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GNOSE

José Eduardo Stamato, M∴I∴ ARLS Hórus 3811, REAA. Santo André – Grande Oriente
de São Paulo, Brasil

Gnose – saber por excelência; ciência superior às crenças vulgares;


conhecimento.

Gnóstico – seguidor do gnosticismo.

Gnosticismo – sistema teológico e filosófico que se atribui um conhecimento


sublime da natureza e dos atributos divinos.

Agnóstico – relativo ao agnosticismo.

Agnosticismo (1) – do grego “a”, sem; e “gnosis”, conhecimento; doutrina que


declara o absoluto inacessível ao espírito humano e professa uma completa
ignorância relativamente ao princípio e à essência de todos os fenómenos físicos
e morais.

Hoje, os termos gnóstico ou agnóstico não são de uso comum, não fazem parte de
nossa linguagem quotidiana. Normalmente os termos de pouco uso tem o risco de
terem seu conceito deformado e desviado do seu real significado, sendo deturpado
e mal compreendido com o passar do tempo, principalmente quando seu significado
envolve conceitos que possam sustentar opiniões divergentes dos diversos
interesses particulares de estruturas sociais ou filosóficas instituídas.

Observamos no dia-a-dia o uso de termos cujo conceito desconhecemos; repetimos e


damos o crédito supondo que quem o utilizou nos deu uma base suficiente. Porém
isso não é o bastante, pode ser enganoso e prejudicial, pois, podemos abraçar um
conceito insuficiente e por vezes desvirtuado de seu sentido original. Mesmo nos
dicionários verificamos mudanças que levam a uma má interpretação de seu sentido
original pela acção do tempo e o famoso “uso e costumes”.

Temos ouvido falar em agnóstico como antónimo (2) de gnóstico. Literalmente,


agnóstico, significa um desconhecedor ou ignorante, mas, em sentido figurativo
descreve uma pessoa sem fé religiosa, que não obstante se ressente de ser
chamada de ateísta.

Gnostikoi em grego indica aqueles que possuem a gnose ou o conhecimento. O


gnóstico é o conhecedor e não o seguidor de alguém que pode ser um conhecedor.

Em suas origens, os gnósticos viveram durante os 3 e 4 primeiros séculos da era


cristã. O gnosticismo tornou-se um sistema definido de pensamento com sua origem
num passado remoto, acumulando ao longo do tempo conhecimento das mais diversas
fontes se fundindo em um sistema único. Esse sincretismo (3) vem do antigo
Egipto e com maior força da Pérsia (hoje Irão) como da Babilónia.

Eram ávidos escritores deixando vários textos em sua época, porém, dado suas
ideias avançadas (como livre pensadores) e como não se submetiam a dogmas
temporais, não eram estimados, pois ameaçavam, ou melhor, suas ideias
incomodavam e punham em risco as instituições existentes, o que causou uma
incansável perseguição e destruição de sua literatura (gnóstica), pelos
queimadores de livros e caçadores de hereges da Igreja.
Não se intitularam gnósticos, mas assim foram denominados por não serem
cristãos, nem judeus ou seguidores de tradições de antigos cultos, mas pessoas
que compartilhavam entre si certas atitudes perante a vida, consistindo isso na
convicção de que o conhecimento directo, pessoal e absoluto das verdades
autênticas da existência é acessível aos seres humanos e que a obtenção de tal
conhecimento deve sempre constituir a suprema realização da vida humana. Clement
de Alexandria (150 / 220 A.D., data imprecisa) designa gnose como “o
conhecimento de quem somos, o que nos tornamos, onde estamos, em que lugar fomos
colocados; onde fomos precipitados, onde somos redimidos; que é nascimento, que
é renascimento”. É uma espécie imediata de conhecimento que penetra na
consciência como um lampejo sem esforço do raciocínio, uma iluminação da
consciência. Essa aquisição de conhecimento, essa revelação intuitiva pode ser
possibilitada pela realização de rituais e cerimónias.

A liberdade de pensamento na sua mais abrangente conceituação leva à psicologia


profunda que nos direcciona a uma transformação e visão interior capazes de nos
conduzir a um conhecimento pessoal que prescinde tanto da Lei como da Fé.

A religião, a ciência, a filosofia, a arte, a literatura, a política,


representam apenas abordagens parciais do grande mistério da Alma e do Homem.
Cada qual apresenta uma faceta própria, mas sempre fragmentada do Todo. Todas
essas abordagens buscam um equilíbrio e uma melhora na qualidade de vida e de
bem-estar, e procuram de uma maneira dividida, isolada, buscar a harmonia num
momento exterior a si mesmo, deixando de perceber que a única realidade é
interior, que se encontra no âmago mais profundo de nossa psique.

A suprema realidade está além do alcance conceptual. A psicologia moderna nos


mostra que a gnose se encontra na experiência vital da transformação psíquica
pessoal. A prática ritualística (como exemplo, nossos rituais) pode induzir
transformações, mas não pode ser confundida com fórmulas de sabedoria, pois
cairia num terreno dogmático e nebuloso.

A experiência é sempre pessoal, e nunca conseguiremos expressa-la ou


interpreta-la adequadamente, tentando organiza-la desta ou daquela forma
direccionando apenas à razão, uma vez que toda conceituação tentada aponta
apenas semelhanças na experiência.

NOTAS
(1) Termo criado por Huxley (Thomaz Henrique), fisiologista inglês (1825-1895).
(2) Antónimo – qualificativo das palavras de significação oposta.
Sinónimo – diz-se da palavra que tem quase a mesma significação que outra.
(3) Sistema filosófico que combina os princípios de diversas sistemas;
ecletismo; amálgama de concepções heterogéneas.
Ecletismo – tendência filosófica resultante, em geral, do conflito de culturas e
do embate das ideias e que a escolher em cada sistema o que parece mais
consentâneo com a verdade.

BIBLIOGRAFIA
A Gnose de Jung – Stephan A. Hoeller – Ed. Cultrix
Enciclopédia e Dicionário Internacional – W.M. Jackson, Inc.
Os Cátaros – René Nelli – Edições 70 (Lisboa – Portugal)
Os Cátaros e a Reencarnação – Arthur Guirdham – Ed. Pensamento
Provença – Helyette Malta Rossi – FEEU (Fundação Educacional e Editorial
Universalista – Porto Alegre – RGS)
Fonte: maçonaria.net

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