho que logo ficará em pé.
— Boa sorte quando ele começar a andar.
Em seguida Ryan chegou acompanhado de Lizzie e Louis. Fazia
tempo que eu não a via e ela parecia ainda mais bonita do que antes. Ela
sorriu ao me ver e eu logo me levantei.
— Oi, Lizzie. – eu a abracei, fazia um bom tempo que não a via –
Como está?
— Estou bem, Kevin. E você?
— Ótimo!
— Oi, gata. – ouvi Ryan cumprimentar minha irmã e lhe dar um beijo
nos lábios – Cadê o meu campeão?
Meu cunhado se abaixou para pegar o filho no colo e lhe dar alguns
beijos. Luca começou a rir e agarrar os cabelos do pai. Nunca imaginara que
Ryan Beaumont seria meu cunhado, mas agora depois de tudo e vendo a
maneira que ele tratava minha irmã e o Luca, eu tinha certeza que ele era o
cara certo para Alicia.
— Kevin, que bom que está aqui. – senti os tapinhas de Louis nas
minhas costas.
— Parece que temos compromisso neste fim de semana.
— Tudo bem, Kevin? – Ryan estendeu a mão para mim após colocar
o filho no colchão novamente.
— Tudo certo. – cumprimentei-o – Semana que vem vamos tomar
uma cerveja lá em casa.
— Pode contar comigo.
Aproveitamos que todos estávamos reunidos e decidimos pedir algo
para comer em um restaurante árabe. Alicia colocou um pratinho com o
jantar do filho e foi Ryan quem teve a missão de alimentá-lo.
— Como está a Maddie? – perguntei ao meu irmão quando todos nos
sentamos no sofá.
— Bem, está em casa com a babá. – respondeu – Não vou demorar
muito por aqui. Prometi que montaria um quebra-cabeças com ela.
— Preciso ver a minha princesa.
Eu morria de saudades da Maddie. Sempre fui muito apegado a ela
desde que nasceu. Quando Louis se tornou pai solteiro, todos nós ajudamos
um pouco e eu, por ser seu irmão gêmeo, me sentia ainda mais responsável
por isso.
— Kevin e Louis, vocês já decidiram o que farão no aniversário de
vocês? – Alicia interrompeu nossa conversa chamando a atenção de todos.
— Não estou muito animado para comemorar. – Louis respondeu.
Pela primeira vez eu tinha que concordar com meu irmão. Não queria
festas, baladas e nem nada do tipo. Talvez uma comemoração em família com
alguns amigos fosse o ideal, com pessoas de quem gostamos. Era uma ótima
oportunidade de estar perto de todos, alguns eu não via há algum tempo.
— Que tal um jantar? – sugeri e todos olharam para mim espantados.
— O que aconteceu com você? – Ryan foi o primeiro a perguntar.
— Estou cansado, passei muito tempo longe e quero aproveitar o
nosso aniversário para estar junto de pessoas que não vejo com frequência.
— Acho que foi a melhor ideia do Kevin nos últimos anos. – Louis
falou.
— Vocês falam como se eu morasse numa boate. Além do mais, é
uma forma de estar com meus sobrinhos. É nosso primeiro aniversário com o
Luca.
Louis se animou com a ideia e combinamos de fazer um jantar na casa
de Scarsdale. Com toda certeza nossa mãe iria adorar. Fiquei responsável por
falar com o resto das pessoas para combinar a comemoração. Logo em
seguida, depois de Ryan, Lizzie e Louis explicarem como estava o
andamento do projeto, nosso jantar chegou.
Era muito bom estar com eles novamente, mas eu tinha de admitir que
estava sentindo falta de Hannah. Queria aquele corpo perfeito contra o meu
novamente, mas de preferência, debaixo de mim dessa vez.
Chegara o dia da festa da empresa do meu pai. Eu estava no meu
antigo quarto de frente para o espelho e ajeitando minha gravata borboleta.
Tinha de confessar que odiava esse tipo de roupa, mas como poucas vezes
estava entre família, eu aceitava esses sacrifícios para agradar aos meus pais.
Ouvi uma batida na porta e gritei para que a pessoa entrasse.
Era minha mãe.
Diana Walsh estava usando um vestido azul petróleo e os cabelos
presos em um penteado que eu sempre achei que combinava com ela. Era
uma espécie de coque que deixava alguns fios ondulados. Nas orelhas era
possível ver um par de brincos de diamante que provavelmente tinha sido
presente do meu pai. Ele sempre lhe dava uma nova joia para essas ocasiões.
— Oi, mãe. – eu aceitei seu abraço.
— Kevin, meu filho, você voltou para Nova York e eu ainda não
matei toda a saudade de você.
— Prometo que ficarei mais tempo aqui. – segurei suas mãos e dei um
beijo em cada uma delas – Obrigado por deixar que o jantar do meu
aniversário e do Louis seja aqui.
— E você acha que eu iria permitir que fosse em outro lugar, Kevin
Walsh? – ela franziu o cenho fingindo estar zangada — Venha. – ela
estendeu o braço.
Descemos as escadas de braços dados e eu já podia ver a grande
movimentação de convidados. Primeiramente vi alguns rostos conhecidos de
pessoas que eu não encontrava há algum tempo. Minha mãe me levou até
onde estava meu pai e meus avós. Vê-los era uma das melhores coisas de
estar de volta à Nova York.
— Kevin, meu lindo! – minha avó Alexandra abriu um enorme
sorriso ao me ver.
— Que saudades, vó. – eu a abracei.
Em seguida foram uma grande sessão de abraços e apertos de mãos
com meu avô Vitor e Fernando e sua esposa Agnes. Meu pai me deu um
abraço e um tapa nas costas satisfeito por me ver.
— Que bom que veio, filho. Sei que você detesta esses eventos. – ele
falou próximo ao meu ouvido.
— Se eu estiver na cidade, pode contar comigo.
Nunca fui fã desses eventos formais onde eu tinha que sorrir e
socializar com pessoas das quais não gostava. Quando ainda estava com
Susan, eu fazia isso por ela também, que adorava se exibir na frente de todos
e eu cego, nunca percebi. Depois que nos separamos, tudo isso se tornara
pura e simples tortura, mas sabia que era importante para meus pais, então
que fazia o meu melhor.
Por um breve momento, eu imaginei como seria Hannah nessa festa.
Sem sombra de dúvidas ela estaria linda. Um belo vestido
acomodando cada uma de suas curvas e eu aproveitaria cada segundo do
momento em que eu poderia tirá-lo. Infelizmente, ela não estava aqui e eu
não teria um final de noite prazeroso.
— Com licença, vou procurar por Louis.
Saí de perto dos meus pais e avós e rodei pela mansão procurando
pelo meu irmão, minha irmã ou alguém familiar que me agradasse estar por
perto. Encontrei com Alicia conversando com uma mulher cerca de vinte
anos mais velha do que ela que ao me ver, sorriu em minha direção.
— Olá! – ela estendeu a mão – Kevin ou Louis? – perguntou.
— Kevin. – respondi.
— Nossa, quanto tempo não o vejo! Meu marido tem comentado
muito sobre jogar golfe com você e seu irmão.
— Não sou muito bom em golfe, mas seria ótimo jogar com seu
marido.
Para falar a verdade, eu não fazia ideia de quem fosse ela e muito
menos seu marido, mas eu não seria deselegante de perguntar. Sei que depois
poderia tirar a dúvida com minha irmã.
— Vou deixar vocês a sós, vou procurar por Edmund.
— Quem é ela? – perguntei assim que a mulher se afastou o
suficiente.
— Olga, esposa de Edmundo Wright, o vice-diretor do grupo W.L.
Eles são do ramo de exportação.
— Não lembro de nenhum dos dois. – olhei em volta – Louis está por
aqui?
— Para falar a verdade, só o vi quando cheguei e depois parece que
ele desapareceu.
— Onde está o Ryan?
— Ficou conversando com os representantes da revista Worldwide. –
ela me deu um beijo no rosto – Preciso ir lá em cima ver como está o Luca e
se a babá precisa de alguma coisa.
Alicia me deixou sozinho novamente e eu peguei meu celular. Estava
mesmo me controlando para não enviar uma mensagem para Hannah, afinal,
nós mal tínhamos ficado. Que porra de necessidade era essa de querer
conversar? Não éramos de fato um casal.
As coisas precisavam ir com calma.
“Não jogue todas as suas fichas e não se deixe levar tão rápido”,
lembrei-me disso. O que acontecera entre Susan e eu não poderia ser repetido
em hipótese alguma. Eu ainda tinha muito que conhecer sobre Hannah.
— Kevin.
A voz que veio de trás de mim era familiar e antes mesmo de me virar
para olhar a pessoa, eu já sabia quem era.
Isabella.
Ela estava de pé atrás de mim com os longos cabelos pretos soltos e
jogados de lado, o corpo modelado por um vestido longo e dourado e nos
lábios um batom vinho que chamava a atenção. Isabella era gostosa, eu tinha
que admitir, mas sua insistência sobre mim estava ficando chata e nem um
pouco atraente. Ela tinha um sorriso nos lábios de quem estava satisfeita em
me ver.
— Oi, Isabella.
— Que bom que está por aqui. – ela se aproximou colocando uma das
mãos sobre meu ombro – Chegou quando? Pensei que fosse me enviar uma
mensagem quando estivesse em Nova York.
— Estava bastante ocupado. – dei uma desculpa.
— Por que não aproveita que tem algumas pessoas dançando e dança
comigo?
Antes que eu pudesse dar alguma resposta, Isabella me puxou até uma
área que ficara reservada como pista de dança onde uma banda contratada
tocava algumas músicas famosas no piano e saxofone. Alguns casais lá
estavam abraçados e balançavam de um lado para o outro ao som de Cyndi
Lauper. Não pude fazer mais nada e só me posicionei para começar a dançar
com Isabella.
Ela colocou os braços em volta do meu pescoço e eu envolvi sua
cintura. Alguns meses atrás eu faria isso e logo sairia da festa em direção ao
apartamento dela para me deliciar com seu corpo maravilhoso. Nos últimos
tempos, a possibilidade já não me parecia tão atrativa e eu comecei a perceber
que a antiga Isabella estava se tornando uma mulher mais exigente e apegada.
Não era isso que eu queria e agora e por conta disso, eu estava evitando
entrar em contato. Infelizmente, ela tinha sido convidada e não deixaria a
oportunidade de vir atrás de mim.
Se eu permitisse, Isabella passaria toda a noite ao meu lado.
Ela continuou dançando e outra música começou. Continuei guiando
seus passos, mas pensando em uma desculpa para logo sair de perto dela.
Por sorte vi a minha mãe com meu pai. Era a oportunidade perfeita de
sair dessa dança.
— Isabella, me desculpe, mas preciso dançar com minha mãe
também.
Sua expressão foi de alguém que não gostou, mas não disse nada e
apenas assentiu com a cabeça. Eu me afastei e fui e direção aos meus pais.
Ele falava algo em seu ouvido e minha mãe deu um sorriso. Certamente eu
não queria nem imaginar o que eles conversavam.
— Mãe, pai... – chamei e eles me olharam.
— Kevin, que bom que está aqui. – meu pai colocou a mão no meu
ombro.
— Vim perguntar se minha mãe quer dançar.
— Claro que sim!
Eu a levei para a pista de dança me sentindo aliviado. Nós
começamos a dançar uma música que eu não conhecia, mas era lenta.
Coloquei as mãos em sua cintura e ela estava sorrindo para mim. Diana
Walsh era a pessoa mais carinhosa que eu conhecia.
— Gosto tanto quando você está na cidade, meu filho.
— Eu também gosto de estar aqui com você e o resto da família, mas
eu adoro o que faço também.
— Sim, eu sei. – ela se inclinou e beijou minha bochecha – Não
adianta tentar te convencer do contrário, é igualzinho ao seu pai.
— Você sempre me diz isso, mas pode ter certeza que sempre que eu
estiver em Nova York, virei aqui.
— Se não vier, sou capaz de puxar sua orelha. – seu olhar encontrou o
meu – Vi que estava dançando com Isabella.
— Sim, mas precisei fugir de lá. – confessei – Ela parece que anda me
perseguindo.
— Seu pai acha ela ótima para você, mas eu já cansei de falar para o
Anthony que ele não pode se meter na vida de vocês. Veja o que aconteceu
com Alicia.
Meu pai tinha cismado que minha irmã tinha de namorar o filho de
um dos seus advogados, mas ela terminou casada com o herdeiro da sua
maior concorrente. Hoje em dia, Anthony Walsh é apaixonado pelo net e
passa um bom tempo discutindo com Ryan sobre negócios e o futuro do
mercado editorial e outros ramos que ele investe.
— Obrigado por me apoiar, mãe. – lhe dei um abraço e um beijo na
testa.
Ela sorriu e após a música terminar, eu a levei de volta até meu pai e
fui procurar pelo meu irmão.
Enquanto caminhava por entre as pessoas e cumprimentava algumas
por educação, eu não pude deixar de me perguntar como seriam as coisas se
eu ainda estivesse com Susan? Depois desse tempo, certamente estaríamos
casados e ela estaria nessa festa rindo e conversando com todos já que
adorava esse tipo de evento.
Sem dúvidas eu não queria ter sido traído, mas agora eu podia
entender que aquilo acontecera por um motivo maior. Imagina ter me casado
com ela? Eu não sentia mais raiva de Susan, para mim ela era apenas
passado, o que restara foi o sentimento de ter sido feito de idiota.
Prometi a mim mesmo que isso nunca mais aconteceria.
Acabei encontrando com Louis logo em seguida.
— Onde você se meteu? – perguntei assim que me aproximei.
— Estava lá fora, fui ligar para a babá, queria saber se estava tudo
bem com a Maddie. – ele parecia agitado.
— E está tudo bem com ela?
— Sim, acabou de ir dormir.
Louis respondeu, mas sua atenção estava voltada para outra coisa. Ele
olhava para os lados, como se estivesse procurando algo ou preocupado com
alguma coisa. Que merda estava acontecendo com meu irmão? Poucas vezes
eu o tinha visto assim.
— Tem certeza que está tudo bem?
— Tenho, Kevin. – ele voltou o olhar para mim – Cadê a Alicia?
— Não sei, a última vez em que a vi ela tinha ido ver como estava o
Luca.
Alguns minutos depois estávamos todos reunidos. Louis, Alicia, Ryan
e eu. Meu pai chamou a atenção dos convidados para fazer um discurso e
agradecer a alguns dos seus sócios. O jantar foi servido e até então eu não
tinha visto Isabella novamente e quando pensei que ela tinha se distraído com
algo e me deixado de lado, ela apareceu.
— Kevin. – ela tocou meu ombro enquanto estava sentado.
— Oi, Isabella. – virei meu corpo para observá-la.
— Posso falar com você por um minuto?
Eu queria dizer não, porém não quis ser mal-educado na frente das
outras pessoas. Pedi licença e me afastei da mesa com Isabella de braços
dados comigo. Nos afastamos da grande quantidade de pessoas e fomos para
um canto mais tranquilo. Ela parou de frente para mim e colocou as mãos
sobre meus braços.
— Que tal ir até meu apartamento hoje? Podemos aproveitar um
pouco mais da noite. Sempre foi sensacional.
Pude perceber o sorriso de canto em seus lábios, o jeito que ela se
insinuava e o decote do seu vestido que certamente tinha sido proposital,
visto a maneira que ela empinava os seios na minha frente. Coloquei as mãos
nos bolsos da calça e ponderei sobre a proposta.
Fiquei surpreso comigo mesmo. Pela primeira vez, eu não queria ir.
— Desculpe, Isabella. Não poderei ir.
— Não acredito nisso! – ela ficou frustrada – Faz tanto tempo, Kevin.
— Sim, mas eu realmente tenho alguns compromissos e prometi que
ficaria por aqui hoje.
Isabella ficou frustrada, mas não disse mais nada. O melhor era eu
ficar mesmo por Scarsdale naquela noite e no dia seguinte sair para resolver
algumas coisas. O fotógrafo contratado chamou nossa atenção e pediu para
tirar uma foto nossa. Isabella imediatamente envolveu seu braço no meu e se
preparou para o clique fazendo uma pose. Não tive o que fazer, apenas me
posicionei e esperei pelos flashes.
Eu me separei de Isabella o mais rápido que consegui e passei o resto
da noite acompanhado dos meus familiares e amigos. Vez ou outra eu me
pegava olhando para o nada e me lembrando de Hannah no passeio que
fizemos. Sem dúvidas ela estava mexendo comigo e eu precisava pensar com
calma no que faria de agora em diante.
Minha relação com Hannah era delicada. Ao mesmo tempo que eu
sentia que ela era alguém que eu pudesse confiar, eu precisava de muito
cuidado para levar isso a diante. Eu não poderia dizer quem era o verdadeiro
Kevin Walsh, era cedo demais. Hannah iria continuar acreditando que era
apenas um piloto de avião.
Tinha acabado de dispensar Isabella e tinha me dado conta de que
tinha feito isso porque a mulher com quem eu queria passar a noite se
chamava Hannah Davis.
Capítulo 15
HANNAH

Estar em casa era maravilhoso.


Poder estar perto da família, conversar, fazer brincadeiras e comer
besteiras sem se preocupar com o dia seguinte era ótimo.
Agora era início da noite e Cecile e eu comíamos pipoca enquanto
assistíamos a um filme de comédia romântica. Como a temperatura estava um
pouco baixa, eu estava usando meias coloridas nos pés, algo que eu adorava.
— Esse ator é muito bonito. – minha irmã comentou.
— É mesmo.
Não pude deixar de ficar curiosa sobre Kevin. O que ele estava
fazendo? Será que curtia assistir filmes também? Era possível, mas eu
duvidava que ele sentasse para assistir filmes de comédia romântica.
Passaram-se quatro dias desde que chegamos aos EUA e ele não dera mais
nenhum sinal de vida.
O que isso significava?
Será que o que rolara entre nós ficaria esquecido? Será que ele estava
com alguma mulher?
A melhor coisa a fazer era não pensar em Kevin, eu tinha de
aproveitar esses dias para curtir com minha família e amigos. No dia seguinte
pela manhã, eu iria até Manhattan com Cecile, eu havia prometido a ela e isso
a faria faltar um dia de aula, mas tia Eleonor havia autorizado. Minha irmã
sempre fora uma aluna exemplar, portanto não iria prejudica-la se ausentar
um dia.
Ouvi uma batida na porta.
Quem seria? Ninguém havia me dito que viria me visitar.
Entreguei o balde de pipoca a Cecile e levantei para verificar quem
era. Aproximei do olho mágico e pude ver Juliet e Peter parados na soleira.
Meu coração se encheu de alegria e eu imediatamente abri a porta.
— Que surpresa maravilhosa! – eu exclamei empolgada.
— Que saudade! – Juliet foi a primeira a me abraçar.
Peter entrou logo atrás dela carregando duas caixas de pizza. Fazia
muito mais tempo que eu não o via porque seu trabalho também o consumia
demais. Assim que ele deixou as caixas sobre a mesa, ele veio até mim e me
deu um abraço apertado me tirando do chão.
— Finalmente! – exclamou – Você anda muito internacional
ultimamente.
— Tenho que trabalhar, né? – dei-lhe um beijo no rosto – Não nasci
rica.
— Nenhum de nós.
— Como sabiam que eu estava aqui? – perguntei depois que ele me
colocou no chão.
— Mandei uma mensagem para sua tia, ela disse que você ficaria em
casa o dia todo.
— Oi, Peter! Oi, Juliet! – Cecile veio até nós distribuindo abraços.
Meus amigos adoravam a minha irmã. Como nos conhecíamos desde
o ensino médio, eles viram Cecile ainda criança. Ela ficou empolgada com as
pizzas, afinal, ela adorava comer besteiras.
— Pizza com muito queijo! Que delícia! – exclamou após abrir a
caixa.
— Vamos comer porque estou morrendo de fome. – Peter tratou de
pegar logo um pedaço.
— O que estavam fazendo? – Juliet perguntou.
— Vendo um filme. – respondi tratando de pegar o meu pedaço
também – Que bom que estão aqui.
— Estávamos com saudade, aproveitamos que estávamos livres e
viemos correndo. – ela se sentou no chão – Agora conta para a gente, quais as
novidades? Como foi o Caribe?
— Foi ótimo!
A verdade é que eu queria dizer que tinha sido sensacional, mas não
apenas pelo lugar lindo e sim porque eu tinha descoberto que Kevin estava
interessado em mim. Ainda era difícil assimilar isso e acreditar que realmente
tivemos momentos ótimos juntos. Aquele beijo tinha sido especial, Kevin
beijava de um jeito que me envolvia. Ele também era um cara divertido, o
que me surpreendeu bastante.
Ele tinha quebrado sua regra por minha causa, mas e agora? A dúvida
ainda pairava sobre minha cabeça porque Kevin não tinha dito nada. Os
momentos que passamos juntos no Caribe tinham sido especiais para mim,
mas será que ele mudara de ideia? Antes de virmos embora, Kevin havia dito
que aquilo ia continuar, que íamos nos conhecer mais e que manteríamos
segredo por conta do meu emprego, mas ele não mandara nenhuma
mensagem, não me ligara, eu não sabia o que pensar.
Talvez estivesse exigindo muito. Nós não éramos um casal de
verdade.
— O lugar deve ser maravilhoso. As praias devem ser um sonho! –
ela suspirou.
— São mesmo. Queria muito que vocês pudessem conhecer. Eu fui
por acaso porque a América Central não faz parte da nossa rota.
— Não tinha nenhum gatinho por lá não?
— Ah, eu nem tenho tempo para isso, Juliet. – menti.
Eu estava me aperfeiçoando no fato de contar algumas mentiras e
esconder os fatos. Por mais que não tivesse problema em contar para Juliet e
Peter sobre Kevin, eu achei melhor manter em segredo. Não sei o que daria
essa relação entre nós, portanto preferia agir com calma para não precisar dar
explicações futuras.
— Mas e vocês, alguma novidade? – mudei o foco da conversa.
— Eu estou quase encontrando uma pessoa para dividir o
apartamento. – Juliet respondeu – Ela se chama Chloe e é garçonete da
lanchonete perto do hospital onde trabalho.
— Isso é ótimo!
Sabia que Juliet estava com problemas para manter o apartamento
sozinha e poder dividir as despesas com alguém seria muito bom para ela. Só
assim teria dinheiro para investir em outras coisas.
— Eu continuo na mesma. – Peter respondeu – Mas estou feliz assim.
— Peter sempre simplificando as coisas. – sorri para ele.
Tivemos uma noite excelente. Continuamos assistindo ao filme
enquanto conversávamos. Cecile hora ou outra se metia na conversa e depois
que minha tia chegou, mandou-a para a cama. Passava das dez da noite
quando meus amigos foram embora e eu comecei a jogar as caixas vazias de
pizza no lixo.
— Está um frio lá fora. – minha tia comentou enquanto preparava um
chá – Estava louca para chegar em casa.
— O inverno parece que está vindo com tudo. – sentei à mesa – Pode
preparar uma xícara para mim?
— Claro, querida.
Com o celular na mão, olhei as mensagens que recebi enquanto estava
vendo o filme. Algo me chamou a atenção. Se não estivesse sentada,
certamente eu teria caído no chão.
Era Kevin.
Numa segunda-feira à noite ele estava me enviando uma mensagem.
Senti meu coração bater acelerado, parecia uma adolescente
empolgada.
“Oi, Hannah. Espero que esteja aproveitando seus dias de folga, mas
confesso que voltar a trabalhar já não me parece tão ruim assim.”
Li e reli a mensagem pelo menos umas cinco vezes. Kevin realmente
estava interessado em mim.
Aquele homem que até pouco tempo se mantinha distante e que eu
ouvia dizer que nunca se envolvia com mulheres com quem trabalhava,
estava mesmo querendo ficar comigo.
O que eu iria responder? Não queria parecer muito empolgada, mas
não queria fingir que não me importava. Ai meu Deus! Era mesmo difícil
essa coisa de relações amorosas e minha falta de experiência no assunto não
ajudava em nada, principalmente quase se tratava de um homem lindo como
Kevin Walsh.
“Oi, Kevin. Estou aproveitando com minha família. E você? O Caribe vai
fazer falta.”
Nem tão direta, mas nem tão indireta assim.
Tinha sido a resposta perfeita.
— Pronto, Hannah. Uma xícara de chá quentinha. – minha tia se
aproximou e eu deixei meu celular de lado.
Ela colocou a xícara na minha frente sobre a mesa e se acomodou e eu
sorri agradecendo. Minha tia era a pessoa mais incrível que eu conhecia e
estava louca para um dia poder ajudá-la como merecia.
— Que bom que Peter e Juliet vieram.
— Eu sinto bastante falta deles. Fico feliz que eles tenham vindo,
amanhã vou passar o dia todo com Cecile, só lamento por ela não ir à escola.
— Tudo bem, um dia não fará mal. Pelo menos vocês vão ficar um
tempo juntas já que logo você terá que viajar de novo.
— Sim, se desse para ficar até o fim de semana, poderíamos passear
quando ela não tivesse aula.
Meu celular vibrou novamente, mas eu não olhei. Provavelmente era
alguma resposta de Kevin e só de pensar nisso já senti um frio na barriga. Eu
nem mesmo sabia como iria encará-lo novamente quando voltássemos ao
trabalho. Fingir na frente de outras pessoas tinha sido uma tarefa difícil
apenas durante a volta, imagina quando ficássemos mais tempo juntos?
— Eu vou me deitar, tive um dia puxado hoje.
— Sim, eu já estou indo também. Amanhã pretendo passear bastante.
Minha tia assentiu e me deu um beijo no alto da cabeça antes de se
retirar da cozinha. Peguei meu celular e abri. De fato, havia uma mensagem
de Kevin.
“O Caribe fará falta, mas a Alemanha nos reserva umas boas surpresas,
Hannah.”
Nosso próximo destino era Berlim. Eu estava empolgada para
conhecer a Alemanha, mas também, para encontrar Kevin novamente. Não
tinha certeza do que aconteceria entre nós, mas a antecipação da surpresa me
deixava animada. Não sei que passo daríamos de agora em diante, então eu só
precisava controlar minha ansiedade.
Caminhar por Manhattan era sempre incrível. A cidade estava sempre
cheia de gente passando de um lado para o outro com pressa, turistas
impressionados, táxis para todo o lado e o barulho do trânsito acontecendo a
todo o vapor. Cecile adorava visitar essa parte de Nova York, mas eu tinha de
confessar que fazia algum tempo que eu não a trazia.
— Hannah, vamos na Starbucks, por favor?
Caminhar por Manhattan sem tomar uma bebida na cafeteria mais
famosa do país não tornava o passeio completo. Acabei concordando e
procuramos por uma mais próxima.
— Quero um chocolate gigantesco! – seus olhinhos verdes até
brilhavam.
— E você vai aguentar um copo tão grande?
— É claro! Você sabe que eu amo chocolate!
Isso era uma verdade. Cecile adorava chocolate de todas as formas e
às vezes era preciso segurá-la para que não exagerasse e terminasse com uma
dor de barriga. Hoje eu tinha tirado o dia para gastar um pouco mais de
dinheiro do que o planejado, mas graças à viagem extra que fizemos, acabei
recebendo mais e assim era possível dar um passeio com minha irmã e
comprar algumas coisinhas.
Eu não podia me privar de tantas coisas.
Cecile estava doida para ir até a Quinta Avenida e depois de
comprarmos nossas bebidas em um Starbucks, nós caminhamos até a rua
mais chique de Nova York. Eu estava vestida com uma calça jeans, um tênis
branco bem confortável já que ia andar bastante, uma camiseta branca com
estampas pretas e uma jaqueta preta. Deixei meus cabelos presos em um rabo
de cavalo e fiz uma maquiagem simples para o dia.
As lojas da Quinta Avenida eram voltadas para um público muito
diferente do meu. A rua em si era repleta de apartamentos e mansões, as lojas
eram as mais caras da cidade, talvez do mundo! Cecile olhava para as vitrines
totalmente encantada com as lindas peças de roupas e pois mais que aquilo
não fosse prioridade na minha vida, eu não pude deixar de admirá-las.
Fiquei impressionada com a loja da Cartier. Essa era um sonho
impossível de alcançar.
— Vamos entrar? – Cecile perguntou animada.
— Não! – eu precisei segurar seu pulso – Essa loja só tem joias caras.
Eles nem vão dar confiança para nós lá dentro.
— Poxa. – suspirou – Ela parece ser tão bonita.
— Tenho certeza que é mesmo. Vamos, Cecile.
Continuamos caminhando, passamos por algumas lojas e hotéis.
Passamos em frente à Louis Vuitton e eu só podia me lembrar das bolsas
lindas que via na TV. Para todos os lados eu só via lojas de alto nível nas
quais eu nunca iria entrar. Bvlgari, Piaget, Prada, Gucci, Dolce&Gabbana,
Valentino, MAC, Coach, Tommy Hifilger, Microsoft, Rolex, Zara e tantas
outras que me deixaram tontas. Não pude deixar de me imaginar entrando
nessas lojas e fazendo compras. Saindo com várias sacolas como nos filmes.
Nunca fui uma pessoa consumista ou invejosa, nunca fiquei
deslumbrada com roupas caras, mas era impressionante estar em uma avenida
como essa e não se ver nessa vida. Achei melhor levar Cecile ao Central
Park, já que estávamos próximo. Caminhamos pela calçada e entramos no
parque mais famoso do mundo.
— Podemos sentar em algum lugar?
— Claro.
Andamos até um local onde era possível sentar na grama e aproveitar
o dia. Cecile esticou as pernas para a frente e ficou admirando as pessoas que
caminhavam e conversavam por ali.
— Vou comprar um cachorro quente logo ali. – apontei para a
carrocinha que ficava a poucos metros de nós – Tudo bem me esperar aqui?
— Claro. Vai tranquila, Hannah.
Eu me levantei e fui até a barraquinha mais próxima. Já era hora do
almoço e eu estava com fome. Enquanto esperava na fila, já que muitas
pessoas saíam do trabalho para vir comer aqui, fiquei observando tudo ao
meu redor. Pessoas caminhavam, algumas corriam fazendo exercícios físicos,
passeavam com os cachorros ou apenas sentavam em liam um livro.
Em meio a tudo isso, algo chamou minha atenção.
Caminhando e vindo na direção onde eu estava, pude ver Kevin
conversando com uma mulher morena. Ele sorria e ela parecia bastante
animada ao lado dele. Senti meu estômago gelar. Quem era aquela mulher? O
que era dele?
Ambos passeavam sem presa, ela colocava a mão em seu braço em
uma intimidade surpreendente. Comecei a me sentir uma boba. Ele ficou
comigo no Caribe, me mandara uma mensagem no dia anterior, mas isso não
significava nada demais. Kevin estava me colocando apenas em uma lista. Eu
não era especial só porque ele deixara sua regra de lado.
Por mais que eu me sentisse uma idiota, não consegui parar de olhar.
Os dois caminhavam e conversávamos como se já se conhecessem há um
bom tempo. Ele foi chegando cada vez mais perto e meu coração acelerou as
batidas. Senti minhas mãos suarem, se Kevin me visse eu me sentiria ainda
mais boba.
E foi o que aconteceu.
Aqueles olhos verdes que me olharam como se realmente estivesse
interessado em mim quando estávamos no Caribe, agora me observavam
como se eu fosse apenas mais uma na multidão. Tão rápido ele me viu e tão
rápido desviou o olhar. Kevin Walsh sabia que eu estava ali. Ele
simplesmente fingiu que não me conhecia.
Foi pior do que tomar um soco no estômago.
Quando o rapaz da carrocinha de cachorro quente me chamou, eu
demorei para voltar do transe.
— Senhorita?
— Desculpe. – tentei deixar de lado o que acabara de acontecer e
focar no que estava fazendo – Gostaria de um cachorro quente.
— É claro.
Ele montou meu lanche, mas eu infelizmente já tinha perdido a fome.
Peguei o dinheiro no meu bolso e entreguei a nota depois de pegar meu
cachorro quente. Voltei para onde estava Cecile, mas eu me sentia um robô.
Não estava apaixonada por Kevin, mas eu tive por um momento a ilusão de
que as coisas dariam certo. Ele era um cara legal, mostrava que estava
interessado em mim e claramente me atraía. Eu estava gostando dele.
Essa coisa de relacionamentos não era mesmo para mim. Fui uma
idiota de pensar que um cara lindo como Kevin Walsh poderia ter algo sério
comigo no futuro. Diversas mulheres deviam correr atrás dele, por que uma
garota simples de Long Island chamaria mais sua atenção?
— O que aconteceu, Hannah? Está tão pálida.
Cecile deve ter notado que meu semblante mudara, mas sob hipótese
nenhuma eu contaria à minha irmãzinha o que acabara de acontecer.
— Nada. – tentei disfarçar – Deve ser a fome. – sentei ao seu lado –
Quer um pedaço?
— Não, obrigada. Aquele copo gigante de chocolate me deixou cheia
até agora.
Foi difícil comer aquele cachorro quente, demorei mais do que de
costume, mas consegui terminar. Enquanto simplesmente engolia, sem
saborear meu almoço, eu só conseguia pensar nas imagens de Kevin
passeando pelo Central Park como se eu nem mesmo existisse. Sei que era
ingenuidade minha de pensar que apenas alguns beijos o fariam me tornar
exclusiva na vida dele, mas eu confesso que cheguei a pensar que as coisas
poderiam caminhar.
Kevin devia fazer isso todas as vezes que estava em Nova York. Sair
com uma mulher, levá-la para passear, ir a restaurantes e pagar a conta, da
mesma forma que fez comigo. Eu era apenas mais uma. Pude sentir o nó se
formando em minha garganta e xinguei mentalmente meu sentimentalismo.
— Hannah, será que poderíamos visitar o zoológico daqui?
— Claro. – tentei dar meu melhor sorriso para que minha irmã não
percebesse nada.
Cecile não tinha culpa por eu ser tão boba. Nosso passeio tinha que
acontecer da mesma forma, afinal, era um momento de irmãs que eu queria
aproveitar. Amassei a embalagem após engoli o último pedaço e me levantei.
Joguei o lixo em uma lixeira próxima e acessei o celular para saber em que
direção ficava o zoológico que Cecile queria tanto visitar.
Passamos uma tarde excelente juntas, minha irmã comeu um
hamburguer antes de voltarmos para Long Island e eu recusei qualquer tipo
de comida desde o almoço. Eu continuava pensando em Kevin e naquela
morena que vi no Central Park. Não queria nem imaginar o que ambos
fizeram juntos depois.
Voltar para o trabalho, que antes me parecia algo animador, tinha se
tornado um martírio. Fui sentada no banco traseiro do carro até o aeroporto
tentando encontrar uma maneira de agir naturalmente perto de Kevin. Antes
minha preocupação era não deixar transparecer que tínhamos ficado juntos,
agora, além disso, eu tinha de esconder que estava revoltada e magoada.
Que excelente trabalho, Hannah!
Quando cheguei ao JFK, meu coração começou a bater mais
acelerado. Eu estava nervosa e desci do carro ajeitando meu uniforme de
comissária. Minhas mãos suavam e eu dei um sorriso um pouco sem jeito
para o motorista quando ele me entregou minha mala.
Talvez disfarçar fosse ainda mais difícil do que eu imaginava.
Respirei fundo e tentei manter a confiança e cabeça erguida. Eu não tinha
do que me envergonhar. Kevin foi quem agiu do jeito errado, era ele quem
deveria ter vergonha de si mesmo. Caminhei até a sala da tripulação e por
sorte só Jasmine estava lá, sentada num sofá preto e mexendo no seu celular.
Ela levantou o olhar quando entrei.
— Oi, Hannah. – sorriu – Como foram as coisas?
— Bem. – tentei parecer o mais tranquila possível – Pude aproveitar
bastante com minha irmã. – deixei minha mala de lado e sentei também no
sofá – E você?
— Foi tudo legal. Visitei a Estátua da Liberdade com uma prima que veio
recentemente para Nova York.
— Eu também estive em Manhattan essa semana, minha irmã queria ir ao
Central Park. Viu o resto do pessoal por aqui?
— Vi, todos já chegaram. Sandra foi à uma lanchonete comprar um café,
Caleb e Kevin foram lá fora.
Por sorte algumas pessoas da companhia de voo entraram e a sala se
agitou. Sandra voltou com seu café contando tudo que tinha feito nos dias de
folga e isso me distraiu, mas quando a porta se abriu e eu vi Caleb entrando,
sabia que Kevin estava vindo logo atrás. Quando ele apareceu, achei que meu
coração fosse sair pela boca.
Meu corpo todo se enrijeceu, engoli em seco e senti minhas mãos
voltarem a suar. A sala estava cheia, mas nesse momento parecia que só
havia ali nós dois. Eu queria muito que fossem em outras circunstâncias,
entretanto vê-lo me fez lembrar da cena do Central Park. Uma morena bonita,
com cabelos longos e ondulados sorria para ele tocando seu braço. Kevin
parecia bem íntimo dela.
— Oi, Hannah! – Caleb me cumprimentou.
— Oi, Caleb, tudo bem? – perguntei forçando ser natural.
— Estou ótimo, querida menina ruiva. – ele passou o braço por sobre meu
ombro – E você?
— Estou bem. – menti.
Kevin estava perto de mim e me observava. Agora ele parecia
interessado, já que sua amiguinha estava longe. Mesmo com raiva, eu não era
cega. Ele continuava lindo de morrer, seu uniforme de piloto parecia ter sido
feito especialmente para ele. A camisa branca abraçava seus músculos da
maneira perfeita e eu não pude deixar de lembrar quando estávamos no
passeio, que Kevin tirara a camisa e exibira o tórax e abdômen perfeitos.
Eu queria detestá-lo pelo que fizera comigo.
— Olá, Hannah. – ele me cumprimentara, seus olhos verdes fixos nos
meus.
— Oi. – respondi sem manter muito contato visual.
— Já que vamos chegar em Berlim na hora do almoço, por que não
vamos a um restaurante? – Caleb sugeriu.
— Eu acho ótimo! – Sandra logo respondeu e olhou para Kevin –
Podemos ir ao Brauhaus Südstern. Lembra daquele dia?
— Sim, talvez eu vá. – olhou para mim por um breve segundo e depois
focou no amigo – Ótima ideia, Caleb. Acho que está na hora de irmos.
Viajar durante horas em um avião não tinha sido fácil dessa vez. Sempre
que ouvia a voz de Kevin nos autofalantes, eu ficava nervosa, agitada.
Chegamos a Berlim perto do meio-dia e eu fui direto para o táxi que nos
esperava. Não quis olhar para Kevin, não quis falar com ele, eu só queria ir
para o meu quarto. Caleb insistira para que eu fosse ao restaurante, mas
inventei uma desculpa.
Assim que chegamos ao hotel, fizemos o check-in e eu peguei meu cartão
do quarto. As meninas subiram para trocar de roupa e logo desceram para
irem ao restaurante. Eu não sei se Kevin iria, mas para mim isso não faria
mais diferença. Logo que fiquei sozinha, fui tomar um banho para descansar.
Vesti meu pijama, um shortinho amarelo com uma blusa de alças branca.
Prendi os cabelos em um rabo de cavalo e fui para a cama. Peguei meu
celular e enviei uma mensagem para minha tia avisando que estava tudo bem.
Talvez fosse melhor pedir o serviço de quarto para comer alguma coisa.
Já era hora do almoço e eu não tinha comido nada. Escolhi apenas um
sanduíche com suco, era o máximo que eu aguentaria comer. Fiquei lendo
algumas notícias no celular deitada na cama enquanto esperava e mandei
algumas mensagens para Juliet.
A campainha do quarto tocou e eu levantei para atender o serviço de
quarto.
O que me esperava no corredor me surpreendeu.
Kevin estava parado na porta vestido com uma camiseta preta e uma calça
jeans. Seus olhos verdes baixaram e ele observou todo o meu corpo. Eu
estava de pijama, meu short era curto, mas pensei que só iria pegar um
carrinho com meu almoço, não esperava ver ninguém.
— Oi, Hannah. – ele finalmente falou – Posso entrar?
Não disse nada, apenas cheguei para o lado e deixei que Kevin entrasse
no meu quarto. Era a hora perfeita para eu por as cartas na mesa. Ele não iria
me usar como se eu fosse qualquer uma. Por mais lindo que fosse, por mais
que tivesse mexido comigo, eu não iria permitir que Kevin me usasse apenas
para sua conveniência. Fechei a porta e me virei para ele cruzando os braços.
— Estava louco para falar com você. Não é nada fácil fingir que não
aconteceu nada.
— Pois há alguns dias pareceu ter sido a coisa mais simples do mundo. –
falei sentindo a raiva inflamar.
— O quê?
Kevin era um exímio mentiroso. Ele estava mesmo fingindo que não fazia
ideia do que eu estava falando.
— Pare de agir como se não soubesse o que estou falando, Kevin! – abri
os braços indignada – Você estava com uma mulher no Central Park e teve a
coragem de fingir que não me conhecia.
— Do que está falando, Hannah? – ele franziu o cenho – Tem mais de um
mês que não vou ao Central Park.
— Você passou ao meu lado. Eu te vi, não sou maluca.
— Eu não estive lá essa semana, eu juro!
Cruzei os braços e olhei para o alto. Eu não podia acreditar no que estava
ouvindo! Kevin realmente estava mentindo e por mais que eu insistisse, ele
não admitia. Realmente achava que poderia me fazer de trouxa.
— Espera. – ouvi sua voz e olhei para ele, estava surpresa com o fato de
ele não desistir – Acho que sei o que aconteceu. Hannah, a pessoa que você
viu não era eu, era meu irmão gêmeo.
— Essa é a desculpa mais ridícula que eu já ouvi, Kevin!
A criatividade, ou não, dele era impressionante. Queria mesmo me
enganar e me fazer acreditar nas suas mentiras. Agora além de insistir em
dizer que não era ele, sua desculpa era a de que tinha um irmão gêmeo. Por
que os homens se prestavam a isso?
— Eu estou falando sério. Parece ridículo dizer isso, mas é a verdade. –
ele enfiou a mão no bolso – Vou te mostrar.
Kevin começou a procurar por alguma coisa no seu celular e se
aproximou me mostrando uma foto. Olhei para a tela me sentindo curiosa.
Não era possível!
Havia um homem ao lado de Kevin exatamente igual a ele. Ambos
sorriam e se abraçavam. Eu estava totalmente em choque.
— Esse é Louis. Lembra que eu te disse que tinha um irmão e uma irmã?
– ele falou e eu só pude assentir – Bem, eu acho que esqueci de dizer que ele
e eu somos gêmeos. Veja.
Ele deslizou o dedo pela tela e outra foto apareceu. Era ele, seu irmão e
mais uma mulher de cabelos pretos. Os três sorriam, provavelmente a
imagem tinha sido capturada no Natal, pois atrás estava um belo pinheiro
enfeitado.
— Essa é Alicia, minha irmã. – ele recolheu o telefone guardando-o no
bolso novamente – Fica tranquila, Hannah. Não era eu no Central Park.
— Meu Deus, que vergonha!
Coloquei as mãos no rosto me sentindo totalmente encabulada. Como iria
imaginar que Kevin teria um irmão gêmeo? A probabilidade era mínima.
Senti ele segurando meus pulsos e afastando minhas mãos do meu rosto.
Levantei o olhar, sentia meu rosto corado, mas Kevin não parecia me julgar.
— Hannah, é compreensível que você tenha achado que era eu. Louis e
eu já fomos confundidos inúmeras vezes.
— Eu realmente não imaginava que você tinha um irmão gêmeo. Pensei
que tinha mesmo me ignorado.
— Olha, eu tentei te ignorar, mas acho que já ficou claro que não consigo.
Kevin segurou meu rosto e seus lábios grudaram nos meus. Senti um
alívio e meu coração parece ter acertado novamente o ritmo das batidas. Eu
não era uma boba, afinal. Kevin não estava com outra mulher. Meu corpo foi
aos poucos deixando a tensão de lado e se moldando melhor ao dele.
Coloquei minhas mãos sobre suas costelas e deixei a língua atrevida deslizar
sobre a minha.
Ele tinha o poder de me fazer parar de raciocinar e deixar apenas minha
libido tomar o controle da situação. Sua mão foi descendo pelo meu corpo,
deslizando até minha lombar, bem próximo da bunda. Eu podia sentir a
ereção contra minha barriga e isso me deu mais confiança. Kevin me queria,
eu o atraía.
Fiquei ainda mais envolvida pelo que acontecia no quarto. Ele começou a
caminhar comigo, seus lábios ainda grudados aos meus em um beijo ainda
mais intenso. Eu não queria parar, não podia parar. Só me deixei levar até a
cama e senti minhas costas sobre o colchão enquanto Kevin se posicionava
sobre mim. Meu coração começou a acelerar, o sangue correr mais rápido
pelas minhas veias.
Agarrei seus cabelos com uma das mãos enquanto sentia ele alisar a
lateral do meu corpo e agarrar minha coxa. Soltei um gemido baixo quando
os lábios roçaram em meu pescoço.
— Sempre adorei seu cheiro, Hannah.
Eu não tive capacidade de responder nada. Seus lábios continuaram
trilhando um caminho até o decote da minha blusa. Kevin distribuiu beijos na
parte superior dos meus seios que estavam descobertos pelo tecido, fechei os
olhos aproveitando cada uma daquelas sensações. Pela primeira vez eu sentia
uma antecipação tão grande estando com um homem.
Kevin Walsh era diferente. Ele sabia como me envolver, não ia com sede
ao pote, embora já estivesse pronto.
O barulho da campainha do quarto quebrou toda a magia.
— Merda! – Kevin soltou um palavrão espontâneo.
— Deve ser meu almoço. – falei abrindo os olhos.
Ele respirou fundo e sentou na cama ao meu lado. Foi difícil levantar dali,
meu corpo ainda vibrava esperando por mais. Eu estava indo rápido demais
com Kevin, mas era inevitável. Talvez pelo menos em um momento, eu
deveria ser menos racional. Ajeitei meu cabelo e minhas roupas o melhor que
pude e abri a porta para pegar meu carrinho. Quando a fechei novamente.
— Desculpe, eu só pedi um sanduíche. Não imaginei que viria aqui.
— Não tem problema. – ele se levantou – Vamos sair e comer em algum
restaurante. – seus olhos percorreram novamente meu corpo de cima a baixo
– Troque de roupa e eu vou te esperar do lado de fora, ou é possível que a
gente não saia daqui pelas próximas horas.
— As meninas podem chegar a qualquer momento.
— E é justamente isso que está me fazendo ir. – segurou a maçaneta – Eu
poderia muito bem morrer de fome porque nada me faria sair desse quarto.
Ele saiu e me deixou ali plantada e sem palavras.
Capítulo 16
KEVIN

Eu devia ganhar o prêmio de autocontrole.


Sair daquele quarto enquanto Hannah estava perfeita naquele pijama tinha
sido a coisa mais difícil que eu tinha feito nos últimos tempos. Minha
vontade era de voltar para aquela cama e passar horas me deliciando com
aquele corpo maravilhoso.
Infelizmente nem tudo era como queríamos.
Tive de sair e esperar no corredor enquanto Hannah se vestia. Caleb e
as meninas poderiam chegar e não seria nada agradável ser flagrado na cama
com ela.
Enquanto aguardava, pensei no que Hannah tinha me dito. Ela vira
Louis no Central Park com uma mulher. Isso era bastante curioso porque meu
irmão não costumava sair por aí tendo encontros e quando os tinha, ele me
contava. Lembrei que no fim de semana, ele estava bastante estranho durante
a festa. Ultimamente havia alguma coisa acontecendo com Louis, ele estava
agindo de uma maneira bem diferente do habitual.
Fiz uma nota mental de perguntar a ele quando voltasse quem era a
mulher do Central Park.
Quando Hannah saiu do quarto, ela estava com uma calça preta com
alguns rasgos, um tênis preto e uma blusa de mangas longas cinza. Estava
simples, mas absurdamente linda. Seus cabelos ainda estavam presos em um
rabo de cavalo e sua maquiagem parecia se resumir a apenas um batom claro.
Hannah Davis era totalmente diferente das mulheres com quem eu
saía. Não havia vestidos de grife, saltos altos, quilos de maquiagem e cabelo
perfeitamente escovado. Ela conseguia ser linda em sua simplicidade e
chamava a atenção de qualquer um por onde passasse.
— Estou pronta. Onde vamos?
— Que tal procurarmos um restaurante aqui perto?
Ela assentiu e eu queria tocá-la. Ainda podia sentir meu corpo
pegando fogo com o pouco que acontecera naquele quarto. Minha vontade
era de sair do hotel com meu braço em volta da sua cintura, mas todo cuidado
era pouco. Caminhamos um pouco pelas ruas de Berlim, o tempo estava mais
frio, o outono tinha chegado e as temperaturas caíram.
Um restaurante pequeno e simples apareceu logo à frente e eu achei
uma boa opção. Estava com fome e não queria ficar procurando pela cidade
algum lugar para comer.
— Pode ser ali? – apontei para o lugar.
— Por mim está ótimo.
Achamos uma mesa livre mais ao fundo. O ambiente era
aconchegante, mas bem diferente dos que eu costumava frequentar. Sempre
almoçava e jantava em restaurantes caros na maioria das vezes e estar em um
lugar assim mais simples fazia eu me sentir mais acolhido. Talvez, a presença
de Hannah também me causasse essa sensação.
— Não conheço muito a culinária alemã. – ela comentou após se
sentar em uma cadeira de madeira.
— Qualquer coisa com linguiça.
Hannah sorriu.
Não sei o que estava acontecendo comigo, mas tudo que ela fazia
eu achava lindo. Seu sorriso parecia iluminar o lugar, seus lábios tinham
contornos perfeitos e lá estavam aquelas pequenas sardas em seu nariz que
ficaram à mostra porque saíra sem maquiagem.
O garçom nos entregou o cardápio e eu agradeci.
— Vou confiar e deixar você escolher por mim. – Hannah falou.
— Pode deixar que não vou te colocar em nenhuma furada.
Escolhi um simples schinitzel, que era uma carne de porco
empanada e pedi batata como acompanhamento. Pedi uma cerveja para mim
e um suco para Hannah porque sabia que ela não gostava de beber.
— Realmente me desculpe por ter agido daquela forma. – ela
parecia bem envergonhada.
— Eu deveria ter contado aquele detalhe. Louis e eu sempre
sofremos por conta disso, fomos confundidos várias vezes e é assim até hoje.
— Fico imaginando como deve ter sido quando eram mais novos.
Aprontaram alguma vez por causa dessa semelhança?
— Na época da escola sim. Acho que faz parte entre gêmeos
idênticos. – sorri me lembrando do passado – Sempre tentamos pregar peças
nos nossos pais, mas eles sabiam quem era quem.
— Os pais sempre nos conhecem. – seus olhos focaram no cardápio
– O que pediu para nós?
— Se chama schinitzel, é uma carne de porco empanada.
— Parece boa.
Tivemos um almoço tranquilo, eu estava o tempo todo me
perguntando por que não tinha ficado com Hannah antes? Por que lutei contra
minha própria vontade? Tinha de parar de comparar qualquer mulher à Susan
e dar uma chance novamente a mim mesmo. Minha ex-noiva não merecia de
mim nada a não ser o desprezo. Eu não tinha de dispensar a possibilidade de
encontrar alguém legal por conta das merdas que ela fizera comigo.
— Quer pedir a sobremesa? – sugeri.
— Quais são as opções?
— Apfelstrudel, é um folhado de maçã.
— Parece gostoso.
Realmente estava.
Eu gostava bastante de maçã, era um ingrediente muito usado nos
pratos americanos portanto eu me sentia quase como se estivesse em casa.
Hannah também pareceu gostar porque era possível ver sua expressão de
satisfação a cada garfada. Eu tinha de admitir que adoraria ver um pouco
mais disso quando estivéssemos na cama.
— Posso imaginar que você gostou. – comentei.
— Está uma delícia!
Quando terminamos, fiz questão de pagar a conta mesmo com
Hannah insistindo. Não faria diferença se eu gastasse dinheiro, mas sabia que
para ela não era tão simples assim. Ainda era possível me lembrar da
conversa que tivemos na beirada da piscina. Hannah tinha algumas
dificuldades financeiras que a impediam de seguir seu sonho.
— É melhor voltarmos para o hotel. – falei depois que saímos do
restaurante – O pessoal já deve estar chegando.
Não foi fácil me separar de Hannah.
Eu sabia que estava fodido sentindo essa necessidade de estar com
ela, mas eu não queria me preocupar com isso. Hannah me passava
confiança. Eu não conseguia imaginá-la fazendo nada que não fosse bom.
Quando Caleb entrou no quarto, eu estava conversando com Alicia
e Louis por mensagens. Ele estava passeando com Maddie e minha irmã
estava na empresa. No dia seguinte seria meu aniversário e do meu irmão,
mas eu estaria na Alemanha e a missão era que o jantar fosse promovido
assim que eu chegasse em Nova York.
— Você perdeu a melhor comida que já provei na Alemanha. – ele
se jogou sobre a própria cama – O que ficou fazendo por aqui?
— Nada demais. – apenas dei de ombros – Estava falando com
meus irmãos e comi uma besteira qualquer.
— Tem ficado muito tempo dentro do hotel, Kevin. Está com
algum problema? Você sempre gostou de sair.
— Não tem nenhum problema. – olhei para ele – Podemos ir a uma
pizzaria hoje à noite. – sugeri porque sabia que se não saísse, Caleb
continuaria estranhando.
— Boa! Vamos nós cinco comer pizza. Não é justo não convidar as
garotas.
Seria mais uma provação durante a noite. Estar perto de Hannah e
praticamente ignorá-la estava se tornando uma tarefa bem complicada.
Lembrei de quando estávamos em seu quarto, ela debaixo de mim na cama,
aquela pele macia e cheirosa, cada curva que eu queria acariciar antes de
finalmente chegar ao meu objetivo.
— Como foi a festa na casa dos seus pais? – ele perguntou
enquanto procurava por algo na televisão.
— Chatas como sempre. Nos últimos tempos eu tenho detestado ter
que participar desses eventos, mas faço para agradá-los já que passo menos
tempo na cidade que meus outros irmãos.
— Falando neles, Louis está nos devendo uma partida de tênis.
Podemos marcar uma assim que voltarmos.
— Louis tem andado bem estranho ultimamente.
— Algum problema com a filha? Ou tem a ver com mulher?
— Sinceramente, não faço a menor ideia, mas eu acredito que não
seja nada em relação à Maddie.
Louis vinha andando bem esquisito nos últimos tempos. Por ser seu
irmão gêmeo, tínhamos uma ligação especial e eu podia sentir que algo
estava tirando-o dos eixos e nem Alicia sabia o que estava acontecendo.
Estávamos no hall do hotel esperando as meninas para que
fôssemos a alguma pizzaria. Eu me sentei em uma das poltronas e fiquei
mexendo no celular. Caleb conversava com alguém mandando áudios, porém
eu não prestei muita atenção na conversa. Quando levantei o olhar, dei de
cara com Jasmine, Sandra e Hannah.
Eu já tinha visto essa ruiva de biquíni, mas sinceramente, sempre
que ela aparecia eu me surpreendia com o quanto ela era gostosa. Mesmo
sem roupas decotadas, ela simplesmente chamava a atenção vestida com uma
calça preta, um tênis da mesma cor e uma blusa de gola alta da cor vinho com
mangas compridas. Seus cabelos avermelhados estavam soltos e balançavam
conforme ela se movia.
Caralho, eu queria muito transar com ela!
— Vamos? – Jasmine colocou as mãos na cintura.
— Claro! Estou morrendo de fome. – Caleb logo se levantou.
Fiz o mesmo e tentei não focar meu olhar em Hannah, até então eu
vinha disfarçando bem o meu desejo, mas depois de ter experimentado o
primeiro beijo, sabia que estava perdido. Não sei se era loucura minha, mas
eu podia sentir o perfume de Hannah mesmo que com ela a mais de um metro
de distância.
— Vou pesquisar aqui no celular a pizzaria mais perto. – Sandra
falou pegando o telefone.
Ela digitou rapidamente no celular e logo encontrou o que queria.
— Fica pouco menos de um quilômetro daqui.
— Dá para ir andando. – Caleb passou o braço por sobre os ombros
de Hannah e Jasmine e puxou-as para que caminhassem com ele.
Sei que Sandra olhou para mim em uma tentativa de que eu fosse
abraçado a ela, mas eu simplesmente fingi que estava alheio a isso e comecei
a caminhar com as mãos no bolso da calça.
— Cara, a Alemanha é foda! – Caleb exclamou enquanto
passávamos por uma praça — Vocês sabiam que aqui a idade mínima para
tomar bebida alcóolica é dezesseis anos? Não sei porque nos Estados Unidos
é essa besteira de que tem que ser com vinte e um.
— Para evitar pessoas que nem você, Caleb. – respondi.
— Não se faça de santo, Kevin Walsh. – ele virou a cabeça em uma
tentativa de me olhar – Conheço suas histórias.
Dei uma risada e por conta da conversa nem mesmo percebi que já
tínhamos chegado. A pizzaria era bem parecida com as que tínhamos nos
Estados Unidos. Um garçom encontrou uma mesa para todos nós e
coincidentemente Hannah ficou sentada à minha frente. Ela me olhou,
aqueles lindos olhos azuis pareciam querer dizer alguma coisa.
Calma, Hannah, em breve estaremos sozinhos.
— Eu quero pizza de queijo. – Jasmine foi a primeira a se
manifestar.
— Eu quero a marguerita. – Sandra olhava o cardápio procurando
por sabores.
— Para mim tanto faz, eu como todas, e você, Hannah? – Caleb
perguntou.
— Pode ser qualquer uma, eu gosto de pizza de qualquer jeito.
Fiz uma nota mental sobre isso. Mais um detalhe pequeno, mas
significava mais alguma coisa sobre ela.
— Eu também não tenho preferência. – comentei.
Pedimos duas pizzas gigantes com Coca-Cola. Fiquei mexendo no
celular enquanto esperava porque sabia que era perigoso olhar para Hannah.
Caleb, por ser bastante curioso, começou a fazer perguntas para ela. Descobri
que tinha dois grandes amigos da época do ensino médio, que costumava
passear com sua irmã mais nova, que seus pais haviam falecido em um
acidente de carro e fora criada pela tia.
— Deve ter sido difícil, Hannah. – Sandra falou – Mas veja só,
agora as coisas estão ótimas pelo visto. Você é comissária de bordo
internacional, já conheceu alguns países. Várias garotas queriam estar no seu
lugar.
— Nem tudo é simples assim. – respondeu.
— Não se pode reclamar de tudo. Tem gente muito pior.
— Algumas pessoas tem problemas pessoais. – Jasmine se interpôs
– Quantos milionários por aí não estão felizes?
Lembrei da minha própria vida.
Dinheiro nunca fora problema, nunca tirara meu sono como
acontecia com a maioria das pessoas, porém ao mesmo tempo, o excesso dele
me fazia desconfiar de todo mundo que se aproximava. Por isso agora eu
mentia para algumas pessoas, incluindo Hannah. Era uma sensação horrível
não saber se você era realmente querido ou se muitos estavam próximos
apenas pelo interesse.
— Ai, que cheiro maravilhoso! – Jasmine exclamou quando o
garçom trouxe uma das pizzas.
— Percebi que estou com mais fome do que imaginava. – Caleb se
manifestou.
A pizza era bem grande e feita com quatro queijos. Eu também me
dei conta de que estava faminto, mas esperei que todas as mulheres da mesa
se servissem antes de finalmente pegar meu pedaço.
Comemos, conversamos, mas eu tentava manter a mesma postura
de sempre. Calado a maior parte do tempo, fazendo poucos comentários e
evitando ao máximo olhar par Hannah, embora fosse complicado já que ela
estava logo à minha frente.
Caleb e eu pagamos a conta porque tínhamos sido nós a convidá-
las.
Voltamos para o hotel, mas fui surpreendido.
Meu amigo tinha comprado um bolo pequeno e decorado com
chocolate e entrara no quarto cantando parabéns e festejando. Jasmine e
Sandra seguravam balões coloridos de gás hélio. Era pouco mais de meia-
noite e chegara o dia do meu aniversário, pelo menos no fuso-horário alemão.
Hannah fora a última a entrar no quarto e estava tão surpresa quanto eu.
Talvez eu tenha esquecido de contar que meu aniversário estava
chegando.
Havia muitas coisas que eu não precisava falar para ela.
— Feliz aniversário, Kevin! – Sandra foi a primeira a me abraçar.
Seus braços apertaram meu pescoço e ela pressionava o corpo
contra o meu. Não era a primeira vez que fazia isso e eu já estava
acostumado. Eu agradeci e Jasmine também me abraçou me desejando
felicitações. Hannah foi mais tímida, ela me abraçou logo em seguida e me
desejou um feliz aniversário.
Céus, eu queria muito apertá-la contra o meu corpo e jogá-la sobre
a cama.
Sua cintura era fina e eu não resisti, quando ela se afastou, deixei
que minha mão deslizasse sobre aquela curva perfeita antes de finalmente
parar de tocá-la.
— Onde está a faca, temos que cortar o bolo. – Caleb falou –
Kevin, faça um pedido.
Parar não quebrar a tradição, fiz um pedido silencioso e soprei a
vela acesa. Jasmine foi quem cortou alguns pedaços e nós comemos. Estava
bem saboroso, mas eu lamentava que não pudesse estar com minha família.
— Vocês realmente me surpreenderam com essa pequena festa
surpresa. – falei jogando o guardanapo na lixeira.
— Achou que eu ia esquecer? – Caleb pegou mais um pedaço de
bolo.
— Quanto anos, Kevin? – Hannah perguntou o que me
surpreendeu.
— Vinte e sete. – respondi.
Todos passaram mais de uma hora no quarto em que eu divida com
Caleb, mas enquanto isso, eu peguei o celular e escrevi uma mensagem para
Hannah.
“Quando forem embora, me encontre no hall de entrada.”
Por sorte não demorou muito para que ela lesse o recado. Eu já
sentia todo o meu corpo pegar fogo com a antecipação da noite que eu
esperava que não fosse terminar tão cedo. Por sorte, as meninas logo foram
embora e Caleb se trancou no banheiro.
Era minha deixa.
Saí rapidamente e desci até o térreo onde Hannah estava sentada na
mesma poltrona que eu horas antes. Ela percebeu minha aproximação e
levantou o olhar para mim. Pude ver um sorriso singelo. Sentei ao seu lado
em outra poltrona e inclinei-me.
— Que bom que topou vir aqui. Quero passar mais tempo com
você.
— O que vamos fazer? – ela perguntou, eu podia ver o brilho de
curiosidade em seus olhos.
— Reservei um quarto. – falei, mas inseguro de sua reação – Não
quero ter que ficar vagando nesse frio de Berlim e com medo de que alguém
nos veja por aqui.
Ela assentiu e eu fui até a recepção pegar a o cartão de acesso do
quarto que eu havia reservado. Por sorte, ele ficava alguns andares acima dos
que dividíamos com o resto da tripulação. Era uma bela suíte com vista para
grande parte da cidade. Quando destranquei a porta, deixei que Hannah fosse
a primeira a entrar.
Era um quarto bastante espaçoso em tons claros e de um azul
esverdeado. A cama era grande e parecia confortável, havia um sofá de
modelo antigo da cor vinho de frente para as grandes janelas. Cortinas
cobriam as paredes e janelas. O chão era de madeira e o clima estava
agradável no interior.
— Que quarto lindo! – Hannah comentou.
— Que bom que gostou, era um dos poucos disponíveis. – tranquei
a porta atrás de mim.
— Não deve ter sido barato. Não precisava gastar tanto, Kevin.
— É o preço pela privacidade. Quero algum tempo a sós com você.
Fui me aproximando, ela continuava parada no mesmo lugar, mas
agora seus olhos azuis estavam fixos em mim. Assim que parei na sua frente,
coloquei uma das mechas de seu cabelo ruivo atrás da orelha.
— Acho que merecemos esse tempo.
— Concordo. – senti sua mão sobre meu peitoral – Por que não me
disse que era seu aniversário?
— Acabei esquecendo. É a primeira vez que passo a data longe da
minha família.
— Se eu soubesse teria comprado alguma coisa. Um presente
talvez...
— O presente que eu quero já está aqui. – eu a interrompi.
Não consegui resistir a mais nenhum minuto.
Grudei meus lábios aos dela buscando um beijo intenso. Hannah
logo correspondeu, abrindo a boca e deixando a minha língua encontrar a sua.
Ela soltou um suspiro, sabia que estava se entregando e eu sentia que
precisava dela com uma urgência que nunca senti com nenhuma mulher.
Meu pau já estava latejando dentro da cueca, pronto para aproveitar
cada centímetro dela. O beijo parecia ficar ainda mais desesperado, Hannah
agarrou meus braços e eu enfiei os dedos por entre seus cabelos. Minha mão
livre deslizou por sua cintura e desceu até uma de suas nádegas. Tocá-la
parecia o céu e eu queria mais, muito mais.
— Hannah, se quiser que eu pare, fale agora. – sussurrei contra sua
boca – Porque não serei capaz de parar se continuarmos.
Ela não disse nada, apenas voltou a me beijar com a mesma
vontade.
Recebi essa atitude como uma resposta para que continuasse.
Desci minhas mãos e busquei a barra da sua blusa. Acariciei sua
barriga lisa, meu dedo passou por seu umbigo e pude sentir sua pele arrepiar.
Fui subindo a peça de roupa e descobrindo aos poucos cada centímetro da sua
pele quente e macia. Hannah levantou os braços e eu a livrei da blusa,
deixando-a com um sutiã preto de renda.
Puta que pariu!
O contraste da cor escura com sua pele clara era incrível. O sutiã
sustentava seus seios fartos da maneira mais perfeita que eu já tinha visto.
Hannah tinha peitos grandes, redondos e eu poderia passar uma noite inteira
apenas desfrutando deles. Levantei meu olhar para ela, seus olhos azuis agora
estavam mais escuros, sua bochecha corada.
Não sei se estava tímida, ou isso era por conta do calor do
momento.
— Você é linda. – a frase escapou dos meus lábios.
Ela sorriu, isso pareceu deixá-la mais confiante.
Suas mãos percorreram meu tórax, descendo pela barriga até
segurar minha camiseta. Levantei os braços em um incentivo para que
Hannah também me despisse. Assim ela o fez.
Logo eu estava com o peitoral nu e fui eu mesmo quem peguei sua
mão para que me tocasse. As pontas dos seus dedos deslizaram pelo meu
peito. Enquanto eu deixava que ela tomasse conta do território, eu mesmo
abri meu cinto e minha calça e puxei-a para baixo. Terminei de retirar a peça
de roupa com os pés e fiquei apenas com uma cueca.
Meu pau parecia desesperado para participar.
O volume surpreendeu a mim mesmo. Hannah me deixava excitado
pra caralho!
Eu a peguei no colo e ouvi um gritinho de surpresa com minha
atitude. Levei-a para cama e a coloquei com todo o cuidado sobre os lençóis.
Os cabelos ruivos se desmancharam pelo travesseiro branco. Era uma cena
linda que eu nunca me esqueceria, nem em mil anos.
Deixei minha boca fazer um pouco do trabalho. Hannah ficou em
silêncio, apenas deixando que eu conduzisse a situação. Distribuí beijos por
seu pescoço, desci até a curva dos seios e passei a língua devagar. Hannah
soltou um gemido, sua pele se arrepiou no mesmo instante. Ela respondia tão
bem.
Desci por sua barriga, os beijos eram lentos e eu contornei seu
umbigo por fora com a língua. Levantei o olhar e pude vê-la me observando.
Coloquei a mão no botão da sua calça, soltei o mesmo e abaixei o zíper.
Esperei que Hannah se retraísse, mas ela não fez menção de que queria parar
e eu agradeci mentalmente porque meu corpo todo estava louco por ela.
— Kevin... – ela me chamou.
— Oi.
— Eu tenho que te dizer uma coisa. – eu pude ver que seu rosto
estava ruborizado – Eu nunca... – ela deixou que eu imaginasse o que iria
dizer.
Levantei a cabeça ainda mais e apoiei as mãos no colchão.
Hannah estava me dizendo que era virgem?
Aquilo me surpreendeu. Como uma mulher linda como ela ainda
era virgem? Nem nos meus maiores sonhos eu poderia imaginar isso. Ela
respondia bem aos meus toques, mas isso explicava um pouco sobre ela
parecer mais tímida do que outras mulheres com quem estive.
— Desculpe, eu sei que deveria ter dito antes porque você pode não
gostar disso, mas é que...
— Não! – eu a interrompi – Não tem problema, só fiquei surpreso.
– cheguei perto dela, ficando por cima do seu corpo e aproximei meus lábios
dos seus olhando em seus olhos – Mas você tem certeza de que quer isso?
Agora?
— Tenho.
Pude ver que Hannah estava determinada.
Ela confiava em mim.
Eu deveria mostrar a ela que podia fazer isso. Queria que Hannah
ficasse confortável.
Voltei a beijá-la nos lábios, em seguida, continuei afastando sua
calça permitindo que ela ficasse apenas com uma calcinha preta que
combinava com o sutiã. Engoli em seco com a visão dessa ruiva seminua
sobre a cama da suíte.
O que Hannah fez logo em seguida me deixou surpreso. Ela se
sentou na cama, colocou as mãos para trás e abriu o sutiã libertando seus
seios e deixando-os totalmente expostos para mim. A peça íntima caiu no
chão e eu não consegui fazer nada a não ser ficar parado observando-a. Uma
mecha de seus cabelos ruivos estava por sobre um dos mamilos rosados, meu
pau latejava até a dor de tanta vontade de senti-la.
— Juro que você não vai se arrepender, Hannah. – estendi minha
mão para ela.
Hannah ficou de pé e segurou minha mão. Eu a puxei para mim e
fiz com que seu corpo se grudasse ao meu. Seus mamilos intumescidos
roçavam levemente por sobre meu abdômen, ela era mais baixa, mas se
encaixava perfeitamente contra meu corpo. Coloquei a mão livre sobre seu
seio, apertando-o devagar. Hannah fechou os olhos gemendo baixo.
Era oficial, eu estava louco por esses peitos!
Agarrei sua cintura e fiz com que enrolasse as pernas em volta de
mim quando eu a peguei no colo. Nossas bocas grudaram em um beijo
avassalador, ela envolveu os braços em torno do meu pescoço e eu fui até a
cama onde nossos corpos caíram sobre o colchão. Agarrei sua calcinha e
puxei para baixo, fazendo com que deslizasse por suas coxas. Hannah
desenrolou as pernas de mim e eu finalmente a deixei completamente nua.
Nenhuma imagem foi tão perfeita quanto essa.
Não importa quantos países eu tenha visitado, quantas maravilhas
do mundo eu tivesse conhecido, nada se comparava a visão de Hannah nua na
minha frente.
Tirei minha cueca numa velocidade impressionante e pude ver que
ela se surpreendeu.
Hannah nunca transara com um homem.
Eu seria o primeiro.
Havia um instinto possessivo em mim que parecia querer gritar. Ela
era minha!
Peguei o preservativo no bolso da minha calça e rasguei a
embalagem. Desenrolei a camisinha em volta do meu pau sob o olhar de
Hannah.
— Prometo que serei o mais paciente possível. – falei.
— Eu sei.
Inclinei-me por cima dela, fiz com que afastasse as pernas e passei
meus dedos em sua intimidade. Hannah estava absurdamente molhada, não
precisava de mais nenhum estímulo. Eu me encaixei entre suas pernas e olhei
em seus olhos. Meu pau estava rígido, pronto para penetrá-la, mas eu tinha de
ter calma.
— Vai ser um pouco dolorido, Hannah. Mas eu prometo que vou
tentar amenizar ao máximo.
Ela assentiu e passou os braços em volta de mim.
Não foi fácil encaixar meu pênis e empurrá-lo sabendo que Hannah
sentiria dor.
Tentei ser o mais delicado possível, mas quando ouvi o gemido e
soube que tinha acontecido. Eu tinha sido o primeiro cara dela.
Fiquei parado, deixando que ela se acostumasse com a nova
situação. Seus olhos azuis se abriram e eu rocei meu nariz em sua bochecha.
Hannah agarrou meus cabelos, eu comecei a me mover lentamente. Ela
gemeu próximo ao meu ouvido. Agarrei suas coxas e continuei me movendo
sem pressa.
Por mais que meu corpo quisesse mais, eu tinha de ter calma.
Hannah era minha e eu teria todo o tempo do mundo para desfrutar.
Conforme ela foi se acostumando, fui aumentando o ritmo. Meu
corpo estava desesperado, a sensação de prazer parecia percorrer pelas
minhas veias, por cada centímetro de mim. Eu não me lembrava da última
vez que tinha sentido algo parecido. Hannah, mesmo inexperiente, era
gostosa, reagia bem conforme eu aumentava os movimentos e pude sentir
suas unhas se cravando em minhas costas.
— Não tenha vergonha, Hannah. Você é perfeita!
Girei meu corpo colocando-a sobre mim. Seus cabelos ruivos
caíram por sobre meu peito roçando levemente. Ela continuava encaixada no
meu pau, minhas mãos agarram sua cintura e eu olhei-a nos olhos.
— Movimente-se. Faça no seu ritmo.
Ela não era experiente, mas certamente já tinha visto cenas de sexo
antes. Suas mãos se apoiaram no meu peitoral e ela começou a se mover para
cima e para baixo no meu pau. Era a melhor sensação do mundo. Mesmo
com camisinha, eu podia sentir o quanto ela era apertava e estava molhada.
Seus seios balançavam conforme Hannah movia o quadril e o
movimento me hipnotizava. Minhas mãos subiram, percorreram seu corpo e
agarraram aquele par de peitos perfeitos. O prazer se acumulava, o suor ia
brotando em minha testava, a pele dela estava umedecendo e os cabelos
grudavam em seu pescoço.
Com o tempo ela foi aperfeiçoando, seus movimentos estavam
mais ritmados, os gemidos um pouco mais altos e eu queria que o mundo
parasse nesse momento. Mordi meu lábio me controlando, eu queria gozar,
mas queria prolongar a sensação.
Meu desespero por Hannah lutando contra minha vontade de querer
que durasse mais tempo.
Agarrei sua cintura e a girei novamente ficando por cima. Ela já
não sentia mais for, eu fui estocando mais rápido, suas pernas se apertando
contra minha cintura, os gemidos aquecendo ainda mais o meu corpo, o suor
molhando minhas costas, a vontade de gozar queimando tudo por dentro.
Fechei os olhos e quando senti que Hannah chegou ao orgasmo,
com seu corpo tremendo debaixo do meu e o gemido ecoando pelo quarto, eu
não resisti.
Deixei meu corpo liberar, gozando no preservativo enquanto as
forças iam se esvaindo.
Afundei o rosto na curva do seu pescoço e suspirei tentando puxar
o ar para dentro dos pulmões.
Era oficial.
Hannah tinha acabado de me conquistar definitivamente.
Capítulo 17
HANNAH

Um barulho me despertou.
Abri os olhos devagar e dei de cara com um quarto que eu não
reconhecia. Isso era bem comum dormindo em hotéis.
Imediatamente imagens do que acontecera durante a madrugada
vieram à minha mente.
Kevin e eu transamos.
Pela primeira vez eu tinha feito isso. Foi uma mistura de vergonha e
excitação que eu senti e a leve dor entre minhas pernas comprovava que o
que acontecera não era um sonho. A penumbra do quarto dava indicações de
que ainda era noite e a voz grave de Kevin chegou aos meus ouvidos.
— Já é madrugada aqui na Alemanha, sabia?
Olhei novamente, piscando algumas vezes para melhorar minha visão.
— Eu sei, mas precisava te dar feliz aniversário!
Uma voz feminina vinha do telefone. Pude ver Kevin de cueca
sentado no sofá do quarto e com o aparelho celular de frente para o rosto.
Provavelmente ele estava em alguma chamada de vídeo. Ele notou que me
movi e me olhou rapidamente antes de voltar sua atenção para o celular.
Quem era a mulher com quem ele falava?
— Obrigado, Ali.
— Louis e Maddie estão aqui também. – a voz falou — Oi, tio! –
dessa vez pude ouvir uma voz infantil.
Lembrei que ele tinha uma sobrinha, lembrei que o nome do seu
irmão gêmeo era Louis.
Ele estava falando com a família. Isso aqueceu meu coração. Pela
primeira vez eu podia ver algo real sobre Kevin Walsh, mesmo que esse ver
pudesse ser traduzido melhor como ouvir.
— Olá, princesa.
— Feliz aniversário, tio! Quando você vem para comermos bolo
juntos?
— Logo estarei aí. Reserve o dia para mim.
— Pode deixar! Hoje vou comer bolo com o papai.
— Guarde o meu pedaço.
— Ei, Kevin, feliz aniversário. – ouvi agora uma voz masculina, bem
parecida com a dele.
— Para você também.
— É uma pena passar esse dia longe de você, parece que está faltando
algo na comemoração. São muitos anos dividindo a festa.
— Não esqueci do jantar que faremos quando eu voltar, Louis.
— Parabéns, cunhado! – outra voz masculina que eu pude deduzir que
seria do marido de sua irmã.
— Obrigado, Ryan! – Kevin olhou diretamente para mim e depois
focou sua atenção no celular – Eu preciso desligar agora, tenho que descansar
porque a viagem vai ser longa. Mais tarde ligarei para vocês.
Kevin encerrou a ligação e deixou o aparelho no sofá. Seus cabelos
lisos estavam desgrenhados e ele usava apenas uma cueca. Engoli em seco
com a visão. Mesmo depois do que acontecera entre nós, eu ainda não
conseguia me acostumar no quão bonito ele era. A penumbra do quarto não
me permitia ter a total dimensão daqueles músculos, mas eu me lembrava do
peitoral largo, o abdômen liso e os braços fortes.
— Desculpe, não queria te acordar.
— Tudo bem, que horas são?
— Pouco mais de quatro horas da manhã. – ele se sentou na beirada
da cama – Vamos voltar a dormir, Hannah.
Kevin se acomodou ao meu lado e se enfiou debaixo das cobertas. Lá
fora estava bastante frio por conta do outono, mas a temperatura no quarto
era quente. Ele afastou minha franja do rosto e ficou me observando com
seus olhos verdes agora escuros por conta da falta de iluminação. Eu pensei
que estaria morrendo de vergonha depois do que aconteceu, mas ele me
deixava extremamente confortável.
— Como está se sentindo? – perguntou deitado de frente para mim.
— Estou bem.
— Saiba que essa só foi a primeira de muitas, Hannah. – Kevin estava
sério e eu realmente acreditei que continuaríamos juntos – Tem tanta coisa
que poderemos fazer, será um prazer te mostrar.
— Você não acha ruim que eu não tenha muita experiência?
— Ah, Hannah... – seus dedos deslizaram pelo meu pescoço e
desceram para meus ombros nus – Há tantas coisas que você precisa saber
sobre mim, mas acredite, achar ruim que eu fui seu primeiro? Pode ter certeza
que isso não é uma delas.
Seus lábios buscaram os meus em um beijo calmo. Pensei que Kevin
fosse intensificar as coisas, mas ele parecia não ter pressa. Trocamos apenas
alguns beijos e logo deitamos para descansar. Confesso que fiquei por alguns
minutos acordada apenas observando-o dormir.
Em alguma hora da manhã, eu abri os olhos devagar ajustando-os à
luz que entrava pelas cortinas. Um sol fraco parecia vir lá de fora o que devia
prometer um belo dia. Kevin não estava ao meu lado, isso me deixou tensa.
Será que eu tinha sido deixada aqui sozinha?
Um barulho vindo do banheiro me deixou relaxada. Ele ainda estava
aqui.
Sentei na cama e esfreguei os olhos tentando despertar. Kevin veio
para o quarto e pude ver seu sorriso. Ele acabara de sair do banho. Seus
cabelos estavam molhados e ele vestia um roupão branco e felpudo do hotel.
— Bom dia! Se quiser pode descansar mais.
— Estou acostumada a acordar cedo.
— Pedi um café da manhã para nós. Se quiser tomar banho enquanto
esperamos chegar, fique à vontade.
— Vou querer.
O grande problema é que eu estava completamente nua e minhas
roupas espalhadas pelo quarto. Mesmo depois do que acontecera, eu me
sentia ainda um pouco envergonhada de estar nua na frente de Kevin. Ao
contrário de mim, ele sempre agia como alguém confortável com o próprio
corpo. Eu sabia que era uma garota bonita, porém ainda estava tímida na
presença dele.
Kevin deve ter percebido, pois veio ao meu auxílio trazendo sua
própria blusa.
— Vista isso. – sorriu – Sei que ainda sente vergonha.
— Obrigada.
Peguei a peça de roupa e passei por cima da cabeça, enfiando os
braços em seguida e quando me levantei, a camiseta parecia um vestido,
deixando metade das minhas coxas de fora.
— Você ainda vai se acostumar a andar nua na minha frente, Hannah.
– Kevin se aproximou de mim, seus olhos verdes focados nos meus – Eu
pretendo passar muito tempo sem roupa com você.
Ele me agarrou pela cintura, puxando-me para perto do seu corpo e
me fazendo bater naquela parede de músculos. Na mesma hora me derreti e
coloquei as mãos sobre seu peitoral.
— Eu vou me acostumar a isso. – falei.
— Sei que vai.
Senti seu beijo calmo nos meus lábios e logo em seguida me soltou.
Fui direto para o banheiro tentar respirar e acalmar meu coração. Fiquei um
bom tempo lá, lavei os cabelos, aproveitei a água quente para relaxar os
músculos do meu corpo e quando saí, enrolada em um roupão igual ao de
Kevin, o café da manhã já estava posto na mesa do canto do quarto.
Kevin estava sentado em uma das cadeiras e levantou a cabeça para
me olhar. Sorri.
Passei o tempo no chuveiro pensando que deveria ser menos tímida
diante dele, menos calada, porque Kevin era o tipo de cara que gostava de
conversar. Eu não queria ser uma pessoa chata que pouco interagia.
— Estou morrendo de fome. – falei em uma tentativa de puxar
assunto.
— Tem muitas coisas gostosas sobre a mesa. – ele apontou para uma
travessa – Inclusive, pedi um pedaço daquela sobremesa que você gostou.
— Obrigada. – sentei-me à mesa – Acho que as meninas devem estar
se perguntando onde eu estou.
— Tomara que não estejam no quarto quando você voltar, vai ser
mais fácil encontrar uma desculpa. – ele se inclinou sobre a mesa e focou
seus olhos nos meus – Vamos para Nova York hoje à noite, mas gostaria de
sair com você quando estivermos lá. Vai ser muito melhor porque não
precisaremos nos esconder de ninguém.
— Eu vou adorar. – respondi sem ter medo de parecer desesperada.
Kevin estava sendo carinhoso e atencioso, não tinha motivos para eu
ficar tão fechada em mim mesma. Nós começamos a comer e eu ataquei em
primeiro lugar a tal da sobremesa de maçã que eu tinha adorado. Kevin
tomava uma xícara de café com um pedaço de panqueca. Ele estava sendo
bem americano.
— Vou tentar dar um passeio hoje à tarde antes de embarcarmos. –
falei – Quero tirar algumas fotos para mostrar à minha irmã. Ela adora.
— Eu vou ligar para meus irmãos. Prometi a eles. – ele se recostou na
cadeira de maneira relaxada – Você fala bastante da sua irmã, gostaria de um
dia conhecê-la.
— Cecile iria adorar. Ela gosta de conversar.
Kevin dera o primeiro sinal de que queria conhecer minha família,
porém não estávamos namorando oficialmente. Eu não sabia se deveria ter
esperança de que isso fosse acontecer algum dia ou se ficaríamos juntos sem
dar nome à essa relação.
Resolvi parar de pensar sobre isso e viver o que estava acontecendo.
— Vou te ligar quando estivermos em Nova York. – ele disse.
— Tudo bem.
Terminamos nosso café e eu vesti minhas roupas para voltar ao
quarto. Kevin continuou de roupão, parecia não ter a menor pressa de voltar.
Ele estava sempre relaxado, tranquilo. Dei um sorriso para ele antes de me
despedir, Kevin por outro lado, me puxou de encontro ao seu corpo e eu sorri
ainda mais.
— Nós ainda vamos aproveitar muito, Hannah. Reserve um tempo
para mim em Nova York, prometo que não irá se arrepender.
— Tenho certeza de que não.
Kevin me beijou de um jeito intenso. Talvez quisesse deixar a marca
da despedida. Passei os braços em torno do seu pescoço e me deixei levar.
Suas mãos alisavam minhas costas e uma delas desceu diretamente para
minha bunda. Eu já podia sentir meu corpo querendo mais, porém sabia que
não seria possível.
Eu já não era mais virgem e agora sabia que com Kevin iria descobrir
um mundo totalmente novo.
No meu quarto eu estava sozinha. Por sorte, Jasmine e Sandra já
tinham saído. Elas raramente ficavam no quarto, gostavam de sair, passear,
comer em algum restaurante e tirar fotos de si mesmas. Eu era bem mais
discreta, curtia estar comigo mesma, sair tranquila e aproveitar os momentos.
Fotos, na maioria das vezes, só de paisagens.
Eu era muito observadora, também gostava de ler e ver catálogos de
moda e maquiagem. Embora eu não fosse do tipo que me arrumava tão
elegantemente para sair, admirava bastante quem o fazia. A quantidade de
lojas, vestimentas, tecidos finos, tudo isso me deixava encantada e eu
costumava prestar bastante atenção nisso porque quando pensava em uma
maquiagem, ela deveria combinar com todo o look.
Coloquei uma roupa e decidi explorar um pouco da cidade. Eu me
sentia uma nova pessoa. De fato, uma mulher madura.
Voltar para Nova York agora estava sendo algo fácil e difícil, chegar
em Long Island aquecia meu coração por estar com minha família, mas me
fazia pensar bastante em Kevin. Por mais que eu tenha decidido que iria agir
de maneira mais natural e menos tímida, ainda me sentia um pouco
envergonhada quando pensava em mandar uma mensagem para ele. Por mais
que decidisse ser confiante, tudo ainda era muito recente e eu pensava se essa
relação iria continuar.
— As fotos que você me mandou são lindas, Hannah! – Cecile entrou
no meu quarto e logo sentou na cama.
— Eu queria ter tirado um pouco mais, porém foi tudo bastante
agitado.
— Vou estudar bastante, ganhar muito dinheiro e visitar vários países.
– disse sonhadora.
— Claro que vai! – eu a abracei e lhe dei um beijo na testa – Como
foram as coisas por aqui?
— Foram bem. Que bom que você está vindo mais para casa agora.
— Sim, mas terão viagens que vão me tomar mais tempo e passarei
vários dias longe. – levantei da cama – Eu te trouxe um presente.
Cecile adorava quando eu trazia lembrancinhas dos lugares que eu
visitava e tinha uma pequena coleção delas sobre a cômoda. Como eu não
podia gastar muito dinheiro, sempre trazia algum souvenir que lembrava a
cidade ou país que eu estivera. Peguei a pequena caixinha onde continha um
Playmobil, um bonequinho parecido com os da Lego, porém bem famosos na
Alemanha.
— O que é isso, Hannah? – pegou o boneco, que era uma edição do
Martin Lutero.
— Se chama Playmobil. Era bem famoso antigamente e é um boneco
ainda muito tradicional na Alemanha.
— Que engraçado. E essa aqui é o quê?
— Esse é o Martin Lutero, uma edição que só se encontra por lá.
— Que legal! Vai ficar ótimo com o resto dos meus presentes!
Fiquei conversando com Cecile e quando peguei no sono, tive um
sonho que me fez perceber que Kevin estava se tornando alguém importante
para mim.
No dia seguinte, ao acordar, tomei uma xícara de café com minha tia
antes que ela saísse para trabalhar. Depois de tomar um banho, peguei meu
celular e vi que havia uma mensagem de Kevin.
“Bom dia! Espero que esteja livre amanhã, quero que conheça uma
pessoa.”
Conhecer alguém? Como assim? Ele iria me apresentar à uma pessoa
do seu círculo de amizade? Ou seria alguém da família? Comecei a sentir um
frio na barriga diante da possibilidade.
“Quem?”
Perguntei sem conseguir conter a curiosidade.
Ele não respondeu imediatamente, o que me deixou ainda mais
ansiosa e nervosa.
Quando o celular apitou e eu pensei que tinha sido ele, era uma
mensagem de Niels.
Céus! Eu tinha me esquecido completamente dele!
Niels era um cara legal, mas eu tinha de deixar claro que seríamos
apenas amigos.
“Quando sua escala vai te trazer de volta à Dinamarca?”
Para falar a verdade, ou por mera coincidência, nossa próxima viagem
seria para a Dinamarca, mas talvez fosse melhor não lhe dizer nada.
“Eu não sei, temos viajado muito e eu não tenho acesso à escala da
empresa. Apenas sei qual é minha próxima viagem.”
A resposta dele veio logo em seguida.
“Que pena! Gostaria de sair com você quando viesse.”
Eu não fazia ideia do que responder. Não queria ser grossa, mas não
queria que ele pensasse que sairíamos juntos porque eu estava interessada.
“Você é um bom amigo, talvez a gente possa dar um passeio numa
próxima vez.”
Li e reli a frase algumas vezes antes de criar coragem e apertar o
botão de enviar. Soltei a respiração quando o fiz. Será que eu tinha sido um
pouco grossa? Eu deixei claro que eu o considerava um amigo. Acho que não
tinha jeito melhor de falar isso.
Quando o celular vibrou, era uma mensagem de Kevin e essa sim fez
meu coração bater mais acelerado.
“Espero que goste de surpresas.”
“Onde nós vamos?”
Pelo menos isso ele poderia me responder. Seria mais fácil pensar no
que vestir.
“Ao Central Park.”
Pelo visto essa seria a segunda vez em pouco tempo que eu iria ao
Central Park. Será que Kevin iria me apresentar ao seu irmão, o mesmo que
eu via com uma mulher? Não, ele não faria isso. Seria algo muito sério entre
nós me apresentar a alguém da sua família, mas não consegui pensar em
outra possibilidade. A vida dele ainda não era muito clara para mim, portanto
ficava difícil ter uma noção do que aconteceria.
Capítulo 18
KEVIN

Alicia me atualizava sobre tudo enquanto eu estava sentado em seu


sofá com uma caixinha de comida chinesa nas mãos.
— Está tudo correndo às mil maravilhas! Louis está sendo um excelente
diretor de fotografia. A equipe que ele montou é ótima.
— Ele é apaixonado por isso. Faz tempo que não vou ao apartamento
dele, mas Louis está sempre trabalhando.
— Agora com o jornal, ele tem tarefas em dobro. – Alicia pegou um
dos chocalhos para o filho que brincava no colchonete que eu havia lhe dado
– E ele continua tirando fotos para uma próxima exposição.
— Vou ver se o convido para jogar tênis no clube, Caleb está louco
por uma partida. – levei um pouco de yakissoba até a boca – Também quero
saber o que anda acontecendo com o Louis. Ele anda muito calado.
Eu sabia que ele estava escondendo algo. A vantagem de ter um irmão
gêmeo é que seu instinto e conexão com o outro era bem mais forte. Eu o
conhecia, eu sentia que estava acontecendo alguma coisa que Louis não
estava nos contando.
Ele nunca fora de ter segredos.
Isso nos intrigava ainda mais.
— Às vezes pego o Louis calado, pensativo. – Alicia falou – Mas
nunca perguntei o que estava acontecendo.
— Vou tentar conversar com ele. – coloquei a caixa de comida
japonesa sobre a mesa de centro – Só que vim te fazer um pedido, Ali.
— O quê?
— Amanhã, quero que conheça alguém.
Eu queria apresentar Hannah à minha irmã. Alicia era compreensiva e
a melhor pessoa no momento para tentar me compreender. Louis era um
romântico, sempre acreditando que tudo dará certo. Agora eu precisava de
alguém mais realista.
— Quem?
— Conheci uma garota. – comecei, mas fui interrompido pela minha
irmã curiosa.
— Está falando sério?! – sua expressão foi de completa surpresa e eu
assenti – Quem é ela? Onde você a conheceu? Qual o nome?
— Uma pergunta de cada vez, Ali. – disse – Ela trabalha como
comissária de bordo na minha companhia, se chama Hannah e mora em Long
Island.
— É a primeira vez que você me fala sobre uma mulher desde que as
coisas terminaram com Susan. Posso acreditar que as coisas são sérias entre
vocês?
Lá estava minha irmã curiosa com suas perguntas.
— Talvez sim. Estou cada vez mais confortável, cada vez mais
interessado em estar com ela. – confessei – Mas tem um problema.
— Qual?
— Hannah pensa que sou apenas um piloto de avião. Ela não faz ideia
da realidade.
— Está mentindo para a garota?
— Prefiro usar a palavra ocultando.
— Por que está fazendo isso, Kevin? – pude notar que Alicia estava
um pouco irritada.
Na verdade, estava cada vez mais difícil esconder a verdade de
Hannah. Ela era uma garota inocente e eu cada vez mais me surpreendia com
o quanto era honesta.
— Ali, depois do que aconteceu com Susan, eu não queria correr o
mesmo risco. Nunca contei para as pessoas que trabalham comigo que sou
filho de um dos caras mais ricos dos Estados Unidos. Apenas Caleb sabe,
porque é meu amigo e porque já trabalhava comigo antes.
— E você pretende esconder da Hannah para sempre?
— Não sei. Depende de como as coisas caminharão entre nós.
— E se der certo? E se você realmente quiser ficar com ela? Como vai
dizer a verdade?
— Eu não sei. – respondi com sinceridade – Procuro não pensar a
respeito disso agora.
— Talvez ela não vá gostar de ter sido enganada dessa forma.
Provavelmente não, mas eu não queria pensar a respeito disso no
momento. Só queria aproveitar um pouco mais com Hannah, ver para onde as
coisas caminhariam e analisaria meus sentimentos. A verdade é que eu não
conseguia parar de pensar nela debaixo de mim, nua e completamente
molhada. Hannah me dera algo de precioso e eu queria mostrar a ela que não
precisava se arrepender.
— Vamos deixar isso de lado por enquanto. Eu preciso que vá ao
Central Park comigo amanhã, quero que a conheça. Só me faz um favor, não
mencione que você é diretora na empresa do nosso pai.
— Irei conhecê-la e já começar mentindo.
— Por favor, Ali. Eu quase nunca te peço um favor.
— Tudo bem, mas vou levar o Luca. Ryan estará no escritório e é dia
de folga da babá.
— Não tem problema.
Convencer minha irmã era o primeiro passo. Queria que Hannah se
sentisse mais confortável comigo porque sentia que ela ainda estava muito
tímida. Talvez se conhecesse um pouco mais de mim, ela relaxaria. Logo
mandei uma mensagem torcendo para que Hannah não tivesse compromisso.
Dirigi até Long Island em um carro alugado.
Para falar a verdade, eu me sentia péssimo por ter que enganar
Hannah dessa forma, mas eu não podia parecer com um carro que custava
centenas de milhares de dólares. Meu maior desejo era que ela me enxergasse
como Kevin, um cara comum e não uma pessoa milionária.
Fui seguindo o GPS me aproximando da casa de Hannah. Ficava em
uma vizinhança residencial de casas modestas. A maioria era de dois andares
com um gramado na frente e sem cerca. O sistema de navegação me levou até
Hempstead. Hannah morava em uma casa de dois andares de fachada cinza
com portas e janelas brancas. Fiquei por algum tempo parado dentro do carro
observando.
Era uma casa simples, com alguns vasos de planta na varanda. Uma
das janelas estava com a cortina entreaberta e eu me peguei imaginando como
seria a vida dela com a família. Hannah vivia em uma realidade totalmente
diferente da minha. Tinha de confessar que muitas das vezes eu me pegava
preso à minha realidade e esquecia da grande quantidade de pessoas que
passavam por dificuldades e não tinham as mesmas oportunidades que eu.
Hannah tinha seus sonhos, mas outras prioridades a impediam de segui-lo.
Desci do Honda preto alugado e caminhei pela entrada até a porta.
Toquei a campainha e esperei. Pela primeira vez depois de muito tempo, eu
me sentia um pouco nervoso. Não era mais um adolescente, mas Hannah
despertava em mim um misto de sentimentos que me deixavam confuso.
Uma mulher de meia idade atendeu à porta. Ela tinha cabelos loiros e
brancos, lisos até os ombros e olhos azuis. Ela sorriu singelamente.
— Bom dia, vim buscar a Hannah.
— Você deve ser o Kevin.
— Eu mesmo. – respondi e estendi minha mão para cumprimentá-la.
— Sou Eleonor Phelps, tia dela. – falou apertando minha mão – Pode
entrar, Hannah está lá em cima.
Pedi licença e entrei no pequeno hall. Eleonor me guiou até a sala de
estar. O cômodo era decorado com dois sofás estampados com listas em tons
de marfim e areia, havia uma mesa de centro de madeira com um vaso de
flores, um quadro com uma paisagem de natureza morta estava pendurado em
uma das paredes e havia uma TV de tela plana presa à parede. Para
complementar, um grande tapete felpudo cobria o chão no
Uma menina ruiva desceu as escadas e eu suspeitei de que fosse a
irmã mais nova de Hannah.
— Essa é minha outra sobrinha, Cecile. – Eleonor falou estendendo a
mão para a menina – É irmã da Hannah, elas são muito apegadas.
— Muito prazer, Cecile. – estendi a mão – Hannah me falou muito de
você.
— Minha irmã é muito legal. Você deve ser legal também. – ela
apertou minha mão.
— Assim espero. – sorri.
Eu me acomodei no sofá a pedido de Eleonor enquanto esperava por
Hannah. Alguns minutos depois, ela desceu as escadas usando uma calça
jeans clara com alguns rasgos, uma blusa listada de azul e preto e uma
jaqueta jeans. Nós pés, o tênis branco que gostava de usar.
Mais uma vez eu estava espantado com o quanto ela era linda. Essa
era a primeira vez que nos víamos depois daquela viagem à Alemanha, na
qual Hannah se entregara a mim. Senti que estava um pouco envergonhada
por me ver na frente da sua tia e irmã.
— Oi, Kevin. – ela falou – Chegou cedo.
— O trânsito é sempre uma surpresa em Nova York, acabei saindo
mais cedo.
— Quer comer alguma coisa? – sua tia me ofereceu – Tem um
cheesecake que eu fiz e é minha especialidade.
— Bem, acho que vou aceitar um pedaço. É impossível recusar um
cheesecake.
Olhei para Hannah e dei um sorriso antes de acompanhar sua tia até a
cozinha. Também era um cômodo modesto, com armários de madeira e
bancada de mármore. O chão também era de madeira e havia uma mesa
quadrada no canto da mesma com uma tigela de frutas. A janela que ficava de
frente para a pia estava coberta com uma cortina branca com flores na parte
inferior.
— Sente-se e fique à vontade, Kevin. – Eleonor indicou a cadeira e eu
me acomodei à mesa.
— Tem uma casa bonita, Sra. Phelps.
— Muito obrigada. – agradeceu.
Hannah se sentou à mesa também e eu pisquei para ela. Sua tia logo
apareceu com o pedaço de cheesecake e eu comi o primeiro pedaço.
Realmente estava uma delícia. Lembrou os que minha mãe costumava fazer
quando eu era criança.
— Está excelente, Sra. Phelps. Não me enganou quando disse que era
sua especialidade.
Eu dirigia de volta para Manhattan dessa vez com Hannah ao meu
lado. Não nos beijamos diante da sua família e agora eu estava louco por um
beijo. Ela olhava pela janela enquanto o carro deslizava pelas ruas. Já tinha
notado o quando Hannah era observadora e estava se tornando algo comum
para mim admirá-la.
— Tudo bem, Hannah? – perguntei depois de vê-la em silêncio por
tanto tempo.
— Sim, só estou um pouco nervosa. – ela olhou para mim – Não vai
mesmo me contar a quem vai me apresentar?
— Ainda não, espera chegarmos ao Central Park. – coloquei a mão
sobre sua coxa – Fique tranquila, você vai gostar.
A viagem de volta não demorou muito, a pior parte foi o trânsito de
Manhattan, que era sempre confuso e agitado a qualquer hora do dia, mas eu
tinha de confessar que gostava desse tumulto. Parei o carro em um
estacionamento e desci junto com Hannah. O vento jogava seus cabelos
ruivos para trás, afastando a franja da sua testa e deixando ainda mais o seu
rosto a mostra.
Eu me aproximei e antes que pudéssemos ir em direção ao Central
Park, eu puxei-a pela cintura colando-a ao meu corpo. Hannah passou os
braços em torno do meu pescoço e eu curti isso, podia sentir que ela estava
mais entregue e mais à vontade comigo.
— Estou louco por um beijo seu. – falei aproximando minha boca da
sua.
— Eu também.
Pude sentir os dedos dela afundarem entre os fios do meu cabelo antes
que meus lábios encontrassem os seus. Eu queria muito mais, porém só pude
lhe dar um beijo calmo e rápido. Estávamos em um local público bem a luz
do dia, então eu tinha de controlar minha libido, algo que era extremamente
complicado em se tratando de Hannah Davis.
Tive de me afastar dela, mas olhei em seus olhos azuis tão brilhantes
e mais claros por conta da luminosidade.
— Você vai conhecer uma pessoa muito especial para mim hoje. –
falei – Na verdade, são duas pessoas.
— Quem?! – pude perceber que ela ficou ainda mais nervosa.
— Minha irmã e meu sobrinho.
Aqueles lindos olhos azuis se arregalaram de surpresa. Acho que eu
tinha deixado Hannah ainda mais tensa, mas sabia que assim que ela
conhecesse Alicia, o medo e o nervosismo seriam deixados de lado.
— Não acredito nisso, Kevin! – exclamou – Estou nervosa! O que ela
vai pensar de mim? Não sei como agir.
— Aja do jeito de sempre. Você é uma pessoa incrível e tenho certeza
de que Alicia vai te adorar. – passei meu braço em volta da sua cintura –
Agora vamos, ela já deve estar lá.
Caminhei com Hannah pelo centro de Manhattan e a Quinta Avenida.
Essa parte da cidade era bastante conhecida por mim. Eu estava acostumado a
tomar café por aqui, correr no Central Park, aproveitar os restaurantes e a
vida noturna. Havia grande parte de mim que Hannah ainda não conhecia,
mas eu mostraria aos poucos.
A realidade, pelo contrário, seria mantida em segredo até que eu
tivesse certeza de que ela confiasse em mim e curtisse a minha companhia,
sem saber toda a vida que eu carregava.
Pude ver minha irmã no local em que combinamos. Mesmo de longe,
era possível ver os longos cabelos escuros de Alicia e o carrinho de bebê
cinza escuro do meu sobrinho. Hannah passou quase toda a caminhada em
silêncio e assim que entramos no Central Park, pude sentir seu corpo ficar
mais rígido pela tensão.
— Relaxe. – falei baixo próximo ao seu ouvido – Lembre-se de que
eu conheci a sua família também.
Ela apenas assentiu e quando nos aproximamos ainda mais de Alicia,
minha irmã se tocou da nossa presença e virou a cabeça em nossa direção.
Imediatamente, ela sorriu. O que me deixou contente porque isso faria com
que Hannah se sentisse à vontade.
— Oi, Ali. – cumprimentei minha irmã com um beijo no rosto –
Quero que conheça, Hannah Davis.
— Muito prazer, Hannah. – ela estendeu a mão – Sou Alicia
Beaumont e esse é meu filho Luca.
— O prazer é meu. – respondeu um pouco tímida retribuindo o
cumprimento e apertando a mão da minha irmã – Seu filho é lindo! –
exclamou a olhar para meu sobrinho.
— Obrigada. Dizem que ele é a cara do pai, o que é injusto porque fui
eu quem carregou durante nove meses. – sorriu.
— Acho que a maioria nasce com a cara do pai. – Hannah respondeu.
— Embora tenha puxado o Ryan, meu sobrinho é lindo. – comentei
para provocar Alicia.
— Ei! Meu marido é lindo! – ela imediatamente fechou a cara e em
seguida suavizou a expressão e olhou para Hannah – Você terá de ter
paciência com esse aqui, Kevin sabe ser implicante quando quer. – ela me
deu leves tapinhas na bochecha.
Dei uma risada e chamei as duas para nos sentamos em um dos
bancos. Apesar de ser outono e a temperatura já estar mais baixa, havia uma
grande quantidade de pessoas pelo Central Park. Muitas caminhavam,
fazendo seus exercícios físicos, outras passeavam e muitas tiravam um tempo
para ler um bom livro. Perguntei se Hannah queria comprar algo para comer,
mas ela disse que estava bem.
Luca chorou e Alicia o pegou no colo para acalmá-lo.
— Acho que ele está com fome. – comentou e olhou para mim – Pode
pegar na bolsa dele uma mamadeira que deixei pronta?
Imediatamente fiz o que ela me pediu e logo Luca se acalmou
enquanto sugava a mamadeira.
— Hannah, meu irmão me disse que você é comissária de bordo.
— Sim, comecei a trabalhar como comissária assim que terminei o
curso. Há pouco tempo fui promovida para voos internacionais e fiquei muito
contente.
— Isso é excelente, meus parabéns. Sempre foi seu desejo ser
comissária?
— Não, na verdade foram as circunstâncias que me levaram a isso. –
senti uma ponta de tristeza em sua voz, além do mais, eu sabia qual era o
desejo real dela – Eu sempre quis ser maquiadora profissional.
— É mesmo?! – Alicia arregalou os olhos surpresa – É uma profissão
bem interessante. Quem sabe eu possa ser sua primeira cliente? – sorriu.
— Nossa! – dessa vez foi Hannah quem ficou surpresa – Seria
maravilhoso!
— Então está combinado! – minha irmã usou seu tom decidido –
Assim que eu tiver um evento, vou te chamar. Estou falando sério!
— Se Alicia disse isso, pode acreditar que é verdade. – passei o braço
por sobre os ombros de Hannah – Você está sendo convocada oficialmente.
— Vai ser um prazer para mim. – disse.
Alicia terminou de alimentar Luca e o entregou para mim. Eu era
louco pelos meus sobrinhos e quando tinha a oportunidade, queria ficar com
eles o máximo de tempo possível. Não queria ser o tio distante que eles só
viam em eventos da família. Luca logo ficou de pé sobre minhas coxas
enquanto eu o segurava por debaixo dos braços. Começou a fazer festa
querendo pular e eu me espantei com o quanto ele crescia rápido. Já estava
com sete meses e quando eu me desse conta, estaríamos comemorando seu
primeiro aniversário.
— Alicia, será que podemos combinar um almoço? Assim Hannah
conhece o Ryan e o Louis. – falei.
— Acho excelente!
— Vamos deixar para a próxima vez que estivermos na cidade. Tem
um restaurante novo que parece ser um bom lugar. – o bistrô da minha mãe
estava fora de cogitação.
— A Maddie vai querer participar também.
— Ela está mais do que convidada.
Luca começou a chorar e eu o entreguei de volta para Alicia. Ela disse
que era melhor ir embora porque não era bom que ele ficasse tanto tempo do
lado de fora agora que as temperaturas estavam caindo consideravelmente.
Dei um beijo no rosto da minha irmã e ela prometeu que me ligaria mais
tarde.
— Foi um prazer te conhecer, Hannah. Espero que nos vejamos em
breve. – acenou antes de se afastar empurrando o carrinho do filho.
Esperei até que Alicia estivesse longe o suficiente e voltei a me sentar
com Hannah no banco. Tirei uma mecha do seu cabelo da frente do rosto e a
coloquei atrás da orelha. Dessa vez a maquiagem cobriam as pequenas sardas
que ela tinha no nariz.
— O que achou dela? – perguntei.
— Sua irmã é uma mulher muito linda. – respondeu com um sorriso –
Ela é bem simpática também, mas fiquei tão nervosa.
— Relaxe, Hannah. Alicia é uma das melhores pessoas do mundo.
— Agora você me deixou mais tensa, quer que eu conheça outras
pessoas também.
— Mas não se preocupe, todos são ótimos igual a minha irmã. –
peguei sua mão – Você é incrível também. Precisa se lembrar sempre disso.
— Você também é. – seus olhos azuis se fixaram nos meus – Eu tinha
uma imagem totalmente diferente antes de nos conhecermos assim.
— Pareço ser um cara difícil. – segurei seu queixo mantendo meu
olhar no seu – Mas foi só uma fachada que eu criei para me manter longe de
você.
— Felizmente não deu certo. – ela falou baixinho.
— Com você, não tinha mesmo como dar.
Eu a beijei e senti todo o meu corpo se aquecer nesse momento. A
cada beijo com Hannah, nossas bocas pareciam se encaixar ainda melhor.
Nós estávamos nos conhecendo, aprendendo sobre o jeito do outro. Hannah
era tão delicada e ao mesmo tempo tão forte. Tinha um ar de inocência, mas
também era madura e absurdamente sexy.
Quando me afastei, olhei-a novamente ainda sem acreditar no quanto
era linda. Meu corpo a desejava de maneira absurda, se eu pudesse a levava
para a cama nesse momento, mas estávamos no meio do Central Park e tudo
que restava era me controlar.
— Venha, Hannah. – levantei – Vamos comer alguma coisa.
Ela me acompanhou e decidimos comer tacos em um food truck
mexicano parado ali perto. Comemos enquanto conversávamos um pouco
sobre meu sobrinho. Contei sobre seu nascimento, o fato de eu não poder ter
comparecido e do quanto eu ficava chateado por perder alguns momentos
importantes na vida dele e da Maddie.
— Eu te entendo, também fico chateada quando não posso estar ao
lado da minha irmã. – ela comentou jogando a embalagem da comida no lixo.
— Gostei muito dela e da sua tia. Espero poder vê-las mais vezes.
Começamos a caminhar para aproveitar um pouco da vista do parque
e do que ele tinha a oferecer.
— Você pode ir até Long Island quando quiser. – Hannah falou
virando o rosto para me olhar enquanto continuávamos andando.
— Ainda irei muito até lá.
Parei de andar e me virei ficando na frente de Hannah. Aqueles lindos
olhos azuis me observavam com atenção e por um momento fiquei
hipnotizado por eles. Segurei seu rosto entre as mãos. Hannah era bem mais
baixa que eu, mas o que ela representava para mim não parava de crescer.
Alisei sua bochecha com meu polegar e suas mãos seguraram meus
antebraços.
— Aconteceu alguma coisa? – perguntou diante do meu silêncio.
— Hannah, você não deve nem fazer ideia do quanto está mexendo
comigo. Já tive muito medo de me envolver com alguém, mas tomei a
decisão de que não ia deixar que isso me impedisse de estar com você.
— Kevin...
— O que vivemos até aqui foi maravilhoso e quero aproveitar muito
mais.
— Foi tudo incrível. Eu não me arrependo. – falou baixinho.
— Ainda faremos muitas coisas juntos, mas isso vai depender de
você. – tirei uma das mãos do se rosto e envolvi sua cintura puxando-a de
encontro a mim — Namora comigo, Hannah?
E ali, no meio do Central Park, com a brisa de outono, eu fiz a
pergunta que eu pensei que nunca mais fosse sair da minha boca.
Capítulo 19
HANNAH

Fiquei boquiaberta com o pedido.


Por mais que estivéssemos nos dando bem, por mais que eu tivesse
confiado em Kevin e entregado minha virgindade, eu não esperava mesmo
que ele me pediria em namoro.
Pelo menos não agora.
Kevin estava me deixando nervosa de várias maneiras, mas de um
jeito bom. Seus olhos verdes me observavam em expectativa, mas meu
cérebro parecia não estar conectado com minha boca então não consegui
esboçar nenhuma resposta de imediato.
Ainda estava me recuperando de ter conhecido Alicia, sua irmã.
Agora ele estava parado na minha frente me pedindo em namoro e eu jamais
poderia ter imaginado isso quando nos conhecemos. Kevin realmente era
capaz de surpreender uma mulher.
Respirei fundo tentando controlar minhas emoções e acalmar as
batidas do meu coração.
— Sim. – finalmente respondi – É claro que quero!
— Seu silêncio me deixou tenso, Hannah Davis.
Dei uma risada antes de seus lábios procurarem os meus.
Eu me sentia feliz, tinha conhecido um cara legal, bonito e que estava
cada vez mais me deixando confortável. Seria loucura negar o pedido.
Kevin já havia se mostrado um homem em quem eu podia confiar.
Aos poucos ia percebendo que ele era brincalhão e gostava de surpreender. A
maneira com que me olhava, me tocava, deixava claro o quanto me desejava
e isso me trazia ainda mais confiança. Eu me sentia sexy.
Nosso beijo terminou e nos afastamos. Infelizmente estávamos em um
lugar público e não poderíamos deixar as coisas se tornarem mais quentes.
— É Hannah, agora você está oficialmente ligada a mim. – senti suas
mãos em minha cintura – Infelizmente, ainda teremos que nos esconder dos
outros, mas eu quero aproveitar bastante ao seu lado na nossa próxima
viagem. Vou reservar outro quarto.
— Não acha que vão perceber? – perguntei – Além do mais, você está
gastando com hospedagem.
— Fique tranquila, daremos um jeito. E não se preocupe com a
hospedagem, vale a pena cada centavo.
Passamos por mais algum tempo ali no Central Park, fomos até uma
Starbucks e compramos um café porque a brisa gelada se intensificara. Kevin
muitas vezes me roubava um beijo e eu me senti mais à vontade para lhe dar
o braço e caminhar ao seu lado na calçada enquanto íamos até o
estacionamento.
Chegara a hora de voltar a Long Island, mas dessa vez eu não era
mais uma mulher solteira.
Kevin e eu tínhamos iniciado um relacionamento e eu queria muito
saber como as coisas seriam de agora em diante.
Horas depois, já em casa, contei à minha tia o que acontecera e ela me
felicitou. Acho que tia Eleonor podia notar que o brilho do meu olhar tinha
ficado diferente e que o semblante, antes de preocupação, ganhara um pouco
mais de tranquilidade. Cecile também se animara, ela tinha dado seu parecer
sobre Kevin e tinha gostado bastante dele.
— Ele parece ser um bom rapaz, querida. – minha tia me abraçou –
Fico feliz que esteja vivendo sua vida como uma garota da sua idade.
— Eu sei, mas sabe que sempre vou me preocupar e fazer de tudo
para ajudar aqui.
— Claro que sei. Você amadureceu muito rápido, mas é bom que
também tenha seus momentos de lazer.
Eu queria contar a novidade para Juliet e Peter, mas eu nem mesmo
havia comentado nada sobre Kevin, então achei melhor deixar para uma outra
oportunidade. Naquela noite, eu fui dormir me sentindo contente e mais leve
pela primeira vez em muito tempo. Os problemas ainda me deixavam
preocupadas, mas poder ter alguns momentos em que eu podia deixar tudo
isso de lado e aproveitar com um cara legal, também era maravilhoso.
A viagem para a Dinamarca fora tranquila. Durante o tempo que
passamos no aeroporto JFK e no saguão do hotel em Copenhague, eu evitei
ao máximo olhar para Kevin, mas enquanto ainda esperávamos na sala da
companhia no aeroporto em Nova York, recebi duas mensagens no meu
celular.
“Não vejo a hora de aproveitarmos novamente outro quarto de hotel.”
“Já disse que você fica gostosa demais nesse uniforme?”
Kevin não tinha jeito, mas eu não contive um sorriso e acabei
olhando-o por apenas um segundo antes de desviar minha atenção e disfarçar
meu rosto ruborizado. Eu queria muito responder, mas demorei alguns
minutos para tomar coragem. Olhei para a tela do meu celular e digitei
algumas palavras várias vezes até que respirei fundo e decidi ser mais ousada
também.
“Já disse que você fica incrível nesse uniforme, Sr. Piloto?”
Fiquei com o dedo sobre o botão de enviar até que o toquei. A
mensagem tinha chegado no telefone dele e não tinha mais volta.
Vamos, Hannah, deixe de ser boba.
O cara era meu namorado, ele já tinha me elogiado diversas vezes,
tínhamos compartilhado uma intimidade que até então eu não tivera com
ninguém e a todo momento, Kevin queria que eu me sentisse confortável.
Escrever esse tipo de coisa era normal entre os casais e eu tinha que começar
a agir de maneira mais natural, antes que Kevin começasse a achar tudo
muito monótono.
Havia muito tempo que eu tinha namorado, então estava um pouco
destreinada.
Sempre fui uma garota tímida, portanto ser ousada como Sandra ou
falante como Jasmine, era algo um pouco mais complicado para mim.
Entramos no ônibus que nos levaria até a aeronave e eu me sentei no
penúltimo banco. Kevin se acomodou no lugar de sempre, mais à frente. Pude
perceber que ele até tentou mexer no celular, mas Caleb sentou-se ao seu lado
e começou uma conversa.
— Oi, Hannah. – Sandra sentou-se em um banco à minha frente,
ficando de lado para me olhar – Que bom que voltaremos à Dinamarca! Estou
louca pra ir novamente ao bar que costumamos frequentar. Será que aquele
cara que conversou com você vai aparecer por lá?
Niels.
Eu não queria pensar nele, não estava interessada e agora com Kevin,
realmente não haveria a possibilidade de termos um relacionamento. Niels
era um cara legal, alguém interessante para conversar, mas nada além disso.
— Sinceramente, eu não sei. – respondi olhando através da janela.
— Você é bem sortuda porque ele pareceu gostar de você. Mesmo de
longe, eu pude perceber.
— Mas ele é só um amigo. – olhei para ela – Então se você estiver
interessada, saiba que pode ficar à vontade.
— Ouviu isso, Jasmine? – olhou para a morena – Recebi carta branca!
Subir na aeronave não foi nada fácil. Kevin foi um dos primeiros, mas
desde que entramos no ônibus, ele não tinha me dirigido nenhum olhar.
Claro, eu sabia que tínhamos de manter as coisas em segredo, mas eu
precisava confessar que não era nada fácil.
— Espero que tenhamos um bom voo. – falou antes de se dirigir para
a cabine do piloto acompanhado de Caleb.
Por sorte a viagem passou sem muitos contratempos. Houvera duas
turbulências, mas nenhuma delas fugiu da normalidade. A aeronave estava
cheia e assim que pousamos, eu senti a expectativa do que viria em seguida.
Iríamos para o hotel e lá eu teria meu momento a sós com Kevin.
— Está de pé sairmos hoje à noite? – Caleb perguntou se
aproximando de nós.
— Claro! Acha que vou perder a oportunidade de ir até aquele bar? –
Sandra respondeu.
— Nos vemos às oito. – ele deu um beijo na bochecha dela e se
afastou.
Virei para trás por um breve momento, mas Kevin continuava
olhando para um ponto distante. Alguns táxis nos esperavam e fomos levados
direto para o hotel, que era o mesmo que ficamos na primeira vez.
Lembrei de como estavam as coisas naquela época. Como minha
primeira viagem internacional, eu me sentia nervosa. Tinha ficado
impressionada com a beleza de Kevin e o quanto ele chamava a atenção
naquele uniforme de piloto, mas tudo que podia fazer era olhar. Sandra
dissera que ele não se envolvia com mulheres do trabalho.
Agora, eu era oficialmente a exceção da regra.
Se naquela época me dissessem que eu um dia iria namorar com
Kevin Walsh, eu jamais teria acreditado. Certamente ia achar que a pessoa
estava bêbada.
— Vou fazer nosso check-in. – Caleb falou assim que entramos no
saguão do hotel.
— Eu aguardo aqui. – Jasmine sentou-se em uma das poltronas da
entrada.
Para não olhar para Kevin, eu peguei meu celular e mandei uma
mensagem para minha tia avisando que tinha chegado. Ela sempre ficava
preocupada com as viagens e eu gostava de tranquilizá-la. O frio em
Copenhague só me dava mais vontade de me trancar no quarto e deitar na
cama. Eu estava precisando disso.
Quando o check-in terminou, subimos cada um para seu quarto e
depois de largar a mala ao lado da cama, peguei meu celular para ver se
minha tia tinha respondido algo, mas havia apenas uma mensagem de Kevin.
Só isso já me deixou na expectativa.
“Me encontre daqui a uma hora no quarto 405.”
Respondi confirmando e senti meu coração bater acelerado.
Eu tinha de arrumar uma desculpa. Por sorte ainda estava cedo e eu
podia fingir que daria umas voltas.
— Eu vou deitar um pouco. – Sandra se jogou na cama – Preciso
muito descansar para mais tarde.
— Acho que vou ao restaurante do hotel, estou com fome. – Jasmine
falou tirando os sapatos de salto – Quer ir comido, Hannah?
— Estou sem fome, sempre fico assim quando chego de viagem. –
menti – Vou tomar um banho e dar umas voltas, prometi que compraria algo
para minha irmã.
— Tudo bem. Nós nos vemos mais tarde no bar, certo?
— Claro. – assenti.
Jasmine trocou de roupa e logo saiu do quarto. Sandra parecia já ter
adormecido e eu corri para o banheiro procurando tomar um banho. Quando
saí vestida com um roupão, coloquei uma calça jeans, uma sapatilha preta e
um suéter roxo. Penteei os cabelos, peguei uma bolsa e saí do quarto na hora
marcada com Kevin.
Queria muito não precisar me esgueirar pelos corredores e mentir para
as pessoas, mas eu sabia que meu emprego estaria em risco se soubessem que
eu estava namorando com Kevin. Peguei o elevador até o quarto andar e
encontrei o quarto 405. Toquei a campainha do mesmo e esperei sentindo
meu coração bater mais rápido. Eu ainda estava me sentindo uma
adolescente.
A porta abriu e eu dei de cara com Kevin ainda trajando seu uniforme
de piloto. A calça preta, o cinto da mesma cor, a camisa branca justa ao corpo
com a gravata também preta. Nos ombros, as quatro listas douradas que
significavam que ele era o primeiro piloto. Engoli em seco diante dele.
Kevin era bem mais alto que eu, seus olhos verdes me observavam de
um jeito que parecia que estava tirando minha roupa mentalmente.
— Entre, Hannah. – ele se afastou – Esse quarto também é seu.
Dei alguns passos a diante e entrei.
O quarto não era tão majestoso quanto do da Alemanha, mas era
maior do que os que estávamos acostumados a frequentar. A cama era grande
e tinha um lençol cinza escuro. As paredes eram claras e as cortinas também.
Um sofá cor de areia estava próximo à janela com uma mesa redonda de
madeira ao lado.
— Gostou? – perguntou ao fechar a porta.
— O quarto é lindo. – respondi.
— Nossa, Hannah, eu estava falando de mim.
Virei-me imediatamente para ele surpresa com a pergunta. Kevin
tinha um sorriso nos lábios e parecia estar se divertindo.
— Foi uma brincadeira. – se aproximou de mim e colocou a mão em
minha nuca por baixo dos meus cabelos – Mas eu gostaria de saber se você
também gostou de mim. Ainda estou de uniforme, afinal, você disse que eu
fico incrível nele. – sorriu – Suas palavras.
— E eu não menti. – coloquei as mãos sobre seu peito – Você fica
mesmo muito bonito.
— Não tanto quanto você naquele uniforme. – seus lábios tocaram
minha bochecha, deslizando para perto do meu ouvido – Ainda quero que
você o use quando estivermos sozinhos.
Ele nem me deixou responder, sua boca grudou na minha em um beijo
intenso. Kevin era maravilhoso. Nosso beijo ficava cada vez melhor, cada
vez mais em sintonia e eu esqueci tudo e só pensei no que estava acontecendo
agora entre nós. Meus braços envolveram seu pescoço e eu senti que ele me
levava até a cama.
Deixei Kevin me deitar sobre o colchão e senti o peso do seu corpo
em cima do meu. Nossos lábios se afastaram um pouco, mas o suficiente para
que logo em seguida ele começasse a beijar meu pescoço. Senti um arrepio,
uma sensação gostosa que só senti com Kevin.
— Hannah, seu cheiro é delicioso.
Com todo o cuidado, ele tirou minha sapatilha e meu suéter. Fiquei
com meu sutiã vermelho e a calça jeans. Embora ainda estivesse com um
pouco de vergonha, eu já me sentia mais à vontade. O olhar de desejo de
Kevin também me ajudava a relaxar. Ele gostava de mim, ele me desejava e
isso me incentivava a ser menos tímida.
Seus dedos agarraram minha calça e abriram os botões com extrema
agilidade. Com minha ajuda, ele se livrou dos meus jeans e me deixou apenas
de lingerie. Eu sentia meu corpo pegar fogo, Kevin estava me fazendo
descobrir novas sensações.
Seus dedos deslizaram pela minha barriga, o polegar circulou meu
umbigo me deixando arrepiada. Achei que ele ia continuar, mas se afastou
ficando de pé e começou a tirar o uniforme. Meus olhos se fixaram em cada
movimento. O nó da gravata preta sendo desfeito, cada botão da camisa
branca sendo aberta até deixar a mostra seu peitoral forte e a o abdômen
definido. Kevin se livrou da camisa e ficou com a calça e o cinto, ambos
pretos.
— Nossa! – acho que pensei alto.
Kevin sorriu e continuou seu exibicionismo. Abriu o cinto, o botão da
calça e baixou a mesma ficando apenas com uma cueca boxer branca. Ali,
debaixo daquele tecido, era possível ver sua ereção. Ele se inclinou, ficando
sobre mim novamente e passou os lábios sobre os meus, mas não me beijou.
— Hoje eu não tenho pressa, Hannah.
Ele passou a língua pelo meu pescoço e desceu até a curva dos meus
seios. Distribuiu beijos por ali, em cada pedaço de pele descoberto pelo sutiã
e em seguida, levou as mãos até minhas costas, fazendo eu me erguer um
pouco do colchão. Seus dedos hábeis abriram meu sutiã e com minha ajuda,
eu o retirei. Meus seios ficaram nus, mas dessa vez eu não senti vergonha.
Estava ficando confiante na frente de Kevin.
Sua mão segurou meu seio e eu arfei com o contato. Fechei os olhos e
voltei a deitar na cama enquanto seu polegar circulava meu mamilo rígido.
Suas carícias eram incríveis, faziam meu corpo parecer febril diante do calor
que sentia. O sangue corria rápido pelas minhas veias, o coração batia
acelerado e eu sentia o prazer aumentando a cada toque.
Kevin passou a língua pelo meu mamilo e eu gemi. Agarrei o lençol
enquanto ele explorava os meus seios. Sentia chupões, carícias, leves
mordidas no meu mamilo e comecei a me contorcer. Eu queria mais, muito
mais e sabia que Kevin iria me dar o que tanto desejava.
— Você é demais. – sussurrou com os lábios próximos aos meus
seios.
Ele passou um bom tempo ali me provocando, se deliciando com eles
e quando sua boca começou a descer, passando pela minha barriga, eu arfei.
Provavelmente eu sabia o que Kevin pretendia fazer. Um misto de ansiedade,
curiosidade e vergonha me dominaram. Mesmo tímida com isso, eu não
queria parar. Éramos um casal e esse tipo de intimidade deveria ser comum.
Apenas relaxe e se entregue, Hannah. Não precisa ter vergonha. Ele
te quer.
Kevin agarrou minha calcinha e puxou-a para baixo, deslizando por
minhas pernas. Continuei o mantra de que não precisava ficar tímida. Eu não
tinha do que me envergonhar. Tomei coragem e abri os olhos. Kevin estava
me observando com aquele olhar de desejo. Isso me fez relaxar e saber que
não precisava ser tímida nessa hora.
Suas mãos afastaram minhas coxas e eu fiquei ali, deitada e exposta.
Kevin abaixou a cabeça, começou beijando a parte interna dos meus joelhos,
uma de suas mãos acariciando minha perna e logo foi subindo, me deixando
arrepiada, na expectativa, sua boca na parte interior das minhas coxas.
Quando ele se aproximou da minha intimidade, eu fechei os olhos. Sua língua
deslizou pela minha virilha e em seguida senti o mesmo toque no meu
clitóris.
O gemido que escapou da minha garganta não estava sob meu
controle. Kevin começou a me explorar ainda mais, sua língua se tornou
voraz, sedenta e eu comecei a me contorcer sentindo o prazer aumentar cada
vez mais rápido. Algum tempo depois, senti uma explosão dentro de mim,
uma sensação que havia experimentado da outra vez, mas agora parecia ainda
mais intensa.
Eu estava relaxada, ofegante, mas Kevin ainda não tinha terminado.
Ele tirou a última peça que cobria seu corpo e ficou totalmente nu. Sua ereção
chamou minha atenção e eu não consegui desviar o olhar enquanto ele
pegava uma camisinha e a colocava. Seu sorriso me fez sorrir também e em
alguns segundos, ele me penetrou.
Novamente eu senti aquela sensação de ser totalmente preenchida, de
me sentir uma nova mulher. Kevin começou a se movimentar dentro de mim
e mais uma vez comecei a ser levada para um novo lugar. Antes que eu
pudesse chegar lá, ele parou os movimentos se virou, me deixando por cima.
Apoiei minhas mãos em seu peitoral e comecei a me mover. No início bem
devagar, até que Kevin segurou minha cintura e começou a me guiar, me
ajudando com os movimentos.
Era delicioso.
Eu tinha de admitir que sexo com Kevin estava no topo da lista de
coisas incríveis que já fiz.
Comecei a me movimentar mais rápido, para cima e para baixo, o
suor começou a brotar na minha testa e Kevin soltou um gemido. Era
delicioso saber que eu estava dando prazer a ele. Que estávamos na mesma
sintonia.
Ele se sentou na cama, minhas pernas envolveram sua cintura e
continuei a me mover. Suas mãos me seguravam com firmeza e eu comecei a
seguir por aquele caminho de sensações únicas. Nossos gemidos se
mesclaram em praticamente um som e quando senti que Kevin chegou ao seu
limite, meu corpo também se liberou.
A sensação de ter atingido o orgasmo era única.
Eu não tinha experiência, mas tinha certeza de que era assim. Era
maravilhoso demais para ser algo diferente.
Kevin deitou e eu me deixei cair sobre ele. Sua mão foi para minha
cabeça e senti seu cafuné de leve. Nossas respirações estavam ofegantes e eu
respirei fundo tentando puxar o ar com mais força para os pulmões. Sorri e
fechei os olhos aproveitando a onda de prazer que ia se dissipando.
— Está cada vez melhor. – Kevin falou.
— Sim. – respondi – Mesmo que eu não tenha muita experiência no
assunto.
— Ah, Hannah, tem muita coisa ainda que quero te mostrar. – sua
mão deslizou por minhas costas nuas e parou na curva da minha bunda – Mas
vamos com calma, uma coisa de cada vez.
Ele se virou na cama e me deixou debaixo do seu corpo. Seus olhos
verdes procuraram os meus e eu não consegui evitar um sorriso. Não sabia
que poderia me sentir tão feliz. Kevin já tinha tomado uma parte do meu
coração e isso não tinha mais volta.
— Que tal tomar um banho comigo?
Essa seria novamente uma primeira vez.
Eu nunca tinha tomado banho com um homem, mas gostei da ideia.
Chegara o momento de eu me libertar e ser a mulher adulta que deveria.
Assenti concordando com a ideia e Kevin se levantou me puxando com ele.
Caminhamos de mãos dadas até o banheiro, lá ele se livrou da camisinha e foi
até o box para abrir o chuveiro. Logo o vapor começou a tomar conta do
banheiro e aquecer aquele espaço.
O ambiente era um pouco maior do que o banheiro do quarto em que
eu estava hospedada. Era claro, tinha um grande espelho em cima da pia e um
box retangular com porta de vidro. Os detalhes da pia eram de um mármore
escuro e havia toalhas brancas penduradas ao lado de roupões da mesma cor.
— Venha, Hannah. – Kevin estendeu a mão para mim.
Não pude evitar olhar seu corpo nu. Ele era forte, musculoso e alto.
Seu abdômen era marcado por músculos e liso. Não havia gordura nenhuma
ali. Kevin era um homem lindo.
Dei a mão a ele e entrei no box, indo diretamente para debaixo da
água quente. Meu corpo todo relaxara nesse momento. A água escorreu pelos
meus cabelos, pela minha pele e em poucos segundos eu estava totalmente
molhada. Kevin ficou me observando sem dizer nenhuma palavra.
Milagrosamente eu não estava tímida. Depois do que acontecera entre nós, eu
já me sentia mais confiante.
Kevin me puxou de surpresa pela cintura e me beijou. Pude sentir
minha pele molhada de encontro a dele seca, suas mãos deslizando pelo meu
corpo até alcançar a minha bunda, sua língua buscando a minha com fervor
me deixando novamente excitada. Alisei seu abdômen, seu peitoral e agarrei
seus ombros. Eu estava na ponta do pé, já que era bem mais baixa.
Rapidamente e me surpreendendo, ele me segurou firme pela cintura e
me pegou no colo, fazendo com que entrelaçasse minhas pernas na sua
cintura. Arfei de desejo, Kevin conseguia me deixar excitada com uma
rapidez absurda. Agarrei seus cabelos e inclinei a cabeça para trás quando ele
começou a beijar meu pescoço.
— Kevin... – chamei seu nome.
— Puta que pariu, Hannah!
O xingamento saiu com desespero, pude sentir porque logo em
seguida ele me beijou novamente com a mesma intensidade. Senti minhas
costas irem de encontro ao azulejo gelado e me arrepiei. Uma das minhas
mãos começou a deslizar em suas costas e meus lábios continuaram se
movendo com os dele em um beijo desesperado.
Quando Kevin se afastou, respirei fundo me sentindo ofegante. Abri
os olhos e pude ver que ele estava tão afetado quanto eu.
— É melhor tomarmos banho antes que eu cometa uma loucura aqui
dentro. – ele me colocou no chão novamente – Você é muito gostosa, Hannah
Davis.
Dei uma risada diante das palavras dele.
Esse homem me dizia coisas que poucas vezes tinha ouvido, visto que
minha experiência com homens era pequena.
Após o banho, sequei os cabelos, coloquei minha roupa para retornar
ao quarto e me despedi de Kevin, que continuava com seu roupão sem
nenhuma pressa de voltar para o dele. Antes de sair, ele me puxou novamente
pela cintura e me deu outro beijo de tirar o fôlego. Eu me sentia leve.
— Nos vemos no bar mais tarde. Uma pena que não poderei te beijar.
Só te olhar será uma tortura.
— Para mim também.
Assim que entrei no meu quarto, encontrei com Jasmine batendo papo
com alguém através do FaceTime, então ela só me deu um tchauzinho como
cumprimento enquanto Sandra ajeitava os cabelos com uma escova
modeladora.
— Oi, Hannah. Nem te vi saindo. – comentou.
— Fui dar umas voltas, comprar algo para minha irmã.
— Não achou nada? Você não está com nenhuma sacola. – olhou para
minhas mãos.
— Infelizmente não. – tive que encontrar uma desculpa rápida – O
que tinha na loja de souvenirs não era nada que fosse agradá-la. Amanhã vou
procurar melhor, não quis ir para muito longe do hotel porque queria
descansar antes de sairmos.
— Ah, que bom que você vai conosco! Ultimamente não temos saído
juntas.
— É, eu acho que estou devendo.
Sair à noite em Copenhagen agora no outono exigia uma roupa um
pouco mais fechada. Eu decidi por uma meia calça preta, uma saia preta
brilhosa que dava alguns reflexos brilhantes, uma blusa preta de mangas
longas com um decote arredondado que dava uma visão de parte superior dos
meus seios. Depois de ter transado com Kevin, eu me sentia poderosa.
Fiz uma maquiagem valorizando meus lábios, ajeitei meus cabelos
ruivos deixando-os soltos e complementei o visual com uma bota.
Sandra estava com um vestido preto justo ao corpo com mangas e um
sapato de salto também preto e Jasmine tinha optado por uma saia preta, um
sapato de salto da mesma cor e uma blusa de mangas longas com listras
pretas e brancas. Estávamos todas com roupas escuras, mas já diziam que
com o preto era difícil de errar.
— Quero beber muitos drinques hoje. – Sandra comentou.
— Eu estou interessada em dançar. – Jasmine disse pegando sua
bolsa.
— Acho que também quero dançar. – falei.
Quando chegamos ao saguão, encontramos Caleb e Kevin nos
esperando. Por mais que o copiloto fosse um homem bonito, Kevin chamava
atenção de todas as mulheres que passavam. Inclusive a minha. Ele estava
com uma calça preta, um sapato da mesma cor e uma camisa jeans escuro de
botões. Ambos notaram que nos aproximávamos e nos olharam.
Notei que Kevin cravou seu olhar no meu, me deixando totalmente
envergonhada e com medo de dar bandeira sobre o que estava acontecendo
entre nós. Eu precisava disfarçar minha vontade de beijá-lo.
— Nossa! – Caleb exclamou – A loira, a ruiva e a morena. Que bela
combinação, senhoritas.
— Sempre engraçadinho. – Sandra tocou seu ombro – Vamos?
— Seu desejo é uma ordem.
Chamamos um táxi e por sermos cinco, não cabíamos todos em um só
veículo. Caleb puxou a mim e a Jasmine para entrarmos no primeiro veículo
e deixou que Kevin e Sandra fossem no próximo que aparecesse. Confesso
que gostaria de poder ir sozinha com Kevin até o bar, pelo menos seria uma
oportunidade de estarmos juntos por alguns minutos, mas já que Caleb tinha
me puxado, eu não poderia me opor.
Tinha de disfarçar.
Fui em silêncio até o bar apenas conversando por mensagens com
Juliet.
Quando chegamos, procuramos logo por uma mesa.
Caleb foi logo pedindo sua cerveja e Jasmine seu drinque. Eu não
podia evitar de olhar toda hora para a entrada na esperança de que Kevin e
Sandra chegassem logo. Tentei disfarçar o máximo que pude, desviando
minha atenção para a conversa com Jasmine e quase quinze minutos depois,
Kevin e Sandra chegaram. Não pude deixar de notar que ela dava risada de
alguma coisa, provavelmente algo que ele dissera.
Não sinta ciúmes, Hannah, não tem motivos.
Embora minha razão me fizesse pensar isso, havia uma parte de mim
que me lembrava de que Sandra já tentara inúmeras vezes ficar com Kevin.
Eles nos viram e logo vieram em nossa direção. Peguei o cardápio
imediatamente para não ficar tensa, afinal, Kevin se sentara ao meu lado. Sua
coxa encostara na minha e eu não sabia dizer se era por falta de espaço ou se
ele estava fazendo de propósito.
— O que vai beber, Kevin? – Caleb perguntou.
— O de sempre, uma cerveja.
— Hannah, não vai beber alguma coisa? Desde que chegamos você
não pediu nada. – o copiloto se direcionou a mim.
— Não consigo decidir sobre nada.
— Vamos pedir esse aqui. – Jasmine apontou o dedo para uma bebida
no cardápio a base de rum.
— Tudo bem. – assenti, embora não tivesse muita certeza de que seria
agradável.
— Ai meu Deus! – Sandra exclamou – Hannah, não é aquele cara que
você conheceu da última vez?
Levantei o olhar e procurei pela pessoa que Sandra estava falando.
E era verdade.
Perto do bar, estava Niels conversando com um amigo. Senti um
arrepio na espinha. E se ele me visse? E se viesse falar comigo? Eu não podia
recusar, não poderia falar que estava com Kevin.
Ele não deveria estar há muito tempo ali, ou talvez estivesse, já que eu
só conseguia olhar para a porta esperando que Kevin chegasse com Sandra.
— Eu acho que sim. – Jasmine disse – E aí, Hannah? É ele mesmo?
— Sim. – respondi.
Quando virei para Jasmine, que estava do outro lado de Kevin, pude
notar aqueles olhos verdes me observando com atenção. Havia um brilho
diferente ali. Algo que eu não conhecia. O que estaria passando na cabeça
dele?
A presença de Niels certamente não era o que eu desejava no
momento.
Capítulo 20
KEVIN

Tive uma tarde incrível com Hannah, pude perceber que ela estava
muito mais relaxada comigo, tudo estava perfeito. Agora estávamos no bar e
se eu não estivesse maluco, ouvi Sandra dizer que o cara que estava aqui era
o mesmo que dera em cima de Hannah da última vez.
Eu ainda me lembrava, como se fosse ontem, que ele a beijara na
frente do hotel. O que senti ao ver aquela cena, fez com que eu ligasse um
alerta em minha mente. Hannah tinha chamado a minha atenção, eu tinha me
incomodado e se não tomasse cuidado, ela faria com que minha regra fosse
por água a baixo.
Pelo visto não deu certo.
Hannah e eu estávamos namorando e saber que o mesmo homem que
a beijara naquela viagem estava no mesmo ambiente que nós, despertava em
mim instintos selvagens. O macho alfa dentro de mim gritava querendo
mostrar quem mandava no território.
Era bem machista da minha parte, mas eu estava experimentando
novamente algo que achei que nunca mais sentiria. Ciúmes.
— Hannah disse que eu poderia investir nele. – Sandra falou abrindo
a bolsa – Quem sabe eu não vou até o bar conversar um pouquinho? –
retocou o batom nos lábios.
— Pode ir, eu não me importo. – ouvi Hannah dizer – Acho que vocês
combinam.
Isso mesmo. Eu estava torcendo para que Sandra fosse capaz de
chamar a atenção do cara e ele esquecesse de Hannah. Por mais que eu
desejasse isso, sabia por experiência própria que uma vez hipnotizado pela
beleza e timidez de Hannah Davis, outras mulheres ficariam sempre em
segundo plano.
Sandra sempre fora o tipo que corria atrás dos homens. No táxi,
enquanto vínhamos para cá, ela tentou puxar assunto comigo de todas as
formas e eu para ser educado, mantive uma conversa amigável. Ela não era
uma garota chata, pelo menos não comigo, mas sua insistência me
incomodava. O fato de ninguém saber que eu estava com Hannah não
ajudaria em nada para evitar que isso acontecesse. Eu deveria apenas saber
administrar.
Assim que recebi minha cerveja, tomei vários goles de uma só vez.
Minha vontade era de levantar da mesa, levar Hannah comigo e
garantir com que aquele dinamarquês filho da puta não colocasse os olhos
nela.
Na verdade, a melhor coisa era estar no hotel com ela enquanto
transávamos até meu corpo secar.
Pude perceber que ela estava desconfortável e eu queria conversar
mais sobre esse cara, queria saber até que ponto ele tinha chegado nas
investidas, mas precisei me conter.
Sandra guardou o batom na bolsa, se levantou e ajeito o vestido antes
de ir de encontro ao cara que era o seu alvo esta noite.
— Ela não perde uma. – ouvi Jasmine comentar.
Fiquei tamborilando meus dedos no copo de cerveja. O que era para
ser uma noite agradável, comecei a ficar tenso. Se ele viesse falar com
Hannah, o que eu faria? Não poderia fazer nada ou todos iriam desconfiar de
alguma coisa.
Minha vontade de preservar o emprego dela tinha de ser maior do que
meu instinto protetor. Eu queria gritar para todos que a ruiva espetacular
sentada ao meu lado era minha namorada. Era a mulher que ia para a cama
comigo. Infelizmente, eu tinha de reprimir isso e apenas assistir se algum cara
lhe passasse uma cantada.
— Kevin, que tal darmos uma volta pelo bar? – Caleb me chamou.
Eu não queria ir, queria ficar aqui vendo se alguém ia se aproximar de
Hannah, mas se eu negasse, Caleb acharia estranho. Sempre fui o tipo de cara
que curtia sair, conversar com as mulheres e nos últimos tempos meu
comportamento estava sendo muito diferente disso. Inclusive, reservando
meu próprio quarto em hotéis. Certamente Caleb já estava suspeitando de
alguma coisa.
— Tudo bem.
Levantei a contragosto e ele logo me acompanhou.
Não olhei para Hannah, caso contrário, eu desistiria e me sentaria
novamente ao lado dela.
— Tem uma loira linda que não parou de te olhar desde que chegou.
— É mesmo? – eu me surpreendi – Não vi ninguém.
— Pelo amor de Deus, Kevin! Não é possível que você não tenha
visto.
— Estava distraído, Caleb.
— Se eu fosse você iria até lá falar com a gata. – ele olhou para trás –
Ela continua olhando.
Nem mesmo precisei me mover, o fato de ter me afastado com Caleb
deve ter encorajado a mulher a se aproximar de mim. Pela primeira vez desde
que eu tinha terminado meu noivado, que eu comecei a ficar tenso pela
aproximação de uma mulher. Ela era loira, muito bonita, seus cabelos eram
de um tom mais claro e seus olhos pareciam azuis.
Caleb percebeu e logo se afastou indo em direção ao bar. Eu fiquei
ali, parado. Se corresse, seria muito pior.
— Olá. – ela sorriu segurando sua bebida – Sou Sorina Boilesen. –
estendeu a mão.
— Kevin Walsh. – eu a cumprimentei com educação.
— Pelo seu sotaque, você não é dinamarquês. – inclinou a cabeça um
pouco para o lado.
— Americano. – respondi.
— Nunca fui ao Estados Unidos, mas adoraria.
— É um país bonito.
Eu estava falando com ela, mas meus olhos estavam a todo o tempo
fixos em Hannah. Ela já tinha notado Sorina conversando comigo e para meu
azar, seu olhar denunciava que não estava nem um pouco satisfeita.
Como nada era tão ruim se não pudesse piorar, Niels tinha se
aproximado com Sandra e notado a presença da minha namorada na mesa
junto com Jasmine. Hannah o cumprimentou com um sorriso e aquilo
começou a mexer com algo dentro de mim.
Ciúmes.
Eu lembro de ter experimentado algo parecido com isso quando vi
aquele dinamarquês beijando Hannah na frente do hotel. Mesmo sem nunca
ter tocado sua pele, sem nunca ter provado daqueles lábios, sem nunca ter me
deliciado com seu corpo, algo naquela ruiva tinha me deixado hipnotizado e
vê-la com outro homem mexeu comigo.
Agora eu sabia o porquê.
E agora, ela estava conversando com aquele mesmo cara e eu queria
sair daquele bar levando-a comigo, mas tudo que eu podia fazer era me
limitar a observar.
— Por que não vamos ao bar beber alguma coisa e você me conta o
que está fazendo aqui na Dinamarca.
Eu não queria, mas se eu voltasse para aquela mesa e ouvisse a voz do
dinamarquês, eu poderia fazer alguma coisa que não seria aconselhável.
Quem dera se o emprego de Hannah não corresse risco! Eu já teria gritado
aos quatro cantos que ela era minha. Fui até o bar com Sorina e me sentei.
Caleb já estava lá conversando com uma mulher de cabelos escuros e sorriu
ao me ver.
Pedi mais uma cerveja e Sorina pediu um drinque para si.
— Então, Kevin, você não me disse o que o trouxe até a Dinamarca.
Está morando aqui? – ela puxou assunto.
— Não, na verdade sou piloto de avião então estou aqui a trabalho.
Amanhã mesmo estou indo embora.
— Que emocionante sua profissão, mas é uma pena que já está indo. –
notei o desapontamento em sua voz – Mas será que ainda há tempo de
aproveitarmos a noite juntos?
— Infelizmente não será possível. – olhei para o relógio em meu
pulso – Está quase na hora de eu voltar ao hotel, preciso descansar. – peguei
o copo de cerveja que o barman me serviu – Tem um avião me esperando
amanhã.
Menti um pouco. Só voaríamos no final da noite, eu não precisava
descansar tão cedo, mas Sorina não precisava saber disso e se eu dissesse que
estava namorando, Caleb poderia ouvir e logo me questionaria o que estava
acontecendo. Eu conhecia meu amigo.
Fiquei sem saber o que fazer. Dei algumas olhadas para trás e
agradeci mentalmente a Sandra por estar fazendo de tudo para capturar a
atenção do dinamarquês fazendo com que ele não conseguisse conversar com
Hannah. Eu precisava tomar alguma atitude.
— Com licença, preciso falar com meus amigos. – falei para Sorina.
Levantei antes que ela pudesse dizer alguma coisa e me aproximei
rapidamente da mesa onde estavam sentadas Jasmine e Hannah. Sandra
estava de pé com o cara e fazia de tudo para tocar seu braço enquanto
conversava. Assim que cheguei perto, eu já fui logo me sentando ao lado de
Hannah antes que aquele cara ousasse tomar meu lugar.
— Oi, Kevin. – Jasmine falou ao notar meu retorno – Pensei que não
voltaria.
— Eu tinha que voltar. – respondi.
— Parece que Caleb não pensa do mesmo jeito. – ela falou olhando
para trás.
— Kevin, deixa eu te apresentar. – a voz de Sandra chamou minha
atenção – Esse é Niels Wegner.
— Muito prazer. – respondi, mas sem estender a mão para
cumprimentá-lo.
— O prazer é meu.
Não seria se você soubesse que quero quebrar seu nariz.
Ele parecia ter um ar superior e aquilo me irritava. Pode ficar de olho
o quanto quiser na ruiva espetacular ao meu lado, mas ela já foi
conquistada. Pensei.
— Que tal um drinque no bar, meninas? – convidei as duas – Assim
Niels e Sandra podem conversar melhor aqui na mesa.
Olhei para a loira que sorriu para mim em sinal de agradecimento.
O olhar de Hannah ainda me julgava por conta de Sorina e eu não
podia condená-la. Em breve explicaria tudo com calma. Ela viu que eu não
fiz nada além de trocar algumas palavras com a mulher. Eu daria tudo para
poder ia para o quarto com Hannah nesse momento.
— Eu estava mesmo precisando de uma bebida. – Jasmine comentou.
— Eu também. – Hannah falou pela primeira vez desde que eu tinha
retornado à mesa.
— Será um prazer realizar a vontade de vocês, meninas.
Sentei em um dos bancos e elas sentaram uma de cada lado. Por sorte
Sorina já tinha se afastado dali. Caleb continuava conversando com a mulher
e eu sabia que mais cedo ou mais tarde, ele acabaria passando a noite com
ela, ou pelo menos, trocariam alguns beijos. Eu pretendia fazer muito mais do
que isso com Hannah.
— Vou querer aquele mesmo drinque que bebi da primeira vez,
Jasmine. – ela falou para Jasmine.
— Acho que vou pedir esse também.
Ela chamou o barman e eu aproveitei para pedir mais uma cerveja
para mim.
Meu olhar vez ou outra pousava sobre Hannah. Ela estava
absurdamente linda nessa roupa toda preta. O detalhe que me chamava mais
atenção era o decote. Não era vulgar, mas dava uma visão perfeita da curva
dos seus seios e eu estava louco para tocá-los.
— Eu estou sentindo falta do Caribe. – Juliet falou com um olhar de
quem divagava – O sol, o calor, a praia...
— Tem razão. — Hannah respondeu – O Caribe estava excelente.
Podiam nos mandar para lá de novo.
— O Caribe foi um dos melhores lugares que visitei esse ano. – falei
– Mas confesso que a Alemanha também foi prazerosa.
— Mas a Alemanha é tão fria quanto aqui. Não dá para usar biquíni. –
a morena discordou.
— Existem outras coisas interessantes para se fazer no frio, Jasmine.
– olhei para Caleb que continuava acompanhado da loira – Parece que ele já
vai aproveitar a noite.
— Pois é. – ela assentiu – Eu sou a única que vou ficar a ver navios. –
olhou para Hannah – E talvez, Hannah, porque ela não costuma ficar com
esses caras das viagens.
— Não faz o meu estilo.
Eu queria dizer que Hannah estava comigo. Que não haveria homem
nenhum aqui e nem em outro lugar que ficaria com ela, mas tudo que fiz foi
me calar. Um dia, em breve, nós não precisaríamos nos esconder de ninguém.
— Estou cansada. Sandra já arrumou o par dela, então acho que vou
aproveitar algumas horas no quarto sem o falatório dela. – Jasmine falou
empurrando sua taça.
— Acho que eu também vou. – Hannah se levantou – É melhor
aproveitar e descansar.
— Então vamos. – Jasmine abriu a bolsa.
— Ei, relaxe. – toquei seu braço para chamar sua atenção – Eu pago a
conta de vocês.
Dei uma última olhada para Hannah e aqueles olhos azuis focaram
nos meus. Sei que ela queria perguntar algo a mim, mas teve de se calar. Eu
iria pagar a conta e iria diretamente para o hotel, assim conversaríamos com
toda a privacidade do mundo. Vi as duas se afastando e terminei minha
cerveja enquanto dava tempo para elas pegarem um táxi. Tirei a carteira do
bolso e coloquei algumas notas sobre o balcão, deixando uma gorjeta para o
barman.
Olhei mais uma vez para Caleb, que estava entretido com a loira e
notei que Sandra tinha se sentado à mesa com o tal do Niels.
Excelente.
Ambos estavam ocupados e eu estava livre para ficar com Hannah
naquela noite.
Levantei e fiz um sinal para Caleb indicando que eu estava indo
embora. Ele respondeu levantando o polegar e voltou a dar atenção para a
mulher ao seu lado.
Quando saí para a noite gelada de Copenhagen, Hannah e Jasmine já
tinham ido embora e eu esperei ali na calçada por um táxi.
Ao chegar no hotel, fui direto para o quarto que eu havia reservado.
Tomei um banho quente e vesti um roupão. Peguei o celular e enviei uma
mensagem para Hannah.
“Me encontre no quarto assim que puder.”
Esperei uma resposta, mas ela não veio.
Será que Hannah estava mesmo tão irritada?
Quando ia mandar uma nova mensagem, ouvi a campainha do quarto
tocar. Só podia ser ela. Larguei o celular sobre a mesinha e abri a porta,
encontrando-a do outro lado. Os cabelos ruivos estavam presos em um rabo
de cavalo, seu rosto limpo e sem a maquiagem, deixando a mostra as sardas
que eu tanto gostava, e as roupas simples consistiam em uma blusa baby-look
azul clara e uma calça legging preta.
— Entra. – afastei-me da porta lhe dando passagem.
Ela passou por mim em silêncio e assim que eu fechei a porta, a
vontade de avançar nela aumentou, mas sei que precisávamos conversar e
Hannah com certeza não deixaria isso de lado.
— Hannah... – falei – Olhe para mim.
Pude vê-la girar nos calcanhares e os braços cruzados sobre o peito
mostravam que ela estava na defensiva.
— Sei que não gostou de me ver conversando com aquela mulher.
— Sim, Kevin. – ela olhou para baixo e em seguida me olhou
novamente suspirando – Não foi agradável.
— Também não foi agradável para mim ver aquele cara babando em
cima de você.
— Então agora a culpa é minha? – ela parecia incrédula.
— Não foi isso que eu disse. – tentei mantê-la calma – Eu não gosto
de ver aquele cara atrás de você porque até um cego sabe que ele está
interessado, eu também não podia falar nada a respeito na frente de todo
mundo.
— Ele estava com Sandra, não sei se percebeu.
— Mas com os olhos em você.
— E aquela mulher? Até um cego sabia que ela estava interessada. –
ela me parafraseou.
— Mas eu não estava. – dei alguns passos para me aproximar – Estou
interessado em uma mulher e ela está aqui nesse quarto. Só conversei com ela
por alguns minutos porque se eu recusasse, Caleb desconfiaria de alguma
coisa. – parei na frente de Hannah, que não disse nada – Mas assim que você
veio para o hotel, vim logo atrás de você.
— Não está sendo fácil esconder das pessoas, essas situações vão
continuar acontecendo.
— Nós vamos saber lidar com isso. – coloquei uma mexa de cabelo
ruivo atrás da sua orelha – Seu emprego está em jogo e sabemos que não
podemos deixar que descubram.
Passei meus braços em volta da sua cintura puxando-a de encontro ao
meu corpo. Eu adorava todas as suas curvas, seu corpo se encaixava
perfeitamente ao meu. Aproximei meus lábios da curva do seu pescoço e
comecei a distribuir beijos por sua pele macia e cheirosa. O aroma que
exalava dela me deixava ainda mais inebriado.
Comecei a ficar com tesão, uma das minhas mãos deslizou para a
bunda dela.
— Você acha que eu estava interessado naquela mulher? – sussurrei
em seu ouvido e pude percebê-la assentir com um movimento de cabeça – Eu
só queria voltar logo para o quarto com uma ruiva que estava naquele bar.
Aproveitei e segurei a barra da sua blusa e a levantei devagar fazendo
com que Hannah levantasse os braços. Passei aquela peça de roupa por sua
cabeça e em seguida joguei no chão.
— Aquele cara ainda te manda mensagens? – perguntei passando o
dedo pela borda da sua calça.
— Às vezes.
— Diga que está namorando, Hannah. – falei olhando em seus olhos –
Não precisa dizer com quem, mas ele tem que saber que você não está
disponível.
— Sim. – respondeu.
— Ótimo.
Segurei sua calça e abaixei a mesma, deslizando por suas pernas e
deixando-a apenas de lingerie. Um conjunto preto de calcinha e sutiã simples,
mas que nela parecia a coisa mais sexy do mundo. A prova disso era que meu
pau já estava duro e pronto para ela. Eu me livrei do roupão e fiquei
completamente nu.
Pude notar o olhar de Hannah sobre o meu corpo, era como se isso
ainda a deixasse surpresa.
— Me dê sua mão. – estendi a minha para ela.
Hannah fez o que pedi e quando segurei sua mão, pude sentir que ela
estava quente e macia, era pequena e delicada. Levei sua mão até meu pau,
fazendo com que ela o segurasse. Era a primeira vez que Hannah me tocava
dessa força e meu corpo logo pareceu pegar fogo, mas eu precisava de calma,
tinha que fazer com que ela ficasse confiante e confortável.
— Não tenha vergonha, Hannah. – falei – Nós temos todo o tempo do
mundo para nos conhecermos e aproveitarmos. Quero te mostrar muitas
coisas.
Minha mão estava por cima da dela, comecei a movê-las devagar me
masturbando. A sensação era deliciosa, com Hannah isso era ainda melhor.
Eu teria toda a paciência do mundo, Hannah em breve não teria mais
vergonha. Continuei movimentando sua mão debaixo da minha, ensinando a
ela o ritmo que deveria manter, eu já podia sentir o prazer viajar por todo o
meu corpo.
Com calma, quando percebi que Hannah tinha se adaptado, soltei sua
mão e levei uma das minhas para seus cabelos. Puxei levemente e fiz com
que sua cabeça se inclinasse para trás. Dei um beijo em seu queixo, em seus
lábios e percebi que ia perder todo meu controle se ela continuasse fazendo
aquilo. Com a mão livre, segurei seu antebraço fazendo com que ela parasse.
— Fiz algo errado? – Hannah perguntou arregalando os olhos.
— Não. – sorri – Pelo contrário.
Eu aproveitei para livrá-la do sutiã e da calcinha.
Hannah nua era a melhor visão que eu já tive na minha vida.
Ela ainda ficava um pouco envergonhada, mas eu podia sentir que
estava ficando mais relaxada. Em breve ela se sentiria completamente
confortável.
Deitei-a na cama e fiz o que ela merecia. Dar prazer a Hannah era
meu objetivo.
Explorei seus seios, lambendo, sugando, alisando-os. Passei meus
dedos por seu clitóris enquanto seu corpo se contorcia. Ela gemeu um pouco
tímida no começo, mas quando o prazer foi envolvendo-a, consumindo seu
corpo, os gemidos se tornaram mais altos. Ela agarrou o lençol e quando ela
chegou ao orgasmo, logo em seguida eu peguei uma camisinha e a penetrei.
Soltei um suspiro ao sentir Hannah tão apertada. Eu lhe beijei com
vontade. Na mesma hora ela retribuiu e eu comecei a me movimentar mais
rápido. Hannah cravou as unhas nas minhas costas, o prazer percorrendo todo
o meu corpo, ela gemia perto do meu ouvido, era possível perceber que ela
estava chegando lá, mas eu queria prolongar isso para nós dois.
Afastei-me dela e pude ver naqueles olhos azuis que ela ficou
confusa.
— Relaxe, Hannah. – deslizei a mão por sua coxa, passando pela
parte interna dela.
Eu a virei de bruços, fiquei sobre seu corpo, afastei seus cabelos para
o lado e dei beijos em sua nuca. Novamente, eu a penetrei. A posição era
nova para ela, portanto comecei a me mover devagar para que ela se
acostumasse. Quando percebi que Hannah estava confortável, aumentei o
ritmo dos movimentos e movi meu quadril mais rápido.
Não contive um gemido, era demais para mim. Hannah estava
totalmente entregue e a beira de um orgasmo. A posição a estava favorecendo
e a mim também, pois estava cada vez mais perto de gozar. O suor começou a
escorrer pelas minhas costas, eu agarrei uma das mãos dela e entrelacei
nossos dedos e quando Hannah chegou ao orgasmo, eu pude sentir a minha
pulsação acelerada e minha respiração ofegante antes de deixar me levar por
todas aquelas sensações. Cheguei ao ápice sentindo meu corpo tremer
enquanto um grito escapou da minha garganta.
Puxei o ar para preencher os pulmões e saí de cima dela.
Passei minha mão em suas costas alisando-a.
— Hannah... – chamei-a.
— Oi. – ela se virou ficando de frente para mim.
— Não fique tão calada. – coloquei uma mexa do seu cabelo atrás da
orelha – Essa parte da noite foi muito melhor.
— Tem razão. – concordou – Estava um saco aquele bar.
— Vamos voltar para Nova York e assim poderemos aproveitar muito
mais. – dei-lhe um beijo – Não demoro.
Fui até o banheiro para me livrar do preservativo e quando retornei,
ela já tinha coberto seu corpo com um edredom. Eu me meti debaixo dele e a
puxei para mais perto.
— Vamos tentar evitar os bares da próxima vez. – falei – Podemos
fazer outras coisas.
— Eu concordo. – ela tocou meu peito – Acho muito melhor.
— Assim que chegarmos a Nova York, quero que a gente faça algo
especial.
— O quê?
— Vai ser uma surpresa.
Capítulo 21
HANNAH

Não tinha sido nem um pouco fácil ver Kevin conversando com
aquela mulher no bar, principalmente porque tínhamos de esconder que
estávamos juntos. Foi difícil ignorar o quanto aquilo estava me incomodando,
por sorte a noite termina bem. Sabia que ter visto Niels naquele bar também
não fora fácil para Kevin.
Agora, voámos de volta para Nova York e eu estava bastante curiosa
com a tal surpresa que ele havia prometido. Será que me apresentaria a mais
alguém da sua família? Só de imaginar algo do tipo eu já ficava nervosa.
Ainda não tinha superado o pavor de conhecer sua irmã, embora ela tenha
sido muito simpática.
Voávamos a milhares de pés de altura e enquanto Jasmine servia os
lanches da tripulação na classe economia e Sandra cuidava da primeira classe,
eu estava na cozinha apertada colocando as bebidas nos carrinhos. Uma mão
tocou minha cintura e eu virei assustada encontrando com os olhos verdes de
Kevin e seu sorriso encantador.
— O que faz aqui? – foi a primeira pergunta que saiu da minha boca.
— Quis sair um pouco da cabine e dei sorte de te encontrar aqui. –
respondeu na maior tranquilidade.
Os pilotos tinham esse hábito muitas vezes, deixavam o avião no
piloto automático e sob os comandos do copiloto e davam algumas voltinhas
pela aeronave. Isso os ajudava a esticar as pernas em longos voos.
— Você é louco. – espiei inclinando o corpo para o lado a fim de
enxergar se havia alguém atrás dele.
— Não está feliz em me ver aqui, Hannah? – ele perguntou com a voz
baixa, aquele tom que me deixava arrepiada.
— Claro que estou, só fico preocupada de sermos vistos.
— Fique tranquila, eu não vou colocar nada em risco. Sei o que estou
fazendo.
Sem que eu esperasse, ele segurou meu queixo, fez com que eu
levantasse o rosto e roçou seus lábios nos meus. O aroma do seu perfume já
tinha preenchido todo aquele pequeno espaço e eu jurei que viria um beijo
logo em seguida, mas a aproximação durou pouco tempo, Kevin afastou-se o
suficiente para ficarmos bons centímetros de distância. Minha respiração e as
pernas bambas denunciavam que ele estivera perto demais.
— Preciso voltar para a cabine, mas antes tomarei um café.
Falou com toda a naturalidade do mundo e foi até a cafeteira se servir.
Parece que ele cronometrou tudo porque logo em seguida Jasmine chegara
empurrando seu carrinho de lanches.
— Ah, oi, Kevin. – cumprimentou-o vendo que ele estava na cozinha.
— Oi, Jasmine. Já estou saindo, só vim beber um café rápido.
Eu respirei fundo e voltei imediatamente a organizar as garrafas com
bebidas e em seguida saí da cozinha com pressa na tentativa de não
demonstrar que estava afetada por Kevin. Meu coração batia acelerado e eu
acabei me permitindo pensar como seria se ele tivesse me beijado dentro
daquele espaço tão pequeno escondido das pessoas.
Não demorou muito mais de duas horas para pousarmos no JFK.
Todos os passageiros desceram e a tripulação foi logo em seguida. Caminhei
ao lado de Jasmine enquanto ela me contava sobre um passageiro que lhe
passara uma cantada. Isso acontecia com frequência, eu preferia ignorar, mas
todas as vezes ficava bastante desconfortável.
Estar de volta a Long Island fazia meu coração se aquecer.
Reencontrar minha tia e minha irmã era a melhor coisa depois de algum
tempo longe. Desde que desci do avião, não tive mais contato com Kevin,
então agora, dentro do carro que me levava novamente para casa, eu troquei
com ele algumas mensagens. Combinamos de nos encontrar no sábado para
que ele pudesse enfim me mostrar a surpresa e retomar esse assunto só me
deixou ainda mais ansiosa.
Em casa, Cecile me encheu de beijos e abraços.
— Que bom que chegou, Hannah! – ela me apertou com força –
Como foi a viagem?
— Foi tudo bem, Cecile. Estava bem frio lá também. E como estão as
coisas na escola?
— Nada de novo, não vejo a hora do recesso de Natal chegar. –
suspirou.
— Eu também porque preciso descansar. – minha tia se aproximou de
mim me dando um beijo no rosto – Fiz uma lasanha, sua preferida.
— Hmm, que delícia! – fiquei logo com água na boca – Vou tomar
um banho e comer logo em seguida. Muito obrigada, tia.
— E como está o seu namorado? – perguntou.
— Kevin está bem. Vamos sair juntos no sábado, ele disse que tem
uma surpresa para mim.
— Que bom! Você parece estar feliz. – minha tia comentou.
— Sim, estou. – sorri.
No sábado, eu me vesti com uma calça jeans de um tom escuro quase
preto, coloquei uma blusa verde e por uma jaqueta de couro também preta.
Calcei sapatilhas da cor nude e penteei meus cabelos deixando-os soltos. O
tempo lá fora já estava frio e eu não sabia se iríamos ficar em um local aberto
ou fechado, então era melhor não arriscar.
A campainha da porta denunciou que Kevin tinha chegado e quando
desci as escadas carregando uma bolsa preta, ele estava sentado no sofá
conversando com minha tia e minha irmã. Pude ouvir Cecile perguntando
sobre pilotar um avião e ele parecia muito paciente tentando explicar os
mecanismos.
— Oi. – cumprimentei.
— Oi, Hannah. – ele se levantou e se aproximou de mim – Linda
como sempre. – me deu um beijo calmo nos lábios.
— Estávamos conversando bastante. Pilotar aviões é muito difícil. –
minha irmãzinha comentou.
— Depois que você faz o curso, isso se torna mais fácil. – Kevin
respondeu.
— Cecile com essa mania de encher o saco de todo mundo com esse
falatório. – minha tia entrou na sala usando um tom de desculpa.
— Não tem problema, gosto de conversar também. – ele olhou para o
relógio – Mas já está na hora de irmos, o trânsito para Nova York não está
muito bom.
— Vão com Deus, queridos. – tia Eleonor se despediu de nós.
Ao entrarmos no carro, eu coloquei o cinto e fiz questão de perguntar.
— Onde realmente vamos?
— Eu vou te fazer um jantar no meu apartamento. – respondeu.
— É sério? – fiquei surpresa porque realmente estava esperando que
fôssemos sair ou encontrar outras pessoas, mas a ideia do jantar nesse frio me
parecia mais agradável.
— Lembra que eu havia lhe dito que gosto de cozinhar? Poucas vezes
tenho a oportunidade. – explicou – Então acho que encontrei o momento
certo agora.
Sorri animada e ele me deu um beijo mais tranquilo antes de dar
partida no motor e irmos em direção a Nova York. O trânsito realmente não
estava muito bom, então chegamos em Manhattan quando já havia
escurecido. Kevin entrou na garagem de um prédio de tijolos em uma rua que
eu não saberia dizer o nome e estacionou em uma vaga na garagem. Eu sentia
meu coração bater acelerado porque pela primeira vez eu estava conhecendo
o local em que Kevin morava. Aos poucos, íamos conhecendo detalhes um
do outro e cada nova descoberta eu ficava ainda mais empolgada. Saí do
carro e ele deu a volta, parando na minha frente.
— Fico feliz que esteja aqui. – falou colocando as mãos na minha
cintura e me puxando para mais perto do seu corpo – Você irá conhecer outro
dos meus talentos, Hannah.
— Eu fiquei bem contente que me trouxe para conhecer seu
apartamento.
— Chega de só dormirmos juntos em quartos de hotel.
Ele me levou pela mão até o elevador e subimos até o quarto andar. O
corredor de apartamentos era simples e silencioso e paramos de frente para
uma porta de madeira que ele abrira me deixando entrar na frente. Assim que
pus os pés dentro da sala, pude ver que era um ambiente espaçoso com sofás
cor de chocolate, pisos de madeira, uma mesa de centro redonda e na parede
uma lareira e uma televisão. Sobre a mesinha estava um controle. A janela
ficava do lado direito e estava coberta por uma persiana cor de creme
contrastando com paredes em um tom de areia. A decoração era moderna e
funcional, bem típica de um homem que morava sozinho e passava por tempo
em casa.
A cozinha ficava do lado direito com conceito aberto e todos os
eletrodomésticos eram de inox. Havia uma ilha com mármore marrom e os
armários num tom de creme. Ao lado, uma mesa redonda de madeira com
quatro cadeiras.
— Gostou? – ele perguntou após trancar a porta.
— É muito bonito. – respondi me virando para ele – Mora aqui há
muito tempo?
— Não, vim para cá recentemente, por isso não está muito decorado.
– jogou as chaves, a carteira e o celular sobre a mesinha.
— Eu gostei, é bem minimalista.
— Quanto menos coisas dentro de casa, menos possibilidade de errar
na decoração. – sorriu e me puxou pela mão – Eu adoraria te mostrar o quarto
agora, mas chegamos tarde e preciso te preparar o jantar. – usou a mão livre
para segurar meu queixo – Teremos a noite toda para aproveitar.
Sorri e deixei que ele me beijasse, mas não durou muito tempo porque
quando estava me empolgando, Kevin se afastou de mim me deixando com a
respiração alterada.
— Vou abrir um vinho para você aproveitar enquanto eu preparo
nosso jantar. – afastou-se.
— Qual será o menu, grande chefe? – perguntei indo me sentar em
um dos bancos da ilha, após deixar a minha bolsa sobre o aparador ao lado da
porta.
— Filé mignon ao molho poivre vert. – era francês e eu não sabia o
que significava – Não se preocupe, você vai gostar. Vou grelhar uns legumes
para acompanhar.
— Só me resta sentar e esperar.
Ele abriu uma garrafa de vinho e encheu duas taças até a metade
deixando-as sobre o balcão da ilha. Kevin estava usando uma camisa de
mangas compridas da cor preta que ele puxara até próximo aos cotovelos.
— Experimente o vinho, você vai gostar.
Dei um gole pequeno e senti o líquido descer pela minha garganta.
Não era o tipo de bebida que eu estava acostumada, mas o sabor que ficou em
minha boca era bom, depois que o álcool sumiu.
— Você realmente não costuma beber, não é?
— Nunca tive o hábito, mas esse vinho é gostoso. – coloquei a taça
sobre o balcão – Mesmo que eu não entenda nada sobre eles, o paladar é
agradável.
— Eu sabia que você ia gostar. Minha irmã adora também.
Era muito bom estar assim tão próxima dele. Estávamos
compartilhando uma intimidade que talvez fosse mais poderosa ainda do que
a sexual. Kevin me trouxera para sua casa, o lugar mais íntimo de uma
pessoa. Eu estava participando de sua privacidade e pela primeira vez, o veria
cozinhar. Apoiei os cotovelos no balcão, mas mãos no queixo e fiquei
observando-o.
Ele abriu a geladeira, pegou o filé e alguns ingredientes e colocou
tudo sobre o balcão. Algumas vezes ele sorria para mim, outras tomava um
gole de vinho ou me dava um beijo. Estávamos fazendo algo simples, mas
tinha um enorme valor especialmente para mim. Kevin me manteve entretida
com algumas histórias das viagens que fez a trabalho quando eu ainda não
fazia parte da tripulação.
— Uma vez quando eu ainda era comissária nacional, decidi sair para
passear em Detroit. Tirei tantas fotos que a bateria do meu celular acabou e
eu fiquei sem conseguir consultar o GPS. Fiquei desesperada e tive que sair
pedindo ajuda as pessoas para conseguir encontrar o hotel novamente. – falei.
— Você poderia estrelar um filme. Perdida em Detroit.
Sorri e tomei mais um gole do vinho. Kevin começou a assar os filés e
o cheiro preencheu o ambiente. Estava maravilhoso.
Ele salteou alguns legumes em uma grande frigideira e comecei a
sentir que meu estômago estava roncando. O aroma delicioso da comida
estava despertando minha fome em uma velocidade impressionante.
— Parece mesmo que você tem intimidade com a cozinha.
— Aprendi com a minha mãe. – ele olhou no forno para verificar o
ponto da carne – Muitas das vezes eu ficava na cozinha com ela enquanto
conversávamos, aprendi olhando e depois ela me chamava para ajudá-la.
— Sua mãe parece ser uma mulher incrível.
— Logo você irá conhecê-la. – falou – É a pessoa mais amorosa que
conheço.
A possibilidade de conhecer a mãe dele me deixava feliz e ao mesmo
tempo nervosa.
Kevin dissera que ela era uma pessoa amorosa, mas será que agiria
assim comigo?
— Experimente. – ele se aproximou de mim com legumes espetados
em um garfo.
Abocanhei aquela porção e senti um sabor de tempero que nunca
tinha experimentado. Estava perfeito. Macio, saboroso e com a quantidade
perfeita de sal.
— Que delícia! – exclamei assim que engoli — Que tempero você
usou?
— É um segredo de família.
Ele aproveitou a proximidade e segurou minha nuca, trazendo minha
boca para perto da sua. Seus lábios tocaram os meus devagar em um beijo
calmo. Kevin parecia não ter nenhuma pressa, tínhamos a noite inteira pela
frente e tudo que eu queria era poder aproveitar com ele cada momento sem
que precisássemos nos esgueirar por aí.
— Vou arrumar a mesa para nós. – falou.
— Posso te ajudar. – ia me levantar do banco, mas ele me segurou.
— Não, linda. – falou comigo de maneira carinhosa – Fique aí, hoje é
a minha noite de te mimar.
A mesa era redonda foi decorada com jogos americanos, dois grandes
pratos brancos, talheres, guardanapos e para finalizar, ele acendeu duas velas.
Kevin não aparentava ser um cara muito romântico, mas essas pequenas
atitudes estavam me surpreendendo e mostrando que ele era capaz de ser um
homem atencioso.
— Sente-se, Hannah.
Ele me chamou e eu levantei do meu banquinho. Kevin puxou a
cadeira e eu me acomodei à mesa de frente para um lindo prato branco ainda
vazio. Logo ele trouxe minha taça e encheu com um pouco mais de vinho.
Agradeci e deixei que Kevin continuasse me servindo.
Pegou os dois pratos, levou até o balcão e tirou a carne do forno. O
aroma se intensificou e novamente meu estômago deu sinal. Não demorou
muito até que ele voltasse para a mesa trazendo ambos os pratos muito bem
arrumados. Kevin Walsh parecia um verdadeiro chefe de cozinha. Será que
teria aprendido isso com a mãe também?
— Está lindo. – elogiei.
— Espero que esteja saboroso também. – sentou-se à mesa ficando de
frente para mim – Seja sincera na sua avaliação.
Assenti e peguei os talheres. Cortei um pedaço do filé que estava
extremamente macio e o levei a boca. Aquele pedaço começou a se
desmanchar em minha língua e o sabor preencheu toda a minha boca. Estava
levemente picante e com um tempero realçado. Soltei um gemidinho de
prazer porque não me lembrava de comer uma carne assim tão gostosa.
— Meu Deus, Kevin! Está delicioso!
— Obrigado. – sorriu – Sabia que o tempero secreto da minha mãe
não falharia.
O jantar foi sensacional e para minha surpresa, Kevin tinha preparado
também uma sobremesa. Uma torta holandesa que eu acabei comendo duas
fatias. Eu adorava doces.
Após jantarmos, Kevin me levou até a janela do seu apartamento. Era
possível ver a rua ainda movimentada. Manhattan nunca adormecia. Eu
adorava esse lugar, mas não podia largar minha família em Long Island, eu
tinha que usar meu dinheiro para ajudar na hipoteca da casa e gastar com um
aluguel no momento seria um desperdício.
— Já conheci inúmeras pessoas desde que comecei a ser piloto, mas
você sem dúvidas é a melhor delas. – Kevin sussurrou no meu ouvido.
Ele estava parado atrás de mim, seu corpo grande e musculoso
grudado ao meu estava me deixando arrepiada. Senti seus dedos afastando
meus cabelos para o lado e expondo meu pescoço. Devagar, seus lábios
iniciaram alguns beijos em minha pele e meu corpo foi cedendo à uma
vontade que eu já estava familiarizada.
— Kevin... – chamei seu nome baixinho.
— Hmm? – sua mão começou a alisar meu quadril enquanto os beijos
continuavam.
A mão livre subiu pela minha barriga, por debaixo da blusa e agarrou
um dos meus seios por cima do sutiã. Soltei um gemido baixo enquanto meu
corpo começava a pegar fogo. Ele apertou, mas não com muita força, mas foi
o suficiente para que eu sentisse meus mamilos endurecerem.
— Estamos na janela, alguém pode nos ver. – falei.
— Isso seria ruim? – perguntou bem próximo ao meu ouvido.
— Nunca fiz nada assim.
Suas mãos me giraram de maneira rápida e habilidosa. Fiquei de
frente para ele e seus lábios capturaram os meus. O beijo foi ávido, minhas
mãos procuraram seus cabelos e eu deixei que a língua invadisse minha boca
de maneira sedenta. Kevin me agarrou com força pela cintura e me carregou
até o sofá, derrubando-me sobre ele.
Nunca o vi tão desesperado. De maneira rápida, ele tirou toda a roupa
ficando completamente nu. Seu pênis estava rígido, pronto. Eu pude sentir
minha intimidade molhada, pronta para recebê-lo. Meu peito subia e descia
acelerado e eu tomei a atitude de tirar minha própria blusa, deixando à mostra
meu sutiã.
Os olhos verdes dele brilharam, cada vez que ficava nua na frente de
Kevin, eu me sentia mais confiante. Sua expressão não deixava dúvidas do
quanto me desejava. Ele aproveitou meu movimento para tirar minha calça.
Sorri para ele, dessa vez eu não estava tímida. Kevin ajoelhou ao meu lado,
sua mão deslizou pela minha coxa e minha pele toda se arrepiou.
— Você é uma mulher linda, Hannah. E eu sou um cara de sorte.
Ele começou a beijar minha barriga, descendo até o elástico da minha
calcinha e devagar, seus dedos começaram a abaixar a pequena peça intimida
deslizando-a pelas minhas pernas. Jogou-a de lado e me deixou nua da
cintura para baixo. Seus dedos me provocaram, tocaram pontos sensíveis
entre as minhas pernas e eu fechei os olhos deixando cada uma das sensações
tomarem conta do meu corpo.
Kevin sabia me provocar, me levar ao limite e eu deixei toda a
vergonha de lado para aproveitar o que ele me dava. Agarrei o sofá com força
e arqueei as contas quando ele aumentou a velocidade dos movimentos. Seus
dedos me tocavam da maneira mais intimida possível e quando o primeiro
orgasmo chegou, eu soltei um gritinho enquanto meu coração batia acelerado.
Fiquei tão desnorteada que nem mesmo vi Kevin colocando o
preservativo, logo ele estava sobre mim e me invadiu me arrancando um
gemido. Mais uma vez, fui levada para aquele lugar que eu já estava
conhecendo tão bem. Pela primeira vez, sobre um sofá, Kevin estocava com
força dentro de mim fazendo com que nós aproveitássemos todo o prazer que
ele poderia nos dar. Enfiei as unhas em suas costas e enquanto suávamos,
nossos gemidos se mesclavam no ar e ambos atingimos o orgasmo sentindo
nossos corpos explodirem de dentro para fora.
Eu estava realmente apaixonada por ele.
Tinha me dado conta disso nesse momento.
Enquanto meu coração ainda batia acelerado e minha respiração
estava descompassada, eu pedi mentalmente para que não me decepcionasse
e que essa relação se tornasse ainda mais sólida.
Capítulo 22
KEVIN

Depois de um fim de semana maravilhoso na companhia de Hannah,


eu estava indo para a casa do meu irmão a fim de conversarmos um pouco.
Nos últimos tempos eu não batia um bom papo com Louis e eu sabia que ele
estava mais calado que o normal.
O prédio era alto, e embora a distância não fosse tão grande, o trânsito
de Manhattan tornava qualquer pequeno trecho demorado. Quando desci do
carro em um estacionamento ali perto, senti o vento gelado daquela tarde de
outono vir de encontro ao meu rosto. Enquanto eu caminhava pela calçada
em direção ao edifício do meu irmão, lembrei-me do meu apartamento.
O que eu não mostrara para Hannah.
Eu me dei ao trabalho de alugar um apartamento mobiliado para levar
Hannah até lá. O meu luxuoso apartamento no Upper West Side estava fora
de cogitação no momento, mas omitir a verdade estava começando a me
deixar incomodado. Eu tinha de encontrar um jeito de confessar para ela
quem eu era de verdade e torcer para que Hannah fosse compreensiva e me
entendesse.
O hall de entrada do edifício do meu irmão estava silencioso e ali
atrás de um balcão de madeira, estava o porteiro que me cumprimentou. Fui
direto para o elevador e apertei o botão do andar onde Louis morava. Assim
que saí no pequeno hall, era possível ver a porta branca do apartamento dele.
Toquei a campainha e não demorou muito até que meu irmão abriu a porta.
— E aí, Louis? – eu o cumprimentei já entrando no apartamento.
— Pensei que nem lembrava mais onde eu morava. – comentou
fechando a porta.
— Andei ocupado. Aconteceram algumas coisas nesses últimos
tempos.
Fui até o sofá de cor cinza escuro e me acomodei. A sala de estar do
meu irmão era ampla e bastante clara graças as grandes janelas de vidro que
davam uma bela visão da Estátua da Liberdade.
— Onde está a Maddie?
— Ainda na escola. – ele respondeu – Quer beber alguma coisa?
— Tem refrigerante? – perguntei – Vim de carro. – completei depois
que percebi o olhar confuso dele.
Louis foi até a cozinha e não demorou muito até que me trouxesse
minha lata de Coca-Cola.
— Que coisas andaram acontecendo na sua vida, Kevin? – perguntou
após se sentar no outro sofá.
— Comecei a namorar.
Louis nem mesmo fez questão de esconder a expressão de
incredulidade em seu rosto. Eu não poderia condená-lo, afinal, desde que
terminei com Susan, sempre insisti em dizer que não me envolveria
seriamente com mais ninguém.
Eu só não contava de que iria conhecer Hannah.
— Eu ouvi direito? Você está namorando?
— Sim, Louis. – dei um gole no meu refrigerante – E pode tirar sarro
de mim se quiser.
— Estou mais interessado em saber quem é essa mulher que te fez
mudar de ideia?
Eu poderia passar horas falando do quão Hannah era incrível, mas
pouparia minhas palavras e seria objetivo. Queria apresentá-la a toda minha
família, mas só poderia fazê-lo quando eu lhe contasse a verdade e eu ainda
estava pensando em como fazer isso.
— O nome dela é Hannah, trabalha como comissária de bordo na
minha tripulação.
— Você está namorando uma mulher com quem você trabalha? –
Louis não disfarçou a risada – Eu preciso conhecê-la. Ela quebrou suas duas
regras.
— Pode rir, Lou. – dei de ombros – Eu realmente tentei me manter
afastado dela, mas foi impossível. Hannah é incrível como pessoa e é gostosa
demais.
— É claro que você ia correr atrás de uma mulher gostosa.
— E você não? – rebati – Você se envolveu com mulheres que
estavam nessa categoria, Louis.
Ele ficou calado, sabia que eu estava certo. Sua primeira namorada,
que também era mãe da Maddie, era uma jovem bem gostosa que chamava a
atenção onde quer que fosse. Ao longo dos anos, Louis nunca teve outro
namoro sério, mas saíra com algumas mulheres por algum tempo e das que
eu conheci, todas eram muito bonitas.
— Você tem razão. – concordou – Eu me envolvi com mulheres
lindas, mas quero me casar, quero encontrar alguém que esteja ao meu lado
em todos os momentos e que principalmente, goste da minha filha. A beleza
fica em segundo plano.
— Acredite, Hannah além de linda é uma pessoa maravilhosa. Você
vai conhecê-la em breve.
Eu me ajeitei no sofá e coloquei a latinha de refrigerante sobre o vidro
da mesinha de centro, coisa que meu irmão odiava e a expressão no seu rosto
traduziu isso.
— Já que estamos falando disso, por que não me conta o que está
acontecendo?
— Não tem nada acontecendo.
— Alicia me disse que você tem andado calado nos últimos tempos.
Nós te conhecemos, Louis.
— Estou bem. – ele afirmou – Só estou muito atarefado com os
eventos, a equipe do projeto da Alicia, a Maddie...
— Não acredito que está mentindo para seu irmão gêmeo, Louis. –
insisti – Eu te conheço melhor do que qualquer pessoa. – cruzei os braços –
Tem mulher na jogada, não é?
— Certo, Kevin, tem alguém, mas eu não quero falar sobre isso. –
esfregou o rosto – Pelo menos não agora.
— Quem é?
— Prefiro não dizer, eu nem mesmo sei no que vai dar.
Eu queria insistir, mas a porta se abrindo chamou nossa atenção e
minha sobrinha apareceu. Assim que me viu, veio correndo em minha direção
com os braços abertos.
— Tio!
Maddie estava usando seu uniforme escolar. Uma saia quadriculada
preta e vinho e uma blusa branca com suéter cinza e gravata das mesmas
cores que a saia. Eu me recordo de já ter usado muitas vezes esse mesmo
uniforme, com exceção da saia, é claro.
— Olá, minha princesa. – eu a abracei a lhe peguei no colo – A cada
dia você está maior.
— Eu sou quase adolescente. – falou.
— Você só tem oito anos. Fique calma que na hora certa você chega
lá. – coloquei-a no chão – Como foi a escola?
— Foi bem. – sorriu – Eu tirei um A+ em Ciências.
— Parabéns, que garota esperta! Que tal pedirmos uma pizza?
— Oba!
Ela deu vários pulos e foi até o pai. Louis não gostava que Maddie
comesse muita pizza, principalmente durante a semana, mas não era todos os
dias que ela tinha a visita do tio. Camila, a babá da Maddie entrara logo em
seguida carregando sua mochila das princesas.
— Desculpe, Sr. Walsh, eu estava pegando essa encomenda com o
porteiro. – ela mostrou uma caixa – Está endereçada ao senhor.
— Pode deixar a caixa sobre o aparador, Camila. Muito obrigado.
Camila era jovem e cursava a faculdade, tinha vindo para Nova York
a fim de estudar e o emprego como babá da Maddie lhe ajudava a pagar as
contas. Eu confesso que quando a vi, cogitei a possibilidade de dar em cima
dela, mas Louis me advertiu dizendo que ela era excelente com sua filha e
que não podia correr o risco de perdê-la caso eu a magoasse. Camila era uma
jovem bonita de cabelos castanhos e olhos esverdeados, mas que agora já não
me chamava atenção.
Hannah estava me conquistando, quebrando as barreiras que criei em
meu próprio coração e eu iria lhe contar a verdade porque pretendia
apresentá-la a toda minha família.
— Meus parabéns pela nota, cupcake. Fico muito orgulhoso. Agora
suba e tome um banho, daqui a pouco pedimos a pizza.
— Tudo bem, papai.
Maddie subiu seguida pela babá e eu novamente me sentei. Não quis
continuar o assunto em relação à mulher com quem meu irmão estava saindo
porque eu o conhecia e sabia que não iria abrir o jogo. Mudei o rumo da
conversa e ele me contou sobre o projeto que estava envolvido com Alicia e
Ryan, me atualizando das últimas novidades.
— É muito bom ver a Ali assim animada. Nosso pai realmente confia
nela para seguir em frente com a empresa. – falei.
— Que bom que a rivalidade nos negócios não está afetando o
casamento dela com o Ryan. Alicia me disse que daqui há dois anos gostaria
de ter outro filho, tentar uma menina.
— Quem diria que nossa irmãzinha já seria mãe. Nem ela planejava
isso.
— Mas Ali combinou com a maternidade, tem dado conta disso e da
empresa, além do novo projeto. – Louis se recostou no sofá – Estou bem
animado, a equipe de fotografia é muito boa.
— Essa semana vou tirar um dia para ir até a empresa e ver
pessoalmente como estão as coisas. – saquei o celular do bolso – Vou pedir a
pizza.
Dois dias depois, eu tinha acabado de chegar na casa dos meus pais.
Era o programa que eu não podia deixar de fazer quando estava na
cidade ou minha mãe seria capaz de voar até a cidade onde eu estava só para
me obrigar a jantar com ela. Quando entrei no hall, já foi possível ver a
governanta Margareth vindo em minha direção.
— Boa noite, Sr. Walsh. – ela sorriu – É um prazer revê-lo.
— É bom te ver também, Margareth. Onde estão meus pais?
— Sua mãe está na sala de estar e seu pai na empresa.
— Obrigado.
Fui até o cômodo onde estava minha mãe. A mansão tinha paredes e
pisos claros o que a deixava bem iluminada e ainda mais espaçosa. Ver
minha mãe sentada no sofá da sala lendo um livro fez eu me lembrar dos
momentos em que ainda morava aqui. Ela notou minha presença e levantou a
cabeça.
— Oi, meu amor. – levantou-se e abriu os braços – Que saudade de
você.
— Olá, mãe. Eu também senti saudades.
O abraço que dei nela foi reconfortante, por mais que eu adorasse a
minha vida agitada, cheia de viagens, eu gostava muito de estar em casa com
ela. Dei-lhe um beijo em sua bochecha e me separei.
— Margareth disse que meu pai está na empresa.
— Sim, ele está com Alicia resolvendo uns detalhes, mas já me ligou
para avisar que daqui a pouco estão chegando.
— Então temos tempo de conversar só nós dois?
— Claro, querido. Aconteceu alguma coisa?
Pude notar que seus olhos ganharam um brilho de preocupação. Eu
quase nunca conversava com ninguém sobre meus assuntos pessoais,
portanto era compreensível que ela estivesse preocupada.
— Estou namorando.
— Ah, querido, isso é maravilhoso! – ela segurou meu rosto entre as
mãos – Quem é a felizarda?
— Ela se chama Hannah e é comissária de bordo na empresa que
trabalho.
— E por que ainda não a conheço?
— É justamente sobre isso que quero conversar. – cruzei os braços –
Hannah não sabe a verdade sobre mim, mãe.
— Como assim?
— Eu a fiz acreditar que sou apenas um piloto de avião. Ela não faz
ideia de que sou rico.
— Sente-se. – ela segurou minha mão e me puxou para sentar-me ao
seu lado – Por que não contou, Kevin?
— Depois do que aconteceu entre Susan e eu, fiquei mais inseguro
com essas coisas. Tem mulheres aos montes aí para se interessarem pelo meu
dinheiro, eu decidi não contar a verdade para pessoas que conheci depois
disso para que elas gostassem de mim pelo que sou e não pelo que tenho.
Quando Hannah começou a trabalhar comigo, todos, exceto Caleb, pensavam
que eu era só um piloto de avião e ela acabou acreditando nisso também. –
suspirei – Só que eu não esperava que fôssemos nos envolver e agora preciso
dizer a verdade porque sei que Hannah não é o tipo de mulheres que se
interessa pelo dinheiro de alguém, ela tem um coração incrível.
— Então conte logo a verdade, meu amor.
— Tenho receio de que ela não entenda, mas sei que quanto mais eu
prolongar, pior serão as coisas.
— Exatamente. Chame-a para uma conversa franca e explique porque
você não contou a verdade. Se ela for essa moça maravilhosa que você diz,
ela irá entender.
— Assim espero.
— E depois traga-a aqui. Vou preparar um jantar.
— Alicia a conhece. Eu a apresentei a ela quando fomos ao Central
Park, mas não dissemos que Alicia trabalha na empresa do meu pai.
— Kevin, querido, desfaça logo essa bobagem.
Minha mãe tinha razão.
Eu sabia que continuar com essa mentira tornaria as coisas piores,
mas conversar com minha mãe tinha me dado esperanças de que Hannah
fosse me entender.
Não demorou muito até que meu pai chegasse com Alicia.
— Olá, meu filho. – meu pai apertou minha mão e me deu um abraço
– Como estão as coisas?
— Estão bem, pai. – sorri – Que bom que chegaram porque eu estou
morrendo de fome.
— Alicia e eu estávamos resolvendo as últimas pendências no
escritório, não queríamos deixar para amanhã porque teremos um dia agitado.
– ele olhou para minha mãe – Desculpe a demora, querida.
— Tudo bem, meu amor.
Eles deram um beijo e eu preferi ignorar. Alicia me abraçou com
força como se não me visse há anos, mas esse gesto era típico dela.
— Oi, irmãozinho.
— Oi, irmãzinha, cadê o meu sobrinho?
— Ryan está vindo com ele. Como fiquei enrolada no escritório, Ryan
foi buscá-lo em casa.
Nossos pais saíram da sala de estar juntos, minha mãe avisando que
assim que Ryan chegasse, o jantar seria servido.
— Falei com Louis essa semana. – contei para ela depois que nos
sentamos – Tem uma mulher no meio dessa história.
— É mesmo?! – Alicia imediatamente ficara intrigada – Quem é?
— Ele não me disse e eu sinceramente não faço ideia.
— Louis anda muito misterioso ultimamente. Espero de verdade que
isso não traga problemas, porque nós sabemos...
— Sim, eu espero de verdade que seja algo diferente disso. – cruzei as
pernas colocando um tornozelo por cima do joelho – Contei à nossa mãe
sobre Hannah.
— Você ainda está mentindo para a garota?
— Sim. – confirmei – Mas eu vou contar a verdade assim que nos
encontrarmos de novo. – respondi – Minha mãe acredita que ela vá entender
se eu explicar a situação.
— Eu também acho, mas para isso acontecer, você deve dizer a
verdade logo. Quanto mais tempo demorar, mais a Hannah se sentirá traída e
enganada.
Eu sabia disso e não queria prolongar mais essa mentira. Sei que ela
iria ficar incomodada sabendo que nosso mundo é muito diferente, mas eu
continuaria sendo o mesmo Kevin. Só queria poder estar ao lado dela porque
estava ficando cada vez mais difícil me imaginar sem Hannah.
Capítulo 23
HANNAH

Eu tinha saído para dar uma volta com Juliet.


Por conta das temperaturas mais baixas dessa época do ano, decidimos
caminhar até uma cafeteria e nos deliciar com um café bem quente e alguns
bolinhos.
— Então você está namorando? – fez uma pergunta retórica após eu
lhe contar durante o trajeto.
— Sim, faz pouco tempo. – respondi – Kevin é um cara muito legal.
— Eu quero conhecê-lo! – ela falou animada depois que nos sentamos
à mesa.
— Em breve.
— Estou tão feliz por você, Hannah. Você merece ser feliz, dar uma
chance ao seu coraçãozinho. – ela sorriu e isso me deu mais confiança.
— Sabe, Juliet, estou tentando ir com calma, mas cada vez que estou
com Kevin, eu sinto que estou mesmo me apaixonando por ele. – suspirei –
Mas não consigo evitar de sentir um medo.
— Por quê?
— Não sei... – coloquei uma mexa de cabelo atrás da orelha – Kevin é
um homem lindo, tenho certeza de que ele poderia ficar com a mulher que
quisesse, mas escolheu a mim e eu nem mesmo sou experiente nesse negócio
de relacionamento.
— Você é uma garota linda, Hannah, chama a atenção em qualquer
lugar. É inteligente, tem um coração gigante, é companheira, tenho certeza
que o Kevin enxergou isso.
— Obrigada, Juliet. Você também é maravilhosa! – estiquei o braço e
segurei sua mão.
— Só falta encontrar meu príncipe encantado, mas por hora estou
focada no meu trabalho.
— E como estão as coisas por lá?
Juliet me contou sobre suas primeiras semanas no novo emprego
depois de fazermos nossos pedidos. Eu podia ver o brilho no olhar dela e o
quanto falava com paixão do que fazia. Um dia eu gostaria de poder sentir
essa mesma paixão. É claro que eu adorava os privilégios que tinha como
comissária de bordo e a possibilidade de ter conhecido vários países, mas isso
não era com o que eu me identificava. Sempre fui uma garota simples, não
me incomodaria de estar sempre em Nova York, mas se estivesse atuando
como maquiadora profissional, estaria realizada.
— Como está sua tia e Cecile?
— Elas estão bem. Minha tia sempre preocupada com as contas, você
sabe.
— As coisas vão melhorar.
— E sua família?
— Eles virão passar o Natal aqui. Meu irmão termina o Ensino Médio
logo e deve ganhar uma bolsa para estudar na NYU.
— Que maravilha, Juliet! – exclamei animada – A NYU é uma
excelente faculdade.
— Meus pais estão muito animados.
— Eu quero visitá-los quando chegarem à cidade.
Após nosso café, caminhamos até a casa de Peter. Ele nos enviara
uma mensagem dizendo que tinha chegado do trabalho e estava nos
esperando para pedirmos comida chinesa. Peter morava em uma casa de um
andar em Uniondale, próxima à Biblioteca Pública. Muitas vezes íamos até lá
para estudar enquanto estávamos no Ensino Médio já que estudamos em uma
escola próxima chamada Uniondale Senior High School.
Tocamos a campainha da casa de muros de tijolos e portas e foi a mãe
de Peter que nos atendeu.
— Olá, meninas!
A Sra. Nicholson sempre nos recebia muito bem e costumava preparar
bolos deliciosos. Ela era magra, alta e seus cabelos castanhos estavam sempre
presos em um coque.
— Peter está no quarto, podem ir até lá.
— Obrigada, Sra. Nicholson.
Sentado na cama, Peter digitava algumas coisas no notebook
enquanto a televisão estava ligada passando um filme de ação que eu não
reconheci. Assim que entramos, ele nos olhou sorrindo.
— Até que enfim! – chegou para o lado – Sentem.
Juliet se acomodou na cama, jogando os sapatos para o lado e eu me
sentei ao lado dela. Peter deixou o notebook sobre sua escrivaninha e se
sentou no colchão virado para nós.
— Hannah tem uma novidade para contar! – Juliet foi a primeira a
puxar o assunto.
— É mesmo? – seus olhos verdes me olharam com curiosidade.
— Sim. – balancei a cabeça – Estou namorando.
— É sério?! – ele arregalou os olhos – E quem é o cara?
— Ele é o piloto da companhia onde eu trabalho. Se chama Kevin
Walsh.
— Fico feliz por você, Hannah. – Peter sorriu para mim – Agora só
falta a Juliet desencalhar.
— Ei! – ela o empurrou – Não fale assim.
— Como é o sobrenome do seu namorado? – meu amigo me
perguntou
— Walsh. – respondi.
Peter não disse nada, mas ficou pensativo por um tempo. Juliet olhou
para mim sem entender nada e eu apenas dei de ombros.
— Tenho certeza de que já ouvi esse sobrenome em algum lugar. –
ele quebrou o silêncio.
— Sim, não é tão incomum. – respondi.
— Tem um restaurante em Manhattan chamado DW Bistrô. O nome
da dona é Diana Walsh.
Sorri porque achei engraçado que Peter relacionasse Kevin a um
restaurante só porque a proprietária tinha o mesmo sobrenome que ele.
— Tem muitas pessoas com esse sobrenome. – falei
— Isso é verdade. – Juliet concordou – Além do mais, como você
conhece esse lugar? – perguntou.
— Elisa Bryant, a super atriz, é muito amiga da Diana Walsh. Ela
costuma jantar nesse restaurante. Sei também que a Diana é casada com um
dos homens mais ricos dos Estados Unidos. Eu só não lembro o nome dele. –
fez uma cara pensativa.
Em seguida, com rapidez, ele pegou o notebook e abriu o Google.
Digitou Diana Walsh e marido na barra de busca e eu fiquei observando.
Logo diversas páginas abriram com as mais diferentes notícias. Pelo visto
esse casal era bem famoso no mundo dos ricos.
— Achei! O nome dele é Anthony Walsh. – falou apontando para a
tela.
Olhei a imagem de um homem bonito, cabelos castanhos levemente
grisalhos e um terno escuro que parecia ser caríssimo. Coincidentemente ele
tinha traços muito parecidos com os de Kevin, principalmente os olhos. Peter
continuou vagando página por página em vários tipos de notícias, a maioria
falava da inauguração de novos restaurantes e das negociações que Anthony
Walsh fazia com novos sócios.
Mas em meio a tanta informação, algo me chamou a atenção.
— Espera! – falei antes que Peter clicasse em um novo link.
Levantei da cama e me sentei exatamente ao seu lado na beirada.
Na tela do notebook, era possível ver um rosto que eu conheci há pouco
tempo. Alicia Walsh, a irmã de Kevin, estava ao lado de Anthony Walsh de
maneira elegante. Comecei a ler o que estava escrito no artigo do site e fiquei
de queixo caído. Ela era filha dele e era diretora da megaempresa chamada
Walsh Publishing House.
Não é possível!
Tudo que eu pensava era que podia ter um engano. Alicia Walsh não
era uma herdeira rica. O que significava que Kevin também era.
Mas e se...
Antes que eu pudesse pensar em uma desculpa plausível para que
justificasse o fato de ele ser piloto de avião e nunca ter me contato essa parte
da história, Peter abriu outras páginas e foi então que vi. Kevin posava com
toda a sua família. Os pais, a irmã e inclusive seu irmão gêmeo, o mesmo que
eu vira no Central Park e que era idêntico a ele.
— Está dizendo aqui que esse é Kevin Walsh. – Juliet apontou para
imagem dele na tela – É esse o seu namorado, Hannah?
— Sim. – respondi com voz baixa.
— Nossa! – ela exclamou – Além de lindo o cara é rico.
— Bilionário. – corrigiu Peter.
Se eu não estivesse sentada, tinha caído nesse momento porque me
sentia zonza. Senti minha pressão baixar, a sensação de estar flutuando era
estranha e o que eu senti ao descobrir essa parte da vida de Kevin pareceu ter
sido um soco no estômago. Juliet e Peter estavam deslumbrados, continuaram
pesquisando coisas sobre a família Walsh sem nem se dar conta de que eu
não sabia que ele era homem rico.
— Hannah, você precisa me levar nesse restaurante quando Elisa
estiver por lá. – Peter falou.
Fiquei em silêncio e Juliet olhou para mim. Ela notou que havia algo
errado porque me conhecia muito bem.
— O que houve? – perguntou.
— Eu não sabia que Kevin era rico. – confessei.
— Como não? – ambos me olharam assustados – Esse não é o tipo de
coisa que se consegue esconder.
— Aparentemente é sim. – engoli em seco tentando controlar as
lágrimas.
Era incrível como eu tinha sido feito de boba, mas a ficha ainda não
tinha caído o suficiente e eu não tive tempo de pensar na proporção que isso
tinha tomado em minha vida.
— O Kevin nunca te contou sobre a vida dele? – Peter perguntou após
se dar conta do que estava acontecendo.
— Não. – respondi – Pelo menos não sobre a verdadeira. Ele só disse
que era piloto, tinha irmãos, pais, dois sobrinhos e morava em Manhattan. Eu
conheci a irmã dele no Central Park e neste último fim de semana ele me
levou até seu apartamento. Era um lugar normal, não tinha nada de
glamuroso. Eu não podia imaginar.
— Mas por que ele escondeu a verdade? – Juliet questionou.
— Para se divertir as minhas custas.
Foi doloroso dizer aquilo em voz alta, mas era a verdade.
Kevin era um cara rico que devia passar a vida enganando garotas e
achando muito divertido. Sua vida de playboy devia estar tediosa e ele
encontrou em mim o alvo perfeito. A típica garota inocente de Long Island.
A profissão de piloto estava ali apenas como um hobby, não era do
salário que ele precisava, era só uma aventura para sua vida vazia.
— Eu vou embora. – levantei – Desculpe, gente, mas eu perdi a fome.
— Quer que eu vá com você? – Juliet perguntou.
— Não, está tudo bem. – coloquei a bolsa sobre o ombro – Estou
precisando fizer sozinha agora.
— Me avise quando chegar em casa, por favor. Se precisar de mim
pode chamar.
— Não deixe de nos avisar, por favor. – Peter levantou-se para me
levar até a porta – Se for preciso, eu quebro o nariz dele.
— Obrigada, Peter, mas pode deixar que eu mesma resolvo isso.
Fui embora dali me sentindo totalmente destruída.
Durante todo o caminho, enquanto eu passava por prédios, parques,
comércios, nada eu conseguia enxergar. Era como se tudo fosse um borrão
enquanto minha mente estava focava em tudo que tinha acontecido entre
Kevin e eu e todas as mentiras. Eu não conseguia chorar, não me permitia
isso enquanto ainda estivesse na rua.
A garganta parecia apertar com o choro engasgado, mas eu engoli em
seco e fechei os olhos enquanto o ônibus continuava deslizando pelas ruas
que eu tão bem conhecia. Isso me fez pensar que Kevin provavelmente nunca
entrado em um transporte coletivo. Nossas vidas eram tão diferentes que eu
nem mesmo conseguia medir a dimensão de tudo.
Quando cheguei em casa, por sorte, minha irmã estava trancada no
quarto e minha tia provavelmente atarefada com trabalhos dos alunos. Entrei
imediatamente no meu quarto e só nesse momento me permiti chorar.
Tudo estava dando certo, eu tinha conhecido um cara legal que
parecia gostar de mim, em quem eu confiei e me entreguei e durante todo
esse tempo, foi um castelo de cartas construído com mentiras e que não
demorou muito até que despencasse.
Como eu reagiria de agora em diante?
Eu oscilava entre a vontade de querer gritar com ele e a de nunca mais
lhe dirigir sequer um olhar. Quando a raiva gritava dentro de mim, eu queria
ignorá-lo, mas quando a vontade de explodir e expor tudo que estava
borbulhando em meu coração vinha, eu achava que o melhor seria gritar e
jogar na cara dele tudo o que fez comigo e tudo que fiz por ele.
Afundei o rosto no travesseiro e deixei que minhas lágrimas
molhassem a fronha colorida, deixando-a manchada com minha maquiagem.
— Burra! Burra! Burra!
Falei com a voz abafada pelo travesseiro e nem mesmo sei quanto
tempo fiquei ali até que meu corpo se deu por vencido e eu adormeci.
Era a primeira vez que eu ia trabalhar me sentindo derrotada.
Kevin havia me mandado uma mensagem horas antes, mas eu não
tive coragem de responder.
Nesse mesmo dia, após acordar na madrugada e sem conseguir voltar
a dormir, peguei meu celular e comecei a procurar informações sobre a
família Walsh. Fui surpreendida por uma série de informações que cada vez
me assustavam mais.
Kevin não era somente um cara com muito dinheiro, ele era o
herdeiro de um império bilionário. Sua família possuía negócios em vários
ramos: editorial, hoteleiro, gastronômico, inclusive, estavam envolvidos em
projetos sociais e o mais recente deles fora idealizado por sua irmã, Alicia
Walsh. Ela tinha sido tão simpática comigo e eu nem mesmo desconfiei de
sua elegância e roupas sofisticadas. Durante minha pesquisa, eu tinha
descoberto que ela se casara também com o herdeiro de um império tão rico
quando o dela.
Isso só provava meu ponto: pessoas ricas só se casavam com outros
ricos.
Eu estava sendo o passatempo de Kevin enquanto ele mantinha uma
vida de aventuras e bancava o piloto de avião enquanto uma série de
empresas o esperavam e provavelmente, uma bela esposa que também
nascera em berço de ouro.
A única com coração partido seria eu.
Louis, seu irmão gêmeo, era um fotógrafo famoso e tinha uma filha
que era uma garotinha linda, mas ao que tudo indicava, não era casado.
Seus pais eram a personificação de classe e elegância.
Diana Walsh sempre aparecia em eventos usando roupas lindíssimas
que provavelmente custavam dezenas vezes mais que o meu salário mensal.
Seus cabelos escuros eram bem parecidos com os de Alicia e sua aparência
jovial. Anthony Walsh era como uma versão mais velha de Kevin. Sempre
trajando terno e gravata, ele era um homem muito bonito.
A família Walsh era realmente digna de revistas.
E eu? Apenas uma garota tentando sobreviver e pagar as dívidas.
Fui o caminho todo até o aeroporto pensando em como reagiria ao ver
Kevin. Sei que meu coração ainda iria palpitar, mas a raiva me consumia por
dentro. Ele precisava ouvir de mim tudo que tinha para dizer, mas teríamos
de esperar até chegar à Alemanha.
Jasmine foi a primeira a me cumprimentar quando cheguei.
— Oi, Hannah. Como foram seus dias de folga?
Tive um jantar maravilhoso com meu namorado e pouco depois
descobri que ele me enganou todo o tempo, pensei.
— Normal. – respondi – E o seu?
— Saí com uma amiga que veio passar uns dias em Nova York. — ela
tinha nas mãos um copo de café e bebeu um gole.
Eu queria muito ser a Hannah alegre que vinha trabalhar, mas estava
difícil esconder meu desânimo. Dormi muito mal durante a noite e dei sorte
de ter uma maquiagem que cobrisse minhas olheiras. Um blush me deixava
coradinha e um batom dava uma aparência melhor.
Fiquei conversando com Jasmine e quando a porta se abriu, Kevin
apareceu.
Por mais que eu não quisesse dirigir meu olhar a ele, havia um imã
que me puxava.
Tive o maior turbilhão de emoções possível dadas as circunstâncias.
Ele estava lindo com seu uniforme de piloto, os cabelos escuros
jogados para trás, os músculos sobressaindo por conta da camisa justa e os
olhos verdes hipnotizantes.
Senti vontade de chorar porque ele tinha mentido para mim.
Descaradamente.
Seu olhar encontrou o meu e na mesma hora desviei focando minha
atenção em Jasmine. O nó em minha garganta parecia querer me estrangular,
então respirei fundo em uma tentativa de me controlar.
— Bom dia, meninas. – ele nos cumprimentou.
— Bom dia. – respondi baixo enquanto Jasmine respondia com sua
animação habitual.
— Caleb já chegou? – perguntou.
— Eu não o vi. – Jasmine deu a informação e ele assentiu se
afastando.
Voltei a respirar normalmente quando Kevin saiu da sala.
Será que Caleb sabia a verdade? Kevin e ele eram muito amigos.
Provavelmente Kevin não escondia a verdade dele, o que significava
que provavelmente Caleb também estava mentindo. Essa mentira ganhara
grandes proporções.
Quantas mulheres Kevin já havia enganado dessa maneira?
Eu quis perguntar a Jasmine com quantas mulheres ele tinha saído
enquanto trabalhava como piloto, mas ela desconfiaria de alguma coisa e
saberia que eu estava interessada.
Quando entramos na aeronave, fui direto para minha posição e
auxiliei alguns passageiros. Por sorte o voo me deixou distraída e eu tive
pouco tempo para pensar em Kevin e em tudo que acontecera. Servi os
lanches, organizei a cozinha e tentei me manter o máximo de tempo no
corredor da aeronave e sentada em meu lugar para evitar que Kevin saísse da
cabine de piloto e me encontrasse sozinha.
Certamente não era o momento ideal para conversarmos.
— Um dos tripulantes que conheci quando estivemos na Alemanha,
me convidou para sair. – Sandra comentou conosco bem baixinho.
— E o Niels? As coisas não deram certo com ele? – Jasmine
perguntou.
— Nós estamos conversando, mas não é nada sério. Ele é um gato,
mas não sei se pode evoluir para alguma coisa.
— Vocês fazem um belo casal. – comentei.
— Obrigada, Hannah. – ela deu um sorriso para mim.
Chegamos ao hotel e como sempre, os meninos fizeram o check-in, eu
não olhei para Kevin e acho que ele começou a perceber que havia alguma
coisa errada. Por mais que eu tentasse mudar minha expressão, não
conseguia. Claramente era possível ver que eu estava mais calada e mais
introspectiva, com respostas curtas.
Assim que entrei no quarto, larguei minha mala e fui direto para o
banheiro. Eu precisava de um banho para recuperar minhas energias porque a
conversa com Kevin não seria nada fácil. Foi difícil segurar as lágrimas
enquanto a água escorria pelo meu rosto, mas com muita força de vontade eu
consegui. Tinha prometido a mim mesma que não voltaria a chorar por causa
dele.
Kevin não merece nenhuma gota das minhas lágrimas.
Após um banho quente e demorado, eu vesti meu roupão e fui para o
quarto.
Sandra e Jasmine conversavam sentadas na cama e a estavam tão
empolgadas que não falaram comigo, o que eu achei ótimo porque não estava
afim de papo.
Como eu já previa, ao pegar o celular, vi uma mensagem de Kevin.
— Está tudo bem? Estou naquele mesmo quarto da última vez. Passa
aqui para falar comigo, estou sentindo sua falta.
Sentindo falta de rir de mim.
Peguei um vestido simples de um roxo escuro com mangas compridas
e nos pés calcei uma sapatilha creme. Penteei os cabelos e os prendi em um
coque e saí dizendo as meninas que ia comer alguma coisa. Elas acenaram
com a mão e continuaram com sua conversa.
Cada passo que eu dava no corredor fazia meu coração bater mais
acelerado. Parei de frente para a porta me lembrando que na primeira vez que
entrei no quarto, a situação era completamente diferente. Eu me sentia
empolgada com a expectativa. Eu nem imaginava que pouco tempo as coisas
mudariam.
Toquei a campainha e em poucos segundos a porta se abriu.
Ao ver a figura alta de Kevin parado na minha frente, precisei muito
me segurar para não deixar uma lágrima cair. O nó em minha garganta se
apertou e tudo que eu queria era gritar, mas tentei me controlar ao máximo.
Seus olhos verdes que antes me eram tão familiares, agora pareciam de uma
pessoa que eu mal conhecia.
E para bem da verdade, eu realmente não sabia nada sobre ele. Exceto
coisas que encontrei na internet.
— Que bom que veio logo, linda. – ele falou chegando para o lado.
Eu não respondi nada e entrei no quarto. A mesma cama, os mesmos
móveis, estava tudo do mesmo jeito e carregado de lembranças. E era isso
que seria de agora em diante, apenas lembranças.
— Eu pensei em pedir o jantar aqui no quarto e...
— Chega de mentir para mim, Kevin. – falei interrompendo-o.
— O quê?
Pude notar seu olhar confuso e ao mesmo tempo incrédulo.
Kevin vinha mentido muito bem, então atuar poderia ser considerado
um dos seus dons.
— Eu já sei que você é um cara rico. – desabafei – Eu nem mesmo sei
como conseguiu esconder por tanto tempo.
— Hannah, eu posso explicar o que aconteceu. – aquela animação de
antes tinha morrido.
O choque dele com a descoberta foi visível em seu olhar. Os olhos
verdes estavam arregalados, mas ele nem se deu ao trabalho de me perguntar
como eu soube da verdade, afinal, com a Internet havia vários meios então
não precisava ser nenhum gênio. Eu que nunca tinha me dado ao trabalho de
pesquisar sobre ele, afinal, acreditei nas coisas que me dissera.
— Não quero explicações, Kevin! Estou me sentindo ridícula!
— Não se sinta assim.
— E como você espera que eu me sinta tendo sido enganada dessa
forma? Você provavelmente riu de mim com seus amiguinhos ricos.
— Eu jamais faria isso. – ele deu alguns passos para se aproximar.
— Não! – falei um pouco mais alto e ele parou.
— Só senta e me ouve, por favor.
Eu não queria ouvir nada, estava chateada e só queria um tempo
comigo. Comecei a balançar a cabeça de forma negativa e o silêncio me fez
pensar em vários momentos que vivemos juntos e nas diversas mentiras que
criaram esse castelo de areia e uma lágrima teimosa rolou pelo meu olho.
— Não quero te ouvir. – minha voz estava embargada – Isso não se
faz com ninguém. Você criou uma mentira, criou um Kevin que não existe...
— Eu existo, Hannah! Eu sou o mesmo cara legal com quem você
saiu. A minha conta bancária não muda isso!
— MUDA TUDO! – gritei ficando mais revoltada e com as lágrimas
agora descontroladas – EU SOU UMA GAROTA QUE LUTOU MUITO
PARA CHEGAR ATÉ AQUI! FAÇO DE TUDO PARA AJUDAR MINHA
TIA A PAGAR NOSSAS CONTAS! VOCÊ ME ESCONDEU A
VERDADE! AGIU COMO SE FOSSE COMO EU, MAS SEU MUNDO É
TOTALMENTE DIFERENTE! VOCÊ NÃO SABE O QUE É
ECONOMIZAR CADA CENTAVO!
— Hannah...
— Eu perdi a minha virgindade com um mentiroso. – falei mais baixo
porque a força da minha voz simplesmente sumiu.
— Linda, não diga isso. Foi a coisa mais maravilhosa que alguém fez
por mim, a confiança que demonstrou...
— E você jogou no lixo, Kevin Walsh! – interrompi.
Eu dei passos largos até a porta, ele tentou me segurar, mas não fez
força porque eu sabia que Kevin apesar de tudo não iria me prender ali conta
minha vontade. Quando fechei a porta atrás de mim, tudo que pensei foi em
descer do hotel e caminhar pela noite de Berlim até conseguir acalmar minha
mente e meu coração.
Nunca pensei que me sentiria tão mal assim por alguém com quem
me relacionei por tão pouco tempo.
Capítulo 24
KEVIN

Quando aquela porta se fechou bem na minha frente, eu senti como se


o chão debaixo de mim já não existisse. Eu estava tão perto de contar a
verdade para Hannah. Ia pedir um jantar especial, contar sobre quem eu era,
explicar meus motivos de ter escondido e fazer com que ela me entendesse.
Infelizmente, ela havia descoberto antes.
E eu me arrependi.
Dessa vez o arrependimento foi muito maior do que o que eu sofri há
alguns anos atrás.
O sentimento dentro de mim parecia uma navalha que me cortara em
diversos pedaços e embora eu não sentisse uma dor física, eu sentia uma dor
na alma que nunca havia experimentado.
Essa era a prova de que eu estava apaixonado por Hannah.
Eu me joguei no sofá e afundei o rosto entre as mãos tentando
absorver o que tinha acontecido.
Meses atrás eu estava convicto de que nenhuma mulher iria mexer
comigo novamente, que meu coração estava definitivamente fechado para
qualquer pessoa e eu viveria minha vida de solteiro do jeito que me fosse
conveniente. Agora, eu estava sentado no sofá de um hotel na Alemanha me
sentindo destruído porque tinha decepcionado a única garota que conseguira
mexer com meu coração e feito eu me apaixonar.
Já tinha ficado claro que Hannah era o tipo de mulher que não se
deslumbrava com meu dinheiro e que não se importava com isso. Não seria
esse o motivo que a faria voltar para mim porque não era interesseira. Por que
eu insisti em continuar mentindo? Agora estava pagando um preço alto.
Quis ir atrás dela, fazê-la ouvir tudo que eu tinha para dizer, contar
sobre o que acontecera no meu passado e como isso me afetou trazendo
medos e desconfianças, mas eu sabia que Hannah estava nervosa e tentar
conversar no momento só iria piorar a situação.
Meu celular começou a tocar e eu levantei para atender. E se fosse
ela?
A gota de esperança sumiu quando vi o nome da minha irmã na tela e
sua foto sorridente junto com o filho.
— Oi, Ali. – atendi ao telefone sem disfarçar o quanto estava
desanimado.
— Oi, Kevin, aconteceu alguma coisa?
Mesmo a quilômetros de distância, Alicia me conhecia muito bem.
Por mais que eu tentasse disfarçar sobre algo estar me incomodando ou que
tenha me deixado triste, meus irmãos e minha mãe sempre sabiam da
verdade.
— Na verdade, aconteceu. – resolvi desabafar já que Alicia conhecia
minha história – Hannah descobriu a verdade antes que eu pudesse contar.
— Pelo visto ela não aceitou bem. – respondeu após alguns segundos
em silêncio.
— Foi um desastre, Ali. – me joguei novamente no sofá – Me chamou
de mentiroso, jogou algumas coisas na minha cara.
— É compreensível que ela aja assim, Kevin. – minha irmã dizia com
toda sua sabedoria e racionalidade – Não é fácil ver que a pessoa que nós
gostamos está nos enganando.
— Foi por uma boa causa. – suspirei – Ou pelo menos eu acho que
foi.
— Você explicou o motivo de ter mentido?
— Não, ela nem mesmo quis ouvir. Saiu do quarto irritada e nem
mesmo sei para onde foi.
— Bem, sejamos francos, você teve todo o tempo do mundo para
contar a verdade, meu irmão. – lá estava Alicia novamente com sua franqueza
– Agora só te resta esperar até que Hannah absorva tudo e se acalme. Depois
você tenta falar com ela.
Infelizmente eu não tinha outra saída. Apenas tinha de sentar e torcer
para que Hannah não me odiasse.
Despedi-me de Alicia e deixei o telefone de lado.
Minha vontade de comer alguma coisa tinha passado e eu fiquei
sentado olhando para um ponto fixo qualquer por um longo tempo.
Minha mente era um turbilhão. Uma mistura de imagens dos meus
momentos felizes ao lado de Hannah e da projeção de um possível futuro do
qual ela não faria parte e desse segundo, eu não gostava nem um pouco.
Aquela garota ruiva tinha mexido comigo de várias maneiras e me
conquistado aos poucos sem que eu me desse conta da proporção do
sentimento dentro de mim.
Deitei na cama de barriga para cima e acabei cochilando, acordei com
o barulho da campainha do quarto tocando insistentemente. Depois de alguns
segundos para minha mente me levar de volta para onde eu estava, dei um
pulo da cama pensando que pudesse ser Hannah querendo conversar comigo.
Abri a porta sem nem mesmo verificar e quando eu ia abrir a boca animado
por vê-la, dei de cara com Caleb.
— Oi. – cumprimentei-o sem disfarçar minha cara de decepção.
— Nossa, que cara é essa, Kevin? – perguntou já invadindo meu
quarto.
— Estou cansado, apenas isso. – menti.
— Não é a hora para ficar cansado, cara. – Caleb falou enquanto
olhava o quarto ao redor – Estou indo agora para um barzinho legal com
Jasmine e Sandra. Eu vi na Internet e queremos conhecer. – ele olhou para
mim – Se veste logo e vamos descer!
— É sério, Caleb, hoje não vai rolar para mim.
— Fala sério, Kevin! – revirou os olhos – As meninas procuraram a
Hannah para convidá-la também, mas não a encontraram. – aquilo me deixou
preocupado, mas não pude perguntar nada a respeito – Eu até queria falar
com ela. Andei pensando, seria uma boa apresentá-la ao William. Ele é um
cara gente boa e ela também é uma garota legal então...
O que Caleb falou depois disso eu não ouvi mais. A ideia de Hannah
com outra pessoa me embrulhava o estômago e eu sentia vontade de quebrar
coisas. Imaginá-la sorrindo e vivendo momentos especiais ao lado de outra
pessoa me dava a sensação de uma faca dilacerando meus órgãos.
Dramático? Talvez.
— Não acho que eles dariam certo. – tentei agir de forma natural
enquanto escondia o ciúmes dentro de mim.
— Por que não? Acho que eles são bem parecidos. – insistiu – Tenho
certeza de que a Hannah ia gostar de conhecê-lo. – enfiou a mão no bolso e
sacou o celular – Que horas são nos Estados Unidos? Posso tentar ligar para
ele e...
— NÃO! – minha voz saiu mais alta do que eu gostaria.
— O que houve, Kevin? – Caleb me olhou confuso.
— Nada. Só acho que a Hannah não vai querer. – dei de ombros como
se aquilo não me importasse.
— E desde quando você sabe? Você mal fala com a garota.
— Só suspeito, Caleb. – fui até o frigobar pegar uma bebida para
esfriar minha cabeça.
Enquanto estava aqui perdendo tempo com Caleb, Hannah estava por
aí em algum lugar sentindo raiva de mim. Queria poder fazer alguma coisa,
mas me sentia de mãos atadas. Por mais que eu quisesse ligar e torcer para
que ela me atendesse, eu sabia que isso provavelmente não aconteceria e que
o melhor era dar tempo ao tempo.
— Oi, William.
A voz de Caleb falando o nome do nosso amigo me deixou alerta e eu
fechei a porta do frigobar com força. Meu amigo me olhou como se eu
tivesse três cabeças.
— Tem uma garota linda que quero te apresentar. – ele continuou.
— Desliga esse telefone, Caleb.
— Larga de ser chato, Kevin. – falou para mim com o aparelho ainda
grudado a orelha.
— DESLIGA ESSE MALDITO TELEFONE, PORRA! – gritei sem
já paciência.
Caleb apenas deu um tchau rápido a William e encerrou a ligação.
— Que merda foi essa, Kevin?
— Eu já disse para você parar de tentar empurrar a Hannah para o
William!
— Por que você não quer?
— Por que eu estou com ela! – confessei.
Caleb olhou para mim sem dizer nada.
A revelação deve tê-lo chocado. Os olhos castanhos mal piscaram. Eu
sentia meu corpo todo quente pelo nervosismo e por toda a situação que eu
estava passando com Hannah. Se ficaríamos juntos ainda? Eu não sabia.
— Até que enfim! – finalmente exclamou – Você demorou para
confessar.
— Como assim? – dessa vez fui eu quem ficou confuso.
— Eu já tinha sacado que você e a Hannah estavam tendo algo. Sou
seu amigo, Kevin. Eu te conheço.
— Ficou tão óbvio assim?
— Você insulta a minha inteligência, cara. – Caleb foi até o frigobar e
pegou uma cerveja.
Preferi me calar e sentei na beirada da cama. Eu me sentia fatigado,
com o corpo pesado e a mente girando como um carrossel. Ao mesmo tempo
que eu me forçava a não pensar em Hannah, eu só conseguia pensar nela.
Pelo menos, agora eu não precisava esconder nada de Caleb e podia
desabafar.
— Eu só não sei quando isso começou a acontecer. – ele quebrou o
silêncio enquanto estava de pé próximo a janela com sua garrafa na mão.
— A primeira vez foi no Caribe.
Ele soltou um assobio.
— Tem um tempinho. – comentou – E qual o lance? Só sexo?
— Estávamos namorando.
— Caralho, Kevin! – exclamou – Fisgou a garota mesmo. – bebeu um
gole da cerveja – Mas espera aí, você disse que estavam namorando? Como
assim?
— Pouco antes de você chegar, Hannah estava aqui e tivemos uma
discussão. – suspirei – Para ser sincero, eu fiz merda e ela ficou
extremamente irritada.
— O que aconteceu, cara?
Pude notar que Caleb ficara preocupado. Ele sabia o que tinha
acontecido com Susan no passado e que eu estava fechado para qualquer
relacionamento sério depois do término. Ao ouvir de mim que estava
namorando com Hannah, meu amigo sabia que eu estava mesmo gostando
dela, não era necessário que falasse nada.
— Eu não contei a ela a verdade sobre quem é minha família. Hannah
pensava que eu era só um piloto de avião.
— Ela descobriu e ficou com raiva de você. – confirmei balançando a
cabeça – Você deveria ter contado logo, Kevin. Está claro que você gosta da
garota ou então não iria namorá-la.
— Nós nos conhecemos no meio de uma mentira, Caleb. Eu continuei
ocultando as mesmas informações que sempre ocultei de Jasmine e Sandra.
Naquela época, Hannah era apenas uma nova colega de trabalho, eu não
imaginei que as coisas chegariam a esse ponto. Por coincidência, hoje nós
iríamos jantar e eu contaria toda a verdade, mas ela descobriu antes.
— Olha, eu vou sair e deixar você sozinho. – ele colocou a garrafa de
cerveja sobre a mesa no canto do quarto – É melhor começar a pensar em
como fazer para Hannah te perdoar. Se precisar de alguma coisa, me ligue.
— Certo.
Esperei que Caleb saísse do quarto e me joguei de costas na cama
olhando para o teto. Eu lutei contra a vontade de falar com Hannah, tentar
ligar para ela. Fiquei assim por um tempo até que o cansaço de uma longa
viagem me fez pegar no sono.
Acordei no dia seguinte de um jeito totalmente diferente dos meus
planos. Quando cheguei à Alemanha, queria iniciar meu dia com aqueles
cabelos ruivos espalhados pelo travesseiro e aquele corpo perfeito e delicado
enrolado ao meu. O país germânico tinha sido especial para nós e agora
também representava nossa separação. Que ironia!
Me obriguei a levantar e tomar um banho. Olhei meu celular.
Nenhuma mensagem de Hannah, nenhuma ligação, nada.
Onde ela estaria? Será que voltou para o hotel?
Comecei a ficar preocupado e nervoso, afinal, era um país que ela mal
conhecia.
Olhei para a tela do meu celular por alguns segundos antes de tocar no
nome dela e a ligação iniciar. Ouvi um toque de chamada, outro e mais um
antes da ligação ser encerrada.
Ela não queria falar comigo ainda.
Suspirei frustrado e larguei o aparelho sobre a cama. Peguei o tablet
do quarto e pedi meu café da manhã. Eu daria um jeito de falar com Hannah
assim que saísse do quarto.
Depois de comer, liguei para Caleb e perguntei se ele sabia onde
estavam as meninas.
— Jasmine disse que iria sair com Sandra e Hannah. – respondeu do
outro lado da linha.
— E ela disse para onde iam?
— Cara, sinceramente eu nem perguntei, mas acredito que seja dar
uma volta pela cidade já que voamos hoje à noite. É melhor sairmos também
e paramos em um restaurante para comer algo na hora do almoço.
Seria praticamente impossível encontrá-las, então só pude aceitar o
convite de Caleb.
Demos uma volta por Berlim e eu tinha de confessar que me peguei
muitas vezes olhando ao redor da cidade para procurar por Hannah.
Aproveitei para mandar uma mensagem para Louis e contar o que tinha
acontecido. Falei por alto sobre o fato de ela descobrir sozinha que eu estava
mentindo e que terminou comigo. Louis respondeu com um “Estava na cara
que mentir não era uma boa ideia.”
Obrigado, irmãozinho!
— E aí, pensou no que vai fazer em relação à Hannah?
— Tentar falar com ela de novo e me explicar. – respondi enquanto
entrávamos em um restaurante – E por fim, torcer para que ela me desculpe
por isso.
— Espero que isso aconteça porque quero ser o padrinho do
casamento.
Preferi não responder.
Casamento?
Essa palavra me causava arrepios, mas a maior surpresa foi que dessa
vez ela não me assustou. Sentei à mesa pensando a respeito. Hannah estava
mudando muitas coisas em minha vida, inclusive, minha maneira de ver os
relacionamentos.
Eu não podia deixar de fazer o possível e o impossível por ela.
Hannah sem dúvidas era especial.
Somente quando Caleb e eu estávamos fazendo o checkout que eu
voltei a ver a ruiva que tomava meus pensamentos. Lá estava Hannah saindo
do elevador e puxando sua mala ao lado de Jasmine e Sandra. Seus cabelos
estavam presos em um coque perfeito, a roupa de comissária abraçava cada
uma das suas curvas de maneira magnífica e eu não resisti em observá-la.
Seus olhos azuis encontraram os meus e eu pude ler ali o quanto estava
magoada. Aquilo partiu meu coração.
Tão rápido ela me olhou, seus olhos desviaram a atenção. Aquilo
doeu de um jeito que eu não esperava.
Terminamos o checkout e infelizmente Hannah não me olhou mais
até entrar no táxi com as meninas e ir em direção ao aeroporto.
Eu daria um jeito de encontrar uma oportunidade para falar com ela.
No aeroporto, eu fui caminhando sozinho atrás observando Hannah.
Ela falou algo com as meninas e se afastou indo para o lado esquerdo,
provavelmente até a lanchonete. Imediatamente fui atrás caminhando a
passos largos até que ela se apoiou no balcão e eu me apoiei ao seu lado.
— Será que podemos conversar? – ao ouvir minha voz notei que ela
se assustou.
— Não temos nada para conversar agora, Kevin. – respondeu após
uma rápida olhada para mim e em seguida olhou para o atendente – Um café
forte, por favor.
— Hannah, me desculpe. – comecei a falar mesmo que ela não
quisesse ouvir – Fui um idiota de ter deixado isso chegar longe demais, mas
tudo tem um motivo.
— Você acha certo enganar as pessoas assim? – ela não olhou para
mim, continuou olhando para a frente – Porque Jasmine e Sandra também
não sabem da verdade.
— Eu não acho certo, mas não faço isso com más intenções, Hannah.
— Não tenho tempo para ouvir suas intenções agora, Kevin. – ela
aceitou o café que lhe foi entregue e passou uma nota em euros para o rapaz –
Tenho trabalho pela frente. Ao contrário de você, eu não menti. O emprego é
extremamente necessário para mim e não posso ficar aqui no meio do
aeroporto discutindo relação com você e correndo risco de que alguém ouça.
Ela se afastou e me deixou ali parado sozinho.
Convencer Hannah a me ouvir seria mais difícil do que eu tinha
imaginado.
Capítulo 25
HANNAH

Tive uma péssima noite.


Caminhei durante um bom tempo pelas ruas da cidade de Berlin tentando
esquecer o que tinha acontecido e tentar cansar meu próprio corpo para tentar
dormir quando chegasse ao hotel.
Infelizmente não deu certo.
Assim que coloquei minha cabeça no travesseiro, uma enxurrada de
imagens dos momentos que passei com Kevin invadiu minha mente. O
primeiro beijo no Caribe, o almoço que tivemos naquele lugar incrível,
quando conheci sua irmã no Central Park, nosso jantar no apartamento e as
noites juntos que eu jamais esqueceria.
Entre um cochilo e outro, todas as vezes eu sonhei com ele.
Ao acordar, eu estava irritada e triste.
Tentei manter uma conversa cordial com Jasmine e Sandra durante o
café da manhã no restaurante do hotel. Ambas estavam muito animadas em
voltar para Nova York porque tinham diversos planos. Sandra me contou que
passaria o Natal na cidade onde passou toda sua infância e Jasmine não via a
hora de rever seus familiares que iriam passar o fim de ano com ela.
Foi somente aí que percebi que estávamos nos aproximando do Natal.
Era final de novembro e àquela altura toda a cidade de Nova York,
principalmente Manhattan, estaria toda decorada e iluminada. Eu tinha
certeza de que Cecile iria querer passear por lá, então tinha de me preparar
para lidar com as lembranças de Kevin que o lugar me trazia.
Quando Kevin falou comigo naquela lanchonete, confesso que só de
ouvir sua voz, minhas pernas tremeram, mas a lembrança de que ele me
magoou e mentiu para mim foi o suficiente para que eu me manter firme e me
afastar de cabeça erguida.
Durante o voo de volta para Nova York, eu tentei me manter ocupada
a maior parte do tempo. Atendi todos os passageiros, perguntei como estava a
viagem e se precisavam de alguma coisa. Acho até que fui inconveniente em
alguns momentos porque falei várias vezes com a mesma pessoa.
Jasmine como sempre foi servir o café e eu fiquei na cozinha apertada
preparando os lanches. Tenho certeza de que Kevin estava esperando esse
momento para dar o bote.
— Hannah. – ouvi sua voz baixa atrás de mim.
— Deseja alguma coisa, comandante? – perguntei de maneira formal.
— Desejo que você separe cinco minutos do seu tempo quando
chegarmos a Nova York para que me ouça.
Não disse nada de imediato. Continuei separando os pães um a um e
colocando-os na bandeja. Eu queria ouvir o que Kevin tinha a me dizer, é
claro. Por mais que estivesse irritada, queria saber que tipo de desculpa ele
inventaria para justificar o fato de me enganar durante todo esse tempo.
Principalmente porque sempre fui sincera com ele.
— Quando chegarmos vou pensar sobre isso, mas não hoje, Kevin. –
respondi.
Ele pareceu se dar por vencido ou entendeu que isso foi uma pequena
vitória. No segundo seguinte me vi novamente sozinha na cozinha e terminei
de preparar os lanches no momento em que Jasmine chegou. Ela começou a
guardar as coisas enquanto eu ia colocando as minhas sobre o carrinho.
— A maioria dos passageiros está dormindo. – ela disse – Era tudo o
que eu gostaria de fazer também.
— Eu dormi muito mal essa noite.
— Esse jet lag acaba com a gente.
Queria que meu problema com o sono fosse apenas causado pelo jet
lag, mas era ainda pior. Além de dormir mal, eu me sentia chateada e triste.
Fui para o corredor cuidar dos meus afazeres e parar de pensar no piloto lindo
que estava trancado naquela cabine.
Ao chegar em casa, passei algum tempo com minha irmã e minha tia
antes de tomar um banho e finalmente tentar dormir. Eu havia saído do
aeroporto correndo antes que Kevin me alcançasse e tentasse conversar
comigo. Ainda não me sentia pronta.
Ao acordar no dia seguinte, fui surpreendida com uma mensagem dele
no meu celular.
“Converse comigo, Hannah. Prometo lhe contar tudo.”
Ele estava mesmo disposto a me fazer ouvir suas explicações. Se
Kevin se esforçava tanto, será que realmente queria algo sério comigo em vez
de apenas me enganar? Eu precisava agir com calma e não me iludir com
palavras bonitas porque havia sido muito magoada e Kevin quebrara a
confiança que tinha depositado nele.
— Bom dia, Hannah! – Cecile me cumprimentar já sentada à mesa e
comendo panquecas – Ontem você chegou tão cansada e não conversamos.
Vamos até Manhattan ver a decoração de Natal?
— Claro, irmã. – eu dei a ela meu melhor sorriso e me sentei à mesa
também – Quando quer ir?
— Pode ser hoje? – perguntou animada.
— Hoje?!
— Por favor, Hannah!
A empolgação de Cecile não me deixou negar aquele pedido e eu
acabei concordando. Ela tomou café da manhã apressada e saiu correndo para
se arrumar, logo em seguida minha tinha entrou na cozinha.
— O que deu na sua irmã? Ela passou por mim como se fosse um
foguete.
— Eu concordei em levá-la até Manhattan para ver a decoração de
Natal. – respondi colocando uma panqueca no meu prato.
— É bom vocês saírem juntas. Eu gostaria de ir, mas tenho alguns
trabalhos para corrigir.
— Que pena, tia. Mas vamos combinar de dar um passeio enquanto
eu estiver por aqui.
— Está ótimo, Hannah.
Ela pegou uma xícara de café e me deixou sozinha na cozinha. Peguei
meu celular no bolso do pijama e olhei novamente para a mensagem de
Kevin. Ponderei sobre respondê-la ou não e acabei cedendo.
“Nós vamos conversar, mas não agora, Kevin. Preciso de um tempo.”
Talvez eu estivesse sendo dura demais em não lhe dar a oportunidade
de se explicar logo, mas eu queria muito que ele entendesse que eu estava
magoada e não seria fácil, ou então, ele ia se sentir confortável para mentir
novamente. Subi para me arrumar e minutos depois me encontrei com Cecile
na sala.
— Vamos?
— Agora mesmo!
A viagem até Manhattan foi um pouco demorada, mas eu aproveitei o
tempo para ouvir um pouco a minha irmã. Infelizmente eu não estava
diariamente com ela, principalmente nessa fase de adolescência, portanto
achei que era melhor sentar e conversar um pouco. Cecile me contou sobre a
escola e as aulas e seus sonhos. Pela primeira vez minha irmã me falava sobre
eles.
— Eu queria muito ser arquiteta. – falou.
— De onde veio essa vontade?
— Ah, eu acho legal planejar os espaços dos ambientes.
— Se esse for realmente seu desejo, vou te apoiar. Mas lembre-se de
que precisar estudar muito para conseguir uma bolsa na faculdade.
— Sim, eu sei.
Minha irmãzinha que até ontem era uma criança, hoje já pensava no
futuro. Eu a adorava tanto e queria poder passar mais tempo ao seu lado.
Ao chegarmos em Manhattan, eu podia sentir o vento frio no rosto e
ajeitei minha boina sobre a cabeça. Decidi levar Cecile à uma cafeteria para
tomarmos um chocolate quente antes de passearmos pela ilha. Por mais que
eu quisesse não pensar em Kevin, foi inevitável. Ele morava aqui, mas eu não
conhecia realmente seu apartamento. Eu duvidava de que aquele onde
jantamos fosse o verdadeiro. Mais uma mentira para a conta.
O Central Park estava logo ali e foi lá onde conheci Alicia, sua irmã.
Eu pensei naquele momento que estava conhecendo tudo sobre Kevin,
mas a realidade fora bem diferente. Quem de fato era Kevin Walsh? Havia
uma vida por trás dele que eu desconhecia.
— Com licença. – a garçonete veio com nossos pedidos – Desejam
mais alguma coisa?
— Não, obrigada. – agradeci.
Bebemos nosso chocolate quente enquanto Cecile comentava sobre a
decoração da cafeteria. Havia laços vermelhos, festões verdes e botas de
Papai Noel espalhados por todo lugar. Finalmente eu comecei a sentir o
espírito natalino me consumir. Chegara a época de comprar presentes. Eu não
poderia gastar muito, mas todos os anos eu fazia questão de comprar algo
para minha tia e minha irmã e enfeitar o pé da nossa árvore.
Quando saímos, pude sentir novamente o vento gelado no meu rosto.
Ajeitei a boina de Cecile e ela me criticou porque a estava tratando como
criança. Ainda não tinha acostumado que minha irmãzinha tinha crescido.
Passeamos pelas ruas mais movimentadas de Manhattan que estava decorada
com luzes nas árvores, mas por ainda ser início da tarde, elas não brilhavam
tanto. As portas dos edifícios, dos hotéis e das lojas, cada uma chamava mais
atenção que a outra. A cidade ficava ainda mais charmosa nessa época do
ano.
— Deve ser ótimo morar aqui. – Cecile comentou – Quando eu
crescer quero planejar muitos prédios e comércios aqui em Manhattan.
— Aqui é um lugar caro para se morar. Vai ter que trabalhar muito. –
ressaltei.
— Eu vou trabalhar bastante, irmã.
— Fico orgulhosa de você, Ceci. – sorri e lhe abracei de lado
enquanto continuávamos andando.
— Olha que vestido lindo, Hannah! – ela apontou para a vitrine de
uma loja na esquina em que estávamos.
Realmente era um vestido muito bonito. Longo, de um tom de azul
celeste com decote frente única. Deslumbrante.
— Imagina ir a uma festa com um vestido desses?
— Seria incrível mesmo. – confessei.
Embora o valor do vestido provavelmente seja uma fortuna, era
impossível não se imaginar usando um desses. O tecido deveria ser leve e
muito macio. Não pude deixar de pensar que era o tipo de roupa que as
mulheres usavam no círculo social que Kevin costumava frequentar.
Mais uma vez eu estava me torturando.
Seguimos em frente e algo chamou minha atenção. Do outro lado da
rua estava o famoso restaurante que pertencia à mãe de Kevin. O DW Walsh
tinha uma fachada que representava um bistrô, com cores escuras e letras em
um tom quase de branco. Através do vidro, era possível ver que lá dentro
estava movimentado e as portas se abriam para receber mais um casal.
Era um restaurante caro para os meus padrões, portanto entrar lá
estava fora de cogitação. Fiquei imaginando se Kevin e a família se reunia ali
para fazer algumas refeições juntos ou se preferiam a privacidade de suas
casas.
— Vamos, Hannah!
Cecile me puxou e eu parei de pensar em Kevin e em sua família.
Caminhamos por mais algumas horas e entramos em algumas lojas de
departamentos. Chegamos em casa no início da noite e decidimos fazer
pipoca e assistir filmes com nossa tia. O dia tinha sido divertido na medida do
possível, mas Kevin invadia meus pensamentos com uma frequência
impressionante.
Acordei no dia seguinte e tomei um banho para relaxar. Dessa vez não
havia nenhuma mensagem no meu celular e eu comecei a me perguntar se
Kevin decidira me dar um tempo ou acabara desistindo. Era domingo e eu
decidi que passaria o dia em casa aproveitando para ver televisão e quem
sabe ler um livro. Minha tia e Cecile tinham saído para ir à igreja e eu peguei
um pedaço de bolo antes de ouvir a campainha tocar.
Provavelmente era Juliet, ela costumava vir aqui aos domingos
quando sabia que eu estava na cidade. Deixei meu pratinho sobre a bancada
da cozinha e fui até a porta atendê-la.
— Juliet, que bom que você veio porque...
As palavras morreram na minha boca quando me vi de frente para
Kevin. Ele estava lindo como sempre, seus olhos verdes brilhavam e me
olhavam fixamente. A calça jeans abraçava bem suas pernas e a jaqueta de
couro realçava seus ombros largos.
Senti meu coração palpitar e a sensação de que ele iria sair pela minha
boca a qualquer momento.
— Kevin. – minha voz saiu baixa.
— Não sou a Juliet, mas vou torcer para que seja bom que eu tenha
vindo.
Aquela voz ainda tinha o mesmo poder de mexer comigo.
— Eu não esperava você aqui.
— Sei que não. – cruzou os braços – Sei também que se eu tivesse
avisado, você teria dado um jeito de não estar em casa.
E ele tinha razão. Eu encontraria uma maneira de sair dali e fugir dele.
Mas eu precisava encarar logo essa conversa. Prolongar só me faria
mal.
— Entre.
Fui para o lado e dei espaço para que ele entrasse. Kevin passou por
mim e o cheiro do seu perfume tomou conta do ar a minha volta. Foi nesse
momento que me dei conta do quanto eu estava sentindo falta dele. Antes de
fechar a porta, pude ver o veículo parado em frente à minha casa. Eu não
conhecia aquele modelo, mas tinha certeza de que era o verdadeiro carro de
Kevin.
— Onde estão sua tia e sua irmã? – perguntou.
— Foram à igreja. – respondi – Quer beber alguma coisa? – ofereci
por educação.
— Não, obrigado. Gostaria mesmo de conversar com você. – ele se
virou para mim focando aqueles olhos verdes tão intensos – Preciso que me
ouça, Hannah. Nem que seja por cinco minutos.
— Tudo bem, Kevin. – indiquei para ele o sofá – Sente-se.
Ele se acomodou no sofá e eu decidi sentar na poltrona, um pouco
mais afastada dele. Para mim seria melhor assim. Ficar muito próxima seria
ainda mais difícil manter-me focada.
— Antes que eu diga qualquer coisa, quero pedir desculpas pelo que
fiz. Eu juro que não foi por maldade minha ou para brincar com você.
— Você deveria ter me dito a verdade antes, Kevin. – falei colocando
uma das mechas do meu cabelo atrás da orelha – O que vivemos foi especial
para mim, mas me dei conta de que só eu estava sendo sincera.
— Quando você entrou naquele quarto dizendo que sabia de tudo, eu
tinha te chamado para lá porque queria jantar com você e contar toda a
verdade.
— Mesmo assim. – suspirei – Você levou tempo demais. Por que
esconder quem você é?
Kevin apoiou os cotovelos nos joelhos e inclinou-se para a frente.
Notei que seu olhar mudou e que agora ele iria mesmo me contar seus
segredos.
— Tomei essa decisão de esconder a realidade há quase dois anos. –
ele olhou para baixo – Eu estava noivo de uma mulher, estávamos perto de
nos casar.
Kevin levantou o olhar para mim e eu pude notar que havia
acontecido algo triste no passado dele, alguma coisa que o marcou. Agora ele
tinha toda a minha atenção e eu estava curiosa para saber o que tinha
acontecido com Kevin Walsh.
— Um dia cheguei ao apartamento dela, após uns dias de viagem e a
flagrei na cama com um cara que até então era um grande amigo meu.
A confissão me deixou de queixo caído.
Um homem como Kevin não era do tipo que você imagina sendo
traído. Talvez eu esteja errada por pensar assim, mas é inevitável. Pelo visto
isso o havia machucado demais.
— Foi aí que descobri tudo. Susan estava comigo apenas pelo meu
dinheiro. Ela se sentia chateada pelo meu estilo de vida, por passar muito
tempo trabalhando e ter pouco tempo para ela. Foi aí que acabou se
envolvendo com este meu amigo e encontrou o que queria. – ele suspirou
pesadamente – A partir daí decidi que não diria para mais ninguém de onde
eu vim e quem era minha família. Queria que as pessoas apreciassem minha
companhia pelo que sou e não pelo que tenho.
— Meu Deus, Kevin! – eu disse baixinho – Não deve ter sido nada
fácil para você.
— Fiquei tão puto na época, talvez até mais com raiva de mim mesmo
do que dela. Por ter me permitido ser feito de idiota, por ter acreditado nos
sentimentos de Susan.
— Eu não sou igual a ela, Kevin.
— Eu sei, Hannah! – sua voz ficou mais calorosa – Meu Deus, eu
tenho certeza disso! Você sempre foi incrível, me contou sobre seus sonhos,
suas dificuldades. Eu deveria ter feito o mesmo, mas tive medo, confesso.
Kevin se aproximou e ajoelhou-se na minha frente me pegando
desprevenida. Ele pegou minha mão, segurou entre as suas e me olhou com
aqueles lindos olhos verdes que brilhavam de um jeito diferente. Era como se
eu pudesse ver sua alma.
— Quero que me perdoe e me dê um voto de confiança. Tive medo de
você achar que somos muito diferentes, que viemos de realidades opostas.
Mas quero que saiba que sou um cara legal, que gosto de você e não quero
que se afaste de mim. – uma de suas mãos foi até meu rosto – Vá até
Manhattan comigo e eu vou te apresentar a minha verdadeira vida.
— Você poderia ter a mulher que quisesse, Kevin. Alguém que
tivesse as mesmas condições financeiras, que tenha frequentado os mesmos
lugares...
— Eu não ligo para isso. – seu polegar deslizou pela minha bochecha
– E antes que diga qualquer coisa, você é uma mulher linda, Hannah Davis.
Tanto por fora como por dentro. Chama a atenção em todo o lugar que vai,
tem o corpo mais bonito que já tive o prazer de tocar e principalmente, tem
um coração gigantesco.
Ele se levantou e me puxou para que levantasse também. Eu era uns
bons centímetros mais baixa que ele, então tive que levantar o queixo para
que pudesse manter o contato visual. Meu coração batia acelerado por estar
tão próxima e sentir o calor do seu corpo, o aroma do seu perfume já tão
familiar.
— Eu te beijaria agora. – sua voz saiu bem mais baixa – Mas só farei
isso depois que você conhecer tudo sobre o verdadeiro Kevin Walsh. Você
aceita ir para Manhattan comigo agora?
— Sim. – balancei a cabeça em uma afirmação – Me mostre quem
você é de verdade, Kevin. Sem mentiras. Eu quero poder confiar novamente
em você.
— Eu prometo que não irá se decepcionar novamente.
Capítulo 26
KEVIN

Poder desabafar com Hannah o que acontecera no passado e explicar o


motivo de eu ter mentido pareceu tirar um peso gigantesco de cima de mim.
Quando voltei a me sentar no sofá para esperá-la se arrumar, eu me sentia
muito mais calmo do que quando passei por aquela porta alguns minutos
atrás.
Tinha me arrependido muito de ter mentido para Hannah e jamais
voltaria a fazer. Ela era uma mulher incrível que merecia de mim toda a
sinceridade. Eu queria muito poder voltar a ver o sorriso em seus lábios e
saber que eu era parte dessa felicidade.
Esperei por algum tempo até que ela voltou vestindo um macacão
todo preto, botas de salto da mesma cor e um grande casaco cinza escuro. Na
mão ela carregava uma bolsa preta. Cheguei a pensar que nunca mais teria o
prazer de vê-la novamente pronta pra sair comigo. A ideia dessa
possibilidade era dolorosa.
— Mandei uma mensagem avisando a minha tia que estou saindo. –
ela falou.
Os cabelos ruivos que eu tanto gostava estavam soltos e balançavam
devagar e singelamente por seus ombros. Depois de achar que poderia perdê-
la, agora eu me ligava em cada um dos detalhes. Eu assenti em resposta e lhe
indiquei a porta para que pudéssemos ir. Hannah passou por mim deixando
no ar aquele perfume delicado e eu precisei reunir todas as forças para não
puxá-la de encontro ao meu corpo. Antes de fazer isso, eu queria me
certificar de que ela me conhecia por completo.
Saímos de casa e fomos direto para o meu carro. Dessa vez, o veículo
realmente me pertencia. O Acura RDX preto que eu tanto gostava.
— Este carro é muito bonito. – Hannah comentou quando eu destravei
a porta.
— Obrigado. – agradeci – E fique tranquila, esse é realmente meu.
— Pude perceber.
De fato, era um carro que chamava a atenção e deixava claro que não
era um veículo barato. Abri a porta para Hannah como um perfeito cavalheiro
e dei a volta entrando logo em seguida. Eu não via a hora de mostrar a ela
meu apartamento e outros detalhes da minha vida para finalmente tê-la em
meus braços.
— Obrigado por ter aceitado ir comigo, Hannah.
— Eu estou disposta a fazer com que as coisas deem certo entre nós,
Kevin. E para isso acontecer, preciso deixar que você me mostre tudo o que
escondeu por tanto tempo.
— Não terão mais mentiras, eu prometo. – usei uma das mãos para
tocar sua coxa por cima da calça do macacão – Mas você vai me prometer
que não se sentirá inferior.
— Tudo bem. – concordou.
Dirigi pelas ruas movimentadas mesmo para uma manhã de domingo
e cheguei a Manhattan. Estava tudo decorado para o Natal e eu sabia que em
breve chegaria a época de estar com a família em torno da grande mesa na
sala de jantar dos meus pais. Eu ficava feliz em ter alguns desses momentos
já que eu passava bastante tempo longe.
Hannah ficou grande parte do tempo calada apenas observando tudo a
sua volta. Eu preferi não puxar assunto e não pressioná-la, mas dentro de
mim eu estava nervoso cada vez que íamos nos aproximando mais do prédio
de luxo onde eu morava. O portão da garagem ficava ou outro lado e quando
o meu carro se aproximou, imediatamente o sensor o reconheceu e o portão
começou a se abrir. Dirigi para a garagem subterrânea e estacionei na minha
vaga ao lado de um Porsche que pertencia a um dos moradores.
Notei que Hannah olhou bem para o carro e quando saiu do meu
veículo, ela pode ver todos os outros carros de luxo que estavam estacionados
ali. Eu sabia que ela estava se sentindo fora da sua zona de conforto, mas eu
faria de tudo para amenizar isso. Dei a volta e acionei o alarme.
— Venha, Hannah. – eu indiquei o caminho estendendo o braço.
Ela apenas assentiu e me acompanhou até o elevador. O silêncio
estava me incomodando, mas logo estaríamos dentro do meu apartamento e
iríamos conversar tranquilamente. As portas de aço se fecharam quando
entramos e Hannah cruzou os braços sobre o peito enquanto éramos levados
até o andar de destino. Quando as portas se abriram, estávamos de frente para
um hall muito bem iluminado com um grande espelho na parede oposta à
porta do meu apartamento.
Destravei a mesma com minha digital e deixei que Hannah entrasse
primeiro. Assim que ambos estávamos no interior do apartamento, fechei a
porta atrás de mim e esperei que ela absorvesse tudo ao seu redor. A sala de
estar era ampla e com um piso todo em mármore da cor areia, com escadas
em madeira escura e corrimãos de vidro. A janelas eram grandes e davam
uma vista ampla do Central Park. Havia duas poltronas da cor marrom
viradas para os vitrais onde quem quisesse poderia comtemplar as belezas e o
caos nova-iorquinos.
Os três sofás claros cercavam uma mesa de centro quadrada de
maneira com superfície de vidro e ficavam de frente para uma lareira a gás
fixa na parede. O tapete marrom contrastava com os sofás de um tom quase
branco.
A cozinha e a mesa de jantar ficavam do outro lado, com uma grande
ilha de mármore marrom e bancos de inox e estofados. Todos os meus
eletrodomésticos eram de inox, e por mais que gostasse de cozinhar, poucas
vezes eu tinha tempo. Na verdade, a última vez tinha sido para Hannah.
Depois do fim do meu relacionamento com Susan, eu decidi redecorar
todo o meu novo apartamento para começar uma vida nova, sem nenhum dos
móveis do meu passado. Só não decidi mudar de apartamento, porque eu
adorava o espaço e a localização desse e encontrar outro parecido em
Manhattan seria uma missão quase impossível.
Contratei uma arquiteta e deixei que ela elaborasse todo o projeto.
Algumas semanas depois, acabamos dormindo juntos. Fora a primeira mulher
com quem fiquei depois do fim do meu noivado quando eu já tinha decidido
que não teria nada sério com ninguém por mais que ela ainda tivesse tentado.
Estava tudo indo bem até que eu conheci Hannah.
Agora eu estava aqui, no meio do meu apartamento com uma ruiva
linda por quem eu estava me apaixonando e desejando que ela voltasse a
confiar em mim de novo.
— É um apartamento muito grande. – ela quebrou o silêncio se
virando para mim – E a decoração é linda.
— Obrigado. – eu me aproximei dela e indiquei que fôssemos até a
grande janela na parede da minha sala de estar – Venha dar uma olhada na
vista que tem daqui de cima. Acho que vai gostar.
Toquei a base das suas costas e por sorte ela não recuou. Eu a levei
até o local indicado e por estar claro lá fora, era possível ver as árvores do
Central Park, pessoas caminhando nas calçadas, os prédios e até a Estátua da
Liberdade.
— Gostou?
— É lindo, Kevin! – exclamou com seus olhos azuis brilhando de
encantamento – É um privilégio seu ter essa vista da cidade.
— Pode ser um privilégio nosso, Hannah. – eu a fiz virar-se de frente
para mim – Se aceitar ficar comigo novamente, você pode vir a esse
apartamento sempre que quiser.
Ela não disse nada em um primeiro momento. Apenas manteve os
olhos azuis fixos nos meus. Eles estavam ainda mais claros por causa da
luminosidade que vinha lá de fora. Era possível ver alguns leves pontos
esverdeados que antes eu não tinha notado. O silêncio dela estava me
matando e eu acabei envolvendo meus braços em volta da sua cintura e
trazendo-a ainda mais para perto e colando seu corpo ao meu.
— Eu quero muito ficar com você. – finalmente falou – Mas eu tenho
medo que tudo isso... – indicou o apartamento ao redor – Acabe sendo um
problema para nós.
— Não será, Hannah.
— Por enquanto. – suspirou – Mas e quando sairmos juntos? E os
lugares que você frequenta? Eu nunca fui a nenhum deles.
— Mas você vai. – uma das minhas mãos deslizaram pela lateral do
seu corpo – Comigo. E sem dúvidas será a mulher mais bonita.
Tirei uma das mãos da sua cintura e segurei seu queixo. Hannah era
realmente linda e com toda a certeza chamaria a atenção em qualquer lugar
que chegássemos.
— Diga que quer continuar namorando comigo.
— Sim, Kevin, eu quero.
Finalmente eu senti o alívio tomar conta do meu corpo e sem esperar
mais um segundo, levei minha boca até a dela. O beijo não teve nada de
delicado, por mais que eu quisesse ser carinhoso com Hannah, eu estava
sedento e sentindo falta de cada centímetro do seu corpo. Senti que ela soltou
a bolsa sobre uma das poltronas e envolveu seus braços em torno do meu
pescoço.
Era a melhor sensação sentir Hannah em meus braços enquanto minha
língua explorava sua boca como se minha vida dependesse disso. Eu já podia
sentir minha ereção dando sinal de vida e a maior vontade era de levá-la para
a cama, mas eu ainda tinha algumas coisas para fazer e para mostrar antes
que finalmente pudéssemos fazer isso.
Tive de reunir todas as minhas forças para me afastar e respirei fundo.
Hannah abriu os olhos se sentindo um pouco confusa e atordoada. Era visível
em seu olhar. Dei um sorriso para tranquilizá-la.
— Eu gostaria de passar o dia todo na cama com você. – falei e ela
deu um sorrisinho, o primeiro depois de tanto tempo e eu adoraria poder ver
mais vezes – Mas temos de fazer algumas coisas antes.
— O quê?
— Primeiro, você tem que conhecer todo o meu apartamento. – eu a
fiz se virar para ajudá-la a retirar o casaco – Segundo, infelizmente hoje não
tenho nada para fazer um almoço decente, então quero te levar a um lugar
especial para almoçarmos.
— Que lugar? – perguntou curiosa.
— É uma surpresa.
Deixei seu casaco também sobre a poltrona e a levei para dar uma
volta no apartamento. Mostrei com mais cuidado a cozinha e o lavabo no
andar de baixo e principalmente a grande varanda que também tinha uma
bonita vista da Estátua da Liberdade.
— Essa varanda é incrível, Kevin! – exclamou – Deve ser
maravilhoso ver o pôr do sol daqui.
— E você terá muitas oportunidades de vê-lo, linda. Espere só até
chegar a primavera.
— Adoraria muito ficar aqui aproveitando mais, porém está frio.
Vamos entrar. – ela segurou minha mão e me puxou de volta para a sala de
estar – Ainda estou absorvendo tudo isso. É novo e diferente demais para
mim.
— Você vai se acostumar, Hannah. Só não quero que tenha medo e
desista.
Eu a fiz se virar de frente para mim e segurei seu rosto entre minhas
mãos. Olhei em seus olhos, observei cada detalhe do seu rosto. Dessa vez a
maquiagem cobria aquelas sardas do nariz que eu adorava. Se eu não tivesse
planejando sair para fazermos algo muito importante, eu ficaria a tarde toda
dentro desse apartamento transando com ela.
— Prometo que vou te ajudar a se sentir confortável com esse mundo.
Estarei aos eu lado, Hannah. E você não é inferior a ninguém, lembre-se
disso.
— Obrigada.
Novamente eu a beijei, mas dessa vez de um jeito mais calmo. Nossos
lábios se moviam tranquilamente, como se saboreassem um ao outro. Eu lhe
dei alguns beijinhos antes de nos afastarmos e a chamei para mostrar a sala
de TV, que eu tinha escolhido que fosse decorado quase como um cinema e
era extremamente confortável, com poltronas escuras e uma grande tela de
TV.
No andar de cima, estavam as suítes e os quartos de hóspedes. Levei
Hannah até o meu, onde eu pretendia dividir com ela por muitas noites. A
decoração também era neutra, o quarto possuía muitas janelas e uma grande
varanda também. As paredes eram de um tom de grafite e cinza escuro. A
cama king size era confortável e estava coberta por um lençol egípcio escuro
e travesseiros brancos. Havia duas poltronas quadradas da cor cinza claro de
frente para uma tela de TV. O chão era de tábua corrida e decorado com um
grande tapete felpudo cor de areia.
— Gostou? – perguntei.
— Lindo. Como todo seu apartamento. – respondeu e se virou para
mim – Só tenho uma dúvida.
— Qual?
— Aquele apartamento onde você me levou, era seu?
— Sim. – respondi sem querer esconder mesmo envergonhado por ter
ocultado alguns detalhes – Eu costumava usá-lo para esconder o real lugar
onde eu morava. Quando as pessoas não sabiam a verdade sobre mim.
— Essas pessoas seriam mulheres, correto?
— Correto. – respondi ainda sem graça – Só que isso não existe mais,
Hannah. Eu não fiquei com nenhuma mulher desde que ficamos juntos pela
primeira vez lá no Caribe.
Pude notar que ela gostou de saber disso.
Eu realmente não tive vontade de ficar com ninguém depois de ter
finalmente sentido os lábios de Hannah nos meus. A sensação tinha sido
única e eu sabia que outra mulher não me causaria isso. Segurei seu queixo
fazendo-a olhar para mim.
— Acredite em mim, Hannah. – alisei seu queixo com meu polegar –
Vamos sair para almoçar. Quanto mais rápido formos, mais rápido voltamos.
Descemos e ela vestiu novamente seu casaco antes de descermos até a
calçada. O lugar onde iríamos comer era especial para mim e eu tinha certeza
que Hannah iria gostar, mas também sabia que ela ficaria nervosa quando
soubesse. Um táxi livre dobrou a esquina e eu fiz sinal para ele.
— Ontem eu vim passear aqui com Cecile. – ela falou quando já
estávamos sentados no banco traseiro – Ela adora ver Manhattan decorada
para o Natal.
— Na próxima vez, traga sua irmã e sua tia aqui para o apartamento.
Farei um almoço especial para elas.
— Não dê ideias, Cecile vai adorar.
— Ela é minha cunhada, é sempre bem vinda.
Eu sei que Hannah ia querer ir embora assim que chegássemos ao
restaurante porque era muito tímida, mas logo que aceitasse almoçar comigo,
se sentiria em casa. Como eu morava perto do restaurante, não demorou
muito até que o táxi parou em frente ao nosso destino. Hannah saiu antes
mesmo que eu pudesse abrir a porta para ela e entendi que se tratava de uma
garota independente. Sorri comigo mesmo porque adorava esses detalhes
nela.
Quando subi a calçada, pude notar seu olhar assustado para a fachada
do local. DW Bistrô.
— Esse é o restaurante da sua mãe.
— Sim. – confirmei – Ela está louca para te conhecer.
— Não, Kevin! – Hannah olhou para mim e seu tom de voz era
extremamente nervoso – Como você me traz aqui assim sem me dizer antes?
Eu nem me arrumei direito e...
— Ei, linda! – eu a interrompi – Fica calma. Você está perfeita e não
precisa ficar nervosa. Minha mãe é uma pessoa incrível, você vai adorá-la.
— Não acredito que me pegou de surpresa assim. – pude sentir a
insegurança em sua voz.
Eu a levei até a entrada e Penelope, a mulher que trabalhava com
anfitriã no restaurante, abriu a porta para nós e sorriu simpática. Ela usava
uma roupa social toda preta bordada com o nome do restaurante no peito.
Seus cabelos escuros estavam presos impecavelmente e ela usava um batom
discreto nos lábios.
— Boa tarde, Sr. Walsh. Seja bem-vindo mais uma vez.
Sei que ela me chamava de Sr. Walsh porque não sabia se eu era
Kevin ou Louis. Quando Alicia ia até o restaurante, sempre era chamada pelo
primeiro nome. Já estava acostumado a ser confundido com meu irmão e eu
não me incomodava, pelo contrário, achava engraçado.
— Boa tarde, Penelope. Esta é Hannah Davis. – eu a apresentei –
Gostaria de uma mesa para dois.
— Muito prazer, Srta. Davis. – sorriu e indicou o caminho com o
braço – Tem uma mesa perfeita aqui reservada para vocês.
O lugar reservado era mais ao canto do restaurante, onde não
transitava tantas pessoas, o que deixava o almoço mais tranquilo. O
restaurante da minha mãe estava sempre cheio, principalmente nos horários
das refeições. Eu puxei a cadeira para que Hannah se sentasse e me acomodei
à sua frente. O cardápio era todo digital e logo um iPad estava em nossas
mãos para que escolhêssemos o que íamos comer.
— Pode pedir o que quiser, Hannah.
— Tem muitos pratos aqui que não conheço. – ela falou um pouco
sem jeito – Não estou acostumada a esse tipo de restaurante.
— Talvez a gente possa ouvir uma recomendação.
Ela concordou e eu solicitei uma recomendação pelo próprio iPad. Em
poucos segundos, em vez de um garçom vir nos atender, quem se aproximou
da nossa mesa foi a minha mãe. Ela estava sempre elegante em um vestido
azul marinho de gola alta que ia até acima dos joelhos. Nos pés um de seus
clássicos saltos pretos e nos lábios, o sorriso que eu tanto gostava.
— Querido, que bom que veio! Estava te esperando.
Eu me levantei e lhe dei um abraço carinhoso e um beijo na bochecha
para cumprimentá-la.
— Eu disse que almoçaria aqui. Promessa é dívida. – falei.
— Quem é essa moça bonita com você? – seus olhos agora estavam
sobre Hannah.
— Mãe, essa é Hannah Davis, minha namorada. – falei me sentindo
orgulhoso – Hannah, essa é minha mãe Diana Walsh.
— É um grande prazer conhecê-la, Sra. Walsh. – Hannah levantou-se
estendendo-lhe a mão.
— O prazer é todo meu, Hannah. – minha mãe abriu os braços
indicando que iria abraçá-la – Não precisa de tantas formalidades comigo.
As duas se abraçaram e eu pude ver os olhos azuis de Hannah me
observando enquanto ganhavam uma expressão bem mais tranquila. Eu sorri
para ela e dei uma piscadinha em sua direção.
— Kevin me falou muito de você. – minha mãe falou ainda sorrindo
após abraçá-la – É uma menina muito bonita, Hannah.
— Muito obrigada, Sra. Walsh. A senhora também é muito bonita.
— Ah, não me chame de senhora. Não sou tão velha! – sorriu –
Sentem-se, eu vou ajudá-los a escolher um prato delicioso.
— Obrigado, mãe.
Nós nos acomodamos novamente e eu deixei o iPad sobre a mesa.
Preferia confiar nas sugestões na minha mãe, afinal, ela melhor do que
ninguém conhecia todos os pratos servidos.
— Como prato de entrada, para esse friozinho que está fazendo lá
fora, sugiro a sopa de brócolis, queijo e amêndoas. Entrou no cardápio essa
semana e já é um sucesso, tenho certeza que vão adorar.
— Por mim está ótimo. – falei e olhei para Hannah – O que acha?
— Parece delicioso.
— Como prato principal, tenho certeza que vão adorar o risoto te
gorgonzola com filé mignon.
Concordamos e minha mãe deixou para sugerir a sobremesa após o
almoço. Hannah ainda estava nervosa, eu podia sentir, então estendi minha
mão sobre a mesa para que ela a segurasse. Pude sentir o toque frio que
indicava ainda mais sua tensão.
— Relaxe. – falei baixo – Minha mãe adorou você, tenho certeza
disso.
— Ela é uma mulher muito simpática. – sorriu para mim – Sua irmã é
muito parecida.
— Sim, Alicia puxou bastante a ela. – acariciei sua mão com o
polegar – Eu quero que conheça o meu pai também. Ele é um pouco mais
sério, mas não se preocupe.
— Já está me deixando nervosa de novo, Kevin.
— Fique tranquila. – dei meu melhor sorriso – Vou lhe dar alguns
dias para se preparar psicologicamente. Quando voltarmos a Nova York,
tenho certeza que minha mãe vai querer marcar um jantar na casa dela.
— Ai meu Deus!
Tinha de confessar que Hannah ficava linda nervosa desse jeito.
Comecei a contar um pouco sobre minha família, que éramos como qualquer
outra. Jantares juntos, dias para relaxar no verão, viagens, meus sobrinhos
que eram o motivo de toda a gritaria e brinquedos espalhados pela mansão
impecável dos meus pais e muita conversa. Contei para Hannah que minha
mãe sempre fazia questão e que jantássemos juntos pelo menos uma vez por
mês em sua casa e deixar de ir estava fora de cogitação.
— Ela pareceu bastante amorosa. – comentou antes de experimentar
uma colherada de sopa – Hm, está uma delícia!
— Minha mãe faz questão de experimentar os pratos diversas vezes
antes de colocá-los no cardápio. Para ajustar os temperos e
acompanhamentos. Com ela que aprendi a cozinhar.
— Por isso que o jantar que você fez estava tão gostoso.
— Tenho meus talentos. – sorri de maneira maliciosa.
Hannah ficou envergonhada, talvez pelo fato de estarmos em público
e no restaurante da minha mãe, mas eu não podia deixar de vê-la corar. O
prato principal foi servido logo em seguida e também estava muito gostoso.
Minha mãe nos sugeriu a torta folhada recheada com creme de mascarpone e
amoras.
Ao final da refeição, eu já estava desesperado para voltar para o
apartamento e aproveitar os momentos a sós com Hannah. Agradeci a minha
mãe e lhe dei um beijo na bochecha.
— Estava maravilhoso. – falei.
— Realmente, estava tudo muito gostoso, Sra. Walsh. – Hannah
elogiou.
— Foi um prazer ter vocês aqui. Em breve o jantar será na minha
casa.
— Pode deixar, mãe. Agora precisamos ir.
Nós nos despedimos e fomos para a calçada esperar por um táxi. O
vento já estava mais gelado e eu abracei Hannah de encontro ao meu corpo
para tentar aquecê-la.
— Eu te disse que minha mãe ia marcar um jantar. – falei enquanto
passava a mão em seus cabelos deslizando-os por entre meus dedos – Você
não pode mais fugir, linda.
— Não fugirei.
— Agora eu quero fugir com você para meu apartamento. Temos
muitas coisas para fazer ainda. – sussurrei em seu ouvido – Estou me
segurando há dias.
Capítulo 27
HANNAH

Tinha sido o almoço mais tenso da minha vida.


Não pela comida e nem pela companhia, mas pelo fato de ter conhecido a
mãe de Kevin.
Diana Walsh era uma mulher tão bonita quanto aparentava nas fotos e
pessoalmente, descobri que ela era também muito simpática. Embora eu
estivesse nervosa, Diana tentou ao máximo me deixar confortável e me
espantou a semelhança que Alicia e ela tinham uma com a outra.
Kevin, por outro lado, era mais parecido com o pai, como eu vira nas
fotos publicadas na internet. Bastava saber se Anthony Walsh era tão
simpático quanto sua esposa.
— Você sobreviveu. – a voz de Kevin fez com que eu deixasse meus
pensamentos.
— Depois dessa surpresa que você aprontou. – dei um sorriso para ele
enquanto estávamos sentados no banco de trás do táxi – Agora preciso passar
pela próxima etapa: jantar na casa dos seus pais.
— A melhor parte disso tudo é que você conhecerá o resto da família.
– ele segurou minha mão e entrelaçou nossos dedos – Minha sobrinha vai te
adorar.
— Estou curiosa para conhecê-la. Você sempre fala muito dela.
— Maddie é uma criança muito comunicativa e fácil de se lidar. –
pude notar que seus olhos ganharam um brilho diferente – Nem parece que
ela não tem a mãe para criá-la.
— Pobrezinha.
Eu sabia o quanto era difícil crescer sem a figura materna e o quanto
isso podia afetar uma criança, principalmente porque eu tinha uma irmã que
era muito nova quando perdemos nossa mãe.
— Não é fácil crescer sem a mãe, por sorte tenho a minha tia.
— Tem razão. – ele falava enquanto seu polegar acariciava minha
mão devagar – Louis se desdobra para tentar fazer os dois papéis, mas
sabemos que certas coisas só a mãe pode oferecer.
— Ainda bem que sua sobrinha tem uma família incrível.
— Isso é verdade. Minha mãe e minha irmã fazem o que pode.
Maddie gosta bastante de ficar no apartamento de Alicia.
Fiquei imaginando como seria a relação daquela família. Pelo que
Kevin falava, eles se davam muito bem. Não pude deixar de ficar nervosa
sobre o jantar na sua casa. Por mais que eles aparentassem ser simpáticos, eu
não fazia parte daquele mesmo mundo. E se a mesa de jantar fosse igual
aquelas dos filmes com diversos talheres que nunca vi na minha vida?
Não pude continuar meu devaneio porque o táxi parou de volta em
frente ao apartamento de Kevin. Ele fez questão de sair e abrir a porta para
mim.
— Obrigada. – agradeci.
O frio na rua estava congelante, portanto entramos apressados dentro
do edifício. Kevin cumprimentou o porteiro com um “Boa tarde” e eu fiz o
mesmo. Quando entramos no apartamento, o calor do ambiente por conta do
termostato ligado pareceu abraçar todo o meu corpo.
— Aqui está bem quentinho. – falei enquanto retirávamos os casacos.
— Eu acho que você vai gostar ainda mais do chão de madeira
aquecido. – ele sorriu?
— Você tem aquecimento no assoalho? – arregalei os olhos – Eu
sempre desejei isso. – admiti – Em casa eu costumo usar pantufas porque o
chão é muito gelado.
— Bem, aqui pelo menos você pode andar descalça se quiser.
Colocamos os casacos sobre o encosto do sofá e Kevin aproveitou a
proximidade para ficar de pé na minha frente e segurar meu rosto entre as
mãos. Eu adorava olhar para os seus olhos. Tinham uma cor verde, com
pontos amarelos que agora estavam mais escondidos por conta da iluminação
do ambiente.
— Quero que se sinta confortável quando estiver aqui, Hannah. E
quero que passe a noite comigo hoje.
— Mas eu não trouxe nenhuma roupa e...
— Relaxe. – ele me interrompeu – Eu resolvo isso.
Não pude contestar mais nada porque seus lábios tomaram os meus.
Novamente senti aquela sensação já tão conhecida por mim. O corpo
dele se grudou ao meu, me pressionando contra seus músculos enquanto sua
boca parecia me devorar. Minhas pernas ficaram bambas e eu não sei dizer
quanto tempo ficamos nos beijando antes que ele me pegasse no colo. Eu
sentia a cabeça rodopiar de um jeito que somente com Kevin isso acontecia.
Ele subiu as escadas comigo em seu colo.
Um chute na porta e ele a escancarou.
Com cuidado, Kevin me deitou sobre o colchão macio. Os lençóis
debaixo de mim tinham uma textura totalmente diferente dos que eu estava
acostumada. Havia muita coisa diferente que eu ainda iria conhecer, mas
decidi não ter medo e encarar. Os lábios deslizaram pelo meu pescoço me
causando arrepios e eu fechei os olhos absorvendo cada uma das sensações.
Devagar, suas mãos deslizaram pelo meu corpo e eu agarrei seus
cabelos trazendo-o novamente até minha boca. Nós nos beijamos de maneira
voraz e eu senti todo o meu corpo pegar fogo.
Com uma rapidez impressionante, Kevin ficou de pé, tirou a toda a
roupa ficando apenas de cueca. Marcado pela boxer branca, era possível ver o
membro rígido chamando minha atenção. Com um sorriso atrevido nos
lábios, ele me fez ficar de pé também e começou o processo para retirar meu
macacão. Levantei as pernas chutando a peça de roupa para o lado e fiquei
apenas com uma lingerie de renda vinho.
— Puta que pariu! Que saudade que eu estava disso.
O desabafo foi espontâneo e eu sorri.
Kevin me puxou contra seu corpo e rapidamente me virou de costas
grudando-me a ele. Seus dedos afastaram meus cabelos enquanto a outra mão
ficou sobre a minha barriga. Seus lábios distribuíram beijos pelo meu
pescoço e ombros enquanto a mão deslizava suavemente pelo meu abdômen
descendo para a borda da minha calcinha.
Fiquei tão distraída com os beijos que nem mesmo notei quando
Kevin abriu meu sutiã e o retirou. Ao sentir suas mãos segurarem meus seios,
foi quando me dei conta do toque quente de suas mãos sobre meus mamilos
nus. Ele apertou, acariciou, beliscou e cada movimento arrancava de mim um
gemido de prazer.
— Você adora isso. – sussurrou em meu ouvido.
Só consegui concordar com um balançar de cabeça. Kevin continuou
me torturando enquanto eu sentia o seu membro rígido atrás de mim. Suas
mãos desceram até meus quadris e foram puxando a minha calcinha para
baixo até que essa deslizasse pelas minhas pernas. O fato de estar nua na
frente de Kevin já não me envergonhava tanto. Eu estava me acostumando a
isso e ao fato de que ele me desejava.
Ele me virou de frente e seus olhos procuraram os meus.
— Eu nunca vou me cansar de você, sabia? – falou.
Deitamos na cama e o que veio em seguida era algo que eu tinha me
dado conta de que adorava. A língua de Kevin em minha intimidade se
tornou uma das minhas sensações preferidas e os meus gemidos já não fazia
mais questão de esconder. Fui levada diretamente para um orgasmo intenso e
antes que pudesse me recuperar, Kevin já tinha se livrado da cueca e estava
sobre mim. Nós nos beijamos mais uma vez e ele girou o corpo ficado
debaixo de mim.
Eu estava sem fôlego, mas não queria parar de beijá-lo. Foi Kevin
quem se afastou e me fez ficar sentada sobre seu quadril. Seus olhos verdes
me observaram atentamente de cima a baixo. Eu dei um sorriso porque
também estava adorando a visão do peitoral dele e do seu abdômen marcado
de músculos.
— Quero que faça um favor para mim. – falou deslizando uma de
suas mão sobre minha coxa.
— Qual?
Antes de responder, ele esticou o braço e abriu uma gaveta no criado-
mudo ao lado. Tirou de lá o pacote de uma camisinha e me entregou.
— Dessa vez, você faz as honras, linda.
Eu não tinha muita prática com isso, exceto pelas aulas de Biologia no
Ensino Médio e por ter visto Kevin ter colocado algumas vezes. Rasguei o
pacote e peguei o preservativo. Desenrolei e tratei de envolver o membro
rígido dele com cuidado. Kevin soltou um gemido e apertou minha coxa.
— Não demore muito, estou ansioso.
Assim que terminei, ele me virou novamente na cama e eu bati com
as costas no colchão macio. Kevin abriu minhas pernas e me penetrou de uma
só vez arrancando de mim um gemido alto. A sensação era maravilhosa e
mesmo sem ter passado muito tempo desde a última vez, pareceu uma
eternidade. Os primeiros movimentos foram lentos, era o momento para
sentirmos novamente aquela mesma conexão, porém não demorou muito até
que nossos corpos exigissem mais.
Kevin aumentou o ritmo, seu quadril batendo de encontro ao meu e
minhas unhas cravando em suas costas em uma forma de aliviar as sensações
que pareciam me consumir rapidamente. Cheguei ao orgasmo soltando um
gritinho, mas Kevin ainda não tinha encontrado seu alívio. Ele se afastou de
mim, me virou de costas e afastou meus cabelos.
Senti os beijos no meu pescoço e fechei os olhos enquanto meu corpo
todo se arrepiava. Kevin desceu pelas minhas costas distribuindo beijos por
toda a minha coluna até chegar a minha lombar. Devagar, me colocou de
joelhos, com as mãos apoiadas no colchão e me penetrou novamente. Soltei
um gemido mais alto porque as arremetidas começaram intensas. Agarrei o
lençol e senti meu corpo todo pegar fogo. Cheguei ao orgasmo de novo e
logo Kevin me seguiu, com nossos corpos tremendo e úmidos de suor.
Puxei o ar com força para respirar e me joguei na cama sem forças
virando de frente para ele. Os olhos verdes me observaram e ele deu um
sorriso antes de se debruçar sobre o meu corpo e me beijar.
— Já volto. – saiu da cama.
Kevin foi até o banheiro e eu aproveitei e puxei o lençol para me
cobrir. Embora lá fora estivesse frio, o aquecedor do apartamento deixava o
interior bem aconchegante e eu sabia que poderia acabar cochilando sobre
esse colchão macio. Fiquei observando tudo ao meu redor, desde a decoração
elegante do quarto quanto o espaço. No canto direito, era possível ver uma
grande porta de cinza chumbo que provavelmente era o closet. Sempre
imaginei esse tipo de espaço como os dos programas de TV, com prateleiras
e araras para organizar cada peça de roupa e um local separado para guardar
os sapatos. Será que Kevin tinha muitas roupas?
Ele sempre andava de um jeito casual, eu já havia notado que ele
adorava andar de jeans.
Não pude continuar pensando sobre isso porque ele retornou para a
cama e se enfiou também debaixo dos lençóis.
— O que está pensando? – perguntou.
— Estava apenas olhando a decoração do seu quarto.
— E gostou?
— Bastante. – respondi — Você mora aqui há muito tempo?
— Mais ou menos há uns cinco anos, mas o apartamento foi todo
redecorado há pouco mais de dois anos.
— Essa cama é bem confortável. – suspirei e me ajeitei ainda mais no
travesseiro – Como você consegue levantar daqui?
— Bem, antes eu não tinha muitos motivos para ficar na cama. – ele
sorriu de maneira sedutora – Agora eu tenho.
Sua mão deslizou pelo meu quadril debaixo dos lençóis e me puxou
para perto do seu corpo. Ouvi um sussurrar em meu ouvido. Kevin me disse
que eu poderia relaxar e dormir e aquilo pareceu fazer todo o meu corpo
relaxar e eu pegar no sono.
Ao abrir os olhos, percebi que lá fora já estava escurecendo. Dei-me
conta de que estava no apartamento de Kevin, mas ao meu lado não havia
ninguém. Saí da cama e fui até o banheiro. A suíte era impecável e espaçosa.
Ao contrário de grande parte do apartamento, o cômodo era claro,
combinando as cores brancas e bege. Na parede oposta estavam duas pias e
dois espelhos longos. Do lado direito ficava uma banheira também toda
branca e do lado oposto, o box de vidro.
Decidi tomar um banho. Abri o chuveiro grande e a queda da água
bateu sobre meu corpo de maneira relaxante. A temperatura quente estava
deliciosa e logo o banheiro foi tomado pela fumaça de vapor. Esfreguei os
cabelos com calma e os enxaguei, lavando o corpo em seguida. Quando
terminei, havia diversos roupões felpudos pendurados e eu escolhi um.
Sequei o corpo com uma toalha limpa que estava organizada em rolos em um
nicho e envolvi nos cabelos com outra. Peguei o roupão, amarrei em torno da
cintura e decidi procurar por Kevin.
Desci as escadas e pude ver Kevin na cozinha colocando algumas
coisas sobre a ilha. Ele parecia também ter tomado banho e agora usava uma
camiseta preta e uma calça jeans de cor escura. Ao notar minha presença,
sorriu daquele jeito que fazia minhas pernas tremerem.
— Oi, linda. Descansou?
— Bastante. – respondi – Acabei tomando um banho e peguei um
roupão. Tem problema?
— É claro que não.
— Que horas são? – perguntei ainda um pouco perdida.
— Pouco mais de cinco horas. Vem aqui, comprei algumas coisas
para nós.
Quando me aproximei mais da cozinha, pude ver uma grande
variedade de doces de confeitaria sobre a bancada. Havia tortas, bolos e
biscoitinhos amanteigados, além de dois copos de chocolate quente.
— Você foi lá fora comprar tudo isso?
— Bem, na verdade eu pedi para que entregassem. Fiquei preocupado
que você acordasse e não me visse aqui. – ele deu a volta sobre a bancada e
me puxou pela cintura – Sei que ainda é tudo novo para você e que ia ficar
um pouco nervosa de ficar sozinha no meu apartamento.
— Sem dúvidas.
— Mas não se preocupe, em breve você se acostuma e poderá ficar
aqui sempre que quiser.
Seus lábios se grudaram os meus em um beijo lento e calmo. Eu
adorava a maneira com que nossas bocas se encaixavam e toda vez que Kevin
me apertava contra seu corpo musculoso, eu sentia que poderia derreter.
— Você deve estar com fome. – falou quando nos separamos – Pode
se sentar. Comprei uma variedade de coisas. Aproveite o chocolate enquanto
ainda está quente.
Kevin estava sendo um perfeito cavalheiro. Apesar das mentiras, ele
sempre me tratara muito bem e agora, após saber toda a verdade, eu
acreditava que as coisas poderiam ser ainda melhores entre nós sem os
segredos.
O chocolate quente estava uma delícia e a torta também. Eu acabei
comendo mais de dois pedaços e peguei alguns biscoitinhos. Kevin ia me
contando sobre o que planejava fazer enquanto estávamos em Nova York e
disse que me levaria até um clube que ele era sócio. Combinamos de na
próxima vinda à cidade após a viagem, levarmos Cecile para patinar no gelo.
A conversa continuou até que seu celular tocou.
— Oi, Louis. – atendeu e eu me lembrei que esse era o nome de seu
irmão gêmeo – Estou sim, pode vir. Traga a Maddie também. — alguns
segundos em silêncio – Perfeito.
A conversa foi bem rápida, mas eu pude entender que teríamos visitas
e fiquei nervosa.
— Meu irmão e minha sobrinha estão vindo para cá.
— Kevin, eu nem mesmo trouxe roupa. Não posso ficar de roupão.
— Isso é simples de resolver.
Ele pegou o celular e começou a digitar mensagens frenéticas. Não sei
o que ele estava planejando e fiquei bem curiosa. Como havia dito que
resolveria, pensei que ele daria um jeito de que alguém trouxesse algumas
peças de roupas minhas. Um motorista da família, talvez. Provavelmente eles
tinham esse tipo de funcionário.
— O que está fazendo? – perguntei depois de jogar fora algumas
embalagens vazias.
— Estou pedindo algumas roupas para você da loja de um grande
amigo meu. É aqui perto e eles tem uma grande variedade de roupas. Qual o
seu tamanho mesmo?
Fiquei de boca aberta.
Ele estava comprando roupas para mim?
— Kevin, você não pode estar falando sério.
— Bem, eu estou. – ele se recostou na ilha da cozinha – Vou pedir
umas peças de roupas básicas, é melhor do que você ficar de roupão pela
casa. Não se preocupe.
Ainda atordoada com a ideia e a facilidade que ele tinha de resolver as
coisas por conta do dinheiro que possuía, falei as medidas das minhas roupas
e logo tudo estava acertado. Eu não fazia ideia do que ele comprara, mas de
toda forma, eu não iria reclamar. Era um presente, afinal de contas.
— Vou ter que pedir algo para todos jantarmos. – falou – Você vai
adorar conhecer a minha sobrinha.
— Estou ficando tão nervosa. Sinceramente pensei que só encontraria
alguém da sua família no jantar.
— Eu também, mas faz um tempo que não vejo meu irmão. – ele se
aproximou de mim e segurou meu queixo – E não se preocupe, Louis é um
cara bem tranquilo.
Se o irmão fosse igual a ele não somente na aparência, mas também
na maneira de lidar com as pessoas, conhecê-lo não seria complicado. Kevin
era um cara educado, nunca me tratou mal por não ter a mesma condição
financeira e eu esperava que Louis também não me desdenhasse.
— Já que eles estão vindo, vou ajeitar meu cabelo e esperar pelas
roupas.
— Claro, eu levo lá em cima quando chegarem. Não vai demorar.
Subi as escadas e fui até o banheiro ajeitar meus cabelos. Por sorte eu
tinha na bolsa uma necessaire com escova e itens maquiagem. Penteei os
cabelos e fiz uma maquiagem leve, apenas passei uma máscara de cílios e um
batom. Minhas bochechas já estavam naturalmente rosadas e minha pele bem
branca como sempre ficava nessa época de frio por conta da falta de sol.
Quando terminei, fiquei esperando por Kevin enquanto conversava
por mensagens com Juliet explicando que Kevin tinha me pedido perdão
pelas mentiras e que eu estava em seu apartamento depois de conhecer toda a
verdade.
Kevin entrou no quarto enquanto eu estava sentada na poltrona
digitando em meu celular. Deixei o aparelho de lado enquanto ele se
aproximava com três sacolas de roupa e as colocava sobre a cama.
— Tem itens básicos aqui dentro, mas acho que são suficientes.
— Está ótimo. – respondi – Eu deveria ter trago umas peças de roupa,
mas não planejava ficar aqui por muito tempo.
— Que bom que ficará. – sorriu e se aproximou de mim, me dando
um beijo em seguida – Vou descer, meu irmão já deve estar chegando. Se
precisar, me chame.
— Ei, Kevin! – eu o chamei quando ele já estava na porta e virou-se
para mim – Muito obrigada.
— Não precisa me agradecer, linda.
Sorri e Kevin me deixou sozinha. Abri as sacolas e pude ver que
havia calça jeans, algumas lingeries, blusas e suéteres. Além de um pijama
gracioso. Kevin parecia me conhecer bem porque todo aquele tipo de roupa
era o que eu adorava usar. Peguei uma calcinha e sutiã muito bem embalados
e soltei o lacre. Ambas eram de renda e da cor rosa claro. Coube
perfeitamente e eu aproveitei para me olhar no espelho.
Aquelas roupas por mais básicas que fossem, certamente custavam
uma pequena fortuna e eu podia notar a diferença para minhas roupas mais
simples. O acabamento, costuma e tecidos eram muito mais sofisticados.
Coloquei a calça jeans de cor escura e vesti um suéter vinho. Olhei-me dando
pequenas voltinhas no espelho e fiquei bem satisfeita com o visual.
Desci e encontrei Kevin sentado no sofá mexendo no celular.
— Ficou linda. – falou ao notar minha presença – As roupas
couberam perfeitamente.
— Sim, eu adorei. Muito obrigada. – sentei-me ao seu lado – São bem
confortáveis.
— Percebi que você usa muito esse tipo de roupa, então achei que era
melhor pedir algo nesse estilo. – segurou minha mão – Essa loja é de um
grande amigo meu, Thomas Lehmann. Um dia podemos ir até lá. Você pode
escolher algumas peças.
— Não precisa comprar nada disso para mim, Kevin. – falei – Sei que
as roupas que uso não são em nada comparadas as que as mulheres ricas
usam, mas não me sinto confortável em te ver comprando várias coisas para
mim.
— Sei que é independente e gosta de comprar suas próprias coisas,
mas não se preocupe com isso, Hannah. Você pode usar as roupas que quiser,
mas invariavelmente vai ganhar presentes de mim. – sorriu – Aprenda a lidar
com isso, linda.
Concordei e quando íamos nos beijar, a campainha do apartamento
tocou. Kevin praguejou baixinho e acabou me dando apenas um beijinho
rápido antes de levantar. Meu coração começou a bater acelerado com a ideia
de que pudesse ser o irmão e a sobrinha dele.
Quando a porta abriu, uma garotinha loira imediatamente pulou nos
braços de Kevin.
— Tio!
Ela o apertou pelo pescoço e ele a encheu de beijos na bochecha
depois de se abaixar para recebê-la. Ainda parado na porta, havia uma cópia
de Kevin. Seu irmão gêmeo tinha as mesmas características físicas, trajava
um casaco preto e calça também preta. Seus olhos verdes se cravaram em
mim com curiosidade.
— Que saudades, princesa. – pude ouvir Kevin falar com a sobrinha e
depois olhar para o irmão – Oi, Louis. Que bom que vieram.
Os irmãos se cumprimentaram com um abraço e dessa vez foram os
olhos azuis da menininha loira que me observaram. Pude ver sua testa franzir.
— Oi, quem é você? – perguntou se adiantando.
— Oi, eu me chamo Hannah Davies e você?
— Meu nome é Madelaine Walsh, mas todos me chamam de Maddie.
– ela continuou me observando e eu nunca pensei que o olhar de uma
garotinha pudesse assustar tanto – Você é amiga do meu tio?
— Princesa, na verdade ela é minha namorada. – Kevin respondeu.
O meu coração pareceu bater ainda mais forte.
E se ela não gostasse de mim?
Eu estava nervosa e ansiosa esperando a aprovação de uma criança.
— Muito prazer namorada do meu tio Kevin. – ela estendeu a mão e
eu a cumprimentei com um aperto.
— Muito prazer.
— Hannah, esse aqui é o meu irmão Louis. – Kevin se adiantou –
Louis, essa é a Hannah Davis.
— Prazer em conhecê-la, Hannah. – Louis estendeu a mão.
Eu a apertei e fiquei impressionada com a semelhança física entre os
dois. Por mais que Louis fosse um cara igualmente bonito como Kevin, havia
algo no olhar do meu namorado que me atraía, me encantava.
— Seus cabelos são muito bonitos. – ouvi a voz da pequena atrás de
mim.
— Obrigada, os seus também.
— Podem entrar e sentar. – Kevin os incentivou a irem para a área da
sala de estar e se sentar – Andei pensando em pedir um jantar em algum
restaurante.
— Eu queria pizza. – Maddie falou.
— Chega de pizzas, cupcake. – Louis cortou a filha usando uma
palavra que eu julguei ser um apelido – Hoje não é dia para se entupir de
porcarias.
— Por mais que a ideia da pizza me agrade, eu concordo com o seu
pai. – Kevin sentou-se no sofá me trazendo para sentar ao seu lado – Me
conte, Louis, como vão as coisas no novo projeto?
— Alicia me deu carta branca para cuidar da equipe fotográfica da
maneira que eu preferisse, então está sendo bem tranquilo. Lizzie já definiu
com a equipe dela as primeiras pautas do webjornal e me comunicou. Já
deixei os fotógrafos cientes e passei para eles o manual do que eu gostaria em
cada uma das imagens.
— Fico contente, você parece estar gostando.
— É um novo desafio, querendo ou não nunca me imaginei
gerenciando nada, meu negócio sempre foi tirar fotos, mas por ser um ramo
que eu gosto, está sendo melhor do que imaginei.
Kevin me contou sobre os projetos de Alicia, sobre a biblioteca
comunitária e a nova ideia do jornal virtual e interativo. Fiquei feliz em saber
que mesmo em se tratando de empresários de sucesso, eles ainda se
preocupavam com pessoas de menos poderes aquisitivos. Louis contou mais
sobre o projeto e Maddie falou sobre a sua nova apresentação na escola, uma
peça teatral.
Para o jantar, Kevin fez um pedido em um restaurante próximo ao
apartamento e enquanto comíamos, eu ia me sentindo um pouco mais
acolhida. Louis disse para que eu não me preocupasse com o jantar na casa de
seus pais.
— Acredite, Hannah, pessoas mau-caráter conseguiram conquistar
nossos pais, tenho certeza que para uma garota legal como você será muito
mais fácil. – Louis falou.
Capítulo 28
KEVIN

Eu me sentia leve e feliz. Pela primeira vez em muito tempo.


Tinha passado um fim de semana tranquilo com Hannah. Louis e Maddie
a conheceram e a adoraram, isso me deixou ainda mais contente. No dia
seguinte, nós dois almoçamos juntos e à noite eu lhe preparei o jantar. As
roupas que lhe comprei tinham servido perfeitamente e Hannah adorou.
Na segunda-feira pela manhã, ela precisou voltar para casa e começar
a se preparar para voltar ao trabalho.
— Nós nos vemos no aeroporto. – falei.
Despedi-me dela na porta do edifício. Juan, o motorista da família a
levaria de volta a Long Island já que eu precisava me arrumar e ir direto para
o aeroporto e chegar mais cedo para me preparar para o voo. Infelizmente,
nós ainda não podíamos chegar juntos.
Essa era a próxima coisa que eu teria de dar um jeito. Não queria mais
mentiras, inclusive, não queria mais ter que esconder meu relacionamento
com Hannah.
Cheguei ao aeroporto e quando entrei na sala da companhia, Caleb já
estava lá tomando seu café como acontecia sempre antes de qualquer voo.
— Boa tarde. – eu o cumprimentei com um tapinha no ombro.
— E aí, como foi a folga? – perguntou.
— Melhor impossível. – sorri.
— Parece que você resolveu aquele problema. – falou se referindo à
minha situação conturbada com Hannah.
— Sim. – confirmei – Preciso comprar um café também.
— Eu te acompanho.
Saímos para a cafeteria do aeroporto e eu contei para Caleb o que fiz
para Hannah me perdoar. É claro que enquanto conversávamos não dizíamos
seu nome, afinal, muitas pessoas circulavam por ali e alguém da companhia
acabaria ouvindo.
Seria uma tragédia.
— Fico feliz que tenha resolvido as coisas. – Caleb falou enquanto
estávamos em uma das mesas – O que sua mãe achou dela?
— Adorou. – respondi – Minha mãe é uma pessoa fácil de lidar, o
problema é o meu pai. Tenho certeza que ele pode ser assustador.
— Boa sorte. – falou – E os planos para o fim do ano? O que pretende
fazer?
— Ainda não sei. Meus pais geralmente dão uma festa de réveillon,
mas esse ano eu gostaria de fazer algo sozinho com ela. – tomei um gole do
meu café – E quais os seus planos?
— Talvez eu vá para algum lugar mais calmo.
Uma hora depois, eu estava dentro do avião e sentei em minha cabine.
A imagem de Hannah vestida com o uniforme de comissária sempre me
deixava sem fôlego. Talvez eu nunca me acostumasse com isso. Era muito
bom saber que agora estávamos juntos e nenhuma mentira nos cercava. Eu
me sentia muito mais leve e podia planejar muitos momentos românticos
juntos.
Estávamos novamente voando para Copenhague e eu coloquei meus
fones. Caleb também ajeitou tudo ao lado e nós decolamos. Dei meus recados
como de costume e tivemos um voo tranquilo na medida do possível por
conta de algumas turbulências. Pousamos final da madrugada em
Copenhague. Estava bastante frio e quando saímos a aeronave, eu fiz o que já
estava acostumado. Olhei para a bunda de Hannah.
Ela caminhava um pouco a frente com Jasmine e Sandra, daquele
jeito feminino balançando os quadris. A saia do uniforme abraçava bem a sua
bunda e alguns caras viravam o pescoço para olhar as três.
— Fico puto com isso. – indiquei a cena com a cabeça enquanto
caminhava com Caleb.
— É melhor você controlar o animal raivoso que existe dentro de
você, meu amigo.
— O dia que você namorar, vai me entender.
— Não sou um cara ciumento. – Caleb sorriu.
Eu realmente acreditava nele. Caleb sempre foi tranquilo, nunca o vi
estressado e acho que ciúmes não era uma de suas características. Queria
poder dizer o mesmo de mim, mas imaginar algum cara dando em cima de
Hannah, já fazia o sangue do meu corpo esquentar.
Fomos direto para o táxi que nos esperava para levar-nos até o hotel.
Como já estava virando um hábito, eu reservei uma suíte separada
para mim e dessa vez eu não precisava mentir para o meu amigo.
— Divirta-se. – ele disse depois que fizemos o check-in.
— É o que eu espero.
Estar novamente na Dinamarca me trazia lembranças. Não fazia tanto
tempo que eu estava aqui em uma primeira viagem com Hannah na tripulação
e completamente afetado com a beleza daquela garota ruiva. Os olhos azuis
brilhavam inocentes quando me cumprimentou, o andar ainda era inseguro
por estar vivenciando uma nova experiência. E mesmo naquele momento, eu
já estava ficando louco por ela.
Não tinha sido fácil ignorá-la e agora, vendo minha situação, eu sabia
que tinha falhado miseravelmente.
Mas estava feliz.
Feliz como não me lembrava um dia já ter sido.
Abri a porta do quarto e larguei minha mala no canto. Eu queria
chamar Hannah para ficar comigo, então mandei uma mensagem para ela
imediatamente para que viesse ao meu quarto sem tirar o uniforme de
comissária.
Lembrei que ainda não tinha tido o prazer de despi-la dessa forma e já
havia sonhado algumas vezes com isso.
Meu celular vibrou e eu peguei o aparelho apressado, pensando ser
uma resposta dela, mas a mensagem no alerta da tela era de outra pessoa.
Isabella.
“Está em NY? Gostaria de te ver.”
Havia me esquecido completamente dela. A última vez que nos
encontramos, foi na tal festa na casa dos meus pais e de lá para cá, eu tenho
me lembrado cada vez menos dela. Isabella era uma mulher bonita, mas não
combinava comigo. Tinha sido bom passar algumas noites com ela, mas sem
dúvidas não era a pessoa com quem um dia eu pensaria em ter algo sério.
Respondi rapidamente para evitar mensagens futuras e criar esperança
onde não tinha.
“Olá, Isabella. Estou na Europa no momento, mas não será possível nos
encontrarmos mais. Estou em um relacionamento com uma pessoa.”
Tinha sido educado, mas não havia um jeito melhor de dizer que não
queria mais nada com ela porque agora sou um cara comprometido. Deixei o
celular de lado e logo a campainha do quarto tocou. Sorri sabendo que só
podia ser Hannah.
Ao abrir a porta, vi sua figura parada no corredor. Os olhos azuis
brilhando ao me olhar, o uniforme de comissária ainda perfeitamente
alinhado assim como seus cabelos ruivos ainda presos em um coque
comportado.
— Entre. – dei-lhe passagem.
Assim que ela entrou, eu tranquei a porta e lhe puxei pela cintura. Não
queria falar nada nesse momento, apenas aproveitar e saborear aqueles lábios
perfeitos coberto por um batom claro. Ela soltou um gemidinho baixo e se
entregou. Minhas mãos passearam por cada uma das suas curvas
pressionando seu corpo contra o meu. Quando o ar faltou, eu precisei me
afastar.
— Estava louco para ficar sozinho com você.
— Eu também. – sorriu – As meninas me chamaram para sair, mas eu
dei uma desculpa.
— Que bom, eu não ia aguentar esperar. – segurei seu lenço e
comecei a soltar o nó – Já que chegamos de viagem agora, por que não
tomamos um banho juntos?
— Que ótima ideia!
Agora eu não precisava de pressa, Hannah estava aqui comigo e
teríamos um dia inteiro para aproveitar. Soltei o lenço e deixei que o mesmo
caísse no chão. Devagar, fui tirando cada uma das peças do seu uniforme
deixando-a apenas com a lingerie preta. Acho que nunca iria me acostumar a
vê-la sem roupas. Hannah tinha um corpo perfeito, o quadril arredondado, a
barriga lisa e os seios bem fartos. Os cabelos ruivos ainda estavam presos em
um coque e eu fiz o favor de soltar.
As mechas caíram por sobre os ombros e nas costas. Segurei uma
delas entre os dedos e não desgrudei meu olhar do seu.
— Depois do que aconteceu comigo, eu achei que nunca mais fosse
me sentir desse jeito novamente. – desabafei – Você me tirou daquela fundo
do poço onde eu mesmo me meti.
— Nunca é tarde para tentar ser feliz. – ela passou o braço em volta
da minha cintura e encostou o rosto em meu peitoral – Você é a primeira
pessoa que me conquistou dessa forma.
— Ainda me arrependo de ter mentido para você, mas prometo que
não irá mais se repetir. – dei-lhe um beijo nos cabelos – Vire de costas,
alguém ainda não está totalmente sem roupa.
Ela deu uma risada e virou de costas. Abri seu sutiã e tirei o mesmo,
puxei sua calcinha para baixo e finalmente consegui o que tanto queria. Eu já
estava ficando excitado com a visão, então comecei a tirar minha própria
roupa. Joguei a gravata, camisa e a calça em uma pilha no chão e por último,
me livrei da cueca. Eu adorava o olhar de Hannah sobre mim.
— Venha antes que eu desista do banho.
Eu a levei para o banheiro e imediatamente abri o chuveiro. A fumaça
começou a envolver o cômodo e entrei no box com Hannah. A água quente
caiu sobre nossos corpos e eu deixei que ela aproveitasse o momento.
Talvez nós tenhamos gastado mais água que o necessário, mas devo
admitir que cada minuto debaixo do chuveiro com Hannah valeu à pena. Eu a
ensaboei, aproveitei a oportunidade para alisar o seu corpo e deixei que ela
fizesse o mesmo comigo. Quando saímos, vestimos roupões e ela aproveitou
para usar o secador do quarto para secar os cabelos.
Estávamos bastante cansados, mas achei melhor pedir algo para
comer antes de descansarmos.
— Pedi um café da manhã para nós. – falei quando ela saiu do
banheiro.
— Que bom, porque eu estou mesmo com fome. – respondeu –
Podemos descansar um pouco e mais tarde sair.
— Onde quer ir?
— Não sei. Talvez possamos almoçar em um restaurante legal e dar
umas voltas pela cidade. – respondi e a puxei pelo braço para que se sentasse
em meu colo – Caleb quer sair para beber alguma coisa mais tarde, podemos
ir juntos.
— Sim, mas a pior parte é não ficarmos juntos.
— Acho que esqueci de te dizer, mas Caleb sabe sobre nós dois.
— Sabe?! – pude notar o espanto e preocupação em sua voz.
— Sim, mas fique tranquila. Ele sabe guardar segredos e está feliz por
nós.
— Eu queria poder ficar aqui no quarto com você, mas logo preciso
voltar para o meu. As meninas vão perceber a minha ausência. Acho que
Sandra está bem desconfiada dos meus sumiços.
Suspirei.
Não queria que Hannah voltasse para o quarto, mas sabia do risco que
corríamos. Ao passo que, Sandra poderia ser uma pedra no sapato. Ela
sempre quis aparecer mais do que as outras meninas e se soubesse que
Hannah estava comigo, poderia ser a primeira a abrir a boca só para tirar
vantagem.
Depois do café da manhã, Hannah vestiu as roupas e saiu do quarto
me deixando sozinho. Aproveitei o tempo que tinha para mandar mensagens
para minha mãe e combinarmos o dia e horário do jantar assim que estivesse
novamente em Nova York. Diana Walsh estava ansiosa para isso, o que não
era nenhuma novidade. Ela adorava a casa cheia de gente.
Acabei cochilando um pouco e acordei com o telefone vibrando
debaixo do meu travesseiro. Levantei e atendi a ligação de Caleb.
— Fala.
— Mais tarde vai rolar mesmo de darmos uma saída, as meninas
também querem ir.
— Pode ser.
Acabei aceitando. Por mais que não gostasse da ideia de Sandra e
Jasmine conosco, já que elas não sabiam sobre Hannah e eu, também seria
falta de educação minha não aceitar que elas também fossem.
— Nos vemos mais tarde então. – falou.
— Que bom que você ligou, se não eu iria dormir por mais umas
horas e preciso sair para almoçar. Combinei com Hannah de fazer algo só nós
dois.
— Vai lá, garanhão! – Caleb riu e desligou.
Mandei uma mensagem para Hannah pedindo para que me
encontrasse em meia hora na esquina do hotel. Assim seria mais seguro para
nós dois. Ela respondeu confirmando e eu fiquei aliviado, afinal, ela poderia
estar dormindo e isso acabaria com meus planos. As temperaturas em
Copenhague estavam bem baixas nesta época do ano com o inverno se
aproximando.
Vesti uma calça preta, uma camisa social azul clara, um suéter branco
por cima e um sobretudo azul marinho. Pesquisei lugares interessantes para
visitar na Dinamarca e fiz uma nota mental sobre elas. Desci e fui
diretamente para a esquina. Não demorou muito até que Hannah viesse pela
calçada em minha direção. Tive que prender o fôlego ao vê-la. Ela usava uma
bota de cano curto preta, meia-calça da mesma cor, uma saia godê cor de
chumbo, uma blusa marfim e casaco preto. O visual escolhido se completava
pelo cachecol preto com detalhes brancos em volta do pescoço. Hannah
carregava consigo uma bolsa escura e os cabelos ruivos estavam metade
presos em um rabo e metade soltos por seus ombros. A franja se afastava da
sua testa com a ação do vento.
Eu tinha certeza de que ela era a mulher mais bonita que eu já tinha
visto na vida.
— Demorei? – perguntou.
— De maneira nenhuma. – olhei para os lados – É melhor irmos logo,
antes que alguém apareça. Certamente vão sair para almoçar também.
Começamos a caminhar para longe do hotel enquanto o vento frio
batia em nossos rostos. Após estar um pouco afastado, eu segurei a mão de
Hannah e a fiz parar. Ela me olhou com surpresa e logo entendeu quando me
aproximei dos seus lábios. Eu lhe dei um beijo calmo e rápido, já que
estávamos na rua.
— Andei pensando em pegarmos um trem e ir até outro bairro para
almoçarmos tranquilos. O que acha?
— Parece ótimo. – sorriu.
Comprei nossos bilhetes em uma estação e pegamos o próximo trem.
Eu não usava esse tipo de transporte nos Estados Unidos, mas na Europa eles
eram bastante comuns. Assim que entramos e nos ajeitamos, aproveitamos os
momentos juntos, calados. Hannah observava a paisagem conforme o trem
avançava pela capital e eu mantinha meu braço por sobre seus ombros e o seu
corpo junto ao meu. Era muito bom poder fazer isso sem me preocupar em
sermos vistos. Estávamos longe dos olhares curiosos do resto da tripulação.
— Aqui é lindo, sabia? – ela quebrou o silêncio.
— É verdade. – concordei – Mas sabe um lugar que acho que você vai
adorar?
— Qual? – levantou a cabeça e olhou para mim.
— A Itália. – respondi – Minha família tem negócios lá e todo o ano
costumamos visitar o país. Quero que em breve você vá comigo.
— É sério? – pude notar seus olhos brilhando com a possibilidade – A
Itália deve ser linda!
— Sexo no hotel de frente para aquelas paisagens também é ótimo. –
sussurrei em seu ouvido.
Hannah sorriu e acabei me distraindo com os diversos lugares onde
poderíamos transar na Itália e precisei levantar rápido do trem para não
perder a estação. Dei a mão a ela e a ajudei a sair do vagão. A cidade de
Copenhague era extremamente bonita e diferente de Nova York. Fomos parar
no bairro de Nyhavn. Um lugar bastante charmoso com um grande canal que
lembrava o de Veneza e na beirada havia uma série de prédios coloridos que
abrigavam cafeterias e restaurantes.
A grande quantidade de pessoas nos fazia ter que muitas vezes nos
espremer para passar ou tomar cuidado para não esbarrar em alguém.
— Que lugar incrível! – Hannah exclamou maravilhada quando
paramos em um espaço mais vazio.
— Tinha certeza que ia gostar. Procurei no Google sobre esse bairro.
– respondi olhando em volta – Quer escolher um restaurante para comermos?
Ela concordou.
Isso me deixou contente porque Hannah muitas vezes se mostrava
tímida e eu tinha de tomar atitudes. Vê-la aceitar escolher um restaurante era
um grande passo na nossa relação. Queria que Hannah se sentisse livre para
decidir o que quisesse sem pensar em valores, sem achar que ia se aproveitar
da minha situação financeira.
— Aquele parece legal. – apontou para um restaurante que ficava em
um prédio avermelhado.
O nome do restaurante se chamava Fyrtøjet. Parecia interessante então
solicitamos uma mesa. Por sorte havia uma do lado externo de frente para o
canal. Por mais que estivesse frio, por conta da grande quantidade de pessoas,
a sensação térmica não parecia tão baixa. A paisagem e a experiência valiam
à pena.
— Opções interessantes. – comentei olhando o cardápio.
— Eu acho que já sei o que pedir.
Acabei escolhendo o mesmo que Hannah. Um filé de costela com
molho de vinho tinto e salada. Para acompanhar a bebida, um vinho tinto que
combinava com carne bovina. Admiramos a paisagem e aproveitamos a
companhia um do outro enquanto almoçávamos.
Hannah estava animada e sorria a cada minuto enquanto fazíamos um
passeio de barco pelo canal da cidade. Passamos por pontos turísticos,
inclusive pela estátua da Pequena Sereia, Opera House, o Palácio
Christiansborg, Copenhagen Street Food e Our Savior Church.
— Eu conheci esse lugar na primeira vez que estive na cidade. –
apontou para o palácio – Tirei algumas fotos porque Cecile adora ver.
— É uma pena que naqueles tempos eu era um babaca que achava que
a melhor opção era me manter o mais distante de você.
— Você teve seus motivos. – falou de maneira compreensiva – O
importante é que agora estamos aqui juntos aproveitando o momento.
Ela estava incrivelmente mais relaxada e confortável ao meu lado. Eu
sabia que agora Hannah se sentia mais livre comigo porque conhecia toda a
verdade. A confiança estabelecida em nossa relação fez com que ela pudesse
dar um passo a mais.
Ao anoitecer, tivemos de voltar ao hotel. Infelizmente não podíamos
chegar juntos, então deixei que Hannah fosse primeiro e eu entrei cerca de
dez minutos depois. Caleb já tinha me mandado uma mensagem avisando que
logo estaria saindo com as garotas para o bar que costumávamos frequentar.
Por mais que eu quisesse ficar no hotel aproveitando o tempo sozinho com
Hannah na cama, eu tinha de manter a vida social em dia ou Jasmine e
Sandra poderiam desconfiar.
— Estou precisando beber alguma coisa hoje. – Caleb falou quando o
encontrei no saguão – E aí, o que fez hoje?
— Aproveitei para dar uma volta pela cidade com Hannah. – falei
baixo depois de ter cuidado para ver se alguém estava por perto – Quando
voltarmos a Nova York, vou levá-la à casa dos meus pais.
— Caralho, é sério mesmo! – ele exclamou e sorriu – Parece que
finalmente você superou seus problemas.
— Não posso deixar a merda que aconteceu antes interferir na minha
vida para sempre. Não posso deixar Susan ter esse poder sobre mim.
— É assim que se fala, cara. – colocou a mão no meu ombro – Ia
perder a oportunidade de transar com uma ruiva gostosa por causa do que a
outra fez?
— Ei, cara, você está falando da minha namorada.
— Com todo o respeito. – levantou as mãos – Vamos logo pegar o
táxi porque quero começar a beber cedo.
— Um dia eu garanto que seu fígado vai pedir demissão.
— Kevin! – ouvi um chamado.
Eu conhecia a voz de Sandra.
Caleb e eu nos viramos e a vimos caminhar em nossa direção. Ela
usava um vestido preto de mangas longas, uma meia calça também preta e
botas. Os cabelos loiros caíam ondulados e longos e a maquiagem realçava os
lábios com um batom vermelho.
— Posso ir com vocês? – perguntou – Jasmine e Hannah ainda estão
se arrumando. As duas passaram a tarde toda fora.
— Sem problemas. – Caleb respondeu.
Sandra foi na frente e acenou para um táxi que estava parado próximo
ao hotel. Nós três nos acomodamos e ela sorriu sentada em uma ponta
enquanto eu me ajeitava ao seu lado. Caleb preferiu ir na frente dizendo ao
motorista onde iríamos.
— Estava tão animada para sairmos. – Sandra comentou – Faz algum
tempo que não saímos juntos e eu adoro esse bar de Copenhague.
— O ambiente é legal mesmo.
— O que pretende fazer no Réveillon, Kevin? – ela perguntou.
— Minha família costuma dar uma festa para os amigos, mas talvez
eu faça uma viagem.
— Eu também vou viajar. – falou – Se estiver em dúvida, pode falar
comigo e a gente pode viajar juntos. Uns amigos meus também vão.
— Obrigado, Sandra. Pode deixar que se eu precisar, falo com você.
Sorri e peguei meu celular para mostrar que era melhor encerrar o
assunto. Eu não podia simplesmente dizer a Sandra que não iria, seria muito
grosseiro da minha parte e para todos os efeitos, eu estava solteiro. Ao
chegarmos no bar, eu me afastei e mandei uma mensagem para Hannah.
“Oi, linda, já está vindo?”
Não demorou muito e a resposta veio.
“Estou no táxi com Jasmine, em poucos minutos chegamos.”
Entrei logo atrás de Sandra e Caleb e procuramos uma mesa. Meu
amigo foi o primeiro a pedir uma bebida e Sandra o acompanhou. Uma
música era tocada por uma banda local e eu preferi dar um tempo até pedir
algo para beber. Por sorte, logo Hannah e Jasmine chegaram.
Tentei ao máximo disfarçar, mas observar Hannah era inevitável.
Perfeitamente como sempre com uma calça jeans preta, salto alto e
uma blusa listrada de preto e branco por baixo de uma jaqueta de couro preta.
Eu nem mesmo consegui olhar para Jasmine. Hannah conquistava toda a
minha atenção.
— Até que enfim! – Sandra exclamou.
— Demorei até decidir que roupa usaria. – Jasmine confessou.
— Caleb e eu já pedimos bebidas.
— Boa noite, gente. – Hannah falou ao se sentar ao lado de Caleb.
— Boa noite. – ele respondeu – Vai querer beber algo?
— Acho que um drinque.
Levantei a mão e chamei um garçom que veio até nós. Ele anotou
todos os pedidos da mesa e ficamos aguardando. Sandra decidiu perguntar as
meninas o que elas pretendiam fazer no fim do ano e eu olhei para Caleb. Ele
sabia que minha vontade era de estar sozinho com Hannah, mas nesse bar
isso seria impossível. Pelo menos para o que eu tinha em mente de fazer com
ela.
As bebidas chegaram e eu dei um gole na minha cerveja. Minha
namorada havia pedido novamente o drinque que tanto gostava.
— Que tal dançarmos um pouco? – Sandra sugeriu.
— Eu estou cansado. – falei.
— Ah, Kevin para com isso! – contestou – Você nunca foi de
reclamar disso. – levantou-se e segurou minha mão – Vamos!
— Sandra...
— Nada disso. – ela me interrompeu – Vem, Kevin!
Sem poder dizer mais nada, levantei. Notei o olhar de Hannah para
cima de mim e eu queria muito poder dizer a ela que não era nada, mas ter de
esconder de todo mundo nosso relacionamento estava me dando dor de
cabeça. Eu não podia simplesmente começar a ignorar Sandra, já que sempre
fomos amigos e saímos juntos. Da mesma forma que eu não poderia fazer
isso com Jasmine, mas por sorte, a morena era muito mais discreta.
Por outro lado, Sandra sempre fora insistente e não aceitava “não”
como resposta.
— Fazia tempo que não dançávamos juntos, Kevin. – falou quando
chegamos à área da danceteria onde havia algumas pessoas – Você tem
andado muito mais quieto ultimamente.
— Você acha? – perguntei me fazendo de desentendido – Talvez
porque eu esteja precisando de férias e relaxar um pouco. Essas viagens são
longas e cansativas.
— Por isso te chamei para a viagem de Réveillon, assim pode
recarregar as energias.
— Quem sabe?
Ela estava dançando sem parar e eu tentava ao máximo acompanhar,
mas não me empolgar muito nos toques. Sandra, pelo contrário, parecia fazer
questão de me alisar e rebolar perto de mim. Quando a música acabou, eu fui
o primeiro a dizer que precisava voltar à mesa e tomar um gole da minha
bebida.
Ao retornar, dei de cara com a última pessoa que gostaria de ver nesse
momento.
O dinamarquês filho da puta.
— O que ele está fazendo aqui? – não consegui segurar a pergunta.
— Eu o convidei, esqueci de avisar. – Sandra respondeu e o chamou
para sentar-se ao seu lado – Venha, Niels. Que bom que chegou.
— Acabei ficando preso no trabalho e demorei um pouco mais. –
sentou-se ao lado dela – Que bom que voltaram à cidade.
— Geralmente todo mês Copenhague está na nossa escala de voo. –
Sandra respondeu.
— Hannah, como tem passado? Não temos nos falado ultimamente. –
ele direcionou sua atenção para ela.
— Estou bem, muito atarefada ultimamente. – respondeu – E você?
— Ótimo!
— Olha, eu vou dar uma passada no bar. – Caleb falou – Hannah,
pode vir comigo? Fiquei sabendo que você gosta muito de maquiagem e eu
quero tirar umas dúvidas com você porque quero presentear uma prima que
faz aniversário semana que vem.
— Tudo bem.
Hannah levantou para acompanhar Caleb e eu conhecia meu amigo,
sabia o que ele pretendia com isso. Fiquei com as meninas e o tal do
dinamarquês até que me levantei.
— Com licença, preciso de uma indicação do que beber lá no bar.
Fui até Caleb e Hannah que já estavam acomodados sobre as
banquetas. Chamei o barman levantando o dedo e pedi mais uma cerveja.
— Eu odeio aquele cara. – comentei para os dois.
— Porque ele está de olho na sua namorada. – Caleb reiterou – A
propósito, Hannah, meus parabéns! Fico feliz que você tenha colocado juízo
na cabeça desse cara.
— Obrigada. – respondeu com um sorriso.
— Vou deixar vocês sozinho, vou fingir que vou ao banheiro.
Ele deu um tapinha nas minhas costas e saiu.
— Aquele cara te olha como se você fosse o último copo de água no
Saara.
— E a Sandra dança contigo como se você fosse o último também. –
rebateu.
— Touché! – aceitei o argumento – Eu tentei negar, mas ela insistiu.
Tenho agido diferente com todos e ela percebeu isso. Acredite, linda, Sandra
é a última pessoa que eu gostaria que soubesse do que acontece entre nós.
— Por quê? – seu olhar se tornou curioso.
— Porque não confio nela. – aceitei a cerveja e agradeci ao barman –
Mudando de assunto, o jantar na casa dos meus pais já foi marcado.
— E quando será?
— No primeiro sábado após chegarmos a Nova York.
— Acho que vou sofrer de ansiedade até lá.
— Fique tranquila, linda. Sei o jeito perfeito para te distrair e fazer
você não pensar nisso. – sorri.
Caleb voltou e eu precisei me afastar de Hannah. Voltamos à mesa
depois que Niels saiu do Sandra e só então eu pude relaxar. Conversamos até
tarde e na hora de ir embora, finalmente eu pude ficar a sós com Hannah no
meu quarto aproveitando o que eu tanto desejava.
Capítulo 29
HANNAH

Nunca me senti tão nervosa em toda a minha vida. Nem mesmo


quando fiz meu primeiro voo como comissária de bordo.
Agora, de frente para o espelho do quarto no apartamento de Kevin, eu
sentia como se minhas pernas tremessem. Olhei para meu visual diversas
vezes sem ter certeza de que estava apresentável, apesar de ser um vestido
vinho lindo que Kevin fez questão de comprar para mim assim que chegamos
em Nova York. Complementei o visual com uma meia calça preta, sapato de
salto preto e um sobretudo cor marfim que tinha um cinto embutido que
modelava minha cintura. Os meus cabelos eu tinha decidido deixar soltos.
Verifiquei novamente a maquiagem leve que fiz e retoquei o rímel.
Quando Kevin entrou, trajando seu suéter e calça, já todo pronto para
sair, eu senti meu coração se aquecer um pouquinho e o nervosismo diminuir.
— Você está linda, sabia? – falou assim que me viu.
— Tem certeza de que esta roupa está boa? – perguntei insegura.
— Hannah, não se preocupe. Você está maravilhosa e tenho certeza
que toda minha família vai te adorar.
Aproximou-se e me puxou pela cintura grudando seu corpo ao meu.
Passei meus braços em volta do seu pescoço admirando os olhos verdes fixos
em mim.
— Eu daria tudo para poder ficar aqui em casa, curtindo essa mulher
linda. – me girou fazendo com que eu desse uma voltinha.
— Que tentador. – sorri antes que ele me desse um beijinho de leve
nos lábios.
— Infelizmente não podemos, minha mãe já me mandou várias
mensagens perguntando se estávamos a caminho. Dona Diana é bem ansiosa.
Peguei minha bolsa e Kevin colocou seu casaco antes de sairmos.
Entramos no carro e a cada rua que avançávamos eu me sentia cada vez mais
nervosa. Kevin colocou uma música para tocar, mas nem mesmo isso foi
capaz de me acalmar. Eu mexia nos meus próprios dedos e olhava para o lado
de fora vendo toda a decoração de Natal na cidade.
Muitos turistas já estavam chegando e era possível ver uma série de
pessoas tirando fotos das iluminações tão famosas no mundo inteiro. Nova
York ficava graciosa durante essa época do ano.
— Fale alguma coisa, linda. – Kevin tocou meus joelhos.
— Estou nervosa e ansiosa, mas isso você já sabe. – olhei para ele –
Quem vai estar lá?
— Meus pais, meus irmãos, meu cunhado e meus sobrinhos. –
respondeu – Mas acredite, depois minha mãe vai fazer questão de marcar um
jantar com meus avós, minha tia, meus primos e a família toda.
— Se eu sobreviver a hoje.
— Relaxe, vai dar tudo certo.
Entramos no bairro de Scarsdale, que Kevin comentou que fora onde
ele crescera. Havia um grande número de casas luxuosas e mansões. Eu
fiquei simplesmente abismada. Fiquei me perguntando qual delas seria a casa
dos pais dele. Assim que viramos em uma rua, Kevin parou o carro de frente
para um enorme portão de ferro que se abriu assim que o identificou.
O muro alto e o grande portão não me permitiram ver de imediato a
residência, mas assim que entramos, meu queixo caiu. Era uma construção
moderna com toque clássico. Que se destacava logo atrás do belo jardim.
Havia uma garagem gigante com vários carros e Kevin estacionou o dele ao
lado de um Audi.
— Chegamos.
— Essa casa é linda! – exclamei encantada.
— Você tem razão, é uma casa muito bonita.
Kevin saiu do carro e deu a volta abrindo a porta para mim. Ele me
ajudou a descer e eu ajeitei minha roupa.
— Pronta?
— Acho que sim.
Dei o braço a ele e andamos juntos pela garagem. Subimos as escadas
até a entrada da mansão e eu ainda não conseguira absorver tudo. O pé direito
era alto, a porta dupla chamava a atenção e as janelas escuras combinavam
perfeitamente com a cor em tom de areia das paredes. Kevin entrou e uma
senhora estava no hall de entrada sorrindo para nós.
— Boa noite, Sr. Walsh. Que bom que chegou.
— Boa noite, Margareth. Esta é minha namorada, Hannah Davis. –
ele me apresentou.
— Muito prazer, Srta. Davis. – cumprimentou-me com um aceno de
cabeça.
— O prazer é meu.
— Onde estão meus pais? – Kevin perguntou a ela.
— Todos já chegaram e estão reunidos na sala de estar.
Senti meu coração palpitar sabendo que estava a poucos segundos de
encontrar toda a família Walsh. Margareth pegou nossos casacos e Kevin me
deu a mão para me passar confiança e tentar me manter tranquila. Respirei
fundo e caminhamos até a sala de estar. Eu nem mesmo conseguia absorver
toda a decoração a minha volta. Assim que entramos no cômodo espaçoso, o
barulho dos meus saltos fez com que parte da família movesse as cabeças e
olhasse em nossa direção.
Rapidamente eu pude ver Alicia, a pequena Maddie, e Louis, mas
havia mais pessoas sentadas no sofá que fizeram com que eu sentisse
borboletas no estômago. Acabei apertando com um pouco mais de força a
mão de Kevin.
— Querido, que bom que chegaram! – a primeira a levantar e vir em
nossa direção foi sua mãe.
Elegante como sempre aparecia nas fotos que vi na Internet, Diana
usava uma calça azul marinho e uma blusa de seda marfim com mangas que
iam até os cotovelos. Ela demonstrou seu carinho abraçando o filho e lhe
dando um beijo na bochecha.
— Desculpe a demora. – ele falou.
— Não tem problema. – respondeu e olhou para mim – Olá, Hannah,
que bom te ver novamente.
Ela me cumprimentou com um abraço também e eu imediatamente
me senti acolhida.
— É muito bom vê-la também, Sra. Walsh.
— Diana, por favor... – pediu e eu dei um sorriso discreto – Kevin,
apresente sua namorada para o resto da família.
Engoli em seco diante de tanta gente elegante. Kevin me levou até o
meio da sala de estar e eu pude notar os olhares curiosos sobre mim. Alguns
eu já havia conhecido, mas duas pessoas ali eu ainda não tivera o prazer de
conhecer.
— Hannah, quero te apresentar primeiramente ao meu pai, Anthony
Walsh. – ele se virou para o pai – Pai, essa é Hannah Davis.
O homem que se levantou do sofá e ajeitou o paletó preto era alto e
bem parecido com Kevin. Seus olhos escuros me observavam
cuidadosamente e eu nem mesmo consegui esboçar uma reação. Fiquei
hipnotizada pelo poder que aquele homem exercia e sabia que provavelmente
ele seria a pessoa mais difícil de conquistar. Anthony Walsh além de sério,
era um homem bonito e muito elegante.
— Muito prazer, Hannah Davis. – ele estendeu a mão.
— O prazer é todo meu, Sr. Walsh.
Estendi a mão evitando tremer e torcendo para que não estivesse
suada devido ao nervoso. Anthony me cumprimentou com firmeza e logo em
seguida voltou a se sentar no sofá pegando seu copo de uísque na mesinha ao
lado. Kevin se virou para outro homem, dessa vez mais novo, com cabelos
escuros e olhos azuis. Ele tinha um semblante bem mais relaxado, uma barba
por fazer, mas não usava terno e sim um suéter cinza com calça escura. Era
muito bonito também, porém bem menos assustador.
— Esse é Ryan Beaumont, o marido da minha irmã.
— Muito prazer, Hannah. – estendeu a mão após se levantar.
— Muito prazer, Sr. Beaumont. – apertei sua mão.
— Você agora é da família, pode me chamar apenas de Ryan.
Foi muito mais fácil falar com Ryan e com o resto das pessoas
naquela sala. Alicia me abraçou e me pediu desculpas por não poder dizer
nada quando nos conhecemos por conta do receio do irmão, Louis também
me cumprimentou e Maddie pareceu fazer festa diante da minha presença.
Luca, o filho de Alicia e Ryan estava sentado em seu bebê conforto e
observava tudo com atenção.
Margareth, que eu julguei ser a governanta, me ofereceu uma bebida e
eu preferi não aceitar e apenas agradecer.
— Sente-se, Hannah. – Diana falou indicando o sofá vazio perto de
mim – O jantar logo será servido.
— Obrigada.
Todos voltamos a nos acomodar e após o nervosismo inicial, pude
notar melhor a decoração a minha volta. Era uma sala de estar bastante
espaçosa e moderna. Os sofás brancos eram muito confortáveis e as grandes
janelas davam para o jardim iluminado lá fora. Havia alguns quadros nas
paredes que provavelmente eram obras de arte que custavam uma fortuna e a
lareira aquecia o ambiente com o fogo que crepitava deixando tudo ainda
mais aconchegante.
— Hannah, minha esposa me falou que você é comissária de voo,
correto? – Anthony quebrou o silêncio.
— Sim, há alguns anos – respondi de maneira educada.
— E sempre quis exercer essa profissão? – ele levou o copo de uísque
à boca.
— Para ser sincera, não. Meu sonho sempre foi trabalhar como
maquiadora profissional, mas por conta de algumas circunstâncias, eu acabei
me tornando comissária.
— Espero que não tenha desistido do seu sonho. – dessa vez foi Diana
quem falou com seu tom de voz amoroso.
— Não desisti. Só precisei adiar um pouco, mas espero que em breve
eu tenha a oportunidade de seguir a carreira que gosto.
— Quem sabe um dia a gente trabalhe junto, Hannah? – Louis falou –
Posso encontrar uma maneira de você maquiar alguma das modelos com
quem trabalho em sessão de fotos. Quando você estiver em Nova York,
talvez seja uma ótima maneira de começar nesse ramo.
— É verdade, Lou! – Alicia concordou animada – Você tem ótimos
contatos que podem ajudar.
— Nossa, muito obrigada mesmo. – agradeci ainda atordoada com o
rumo que a conversa estava tomando.
— Não precisa agradecer. – Louis respondeu – É sempre bom poder
ajudar.
— Eu quero uma maquiagem bem bonita, papai. – Maddie entrou na
conversa.
— Você ainda não está na idade para esse tipo de coisa, cupcake. –
ele respondeu em um tom tranquilo e amoroso – Você terá a oportunidade
quando for mais velha.
— Com licença, Sra. Walsh, o jantar já está servido.
Margareth anunciou e todos nos levantamos. Eu não conhecia muito
bem os protocolos da família, mas o apoio que estava recebendo de Kevin me
acalmava. Ele me levou até a sala de jantar pela mão e lá encontrei uma
grande mesa retangular repleta de pratos, taças e talheres. Sobre cada um dos
pratos que provavelmente eram de porcelana, estava um cloche de inox
cobrindo a refeição.
Anthony sentou na cabeceira da mesa. Ao seu lado direito sentou a
esposa e do lado esquerdo, seu filho Louis. Kevin sentou ao lado do irmão e
eu me sentei ao seu lado. De frente para mim estava Alicia e ao seu lado o
marido. Maddie sentou ao lado de Ryan e Luca ficou sob os cuidados de
Margareth.
— Espero que gostem do menu que eu escolhi.
Todos levantaram o cloche e como prato de entrada, fora servida uma
sopa que Diana explicou ser uma receita tradicional italiana. O cheiro estava
delicioso e a aparência também era bastante apetitosa. Depois da primeira
colherada, fiquei bastante impressionada com a sabor diferente e agradável.
Conforme ia comendo, mais gostosa ficava.
— Vocês sabem que o Réveillon está se aproximando e que a
tradicional festa na casa da família vai acontecer. – Anthony quebrou o
silêncio.
— Vai ter muito brilho, vô? – Maddie perguntou.
— Sim, princesa, terá muito brilho assim como no ano passado.
— É a primeira festa de Réveillon do Luca. – Alicia comentou – Ano
passado eu estava grávida e me sentia gigantesca.
— Gata, não fale assim, você estava linda. – o marido retrucou.
— Bem, estão todos convidados a vir. – Antony continuou –
Inclusive, sinta-se à vontade para vir à festa, Hannah. – ele olhou para mim.
— Muito obrigada. – agradeci – Seria um prazer.
O prato principal foi servido e Diana disse que se tratava de um steak
au poivre e estava muito suculento. A sobremesa foi uma taça com morangos
cortados, creme de baunilha e merengue. Para falar a verdade, eu gostaria até
de repetir, mas por educação comi apenas uma vez.
— Estava bastante saboroso, Diana. – falei ao final da refeição
quando íamos para a sala de estar.
— Fico feliz que tenha gostado. Sempre fico indecisa com o que
escolher para servir quando temos visitas.
— Querida, você ainda fica nervosa depois de tantos anos dando
jantares. – Anthony segurou sua mão e deu um beijo.
— Porque cada convidado tem seus próprios gostos, querido. É difícil
saber se vamos agradar.
— Mãe, pai, gostaria que me dessem licença, queria mostrar o resto
da casa para Hannah. – Kevin entrou na conversa.
— Claro, meu amor. – Diana respondeu – Fique à vontade.
Ele segurou minha mão e me levou para as escadas. Subimos os
degraus e eu pude admirar melhor a decoração. O decorador se empenhou
bastante no design da casa e tenho certeza de que Diana colocou seu toque
pessoal.
— A casa dos seus pais é muito bonita por dentro também. – falei.
— Diana Walsh cuida de cada um dos detalhes. – respondeu – Venha,
quero te mostrar onde é o meu quarto. Embora nenhum dos filhos more aqui,
minha mãe mantém os quartos para cada um de nós. Ela diz que se
precisarmos dormir aqui, temos que nos sentir em casa.
— Sua mãe é maravilhosa. – sorri.
— Bem-vinda ao recanto de Kevin Walsh. – ele abriu a porta.
Entrei no cômodo silencioso e ele acendeu a luz. O cômodo era
espaçoso, com pisos de tábua corrida de uma cor acinzentada, as paredes
eram cor de areia e os móveis escuros. A cama estava coberta por lençóis
brancos e almofadas cinza. Uma obra de arte abstrata estava sobre a cabeceira
e a janela dava de frente para o jardim e a piscina da mansão.
— Muito bonito. – caminhei pelo cômodo e me aproximei de uma
cômoda.
Sobre ela estava um porta-retrato com toda a família. Era possível ver
Kevin, Louis e Alicia adolescentes. Os três tinham um sorriso largo no rosto.
Ao lado, uma foto de dois bebês.
— Que gracinha! – exclamei pegando o porta-retrato.
— Essa foto foi tirada quando Louis e eu tínhamos quatro meses.
— Vocês eram bebês gordinhos. – coloquei de volta – Muito
bonitinhos.
— Gostou de conhecer o quarto onde eu dormi por tantos anos da
minha vida?
— Adorei. – virei para ele – E obrigada por me trazer aqui hoje.
— Não precisa me agradecer, Hannah.
Kevin se aproximou de mim e colocou as mãos em minha cintura me
trazendo para perto do seu corpo. Pude sentir o calor e a rigidez dos seus
músculos. Coloquei as mãos sobre seus ombros e sorri.
— O que você acha? Quer passar a festa de Réveillon aqui? –
perguntou descendo uma das mãos para minha bunda.
— Você acharia ruim? Eu acabei de chegar aqui, queria ficar um
pouco mais próxima da sua família. Seu pai me convidou, seria desfeita não
aceitar.
— Tudo bem. – ele me pressionou contra seu corpo e arrastou seu
nariz pelo meu pescoço – Nós podemos fazer algo juntos depois do Ano
Novo, uma viagem curta, só nós dois.
Kevin me distraiu no momento em que começou a beijar meu
pescoço. Minha pele toda se arrepiou e eu joguei a cabeça para o lado
expondo ainda mais minha pele. Não sei em que momento ele me arrastou até
a cama, mas quando minhas costas bateram no colchão e seu corpo ficou
sobre o meu, eu já sentia tudo pegar fogo dentro de mim.
Fechei os olhos e tentei falar alguma coisa, mas Kevin deslizou as
mãos pela minha coxa por cima da meia-calça e levantou meu vestido.
— Não, Kevin... – falei baixinho – Estamos na casa dos seus pais.
— Só alguns minutinhos, prometo. – respondeu próximo ao meu
ouvido.
Ele abaixou minha calcinha e a meia-calça até os meus joelhos. O
vestido estava enrolado em minha cintura e minha intimidade estava exposta.
Kevin não demorou até colocar a boca e me presentear com os movimentos
da sua língua. Eu precisei reunir todas as minhas forças para não gemer alto e
alguém acabar me ouvindo. Seria muito constrangedor.
Kevin não parou até que eu tivesse alcançado o orgasmo duas vezes e
quando fiquei sem fôlego, ele levantou a cabeça e sorriu daquele jeito safado
que eu já conhecia.
— Estava contando os minutos para ficar alguns minutos a sós com
você. – falou.
— Você é louco, Kevin Walsh.
Devagar, ele ajudou a me levantar. Kevin me mostrou onde ficava o
banheiro. Uma porta de correr preta escondia o banheiro bem decorado em
cores claras que me lembravam bastante o da suíte do seu apartamento.
Demorei alguns minutos até me recompor e quando voltei ao quarto, Kevin
estava sentado na cama.
— Podemos descer. – falei.
— Preciso de mais alguns minutos.
Falou olhando para baixo.
Ainda era possível notar sua ereção e eu não contive um sorriso. Era
muito bom saber que eu tinha esse poder sobre ele.
— Sabe, estava pensando o quão bonito deve ser o jardim dessa casa
na primavera.
— É mesmo muito bonito. As flores foram a minha mãe que
escolheu. – levantou-se e foi até a janela colocando as mãos no bolso – Meu
pai deixa que ela faça o que bem entender. Quem só o vê na empresa, daquele
jeito sério e autoritário, mal sabe que minha mãe manda e desmanda nele.
— Eles fazem um casal muito bonito.
— Sim. – virou-se para mim – Acho que já podemos descer.
— Vou tentar agir naturalmente. Espero que ninguém desconfie de
nada.
— Relaxe, linda. – aproximou-se e segurou meu queixo – Acho que
estão todos muito ocupados.
Descemos e todos conversavam na sala. Luca estava acordado e
engatinhava por um tapete especial infantil que Kevin me disse que havia
comprado para ele. Todos se encantavam com as peripécias do pequeno e
Maddie tinha sentado no chão para brincar com o primo.
— A casa de vocês é muito bonita, Diana. – elogiei.
— Muito obrigada, Hannah. Espero que você venha nos visitar mais
vezes.
— Já está tentando monopolizar a minha namorada? – Kevin se
intrometeu – Hannah e eu viremos a festa de Réveillon.
— Que bom, querido.
— Hannah, você foi melhor recebida. – Ryan entrou na conversa – Na
minha época, seu namorado me recebeu com um soco. – disse sorridente para
mostrar que não tinha ressentimentos.
— Você mereceu, Beaumont. – retrucou.
— Sabe, Hannah, meus irmãos são muito ciumentos. – Alicia se
manifestou – Foi difícil eles conseguirem engolir o Ryan. Incluindo o meu
pai.
— Mas eu fui mais forte e cá estou. – Ryan abriu os braços – Com
direito a um filho. – apontou para o chão onde Luca brincava com Maddie –
Meu DNA está na família e não dá mais para voltar atrás.
— Agora vai ser difícil se livrar desse genro. – Anthony disse sentado
em sua poltrona.
— Quem iria conversar sobre negócios com você quando Alicia não
está?
Muitos riram e eu estava cada vez mais encantada com a interação
dessa família. Pouco tempo depois, Kevin e eu fomos embora, logo assim que
Alicia saiu com o marido e o filho. Louis lembrou o irmão de que sua
exposição iria estrear em uma galeria na segunda-feira e nos convidou.
— Será um prazer estar lá, Louis. – falei para ele quando nos
despedíamos na porta de entrada.
— Fico aguardando vocês. Tenho certeza de que vão adorar as fotos
que tirei.
Saímos da mansão alguns minutos depois e eu fiquei aliviada.
Finalmente tinha conhecido a família Walsh e tudo pareceu correr bem.
Kevin dirigia ao meu lado enquanto tamborilava os dedos no volante e falava
sobre o jantar. Eu me sentia aliviada e estava cada vez mais confiante no
nosso relacionamento. Apresentar-me à sua família fora a prova de que as
coisas eram mesmo sérias e eu só tinha a aproveitar o cara incrível que estava
ao meu lado.
Capítulo 30
KEVIN

Passei um domingo maravilhoso ao lado de Hannah.


Ficamos o dia todo no apartamento curtindo o calor aconchegante do sofá
enquanto assistíamos a alguns filmes de romance, comédia e ação. Eu
gostava de filmes de terror, mas Hannah se assustava fácil. Comemos pipoca,
chocolate, batata chips e tomamos litros de refrigerante – certo, essa última
parte é exagero – mas nos alimentamos propriamente de porcarias durante
toda a tarde.
No jantar, eu fiz questão de preparar uma massa para nós dois e
tomamos um vinho juntos.
Quando a segunda-feira chegou, não foi fácil sair do apartamento,
mas eu tinha de cumprir meu dever como irmão e apoiar a exposição de
Louis.
Hannah estava falando com a tia ao telefone lembrando de que
quando voltasse a Nova York, nós levaríamos Cecile para patinar no gelo.
— Eu sabia que ela ia adorar. – respondeu a tia – Eu preciso desligar
agora, tia, temos uma exposição para ir. Amanhã estarei em Long Island e
vamos almoçar juntas. Até mais.
Ela se despediu deixando o celular de lado e se levantou. Ainda não
tinha se vestido, então me presenteava com a visão do seu corpo curvilíneo
em uma lingerie roxa que lhe coubera perfeitamente. Pensei na possibilidade
de ficar em casa com ela e retirar a lingerie para me deliciar com seu corpo,
mas eu não podia deixar de comparecer ao evento do meu irmão,
principalmente porque poucas vezes tinha a oportunidade de estar na cidade
quando isso acontecia.
— Não sei que tipo de roupa se deve usar em uma galeria. – Hannah
falou olhando para o closet de maneira indecisa.
— Qualquer roupa que você escolher vai ficar perfeita. – respondi –
Não precisa se preocupar com isso. Todas as peças aí se encaixam
perfeitamente com o evento.
Escolheu uma calça jeans cinza escuro, botas pretas, um suéter
marrom claro, casaco preto e uma bolsa pequena preta com alça em detalhes
dourados. Seus cabelos ruivos ficavam soltos e eu a elogiei. Hannah sempre
ficava linda, não importava o que vestisse.
Decidimos pegar um táxi até a galeria.
Andar de carro em Nova York no horário de rush e procurar um local
para estacionar era mais difícil do que jogar roleta em Las Vegas. Sentado no
banco traseiro do carro, eu segurava a mão de Hannah e a acariciava
suavemente. Era como se eu sentisse meu coração aquecido ao seu lado
embora o tempo lá fora estivesse gelado.
— Qual é o ramo da empresa do seu pai? – ela perguntou quebrando o
silêncio.
— A primeira empresa da família foi a editora. – olhei para ela
entrelaçando nossos dedos – Depois meu pai começou a investir em outras
áreas, hoje em dia ele tem um vinhedo, parte de alguns hotéis ao redor do
mundo e ações de diversas empresas.
— Nossa! Ele não para?
— Não. – sorri – Meu pai ama o mundo dos negócios. Acho que
adoeceria se não pudesse mais fazer parte disso. Ele sempre quis que eu ou
Louis seguíssemos o mesmo caminho, mas na verdade Alicia quem tem
paixão por isso.
— É legal a família estar envolvida nisso. Passar para as outras
gerações.
— Agora a missão é fazer Maddie ou Luca se interessarem por isso. –
sorri.
O táxi parou em frente à galeria e eu desci primeiro para dar a volta e
abrir a porta para Hannah. Ela me agradeceu dando a mão para sair do
veículo e ajeitou seu casaco antes de entrarmos na galeria. Já havia certo
movimento ali então eu a levei para um canto a fim de esperar para encontrar
algum conhecido.
— Que lugar bonito!
— Geralmente meu irmão expõe as fotos dele aqui. – eu a levei até
uma bancada – Venha, aqui tem um flyer explicando sobre as fotografias.
Hannah ficou curiosa e logo pegou um guia. A exposição de Louis era
voltada para a cidade de Nova York, com pontos turísticos famosos e até
mesmo construções. Eu gostava de apoiar meu irmão no que ele gostava de
fazer assim como ele sempre me apoiou.
— Que bom que vieram!
Louis se aproximou de nós com um sorriso. Por mais que ele quisesse
transparecer que estava calmo, eu sabia que meu irmão estava bastante
nervoso.
— Não deixaríamos de vir. – eu o abracei – Parece estar tudo muito
bonito.
— Obrigado. – agradeceu e virou para Hannah – É bom te ver
novamente, Hannah.
— Digo o mesmo. – olhou em volta – Parabéns pela exposição.
— Obrigado. – deu seu sorriso de sempre – Fiquem à vontade, preciso
cumprimentar algumas pessoas que chegaram. Em breve vou explicar um
pouco sobre o conceito dessas fotografias.
Louis se afastou e um garçom nos serviu champagne. Ryan e Alicia
chegaram e nos cumprimentaram.
— Fico tão orgulhosa do Louis. – comentou – Ele disse que tem um
projeto de expor aqui as melhores imagens que os fotógrafos do web jornal
tirarem ao longo de alguns meses. Assim ele vai ajudar a divulgar não só o
projeto como o trabalho deles.
— É uma excelente ideia do Louis.
— Nosso irmão está tão empolgado com o novo projeto. Ele vai à
empresa quase todos os dias.
— Quem diria que Louis ia querer ficar trancado em um escritório. –
dei risada.
Ele era bem parecido comigo nesse quesito. Nenhum de nós tinha
vocação para trabalhar entre quatro paredes durante a maior parte do dia. Eu
gostava da liberdade de estar sempre em lugares diferentes e ele se sentia
feliz fotografando pessoas e situações diversas. Nenhum dia era igual ao
outro.
— Oi, pessoal! – ouvimos uma voz atrás de nós.
Quando me virei encontrei com Carly e Adrian, meu primo. Fazia
muito tempo que não os via, então abraçá-los foi inevitável.
— Que surpresa boa! – exclamei – Louis nem avisou que vocês
viriam.
— As coisas estão uma loucura no trabalho, mas sempre damos um
jeitinho. – ela respondeu.
— Aproveitando que estão aqui, quero te apresentar minha namorada.
– falei e trouxe Hannah para mais perto – Esta é Hannah Davis. – olhei para
ela – Hannah, esta é Carly e este é o meu primo Adrian.
Todos se cumprimentaram e eu fiquei feliz por ver Hannah se dando
bem com minha família. Agora ela também estava muito mais tranquila e
relaxada, além de confiante de quem minhas intenções eram mesmo sérias.
Eu não era um playboy que queria curtir a vida brincando com ela.
— Podemos marcar algo lá em casa na próxima vez que viermos. –
falei.
— Claro! – Adrian respondeu – Só nos avisar quando que ajeitamos
nossas agendas.
— Eu fico feliz que o escritório esteja indo bem.
— É verdade. – ele concordou – Parece que todos nós estamos
conseguindo o que queremos. Essa semana fui até a empresa ver como
estavam as coisas com o projeto da Alicia.
— Parece que ela conseguiu um andar em um edifício comercial em
Murray Hill e está fazendo umas reformas. – Carly comentou.
— Preciso tirar um dia e ir até lá ver como estão as coisas
pessoalmente.
Mais pessoas começaram a chegar e logo reconheci a cabeleira loira
de Lizzie quando ela entrou. Como estávamos mais próximos da entrada, ela
logo me viu e deu um sorriso.
— Kevin! – aproximou-se e me abraçou – Faz tempo que não te vejo.
— É mesmo. – respondi – Como estão as coisas?
— Estão bem. – olhou para Hannah – Será que devo ser apresentada a
alguém? – sugeriu.
— Claro. Esta é Hannah Davis, minha namorada. – olhei-a – Essa é
Lizzie, uma amiga da família.
— Muito prazer. – estendeu a mão.
— Pode me abraçar, não precisa de formalidades. – Lizzie com seu
jeito carinhoso e espontâneo, deu um abraço apertado em Hannah – Fico tão
feliz que o Kevin tenha encontrado alguém. Você tem cara de ser uma pessoa
legal.
— Obrigada. – Hannah respondeu um pouco tímida.
— Alicia me disse que as coisas estão indo bem com o projeto. –
comentei mantendo a mão na cintura da minha namorada.
— Sim, estão indo do jeito que planejamos. Fiquei tão feliz com a
oportunidade de voltar a Nova York. Eu adoro esse lugar.
— Sentimos a sua falta por aqui. Falei com Carly e Adrian que
quando estivermos novamente na cidade, queremos combinar um jantar no
meu apartamento. Você está convidada.
— Eu vou adorar! Pode contar comigo. – olhou para trás – Agora
preciso procurar seu irmão para parabenizá-lo pela exposição. – olhou para
Hannah – Muito prazer em te conhecer.
Ela acenou e nos deixou a sós. Poucos minutos depois, meus pais
chegaram e Louis começou seu discurso de agradecimento e explicando o
porquê de ter escolhido desse tema para a exposição. Citou algumas imagens
preferidas e eu aproveitar para levar Hannah até uma das paredes onde
estavam as fotos preferidas do meu irmão.
Estava tudo indo maravilhosamente bem até que eu a avistei.
A mulher que tinha acabado comigo no passado e que me fizera
acreditar que não poderia ser feliz novamente.
Susan.
Aqueles cabelos pretos me eram bastante familiares. Ela estava de pé
ao lado de uma mulher e conversava de maneira animada. O típico batom
vermelho nos lábios se curvava junto com o sorriso e ela usava um sobretudo
preto. Eu cheguei a achar que se a reencontrasse sentiria raiva, mas a verdade
foi que não senti absolutamente nada.
O que Susan fizera comigo no passado tinha me deixado
extremamente puto, mas agora eu podia ver que aquilo acontecera por um
motivo: conhecer Hannah e me apaixonar. Eu queria sair da galeria sem ser
visto, mas Susan talvez tenha sentido meu olhar e se virou para mim. Seus
olhos frios focaram nos meus e eu pude perceber que havia certa satisfação
ali.
— Kevin? – ouvi a voz de Hannah me chamando.
— Sim, linda. – respondi me virando para observá-la.
— Eu estava falando com você.
— Desculpe. – segurei sua mão, dando um beijo sobre as costas da
mesma – Pode repetir?
— Estava dizendo que gostei da maneira que o seu irmão escolheu os
ângulos das fotos. Essa aqui com as gotas de chuva parecendo pequenos
brilhantes ficou incrível. – apontou para um dos quadros.
— É verdade. Louis é um excelente fotógrafo. Alicia tem diversos
quadros em casa com imagens que ele fez.
— Devem ser lindos.
— Em breve você verá todos eles.
Eu queria sair dali e aproveitar minha noite com Hannah, curtir o
tempo sozinhos antes de viajarmos, mas seria deselegante da nossa parte
irmos embora sem nos despedir do meu irmão. Continuamos observando as
fotografias quando uma voz bem conhecia soou atrás de mim.
— Kevin?
Só podia ser castigo!
Susan teve a cara de pau de se aproximar de mim e de Hannah como
se tivéssemos algo para conversar. Eu me virei calmamente e encontrei seu
olhar curioso sobre a mulher que me acompanhava.
— Boa tarde, Susan. – respondi tranquilamente.
— Que surpresa te ver na cidade.
Novamente, ela me alfinetou. Uma das reclamações de Susan quando
estávamos juntos era sobre o fato de eu ter pouco tempo ao seu lado, já que
estava sempre fora do país. Preferi ignorar o comentário.
— Posso dizer que também é uma surpresa te ver por aqui.
Susan nunca gostou de visitar galerias, mas talvez por se tratar de uma
exposição do meu irmão, ela tenha ficado curiosa.
— Não vai me apresentar à sua acompanhante? – apontou para
Hannah que permanecia calada ao meu lado.
— Susan, esta é Hannah, minha namorada. – fiz questão de
acrescentar.
— Namorada? – assustou-se – Muito prazer, Hannah. – estendeu a
mão – Sou Susan, ex-noiva do Kevin.
— Muito prazer. – Hannah retribuiu o cumprimento apertando a mão
dela.
— Que deselegante da sua parte não dizer quem eu sou, Kevin. –
disse para me provocar.
— Já faz algum tempo isso, Susan, acredito que não tenha
importância. – rebati – Agora se nos dá licença, precisamos falar com meu
irmão.
Passei o braço novamente em torno da cintura de Hannah e a levei
para longe de Susan e do clima pesado que tinha se instalado. Por mais que já
tivesse passado muito tempo desde que terminamos, ela provou que não
perderia nenhuma oportunidade de provocar. Quando nos afastamos o
suficiente, parei em um canto próximo a uma das fotografias expostas e
fiquei de frente para Hannah.
— Desculpe por isso, linda. – falei passando uma das mãos em seu
braço como uma carícia – Susan sabe ser extremamente inconveniente.
— Foi bem desagradável.
— Não se preocupe com ela. Depois que terminamos, não falei mais
com Susan e quando a vi aqui hoje, achei que ela não teria a audácia de se
aproximar. – dei um beijo em sua mão – Vamos, quero voltar logo para casa.
Nós nos despedimos de Louis, dos meus pais e do resto da família e
saímos da galeria. Eu não queria passar mais nenhum minuto sequer em um
ambiente onde nós pudéssemos ser novamente importunados por Susan.
Hannah ficou calada durante todo o caminho e quanto chegamos ao
apartamento, retirei meu casaco e o joguei sobre uma das poltronas.
— Está chateada? – perguntei.
— Só pensativa.
— O que está acontecendo?
Hannah suspirou e se virou para mim. Aqueles olhos azuis brilhantes
e quase inocentes me traziam paz. Não sei o que havia visto em Susan
durante todo o nosso relacionamento, mas o que eu estava experimentando ao
lado de Hannah era ainda mais incrível.
— Você sentiu algo quando viu sua ex-noiva?
Eu já previa que ela pudesse perguntar esse tipo de coisa e minha
intenção era mostrar a Hannah que ela não tinha de se preocupar com Susan e
nem com outra mulher. Meu coração não tinha espaço para mais ninguém
além dela. Sem responder de imediato, eu me aproximei parando na sua
frente e segurando seu rosto entre as mãos. As sardas que eu tanto gostava
estavam escondidas pela maquiagem e seus lábios captaram minha atenção
por alguns segundos.
— Hannah, eu tive um relacionamento sério com Susan no passado.
Cheguei a achar que ela seria a mulher com quem iria me casar, até que me
dei conta de que ela era uma mentirosa e aproveitadora. Por muito tempo
senti raiva de mim mesmo pelo que acontecera e por ter sido tão idiota. –
deixei meu polegar deslizar sobre seu queixo – Mas agora eu me dei conta de
que isso aconteceu para que eu pudesse encontrar você.
— Eu estou me sentindo tão feliz, mas às vezes me dá uma
insegurança...
— Sh... – coloquei meu dedo indicador sobre seus lábios – Não
precisa se sentir insegura, não tenha medo de nada, Hannah. Eu também me
sinto muito feliz com você. Não sinto mais nada pela Susan. Na verdade, eu
deveria agradecê-la pelo que fez, só assim nós não nos casamos e eu fiquei
livre para encontrar uma mulher linda.
O assunto acabou nessa mesma hora porque Hannah envolveu os
braços em torno do meu pescoço e me deu um beijo. Eu esqueci de tudo a
minha volta, apenas pensei na mulher que estava com o corpo colado ao meu,
os seios sendo espremidos contra mim e as mãos que agarravam meu cabelo.
Em poucos segundos eu já estava excitado e a peguei no colo para levá-la
para a cama.
Confesso que não foi fácil acordar cedo no dia seguinte para ver
Hannah se arrumar e ir para casa. Sentei na cama apenas de cueca enquanto a
via andar de um lado para o outro pegando peças de roupa, ajeitando os
cabelos e preparando a maquiagem.
— Sei que talvez você possa estar ocupado hoje, mas seria legal se
fosse almoçar conosco. – ela disse aparecendo na porta do banheiro
segurando um pincel de maquiagem.
— Se eu não for atrapalhar...
— É claro que não, Kevin.
Uma hora depois, estávamos a caminho de Long Island e eu dirigia
tranquilo. Por conta do frio lá fora, as ruas estavam bem escorregadias então
eu não podia acelerar muito. Demoramos mais tempo que o normal, mas
finalmente estacionei em frente à casa de Hannah. Descemos do carro e logo
pude ver a cortina se mexer e o rosto animado de Cecile apareceu atrás do
vidro.
Antes que pudéssemos chegar até a porta, a mesma fora aberta e
apareceu uma Cecile vestida com um conjunto de calça cinza e blusa rosa
com uma grande Minnie estampada.
— Que bom que vocês chegaram! – ela deu pulinhos ali mesmo na
porta, mas não se atreveu a sair no frio para nos cumprimentar.
— Oi, Cecile.
Hannah abraçou a irmã com carinho. Eu gostava bastante de ver a
relação de amor entre as duas. Meus A diferença de idade entre Alicia e eu
era muito pequena, portanto, eu gostaria de saber como era ter uma irmã ou
irmão adolescente.
— Oi, Kevin. – ela me cumprimentou.
— Olá, Cecile. Tudo bem? – eu lhe dei um abraço.
— Está tudo legal. Venham, está muito frio do lado de fora.
A tia de Hannah veio da cozinha para nos cumprimentar. Ela estava
usando um avental e tinha um sorriso nos lábios. Parecia bem feliz e animada
com nossa presença.
— Estou preparando o almoço, mas podem se sentar. Fiz uma torta,
querem um pedaço?
— Eu vou aceitar. – falei imediatamente.
— Hannah, querida, pegue um pedaço de torta para vocês.
— Eu vou ajudá-la com o almoço, tia. – Hannah deixou a bolsa sobre
a poltrona e pendurou o casaco no encosto da mesma.
Fiquei vendo um filme de comédia com Cecile enquanto saboreava
minha torta de nozes. Conversamos um pouco sobre viagens e sobre a escola
dela. Lembrei que assim que voltássemos de viagem, iríamos sair para patinar
no gelo.
— Hannah me disse que em Manhattan tem uma pista de gelo legal.
— Tem sim. Eu costumava patinar muito lá com meus irmãos quando
era mais novo.
— A minha irmã não sabe patinar.
— Pelo visto teremos que ensiná-la.
Durante o almoço eu falei sobre um almoço na casa dos meus pais no
qual gostaria que Eleonor e Cecile pudessem comparecer. Minha mãe iria
adorar a visita e ficaria empolgada para começar a organizar. Falei também
sobre a festa de Réveillon na casa dos meus pais e Eleonor ficou um pouco
sem jeito, mas acabou aceitando.
— Vai ser muito bom ter vocês lá. – falei enquanto me servia de mais
um pouco de costela.
— A família de Kevin é ótima. – Hannah falou – Eles me receberam
muito bem no jantar.
— Tem piscina lá? – Cecile perguntou.
— Cecile! – sua tia a repreendeu.
— Tem piscina sim. Tem uma piscina aquecida interna para os dias
frios e uma piscina externa para o verão. Tenho certeza que você vai gostar.
Ela ficou empolgada e eu sorri. Queria muito que a família de Hannah
se sentisse confortável e à vontade no meu apartamento ou na casa dos meus
pais. Ao final do almoço, passei mais um tempo na casa de Hannah e ela
convidou seus amigos para comerem uma pizza mais tarde, seria a forma de
conhecê-los melhor.
— Vamos à uma pizzaria? – perguntei.
— Juliet disse que podemos ir à casa dela e pedir a pizza lá.
Ao chegarmos, fomos recebidos por uma garota extremamente
simpática que abraçou Hannah de uma forma tão forte que achei que a
estivesse sufocando.
— Finalmente! – ela disse olhando para mim – Você é o famoso
Kevin.
— Culpado. – estendi a mão.
Juliet me cumprimentou e entramos em seu apartamento. Era bem
modesto, mas muito tem arrumado e decorado. Minutos depois, chegara o
amigo delas.
— Prazer, sou Peter.
— O prazer é meu.
O cara era gente boa também. Eles me contaram que conheciam
Hannah desde os tempos da escola. Era legal ver uma amizade assim como a
deles. Sempre estudei em escola para pessoas com muito dinheiro e amizade
lá não era algo que eu pudesse considerar verdadeiro. Eu não mantinha mais
nenhum contato com os amigos do Ensino Médio e no fundo, achava melhor
assim.
Ter encontrado Susan só me fez recordar do quanto as pessoas eram
interesseiras e não pensavam no próximo. Ter dinheiro era muito bom, não
seria hipócrita de dizer o contrário, mas era uma merda não saber até que
ponto as pessoas estavam sendo ou não sinceras. Por sorte, eu tinha
conhecido Hannah e por mais inseguro que tenha ficado no início, eu estava
mais certo do que nunca de que ela era a pessoa ideal.
Capítulo 31
HANNAH

Voltar a realidade depois de dias incríveis era complicado.


Quando cheguei ao aeroporto, Jasmine imediatamente começou a me
contar sobre seus dias de folga e eu tive de omitir boa parte do que acontecera
no meu.
Ao longo do tempo em que ficamos na Alemanha, Kevin e eu
tentamos fazer o máximo de coisas juntos, mas começamos a acreditar que
Sandra desconfiava de alguma coisa. Fui interrogada diversas vezes sobre o
que eu estava fazendo e onde tinha ido. Primeiro, isso era um saco. Para ser
sincera, o que eu fazia não dizia respeito a ela.
Por sorte voltamos à Nova York e aproveitaríamos todo o tempo livre
até as festas de fim de ano e só retornaríamos ao nosso voo no início de
janeiro. Era uma espécie de férias que tínhamos adquirido.
Na manhã de terça-feira, Cecile e eu nos arrumávamos para
finalmente patinar no gelo. Minha tia iria conosco e seria uma forma de ela
conhecer o apartamento de Kevin também.
— Estou tão feliz que finalmente o recesso da escola chegou. – minha
irmã comentou calçando as botas de inverno.
— Agora você pode ter seu descanso merecido antes de voltar às
aulas. – falei guardando alguns itens na bolsa.
— Que bom que o Kevin vai levar a gente para patinar. – sentou-se na
beirada da cama avaliando suas botas já calçadas – É chato ter que ficar em
casa o tempo todo.
— Eu sei, irmã. – falei me compadecendo dela – As coisas não são
fáceis aqui em casa, mas vão melhorar. – sentei ao seu lado – O irmão do
Kevin, Louis, ele disse que pode ser que eu tenha uma oportunidade como
maquiadora na equipe dele algumas vezes.
— É mesmo?
— Sim. – sorri – Dessa forma vai sobrar mais dinheiro e podemos
fazer passeios.
— Eu queria poder ir à Disney. Muitos dos meus amigos da escola já
foram.
— Eu prometo que vou te levar lá assim que puder, tudo bem? –
estendi minha mão para ela – Promessa de irmã.
— Promessa.
Cecile apertou minha mão e nós nos abraçamos. Eu queria poder dar a
oportunidade de ela aproveitar como as crianças na idade dela. Ir à Disney era
um sonho para todos, para mim também, afinal, eu nunca tinha visitado o
parque. Quando descemos, tia Eleonor nos esperava sentada no sofá
assistindo televisão.
— Prontas? – perguntou.
— Prontíssimas. – respondi me sentando ao seu lado – Kevin mandou
mensagem e disse que está chegando. Por conta do tempo o trânsito fica bem
complicado.
— É verdade. Eu estava vendo as notícias na televisão. Nova York
está cheia de turistas animados.
O barulho de um carro na frente da nossa casa fez com que Cecile
corresse para a janela.
— Kevin chegou!
Só de ouvir o nome dele meu coração disparou.
Ceclile tratou de abrir a porta rapidamente, a lufada de ar frio entrou e
eu agradeci por estar de luvas e um casaco grosso. Fugindo das temperaturas
baixas, Kevin entrou passando os dedos nos cabelos úmidos por conta da
neve fraca que caía do lado de fora. Ao levantar o olhar e me ver, ele sorriu.
Retribuí o sorriso da mesma forma e me aproximei.
— Oi, que bom que chegou. Cecile estava inquieta.
— Dirigir com o tempo assim é mais difícil que pilotar um avião. –
respondeu.
— Podemos ir? – minha irmã interrompeu.
— Claro. – ele olhou dela para minha tia – Bom dia, Eleonor. Que
bom que vai conosco.
— Estava na hora de dar umas voltas. – minha tia se levantou.
Demoramos até chegar a Manhattan.
Cecile foi conversando quase durante todo o trajeto e eu fiquei bem
animada em saber que minha irmã estava à vontade. Kevin demorou a
conseguir um local para estacionar e quando o fez, por sorte a neve tinha
parado. A região estava lotada de turistas de todas as partes do mundo. Uma
grande quantidade de pessoas passava por nós falando as mais variadas
línguas.
Minha irmã ficou ainda mais animada e minha tia muitas vezes
precisou segurar sua mão para que não se perdesse na confusão.
— Essa pista de gelo é a melhor que tem. – Kevin comentou enquanto
chegávamos ao local.
A Rockefeller Rink ficava no Rockefeller Center, no meio dos
arranha-céus de Nova York. Embora fosse pequena, era a mais tradicional e
famosa. Inclusive, era a mais cara de todas. Preferi não tocar no assunto de
dinheiro, afinal, Kevin não fazia a menor questão de economizar. Para falar a
verdade, ele nem precisava. Eu tinha de parar com essa mania de fazer contas
mentais com dinheiro que não era meu.
— Cecile, você pode alugar seu par de patins. – ele disse para minha
irmã – Vamos até lá e escolha um.
Em poucos minutos ela já estava devidamente calçada e tentava
caminhar sobre os patins com lâminas de ferro até a pista.
— Será que ela vai conseguir? – perguntei preocupada.
— Claro. – minha tia me tranquilizou – Cecile é uma boa patinadora.
Por que não tenta também, Hannah?
— Eu não sei patinar, serei um fiasco e vou cair na frente de todas
essas pessoas.
— Calma, linda. Eu te ajudo.
Deixei que me convencessem a colocar os patins nos pés e entrar na
pista de gelo. Não foi fácil chegar até ela caminhando com eles, mas Kevin
me ajudou. Ele já tinha feito isso dezenas de vezes com os irmãos e era quase
profissional perto de mim.
Patinar era definitivamente muito difícil.
Não demorou muito até que eu tivesse caído algumas vezes de joelho
ou escorregasse e caísse de bunda. Kevin me ajudou a levantar todas as vezes
enquanto Cecile ria. Minha irmã deslizava com facilidade sobre o gelo
arranhando-o com suas lâminas dos patins e até fez uma amiga que parecia
ter a mesma ideia que ela.
— Desisto. – falei me segurando em uma das barras laterais.
— Que isso, linda. – Kevin ajeitou meu cachecol – É questão de
prática.
— Você está acostumado a isso, eu preciso patinar muito até pegar o
jeito.
— Se depender de mim, você terá muitas oportunidades de patinar
aqui.
Ele me deu um beijo calmo, mas suficiente para fazer minhas pernas
tremerem. Não pelo frio e nem pela insegurança de estar na pista de gelo, mas
por todas as sensações que Kevin me proporcionava. Eu me segurei em seu
casaco e aproveitei o momento. Embora quisesse mais, estávamos em público
e tivemos de nos afastar.
Depois de Cecile aproveitar bastante a pista de gelo, resolvemos
almoçar. Kevin conhecia Manhattan muito melhor do que nós e nos levou a
um restaurante italiano bastante aconchegante ali perto. Comemos uma
deliciosa massa e Cecile escolheu a sobremesa. Após a refeição, Kevin levou
minha família para conhecer seu apartamento.
— Quero que se sintam em casa. – falou ao abrir a porta.
— Uau! Que lindo! – minha irmã exclamou.
De fato, o apartamento de Kevin era bem decorado e muito espaçoso.
Minha tinha elogiou o lugar e nós mostramos os cômodos. Ele fez questão de
mostrar o quarto de hóspedes para elas dizendo que quando quisessem,
poderiam ficar por aqui.
— Minha mãe quer promover um jantar para vocês essa semana, é
claro que podem ficar aqui já que voltar para Long Island com esse tempo
durante a noite não é o ideal.
— Não queremos atrapalhar, Kevin. – minha tia falou.
— Vocês são muito bem-vindas, Eleonor. Será um prazer tê-las aqui.
— Kevin, você já foi à Disney?
Cecile perguntou mudando totalmente de assunto enquanto descíamos
as escadas.
— Algumas vezes. – ele respondeu com toda a paciência.
— Eu nunca fui. A Hannah disse que vai tentar me levar assim que
puder.
— Você vai gostar, tenho certeza.
— Você colocou o arco com as orelhas do Mickey?
— Fui obrigado pela minha sobrinha a fazer isso. – respondeu.
Minha irmã continuou conversando com Kevin e aproveitamos a tarde
todos juntos. No início da noite, voltamos para Long Island e por mais que
ele insistisse para que eu ficasse em seu apartamento, decidi passar mais um
tempo com minha família.
Os dias se passaram e a véspera de Natal finalmente chegou.
Acordei naquela manhã me sentindo feliz e animada e já era possível
sentir o clima das festas.
Cecile estava sentada no sofá e saboreava os biscoitos que minha tia
tradicionalmente assava.
No meu celular, uma mensagem de Kevin apareceu na tela.
“Bela manhã de Natal. Não demore a chegar, por favor.”
Nós havíamos decidido que passaríamos as festas na casa da família
dele. Minha tia estava nervosa e insistiu em preparar sua famosa torta de
nozes porque não queria chegar com as mãos vazias.
— Como é a casa dos pais do Kevin? – Cecile perguntou.
— Bem grande. – sentei ao seu lado – A família dele é ótima, você
vai gostar.
Poucas horas depois estávamos a caminho da mansão Walsh. O
motorista da família viera nos buscar em um belo carro preto. Ele era um
senhor muito educado e nos conduziu em segurança até Scarsdale. Minha tia
estava nervosa, Cecile animada e eu ansiosa para encontrar novamente com
Kevin. Escolhi um vestido vinho de gola alta e mangas longas que ia até
acima do joelho, uma meia calça preta. Um sapato de salto preto e tinha
vestido um sobretudo por cima da mesma cor. Deixei meus cabelos soltos e
fiz uma maquiagem leve. Na bolsa, eu tinha um presente guardado para
Kevin. Não era nada grandioso, mas era sentimental e especial.
Assim que chegamos, o carro parou de frente para a entrada e Cecile
olhava de maneira maravilhada.
— Que casa gigantesca! – exclamou.
— É mesmo. – respondi – Acho que dá para se perder aqui dentro.
— Cecile, querida, se comporte. – minha tia a alertou.
Na porta de entrada apareceram Diana e o marido. Ela usava um
vestido longo azul marinho de mangas com gola arredondada e um lindo
colar que provavelmente era de diamantes. Ao seu lado, Anthony usava calça
preta e uma camisa social cinza escuro. Era a primeira vez que eu o via sem
terno. Kevin apareceu logo atrás com um grande sorriso no rosto enquanto
me olhava.
— Que bom que chegaram. – Diana sorriu enquanto subíamos as
escadas – Fico feliz que tenham vindo.
— Mãe, pai, essas são Cecile, irmã de Hannah e Eleonor, tia delas. –
Kevin se adiantou em apresentar.
— É um prazer finalmente conhecê-las. – Diana estendeu a mão.
Foi uma sessão de cumprimentos de ambas as partes. Anthony como
sempre fora sério, mas educado. Kevin olhou para mim e pegou minha mão,
dando um beijo sobre a mesma de maneira carinhosa.
— Tenho uma surpresa para você. – falou próximo ao meu ouvido.
Olhei para ele confusa e curiosa. Kevin apenas deu um daqueles seus
sorrisos de morrer e passou o braço em volta da minha cintura para que
entrássemos. O sistema de aquecimento da família Walsh era excelente,
assim que entramos na grande mansão, eu pude sentir a temperatura
aconchegante. A governanta pegou nossos casacos e eu agradeci.
Toda a família já estava lá. Alicia, o marido e o filho, Louis com a
filha Maddie e mais uma grande quantidade de pessoas que eu não conhecia e
que me deixaram nervosa. Olhei pra Kevin e ele apenas deu de ombros. Logo
fomos apresentadas a seus avós, tios e primos. Daphne e Adrian eram filhos
de sua tia Rachel e seu tio Taylor.
— Você parece ser uma ótima pessoa, Hannah. – Daphne comentou –
Você vai adorar conhecer a minha cunhada, Carly. Hoje ela está passando o
Natal com a família.
— Carly é ótima, às vezes parece falar mais do que a boca. – Kevin
ressaltou – Agora se me dão licença, preciso conversar em particular com a
minha namorada.
Ele me puxou aproveitando que todos estavam distraídos me levando
para longe da sala de estar que estava toda decorada para as festas e que tinha
a maior árvore de Natal que eu já tinha visto na vida. Achei que subiríamos
as escadas, mas fomos por um caminho que eu ainda não conhecia. Cada vez
me surpreendia mais com o tamanho dessa casa. Kevin abriu uma porta e
entramos em um jardim de inverno lindo.
— Nossa, Kevin, que jardim incrível! – exclamei maravilhada.
— É o lugar preferido da minha mãe.
E tinha de ser mesmo.
Embora a casa fosse lindíssima, o jardim de inverno tinha um charme
à parte. Com as paredes em vidro, era possível ver o jardim externo do lado
de fora que agora estava branco pela camada fina de neve. Fiquei
impressionada pela variedade de plantas e como havia uma mesinha e
cadeiras de jardim bastante charmosas nos cantos. Devia ser uma tremenda
paz passar algum tempo aqui dentro curtindo o silêncio e o cheiro das
plantas.
— Sabe por que te chamei para cá?
— Para me mostrar o lugar? – perguntei inocentemente.
— Também, mas não apenas isso.
Kevin segurou minha mão e fez com que eu sentasse em um dos
bancos, sentando ao meu lado. Fiquei curiosa, seu olhar estava intenso e seu
semblante sério. Ele tirou de dentro do bolso uma caixinha de veludo preta,
quadrada e quase do tamanho da sua mão. Fiquei atônita vendo aquilo e então
Kevin abriu mostrando um lindo colar de ouro com um pingente em formato
de avião.
— Que lindo! – exclamei boba.
— Quando vi esse colar, lembrei de você na hora. – ele disse tirando a
joia de dentro da caixinha – Para ser bem sincero, eu nunca me esqueço de
você, Hannah. Quando quis escolher o seu presente de natal, eu quis te dar
um anel de compromisso. Achei que seria o momento perfeito, até que vi esse
colar e achei ainda mais simbólico.
— Kevin... – tentei falar alguma coisa, mas as palavras morreram na
minha garganta.
— Quero que aceite esse colar como prova do compromisso que
tenho com você. Como prova do que sinto. Um anel seria clichê, todos iriam
perguntar, mas um colar com o pingente de um avião é exatamente o que nos
representa. – ele levou uma das mãos ao meu queixo e deslizou o polegar por
ele – Eu achei que nunca mais iria sentir nada por alguém, até que conheci
uma comissária de bordo linda que me fez entender porque passei tanto
tempo negando me aproximar de alguém. Porque tinha que ser você, Hannah.
— Você vai me fazer chorar, Kevin. – sussurrei.
— Só quero te fazer sorrir, linda. Vire-se para mim.
Ele indicou que queria colocar o colar e eu afastei meus cabelos e
virei de costas o suficiente para que ele colocasse o colar em torno do meu
pescoço. Quando me virei novamente, sabia que era a hora de dizer o que
sentia. De coração.
— Kevin, eu simplesmente ainda estou surpresa com tudo isso. Nunca
estive procurando um relacionamento, sempre pensei em ajudar minha
família e realizar meus sonhos e de repente, você apareceu e tudo mudou.
Você me mostrou um mundo que eu não conhecia e às vezes ainda acordo me
perguntando se tudo isso é real. E sabe como eu sei que é? – ele negou
balançando a cabeça – Pelo que eu sinto por você.
— Eu ainda vou te fazer muito feliz, Hannah. – suas mãos se
afundaram nos meus cabelos segurando minha nuca – Pode apostar nisso.
O beijo que viera em seguida foi carregado de paixão. Nossas línguas
buscaram uma a outra enquanto nossas bocas se encaixavam da melhor
forma. Eu agarrei seu braço, deixei que Kevin me puxasse para ainda mais
perto e sem que eu percebesse, estava sentada de lado em seu colo. Quando
nos afastamos, eu estava um pouco tonta e me sentia nas nuvens.
— É melhor você se levantar antes que eu perca a cabeça. – ele deu
um de seus sorrisos maliciosos.
— Eu também tenho um presente para você. – falei me lembrando do
que trouxera – Não é nada grandioso, mas é especial.
— Isso é o mais importante.
Eu peguei minha bolsa que estava sobre o banco e peguei a caixinha
azul com o presente. Kevin me olhava de maneira curiosa e eu o entreguei
para que ele mesmo abrisse. Ao levantar a tampa, vi confusão em seus olhos,
mas depois ele levantou o olhar para mim se questionando o meu presente
inusitado
— Uma concha. – sorriu.
— Eu a trouxe do Caribe. – expliquei – Foi lá onde tudo começou.
— É verdade. – ele passou o polegar sobre a parte superior da concha.
— Você é um cara rico, tem de tudo, eu simplesmente não sabia o que
comprar. Então decidi lhe dar algo que para lembrar de um momento que
para mim foi importante.
— E para mim também. – completou – Acredite, Hannah, você
poderia chegar aqui com um carro importado com um laço gigante, mas isso
não seria tão especial quanto foi essa concha. No Caribe, eu me dei conta de
que ignorar o que eu sentia por você não me levaria a lugar nenhum e a única
coisa da qual me arrependo é de não ter cedido antes.
— Nunca imaginei que pudéssemos estar assim hoje. Uma das
primeiras coisas das quais me alertaram foi de que você não se envolvia com
mulheres com quem trabalhava.
— Eu pensava isso, até encontrar você.
Ele me beijou novamente, dessa vez de uma forma carinhosa, como se
quisesse demonstrar pelo beijo tudo o que sentia de verdade. Aproveitei os
minutos ali, naquela nossa “bolha”, onde poderíamos conversar sozinhos e
sermos nós mesmos. Quando nos afastamos, Kevin sorriu e se levantou me
estendendo a mão.
— Venha, linda. Acho que as pessoas já devem estar se perguntando
onde nós nos metemos.
Tivemos um Natal maravilhoso, mas a festa de Réveillon tinha me
surpreendido.
Quando cheguei na mansão da família Walsh, vi dezenas de luzes
espalhadas, decorações brilhosas e uma grande quantidade de pessoas muito
bem vestidas.
Kevin fizera questão de me comprar um vestido azul marinho que ia
até o meio das coxas e um casaco felpudo para me manter aquecida enquanto
passava pela parte externa do jardim. Minha tia preferira ficar em casa, tinha
pego uma gripe e estava se recuperando, enquanto Cecile tinha ido para a
casa de uma amiga da escola.
— As festas aqui sempre foram assim? – perguntei a Kevin enquanto
íamos para o salão principal.
— Pode ter certeza. – respondeu – Essas grandes festas sempre
acontecem desde que eu era criança. Não só a de Réveillon, mas eventos da
empresa e outras recepções.
— Você gosta?
— Para ser sincero não, mas meus pais fazem questão da minha
presença já que não participo muito delas. Mas hoje será mais fácil lidar com
isso, afinal, tenho você aqui.
Sorri e aceitei o beijo modesto que ele me deu. Entramos no salão
onde diversas pessoas conversavam e bebiam. Fiquei completamente perdida
vendo tantas pessoas elegantes sorrindo como se no mundo não houvesse
problemas e ninguém tivesse preocupações. Kevin me apresentou a diversas
pessoas, eu não gravei o nome de quase ninguém, só de uma mulher chamada
Penelope, porque ela tinha uma maquiagem extremamente forte no rosto, um
senhor chamado Vince, que me lembrou o personagem do filme Up – Altas
Aventuras.
— Vocês não ficam com dor no maxilar de tanto sorrir? – perguntei a
Kevin aceitando uma bebida de um garçom.
— Não. – ele sorriu achando engraçado meu comentário – Mas é bem
chato ter que falar com tantas pessoas.
— Kevin!
Uma mulher morena e magra o chamou e assim que ele se virou para
ela, sorriu de imediato. Eu não a conhecia, portanto fiquei parada esperando
que me apresentasse.
— Que saudades de você, Rosa. – disse enquanto a abraçava.
— Eu também! Já estava me acostumando a ver o seu irmão e fingir
que era você.
— Não diga isso, sou mais bonito que o Louis. – ele olhou para mim
– Quero te apresentar a minha namorada, Hannah.
— Muito prazer, Hannah. Sou Rosa, uma amiga dele.
Sorri e aceitei o cumprimento apertando sua mão.
— Prazer, Rosa.
— Todo mundo já te conhecia, estava curiosa. – comentou de um
jeito animado – Seja muito bem-vinda.
— Obrigada.
— Eu preciso ir falar com algumas outras pessoas que não vejo há
algum tempo, mas logo eu volto para conversarmos mais. – ela acenou e deu
um beijo no rosto de Kevin antes de sair.
— Se ela disse que vai voltar, pode apostar que vai mesmo. – ele
falou – Tenho que te apresentar a mais algumas pessoas.
Mais uma sessão de cumprimentos se iniciou e eu sorri para todos.
Acho que meu sorriso já estava no automático e suspeitei de que talvez não
conseguisse mais parar. Louis falou conosco, estava com a filha e conversou
um pouco sobre o sucesso da exposição na galeria. Em seguida, Ryan
apareceu carregando o filho no colo, que estava trajando uma calça jeans e
uma blusa polo branca. Os olhos azuis do pequeno brilhavam de curiosidade
olhando tudo ao redor.
— Parece que o Luca não vai dormir tão cedo hoje. – comentou –
Acho que ele puxou à mãe, tem energia sobrando.
— Falando nisso, cadê a minha irmã? – Kevin perguntou ao cunhado.
— Está conversando com algumas pessoas em uma das mesas. Por
mais que ela tente, não consegue fugir das pessoas que querem perguntar
sobre o trabalho.
— Alicia é igualzinha ao nosso pai, não desliga nunca.
— Kevin!
Adrian apareceu ao lado da namorada, que eu me lembrava que se
chamava Carly. Nós nos cumprimentamos antes do rapaz colocar a mão no
ombro do primo.
— Posso vir aqui comigo, por favor? Minha mãe precisa falar com
você um minuto.
— Tudo bem. – ele olhou para mim – Pode ficar aqui com Ryan, por
favor? Vou falar com minha tia e não demoro.
— Claro.
Eu o vi se afastar e fiquei na companhia de Ryan e Luca. O pequeno
não parava quieto e virava o tronco de um lado para o outro como se
estivesse observando todo mundo.
— Filho, hoje você está demais! – Ryan reclamou mudando-o de
posição no colo – Sabe, Hannah, às vezes acho que Alicia dá energético para
esse menino tomar na mamadeira.
— É bom ver uma criança assim cheia de energia. – sorri.
— Vou deixá-lo uma semana na sua casa e você vai mudar de
opinião.
— Eu vou adorar ter esse garotinho lindo na minha casa.
— Pelo visto esse garotinho aqui fez sujeira na fralda. – ele fez uma
careta – Já não é mais tão lindo assim. – olhou em volta – Eu preciso achar
Alicia, não vou ficar com essa bomba. É a vez dela.
E rapidamente ele saiu por entre as pessoas como se estivesse
carregando de fato uma bomba prestes a explodir. Fiquei ali sozinha e aceitei
mais uma taça de champagne. Pessoas passavam de um lado para o outro,
grupos conversavam e sorriam e eu vi uma dezena de mulheres com joias tão
grandes que deviam pesar mais de um quilo. Parecia uma disputa de quem
usava a joia mais extravagante.
— Olá. – uma mulher se aproximou de mim.
Ela era mais alta que eu, tinha longos cabelos escuros e usava um
vestido verde esmeralda justo ao corpo. Eu não me recordava de um dia tê-la
visto, mas mesmo assim cumprimentei de volta como se a conhecesse.
— Olá. – falei.
— É você quem está com Kevin Walsh, certo? – perguntou me
observando de cima a baixo.
— Sim. – confirmei sem entender onde aquela conversa ia nos levar.
— Eu o procurei na festa inteira, mas como não o achei, poderia por
favor entregar isso a ele?
Pude vê-la abrir uma clutch prateada e tirar de lá de dentro um relógio
dourado. Aceitei o objeto que ela me entregara mostrando suas unhas longas
pintadas de vermelho.
— Ele esqueceu isso na minha casa. – falou – E diga que Isabella lhe
desejou um Feliz ano novo.
Capítulo 32
KEVIN

Fui conversar com minha tia Rachel sobre uma viagem que ela
pretendia fazer e queria tirar algumas dúvidas. Fiquei ali cerca de quinze
minutos em um bate-papo com ela e meu tio Taylor de maneira paciente.
Em seguida, voltei para o local onde eu havia deixado Hannah na
companhia de Ryan e para minha surpresa, ao chegar, ele não estava mais lá.
Olhei em volta, talvez estivesse ali perto, mas não encontrei aqueles
cabelos vermelhos em lugar nenhum. Imaginei que ela pudesse ter ido ao
banheiro ou fora com meu cunhado até onde Alicia estava. Comecei a
caminhar por entre as pessoas, olhei de um lado para o outro, e apesar de ver
rostos conhecidos, nenhum deles era da minha namorada.
Esbarrei em Lizzie, que estava conversando com Rosa e Frank.
— Olá, alguém viu a Hannah por aí? – perguntei.
— Eu não a vi. – Lizzie respondeu.
— Talvez eu tenha visto, mas não sei quem ela é porque você não me
apresentou. – Frank falou antes de tomar um gole da sua bebida.
— Cara, eu pretendia fazer isso hoje, mas eu não tinha te visto. Deixei
Hannah alguns minutos porque precisava falar com minha tia e agora eu não
a encontro.
— Ela deve ter ido ao banheiro. – Rosa sugeriu.
— Pode ser. Obrigado.
Saí dali e encontrei com Louis que estava sentado com minha
sobrinha enquanto ela comia alguma coisa. Perguntei sobre Hannah, mas
nenhum deles tinha visto. Rodei mais o salão, cheguei a ir ao jardim, mas
sem sucesso de encontrá-la. Quando retornei para dentro de casa, vi Ryan e
Alicia descendo as escadas segurando Luca no colo.
Decidi ir até meu cunhado, já que ele tinha sido o último a estar com
Hannah.
— Ryan, onde está Hannah? – perguntei.
— Eu não sei. – ele deu de ombros – Estávamos conversando até que
Luca sujou a fralda e eu precisei correr para trocá-lo antes que ele
contaminasse todo o salão. Hannah continuou no mesmo lugar.
— Pois quando eu retornei, ela não estava mais lá.
— Deve ter ido a algum lugar, deve estar sentada por aí. Certamente
daqui ela não saiu, Kevin. – Alicia respondeu.
— Tem razão.
Eu me afastei e continuei rodando pelo salão mais uma vez.
Lembrei que Hannah conhecia meu antigo quarto e talvez pudesse
estar lá. Subi as escadas rapidamente, mas encontrei o quarto vazio.
Aproveitei para verificar nos banheiros, mas em nenhum deles ela estava.
— Mas que merda!
Voltei para o salão e tentei pensar onde Hannah poderia ter se metido.
Ela não iria se afastar para um local escondido sabendo que eu retornaria em
breve e a procuraria. Voltei para a área externa e a procurei mais uma vez,
porém sem sucesso. Comecei a ficar preocupado.
Com a quantidade de pessoas e seguranças na mansão, seria difícil
que algo pudesse ter acontecido. Eu não acreditava que Hannah tivesse ido
embora ou saído da mansão, afinal, não faria sentido que ela saísse sozinha
na véspera de Ano Novo.
Voltei para dentro de casa e vi algumas pessoas conhecidas, mas não
aquela que eu procurava incansavelmente. Lembrei do jardim de inverno.
Ainda não tinha procurado por lá e Hannah conhecia o local. Passei por entre
as pessoas e segui o corredor até os fundos da mansão. Assim que abri a
porta, meu coração voltou a bater aliviado.
A primeira coisa que vi foram os cabelos ruivos dela. Hannah estava
sentada no mesmo banco onde eu lhe entreguei o cordão e ao notar a minha
presença, seus olhos azuis se focaram em mim.
— Procurei você por toda a parte. – falei.
— Eu queria ficar um pouco sozinha.
— O que aconteceu?
Seu semblante estava diferente, parecia mais sério. O brilho no olhar
não era o mesmo. Alguma coisa tinha acontecido nesse meio tempo em que
me afastei dela.
Entrei no jardim e fechei a porta atrás de mim. Caminhei até o banco
onde Hannah estava, mas não me sentei. Ela abriu a bolsa e tirou de lá um
relógio.
— É seu? – perguntou.
Não reconheci de imediato, mas peguei o relógio de sua mão. Ao
observar melhor, lembrei que aquele relógio me pertencia, mas eu não o via
há algum tempo.
— Onde achou isso? – olhei confuso para ela.
— Entregaram a mim. – levantou-se e me olhou fixamente –
Inclusive, Isabella pediu para te desejar um Feliz Ano Novo.
Ouvir o nome daquela mulher imediatamente me trouxe algumas
lembranças. O relógio na mão de Hannah era exatamente o que eu tinha
esquecido na casa de Isabella em alguma noite em que dormi lá. Eu nem senti
falta do mesmo e demorei a reconhecê-lo.
— Hannah, me deixe explicar. – falei imediatamente – Eu esqueci
esse relógio há muito tempo quando eu ainda tinha uma relação com Isabella,
mas desde que você e eu ficamos juntos, nunca mais a encontrei. Inclusive,
eu disse a ela que estava namorando e que não haveria mais nada entre nós.
— Eu sei.
A resposta me deixou surpreso.
Eu estava pronto para começar uma série de explicações para
convencê-la de que Isabella fazia parte do passado, mas o fato de Hannah não
discutir realmente me deixou sem palavras.
— Não quero brigar, Kevin. Eu vim até aqui porque queria conversar
com você sem aquela confusão lá fora. Não foi agradável para mim ter que
encarar aquela mulher, mas percebi que ela fizera de propósito. O que ela
queria era que eu pensasse que você estava me traindo.
— Sabe que eu não faria isso, Hannah. – coloquei o relógio no meu
bolso – Principalmente depois do que acontecera comigo no passado.
— Isabella mostrou que ainda quer você e que quer me ver longe.
— Isso não vai acontecer. Além do mais, eu não sei o que ela está
fazendo aqui.
Pensei no meu pai e no quanto ele gostaria que eu me casasse com
Isabella.
Uma suspeita pairou sobre minha cabeça e eu quis acreditar que não
fosse verdade. Meu pai não teria chamado Isabella aqui com o intuito de que
ela prejudicasse meu relacionamento com Hannah.
— Vamos esquecer Isabella e deixar isso para lá. – segurei seu rosto
entre minhas mãos – Se eu estou com você é porque existe um motivo muito
especial para isso, Hannah. Não importa quantas mulheres eu fiquei no
passado, no meu presente e futuro só existe você.
Eu a beijei com paixão.
Quis aproveitar que estávamos sozinhos e a apertei contra meu corpo
passando um dos braços em torno da sua cintura enquanto pressionava seu
corpo contra o meu. Hannah deixou que minha língua explorasse toda a sua
boca e não demorou muito até que eu estivesse excitado e com vontade de me
enterrar nela.
Sua mão agarrou meus cabelos e eu podia sentir seus seios roçando
contra meus músculos. Mesmo vestidos, aquela sensação era maravilhosa.
Deslizei meus lábios até seu pescoço e pude sentir sua pele arrepiar. O aroma
dela era delicioso e me afetava em diversos níveis. Há muito tempo eu não
me sentia tão conectado a uma mulher.
— Hannah, eu seria capaz de arrancar sua roupa aqui mesmo. – falei
com meus lábios roçando sua pele – Mas infelizmente essas paredes são
transparentes.
— Que pena... – ela suspirou.
— Vamos voltar para o salão e esquecer o que aconteceu. Em relação
a Isabella, não precisa se preocupar.
— Tenho receio do que ela possa fazer depois de ver que a história do
relógio não deu certo.
— Fique tranquila que eu vou resolver isso.
Saímos do jardim de inverno e voltamos para o salão.
Durante o resto da festa eu não vi mais Isabella. Talvez ela tivesse ido
embora logo após entregar o relógio a Hannah. À meia-noite os fogos
explodiram no céu e eu agradeci pelo que tinha acontecido comigo naquele
ano. Conhecer Hannah tinha me feito ver que a vida não precisava acabar
após a traição da minha noiva e que eu poderia ser feliz novamente.
Cumprimentei meus familiares e aproveitei para tirar fotos com minha
sobrinha.
— Tio, eu posso passar o dia no seu apartamento antes de voltar às
aulas?
— Claro, princesa. – concordei – Podemos comer batata-frita e ver
filmes.
— Viu, papai? – Maddie olhou para o meu irmão – O tio Kevin
deixou.
— Tudo bem, cupcake.
Abracei minha mãe e lhe dei um beijo no rosto.
— Hannah fez um milagre. Agora você tem passado mais tempo aqui
em casa.
— Vá agradecer a ela. – sorri.
Apertei a mão do meu pai e em seguida lhe dei um abraço.
— Podemos conversar depois da festa? – perguntei.
— Claro. Encontre-me no escritório daqui a pouco.
Após os cumprimentos de Ano Novo, os convidados começaram a ir
embora e a mansão esvaziou-se consideravelmente. Alicia e Ryan foram os
primeiros da família a se despedir, eles iriam para o quarto descansar e
colocar Luca para dormir. Louis levou Maddie em seguida e nossos amigos
também se despediram.
Subi com Hannah para meu antigo quarto onde passaríamos a noite.
— Preciso tomar um banho e tirar esse sapato. Meus pés estão
doloridos. – comentou ao entrar no quarto e sentar na poltrona.
— Eu tenho que descer para conversar com meu pai. – agachei ao seu
lado – Vá descansar que eu prometo não demorar.
— Tudo bem. – ela concordou.
Saí do quarto após lhe dar um beijo e desci as escadas. Fui até o
escritório e bati na porta. Ouvi a voz grave do meu pai do outro lado me
chamando para entrar. Assim que abri a porta, encontrei com ele de pé
segurando um copo de uísque e olhando através da janela. O escritório estava
na penumbra, apenas dois abajures estavam acesos e meu pai se mantinha
tranquilo olhando através da janela.
— Sobre o que gostaria de conversar, Kevin?
— Quero falar do que aconteceu hoje na festa. – coloquei as mãos nos
bolsos laterais da calça – O que Isabella estava fazendo aqui?
— Isabella foi convidada pela empresa. – respondeu se virando para
mim – Algum problema?
— Ela foi até Hannah entregar-lhe um relógio que eu esqueci no
apartamento dela. Isabella quis insinuar que eu estive por lá nos últimos
tempos, o que não é verdade.
— Entendo. – limitou-se a responder.
— Você a convidou de propósito para que fizesse isso?
— É claro que não, Kevin. – meu pai respondeu com a voz ainda mais
grossa – Convidei todos os funcionários da empresa que são chefes de seus
departamentos, seja financeiro, jurídico, marketing, entre tantos outros. – ele
colocou o copo de uísque sobre sua mesa – Se Isabella planejou alguma
coisa, ela é a única responsável.
— Mas você sempre insistiu para que eu tivesse um relacionamento
com ela.
— Sim e não vou negar. – encostou-se à mesa e um tornozelo por
cima do outro – Mas estou cansado de lhes dizer o que devem ou não fazer.
Eu interferi na decisão de Alicia no passado porque não concordava que ela
namorasse um Beaumont, mas hoje vejo minha filha feliz e realizada. Se você
acredita que Hannah é a mulher certa para você, eu vou te apoiar. Não tenho
nada contra sua namorada, Kevin.
— Obrigado, pai. – agradeci com sinceridade e me senti mal por ter
desconfiado de suas intenções – Pelo visto Isabella não desistiu.
— Não se preocupe com ela, Kevin. O importante é Hannah confiar
em você e não se abalar com as loucuras de Isabella. Uma hora ela vai
desistir quando vir que seu plano não está surtindo efeito. – ele afastou-se da
mesa – Agora preciso subir, sua mãe está me esperando.
Meu pai se aproximou de mim e colocou a mão no meu ombro. Seus
olhos me observavam com atenção e novamente eu me senti culpado por ter
acreditado que ele seria capaz de estragar meu relacionamento.
— Suba e vá descansar. Boa noite.
Ele me deixou sozinho no escritório e eu respirei fundo.
Por sorte Hannah acreditou em mim, mas o desfecho dessa confusão
poderia ter sido diferente. Isabella era uma mulher esperta e eu duvidava que
ela fosse desistir tão facilmente.
Subi até meu quarto e Hannah já me esperava sentada na cama usando
uma camisola azul clara que combinava com seus olhos. Eu sorri já me
despindo das roupas na intenção de me meter debaixo dos lençóis com ela.
Joguei a calça e a camisa sobre uma poltrona qualquer e subi na cama
apenas de cueca. Seu sorriso me mostrava o quanto estava feliz e que a
confusão do relógio já tinha sido deixada de lado.
— Demorei? – perguntei antes de distribuir beijos em seu pescoço.
— Não muito. – ela jogou a cabeça para trás me dando ainda mais
liberdade para explorar sua pele.
Não queria esperar mais, queria aproveitar o tempo sozinho com
Hannah. Minhas mãos passearam pelo seu corpo enquanto minha boca
buscava a sua. Nosso beijo foi voraz, como se não nos víssemos há anos. Em
pouco tempo ela já estava deitada sobre a cama, comigo sobre seu corpo e a
camisola suspensa até a cintura.
Agarrei sua calcinha e puxei para baixo, deslizando a peça por suas
pernas até que ela estivesse com a parte inferior do corpo nua. Hannah era
maravilhosa e eu já podia sentir a pulsação do meu pau dentro da cueca.
Por mais pressa que eu tivesse no momento, eu queria explorar seu
corpo um pouco mais. Abaixei uma das alças da camisola dela e deixei um
dos seus seios exposto. Hannah era tão linda que eu poderia passar o resto da
vida admirando-a sem me cansar. Suguei o seu mamilo rosado com calma.
Deixei que minha língua passeasse por ele lentamente e em seguida o chupei
com força. Hannah soltou um gemido baixo e agarrou meus cabelos.
Eu adorava suas reações, o que me deixou ainda mais sedento por ela.
Desci meu corpo e afastei suas pernas, afundando minha boca ali.
Ela arqueou, mas eu queria torturá-la ainda mais. Lambi, estimulei
seu clitóris e suguei sua intimidade até que ela gemesse e se contorcesse
gozando em minha boca. Sorri vendo-a toda vermelha e satisfeita, mas o meu
momento também tinha chegado. Tirei a cueca liberando meu pau rígido e
peguei uma camisinha na gaveta. Rasguei a embalagem e imediatamente
coloquei o preservativo.
Os olhos azuis de Hannah me observava com atenção e ela abriu
ainda mais as pernas me esperando. Era a visão mais perfeita que eu já tinha
visto na vida e nem em mil anos eu esqueceria. Devagar, eu a penetrei. Senti
meu pau entrando centímetro por centímetro naquele lugar apertado. Soltei
um gemido de satisfação ao sentir meu pênis todo dentro dela.
— Caralho, isso é muito bom! – exclamei com a respiração ofegante.
— Sim. – ela cravou as unhas em minhas costas – Eu quero você,
Kevin.
Eu não precisava de mais nada. Comecei a me movimentar dentro
dela sentindo meu pênis ser cada vez mais apertado. Era difícil me segurar,
mas eu queria prolongar ao máximo a sensação. Hannah me agarrou com
ainda mais força e passou suas pernas em torno da minha cintura. Meu
quadril se movia levando meu pau até o fundo.
Nossos corpos começaram a suar e meu coração bater acelerado.
Apertei sua coxa com força cravando meus dedos em sua pele e fiz ainda
mais força.
— Isso... – ela gemeu ofegante.
Em pouco tempo Hannah se contorceu debaixo de mim e chegou ao
orgasmo. Aquilo foi o bastante para me fazer perder o controle e gozar logo
em seguida. A sensação era maravilhosa e eu deixei meu corpo cair sobre o
seu enquanto eu tentava puxar o ar para dentro dos pulmões.
— Feliz ano novo, linda. – sussurrei em seguida – Eu realmente não
acreditava que começaria o ano dessa forma.
— Por quê? – ela perguntou se virando para mim.
— Porque esse último ano eu superei bastante coisa e finalmente
consegui me entregar a alguém. – coloquei a mão sobre seu rosto – Obrigado,
Hannah.
— Eu que agradeço. – piscou os lindos olhos azuis devagar – Você
tem sido incrível comigo, foi paciente e principalmente, nunca se importou
com o fato de eu não ter a mesma situação financeira.
— Eu não estou nem aí para o fato de eu vir de uma família rica. –
debrucei sobre ela – Você é linda, inteligente, humilde e gostosa demais.
Então eu não preciso de mais nada.
— Você é maravilhoso, Kevin Walsh. Faz eu me sentir a mulher mais
linda do mundo.
— E você é.
Quando o feriado passou e a semana começou de fato, eu dirigi até a
empresa do meu pai.
Poucas vezes eu ia até a Walsh Publishing House e quando isso
acontecia, muitas pessoas me olhavam espantadas. Usei o cartão de acesso
para passar na roleta do térreo e peguei o elevador. Ao parar no
quinquagésimo sexto andar, as portas se abriram e eu pude ver Lizzie entrar.
Ela imediatamente sorriu ao me ver.
— Kevin, que surpresa agradável! – ela me abraçou.
— Oi, Lizzie. – dei-lhe um beijo na bochecha – Sempre me espanta o
fato de você nunca me confundir com meu irmão.
— Acho que me acostumei. – ela deu de ombros – Além do mais,
acabei de ver o seu irmão na sala com a equipe de fotografia. Ele teria que ser
um x-men para estar dentro desse elevador também.
Dei uma risada.
Eu saí do elevador no andar direcionado à publicidade da empresa.
Passei pelo corredor que indicava onde ficava a diretoria e encontrei com
uma recepcionista negra, magra e que usava óculos de grau. Ela notou minha
presença e levantou o olhar.
— Bom dia, Sr. Walsh. – cumprimentou-me e por mais que eu não a
conhecesse, eu sabia que todos na empresa me conheciam.
— Bom dia. – respondi – Eu gostaria de falar com a Srta. Blanc.
— Pois não, vou avisá-la de que está aqui.
Esperei até que ela fizesse a ligação para a sala de Isabella. Eu me
sentia furioso, mas não queria perder a cabeça. Porém, ignorar o que Isabella
tinha feito era impossível.
— Ela disse que está esperando-o, Sr. Walsh.
— Obrigado.
Caminhei a passos firmes até a porta onde uma placa dourada
indicava Isabella Blanc – diretora de publicidade. Dei duas batidas com os
nós dos dedos e abri a grande porta. Isabella estava sentada em sua cadeira e
recostada daquele jeito superior tentando transmitir seu jeito sexy enquanto
estampava um sorriso nos lábios.
Há alguns meses eu realmente me sentia muito atraído por ela, mas
agora, Isabella não passava de apenas uma mulher comum.
— Que surpresa te ver aqui, Kevin. – ela levantou-se.
Usava uma saia preta justa ao corpo que ia até acima dos joelhos e
uma blusa branca com um decote discreto. Na cintura, um cinto preto e as
unhas longas e vermelhas chamavam a atenção. Ela jogou os longos cabelos
pretos de lado e ficou de frente para a mesa, recostando-se nela
— A que devo a honra? – perguntou.
— Não é nenhuma surpresa a minha presença aqui, Isabella. Você
sabe porque vim.
— Saudades? – deu um sorriso bem malicioso – Tenho algum tempo
até minha próxima reunião.
— Não vim transar, Isabella. Vim te avisar que seu plano com aquele
maldito relógio não deu certo.
— Plano? – ela pareceu chocada – Eu só quis fazer um favor, meu
amor.
O cinismo dela me deixou nauseado.
Como eu nunca havia notado o quanto Isabella era superficial e
sonsa?
— Preste atenção no que vou falar, Isabella. Fique longe de Hannah. –
dei um passo adiante ficando mais próximo a ela – Não se rebaixe fazendo
esses joguinhos.
— Você está cego por aquela garota. Ela é só um rostinho bonito, mas
é um peixe fora d’água e não combina nem um pouco com a família de onde
você veio.
— Acha que me importo com isso? Hannah é uma mulher incrível. –
afastei-me dando dois passos para trás – Procure outro cara, Isabella. Você
tem capacidade para isso.
— Seu pai sempre achou que eu era a mulher ideal para você. –
insistiu.
— Tenho novidades: eu não sou meu pai.
Virei as costas e saí da sala a passos largos.
Eu sabia que tinha feito a coisa certa mostrando a Isabella que ela não
tinha chances e não conseguiria estragar meu relacionamento, mas eu tinha
dúvidas sobre o fato de ela desistir tão facilmente. Isabella sempre foi
determinada e nunca descasou antes de atingir seus objetivos.
Talvez, ela ainda voltasse a atacar.
Capítulo 33
HANNAH

Logo após a pausa para as festas, nós retornamos ao trabalho.


Mais uma vez eu tinha colocado meu uniforme de comissária e ia ao
caminho do aeroporto. Minha mala estava pronta e eu aproveitava o tempo
que ainda tinha comecei a pesquisar por algumas novas maquiagens no
celular enquanto estava sentada no banco de trás do carro.
Louis havia me deixado animada sobre a possibilidade de realizar
alguns trabalhos em sua equipe.
Fiquei tão absorta nas novidades de produtos para a pele que nem
mesmo percebi que já havíamos chegado ao meu destino.
— Obrigada. – agradeci ao descer do veículo.
— Tenha um excelente dia, Srta. Davis.
O motorista entregou-me a minha mala e eu caminhei para o interior
do aeroporto. Como sempre uma grande quantidade de pessoas andava de um
lado para o outro de maneira apressada. Malas eram arrastadas e outras
pessoas corriam para não perderem seu voo. Fui até a sala da companhia
aérea e ao chegar não encontrei ninguém além do chefe da tripulação, Albert
Becker.
— Bom dia, Sr. Becker. – cumprimentei.
— Bom dia, Srta. Davis, que bom que chegou. Podemos conversar?
— Claro.
— Vamos até minha sala.
Apesar do pedido estranho, eu aceitei. Geralmente isso acontecia
quando mudava alguma política na empresa ou quando uma nova proposta
surgia. Eu tinha chegado há pouco tempo na tripulação, achei improvável que
eles me convidassem para fazer parte de outro grupo.
Subi as escadas até a sala que poucas vezes frequentávamos e cada
um sabia que lá dentro receberia uma importante notícia. O Sr. Becker abriu a
porta e eu entrei em acomodando na cadeira de frente para sua mesa.
Calmamente ele se acomodou e me observou com seus olhos castanhos por
trás dos óculos de grau quadrados.
— Bem, Srta. Davis, eu a chamei aqui hoje, mas admito que não
gostaria de fazê-lo.
— Como assim, Sr. Becker? – perguntei bastante confusa.
— Recebi uma informação bastante séria sobre a senhorita e
infelizmente, vou precisar desligá-la da nossa empresa.
Aquelas últimas palavras chegaram aos meus ouvidos e meu cérebro
pareceu demorar a processá-las. Fiquei completamente abismada e não
consegui responder de imediato. Albert Becker provavelmente notou minha
surpresa e apenas esperou que eu reagisse. Como assim eles estavam me
demitindo?
— Me desculpe, senhor, mas que informações? – questionei.
— Chegou até nós que a senhorita e o Sr. Walsh estão tendo um
relacionamento amoroso.
Engoli em seco.
Kevin e eu sempre tomamos cuidado para que ninguém nos visse
juntos justamente para que ninguém da companhia soubesse de nada. O único
que tinha essas informações era Caleb. Será mesmo que ele teria sido capaz
de nos prejudicar?
— Sr. Becker, eu acredito que pode estar havendo um engano. – tentei
contornar a situação.
— A senhorita sabe que não há nenhum engano de nossa parte,
senhorita Davis. Recebemos fotos de vocês dois juntos em mais de uma
ocasião e tenho de confessar que fiquei bastante surpreso, principalmente
porque o Sr. Walsh faz parte da nossa equipe há um bom tempo e sabe das
regras melhor do que ninguém.
— Vocês vão demiti-lo também? – perguntei sem acreditar que
tínhamos sido dedurados.
— Seria antiético da minha parte lhe dar essa resposta, senhorita.
Ele inclinou-se para a frente e apoiou os cotovelos sobre a mesa. Seus
olhos me observavam com atenção.
— Sinceramente, eu não achei que teria de tomar essa atitude em
relação a você. Sempre me pareceu muito correta, por isso foi promovida a
comissária internacional.
— Por que estão me punindo por isso? Eu nunca deixei de cumprir
com minhas funções, independentemente de ter ou não um relacionamento
amoroso com quem quer que seja.
— Mas isso vai de encontro com as nossas políticas dentro da
empresa. Temos uma nova pessoa para colocar no seu lugar. – falou – Srta.
Davis, nessa semana entraremos em contato para que a senhora venha assinar
os papéis e receber o dinheiro ao que tem direito.
Minutos depois de assinar minha demissão, eu saí da sala da
companhia um pouco perdida. Por sorte, nenhum dos meus, agora, ex-
companheiros estava ali. Arrastei minha mala pelo saguão do aeroporto sem
saber exatamente para onde iria, apenas caminhava sem direção.
Eu tinha me preparado, chegado para trabalhar como qualquer dia
normal e poucos minutos depois eu me via desempregada. Por que eu? E
Kevin, o que aconteceria com ele?
Uma lágrima escorreu pelo meu rosto. Era um bom salário que
ajudava muito a minha tia a pagar as contas e lidar principalmente com a
hipoteca da casa e todas as dívidas que tínhamos. Agora eu precisaria de um
emprego, e talvez, trabalhar em mais de um local para tentar receber um
salário razoável.
Quando eu estava prestes a sair do aeroporto e pegar um táxi para
voltar para casa, acabei vendo Jasmine, que descia de um carro e ao me ver,
veio na minha direção arrastando sua mala. Ela também estava vestida com o
uniforme da empresa e seus cabelos castanhos presos em um coque. Pude
notar que sua expressão animada mudou para um olhar preocupado ao notar
que eu não estava bem.
— Hannah? – perguntou ao se aproximar – Aconteceu alguma coisa?
Jasmine sempre foi a uma boa pessoa comigo. Eu gostava bastante
dela e sem dúvidas sentiria sua falta.
— Fui demitida. – respondi em um tom de voz baixo.
— O quê?! – seus olhos castanhos se arregalaram – Mas por quê?
Eu não sabia se eu deveria falar o motivo.
Jasmine era legal, mas Kevin e eu não tínhamos dito a ninguém sobre
nossa relação, exceto Caleb. Uma voz dentro de mim ainda me dizia que
talvez pudesse ter sido ele que contara sobre nós, mas Kevin confiava tanto
no amigo que eu tentei a todo custo afastar essa suspeita.
— O Sr. Becker disse que eu descumpri algumas regras da empresa. –
suspirei.
— Você sempre foi excelente funcionária, Hannah. Isso não está
certo! – Jasmine colocou as mãos na cintura em sinal de indignação – Eles
vão colocar outra pessoa no seu lugar?
— Parece que sim.
— Isso está muito estranho. – ela ponderou – Não tem motivos para
demitirem você a não ser que essa nova pessoa esteja envolvida com alguém
aqui na empresa e decidiram tirar você para colocá-la.
Jasmine não sabia o real motivo de eu ser demitida e eu preferi deixar
assim por hora. Ainda não tinha falado com Kevin, provavelmente ele ainda
nem sabia o que tinha acontecido comigo e eu achei melhor que ele só
descobrisse na hora da tripulação subir na aeronave ou ele seria capaz de
fazer uma besteira e decidir nem viajar.
— Hannah, eu de verdade sinto muito.
— Tudo bem, Jasmine. – respondi tentando lhe dar um sorriso – Eu
vou procurar um novo emprego e tudo var dar certo.
— Se precisar de alguma coisa, fale comigo, eu adoraria poder ajudar
em algo. – ela me abraçou – Eu adoro você, Hannah.
— Obrigada. – retribuí o abraço – Eu também adoro você, Jasmine.
Vou sentir sua falta.
— Veja bem, mesmo que a gente não viaje mais juntas, podemos
combinar de nos encontrarmos e comer alguma coisa quando eu estiver em
Nova York. – segurou minhas mãos – Quero continuar a ter sua amizade.
— Será ótimo. – sorri.
— MAS QUE MERDA ESTÁ ACONTECENDO?
Ouvi a voz de Kevin, um som que eu conheceria a quilômetros de
distância. Olhei para o lado e ele estava com uma expressão nervosa. Vestido
com seu uniforme de piloto, com a camisa branca, gravata escura e paletó,
Kevin era sem dúvidas o homem mais lindo que eu já tinha visto. Eu o teria
beijado se não estivesse tão chateada e preocupada com tudo que estava
acontecendo, além de estar quase na porta do aeroporto, rodeada de pessoas.
— Kevin, você acredita que demitiram a Hannah? – Jasmine logo
respondeu com aquele mesmo tom de voz indignado de antes.
— Eu acabei de saber dessa merda! O Becker é uma babaca! – xingou
– O que ele falou para você? – seus olhos verdes estavam escuros e focados
em mim.
— Ele descobriu. – respondi apenas isso, sabendo que ele entenderia
o que eu queria dizer.
— Como?
— Enviaram fotos para ele.
— Filho da puta! – xingou e passou a mão no rosto.
— Do que vocês estão falando? – Jasmine perguntou com um olhar
confuso.
— Hannah e eu estamos namorando e o Becker recebeu fotos de nós
dois juntos. – Kevin respondeu.
— O quê?!
O queixo de Jasmine caiu.
Seus olhos castanhos piscaram várias vezes antes de finalmente
focarem em mim.
Como eu já tinha sido demitida, não fazia mais sentido escondermos.
Finalmente depois do que pareceu uma eternidade, Jasmine sorriu e
deu um pulinho animado antes de abrir os braços e me abraçar mais uma vez.
— Estou tão feliz de saber disso! – apertou-me – Parabéns! – soltou-
me e olhou para Kevin – Vocês fazem um casal maravilhoso.
— Obrigada. – respondi ainda atordoada.
— Uma pena que o Sr. Becker demitiu você, Hannah. – ela lamentou
– Eu acho isso uma bobagem. O relacionamento de vocês nunca atrapalhou o
trabalho e eu nem mesmo percebi que havia algo entre os dois.
— Tentei a todo custo evitar que alguém descobrisse sobre isso
justamente para que Hannah não tivesse problemas já que estava há pouco
tempo na tripulação. – disse Kevin passando o braço por sobre meus ombros
– É um absurdo que Hannah seja a única prejudicada dessa história já que eu
também estava envolvido.
— Como ficou sabendo? – perguntei.
— Becker me chamou na sala para me comunicar que você tinha sido
desligada da empresa e que eu deveria recepcionar a nova comissária.
— Você a viu?
— Eu nem deixei o desgraçado terminar de falar, saí da sala
imediatamente atrás de você.
— Eu só não entendi uma coisa. – Jasmine nos interrompeu –
Hannah, você disse que enviaram fotos para o Sr. Becker, certo? – eu assenti
com a cabeça – Mas quem pode ter feito isso?
— Não tenho certeza, Jasmine, mas suspeito de uma pessoa. – Kevin
falou baixando o olhar para mim.
Será que ele também suspeitava do próprio amigo?
— Quem? – Jasmine perguntou curiosa.
— Prefiro não dizer ainda, mas vou descobrir, pode ter certeza.
— Reunião aqui e não me chamaram?
Dessa vez quem apareceu foi Caleb. Ele também estava uniformizado
e segurava um copo de café. Ele estava com fones de ouvido e tirou-os ao se
aproximar de nós.
— Acabei de conhecer a nova comissária. Fiquei me perguntando
quem tinha saído da tripulação, mas como estamos todos aqui, pelo visto foi a
Sandra. – ele comentou.
— Não, Caleb, foi Hannah quem saiu. – Kevin falou para o amigo.
— Por quê? – ele olhou para mim.
— Na verdade, o Sr. Becker me demitiu porque descobriu do meu
namoro com Kevin.
— Mas que merda! – ele xingou – Como ele ficou sabendo?
— Enviaram fotos. – meu namorado respondeu antes de me dar um
beijo no alto da cabeça – Mas eu já sei quem pode ter feito isso.
— Quem? – Caleb também perguntou curioso.
— Acho que vocês já sabem. – Kevin olhou para mim – Nós vamos
resolver isso juntos.
— Como?
— Vou arrumar um voo para a Dinamarca para você, o mais cedo
possível. Vou reservar o hotel e nós vamos dar um jeito de resolver toda essa
merda.
Kevin me deu um beijo rápido nos lábios e segurou minha mão me
levando para dentro do aeroporto novamente. Caleb e Jasmine vieram
correndo logo atrás e nós quatro fomos até o balcão da companhia. Eu achava
muito difícil que ele conseguisse um voo de última hora, mas pilotos sempre
tinham alguns privilégios, principalmente quando se tratava de um piloto
bilionário.
Depois de alguns minutos, Kevin conseguiu um voo que saísse três
horas após o dele na primeira classe, a única com poltrona disponível. Fiquei
pasma, mas preferi não comentar nada e simplesmente forçar e me acostumar
que gastar um bom dinheiro fazia parte da vida de Kevin desde que ele
nascera.
— Que bom que conseguiu. – Jasmine comentou – Eu vou para a sala
da companhia agora antes que digam que eu cheguei atrasada.
— Eu vou com você. Só tinha vindo buscar um café. – Caleb falou
mostrando seu copo.
— Nos encontramos na Dinamarca então, Hannah. – Jasmine me
abraçou e saiu arrastando sua mala acompanhada do copiloto.
— Você vai ficar hospedada no meu quarto como visitante no mesmo
hotel de sempre. – Kevin falou esegurou meu rosto entre as mãos – Tenho
certeza que essas fotos foram obra de Sandra.
— Você acha?
— Tenho certeza, Hannah, mas vou confrontá-la. O importante é que
Sandra não saiba que você vai viajar. Falei com Jasmine e Caleb para não
dizerem nada. – seus olhos verdes me olhavam com intensidade – E não se
preocupe com nada, eu darei um jeito.
Seus lábios encontraram os meus em um beijo calmo, mas bastante
apaixonado. Por um momento eu esqueci de todo o mundo e que estávamos
no meio do aeroporto. Quando Kevin se afastou de mim, senti imediatamente
um vazio.
— Eu preciso voltar para a sala. – ele alisou meu rosto com os nós
dos dedos – Troque de roupa, coma alguma coisa e nós nos vemos lá no
hotel.
Kevin pegou a carteira dentro do bolso da calça e retirou dela algumas
notas.
— Aqui tem dinheiro para você almoçar e algumas coroas
dinamarquesas para pegar um táxi lá na Dinamarca e vai sobrar ainda.
— Não, Kevin, não precisa.
— Linda, você não precisa ser orgulhosa comigo. Eu inventei essa
viagem, então eu vou pagar tudo. – assenti e aceitei o dinheiro.
— Mas tem muito aqui.
— Não importa, é bom que sobre mesmo caso você precise. –
levantou meu queixo – Cuidado e nos vemos lá.
— Boa viagem e obrigada.
— Não precisa me agradecer, linda. Boa viagem.
Ele me deu novamente um beijo e se afastou caminhando a passos
largos. Eu o conhecia o suficiente para saber que ainda estava bastante
nervoso e irritado com o que acontecera. Girei nos calcanhares e aproveite o
tempo que tinha para ir ao banheiro e trocar de roupa. Eu não vestiria mais
esse uniforme, mas Kevin tinha me dado uma esperança.
Decidi deixar para contar a minha tia quando retornasse para os
Estados Unidos. Já que eu viajaria a trabalho de toda forma para a
Dinamarca, era melhor deixar como estava.
Após trocar de roupa e escolher uma calça cor de chocolate, um
sobretudo da mesma cor e um suéter cor de marfim, botas marrons e soltar os
cabelos, fui até um restaurante no aeroporto para comer alguma coisa. Meu
celular vibrou no meu bolso e ao pegá-lo vi que Niels havia me mandado
uma mensagem.
“Faz tempo que não vem à Dinamarca. Tenho uma viagem marcada para
Nova York no próximo mês. Precisamos sair e conversar um pouco.”
Achei que após Sandra tentar alguma coisa, ele teria desistido. Preferi
não responder e guardei o celular novamente. Pedi um prato de nhoque para o
almoço e mandei mensagens para Juliet explicando tudo que acontecera.
Horas depois, durante o início da madrugada, eu chegava à
Dinamarca.
A viagem tinha sido incrível e eu pude assistir a alguns filmes na
primeira classe do avião sentada naquelas cadeiras super confortáveis.
Kevin havia me mandado uma mensagem dizendo que já estava no
hotel e eu respondi assim que peguei um táxi.
A noite estava bem fria na cidade e eu agradeci pelo aquecedor do
veículo.
Agarrei o pingente em formato de avião pendurado em meu pescoço e
fiquei brincando com ele, um hábito que eu havia adquirido desde que o
ganhara e que fazia com que eu me sentisse próxima ao meu namorado.
Desde que ficamos juntos, Kevin tinha se mostrado um cara incrível e
fazia com que eu me apaixonasse ainda mais dia após dia. Apesar de no
momento minha vida profissional não estar às mil maravilhas, a amorosa
estava perfeita. Recostei no carro e esperei até que finalmente o veículo
encostou em frente a porta do hotel.
— Obrigada. – agradeci e tirei algumas notas da bolsa entregando
para o motorista.
— Tenha uma boa noite, senhorita.
Respondeu com seu sotaque carregado.
Imediatamente um funcionário do hotel se aproximou e pegou minha
bagagem.
Essa era a primeira vez que eu viajava para outro país como turista e
não como funcionária. Entrei no hotel e fui até a recepção. Kevin havia me
passado as informações para confirmar o número do quarto.
— Boa noite, senhorita. – a recepcionista me cumprimentou – Em que
posso ajudá-la.
— Boa noite. – respondi – Estou registrada como visitante na suíte
trezentos e dois.
— Só um momento.
Ela pesquisou alguma coisa em seu computador e olhou para mim
com um sorriso.
— Perfeito, Srta. Davis. – falou após verificar meu nome – Pode me
mostrar seu documento?
Entreguei meu passaporte e esperei alguns minutos até que ela me
registrasse e me entregasse um cartão de acesso. Agradeci e subi para o
quarto arrastando minha própria mala e dispensando a ajuda de um
mensageiro. Peguei o elevador e senti meu corpo todo se aquecer diante da
certeza de encontrar com Kevin.
Parei de frente para a porta da suíte e encostei o cartão no leitor. Ouvi
o barulho da porta destrancando e girei a maçaneta. Ao empurrar a porta,
antes que eu pudesse entrar, vi Kevin vestido apenas com uma cueca preta
sentado na poltrona com um sorriso nos lábios.
— Finalmente, linda.
Levantou-se mostrando seu corpo musculoso e seminu que às vezes
eu custava a acreditar que era real.
Engoli em seco e nem consegui me mexer enquanto estava
hipnotizada por aquela visão. Kevin era simplesmente lindo e fazia com que
eu esquecesse de tudo.
— Não vai entrar? – perguntou sorrindo enquanto se aproximava.
— Você me distraiu.
— Essa é a intenção.
Dei alguns passos e entrei no quarto, fechando a porta atrás de mim
em seguida. Kevin encurtou a distância entre nós e parou na minha frente,
puxando-me pela cintura e me grudando ao seu corpo.
— Temos algumas coisas para resolver, mas primeiro quero
aproveitar um tempo com você.
Seus lábios capturaram os meus e eu larguei a bolsa no chão.
Agarrei-me a ele como se no momento, essa fosse a única coisa certa
na minha vida. Kevin me apertou contra seu corpo com força e eu pude sentir
meus seios sendo espremidos contra os seus músculos. Arfei e soltei um
gemido enquanto nossas línguas se entrelaçavam.
Rápido e de maneira habilidosa, Kevin arrancou meu casaco jogando-
o no chão.
Soltei um gritinho quando ele me pegou no colo e me carregou até a
cama. Com cuidado, ele me deitou sobre o colchão e seus olhos passearam
sobre meu corpo. Kevin tirou minhas botas e minhas meias, abriu o botão da
minha calça e puxou-a pelas minhas pernas me deixando de suéter e calcinha.
— Tão linda...
Sorri quando ele começou a beijar minha barriga enquanto afastava o
meu suéter para cima até mostrar meu sutiã preto. Minha pele toda se
arrepiou quando sua língua deslizou em torno do meu umbigo e eu fechei os
olhos saboreando cada uma das sensações. Eu ajudei Kevin a tirar meu suéter
e sentei na cama apenas de lingerie.
Levei a mão até o fecho do seu sutiã e o abri. Meus seios ficaram
expostos para o olhar de Kevin e acho que essa foi a primeira vez que não me
senti nervosa ou envergonhada. Ele já tinha me provado diversas vezes que
não precisava me esconder e me dava ainda mais confiança. Meu maior
problema não era com a questão da beleza, eu sabia que era uma mulher
bonita, mas minha inexperiência diante de Kevin muitas vezes me inibia.
Ele respirou fundo e sentou na cama me puxando para seu colo.
Acomodei-me de frente para ele sentada de pernas abertas. Kevin passou as
mãos pela minha cintura, afastou meus cabelos para trás dos ombros e
observou meus seios com aqueles lindos olhos verdes carregados de luxúria.
Senti sua língua deslizar pelo meu mamilo e joguei a cabeça para trás
sentindo toda minha pele se arrepiar e meu corpo queimar.
Kevin não parou apenas nisso e começou a sugar meu mamilo com
cuidado e de um jeito que fazia com que o prazer fosse se acumulando
lentamente dentro de mim. Eu respirei fundo e agarrei seus cabelos. Sua boca
me provocava enquanto sugava meu seio e depois fazia o mesmo com o
outro. Não sei por quanto tempo ficamos assim até que ele agarrou minha
calcinha e puxou a peça delicada com força suficiente para rasgá-la.
Minha pele queimou, mas além de surpresa, eu fiquei ainda mais
excitada.
Seus dedos deslizaram sobre minha intimidade e eu tremi. Kevin
brincou suavemente com meu clitóris e eu agarrei ainda mais seus ombros
cravando minha unha neles.
— Tão molhada... – sussurrou próximo a minha boca – Você está
pronta para mim.
Senti dois dos seus dedos deslizarem para dentro de mim e eu soltei
um gemido sem conseguir mais me controlar. Kevin começou com
movimentos lentos e alternava com movimentos mais brutos. Eu fechei os
olhos com força sem saber como lidar com todo aquele prazer de uma só vez.
Gemidos escaparam da minha garganta sem que eu pudesse me controlar e
quando cheguei ao limite, explodi em um orgasmo no colo dele deixando que
minha cabeça caísse sobre seu ombro.
Minha respiração estava ofegante e eu não conseguia me mexer.
Com cuidado, Kevin me deitou na cama e eu só consegui abrir os
olhos para observá-lo. Sabia que ainda tinha mais e por mais que me sentisse
cansada, eu queria senti-lo mais intimamente. Kevin tirou a cueca e ao vê-lo
totalmente nu meu corpo começou a reagir novamente.
Ele se debruçou sobre mim e afastou minhas pernas. Senti seu
membro rígido me invadir centímetro por centímetro até que me preenchesse
por completo. Kevin agarrou minha coxa e fez um leve movimento com o
quadril me fazendo soltar outro gemido. Seus lábios capturaram os meus em
um beijo avassalador quando ele imediatamente começou a se movimentar.
Suas estocadas foram lentas, mas propositalmente provocantes.
Minhas unhas arranhavam suas costas e ele não tinha a menor intenção de
parar. Aos poucos foi aumentando o ritmo e fazendo meu corpo se aquecer
cada vez mais. Meu coração bombeava o sangue com rapidez e minha
garganta produzia gemidos mais altos e fora de controle.
Quando eu estava perto de chegar a mais um orgasmo, Kevin parou e
saiu de cima de mim. Meu corpo todo se frustrou e eu ia reclamar, mas antes
que eu fosse capaz de articular qualquer protesto, ele me girou no colchão me
deixando de bruços e afastou minhas pernas. Gritei quando seu membro me
invadiu novamente e dessa vez Kevin não foi nada delicado.
Seu membro me invadia rapidamente até o fundo e eu agarrei o
colchão com mais força apertando os olhos. Meu corpo explodiu em um
orgasmo, mas Kevin continuou se movendo por mais algum tempo até que
foi sua vez de soltar um gemido e estremecer sobre mim antes de finalmente
atingir seu limite.
Eu estava com a respiração ofegante e os cabelos úmidos de suor.
Meu corpo não conseguia se mover e eu fiquei parada tentando me recuperar
enquanto Kevin saía de cima de mim e se jogava ao meu lado.
— Isso foi sensacional, linda. – falou com a respiração também
ofegante.
— Foi mesmo. – respondi e me virei para ficar de frente.
— Vem cá. – ele me abraçou me trazendo para junto do seu corpo e
me deu um beijo na testa – Que bom que está aqui.
— Foi uma loucura você inventar essa viagem de última hora.
— Você já estava pronta para vir mesmo. – baixou o olhar para
encontrar o meu – Não quero que se preocupe com o que aconteceu, nós
vamos dar um jeito.
— É difícil não pensar sobre isso. – suspirei – Além do mais, fiquei
tão irritada com essa demissão. Eu nunca deixei de cumprir nenhum dos
meus afazeres porque estamos em um relacionamento. Sempre fui uma boa
funcionária. – sentei na cama.
— Linda, é claro que você sempre foi excelente. – ele também se
sentou e me puxou para mais perto me abraçando – Além do mais, Becker
deveria ter usado o mesmo critério para mim e para você.
— Ele é um machista. – afirmei indignada.
— De fato, sim. – senti seus lábios me dando um beijo no pescoço –
Mas não se preocupe, eu vou resolver tudo. A nova comissária veio para
tapar buraco, ela é bem devagar pelo que Jasmine falou.
— Qual o nome dela?
— Acho que Lauren. – levantou-se e me estendeu a mão – Venha
tomar um banho comigo para descansarmos.
Acordamos horas mais tarde durante a metade da manhã e Kevin
pediu um café da manhã no quarto. Eu coloquei o roupão e dei um nó na
cintura e aproveitei para escovar meus cabelos enquanto esperava.
— Caleb disse que eles combinaram de sair para almoçar. – Kevin
falou entrando no banheiro – Vai ser nessa hora que vamos confrontar
Sandra.
— Tem certeza que foi ela? – perguntei indecisa.
— Você tem alguma dúvida, Hannah? – ele se recostou na pia –
Sandra cansou de dar em cima de mim durante todo esse tempo, mas eu
nunca correspondi. Tenho certeza que ela ficou irritada quando soube que eu
cedi em relação a você. Sandra sempre soube que eu não ficava com
mulheres com quem trabalho. – ele cruzou os braços – E te digo mais, linda,
ainda acho que pode ter dedo daquele tal de Niels também. O cara ficou
babando em você.
— Ele me mandou uma mensagem ontem. – falei após me lembrar
desse detalhe, que até então eu tinha esquecido porque julguei não ser
importante.
— Que filho da puta! – xingou – O que ele disse?
— Disse que tinha uma viagem marcada para Nova York e queria sair
comigo, mas eu não respondi nada. – guardei o pente dentro da minha
nécessaire.
— Esse dinamarquês não desiste.
Kevin me puxou pela cintura e grudou meu corpo ao dele. Seus olhos
me observaram profundamente. Eu adorava esse jeito que ele me olhava.
— Você é linda, por isso vários caras querem correr atrás. – ele me
deu um beijo calmo nos lábios – Mas eu sou o sortudo.
Sua mão deslizou por sobre minha bunda e apertou-a. Sorri e deixei
que Kevin me sentasse na pia e afastasse minhas pernas.
— Acho que temos algum tempo antes do café da manhã chegar. –
desatou o nó do meu roupão e o afastou dos meus ombros – Posso ser rápido
quando necessário.
Minutos depois de um sexo rápido no banheiro, eu me sentia leve e
pronta para encarar o dia. Nosso café da manhã chegou e Kevin levou o
carrinho até a mesa servindo nosso café.
Após comer com calma, eu me vesti cuidadosamente com uma calça,
botas de cano alto e suéter pretos, um sobretudo marrom e um cachecol
quadriculado. Ajeitei meus cabelos deixando-os soltos e verifiquei minha
franja no espelho. Passei uma maquiagem leve e peguei minha bolsa preta.
Kevin escolheu uma calça cor de grafite, uma bota marrom e sobretudo preto
com suéter cinza.
— Você é linda demais, sabia? – ele comentou ao me ver pronta.
— Você também é. – aproximei-me dele e lhe dei um beijo no queixo
– Você me distrai, mas confesso que vira e mexe penso no que vai acontecer
quando eu voltar para Long Island.
— Relaxe. Já disse para deixar comigo que vou resolver as coisas.
Kevin agia de maneira tranquila porque era bilionário e dinheiro
nunca foi problema. Ele nunca precisou do trabalho como piloto para
sobreviver. Talvez acreditasse que poderia resolver todas as minhas
dificuldades apenas oferecendo dinheiro, mas isso eu não aceitaria.
Ficamos no corredor do hotel esperando até que as meninas saíssem
do quarto quando fossem almoçar. Caleb foi o primeiro a aparecer e veio até
nós.
— Você realmente acredita que foi a Sandra, né? – perguntou.
— Tenho certeza disso, Caleb.
— Ela sempre foi um pouco invejosa. – ele comentou – Eu já falei
isso para Jasmine. Ela precisa tomar cuidado. – olhou em direção ao quarto
das meninas – Acho que você vai transformar o almoço da Sandra em algo
indigesto.
— É o que pretendo.
Esperamos alguns minutos até que a porta finalmente se abrisse. A
primeira a sair foi Jasmine, que sorriu em minha direção, atrás dela vinha
uma menina também morena, porém um pouco mais alta e com cabelos
cacheados. Certamente era a nova comissária. Sandra foi quem saiu por
último, sempre com seus cabelos loiros impecáveis e ondulados.
— Kevin, não sabia que ia almoçar conosco! – exclamou de imediato
tendo visto ele.
Caleb estava na minha frente e por ser mais alto que eu, foi fácil me
esconder logo atrás. Ele deu um passo para o lado liberando minha visão e os
olhos azuis de Sandra mostraram espanto ao notar minha presença.
— Hannah?! O que faz aqui?!
— Surpresa. – sorri.
— Esperava vê-la longe não é, Sandra? – Kevin falou dando um passo
a frente.
— Sr. Becker disse que ela tinha sido demitida, então não esperava
vê-la aqui. Foi só isso.
— E você sabe porque a demitiram. – ele cruzou os braços – Você
sabe que Hannah e eu estamos namorando. Você sabia há algum tempo e
escolheu a melhor hora para atacar.
— Vocês estão namorando?! – ela fingiu surpresa, mas Sandra não
era uma boa atriz.
— Não insulte minha inteligência, Sandra. É melhor você dizer que
nos viu juntos e acabar de vez com essa besteira. Só seja honesta uma única
vez.
— Tudo bem, Kevin! – ela colocou a mão na cintura – Eu fiz o que
deveria ter feito. Você sabe que é proibido relacionamento entre integrantes
da mesma tripulação. – ela olhou em volta – Todos aqui sabem disso.
— Mas isso não te impediu de dar em cima de mim desde que chegou
aqui, Sandra. – Kevin rebateu – O que você fez não foi para cumprir as regras
porque você zela pela ordem na empresa e sim por causa da sua dor de
cotovelo.
— Fala sério! – apontou para mim – Ela chegou e mal abria a boca e
de repente você estava aos beijos com ela por aí! Eu não sou gostosa ou você
tem tesão em ruivas?
— Não seja ridícula, por favor. – Kevin passou o braço em torno da
minha cintura e me puxou para perto – Tenho tesão em uma ruiva, mas o que
me chamou a atenção em Hannah foi justamente seu jeito mais discreto. Quer
saber? Já que estamos colocando as cartas na mesa e eu não tenho mais
motivos para esconder nada, vou contar a verdade, mas não porque você
mereça saber, Sandra, e sim porque acho que Jasmine merece.
— Eu?! – a morena se manifestou pela primeira vez.
— Caleb sempre soube a verdade, mas o que eu nunca contei para
quem trabalha comigo é que não sou só um piloto de avião. – fiquei surpresa
por Kevin finalmente decidir contar – Acho que vocês conhecem o
restaurante DW Walsh em Manhattan. Pois bem, minha mãe é a dona da
rede. Além disso, a empresa Walsh Publishing House pertence ao meu pai,
além de termos outras empresas também.
— Você está brincando! – Sandra exclamou com o queixo caído.
— Não estou e não aguentava mais ter que mentir sobre isso.
— Por que escondeu, Kevin? – Jasmine perguntou.
— Porque conheci muitas pessoas interesseiras ao longo da minha
vida e estava farto disso.
— Então quer dizer que além de tudo essa garota arrumou um homem
rico? – Sandra olhou para mim – Você deve estar adorando, né? Não sei
porque ficou choramingando uma demissão se você tem quem pague todos os
luxos que quiser. Pare de se vitimizar, Hannah!
— Você não me conhece, Sandra. – dei um passo a frente – Eu nunca
quis um centavo do Kevin, além do mais, eu também só descobri a verdade
depois. Eu não estou com ele por conta do seu dinheiro, eu nunca pedi um
dólar sequer e não vai ser agora que vou pedir. Eu tenho capacidade e força
de vontade o suficiente para conseguir ganhar meu próprio dinheiro e não vai
ser o seu plano ridículo que vai me impedir disso.
— Claro, agora temos a Madre Teresa bem aqui na nossa frente! – ela
bateu palma – A garota que não quer a vida boa que o namorado pode dar a
ela. – disse com ironia – Ai que vida triste, meu namorado tem muito
dinheiro, mas eu vou ficar aqui correndo atrás de um emprego porque prefiro
ganhar dez dólares por hora.
— Cale sua boca, Sandra. – Kevin se intrometeu – O seu mal é
acreditar que todos querem sempre tirar vantagem, igual a você. Eu por um
tempo acreditei nisso também, não te culpo, mas nunca é tarde para aprender
a melhorar.
— Você é muito hipócrita com seu discursinho. – ela rebateu – É fácil
falar isso quando você pode voltar pra Nova York e dormir na sua mansão
porque você brinca de trabalhar, não faz porque precisa.
— Todos precisamos trabalhar, Sandra. Seja para ganhar dinheiro ou
não. – ele falou calmamente – Um ser humano tem que contribuir para a
sociedade de alguma forma, para o próprio bem dele. Faz bem se sentir útil.
Portanto, se Hannah quiser trabalhar todos os dias eu vou apoiá-la, mas não
vou deixar de lhe proporcionar coisas boas.
— Você caiu mesmo na conversa de boa menina dessa aí, né? – fez
um movimento com o queixo me indicando.
— Preste atenção, Sandra. – falei – Você pode querer me insultar,
pode querer me chamar do que quiser para se sentir melhor consigo mesma,
porém nada disso me ofende. Eu sei a pessoa que eu sou e os valores na qual
fui criada. Por você, eu só lamento e sinto pena. Deve ser horrível ser uma
pessoa tão vazia.
— Não ficarei aqui ouvindo insultos! – ela olhou para Jasmine –
Vamos logo para o restaurante.
— Sinto muito, mas não vou com você, Sandra. – a morena
respondeu.
— Como assim, Jasmine? O que deu em você?
— Veja as coisas que falou e que você fez. Tudo por pura maldade e
para prejudicar a Hannah. Eu não quero almoçar com alguém assim.
— Você só pode estar brincando comigo! – arregalou os olhos em
surpresa e olhou para Caleb – Vai ficar também?
— Vou, Sandra.
— Vamos, Lauren.
Ela bufou e agarrou a mão da nova comissária que foi praticamente
arrastada para fora do corredor. Eu entendi a garota e não a culpava por isso,
afinal, Sandra não ia aceitar ficar sozinha e a Lauren tinha acabado de chegar
e provavelmente não estava entendendo nada.
— Nossa, o que foi isso? – Jasmine foi a primeira a quebrar o
silêncio.
— Foi bem desagradável. – comentei suspirando.
— Vamos deixar isso para lá. – Kevin falou e passou a mão por sobre
meus ombros – Vamos a um restaurante almoçar juntos. Tem um em um
bairro próximo que vocês vão adorar.
Saímos do hotel e pegamos um táxi até o bairro de Nyhavn, o mesmo
onde Kevin e eu fizemos um passeio pelo canal e almoçamos juntos. Era bom
não precisar mais esconder nosso relacionamento e Kevin não precisava mais
mentir sobre sua família.
Apesar de ter sido demitida da companhia aérea, eu me sentia em paz
pelo fato de saber que tinha pessoas que gostavam de mim e por ter
esclarecido quem nos denunciara. Agora, eu poderia focar no meu futuro e
começar a pensar no que faria.
Capítulo 34
KEVIN

Eu me sentia muito mais leve depois de ter contado a verdade.


Passei o resto do tempo que tinha na Dinamarca junto de Hannah e
aproveitamos cada momento.
Agora, já em Nova York, eu tinha algo muito importante para fazer.
Cheguei no dia anterior e mandei uma mensagem para meu irmão
dizendo que precisava conversar, Hannah chegou algumas horas depois de
mim em outro voo e já estava em Long Island descansando. Eu sabia que ela
estava preocupada, então decidi tentar sanar esse problema o mais rápido
possível.
Cheguei ao apartamento do meu irmão e assim que toquei a
campainha, ele abriu a porta.
— E aí, irmão. – cumprimentou-me.
— Olá, Louis. – eu apertei sua mão e lhe dei um abraço – Como vão
as coisas?
— Está tudo bem. – olhou por sobre meus ombros – Achei que viesse
com a Hannah.
— Dessa vez não.
— Tio!
Maddie correu em minha direção vestindo seu pijama rosa com
unicórnios e com o cabelo preso em duas tranças. Eu me abaixei o suficiente
para abraçá-la.
— Oi, princesa. – dei-lhe um beijo no rosto – Quais as novidades?
— Eu terei uma nova apresentação de balé no mês que vem.
— Espero poder ir.
— Cadê a Hannah? – perguntou.
— Ela está em casa com a família.
— E quando ela vai vir aqui me visitar?
— Prometo que ainda essa semana nós viremos aqui para assistir um
filme com você e traremos Cecile conosco.
— Ah, que bom!
— Cupcake, já terminou sua lição de italiano? – Louis perguntou.
— Estou terminando, papai.
— Então suba e termine que daqui a pouco vou até lá conferir.
Ela assentiu e subiu as escadas correndo. Fui até o sofá e me
acomodei. O apartamento do meu irmão era bem diferente do meu, realmente
parecia que alguém morava aqui. A pior parte de passar dias longe da cidade,
é que meu apartamento sempre parecia impecavelmente arrumado.
— Aceita uma cerveja? – meu irmão perguntou.
— Claro.
Louis trouxe duas garrafas e me entregou uma. Abri a tampa e dei um
longo gole.
— O que lhe trouxe aqui com essa urgência toda? – meu irmão
perguntou após se sentar no sofá.
— Hannah foi demitida porque descobriram nosso relacionamento.
— Que merda! – exclamou – Como eles descobriram isso?
— Uma das comissárias que trabalha conosco enviou fotos nossas
para o chefe da companhia. – respondi – Agora ela está desesperada porque
não quer ficar sem emprego e precisa do dinheiro para ajudar a família.
— E é claro que ela não aceitou sua ajuda financeira.
— De maneira nenhuma. Porém quero fazer algo, não ficarei de
braços cruzados. Por isso vim falar com você.
— O que precisa?
— Lembro que você disse que se tivesse uma vaga para maquiadores
na sua equipe durante as sessões fotográficas, você convidaria Hannah para
participar. Será que é possível, pelo menos em alguns trabalhos? – perguntei
cheio de expectativa.
— Claro. – Louis respondeu de imediato – Eu estava mesmo
organizando isso para o próximo mês, mas agora que Hannah tem urgência,
posso antecipar um pouco e organizar a equipe. Pelo menos em algumas
sessões de fotos aqui mesmo na cidade.
— Obrigado, Louis. – agradeci aliviado – Hannah sempre sonhou em
seguir essa profissão, mas não é nada fácil. As circunstâncias a levaram a
seguir a carreira de comissária, porém agora acredito que seja a hora certa
para que ela faça o que realmente gosta.
— Com toda a certeza, Kevin. Além do mais, será um prazer ter na
equipe uma pessoa que eu já conheço. Os trabalhos tem aumentado, terá
diversas oportunidades para ela.
— Hannah vai ficar muito feliz. – tomei outro gole da minha cerveja
– Preciso trazê-la aqui para vocês conversarem melhor sobre a proposta.
— Amanhã seria ideal. Vou à empresa resolver alguns assuntos e a
noite estarei livre.
— Perfeito.
— Falando nisso, eu tive uma ideia aqui. – ele levantou uma das
sobrancelhas em um gesto típico – Acho que Hannah também poderia
trabalhar na equipe de maquiagem do novo jornal. Alguns jornalistas vão
precisar de maquiagens para gravação de reportagens e dependendo da
demanda de notícias, quanto mais maquiadores disponíveis, melhor.
— Que excelente ideia, Lou! Como não pensei nisso?
— Vou falar com Alicia e Lizzie, mas tenho certeza que elas não vão
se opor.
Uma hora depois, eu voltava mais aliviado para o meu apartamento.
Queria contar a novidade para Hannah pessoalmente.
Cheguei cedo em Long Island no dia seguinte.
Dentro do carro, enquanto dirigia, recebi a ligação do meu irmão pelo
sistema de bluetooth.
— Bom dia, Louis. – atendi.
— Bom dia, Kevin. Estou te ligando só para avisar que acabei de falar
com Alicia e Lizzie e elas gostaram bastante da ideia. Elas gostariam que
Hannah viesse aqui na empresa amanhã pela manhã.
— Claro. Eu vou falar com ela, estou indo para Long Island agora.
— Perfeito. Confirme comigo sobre amanhã que vamos deixar tudo
preparado por aqui.
— Obrigado, irmão.
— Digamos que é a forma de retribuir pelo que você fez por mim no
passado.
Estacionei em frente à casa que agora eu já conhecia bem. Senti a
lufada de ar frio quando saí do carro. Caminhei até a entrada e toquei a
campainha. Achei que seria recebido por Cecile, como na maior parte das
vezes, mas fora Hannah quem apareceu do outro lado com um sorriso no
rosto.
Eu daria tudo para ver esse sorriso pelo resto da vida.
— Oi. – ela estendeu o braço e agarrou minha mão – Entra, está
congelando aí fora.
— Tudo bem, linda? – perguntei assim que ela fechou a porta.
— Estou sim. Você me deixou curiosa dizendo que tinha novidades.
— E são ótimas. Mas primeiro, preciso de um beijo.
Hannah sorriu e passou os braços em torno do meu pescoço. Seus
lábios se grudaram aos meus em um selinho calmo e demorado. Eu adoraria
que estivéssemos sozinhos para me deliciar ainda mais com seu corpo e seus
beijos, mas quando ela se afastou, precisei me controlar.
— Kevin! – ouvi a voz animada de Cecile atrás de mim.
— Olá. – sorri e nós nos cumprimentamos com um high five.
Ela estava com uma mochila pronta para ir para a escola. Deu um
beijo na bochecha da irmã e saiu apressada. Hannah me puxou para o sofá e
nós nos acomodamos.
— Me conte, por favor. – falou.
— Conversei com Louis. Ele disse que consegue alguns trabalhos
para você na equipe dele. – pude ver seus olhos brilhando pela empolgação.
— Isso é maravilhoso! – ela me abraçou – Obrigada, Kevin.
— Calma que tem mais, depois você me agradece. – falei sorrindo –
Louis falou com Alicia e ela gostaria que você fizesse parte da maquiagem da
equipe de jornalismo externo do webjornal dela.
— É claro que sim! – sua animação era contagiante – Nossa, eu nem
sei como agradecer. De verdade.
— Bem, eu tenho algumas ideias... – aproximei meu rosto do seu
pescoço e rocei lábios lhe provocando arrepios.
Hannah deu uma risada e me abraçou apertado. Era muito bom trazer
novamente essa tranquilidade e leveza para ela. Ver seu semblante
preocupado durante a viagem tinha me deixado mal. Ela era incrível demais
para sofrer essas injustiças da companhia aérea.
— Alicia gostaria que você fosse amanhã pela manhã na empresa. –
falei.
— É claro que eu vou! – colocou as mãos sobre o peito – Estou tão
aliviada agora.
— Bom dia, Kevin.
Eleonor entrou na sala ajeitando o cachecol em torno do pescoço.
Certamente estava se preparando para trabalhar.
— Bom dia, Eleonor. Vim trazer uma boa notícia para Hannah.
— É mesmo?! Que bom. Ela está precisando mesmo.
— Conseguimos duas vagas de maquiadora para ela. Uma na equipe
do meu irmão e uma no novo projeto da minha irmã.
— Isso é maravilhoso! – aproximou-se de nós e segurou as mãos da
sobrinha – Eu fico muito contente que tenha conseguido essa oportunidade.
— Kevin me ajudou bastante, assim como os irmãos dele. E vou
poder trabalhar com o que sempre quis.
— Parece um sonho.
As duas se abraçaram e eu fiquei apenas observando deixando ambas
curtirem o momento sozinhas. Eleonor se despediu e me agradeceu pela
ajuda.
— Vou ajudar em tudo que for preciso. – falei.
— Obrigada. – ela pegou sua bolsa – Se cuidem.
— Bom trabalho, tia.
Hannah fechou a porta e correu até mim, me dando um abraço
apertado novamente. Eu queria muito poder aproveitar com ela cada minuto,
mas lembrei que com seu novo emprego, precisávamos organizar algumas
coisas fundamentais e quanto mais rápido agilizássemos tudo, mais cedo
Hannah poderia começar.
— Se arrume, precisamos ir até Manhattan comprar umas coisas.
— Que coisas? – perguntou curiosa.
— Produtos de maquiagem. Você vai precisar de vários agora.
— É verdade. Mas eu não tenho muito dinheiro para gastar e...
— Ei! – coloquei o dedo indicador sobre seus lábios – Eu vou pagar
pelos produtos.
— Kevin, não quero que compre para mim. Sabe que gosto de pagar
pelas minhas coisas.
— Então considere como um empréstimo. Quando você começar a
ganhar dinheiro com a profissão e organizar seu orçamento, você me paga.
Além do mais, você realmente vai precisar dos produtos, linda.
— Tudo bem. – acabou cedendo e apontou o dedo para mim – Mas eu
vou pagar mesmo!
— Eu sei.
Uma hora depois, eu estava dirigindo pelas ruas frias de Nova York e
conversava com Hannah sobre as melhores marcas de maquiagem que ela
poderia encontrar. Eu não entendia nada, então deixava que ela me guiasse
sobre quais seriam os locais ideais para conseguirmos comprar todo o
necessário.
— Obrigada. – Hannah disse colocando a mão sobre minha coxa.
— Quero te ajudar, linda. Minha maior retribuição será ver você feliz
fazendo o que gosta.
— Estou tão empolgada e nervosa ao mesmo tempo.
— Relaxe. Hoje vamos sair para jantar e comemorar essa nova fase da
sua vida.
Passamos algumas horas pelas ruas de Manhattan entrando e saindo
de lojas em busca dos melhores produtos de maquiagem. Para ser sincero, eu
não conhecia muita coisa sobre o assunto, mas Hannah se deu bem com as
vendedoras que foram bastante solícitas. Fiquei sentado em poltronas e pufes
a maior parte do tempo e quando finalizamos todas as compras, eu carregava
um grande número de sacolas que nem mesmo podia contar em um primeiro
momento.
— Eu acho que comprei muita coisa. – Hannah comentou enquanto
eu colocava tudo dentro do porta-malas – Mas é necessário. Eu jamais
poderia fazer algo desse tipo se não fosse por você. Tudo custou uma fortuna.
— Que bom que minha ajuda foi válida. – guardei todas as sacolas no
porta-malas do carro – Mais tarde vamos jantar juntos e comemorar. Você vai
ver como tudo vai dar certo e você será reconhecida pelo belo trabalho.
Eu escolhi o restaurante da minha mãe.
Dessa vez Hannah estava muito mais calma do que da primeira vez
que fomos lá.
Minha namorada tinha colocado um vestido preto que contrastava
com seus cabelos ruivos e chamava a atenção conforme caminhava por entre
as mesas.
A cada dia que passava, eu sentia que a confiança dela aumentava e
isso me deixava muito contente.
Hannah era uma mulher linda, inteligente e merecia todo o sucesso do
mundo.
— Eu acho esse bistrô muito charmoso. – ela comentou assim que nos
acomodamos.
— Foi o primeiro da minha mãe, ela sente um carinho especial por
ele.
— Boa noite, Sr. Walsh. – Bruce, um dos garçons me cumprimentou
– O que gostaria para essa noite?
— Traga aquele vinho especial do vinhedo do meu pai, por favor. –
falei para ele – O tinto.
— Claro que sim. Com licença.
De maneira rápida, Bruce se afastou de mim caminhando por entre as
mesas.
— Meu pai tem um vinhedo na Itália e um dos vinhos produzidos lá
foi criado em homenagem à minha mãe. Pedi para que você experimente.
— Uau! – seus olhos azuis se arregalaram – Um vinho em
homenagem à ela?
— Sim. – sorri – São as coisas extravagantes que meu pai é capaz de
fazer. – estendi a mão sobre a mesa insinuando que gostaria que ela a
segurasse e Hannah entendeu o recado – Não posso condená-lo por isso,
afinal, eu seria capaz de fazer coisas extravagantes por você.
— Não precisa. – Hannah acariciou minha mão com a ponta dos
dedos – Você já faz tanta coisa por mim.
— Vou te mimar, linda. Acostume-se com isso.
Bruce trouxe o vinho e nos serviu. O aroma da bebida era delicioso e
eu brindei com Hannah antes de começarmos a beber.
— Que essa nova etapa dê certo e você tenha o sucesso que merece. –
falei.
— Obrigada.
Hannah provou o vinho e suspirou. Eu adorava cada uma de suas
expressões.
— Nossa, é delicioso! – exclamou colocando a taça sobre a mesa –
Sua família tem muito bom gosto.
— Todos lá em casa adoram esse vinho, eu tinha certeza que você ia
gostar. Ele combina muito com carnes, o que acha?
— Para mim está ótimo.
Pedi um medalhão de filé para nós com salada. Passamos uma noite
agradável juntos e eu contei um pouco sobre minha infância.
— Todo ano viajamos juntos para a Itália. Lá sempre foi um lugar
especial para a família. Principalmente para meus pais e para Alicia e Ryan.
Em breve eu vou te levar lá. Quero que conheça alguns lugares.
— Você é maravilhoso comigo, não canso de me dizer isso.
— Hannah, por mais que você ache isso, acredite, eu tenho muitos
motivos para te agradecer. O maior deles foi ter me feito enxergar que existe
sim possibilidades para novos relacionamentos, que eu precisava sair da
minha própria bolha de sofrimento, de autodepreciação.
— A vida nunca acaba depois de uma decepção. – ela entrelaçou os
dedos nos meus – Você merece ser feliz.
— Ao seu lado.
Tivemos um jantar maravilhoso. A companhia de Hannah me fazia
bem em diversos níveis.
Saímos do restaurante sob uma leve neve que caía na cidade.
As luzes natalinas já tinham sido retiradas, o charme de Nova York no
final do ano se perdera e agora só sobrara o frio e o trânsito caótico.
Ao chegarmos em casa, Hannah suspirou tirando o sobretudo e o
jogando sobre o encosto de uma poltrona. Ela arrancou as luvas e jogou sobre
a mesma e alongou os dedos das mãos.
— Eu detesto usar luvas, mas é difícil para mim sair nesse frio todo
com as mãos descobertas.
— Já que estamos aqui, posso te fazer uma massagem.
— Hmmm, isso soa interessante.
Ela ficou animada e correu para o quarto. Tirei o casaco e fui atrás
dela.
Hannah tirou a roupa ficando apenas de calcinha rendada e eu tirei a
calça e a camisa, deixando apenas a cueca. Peguei um óleo dentro do
banheiro e retornei para o quarto.
Por mais que tivesse visto Hannah seminua dezenas de vezes, eu
sempre a olhava como se a visse pela primeira vez.
— Você vai experimentar a melhor massagem da região. Vai ser
ótimo para que relaxe antes da sua reunião amanhã na Walsh Publishing
House.
— Esse nome já me dá um frio na barriga.
— Vai dar tudo certo. Confia em mim.
Espalhei o óleo por sobre a pele dela, bem no meio das costas e vi a
pequena gosta ir escorrendo devagar. Aproveitei para colocar um pouco nas
mãos e as esfreguei uma contra a outra. O aroma era muito bom e a partir
desse dia ele me lembraria Hannah.
Deslizei devagar minhas mãos sobre suas costas nuas.
Ouvi o gemido baixo de satisfação.
Passei meus polegares sobre sua coluna, desci e acariciei sua lombar.
Hannah suspirava e relaxava cada vez mais. Eu tinha planos de transar, mas
sabia que a possibilidade de ela pegar no sono era grande. Continuei
deslizando meus dedos por sobre as suas costas e apliquei um pouco de força
em determinados momentos.
Aproveitei a oportunidade para acariciar sua bunda.
Abaixei meu corpo e beijei seu pescoço. Na mesma hora senti Hannah
se arrepiar.
— Isso é bom... – sussurrou.
— Está com sono?
— Um pouco.
— Relaxe.
Continuei por mais alguns minutos. Passei a mão sobre suas costelas,
pressionei sua lombar e próximo aos seus ombros. Hannah continuava
gemendo de satisfação até que notei sua respiração calma.
Ela pegara no sono.
A ideia de transar tinha ido por água a baixo, mas eu ficava feliz em
vê-la tranquila sabendo que a ideia da reunião a deixara nervosa. Levantei
devagar para que não acordasse e fiquei de pé observando-a.
Hannah era perfeita! Cada curva do seu corpo fora milimetricamente
desenhada para se encaixar nas minhas mãos. A bunda redonda ficava ainda
mais evidente pela calcinha vermelha de renda. Seus cabelos ruivos se
espalhavam pelo travesseiro branco e os olhos azuis que eu tanto adorava,
agora estavam escondidos pelas pálpebras. Apaguei as luzes do quarto e
deixei apenas os abajures acesos. Acomodei-me em uma das poltronas e
fiquei pensativo.
Uma ideia pairava sobre minha mente há algum tempo e o que eu
precisava agora era executá-la.
Capítulo 35
HANNAH

Não lembro de ter me sentindo tão nervosa assim diante de uma


possibilidade de emprego. Nem mesmo na época da companhia aérea,
quando estava prestes a arrumar meu primeiro trabalho como comissária, eu
senti esse friozinho na barriga. Talvez isso estivesse acontecendo pelo fato de
eu estar diante da empresa da família do meu namorado e isso me deixasse
ainda mais nervosa.
Eu queria que tudo fosse perfeito.
Kevin me deu carona até a entrada da empresa. O prédio era um dos
muitos arranha-céus da cidade de Nova York. Eu não pude deixar de olhar
para cima e vê-lo se perder no céu branco de inverno. Caminhei tentando
manter a confiança e entrei no edifício. Kevin me explicara tudo sobre a
entrada de visitantes e a burocracia para ter acesso a empresa.
Desde que aconteceram atentados terroristas ao país, todos ficavam
cada vez mais preocupados com a segurança.
Vi uma quantidade de pessoas entrando e saindo, todas muito bem
vestidas. Pensei se as roupas que escolhi realmente estavam de acordo com o
local. Durante a manhã, coloquei várias opções sobre a cama e acabei
optando por uma saia lápis preta, meia-calça e sapatos de salto fino da mesma
cor, uma blusa com padrões geométricos preta e branca e um blazer que fazia
conjunto com a saia. Escolhi um cachecol cinza para proteger o pescoço do
frio.
Cheguei no balcão da recepção e um rapaz negro e alto me atendeu.
— Bom dia, senhorita. Em que posso ajudá-la?
— Bom dia. – falei – Meu nome é Hannah Davis e eu tenho uma
reunião marcada com Alicia Walsh na Walsh Publishing House.
— Claro. – verificou alguma coisa em seu computador – Seu nome
está aqui sim. Eu vou precisar só do seu documento para anexar uma cópia na
entrada de visitantes.
— Só um momento.
Peguei meu ID dentro da bolsa e o entreguei. Aguardei alguns
minutos e recebi de volta meu documento de volta assim como um crachá.
Eu estava pronta para entrar no enorme edifício e não tinha ideia do
que iria encontrar. Esse era um mundo totalmente diferente do meu.
Caminhei até o elevador e esperei. Assim que entrei, acompanhada de
outras pessoas, selecionei o número do andar que gostaria de ir. A viagem de
elevador me pareceu longa demais ou talvez fosse a minha ansiedade.
Diversas pessoas entravam e saíam conforme o elevador fazia sua parada nos
andares e finalmente chegou ao meu.
Quando saí, dei de cara com uma grande recepção. Atrás da mesa
onde estavam duas secretárias, era possível ver escrito em letras 3D prateadas
“Walsh Publishing House”. Passei a mão livre sobre minha saia em uma
tentativa de me alinhar o máximo possível e me aproximei da mesa onde uma
garota loira e muito bonita me olhou imediatamente.
— Bom dia, em que posso ajudá-la?
— Bom dia. – eu a cumprimentei – Eu tenho uma reunião marcada
com Elizabeth White.
— O seu nome, por favor.
— Hannah Davis.
— Só um momento que eu vou avisar a Srta. White que está aqui.
Aguardei enquanto ela se comunicava através do computador. Por
sorte não demorou muito porque eu já me sentia extremamente ansiosa e
nervosa.
— A Srta. White está esperando. A Patrice vai lhe acompanhar até a
sala dela.
— Obrigada.
Uma outra mulher me guiou até um corredor. Ela usava um vestido
preto, tinha cabelos castanho claros e era mais alta do que eu. Paramos em
frente a uma sala escrita “Elizabeth White – Diretora de Jornalismo”.
Discretamente Patrice bateu na porta duas vezes e a abriu.
— A Srta. Davis está aqui. – anunciou.
Ela chegou para o lado e me deu passagem. Entrei na sala de tamanho
médio e muito bem decorada. Atrás da grande mesa de vidro era possível ver
uma mulher loira e bastante bonita que me observava curiosamente com seus
olhos azuis.
— Bom dia, Hannah. – levantou-se e deu a volta na mesa – É um
prazer tê-la aqui.
— Bom dia, Srta. White. O prazer é todo meu.
— Pode me chamar de Lizzie.
— Com licença. – Patrice saiu e nos deixou a sós.
— Eu estava ansiosa para que chegasse. – indicou a cadeira em frente
à sua mesa – Pode se sentar.
Lizzie deu a volta para se sentar em seu lugar. Ela estava usando uma
calça preta justa ao corpo, uma blusa que parecia seda de cor perolada. Os
dois primeiros botões estavam abertos e era possível ver uma correntinha
dourada pendurada em seu pescoço. Lizzie tinha olhos azuis brilhantes e uma
expressão tão leve que me deixou imediatamente mais relaxada.
— Quando me falaram sobre a possibilidade de você trabalhar na
equipe de fotografia eu adorei. – falou – Estamos precisando mesmo de
alguns maquiadores porque o jornal terá muitas matérias externas.
— Para mim é um prazer imenso poder participar desse projeto
fazendo o que eu amo.
— O que precisamos é exatamente disso, pessoas apaixonadas. –
notei que ela acessou alguns arquivos no computador e em seguida olhou
para mim – O que pretendo fazer é criar diversas equipes para trabalharem
juntas, assim será mais fácil para o convívio e para adaptação se tivermos
grupos fixos. Principalmente na hora de organizar as matérias. Então você
terá seu próprio grupo de jornalismo e produção.
— Entendi. – concordei.
— A parte da fotografia, das câmeras, do audiovisual, isso será
definido com o Louis. Ele é o responsável pela equipe fotográfica e vai
separar os grupos de acordo com o que ele achar melhor. Eu chamei Alicia
para vir aqui, ela pediu para avisar quando você chegasse.
— Eu queria muito agradecer a oportunidade que estão me dando. Até
porque eu nunca trabalhei como maquiadora, só fiz alguns trabalhos mais
independentes mesmo.
— Se Alicia e Louis confiam em você, então eu também confio. Sei
que fará um bom trabalho.
— Obrigada.
— O que você precisa saber sobre o seu trabalho aqui na editora, é
que terão dias em que você vai passar quase o dia todo na rua, correndo de
uma matéria para outra, mas em outros será muito mais tranquilo. Tudo
depende da demanda do que está rolando lá fora. Algum problema quanto a
isso?
— De maneira nenhuma. Trabalhar o dia todo é algo com o qual já
estou acostumada.
— É mesmo, você era comissária de bordo, certo?
— Sim.
Ouvimos uma batida na porta e Lizzie autorizou a entrada.
Vi a figura elegante de Alicia aparecer com seus longos cabelos
pretos e ondulados e um vestido de mangas vinho simplesmente lindo. Seus
olhos azuis brilhavam e eu sempre me sentia à vontade em sua presença.
— Que maravilha que está aqui, Hannah. – ela me abraçou – Fico
muito contente que você também vai participar desse projeto.
— Eu fico muito agradecida pela confiança em mim.
— Lizzie já te explicou tudo, certo? – assenti – E o que achou?
— Eu adorei. Estou bastante empolgada para começar. – respondi
com sinceridade.
— Só falta definirmos alguns detalhes com Louis. Inclusive é melhor
irmos até a sala dele agora.
— Está ótimo. – Alicia concordou – Eu tenho uma reunião em dez
minutos, então não poderei ir com vocês. Depois do almoço vá até minha sala
e me atualize sobre tudo, Lizzie.
— Claro.
Nós três saímos da sala e Alicia foi para o elevador. Enquanto isso, eu
acompanhei Lizzie até outro corredor que provavelmente levava até a sala de
Louis. Paramos de frente para uma porta onde se podia ler em uma placa
prateada “Louis Walsh – Diretor de Audiovisual”.
Lizzie bateu na porta duas vezes e em poucos segundos, a mesma se
abriu revelando a figura alta de Louis, idêntica a do meu namorado. Porém,
mesmo sendo tão semelhantes, existia algo nos dois que era diferente e eu
não sabia explicar.
— Oi. – ele nos cumprimentou – Podem entrar.
Lizzie foi a primeira e eu entrei logo em seguida Nós nos
acomodamos de frente para a grande mesa dele. Era possível ver tudo muito
bem organizado e a decoração do ambiente era bem sóbrio.
— Eu estava esperando por vocês. – ele falou dando a volta da mesa e
se sentando em seu lugar – Lizzie, você já explicou tudo a Hannah?
— Sim. – assentiu – Expliquei sobre o ritmo da equipe jornalística, do
quanto isso vai exigir dela.
— Perfeito. – Louis recostou-se na cadeira – O que você precisa saber
agora, Hannah, é que Lizzie e eu concordamos que para gerenciar melhor
cada equipe, o ideal é que ela seja fixa. É preciso que você esteja ali a todo o
momento para preparar a maquiagem e retocar sempre que for necessário.
Não tenha medo de interromper gravações caso você ache que precisa ajeitar
alguma coisa.
— Entendi.
— Amanhã eu pretendo convocar uma reunião com toda a equipe. –
olhou para Lizzie – Inclusive gostaria que você participasse também e
chamasse a equipe jornalística.
— Perfeito. Depois me diga a hora que vou organizar com eles.
— Hannah, você estará lá também. Assim será ótimo para lhe
apresentarmos a todo o pessoal. Eu te envio uma mensagem para confirmar o
horário.
— Está ótimo.
— Eu adoraria ficar mais um tempo aqui conversando sobre alguns
detalhes, porém preciso ir. Tenho um evento hoje à noite para cobrir. – Louis
falou – Vou acertar o horário agora mesmo da reunião e já te passo antes de
sair, Lizzie.
— Ótimo. Eu vou preparar algumas apresentações para essa reunião.
– levantou-se – Hannah, quero que venha comigo antes de ir. Preciso te
passar uns arquivos para você dar uma olhada em casa e amanhã chegar na
reunião já ciente de alguns detalhes.
— Tudo bem. – levantei-me – Obrigada mais uma vez, Louis.
— Eu que agradeço pelo seu empenho. Tenho certeza de que irá dar
certo.
Saímos da sala dele e voltamos para o escritório de Lizzie. Ela
encaminhou para meu e-mail alguns detalhes sobre o projeto e como
funcionaria o trabalho dos maquiadores e a dinâmica da equipe de
reportagem. Fiquei bastante animada e quando saí da sala de Lizzie, liguei
para Kevin.
— Como foram as coisas? – perguntou.
— Foram ótimas. Lizzie e Louis são pessoas fantásticas e me deram
muita confiança.
— Fico contente de saber disso. Eu vou passar aí para te buscar.
— Não precisa, posso pegar um táxi. Não precisa se incomodar.
— Não é incômodo e você sabe disso.
— Eu vou pegar um táxi aqui e chegarei rapidinho, não se preocupe.
Entrei no elevador me despedindo rápido de Kevin e respirei aliviada.
A primeira parte tinha dado certo e agora eu só precisava me empenhar
bastante para que todos gostassem do meu trabalho e assim eu poderia seguir
o sonho que sempre tive. Eu teria a possibilidade de fazer cursos e me
aperfeiçoar ainda mais.
Saí do edifício no momento em que caía uma neve fina pela cidade.
Apertei meu sobretudo e me protegi do frio. Por sorte estava de luvas e com
uma roupa bem quente. Um táxi livre apontou na esquina e eu fiz sinal para
chamá-lo. Entrei e me acomodei no banco de trás sentindo o aquecedor do
veículo como uma espécie de abraço. Dei o endereço do apartamento de
Kevin e esperei.
Eu me sentia tão confiante que achava que nada poderia me abalar.
Por conta da neve, o trânsito estava uma loucura e Kevin me mandou
algumas mensagens preocupado. Eu gostava dessa atenção dele e me sentia
cada vez mais envolvida e apaixonada.
Quando finalmente o táxi encostou na calçada em frente ao
apartamento dele, eu agradeci e paguei a corrida antes de descer. Sentir a
lufada de ar congelante no meu rosto e caminhei rapidamente para dentro do
edifício buscando um local quente.
— Boa tarde, Srta. Davis. – cumprimentou-me o porteiro que ficava
na recepção e já me conhecia.
— Boa tarde. – sorri antes de ir direto para o elevador.
Eu estava ansiosa para contar a Kevin sobre tudo que acontecera na
empresa, mas quando abri a porta do apartamento, me surpreendi.
Kevin estava parado vestido com uma calça preta e uma camisa social
branca com mangas enroladas até os cotovelos. Ele sorriu para mim, mas não
fora somente seu lindo sorriso e sua figura alta que chamaram minha atenção.
A mesa estava preparada com uma refeição e decorada com um belo
vaso de flores. Uma refeição tinha sido preparada e estava em uma travessa
sobre a mesma. Eu fechei a porta atrás de mim e deixei a bolsa sobre o
aparador.
— O que está acontecendo aqui? – perguntei sorrindo enquanto me
livrava das luvas.
— Eu decidi preparar um almoço para você. Sabia que chegaria agora
e que provavelmente estaria faminta e cansada.
— Acertou em cheio. – deixei as luvas sobre a bolsa, tirei o casaco
pendurando-o no encosto de uma das poltronas e o cachecol logo em seguida.
— Sempre faço as melhores escolhas, é por isso que namoro com
você.
Sorri e me aproximei dele. Passei os braços em volta do seu pescoço e
Kevin me puxou para perto.
— Não acredito que preparou um almoço para mim. – eu lhe dei um
selinho calmo nos lábios – Onde arrumou tempo para organizar tudo isso?
— Fiz uma comida mais rápida, porém tenho certeza de que está
gostosa. Comprei os ingredientes em um mercado aqui perto.
— Obrigada por ser maravilhoso comigo.
— Eu quero ser muitas coisas para você, linda. – ele se afastou –
Agora sente-se aqui e quero que me conte como foram as coisas lá na
empresa.
Eu me acomodei em uma das cadeiras e enquanto Kevin se sentava e
abria o vinho, eu olhei para a travessa no centro da mesa. Kevin tinha
preparado um risoto de camarão que estava com um cheiro delicioso.
— Está muito bonito esse prato.
— Aprendi com minha mãe. – falei – De todos os filhos, eu quem
sempre tive mais apego pela culinária.
— Pelo visto você aprendeu direitinho.
— Obrigado. – ele esticou o braço – Dê-me seu prato.
Kevin nos serviu e eu aproveitei para tomar um pequeno gole do
vinho. A grande janela do apartamento mostrava que a neve tinha se
intensificado e eu agradecia por estar em um ambiente aconchegante com
aquecedor.
— Experimente.
Assenti e dei a primeira garfada. Soltei um gemidinho de satisfação
ao sentir o delicioso sabor dos camarões e o tempero da medida certa.
— Está mesmo uma delícia! – exclamei – Eu tenho muita sorte
mesmo.
Kevin deu uma risada e aproveitou para comer também. Demos
algumas garfadas antes de ele quebrar o silêncio.
— Me fale sobre o trabalho. O que te falaram lá na empresa?
— Lizzie e Louis gostaram bastante da ideia de me contratarem. Eles
confiam no trabalho que posso fazer. – falei me sentindo empolgada – As
equipes de jornalismo serão separadas em grupos fixos, incluindo os
maquiadores. Lizzie disse que faremos muitas externas por toda a cidade e
que preciso estar pronta.
— É um trabalho totalmente diferente do que você fazia, mas tenho
certeza de que se sairá muito bem.
— Amanhã terá uma reunião com toda a equipe.
— Eu estou muito feliz por você, linda. Inclusive, quero te fazer uma
proposta.
— Que proposta? – imediatamente fiquei curiosa.
— Quero que venha morar aqui comigo.
As palavras foram absorvidas por mim, mas meu cérebro demorou a
gerar uma reação. Quando finalmente o fiz, só consegui abrir a boca e não
consegui dizer nada. Kevin me olhou e franziu o cenho, provavelmente
estranhando minha reação.
— Hannah?
— Oi, desculpa. – consegui falar – É que eu realmente não esperava
por isso e fiquei surpresa.
— Eu percebi.
— Você tem certeza? – perguntei pegando minha taça de vinho e
bebendo um gole.
— Claro que sim. Estamos juntos e você vai trabalhar aqui em
Manhattan agora. Não seria nem um pouco prático você sair de Long Island e
voltar todos os dias. – ele esticou o braço sobre a mesa e abriu a mão em um
pedido silencioso para que eu a segurasse – Além do mais, ter você aqui
todos os dias seria maravilhoso.
— Eu vou adorar. – segurei sua mão e sorri – Ficar ao seu lado me faz
tão bem. Você me dá muita confiança e eu vou precisar.
— Pode ter certeza que você não vai se arrepender de morar aqui
comigo. Pode vir amanhã mesmo.
— Já?
— Você vai começar logo o trabalho no web jornal. – ele soltou
minha mão e pegou sua taça de vinho – E eu quero falar mais uma coisa.
— Ai meu Deus... – fiquei ansiosa – Você está cheio de surpresas
hoje.
— Eu vou pedir demissão da companhia.
— O quê?! – arregalei os olhos ficando completamente atônita – Mas
você adora voar.
— Sim. – ele assentiu – E eu vou continuar voando, mas não na
mesma companhia.
— Por que tomou essa decisão?
— Não concordo com a conduta deles de terem dispensado você
enquanto me mantiveram lá. Ou sairiam os dois, ou não sairia ninguém.
— Mas em qual companhia você vai trabalhar?
— A American já entrou em contato comigo. – respondeu – Vou
começar lá no próximo mês depois de alguns treinamentos. Amanhã mesmo
vou oficializar minha saída.
— Sei que está fazendo isso por minha causa e fico muito grata por se
importar tanto.
— Somos um casal, Hannah. Jamais deixarei que sejam injustos com
você. Vamos focar no futuro porque sei que ele reserva muitas coisas boas
para nós.
Nos últimos dias minha vida tinha mudado completamente.
Eu estava pronta para encarar essa nova fase e me sentia empolgada.
Kevin disse para que eu me organizasse e viesse morar logo aqui.
Imaginei como seria nossa vida daqui para a frente. Ele continuaria
voando e fazendo as viagens a trabalho e eu ficaria em Manhattan seguindo
meu sonho enquanto trabalhava em uma das maiores empresas o país.
Esperaria ansiosa toda vez que ele voltasse para a cidade e aproveitaríamos
cada segundo dos nossos momentos juntos.
Depois do almoço, Kevin decidiu que falaria sobre nossa nova
decisão com minha tia e com sua família.
— Minha mãe ficará muito feliz. Ela vai dizer que criei juízo. –
comentou enquanto estávamos sentados no sofá.
— Cecile adora Manhattan, vai querer vir para cá todos os dias.
— Sua irmã e sua tia estão mais do que convidadas. – ele segurou
meu queixo me fazendo olhar para ele – A vida nos reserva ainda muitas
surpresas, linda. E você pode ter certeza que vem muito mais por aí no que
depender de mim.
— É mesmo? – sorri ficando mais curiosa – Vai me contar?
— Nada disso, eu vou te mostrar. – seus dedos deslizaram pelo meu
pescoço – Muito em breve. Mas agora, por que não aproveitamos e
comemoramos essa nova fase?
— Comemorar como?
Ele me olhou e deu um sorrisinho safado que eu já conhecia bem.
— Sem roupa, minha linda.
Capítulo 36
KEVIN

Dois meses se passaram desde que Hannah aceitara morar comigo.


Eu me sentia completo, ou quase. Ainda faltava algo essencial, mas eu
iria resolver isso em breve.
O inverno estava dando lugar a primavera e eu voltava da minha
primeira viagem com a nova companhia aérea. Não fora fácil deixar pessoas
queridas para trás. Eu estava acostumado a trabalhar com Caleb como meu
copiloto, mas depois da minha saída, ele ficara com a minha vaga e isso me
deixara satisfeito.
Jasmine durante esse tempo se aproximara ainda mais de Hannah e
algumas vezes fora até o nosso apartamento para visitá-la. A essa altura, até
Juliet e Peter também viraram frequentadores assíduos. Ver Hannah feliz e
cercada de pessoas que a faziam bem até me fizera esquecer que Sandra e
Isabella tentaram estragar tudo.
Quando saí do aeroporto e peguei o carro que me levaria de volta para
casa, meu coração batia acelerado. Era início da noite e o trânsito estava
bastante intenso. Eu me recostei no banco enquanto o motorista me levava ao
meu destino.
Eu estava louco para encontrar com Hannah, beijá-la e ouvi-la me
dizer daquele jeito empolgado o que tinha acontecido no trabalho. Seus olhos
azuis brilhavam cada vez que ela me contava sobre uma das reportagens que
fazia, com problemas durante a chuva e com as diversas vezes que precisava
retocar o rosto de alguém. Durante esses dois meses, ela passou o primeiro
treinando e aperfeiçoando a maquiagem. Lizzie e Alicia eram só elogios para
o seu trabalho e eu cada vez mais orgulhoso de ver minha namorada
finalmente contente com seu emprego dos sonhos.
Há uma semana ela tinha começado um novo curso de maquiagem e
desde então eu não a vi.
Remexi-me no banco do carro cada vez mais ansioso.
— O trânsito está horrível. – comentei com o motorista.
— Sim, senhor. – respondeu ele com um sotaque que não consegui
identificar – O inverno está indo embora e com a chegada da primavera
parece que todos decidiram sair de casa.
Suspirei e olhei para o lado de fora através da janela.
O que ele dissera era verdade.
Estávamos quase na primavera e a cidade parecia ganhar uma nova
cor. A neve já tinha cessado e agora a temperatura subia gradativamente.
Turistas passavam de um lado para o outro, nova-iorquinos caminhavam
apressados pelas calçadas enquanto outros acenavam efusivamente para um
dos famosos táxis amarelos.
Diversas vezes eu passava por Manhattan sem me dar conta de tudo
que ela podia oferecer e de todas as dinâmicas. Aproveitei o tempo para
observar o que acontecia e nem mesmo me dei conta de que havia chegado.
— Senhor? – a voz do motorista me despertou.
— Oi. – ajeitei-me no banco traseiro.
— Chegamos.
— Obrigado.
Agradeci e desci do carro. O senhor abriu o porta-malas para pegar
minha mala e entregou-me. Dei-lhe uma gorjeta e entrei no edifício
desesperado para encontrar com Hannah.
Morar junto dela estava sendo uma experiência nova e deliciosa. Cada
vez que eu chegava de uma viagem ela tinha uma surpresa para mim. Estava
ansioso para saber o que me aguardava dessa vez.
Entrei no elevador e contei cada um dos andares até que finalmente
parou no meu. Saí apressado arrastando minha mala e abri a porta usando
minha digital. O barulho da tranca abrindo fez meu coração bater mais
rápido.
Empurrei a mesma, mas me decepcionei ao não encontrar Hannah na
sala me aguardando. Será que tinha se atrasado no trabalho? Não mandei
mensagem porque ela disse que estaria em casa quando eu chegasse. Larguei
a mala no chão e tranquei a porta atrás de mim. Tirei o casaco e pendurei
sobre o encosto de uma poltrona.
— Hannah? – chamei-a, porém não obtive resposta.
O silêncio estava me deixando agoniado. Peguei meu celular, mas não
havia nenhuma mensagem ou ligação dela. Tentei fazer uma chamada.
Desligado.
Fiquei intrigado e preocupado, mas procurei me acalmar. Se ela se
atrasou deve ter ficado sem bateria no telefone e não conseguiu me avisar.
Logo ela deve estar chegando.
Fui até a cozinha e peguei um copo de água.
Enquanto bebia recostado na bancada, fui surpreendido.
Hannah desceu as escadas usando um robe de seda cor de champagne.
Seus cabelos ruivos estavam soltos e algumas mechas caíam sobre seus
ombros e roçavam devagar no vão entre seus seios. Os olhos azuis me
observavam com um brilho especial que era uma exclusividade minha.
— Que bom que chegou. – falou com aquela voz doce.
— Eu te chamei, pensei que não estivesse em casa.
— Estava lá em cima. – respondeu se aproximando – Senti sua falta.
— Eu também. Graças a Deus você está aqui.
Larguei o copo sobre a bancada e me aproximei reduzindo os últimos
centímetros de distância que havia entre nós. Envolvi meus braços em torno
da sua cintura e a trouxe para perto de mim grudando seu corpo no meu. Não
dei tempo para Hannah dizer nada, imediatamente procurei seus lábios e lhe
dei um beijo como se minha vida dependesse daquilo.
Dois meses dividindo o mesmo teto com ela e ainda não tinha me
acostumado com a sensação de chegar em casa encontrá-la. Parecia a
primeira vez. E eu amava isso.
Queria externalizar esse sentimento. Gritar para que todos ouvissem,
mas Hannah merecia ouvir primeiro. Afundei meus dedos nos seus cabelos e
deslizei minha mão em sua bunda por cima do robe. Só afastei meus lábios
dos seus quando o ar faltou. Ela estava ofegante, com as bochechas rosadas e
me observou com olhos azuis escuros.
— Eu te amo. – falei sem conseguir mais segurar aquilo.
Eu queria que fosse em uma ocasião especial, mas meu coração já não
aguentava mais esperar. Hannah arregalou os olhos, notei um brilho diferente
e nos seus lábios começou a se desenhar um sorriso. Ela tocou meu rosto e o
alisou daquele jeito carinhoso.
— Esperei tanto para ouvir isso. – sua voz saiu baixinha, mas
inaudível o suficiente para mim – Eu também amo você, Kevin Walsh.
Meu coração pareceu errar uma batida ao ouvir aquelas palavras.
Puxei Hannah novamente, dessa vez com menos delicadeza e devorei seus
lábios. Ela gemeu e agarrou meus ombros com força. Segurei sua cintura e a
coloquei sobre o balcão da cozinha. Afastei suas pernas e me encaixei entre
elas. Deslizei minhas mãos em suas coxas sentindo a pele quente e macia por
debaixo delas.
Levei meus lábios até seu pescoço e distribuí ali alguns beijos calmos,
sugando devagar e pele. O cheiro de Hannah me deixava louco e tudo que eu
queria era passar o resto da vida assim. Desatei o nó do robe e para minha
surpresa, Hannah estava completamente nua.
Aproveitei o momento para observar seu corpo com calma, focando
em cada uma de suas curvas. Os seios fartos estavam a mostra para que eu
pudesse me deliciar com cada um deles e eu não demorei em fazer isso. Levei
minha boca até um dos seus mamilos e o suguei. Hannah soltou um gemido
agarrando meus cabelos e ficou totalmente entregue a mim.
Nos últimos tempos, ela tinha deixado de lado a timidez e ficando
cada vezes mais confiante. A minha ruiva incrível estava tomando ciência da
mulher maravilhosa que era. Passei a língua sobre seu mamilo e me deliciei
com cada um dos seus gemidos enquanto chupava seu seio. Após ficar
satisfeito, fiz o mesmo com o outro. A pele de Hannah estava vermelha e
pegava fogo e eu decidi que essa noite seria dela.
Levantei o olhar para ela e sorri antes de afastar ainda mais suas
pernas e afundar minha boca em sua intimidade molhada. Esse era o sabor
mais delicioso que eu já tinha provado. Hannah se jogou para trás ficando
ainda mais exposta para mim e eu decidi provocá-la.
Usei a língua nos lugares certos com a pressão exata para deixá-la a
beira de um orgasmo, mas antes que ela chegasse lá eu diminuía o ritmo.
Hannah gemeu e choramingou todas as vezes que fiz isso e quando ela estava
ofegante e trêmula, eu aumentei ainda mais os movimentos com a língua e
com a boca e ela explodiu do jeito mais maravilhoso possível.
Enquanto Hannah se acalmava, distribuí beijos na parte interna das
suas coxas e levantei beijando sua barriga, seus seios e finalmente os seus
lábios. Os olhos azuis encontraram os meus e eu sorri.
— Toma um banho comigo? – sugeri – Podemos ir para a banheira.
— Que tentador... – ela sorriu – Mas vou precisar de ajuda porque
acho que estou sem forças.
Dei uma risada e peguei Hannah no colo.
Ela era leve como uma pluma. Subi as escadas e fui direto para o
banheiro do nosso quarto. Deixei Hannah de pé e abri a torneira da banheira.
Deixei a água quente encher e aproveitei para tirar as roupas sob o olhar da
minha namorada. Após me livrar de cada uma das peças de roupa, tirei o robe
dela e segurei seu rosto entre minhas mãos.
— Que bom que ficarei aqui por alguns dias. – falei antes de lhe dar
um beijo nos lábios – Quero aproveitar e ter alguns momentos a sós com
você.
— Já pode começar agora.
— Com o maior prazer.
Duas horas depois, eu estava de pé na cozinha enquanto preparava
algo para comermos enquanto Hannah bebia uma taça de vinho e me ajudava
cortando alguns legumes. Eu me sentia renovado depois de um banho de
banheira com ela e um sexo maravilhoso na cama.
Ela estava de cabelos presos em um rabo de cavalo, um shortinho
preto e uma camiseta dos Yankes que me pertencia, mas que eu já havia
desistido dela. Ficava muito melhor em Hannah.
— Está um cheiro maravilhoso. – ela comentou chegando ao meu
lado enquanto eu salteava alguns cogumelos.
— Obrigado. – virei e lhe dei um beijo no alto da cabeça – É minha
receita especial.
— Depois quero que me ensine a fazer. Na próxima vez que você
estiver na cidade, quero cozinhar e convidar Caleb e Jasmine para jantar.
— Seria ótimo. – respondi enquanto jogava alguns temperos na
frigideira.
— Se der certo, vou cozinhar para os seus pais. – ela falou colocando
sobre o balcão ao meu lado os legumes fatiados – O que é uma
responsabilidade muito grande já que sua mãe é dona de restaurantes.
— Tenho certeza de que você vai agradá-los. – desliguei o fogo e
virei de frente para ela – Que tal amanhã sairmos para almoçar com sua tia e
sua irmã?
— É uma ótima ideia. – sorriu – Você é incrível com elas.
— O aniversário de Cecile está chegando. – comentei lembrando de
uma conversa que tivemos – Quero levá-la a Disney.
— O quê? – Hannah arregalou os olhos – Ela vai amar! Cecile sempre
quis conhecer a Disney, mas infelizmente nunca podemos fazer essa viagem.
— Agora é possível. Será meu presente de aniversário para ela.
Podemos aproveitar para contar essa novidade amanhã.
— Obrigada, meu amor. – Hannah me abraçou pelo pescoço.
Pela primeira vez ela me chamava de “amor”. Eu senti verdade nessa
pequena palavra, mas de significado tão grande. Lembrei-me de que muitas
vezes Susan me chamou assim e depois de descobrir a traição, me dei conta
de que era da boca para fora, mas Hannah era tão verdadeira em seu olhar e
em cada coisa que dizia que eu jamais seria capaz de duvidar.
Jantamos juntos enquanto uma chuva fraca caía do lado de fora.
Eu estava orgulhoso da comida que preparara e contente porque
Hannah tinha gostado.
— Como foram as coisas no trabalho essa semana? – perguntei
enquanto cortava um pedaço de bisteca.
— Estou gostando tanto. Sua irmã tem me ajudado bastante e Lizzie e
Louis são pessoas ótimas para se trabalhar. Eu não poderia ter chefes
melhores! – começou a relatar de maneira empolgada – Fomos a tantos
lugares fazer matérias e não vejo a hora do web jornal entrar no ar.
— Alicia disse que será no próximo mês e que terá uma festa de
lançamento.
— Sim, terá mesmo. Uma festa enorme. – respondeu – Acho que será
em conjunto com a empresa do seu cunhado.
— Provavelmente. Alicia e Ryan que criaram o projeto da biblioteca
comunitária há quase dois anos, na época tiveram alguns problemas, mas no
final deu tudo certo e o mais incrível é o sucesso que está fazendo.
— Sua irmã fala desse projeto com tanto amor. É muito bonito de ver.
— O trabalho e a empresa sempre foram a vida de Alicia. Agora ela
tem sido mais flexível porque tem o marido e o filho também, então digamos
que minha irmã aprendeu a ter outras prioridades. – inclinei-me para a frente
– E eu também aprendi. Sempre vivi muito para o trabalho, mas agora
quando viajo, antes de levantar voo para sair da cidade eu já penso na hora de
voltar.
— E eu fico aqui morrendo de saudades de você.
— Que bom que agora teremos alguns dias juntos antes da próxima
viagem.
Hannah sorriu e levantou-se. Deu a volta na mesa e se acomodou no
meu colo.
Coloquei minha mão sobre sua coxa e a acariciei devagar. Seus lábios
buscaram os meus e nos beijamos sem pressa, com carinho e aproveitando o
contato com o outro.
Ela alisou meu braço nu e se aninhou ainda mais em mim.
A proximidade fez com que meu corpo reagisse ficando excitado.
Fiz com que Hannah levantasse do meu colo e a carreguei até um
sofá. Ela sorriu quando eu a deitei sobre ele e fiquei sobre o seu corpo.
Levantei sua camiseta e expus sua barriga. Comecei a dar beijos leves e
contornei seu umbigo com a língua. Ela gemeu e se arrepiou.
Por mais que tivéssemos transado pouco antes, eu queria mais. Muito
mais.
Enquanto eu distribuía beijos na parte inferior dos seus seios, um
barulho preencheu o ambiente. Reconheci o toque do meu celular, mas
ignorei.
— Você não vai atender? – perguntou.
— Deixa tocar.
Continuei o que estava fazendo, dedicando toda minha atenção à
Hannah até que o som foi interrompido. Quando achei que não iria tocar
novamente, me enganei. O barulho chato me fez suspirar irritado.
— Atende, deve ser importante. – Hannah falou se sentando no sofá.
— Merda!
Xinguei irritado e fui até o balcão onde meu celular tocava sem parar.
Vi na tela o nome do meu irmão e estranhei. Louis quase nunca ligava,
gostava mais de mandar mensagens e se insistia numa ligação era sinal de
que deveria ser importante. Fiquei preocupado e logo atendi.
— Oi.
— Kevin, está em casa? – perguntou e parecia agitado.
— Estou sim.
— Estou perto do seu apartamento, posso passar aí?
— Pode. – franzi o cenho e olhei para Hannah que me observava
curiosa – Aconteceu alguma coisa?
— Chegando aí nós conversamos. Até daqui a pouco.
Ele desligou. Pelo som externo da ligação ele parecia estar dirigindo.
— O que houve? – Hannah perguntou.
— Louis está vindo para cá. Disse que queria conversar, mas não faço
ideia do que possa ser.
— Então é melhor trocar de roupa e arrumar a cozinha.
Hannah levantou-se e foi em direção as escadas.
Aproveitei para retirar a mesa do jantar e colocar a louça na lavadora.
Quando fui para o quarto, Hannah já estava vestida com uma calça jeans e
um suéter rosado. Seus cabelos ruivos foram presos em um rabo de cavalo e
ela se olhava no espelho para conferir o visual.
— Simples e linda. – elogiei.
— Obrigada. – ela se virou e sorriu para mim.
— Louis me deixou preocupado, ele não costuma ligar a essa hora
para vir até o meu apartamento. Alguma coisa aconteceu. Além do mais, ele
tem andado bem estranho nesses últimos tempos.
— Será que é algo sério?
— Espero que não. – entrei no closet e peguei uma calça jeans
qualquer e uma camisa antes de voltar para o quarto – Tomara que não seja
nada com a Maddie.
— Se Deus quiser não vai ser nada.
Dez minutos depois Louis chegou.
Assim que abri a porta, ele entrou em disparada pela sala. Estava
agitado e nem mesmo me deu boa noite. Essa era a prova de que meu irmão
realmente estava se sentindo perturbado com alguma coisa. Fechei a porta e
me virei para ele.
— Louis, está tudo bem? Você quer beber alguma coisa?
— Um uísque.
Franzi o cenho, mas não disse nada.
Louis raramente bebia uísque, ele preferia sempre uma cerveja.
Fui até o bar e peguei um copo. Coloquei dois dedos da bebida e
algumas pedras de gelo e levei até o meu irmão. Ele agradeceu e tomou um
longo gole. Olhei para Hannah que também estava achando bastante estranha
a situação.
— Você claramente não está bem. O que aconteceu, Louis? –
perguntei.
— Jessica voltou.
Capítulo 37
HANNAH

Estávamos em um voo a caminho da Disney.


Depois da semana conturbada com a novidade sobre a ex-namorada de
Louis, assim que Kevin voltou de mais uma viagem, nós decidimos viajar
para comemorar o aniversário de Cecile. Minha tia infelizmente não pudera ir
por conta do trabalho e precisamos convencê-la a deixar minha irmã faltar um
dia de aula para conhecer a Disney e realizar seu sonho. Como as coisas
nunca tinham sido muitos fáceis durante os últimos antes, ela acabou cedendo
para que minha irmã pudesse ter um pouco de diversão no dia do seu
aniversário já que nunca pudemos fazer uma festa ou lhe comprar grandes
presentes.
Maddie também viera conosco.
Depois do retorno de Jessica, que eu descobri ser a mãe da menina,
Louis ficou totalmente agitado e preocupado e achou melhor que a filha
fizesse essa viagem conosco para que ele pudesse ter mais tempo para
resolver sua situação com a ex-namorada com mais clareza e tirar Maddie do
meio daquele caos.
Voávamos na primeira classe e as cadeiras eram divididas em duplas.
Em uma fila eu estava sentada junto de Cecile e do outro lado do corredor
Kevin estava sentado com Maddie.
— Eu nem acredito que estamos indo pra Disney. – Cecile comentou
ao meu lado – É o melhor aniversário da minha vida!
— Agradeça ao Kevin porque ele que teve a ideia.
— Eu já agradeci, mas agradeço de novo. – ela inclinou-se para a
frente e olhou para o lado – Kevin! – chamou.
— Oi, Cecile. – ele atendeu tirando o fone de ouvido.
— Obrigada por me levar pra Disney.
— Você merece. Além do mais, a Maddie adorou a ideia também. –
olhou para a sobrinha – Quero que vocês aproveitem.
Sorri e falei apenas mexendo os lábios “Obrigada”. Ele sorriu de volta
e estendeu a mão para mim. Eu a segurei lhe fazendo um leve carinho.
Ficamos assim por alguns minutos até que tive que soltar sua mão. Kevin
levantou-se e tocou meu ombro devagar.
— Linda, pode ficar de olho na Maddie enquanto vou ao banheiro?
— Claro. – respondi.
Enquanto Kevin se afastava pelo corredor da aeronave, eu observava
Maddie enquanto ela mantinha os olhos fixos na tela a sua frente que exibia
uma animação que eu não fui capaz de identificar. Cecile aproveitou para
pegar seus fones de ouvido para, deduzi, ouvir música. Suspirei e encostei a
cabeça na poltrona ciente de que eu era uma das mulheres mais felizes do
mundo.
Minutos depois, me dei conta de que Kevin estava demorando, mas
antes que eu pudesse cogitar alguma coisa, uma voz soou nos alto-falantes da
aeronave.
“Bom dia, senhores passageiros. Sou o comandante Walsh, mas não
sou eu o encarregado de pilotar esta aeronave, na verdade estou aqui por
outro motivo.”
Fiquei abismada e Maddie, que ao reconhecer a voz do tio levantou a
cabeça com uma expressão confusa. O que Kevin pretendia fazer?
“Neste voo está uma pessoa muito especial. Nós nos conhecemos em
uma aeronave como essa e acho que esta é a maneira mais especial que
encontrei de falar com ela.”
Ouve uma pausa e a essa altura muitos passageiros já olhavam para os
lados procurando saber quem era a pessoa a quem Kevin se referia. Eu, por
outro lado, tinha me ajeitado na poltrona e observava tudo bem atenta. A voz
continuou.
“Hannah, você me mostrou que a vida sempre pode nos surpreender.
Não consigo esperar nem mais um minuto para te perguntar isso. Quer casar
comigo?”
Meu queixo caiu. As pessoas em volta soltavam alguns sons de
alegria, houveram até algumas palmas e eu não conseguia ne reagir. As
coisas estavam indo tão bem com Kevin que eu estava curtindo cada
momento e não pensava muito sobre casamento, mas ouvir aquele pedido
tinha feito meu coração dar um salto no peito.
Não demorou muito até que Kevin aparecesse novamente no corredor.
Engoli em seco e me levantei. Quando os passageiros notaram que eu era a
mulher a quem ele se referia, começaram a me observar. Corei um pouco.
Nunca estive no corredor de uma aeronave nessa situação, as pessoas
costumavam prestar atenção em mim por outros motivos.
Kevin sorriu ao se aproximar e só quando levantou a caixinha de
veludo na altura do meu peito foi que me dei conta de que ele a segurava.
— Então, linda, acho que todos aqui estão esperando uma resposta. –
ele falou, seu tom de voz saindo brincalhão.
— Eu aceito. – respondi sentindo meus olhos marejarem – É claro que
eu aceito.
Ele me abraçou apertado e eu pude ouvir a voz de Maddie
comemorando. Uma salva de palmas ecoou a nossa volta e a felicidade no
meu peito parecia não caber mais. Quando Kevin me soltou, abriu a caixinha
de veludo na minha frente e mostrou o anel brilhante acomodado dentro dela.
A pedra solitária era em formato de gota e ao lado havia algumas pequenas
pedras que brilhavam da mesma forma. Ele pegou a joia e eu estendi a mão.
Nesse momento notei o quanto tremia.
Delicadamente Kevin deslizou a joia pelo meu dedo e eu sorri antes
de ser beijada pelo homem mais incrível que eu já havia conhecido. Quando
seus braços me envolveram e seus lábios se grudaram aos meus, ouvi uma
salva de palmas ecoar a nossa volta. Imediatamente corei e quando nos
afastamos, coloquei a mão no rosto totalmente envergonhada.
Não estava acostumada a ser o centro das atenções dessa maneira.
Quando comissária, eu demorei até conseguir me sentir confortável diante de
um grande número de pessoas.
— Eu te amo. – Kevin falou baixinho antes de me dar um beijo na
testa.
— Eu também amo você.
Tivemos que nos sentar, mas passei grande parte do resto do voo
admirando meu anel de noivado. Era a joia mais linda que já tinha visto.
Cecile ficou tão encantada quanto eu e não parou de tagarelar o quanto o anel
era bonito.
Já no táxi a caminho do hotel, eu estava sentada no banco de trás com
as meninas enquanto Kevin ia no banco da frente ao lado do motorista. A
primavera já dava sinais em Orlando e o sol brilhava do lado de fora.
Tínhamos chegado na hora do almoço e eu já sentia fome. Kevin nos
surpreendeu porque não tinha reservado um hotel e sim um apartamento de
luxo bem próximo aos parques da Disney.
Assim que o táxi parou em frente ao apartamento, todos nos descemos
e o motorista nos ajudou a pegar nossas bagagens.
— Que lindo! – Cecile exclamou olhando para o alto – Nós vamos
ficar aqui?
— Sim. – Kevin respondeu – Escolhi esse apartamento porque as
janelas do quarto dão vista para os parques. Achei que iriam gostar.
— Eu amei! – ela deu pulinhos.
— Obrigada, tio. – Maddie o abraçou do seu jeito carinhoso.
Entramos no apartamento alugado e ele era extremamente espaçoso.
O enorme sofá na sala parecia extremamente confortável, a grande
TV me dava impressão de estar em um cinema e a varanda parecia espaçosa.
Kevin mostrou às meninas o quarto delas e as pediu para que tomasse um
banho e se preparassem para irmos almoçar em algum restaurante. Logo em
seguida, ele me puxou pela mão e me pediu para lhe acompanhar até o nosso
quarto.
O cômodo era bastante espaçoso também e a cama parecia ser a maior
que eu já tinha visto na vida. Havia também uma TV presa à parede e uma
grande janela atrás de uma cortina de voal branca.
— Aqui é a suíte. – ele apontou para uma porta que indicava o
banheiro – E aqui é o closet. – apontou para uma porta dupla do lado
esquerdo – Pode deixar suas roupas ali se quiser.
— Esse apartamento é enorme! – exclamei completamente
maravilhada.
— Sim, é mesmo. Mas é bom que seja confortável para todos nós. Se
as meninas quiserem ver TV na sala, podemos ficar aqui sem que ninguém
nos atrapalhe.
— Obrigada por pensar em tudo. – aproximei-me dele e passei os
braços em torno do seu pescoço – Meu noivo. – completei.
— Sei que algumas pessoas podem dizer que está cedo para fazermos
isso, mas eu não me importo. Nunca me pareceu tão certo te pedir em
casamento. – falou deslizando a mão sobre a minha lombar – Não consigo
imaginar outra pessoa para me casar que não seja você.
— Eu amei o pedido de casamento. Amo cada palavra que me diz.
Amo você e também não consigo imaginar ninguém melhor para ser meu
marido. Você é perfeito.
Ele me beijou com calma.
Kevin tinha se tornado meu porto seguro e o homem que me inspirava
todos os dias.
Quando tudo pareceu perdido, quando fui dispensada do trabalho e
pensei que as coisas ficariam complicadas em casa, ele encontrou a solução
ideal e eu finalmente estava fazendo o que tanto gostava.
Não via a hora de oficializar nossa união e colocar um lindo vestido
branco como sempre sonhara.
— Eu adoraria aproveitar o clima do pedido de casamento, mas logo
terão duas garotas na sala ansiosas e morrendo de fome, então deixaremos
para mais tarde. – ele falou após me dar um selinho.
— Certo. – afastei-me e fui até minha mala – Vou tomar um banho e
por uma roupa mais fresca. Orlando está bem quente.
Uma hora depois, após todos estarmos prontos, Kevin chamou um
táxi para irmos até o restaurante.
Eu não conhecia muita coisa em Orlando, então deixei que ele
escolhesse. Kevin não decepcionou e decidiu por uma Steakhouse com
decoração linda que misturava o clássico e o moderno. Cecile ficou muito
animada e pediu a anfitriã uma mesa mais ao canto.
Kevin não se importava que minha irmã e sua sobrinha tomassem as
decisões, a única coisa que parecia lhe preocupar era em alisar minha mão
com o polegar. Ele estava tranquilo e relaxado e eu me acostumava aos
poucos com o estilo de vida dele.
— Tio, quando vamos ao parque? – Maddie perguntou assim que nos
sentamos.
— Depois do almoço. – respondeu pacientemente – Vamos dar umas
voltas, mas nada de ir nos brinquedos. Não quero que ninguém coloque toda
a comida pra fora.
— Eca! – Cecile fez uma careta – E o parque do Harry Potter, a gente
pode ir?
— Claro. – ele respondeu – Vamos aproveitar esses dias, infelizmente
não serão muitos, mas é o suficiente.
Um garçom se aproximou oferecendo ajuda e seus serviços.
— Alguma recomendação de prato? – Kevin perguntou.
— Indico o Chateaubriand for Two. É um excelente angus bife. O
senhor pode escolher os acompanhamentos disponíveis em nosso cardápio.
— Obrigado.
O rapaz se afastou e Kevin perguntou às meninas que
acompanhamentos queriam. Ambas escolheram purê de batata e eu escolhi
creme de espinafre. Ele escolheu o mesmo que eu e pediu um vinho enquanto
as meninas escolhiam seus sucos.
Durante todo o almoço fiquei encantada com a maneira com que
Kevin tratava minha irmã e sua sobrinha. Ele era extremamente carinhoso
com ambas e por mais que não quisesse pensar nisso, minha mente me traía a
ponto de me fazer imaginar como Kevin seria quando fosse pai. Nenhum de
nós falara sobre filhos e no momento, eu acreditava que não era a hora certa.
Eu tinha que focar em alguns projetos antes de finalmente me entregar ao
papel de mãe. Além do mais, eu era bastante nova. Havia tempo.
O celular de Kevin tocou e pude ver na tela o nome de Louis.
— Com licença, eu vou ali atender rapidinho.
Ele se levantou e afastou-se.
No canto do restaurante, Kevin parecia mais ouvir do que falar. Notei
cada uma de suas expressões e ele parecia preocupado durante grande parte
da conversa.
— Hannah, vamos poder pedir sobremesa? – Cecile chamou minha
atenção.
— Claro. Por que não dão uma olhada no que querem pedir? Assim
vocês já podem ir decidindo.
Alguns minutos depois Kevin voltou e sentou-se ao meu lado.
Perguntei se estava tudo bem, mas ele me disse que era melhor conversarmos
depois. Provavelmente alguma coisa tinha acontecido e não era nada bom.
Após o almoço, fomos para o parque.
Assim que entramos no Magic Kingdom, me emocionei ao ver minha
irmã realizando um sonho. Não pude deixar de me sentir um pouco criança
também. Nunca tive a oportunidade de conhecer a Disney e ela parecia
mesmo aquele lugar mágico que víamos na TV e na Internet.
Caminhamos por entre a enorme quantidade de turistas e tiramos
diversas fotos. Kevin fez questão de tirar fotos comigo e tiramos fotos em
família também. Enchemos nossos celulares de imagens nossas e do parque.
Haviam personagens dos filmes espalhados por diversos lugares e Maddie fez
questão de tirar fotos com a maioria. Enquanto ela e Cecile interagiam com o
Pateta, Kevin me puxou em um canto.
— Louis está preocupado. – falou sem tirar os olhos da sobrinha.
— O que aconteceu?
— Parece que Jessica estará em Nova York no próximo mês. Isso está
aterrorizando meu irmão.
— O que ela fez no passado que deixou seu irmão tão perturbado?
— Ah, linda... – ele suspirou – As coisas não foram fáceis, Louis não
gosta de falar do assunto.
— Sinto muito. – imediatamente fiquei triste.
— O fato é que ele está extremamente nervoso e me agradeceu por ter
trago a Maddie. Ficou contente por ela estar se divertido.
— Diga a ele que se precisar de alguma coisa, podemos ajudar.
— Sim, eu disse. – olhou para mim – Quero que a Maddie se divirta
bastante nessa viagem porque tenho a impressão de que as coisas não serão
fáceis depois que retornarmos.
Deixamos o assunto de lado e esperando pelas meninas. Maddie quis
participar do Buzz Lightyear’s Space Ranger Spin, uma espécie de jogo onde
cada participante recebe uma pequena arma para acertar os alvos ao longo do
caminho. O vencedor é quem faz mais pontos. Achei bastante divertida a
brincadeira e Kevin acabou nos vencendo com muitos pontos de diferença.
— Estou cansada. – suspirei.
— Mas já? Você perdeu no jogo, linda. – Kevin deu risada – Eu que
deveria estar cansado, fiz a maior parte do trabalho.
— Não seja idiota! – dei-lhe um tapinha no braço.
— Tio, podemos comer aquele sorvete que vem na pia do Mickey? –
Maddie perguntou.
— Claro.
Achei confuso o pedido. Como assim um sorvete que vinha em uma
pia?
Isso não fazia o menor sentido.
Quando chegamos à sorveteria e Maddie comprou seu sorvete coberto
com calda de chocolate, chantily e cerejas, eu entendi. O pote onde era
servido o sorvete tinha o formato quadrado, representava a calça do Mickey e
na parte superior havia uma pequena torneira preta que fazia com que
parecesse realmente uma pia. Cecile achou um máximo e acabou comprando
um também.
— Há diversas coisas aqui nesse lugar que me surpreendem. –
comentei.
— Acredite, tem mais coisas que vão te deixar de queixo caído.
E foi o que aconteceu.
O parque era um lugar único. A criatividade e glamour do lugar
chamava a atenção dos turistas de todo o mundo. Algumas coisas você só
encontraria no Magic Kingdom. Entramos em algumas lojas, as meninas
compraram alguns objetos e bichos de pelúcia. Nós quatro saímos de uma das
lojas com orelhas do Mickey e da Minnie.
Kevin comprou para um a miniatura do castelo da Cinderela que, na
verdade, não era tão miniatura assim.
Chegamos ao apartamento à noite. Eu me sentia extremamente
cansada e apesar de ter colocado um sapato confortável, meus pés estavam
doloridos. As meninas correram para tomar banho, pois também estavam
cansadas e eu fui até o quarto. Sentei-me para retirar os sapatos e Kevin
entrou logo em seguida.
— E aí, se divertiu? – perguntou.
— Bastante. – sorri – O dia foi maravilhoso. – estendi a mão
mostrando meu anel – Começou muito bem, por sinal.
— Que bom que gostou. – ele se aproximou e ajoelhou-se na minha
frente – Em breve você será uma Walsh.
— Hannah Walsh... – falei o nome pensando na sonoridade dele –
Gostei.
— Ficou perfeito. – ele segurou minha mão e deu um beijo na mesma
– Minha mãe vai enlouquecer quando receber a notícia. Pelo visto, no mesmo
dia ela vai querer começar a planejar o casamento. Se prepare.
— Eu vou adorar a ajuda dela. Não tenho ideia de onde começar.
— Vou deixar que escolha tudo, a única coisa que quero escolher é o
local.
— É mesmo? E qual seria?
— Caribe. – respondeu – Lembra do nosso primeiro beijo?
— Sim.
Fechei os olhos por alguns segundos. Aquele dia ainda bem vivo em
minha memória.
Quando decidi ficar sozinha à beira da piscina, não esperava que
Kevin fosse aparecer e dali surgiria um beijo. Foi nesse momento que percebi
o quanto ele mexia comigo. Foi naquele belo lugar que almoçamos juntos no
restaurante à beira-mar e eu descobri mais detalhes sobre ele.
— Lembra do nosso almoço naquele restaurante bonito? – perguntei.
— Eu me lembro de cada detalhe daquela viagem. – segurou meu
rosto entre as mãos – Todos os dias agradeço por ter decidido dar uma volta
naquela noite e te visto sozinha naquele hotel.
— Por quê?
— Porque eu cedi a vontade de te dar um beijo.
Eu me arrepiei quando ele se aproximou do meu pescoço e começou a
distribuir beijos calmos. Fechei os olhos e me deixei levar pelo momento.
Kevin era carinhoso, sexy e fazia com que eu me sentisse a mulher mais linda
do mundo. Ele me apertou contra seu corpo e deslizou a mão pela minha
bunda.
Imediatamente fiquei excitada e agarrei seus cabelos. Kevin invadiu
minha boca com a língua e quando me dei conta, já estávamos deitados na
cama com ele sobre o meu corpo. Respirei fundo quando ele começou a
deslizar os lábios sobre meu colo, beijando a curva dos meus seios. Um
barulho nos tirou do nosso mundo.
— Tio! – Maddie gritou da sala.
— Céus, isso que é ter filhos? Não conseguir mais transar? – ele
resmungou saindo de cima de mim.
— Não seja dramático e veja o que ela quer.
— Oi! – ele gritou saindo do quarto.
Sentei-me na cama e um minuto depois Kevin retornou.
— As meninas querem pedir pizza para comer vendo um filme.
— Louis vai nos matar se souber que estamos entupindo a filha dele
de porcaria.
— Acredite, linda, Louis não vai se importar com isso. Estamos
fazendo um favor para ele mantendo a Maddie longe por uns dias. Quando
voltarmos, aguarde o furacão que essa família vai se tornar. Está preparada
para ser uma Walsh?
Capítulo 38
HANNAH

Retornamos de Orlando completamente felizes.


As meninas tinham se divertido, Kevin comprara para mim vários
presentinhos de princesas e eu as coloquei nas prateleiras do meu escritório.
Por mais que fosse uma mulher adulta, eu nunca tive a oportunidade de ter
esse tipo de coisa e satisfazer a criança interior dentro de mim preenchia meu
coração.
Coloquei a última princesa em seu lugar e dei dois passos para trás
para admirar minha coleção de princesas Disney. Sorri satisfeita e uma batida
na porta me distraiu. Olhei para o lado e vi Kevin insinuando entrar. Eu o
chamei com a mão e ele se aproximou de mim me abraçando por trás.
— Acho que alguém gostou dos presentes.
— Sim, eu adorei. – virei o rosto em uma tentativa de olhá-lo –
Obrigada, meu amor.
— Farei de tudo para colocar um sorriso nesse rostinho lindo. –
beijou o meu rosto – Vim te chamar para sairmos para jantar.
— Certo.
Nós nos arrumamos e eu coloquei um vestido azul marinho que ia
até o meio das coxas, uma sandália de salto preta e uma bolsa da mesma cor.
Apliquei uma maquiagem leve e encontrei com Kevin na sala de estar.
— Onde vamos?
— A um restaurante francês que é maravilhoso, acho que vai
gostar.
O local era muito bonito.
Kevin já tinha reservado uma mesa e o anfitrião nos levou até lá. O
restaurante era decorado com quadros de pontos turísticos franceses e as
mesas de madeira combinavam com o assoalho. O cardápio estava disponível
em um tablet e havia informações detalhadas sobre os pratos e imagens dos
mesmos.
— Não sei o que escolher. – falei enquanto corria os olhos pelas
opções disponíveis.
— Tem um particularmente que eu gosto muito, é o peru com foie
gras.
— Então vamos pedir esse.
Kevin fez o pedido justamente com um vinho. Enquanto
aguardávamos, ouvíamos uma melodia de fundo como música ambiente e
Kevin estendeu a mão sobre a mesa esperando que eu retribuísse e a
segurasse.
— Andei pensando em algo. – falou quando segurei sua mão –
Podíamos ir para a Itália.
— O quê? – arregalei os olhos.
— Uma vez eu lhe disse que a Itália era um país especial para
minha família e gostaria de um dia lhe levar lá.
— Seria ótimo, amor. – sorri – Mas acabamos de voltar de uma
viagem e eu não posso me ausentar do trabalho tão cedo. Além do curso de
maquiagem.
— Tudo bem, sei que é importante para você. – senti seu polegar
deslizar pelas costas da minha mão – Mas pense que essa pode ser a nossa
lua-de-mel.
— Passar a lua-de-mel na Itália? – perguntei surpresa – Isso seria
melhor do que eu poderia imaginar.
— Casaremos no Caribe e no dia seguinte voamos direto para a
Itália. – sorriu – Você vai adorar o vinhedo da família.
— Vocês tem um vinhedo? Cada vez descubro mais coisas sobre a
sua família. Existe alguma coisa que vocês não tenham?
— Algumas. – o sorriso continuava em seu rosto – Não vejo a hora
de me casar com você, Hannah Davis e te transformar em Hannah Walsh.
— Está sendo possessivo?
— Um pouco.
Kevin era um cara incrível.
Seu sorriso sincero e relaxado era uma das coisas que eu mais
amava nele, além da atenção que me dava. Ele me perguntou sobre o curso e
o trabalho, fazia questão de ouvir tudo que eu tinha para dizer e as histórias
que aconteciam enquanto a equipe jornalística gravava as matérias.
— Estão todos adorando o seu trabalho, linda.
— Eu fico tão feliz com isso! – suspirei – No início tive tanto
medo. Por mais que amasse a maquiagem, ser comissária de bordo era o que
eu já estava acostumada a fazer.
— Você foi uma excelente comissária, ainda sinto sua falta na
tripulação, mas ver o seu sorriso de felicidade e o brilho nos olhos quando
fala do seu novo emprego é gratificante.
— Tudo isso graças a você que conversou com sua irmã.
— Posso ter dado um empurrãozinho, mas se você não fosse boa no
que faz, não teria dado certo.
— Obrigada.
O jantar foi servido e Kevin tinha razão, realmente tinha sido uma
boa escolha. A sobremesa ficou por minha conta e eu pedi um crème brûlée
que não me decepcionou. Saímos do restaurante satisfeitos e Kevin chamou
um táxi.
— O que vai fazer amanhã?
— Vou trabalhar durante a manhã e à tarde sua irmã vai sair
comigo para vermos o vestido de noiva.
— Ansiosa? – perguntou alisando meu joelho no banco de trás do
táxi.
— Um pouco. Nunca pensei muito a respeito do meu casamento e
esses detalhes, achei que não iria acontecer tão cedo, nunca foi prioridade
para mim, sabe?
— Sei. Eu me sinto da mesma forma, achei que essa história de
casamento nunca mais fosse acontecer, mas cá estou eu, louco para subir ao
altar e dizer “sim”.
— Está me deixando nervosa. – falei abraçando-o.
Kevin riu e me abraçou de volta enquanto esperávamos um táxi.
Quando o veículo despontou na esquina, ele fez um sinal e entramos. Fomos
para o apartamento e eu deitei em seu ombro sentindo o cansaço tomar conta
de mim.
No dia seguinte, acordei cedo para trabalhar e me preparar para sair
e escolher um vestido. Alicia me mandou uma mensagem logo cedo
confirmando que me aguardava para almoçarmos juntas antes de sairmos e eu
lhe respondi que a encontraria no restaurante árabe próximo à empresa.
Kevin estava deitado ainda, por sorte só voltaria ao trabalho
amanhã, então eu sabia que chegaria em casa e encontraria aquele sorriso
lindo e um jantar especial que ele sempre preparava quando estava de folga.
Esses detalhes me deixavam ainda mais apaixonada.
Passei a manhã na rua com a equipe de jornalismo enquanto
gravavam uma matéria sobre os programas culturais para o fim de semana e
retoquei a jornalista cerca de duas vezes já que a gravação demorou. Olhei no
relógio de pulso que estava quase na hora de encontrar com Alicia e quando
finalizamos tudo, saí correndo para encontrar um táxi que me levasse de volta
para a empresa, já que o resto da equipe continuaria na rua por mais algum
tempo.
O trânsito fez com que eu me atrasasse quase quinze minutos para
encontrar com Alicia no restaurante. Desci do táxi na frente da empresa e
decidi ir andando até o próximo quarteirão porque seria mais rápido do que
ficar presa em um táxi no tráfego agitado de Nova York. Ajeitei minha bolsa
sobre os ombros e caminhei apressada. Acabei esbarrando em uma pessoa e
antes mesmo de olhar para a mesma eu fui me desculpando.
— Perdão. Foi culpa minha.
Ao levantar a cabeça dei de cara com Isabella. A mulher que ficara
com Kevin antes de mim e tinha tentado acabar com nosso relacionamento
me dando o relógio dele na festa na mansão Walsh.
Era a primeira vez que eu a via desde que começara a trabalhar no
projeto de Alicia. Nos corredores, os funcionários diziam que Isabella fora
para Chicago por algumas semanas para cuidar da equipe de publicidade da
filial em Illinois.
— Que coincidência! – ela exclamou se aprumando e ajeitando os
longos cabelos escuros – Veja se não é a namoradinha nova do Kevin.
Seu jeito arrogante, o nariz em pé e o jeito que me olhava poderiam
fazer eu me encolher há alguns meses atrás, mas agora eu era uma nova
Hannah e não abaixaria a cabeça para ninguém.
— Desculpe, estou atrasada... – falei cortando o assunto.
— Pelo visto você não olha por onde anda porque sua atenção está
voltada para achar um cara rico. – alfinetou – Coitado do Kevin que acreditou
nessa sua carinha de inocente.
— Eu não tenho tempo para ficar aqui ouvindo sua dor de cotovelo.
Tenho um compromisso. Se quiser fazer reclamações, deixa recado na minha
secretária eletrônica. Com licença.
Saí depois de ajeitar minha bolsa no ombro e deixei Isabella com a
resposta entalada na garganta. Eu não tinha tempo e nem vontade de ficar
ouvindo suas palavras ácidas em relação a mim e ao meu relacionamento com
Kevin. Seria muito mais fácil se ela superasse do que ficasse remoendo.
Se eu passaria a encontrar com ela pelos saguões da Walsh
Publishing House, eu teria a resposta na ponta da língua para cada uma das
suas provocações.
Cheguei no restaurante sem fôlego e Alicia já me esperava sentada
em uma mesa enquanto digitava algo no telefone. Ao notar minha presença,
levantou o olhar e sorriu para mim.
— Acabei me atrasando, desculpe. O trânsito está horrível e a
gravação da matéria demorou mais do que esperávamos.
— Não tem problema. Estava aqui conversando com o Louis sobre
alguns detalhes da equipe dele. Acho que em breve teremos que aumentar.
— É mesmo? – pendurei minha bolsa no encosto da cadeira.
— A demanda está crescendo.
— Sinal de que as coisas estão dando certo.
— E eu fico muito contente. Em breve teremos a festa oficial de
lançamento do webjornal. – pegou o tablet – Vamos pedir logo porque estou
morta de fome.
Sorri e concordei. Eu também estava faminta.
Escolhemos uma salada de entrada e um vinho rosé. Eu nunca tive
o hábito de tomar vinho nas refeições, mas desde que começara a namorar
com Kevin, isso estava se tornando mais frequente. Também comecei a me
dar conta de que pessoas ricas sempre bebiam vinho no almoço e no jantar.
— Vindo para cá esbarrei em Isabella. – comentei com Alicia.
— Ah, tinha me esquecido que ela já retornou de Chicago. –
suspirou – Espero que ela não apronte nenhuma gracinha. Kevin me contou o
que ela fez no dia da festa.
— Está tudo bem, ela até tentou me abalar, mas esse truque já está
ficando velho.
— Fico contente com isso. Isabella sempre correu atrás do meu
irmão, ela pelo visto não sabe se dar por vencida.
— No início eu até me sentiria afetada por ela, mas confio em
Kevin. Ele tem se mostrado um homem incrível. – levantei a mão mostrando
minha aliança – Afinal, vamos nos casar, né?
— E meu irmão está super apaixonado por você. – Alicia sorriu –
Eu torci tanto para que ele voltasse aos eixos depois do que aconteceu. Agora
estou muito ansiosa para vermos o seu vestido.
Eu também estava louca para experimentar. Não fazia ideia de que
modelo iria escolher, mas queria algo que fosse leve para nosso casamento na
praia.
O jantar chegou e Alicia e eu decidimos falar sobre a festa de
casamento. Kevin e eu escolhemos algumas coisas que fazíamos questão e
deixamos que Alicia, Diana, minha tia, Cecile e Juliet dessem suas opiniões e
me ajudassem a decidir sobre detalhes que eu nem fazia ideia que seriam
importantes.
Infelizmente minha melhor amiga não pode vir me ajudar a
escolher o vestido de noiva porque estava em um plantão, mas eu mandaria
todas as fotos para ela. Queria muito que Juliet participasse desse momento
especial.
— Eu vou aproveitar e escolher meu vestido para o casamento.
Essa semana Ryan e eu vamos escolher a roupa para o Luca.
— Ele vai ficar uma graça.
Após o almoço, fomos até uma das lojas mais famosas dos Estados
Unidos especializada em vestidos de noiva. Assim que entramos, nos foi
oferecido champagne, mas eu recusei. Alicia aproveitou para aceitar uma taça
e sorriu para mim brindando em silêncio.
Um dos vendedores veio em nosso auxílio.
— Boa tarde, sou Mark Henderson e estou aqui para ajudá-las a
escolher o melhor vestido. Qual das duas é a noiva?
— Ela. – Alicia apontou para mim.
— Certo, qual o nome de vocês? – perguntou para mim.
— Hannah Davis. – respondi.
— Alicia Beaumont.
— Muito prazer. Agora, Srta. Davis, vamos em busca do seu
vestido perfeito.
— Pode me chamar de Hannah.
— Certo, Hannah. – ele girou nos calcanhares – Me acompanhem.
Subimos para o andar de cima e ele nos levou até a área onde eu
poderia experimentar os vestidos. Alicia sentou em um sofá e ficou
saboreando seu champagne enquanto eu não sabia o que fazer. Sem dúvidas
Mark seria de grande ajuda.
— Que tipo de vestido você gostaria, Hannah? Algum modelo em
mente?
— Na verdade, não. Eu vou me casar na praia, então queria algo
que seja leve e combine com o local.
— Tenho algumas opções perfeitas para você. – ele me chamou.
— Mostre a ela os modelos exclusivos. – Alicia lembrou.
— Será um prazer. Me acompanhe.
Mark me levou para um corredor com diversas araras e vestidos
expostos. Havia dezenas, talvez centenas de opções e eu fiquei de boca
aberta. Se ele me mostrasse tantos vestidos eu com certeza ficaria em dúvida
e não conseguiria decidir.
O rapaz era ágil, sabia onde estava cada tipo de vestido e pegou
cerca de cinco para me mostrar. Todos estavam embalados e muito bem
protegidos.
— Tenho certeza que um desses será o vestido perfeito. –
comentou.
Ele me levou até um provador e pendurou todos os modelos.
Respirei fundo e comecei a desembalar um dos vestidos.
Não demorou muito até que eu já estivesse de frente para o espelho
usando um modelo branco e simplesmente lindo. Ele não possuía alças, tinha
decote coração e renda na região do tronco. A saia era leve e longa e tinha um
caimento maravilhoso.
Quando mostrei para Alicia, ela bateu palminhas e sorriu.
— Você está linda, Hannah.
— Estou apaixonada por esse vestido.
— Ele é maravilhoso. – Mark comentou – A cor dos seus cabelos
sobressai ainda mais no vestido branco.
— Eu quero levar esse.
— Está decidida? – ele perguntou – A maioria das noivas
experimentam dezenas antes de escolher um.
— Sim, estou. – afirmei – Se eu experimentar mais, ficarei em
dúvida e eu simplesmente amei esse.
— Kevin vai morrer quando te vir assim. – Alicia sorriu tocando a
saia do vestido.
— Nós vamos acertar as medidas para deixá-lo ainda mais perfeito
em você.
Uma hora depois estávamos saindo da loja juntas. Alicia tinha
escolhido seu vestido e estava bastante satisfeita. Fui todo o caminho
sonhando com meu casamento e pensando em como minha vida tinha
mudado desde que conheci Kevin.
Eu era uma mulher cheia de sonhos e medos, além das
responsabilidades de ajudar minha tia com cada dólar que ganhava. Desde
que perdi meus pais eu tive que ser forte e ainda mais madura para ajudar
minha tia a criar Cecile e todos os dias quando via o sorriso da minha irmã,
isso me dava ainda mais forças para levantar e batalhar pelo que
precisávamos.
Agora, as coisas tinham melhorado consideravelmente. Eu
continuava ajudando minha tia com as despesas e Kevin fazia questão de me
dar o que fosse necessário. Ele não aceitava nenhum centavo meu nas
despesas do apartamento.
— Tenho que voltar para a empresa. – Alicia falou guardando o
celular na bolsa – Ainda tenho uma reunião com alguns diretores.
— Tudo bem, eu vou direto para casa. – falei – Amanhã Kevin
volta ao trabalho e vou aproveitar que posso chegar mais cedo em casa hoje.
O táxi parou em frente à empresa e Alicia desceu. Eu continuei
sentada no banco de trás esperando para chegar logo ao apartamento e ficar
um pouco com meu noivo. O trânsito movimentado me fez demorar mais do
que o esperado chegar ao meu destino.
Desci do veículo após fazer o pagamento e olhei para o grande
edifício que agora era a minha casa. Eu amava Long Island, mas estava aos
poucos me acostumando com a agitação de Manhattan. Minha irmã adorava
vir para cá e geralmente quando Kevin estava viajando, ela e minha tia
passavam um tempo no apartamento comigo para que não me sentir sozinha.
Costumávamos sair para passear no Central Park, o programa
preferido da minha tia. Cecile adorava parar nas cafeterias para tomar um
chocolate quente acompanhado de biscoitos.
Ao abrir a porta, encontrei com Kevin sentado no sofá sorrindo em
minha direção. Imediatamente ele se levantou e se aproximou de mim com
aqueles olhos verdes brilhantes.
— Oi, linda. Que bom que chegou.
— Vim o mais rápido possível para passar mais tempo com você. –
respondi largando minha bolsa no aparador.
Kevin me beijou apaixonadamente. Era a melhor parte do meu dia.
Suspirei em seus braços e senti todos os meus músculos relaxarem.
— Encontrou o vestido? – perguntou afastando seus lábios dos
meus.
— Sim. É lindo!
— Não vejo a hora de vê-la vestida com ele. – segurou minha mão
e me puxou para o sofá – Andei pensando sobre uma coisa.
— O quê?
— Sente-se.
Kevin estava misterioso e eu acabei me sentando ao lado dele no
sofá. Sem soltar minha mão, ele começou leve carícias com o polegar sobre a
minha palma.
— Já que vamos nos casar, acho que deveríamos procurar outro
lugar para morar.
— Mas por quê? Esse apartamento já é lindo e enorme.
— Porque vamos começar uma vida nova e precisamos de um lugar
novo. Esse apartamento foi da minha vida de solteiro, quero um para minha
vida de casado. Além do mais, quero que você escolha e decore do seu jeito.
— Kevin... – insisti.
— Por favor, linda. É a nossa casa. Tem que ter um toque da futura
Sra. Walsh.
— Tudo bem. – respondi me dando por vencida – Futura Sra.
Walsh... – repeti – Já estou me acostumando com isso.
— Eu acho que combina bastante com você. – ele beijou minha
mão – Procure Alicia, ela tem o contato de um excelente corretor de imóveis,
o mesmo que encontrou o apartamento dela e do Ryan. Quando eu retornar
de viagem, vamos ver alguns dos locais juntos.
— Certo, amanhã falarei com sua irmã.
— Enquanto isso, vamos aproveitar o resto do dia antes de eu ficar
longe de você novamente.
Capítulo 39
KEVIN

Eu poderia jurar que isso nunca fosse acontecer.


Quando terminei meu relacionamento com Susan, eu tinha convencido a
mim mesmo de que me envolver novamente com alguém estava fora de
cogitação. Casar? Jamais! Nem que estivesse louco.
Agora, dois meses depois de pedir Hannah em casamento, eu estava
ajeitando minha gravata na frente do espelho de um hotel no Caribe a poucos
minutos da cerimônia.
Neste mesmo lugar foi quando cedi a tentação que me consumia
desde que conheci aquela ruiva deslumbrante. Não foi fácil travar uma luta
diária entre meu corpo e minha razão. Hoje, agradeço por ter deixado meu
corpo vencer. Logo em seguida, foi meu coração que falou mais alto.
Ouvi uma batida na porta.
— Entre! – gritei.
A figura do meu irmão surgiu e deu um sorriso para mim antes de
fechar a porta atrás de si.
— Nervoso? – perguntou se sentando na cama.
— Por incrível que pareça, estou tranquilo. – virei para ele e coloquei
as mãos no bolso – Acho que eu deveria perguntar se você está nervoso.
— Não tenho dormido bem à noite. – confessou – Jessica chegou a
Nova York.
— Ela não desistiu mesmo. – comentei.
— Sim. – suspirou – Entrou em contato comigo ontem e está me
pressionando. Minha vida está virando um inferno, Kevin.
— Relaxe, tente se distrair desse problema pelo menos hoje. – abri os
braços – É o dia do meu casamento, cara! Vocês não queriam tanto que eu
tomasse jeito na vida?
— É verdade. – levantou-se e me deu um abraço fraternal – Fico feliz
vendo que encontrou a mulher certa.
— Você vai encontrar também. Você merece, Louis.
Olhei mais uma vez para o espelho procurando verificar se a gravata
estava desalinhada e quando me dei por convencido, saí do quarto de hotel
com meu irmão. O clima estava ameno no Caribe e o casamento na praia
seria ideal.
Ao chegar onde seria celebrada a cerimônia, pude ver a decoração em
rosa claro e branco, do jeito que Hannah queria. Tínhamos decidido casar
durante o por do sol. Muitos convidados já estavam lá, todos com uma roupa
mais leve e pés descalços. Minha mãe se aproximou rapidamente de mim e
segurou meu rosto como fazia quando eu era criança.
— Você está lindo, meu amor! – seus olhos brilhavam de alegria.
— Obrigado, mãe. Você também está linda como sempre. – segurei
sua mão e dei um beijo nela – Onde está minha noiva?
— Terminando de se arrumar. Alicia está lá com ela.
— Que bom. Espero que não demore.
Meu pai veio me cumprimentar logo em seguida com um longo
abraço. Ele nunca foi um homem de demonstrar muito sentimento, mas nós
sabíamos o quanto nos amava.
Fiquei feliz de ver todos que eu convidei ali. Não era fácil organizar
suas agendas para voar até o Caribe. Fiz questão de financiar a viagem
porque eu fazia questão da presença de todos.
Caleb se aproximou com um grande sorriso ao lado da Jasmine. Eles
faziam um casal muito bonito e eu ficava feliz pelo meu amigo.
— Eu sabia que isso ia acabar acontecendo. – comentou enquanto me
dava alguns tapinhas nas costas – Estou contente por você, cara.
— Acredite, também estou feliz por vocês. – olhei para Jasmine –
Obrigado por aguentar o meu amigo.
— Não é nenhum sacrifício. – ela sorriu – Torci muito por você e pela
Hannah. Eu desejo que sejam muito felizes.
— Obrigado, Jasmine. Hannah adora você e vai ficar muito contente
de vê-la aqui.
— Chegamos em cima da hora por conta do fuso-horário da última
viagem, mas conseguimos.
Muitos convidados já se organizavam nas cadeiras para assistir à
cerimônia. Vi Juliet, que seria a dama de honra de Hannah, Louis estava ao
lado de Maddie e seria meu padrinho, Ryan segurava Luca no colo, Lizzie
conversava com minha mãe e minha avó, além da tia e irmã de Hannah e
Peter.
Afastei-me um pouco dos convidados e fiquei olhando para o mar
com as mãos no bolso da bermuda. A vida surpreendia nos surpreende todos
os dias. Depois da decepção do passado, eu acreditei de fato que nunca
chegaria novamente ao ponto de me apaixonar e decidir casar. Hannah foi um
presente enviado a mim para que eu acreditasse que havia sempre uma nova
oportunidade na vida e que nem todas as experiências se repetiriam.
Ela era incrível, a beleza exterior chamou minha atenção no começo,
mas ao conhecê-la, descobri que sua beleza interior era ainda mais. Uma
mulher dedicada, inteligente, humilde e que nunca me pediu dinheiro.
Hannah fazia questão de trabalhar, muitas vezes até tarde, para ter sua
independência financeira. Eu insisti para quitar a hipoteca da casa da sua tia,
ela brigou comigo porque fazia questão de pagar. Com muito custo, depois de
conversar com Eleonor, consegui convencer minha noiva de pagar pelo
menos a metade.
Hannah era orgulhosa, eu a admirava por isso.
— Kevin! – ouvi a voz da minha irmã.
Virei e dei de cara com Alicia. Ela estava com os cabelos soltos, uma
coroa de flores e um vestido rosa claro. Seu sorriso de felicidade era
contagiante e eu sorri também.
— Está linda, Ali. – elogiei.
— Obrigada. Você também não está nada mal. – ela segurou minha
mão – O que está fazendo aqui sozinho? A cerimônia já vai começar.
— Estava pensando em como sou um cara de sorte.
— É mesmo. E vai se achar mais sortudo depois que ver o quanto sua
noiva está linda.
Eu estava ansioso para ver Hannah caminhar no meio daquelas
pessoas em direção a mim. Nunca tive tanta certeza de algo como agora. Fui
acompanhado de Alicia até o local onde todos os convidados já estavam em
sua maioria acomodados. Minha mãe se aproximou e me deu o braço já que
iria até o altar comigo.
— Pronto? – perguntou.
— Sim. – assenti.
Respirei fundo e fui ao lado da minha mãe até o altar improvisado.
Juliet entrou de braços dados com Louis e todos nós nos posicionamos nos
lugares certos. O padre já estava aguardando e eu engoli em seco tamanho o
nervosismo. Onde estava Hannah?
Quando os convidados se levantaram, eu tive a certeza de que ela
estava vindo.
Acompanhada de Peter, o homem mais próximo de sua família, ela
apareceu na ponta do corredor com seus lindos cabelos ruivos presos pela
metade com uma linda presilha de flores. Seu vestido branco era longo e leve
e tinha o decote perfeito para modelar seus seios. Ela estava simplesmente
perfeita e eu não podia negar que estava louco para começar a lua-de-mel.
Pareceu uma eternidade até que ela caminhasse por todo o corredor
até chegar a mim. Seus olhos azuis brilhavam tanto que pareciam a extensão
do mar. Peter sorriu e apertou minha mão assim que se aproximou e eu
agradeci. Peguei a mão de Hannah e dei-lhe um beijo nos nós dos dedos.
— Amo você. – sussurrei.
Ela sorriu e moveu os lábios respondendo com um “Eu te amo.”
Viramos de frente para o padre e ele começou a cerimônia.
Para ser sincero, eu não ouvi muito do que ele dizia, só conseguia me
concentrar no perfume da mulher ao meu lado que era trazido até mim por
conta da direção do vento. Eu agradecia cada momento do que acontecera no
passado, que antes eu não entendia, mas que me trouxeram até Hannah. Eu
poderia ter me casado com outra e perdido a oportunidade de conhecer o
verdadeiro amor.
O que eu sentia por Hannah era leve, especial e eu me sentia feliz.
Genuinamente feliz. Cada detalhe dela para mim era especial. O jeito de
acordar, o sorriso, a maneira com que enrolava a ponta dos cabelos quando
estava distraída lendo algo, como se vestia quando queria relaxar em casa, o
fato de adorar vestir minhas camisetas e o quão bem cada uma ficava nela,
cada jantar especial que preparava para mim quando chegava de viagem,
entre tantas outras coisas.
Eu poderia ficar pensando em todas se o padre não tivesse chamado
minha atenção dizendo que era a hora de perguntar aos noivos.
— Hannah, aceita Kevin como seu legítimo esposo?
— Sim. – foi o som mais bonito que ouvi.
— Kevin, aceita Hannah como sua legítima esposa?
— Aceito. – respondi sentindo meu coração pular de alegria.
— Eu os declaro marido e mulher.
Trocamos as alianças e eu finalmente me senti um homem casado
vendo aquele anel dourado em volta do meu dedo. Segurei o rosto sorridente
da minha esposa e lhe dei um beijo. Eu era oficialmente o homem mais feliz
do mundo. O som das palmas ecoou atrás de nós e eu precisei me afastar
dela. Passamos de braços dados por entre os convidados e logo todos vieram
nos cumprimentar.
— Que sejam muito felizes, meus queridos. – Eleonor nos abraçou.
— Obrigado. – agradeci – Agora vocês também fazem parte da
família.
— Hannah, esse é o vestido mais lindo que já vi na vida! – Cecile
comentou animada segurando a saia do vestido da irmã – Quando me casar
vou querer um igual.
— Falta muito ainda para isso acontecer, Cecile. – Hannah a alertou –
Mas quando chegar a hora você terá um vestido ainda mais bonito.
— Cadê os pombinhos? – a voz de Caleb ecoou atrás de nós e eu me
virei para encontrar meu amigo todo sorridente.
Recebi um abraço do meu amigo. Caleb era praticamente um irmão e
agora eu o via ainda mais feliz ao lado de Jasmine.
— Parabéns, cara! – ele deu alguns tapinhas nas minhas costas.
— O próximo será você. – provoquei.
— Do jeito que as coisas andam... – ele sorriu para a namorada – Eu
só não sei se ela vai querer me aturar pelo resto da vida.
— Pelo sorriso eu acho que vai. – respondi notando o grande sorriso
nos lábios de Jasmine.
— Assim espero. – Caleb olhou para Hannah – Obrigado por colocar
juízo na cabeça do meu amigo.
Ela deu uma risada gostosa e espontânea. Minha esposa era a mulher
mais linda do mundo e apesar de já tê-la visto de todas as formas, eu ainda
ficava impressionado com sua beleza. Principalmente a interior.
— Parabéns, queridos. – Jasmine nos abraçou – Eu fico muito feliz
por saber que encontraram a felicidade um no outro. Eu adoro vocês.
— Obrigado, Jasmine. – agradeci – Sou um cara muito sortudo.
Foram tantos cumprimentos que eu demorei a ter um momento a sós
com minha esposa. Hannah sorria e conversava com todos, estava bastante à
vontade e eu só conseguia observá-la me sentindo o cara mais feliz do
mundo. Distraidamente eu mexia na aliança em meu dedo sem me sentir
estranho com o novo adereço. Fiquei observando de longe totalmente em
silêncio. Não sei quanto tempo fiquei assim até que minha atenção foi
desviada quando ouvi a voz do meu irmão.
— Sabe, eu jurava que me casaria antes de você. – parou ao meu lado.
— Depois do que aconteceu no meu último relacionamento, eu
também achei que você se casaria primeiro.
— A vida é engraçada, não é mesmo? – Louis falou se virando para o
mar – Eu sempre fui o mais romântico e até agora não me casei.
— Achei que Alicia não fosse se casar nunca. – dei uma leve risada.
— É verdade.
— Sabe, Louis, eu tenho a impressão de que em breve estarei na sua
cerimônia de casamento. – coloquei a mão no seu ombro – Você vai
encontrar a mulher ideal.
— Eu já achei, Kevin.
Louis se virou para mim, colocou a mão no meu ombro e sem dizer
mais nada, se afastou.
Fiquei intrigado.
Ele já havia encontrado a mulher com quem gostaria de se casar?
Quem era ela? Louis nunca mais falou sobre seus relacionamentos e andava
misterioso. Não tive muito tempo para refletir sobre isso porque Hannah se
aproximou de mim com um sorriso nos lábios. Seus braços envolveram meu
pescoço e eu esqueci do mundo ao meu redor.
— Não vai dançar com sua esposa, Sr. Walsh? – questionou.
— Eu adoraria, Sra. Walsh. – dei-lhe um beijo nos lábios.
Passamos por alguns dos convidados e nos unimos a alguns casais que
dançavam sobre a areia. Alicia e Ryan balançavam juntos lentamente
enquanto ele segurava o filho no colo, meu pai embalava minha mãe entre
seus braços enquanto ela descansava a cabeça em seu peitoral, Maddie
segurava a saia do seu vestido e desenhava coisas na areia com os pés. Olhei
em volta e vi a grande quantidade de pessoas a minha volta, cada uma absorta
em seus próprios momentos.
Um restaurante tinha sido reservado para o jantar de casamento.
Quando o sol se pôs em definitivo, todos nós caminhamos pela areia até o
restaurante que já estava todo decorado para nos receber, inclusive, o bolo
escolhido por Hannah chamava a atenção sobre uma grande mesa.
— Estou com fome, papai. – ouvi Maddie falando com Louis atrás de
mim.
— O jantar já será servido, Cupcake.
Escolhemos pratos bem tropicais, feitos em sua maioria com peixes e
crustáceos. Hannah e eu nos sentamos na mesa reservada para nós e
aproveitamos o jantar juntos. Era nosso primeiro jantar como marido e
mulher. Por mais que eu adorasse estar com pessoas queridas ao meu redor,
não via a hora de voltar para o quarto do hotel e passar a noite dando prazer à
minha esposa.
Horas se passaram até que finalmente eu pudesse levar Hannah para
iniciarmos nossa lua-de-mel. Cumpri com a tradição de entrar no quarto com
ela em meu colo e fiquei satisfeito ao vê-la sorrir com a surpresa que
preparei.
— Que lindo! – exclamou maravilhada antes de eu colocá-la no chão.
— Gostou?
O quarto estava todo decorado com balões vermelhos em formato de
coração. Diversas pétalas de rosas foram espalhadas por sobre a cama e um
balde de champagne e um bonito vaso de rosas vermelhas.
— Obrigada por cada detalhe. – Hannah me abraçou pelo pescoço e
eu a envolvi entre meus braços.
— Eu que agradeço por confiar em mim. – apertei seu corpo contra o
meu – Prometo te fazer muito feliz, linda.
— Você já faz. Todos os dias.
— Sabe o que poderia deixar tudo mais completo? – sussurrei em seu
ouvido enquanto minha mão deslizava sobre sua bunda.
— O quê?
— Um bebê. – respondi antes de lhe dar um beijo no pescoço.
— Já? – seus olhos azuis se arregalaram.
— Sim. – dei-lhe um beijo nos lábios – Podemos ir treinando. –
abaixei o zíper do seu vestido devagar.
— Você é bem espertinho, Sr. Walsh. – sorriu deslizando os dedos
por entre meus cabelos.
— Eu faço as melhores escolhas, Sra. Walsh. Por isso meu coração
escolheu você.
Passamos o resto da noite naquele quarto.
Eu estava pronto para iniciar mais uma etapa da vida ao lado da
mulher que amo e tendo a certeza todos os dias que ela era a pessoa certa para
mim. Hannah me fez acreditar novamente no amor, a confiar nas pessoas e
fez despertar a vontade de ter uma família. Não sei quanto tempo iria demorar
até que isso acontecesse, mas eu esperava que fosse logo.
Epílogo
KEVIN

Por sorte eu ganhara alguns dias de folga por conta da minha lua de
mel. Passei dias incríveis ao lado da minha esposa e Hannah parecia ainda
mais radiante. O sol do Caribe lhe fizera muito bem. Suas bochechas estavam
levemente rosadas, sua pele um pouco mais bronzeada e os longos cabelos
ruivos pareciam brilhar ainda mais.
Viemos bastante cansados no avião e dormimos quase a viagem toda,
mas agora estávamos prontos para voltar a Nova York e principalmente,
aproveitar o nosso novo lar.
Não demorou muito até que Hannah e eu decidíssemos qual
apartamento escolheríamos. Um bonito triplex no Upper East Side, bem
próximo ao de Alicia.
— Ansiosa? – perguntei enquanto estávamos no banco de trás do táxi.
— Um pouco. – sorriu voltando o olhar para mim – Mas de um jeito
bom. Sei que dedicamos um bom tempo decorando nosso apartamento e não
vejo a hora de finalmente morarmos lá.
— Faltam poucos minutos agora.
Assim que paramos em frente ao edifício, Hannah o olhou admirada.
Sei que ela nunca se imaginara morando em um apartamento em um dos
lugares mais nobres de Manhattan, mas minha esposa talvez não acreditasse,
mas se encaixava perfeitamente nesse lugar.
Eu abri a porta do táxi para ela e logo em seguida recebi um beijo nos
lábios.
— Obrigada. – agradeceu com seus olhos azuis brilhando.
— Preparada?
Ela assentiu e eu peguei as malas com a ajuda do motorista.
Logo em seguida o porteiro veio em nosso auxílio dizendo que levaria
as malas pelo elevador de carga.
Entramos em nosso apartamento pela primeira vez depois de
completamente decorado. Pude ver os olhos de Hannah brilhando. Ela girou
nos calcanhares ficando de frente para mim.
— Ficou melhor do que imaginei! – exclamou – Está perfeito!
— Você fez um ótimo trabalho, linda. – aproximei-me e envolvi sua
cintura com os braços – Esse é o nosso lar. Aqui vamos construir nossa
história juntos, onde vamos criar nossos filhos, onde receberemos nossos
familiares e amigos, onde seremos muito felizes.
— Sim. – envolveu seus braços no meu pescoço – Eu já estou sendo
muito feliz com você.
— É mesmo? – em um movimento rápido a peguei no colo – Por que
não estreamos a nossa nova cama?
Hannah deu uma risadinha e a levei direto para o quarto.
Um mês depois do nosso casamento, decidi fazer uma surpresa para
minha esposa. Cheguei ao apartamento com um sorriso no rosto e encontrei
Hannah com um vestidinho azul claro todo florido na cozinha enquanto ouvia
uma música pop na caixinha de música e balançava os quadris.
— Animada? – perguntei e ela se virou para mim.
— Oi, meu amor. – aproximou-se e me deu um selinho – Que bom
que chegou, estou preparando uma receita que sua mãe me ensinou.
— O cheiro está maravilhoso. – peguei sua mão e dei um beijo – Por
que não para alguns minutinhos para eu falar com você?
Notei seus olhos azuis brilhando de curiosidade. Eu tinha chegado há
dois dias de viagem e já estava com essa ideia na mente. Ela se recostou no
balcão da cozinha e fixou o olhar no meu.
— O que aconteceu? Posso ver na sua cara que está aprontando algo,
Kevin Walsh.
— Andei conversando com sua tia e sua irmã.
— Planejando algo sem mim?
— É. – sorri e apoiei as mãos na bancada deixando-a entre meus
braços – Tenho uma surpresa para você. Sua tia alugou um apartamento aqui
em Manhattan e conseguiu um emprego na NY High School.
— O quê? – arregalou os olhos – Está brincando comigo!
— É verdade. Na próxima semana elas vão se mudar.
— Não acredito que esconderam isso de mim! – ela passou os braços
em volta do meu pescoço – Estou tão feliz com essa notícia!
— Era para ser uma surpresa. Que bom que deu certo. – eu a apertei
contra meus braços – Sei que ficaria feliz tendo elas aqui perto e as ajudei a
encontrar um apartamento. Um conhecido é corretor e ele resolveu todos os
detalhes.
— Você é tão bom para mim. – falou olhando nos meus olhos – Eu
estou tão feliz.
— Eu sempre farei o meu melhor, linda. Você trouxe luz e esperança
para minha vida novamente. Descobri o que é amar de verdade. – sorri –
Agora trate de falar com sua tia, ela estava louca para contar a novidade.
— Claro!
Ela me deu um beijo rápido e saiu correndo paga pegar o celular.
Fiquei observando de longe enquanto ela falava animada caminhando
de um lado para o outro na sala de estar e fazendo planos para quando a
família viesse morar mais perto. Hannah fez questão de falar que ajudaria no
que fosse preciso com a mudança e eu me recostei no balcão cruzando os
braços.
Eu era um cara sortudo. Tinha encontrado uma mulher linda e
honesta, que me amava de verdade e eu faria de tudo que estivesse ao meu
alcance para fazê-la feliz.
FIM

[1]Jet lag é uma expressão usada para definir a alteração do ritmo


biológico de 24 horas consecutivas que ocorre após mudanças de
fusos horários em longas viagens de avião.
[2] The Big Apple, “A Grande Maçã” em português, é um dos diversos
apelidos da cidade de Nova York. Acredita-se que tenha surgido nos anos de
1920 com as corridas de cavalo, muito importantes na época e “apples” eram
os prêmios concedidos aos vencedores. Outros acreditam que o apelido tenha
vindo em 1909, quando o autor Edward St. Martin, em seu livro O Viajante
Em Nova York, fez uma crítica em relação a distribuição de renda entre os
estados americanos. A metáfora usada era de que os Estados Unidos seria
uma grande árvore e seus estados os frutos, mas que Nova York recebia
grande parte da renda, embora fosse parte de um todo. Daí criou-se o termo
“A Grande Maçã”.
[3]O Aeroporto Internacional John F, Kennedy, ou JFK, fica localizado
no subúrbio do Queens e serve principalmente à cidade de Nova
York.

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